1 Luiz Fernandes de Oliveira



Yüklə 2,47 Mb.
səhifə10/46
tarix18.01.2019
ölçüsü2,47 Mb.
#100587
1   ...   6   7   8   9   10   11   12   13   ...   46

Interatividade



Revendo o capítulo

1 - O que dizem sobre o conceito de identidade os pensadores George Mead e Erving Goffman?

2 - Sintetize as três concepções de identidade formuladas pelo sociólogo Stuart Hall.

3 - Quais são as dimensões do ser jovem no Brasil, segundo o sociólogo Juarez Dayrell?



Dialogando com a turma

1 - O texto cita o uso de drogas e a liberação sexual como acontecimentos que marcaram a década de 1960. Hoje, podemos dizer que tanto um quanto o outro assumiram significados bem diferentes. Pesquise a respeito e debata a sua opinião com a turma.

2 - Entreviste, na sua família, uma pessoa que tenha sido jovem na década de 1960 e anote a opinião dela a respeito dos acontecimentos, sob o ponto de vista de alguém que presenciou ou viveu intensamente aquela época. Compare a sua entrevista com as de seus colegas e, em conjunto, relate as diferentes visões encontradas.

Verificando o seu conhecimento

1 - (ENEM, 2011)

Em geral, os tupinambás ficam bem admirados ao ver os franceses e os outros dos países longínquos terem tanto trabalho para buscar o seu arabotã, isto é, pau-brasil. Houve uma vez um ancião da tribo que me fez esta pergunta: "Por que vindes vós outros, mairs e pêros (franceses e portugueses), buscar lenha de tão longe para vos aquecer? Não tendes madeira em vossa terra?"

O viajante francês Jean de Loy (1534-1611) reproduz um diálogo travado, em 1557, com um ancião tupinambá o qual demonstra uma diferença entre a sociedade europeia e a indígena no sentido:

(A) do destino dado ao produto do trabalho nos seus sistemas culturais.

(B) da preocupação com a preservação dos recursos ambientais.

(C) do interesse de ambas em uma exploração comercial mais lucrativa do pau-brasil.

(D) da curiosidade, reverência e abertura cultural recíprocas.

(E) da preocupação com o armazenamento de madeira para os períodos de inverno.

2 - (ENEM, 2011)

A Lei 10.639, de 9 de janeiro de 2003, inclui no currículo dos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, a obrigatoriedade do ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira e determina que o conteúdo programático incluirá o estudo da História da África e dos africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil, além de instituir, no calendário escolar, o dia 20 de novembro como data comemorativa do Dia da Consciência Negra.

A referida lei representa um avanço não só para a educação nacional, mas também para a sociedade brasileira, porque:

(A) legitima o ensino das ciências humanas nas escolas.

(B) divulga conhecimentos para a população afro-brasileira.

(C) reforça a concepção etnocêntrica sobre a África e sua cultura.

(D) garante aos afrodescendentes a igualdade no acesso à educação.

(E) impulsiona o reconhecimento da pluralidade étnico-racial do país.

Pesquisando e refletindo

LIVROS

ZAPPA, Regina; SOTO, Ernesto. 1968: eles só queriam mudar o mundo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008.

76

Livro que conta a história de uma geração de jovens que sonhavam em mudar o mundo. Inspirados pelos ideais e pela figura carismática de Che Guevara, foram esses jovens que estavam à frente do movimento feminista e em defesa da liberdade sexual, em prol dos Direitos Civis nos EUA, do movimento contra a Guerra do Vietnã, entre tantas outras lutas.



FILHO, Mário. O negro no futebol brasileiro. 4ª ed. Rio de Janeiro: Mauad, 2003.

Excelente livro para discutir aspectos da identidade nacional brasileira. O autor relata como o futebol, esporte inventado pelos ingleses, foi modificado através dos negros brasileiros, e como virou uma marca nacional de identidade.



FILMES

O ENIGMA DE KASPAR HAUSER (Jeder für sich und Gott gegen alle, Alemanha, 1974). Direção: Werner Herzog. Elenco: Helmut Döring, Bruno S., Walter Ladengast. Duração:110 min.

Baseado em fato real ocorrido na Alemanha de 1820, o adolescente Kaspar Hauser aparece em uma cidade, após ter vivido desde o nascimento em um porão, sem qualquer contato humano. É acolhido na casa de um professor, que inicia a sua socialização. Vencedor da Grande Prêmio do Júri em Cannes.

FORREST GUMP - O CONTADOR DE HISTÓRIAS (Forrest Gump, EUA, 1994).

Direção: Robert Zemeckis. Elenco: Tom Hanks, Gary Sinise, Sally Field. Duração:141 min.

Viagem pela história dos EUA através do personagem Forrest Gump, com destaque para os acontecimentos das décadas de 1950 e 1960, como a Guerra do Vietnã, os assassinatos de John Kennedy e de Martin Luther King e o surgimento do movimento hippie.



INTERNET

"O POVO BRASILEIRO": https://goo.gl/sulu4M

Documentário baseado no livro do antropólogo brasileiro Darcy Ribeiro (1922-1997), no qual ele apresenta sua visão sobre a formação do povo brasileiro e suas identidades. Acesso: janeiro/2016.

INFOJOVEM - "DIVERSIDADE E IDENTIDADE": http://goo.gl/wJyegD

Página hospedada no site Infojovem, um portal de informação juvenil ancorado em estudos e pesquisas relacionados às informações juvenis no Brasil, América Latina e o mundo, realizados pela Organização da Sociedade Civil de Interesse Público, Universidade da Juventude. Nesta página, você encontrará uma reflexão sobre identidade e juventude. Acesso: janeiro/2016.

MÚSICAS

NÃO É SÉRIO - Autores e intérpretes: Charlie Brown Jr. Participação de Negra Li.

Você acha que o jovem é levado a sério em nosso país? Será que ele é sempre visto como o "culpado" de tudo? O que será que ele tem a dizer? A letra da música proporciona uma boa discussão a respeito.

MY GENERATION (Minha Geração) - Autor: Pete Townshend. Intérpretes: The Who.

Rock que virou um hino representativo da juventude da década de 1960, ficando marcado pela frase "I hope I die before I get old" - ou, em tradução livre, "tomara que eu morra antes de ficar velho". Como curiosidade, vale registrar que a banda The Who ainda hoje é escutada por diversos jovens da atual geração, com suas músicas sendo regravadas por grupos mais novos e servindo de tema para seriados da TV norte-americana - ou seja, exatamente como afirma a letra da música brasileira "Como nossos pais", composta por Belchior.

FILME DESTAQUE



DIÁRIOS DE MOTOCICLETA

(The Motorcycle Diaries)

FICHA TÉCNICA:

Direção: Walter Salles

Elenco: Gabriel Garcia Bernal, Rodrigo de La Serna.

Duração: 128 min.

(EUA, 2004)

FONTE: Film Four / Walter Salles

SINOPSE:

Reconstituição da viagem do jovem médico Ernesto Che Guevara pela América Latina, acompanhado do seu amigo Alberto Granado, quando ele toma contato com a dura realidade de miséria do continente e decide transformar-se em um revolucionário. A viagem é realizada em uma moto, que acaba quebrando após oito meses. Eles então passam a seguir viagem através de caronas e caminhadas, sempre conhecendo novos lugares.

77

Aprendendo com jogos



Detetive por um dia

ELEMENTAR, MEU CARO WATSON.

Neste jogo, você é um(a) jovem detetive que tem por missão desvendar um misterioso assassinato. Você terá de resolver o mistério identificando o suspeito do crime, o local do crime e a motivação do crime. Os crimes estão relacionados à violência contra minorias sociais. O objetivo pedagógico desta adaptação é propiciar reflexão sobre sexismo, misoginia e racismo.

Como jogar:



1. Organize-se com os seus colegas de sala para jogarem o jogo. No entanto, é parte da proposta que vocês construam o tabuleiro do jogo. Este jogo é uma adaptação do conhecido jogo Detetive, criado em 1944 pelo advogado inglês Anthony E. Pratt e publicado originalmente em 1949. Em versão bem conhecida e já publicada no Brasil, o jogo possui regras simples, pelas quais os participantes recebem três tipos de cartas (suspeitos, armas e cenários), percorrem os aposentos de uma mansão representada no tabuleiro e apresentam suspeitas (quem é o assassino, onde ocorreu o assassinato e qual arma o criminoso utilizou). O jogo segue com outro participante desmentindo as suspeitas levantadas ao mostrar apenas para quem levantou a suspeita a carta do assassino, do local do crime ou da arma que é citada na suspeita. Quando se tem certeza, um jogador pode fazer uma acusação. Ganha o jogo quem descobrir o assassino e o local e a arma do crime, mas é desclassificado quem fizer uma acusação errada. Para construírem o tabuleiro, sugerimos que pesquisem sobre o tema violência contra minorias sociais, leiam matérias jornalísticas e reflitam sobre as histórias de preconceito narradas. Após isso, imaginem os cenários em que se deram essas histórias, que irão compor as "salas" do tabuleiro. Vocês talvez desejem pesquisar na internet imagens do jogo sobre o qual se propõe esta adaptação.

2. As cartas das armas do crime serão substituídas pelas de motivações para o crime, sendo: 1 - "Ela pediu por isso" - violência contra a mulher;

2 - "Porque esse tipo de gente tem de morrer" - ódio racial ou étnico; 3 - "Sua crença é o mal na Terra" - intolerância religiosa; 4 - "Esses fanáticos é que acabam com o nosso país" - facismo ou reacionarismo de direita; 5 - "Eles veem para cá e roubam os nossos empregos" - xenofobia; 6 - "Isso é falta de vergonha na cara" - violência de gênero. As "motivações" dos crimes são representadas por crenças do assassino no jogo. Você pode aperfeiçoar ou ampliar esta adpatação de modo a contextualizar ainda melhor os crimes apontados. Ao final da construção do grupo, haverá três tipos de cartas: suspeito, local do crime e motivação do crime.



3. Reflita junto com os seus colegas sobre as motivações dos crimes ocorridos no jogo e como são diferentemente tratados, pela mídia tradicional e pelo aparato do Estado, os crimes em que as vítimas são outros sujeitos da hierarquia social. Analisem como identidades precisam ser reconhecidas e não violentadas (aproveite para se perguntar como é possível que pessoas sofram todo o tipo de violência sem que isso seja considerado um escândalo). Discuta o que significa a igualdade como princípio político de uma sociedade. Elabore junto com os seus colegas de sala uma "Carta de direitos" da diversidade racial, étnica, social e de gênero, a ser afixada em local visível na sua escola.

4. Elabore uma narrativa breve que conte a história do assassinato desvendado, suas relações com a desigualdade social e as representações acerca de populações específicas, gêneros, etnias e classes sociais, em formato de uma notícia de jornal que não se veria na mídia tradicional.

5. Assista ao documentário Eu Tarzan, você Jane (CBC Rádio Canadá, 2006) que mostra, sob o ponto de vista da sexualidade, a diferença entre o papel dos homens e o das mulheres no decorrer das últimas décadas. Você pode assistir em https://goo.gl/b6t5tD. Discuta com os colegas de turma como o processo de socialização permite a construção de identidades de gênero e de sexualidades e como esse mesmo processo permite que representações sociais que naturalizam gêneros e sexualidades se tornam base de preconceitos e de violência.

78

Capítulo 6 - "Ser diferente é normal": as diferenças sociais e culturais



LEGENDA: Somos iguais ou somos diferentes?

FONTE: Getty Images

Boxe complementar:

Somos todos iguais ou somos diferentes? Queremos ser iguais ou queremos ser diferentes? Houve um tempo que a resposta se abrigava, segura de si, no primeiro termo (...). Já faz um quarto de século, porém, que a resposta se deslocou. A começar da segunda metade dos anos 70, passamos a nos ver envoltos numa atmosfera cultural e ideológica inteiramente nova, na qual parece generalizar-se em ritmo acelerado e perturbador a consciência de que nós, os humanos, somos diferentes de fato, porquanto temos cores diferentes na pele e nos olhos, temos sexo e gênero diferentes além de preferências sexuais diferentes, somos diferentes de origem familiar e regional, nas tradições e nas lealdades, temos deuses diferentes, diferentes hábitos e gostos, diferentes estilos ou falta de estilo; em suma, somos portadores de pertenças culturais diferentes. Mas somos também diferentes de direito. É o chamado "direito à diferença", o direito à diferença cultural, o direito de ser, sendo diferente. The right to be different!, é como se diz em inglês o direito à diferença. Não queremos mais a igualdade, parece. Ou a queremos menos. Motiva-nos muito mais, em nossa conduta, em nossas expectativas de futuro e projetos de vida compartilhada, o direito de sermos pessoal e coletivamente diferentes uns dos outros.

Antônio Flávio Pierucci em Ciladas da Diferença (1999, p.7)

Fim do complemento.

Você concorda com o texto acima? Nós, hoje, desejamos mais o direito de ser diferente do que o direito a igualdade? Está confuso?

Então, vamos ver essa notícia veiculada na internet em 18 de março de 2010:

79

Boxe complementar:



CASAL BRITÂNICO É PRESO POR SE BEIJAR E CONSUMIR ÁLCOOL EM DUBAI

Um casal britânico - um homem que mora e trabalha em Dubai e uma turista - foi preso em novembro do ano passado na cidade dos Emirados Árabes Unidos por se beijar em público e consumir álcool. Soltos após pagar fiança, eles irão à uma corte em 4 de abril.

De acordo com a rede de TV americana CNN, o casal - cuja identidade não foi revelada - jantava ao lado de amigos no restaurante Bob's Easy Diner, próximo da praia Jumeirah, quando uma mulher que estava no local com a família ligou para a polícia.

É o terceiro caso envolvendo cidadãos britânicos presos em Dubai em menos de dois anos. Em janeiro deste ano, um casal britânico de namorados foi detido por ter relações sexuais fora do casamento. No final de 2008, outro casal britânico foi condenado a três meses de prisão depois de ter sido considerado culpado por fazer sexo na praia.

Segundo estrangeiros que vivem em Dubai, autoridades locais parecem estar agindo de forma cada vez mais rígida em relação a situações de choque das diferentes culturas.

Fonte: http://bit.ly/19Icikw

Acessado em 21/03/2010

Fim do complemento.

Pois bem, há situações em que não basta reivindicar o direito à igualdade, mas sim reivindicar o reconhecimento da cultura e das formas de ser do outro ou de outra sociedade ou grupos sociais. Neste capítulo, vamos estudar um tema que, além de interferir nas relações sociais, é um dos mais importantes para entendermos melhor a nossa sociedade: as diferenças sociais e culturais.

Ser diferente é normal

Vimos no capítulo sobre cultura que nossas sociedades são multiculturais, ou seja, temos a presença de diferentes grupos culturais numa mesma sociedade, estejamos nos referindo à cidade ou à nação. Entretanto, ter a consciência dessa realidade nos faz ficar atentos a fatos concretos que dizem respeito aos diversos interesses de grupos e pessoas.



LEGENDA: O direito à diferença também significa não aceitar ser tratado com inferioridade na sociedade comandada pelos "homens brancos". Na foto, índios protestando contra a opressão dos brancos.

FONTE: Diego Felipe

Queremos dizer com isso que quando uma pessoa ou grupo considera normal ou natural uma situação ou ideia, muitas vezes essa normalidade ou naturalidade se expressa como relação de poder, desigualdade ou opressão.

Para a Sociologia, falar em sociedade não significa descrevê-la simplesmente de forma homogênea. Quando fazemos uma análise das sociedades, identificamos de imediato a existência de desigualdades sociais e diferenças entre grupos e pessoas. As desigualdades são fabricadas pelas relações sociais, econômicas, culturais e políticas. Geralmente, as classes ou camadas superiores das sociedades são as mesmas, tanto sob o ponto de vista cultural ou político. O que estamos querendo dizer é que as classes sociais ou camadas superiores das sociedades são as mesmas em termos de manutenção do poder político e dos privilégios sociais e econômicos, reproduzindo sua dominação através da cultura e da disseminação de certa visão de mundo. Porém, devemos chamar a atenção para não confundirmos desigualdade social com diferenças sociais e culturais dos indivíduos, grupos e sociedades.

80

Boxe complementar:



As desigualdades sociais são definidas a partir das condições sociais e econômicas de determinados grupos. Isto é, há grupos que possuem mais riquezas do que outros e maior acesso a determinados serviços, gerando uma sociedade desigual, na qual poucos possuem muitas riquezas e bens materiais e muitos possuem pouca ou nenhuma riqueza material.

A diferença social e cultural, por outro lado, significa que os indivíduos ou grupos são apenas diferentes e não superiores e inferiores. O indivíduo originário do continente africano é diferente do chinês ou do europeu; a mulher é diferente do homem; o heterossexual é diferente do homossexual; o adepto ao candomblé cultua uma religião diferente da do evangélico; as pessoas com deficiências são diferentes daqueles que não possuem necessidades educacionais especiais, e assim por diante. Essas características dos seres humanos não significam superioridade ou inferioridade de uns sobre outros.

Fim do complemento.

Nas sociedades onde existem muitas diferenças sociais e culturais - como é o caso da nossa -, estas podem se transformar em fatores de desigualdades. Isto quer dizer que os "outros", que muitas vezes não são considerados "normais", aparecem como "entidades ameaçadoras". Daí, surgirem comportamentos e atitudes de discriminação, preconceitos, racismos, machismos, homofobia etc. Na forma física, afetiva e ideológica, os que se consideram "normais" evitam contatos e criam seus próprios mundos, excluindo os que são considerados como "diferentes". Por isso, a consciência do caráter multicultural de uma sociedade não leva necessariamente ao desenvolvimento de uma relação social de trocas e relações entre as culturas - o chamado interculturalismo.

Em 2007, no enredo e na letra do sambaenredo da Escola de Samba Império Serrano, do Rio de Janeiro, cantava-se: Quem nasceu diferente, e venceu preconceito, a gente tem que admirar. Este samba fala dos portadores de necessidades especiais, porém podemos ampliar esta ideia de que todas as diferenças são normais. Entretanto, se ser diferente é normal, lidar com a diferença é difícil em função das relações de poder entre as pessoas e grupos. Vamos ver qual a razão e como isto acontece nas sociedades.



FONTE: Carlos Ruas



O etnocentrismo

Por que as diferenças sociais e culturais são, para muitas pessoas, sinônimo de desigualdades? No senso comum, por exemplo, o nordestino na maioria das vezes é associado ao analfabetismo, à ignorância etc. Negros e índios são associados a marginais ou selvagens. Mulheres são consideradas inferiores. Homossexuais, pessoas que apresentam anomalias "mentais" e "morais".

Podemos dizer que essas ideias representam visões etnocêntricas de mundo. Mas, o que significa mesmo o termo "etnocentrismo"?

Bem, etimologicamente, "etno" deriva do grego "ethnos" e se refere à etnia, raça, povo, clã. Assim, "etnocentrismo" significa considerar a sua etnia como o centro ou o eixo de tudo, a base que serve de referência ou o ponto de vista de onde se deve olhar e avaliar o mundo ao redor.

81

Estendendo essa definição, podemos entender o etnocentrismo como uma tendência a considerar apenas os valores da própria cultura ao analisar as demais. Isto significa dizer que as visões de um determinado grupo - política, econômica e socialmente dominante em uma dada sociedade - são consideradas como o centro e a referência de tudo. Tudo - inclusive outros grupos e indivíduos - é pensado e sentido através dos valores, modelos e definições segundo o grupo dominante, que seria a própria "representação" da existência humana.



LEGENDA: Todos somos diferentes, temos escolhas e características biológicas e sociais diferentes. Reconhecer estas diferenças não deveria significar desigualdades em direitos ou de alguma forma de discriminação.

FONTE: Image Source/Shannon Fagan

Quando duas culturas se encontram, pode ocorrer um choque cultural, ou seja, de repente surge um "outro", ou o grupo "diferente" que, quase sempre, não age como o grupo dominante - ou, quando age, é considerado estranho. Enfim, esse "diferente" é ameaçador porque pode ferir (afetar de alguma forma) a nossa identidade cultural. Então, se pertencemos ao grupo que apresenta os padrões culturais considerados como "corretos", "naturais", não aceitamos que outro grupo tenha hábitos que julgamos "estranhos". Assim o grupo do "eu" faz da sua visão a única possível - ou, mais discretamente, "a melhor", "a natural", "a superior", "a certa".



FONTE: Carlos Ruas

Em poucas situações, a atitude etnocêntrica passa por um julgamento simples do valor da cultura do outro, nos termos da nossa própria cultura, sem consequências mais sérias. Mas, na maioria das vezes, a História da humanidade é repleta de exemplos onde o etnocentrismo implica um julgamento do outro, na sua forma mais violenta. Por exemplo, julgar um povo - como os indígenas ou os africanos - de primitivo ou bárbaro, pode significar, socialmente e politicamente, como "algo a ser destruído" ou como empecilho ao "desenvolvimento econômico" das nações.

O etnocentrismo formula representações e imagens distorcidas sobre aquele que entendemos como "diferente" de nós, sendo representações sempre manipuláveis como bem entendemos. Além disso, no fundo, transforma a diferença pura e simples num juízo de valor, perigosamente prejudicial à humanidade.

82

Etnocentrismo - termo criado em 1906 pelo sociólogo americano William Graham Summer (1840-1910) -, portanto, é a base explicativa sociológica e antropologicamente dos preconceitos, discriminações, racismos, homofobia, sexismo e estereótipos sobre os mais variados grupos, considerados diferentes em comparação a um determinado padrão.

Esclarecido isso, podemos refletir sobre a nossa própria história: como sabemos, nossas sociedades ocidentais americanas são herdeiras diretas da tradição europeia, branca e cristã, que foi trazida pelos colonizadores e que predominou sobre outras culturas que existiam anteriormente nas Américas.

Sabendo disso, perguntamos: como se deu esse processo de conquista, não somente sob o ponto de vista social e cultural, mas sob a perspectiva da visão de mundo desses colonizadores europeus? Será que o desejo de riqueza não veio aliado a uma crença num estilo de vida que excluiu as diferenças sociais e culturais?

Se pensarmos em termos de História do Brasil, podemos verificar que nossa formação nacional foi marcada pela eliminação física do "diferente" (indígenas) ou por sua escravização (africanos). Da mesma forma, foi forjada uma verdadeira negação do "outro", também no que diz respeito aos seus pensamentos, suas ideias e seus mais variados comportamentos.

Por exemplo, até algum tempo atrás, na maioria dos livros didáticos de História, encontrávamos a ideia distorcida de que os índios andavam nus, à época da chegada dos portugueses. Ora, esse "escândalo exótico" esconde, na verdade, a nossa noção particular do que deve ser uma roupa e o que, no corpo, deve-se mostrar ou esconder.

A mesma ideia se expressa quando se diz que os povos indígenas cultuam deuses em formas de espíritos ancestrais, animais, árvores etc., ou seja, eles eram animistas, com superstições sem sentido. Aqui se esconde a visão de que só os ocidentais é que têm o deus ou deuses certos e os "selvagens" não. Perguntamos: o que diriam muitos indígenas na Amazônia se soubessem que nossas indústrias madeireiras derrubam milhões de árvores para fazer papel, e que grande parte desse papel é jogado no lixo? E mais: o que diriam eles, sabendo que a derrubada de árvores provoca um desequilíbrio ecológico ameaçador para a própria existência humana? Deste ponto de vista, não seríamos nós os "selvagens", fazendo coisas sem sentido?



LEGENDA: Um exemplo de visão etnocêntrica: em pleno século XXI, filmes ainda exibem a África e seus povos como selvagens e primitivos.

FONTE: Morgan Creek Productions/Tom Shadyac


Yüklə 2,47 Mb.

Dostları ilə paylaş:
1   ...   6   7   8   9   10   11   12   13   ...   46




Verilənlər bazası müəlliflik hüququ ilə müdafiə olunur ©muhaz.org 2024
rəhbərliyinə müraciət

gir | qeydiyyatdan keç
    Ana səhifə


yükləyin