1 Luiz Fernandes de Oliveira


As trocas e os diálogos culturais



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As trocas e os diálogos culturais

A notícia sobre o casal que se beijou em Dubai demonstra que mais do que reivindicar um direito de igualdade, é necessário lutar pelo reconhecimento das diferenças. Se a diferença é normal, é necessário lutar para a garantia daquilo que chamamos de interculturalidade ou relações sociais interculturais.



Relação intercultural significa a valorização, a interação e a comunicação recíprocas entre os diferentes sujeitos e grupos culturais. A interculturalidade é a ideia que tem por base o reconhecimento do direito à diferença e a luta contra todas as formas de discriminação e desigualdade social. É tentar promover relações de diálogo e relações igualitárias entre pessoas e grupos que pertencem a culturas diferentes, sem perder de vista a crítica às relações desiguais de poder entre grupos e pessoas.

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Nas palavras de Catherine Walsh, pedagoga americana e professora da Universidade Andina Simon Bolívar, no Equador, a interculturalidade é:



Boxe complementar:

Um processo dinâmico e permanente de relação, comunicação e aprendizagem entre culturas em condições de respeito, legitimidade mútua, simetria e igualdade; um intercâmbio que se constrói entre pessoas, conhecimentos, saberes e práticas culturalmente diferentes, buscando desenvolver um novo sentido entre elas na sua diferença; um espaço de negociação e de tradução onde as desigualdades sociais, econômicas e políticas, e as relações e os conflitos de poder da sociedade não são mantidos ocultos e sim reconhecidos e confrontados; uma tarefa social e política que interpela ao conjunto da sociedade, que parte de práticas e ações sociais concretas e conscientes e tenta criar modos de responsabilidade e solidariedade; e uma meta a alcançar.

(WALSH, 2001, p.10-11)

Fim do complemento.

Na sociedade brasileira ainda há muita dificuldade em reconhecer e promover o diálogo e a troca entre diferentes grupos, pois ainda ocorrem muitos casos de violência contra os homossexuais, atitudes e comportamentos de rejeição a pessoas com deficiências, violência contra as mulheres e negros etc. O simples fato de ser diferente, sob diversos aspectos, dificulta que certos indivíduos tenham acesso a bens, a oportunidades de trabalho e até mesmo de frequentarem certos espaços.

Nestas poucas palavras, você consegue perceber que a interculturalidade pode ser o oposto do etnocentrismo?

O que diferencia o ser humano dos outros seres é sua capacidade de dar respostas aos diversos desafios que a realidade impõe. Mas, essa preocupação com a realidade e esse agir no mundo não se dão de maneira isolada. É na relação entre homens e mulheres e destes e destas com o mundo que uma nova realidade se constrói e novos homens e mulheres se fazem. Criando cultura. Fazendo história. E essas culturas e histórias sempre se relacionam entre si. Por isso, as diferenças sociais e culturais, que são os aspectos mais humanos que existem entre as pessoas e as sociedades, podem se expressar através do etnocentrismo ou das relações interculturais.

LEGENDA: Índios e brancos juntos: como exercer o interculturalismo? Na foto, índios pataxós comemoram a condenação dos jovens acusados pela morte do índio Galdino Jesus dos Santos e saúdam o promotor pela sua atuação no caso.

FONTE: Alan Marques/Folhapress

Fechamos esta reflexão com um chamado do sociólogo Boaventura de Sousa Santos para refletirmos sobre as diferenças culturais e as desigualdades sociais: "temos o direito a ser iguais sempre que a diferença nos inferioriza; temos o direito de ser diferentes sempre que a igualdade nos descaracteriza" (1995, p.7).



FONTE: Vanderlei Sadrack

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Interdisciplinaridade

Conversando com a Educação Física



Educação Física: desenvolvimento de habilidades físicas ou o conhecimento da "cultura corporal do movimento"?

Adriana Penna

Desde a sua inserção nas primeiras formações sociais, o ser humano buscou na natureza os meios para a sua sobrevivência. Para se constituir como tal, o homem sempre precisou transformar a natureza para a satisfação de suas necessidades, criando padrões de movimento, de pensamento e de ação condicionados às circunstâncias impostas por cada período histórico. Já neste ponto, então, podemos afirmar que os seres humanos não nasceram andando, correndo, pulando, nadando etc., de forma natural e mecânica. Ao contrário, as atividades humanas se constituem pelas condições criadas por relações sociais determinadas historicamente.

Deste modo, a relação homem/natureza compõe uma unidade que é mantida sob uma relação de dependência e de conflito. Verifica-se assim a permanente criação e recriação da natureza e da humanidade no processo histórico de constituição das sociedades e de sua cultura. De acordo com Karl Marx (1818-1883), esta integração homem/natureza compreende uma relação exclusivamente humana denominada "trabalho". Esta é a atividade criadora e fundante do ser social.

Pode-se perceber então que o ser humano é, ao mesmo tempo, produto e produtor da sociedade na qual está inserido e de sua cultura. No entanto, submetido às condições do mundo capitalista, grande parte da humanidade passou de sujeito da História à simples peça desta engrenagem social que aliena o homem e a natureza, simultaneamente. O mundo do trabalho capitalista - ou seja, as condições de emprego criadas pelo modo de produção capitalista - passou a dominar tanto o meio ambiente, quanto a vida do trabalhador, utilizando a natureza e o ser humano com se fossem peças descartáveis. Por este motivo, estratégias são constantemente criadas, submetendo o tempo, os movimentos e os pensamentos do trabalhador às demandas de manutenção da sociabilidade capitalista.

Com base nas considerações acima, convidamos você a pensar sobre a Educação Física como uma prática social e pedagógica e que, como tal, deve privilegiar na escola conteúdos, temas e atividades que integram a "cultura corporal do movimento", tais como as danças, as lutas, os esportes, os jogos etc. Tais conteúdos têm a propriedade de promover o entendimento do corpo físico e do corpo social, integrando-os à totalidade das relações sociais e explicando a expressão da sua cultura.

Nesta perspectiva, buscamos explicar de forma histórica a objetividade do corpo e de seus movimentos. Entendida sob esta perspectiva, a Educação Física se contrapõe àquela visão que ainda hoje a vincula à concepção técnica, tendo relação direta com o desenvolvimento de aptidões físicas e com a preparação do futuro trabalhador para o mundo do trabalho alienado. Tal concepção tem criado no espaço escolar uma ideia de Educação Física como mera execução de exercícios físicos desconectados de uma reflexão sobre o fazer corporal e sua função na sociedade.

E então, o que você acha a respeito do que escrevemos? Até que ponto a prática da Educação Física em nossas escolas não significa a imposição de um determinado padrão cultural relativo ao "corpo em movimento", de acordo com certa definição de "normalidade" presente na sociedade, e, juntamente com isso, a exclusão do diferente, daquele que não se encaixa em um determinado padrão estético? Pense a respeito.

Adriana Machado Penna é professora da Universidade Federal Fluminense. Graduada em Educação Física pela UFRJ, Mestre em Educação pela UFF e Doutora em Serviço Social pela UERJ.

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Interatividade





Reve

ndo o capítulo

1 - Diferencie os termos desigualdade social e diferenças sociais e culturais.

2 - O que significa etnocentrismo?

3 - O que significa interculturalidade?



Dialogando com a turma

1 - Faça uma pesquisa sobre músicas que fazem referência às diferenças culturais existentes no Brasil. Apresente o resultado do seu trabalho para a turma.

2- Debata com a sua turma a reflexão do sociólogo Boaventura de Sousa Santos: "temos o direito a ser iguais sempre que a diferença nos inferioriza; temos o direito de ser diferentes sempre que a igualdade nos descaracteriza".

Verificando o seu conhecimento

1 - (ENEM, 2002)



FONTE: King Features Syndicate/Ipress

De acordo com a história em quadrinhos protagonizada por Hagar e seu filho Hamlet, pode-se afirmar que a postura de Hagar:

(A) valoriza a existência da diversidade social e de culturas, e as várias representações e explicações desse universo.

(B) desvaloriza a existência da diversidade social e as várias culturas, e determina uma única explicação para esse universo.

(C) valoriza a possibilidade de explicar as sociedades e as culturas a partir de várias visões de mundo.

(D) valoriza a pluralidade cultural e social ao aproximar a visão de mundo de navegantes e não-navegantes.

(E) desvaloriza a pluralidade cultural e social, ao considerar o mundo habitado apenas pelos navegantes.

2 - (ENEM, 2010)

Chegança

Sou Pataxó,

Sou Xavante e Carriri,

Ianomâni, sou Tupi

Sou Pancaruru,

Carijó,Tupinajé,

Sou Potiguar, sou Caeté

Ful-ni-ô Tupinambá.

Eu atraquei num porto seguro,

Céu azul, paz e ar puro...

Botei as pernas pro ar.

Logo sonhei que estava no paraíso

Onde nem era preciso dormir para sonhar.

Mas de repente me acordei com a surpresa:

Uma esquadra portuguesa veio na praia atracar.

De grande-nau,

Um branco de barba escura,

Vestindo uma armadura me apontou para me pegar.

E assustado dei um pulo da rede,

Pressenti a fome, a sede,

Eu pensei: "vão me acabar".

Levantei-me de Borduna já na mão.

Aí, senti no coração,

O Brasil vai começar.

NÓBREGA, A; FREIRE,W. CD

Pernambuco falando para o mundo, 1998.

A letra da canção apresenta um tema recorrente da história da colonização brasileira, as relações de poder entre os portugueses e povos nativos, e representa uma crítica à ideia presente no mito:

(A) da democracia racial, originado das relações cordiais estabelecidas entre portugueses e nativos no período anterior ao início da colonização brasileira.

(B) da cordialidade brasileira, advinda da forma como os povos nativos se associaram economicamente aos portugueses, participando dos negócios coloniais açucareiros.

(C) do brasileiro receptivo, oriundo da facilidade com que os nativos brasileiros aceitaram as regras impostas pelo colonizador, o que garantiu o sucesso da colonização.

(D) da natural miscigenação, resultante da forma como a metrópole incentivou a união entre colonos, ex-escravas e nativas para estabelecer o povoamento da colônia.

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(E) do encontro, que identifica a colonização portuguesa como pacífica em função das relações de troca estabelecidas nos primeiros contatos entre portugueses e nativos.



Pesquisando e refletindo

LIVROS

ROCHA, Everardo P. Guimarães. O que é etnocentrismo. 5ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1988. O livro indicado foi editado para a coleção "Primeiros Passos", voltada exatamente para os jovens que começaram a se interessar pelos estudos sociológicos e antropológicos.

UNESCO. Declaração Universal sobre Diversidade Cultural. XXXI Conferência Geral. Paris, 2001.

Documento que apresenta os resultados da Conferência da UNESCO, trazendo várias conclusões e recomendações de políticas que deveriam ser aplicadas pelos países membros da Organização das Nações Unidas - ONU.



FILMES

OS DEUSES DEVEM ESTAR LOUCOS (The Gods Must Be Crazy, Botsuana/África do Sul, 1980). Direção: Jamie Uys. Elenco: Marius Weyers e Michael Thys. Duração: 108 min.

Uma comédia que trata do choque entre culturas a partir da queda de uma garrafa de Coca-Cola numa tribo de nativos africanos.

PRECIOSA, UMA HISTÓRIA DE ESPERANÇA (Precious: Based on the Novel "Push" by Sapphire, EUA, 2009). Direção: Lee Daniels. Elenco: Gabourey Sidibe, Mo'Nique. Duração: 110 min.

Claireece "Preciosa" Jones é uma adolescente de 16 anos que vive no Harlem, bairro de Nova York, e sofre uma série de privações durante sua juventude. Além disto, ela tem um filho portador de síndrome de Down. Quando engravida pela segunda vez, é suspensa da escola, mas, com a ajuda de uma amiga, consegue se matricular numa escola alternativa.

INTERNET

DIVERSIDADE HUMANA - Projeto GhENTE - FIOCRUZ: http://goo.gl/qsw2zw

Segundo o site, "o Projeto GhENTE é um espaço de informação e de debate social, que reúne pensadores das ciências biológicas, sociais e humanas para discutir as implicações das modernas biotecnologias na área da saúde. A página específica que estamos indicando foi organizada pela pesquisadora da ENSP/ FIOCRUZ Cibele Verani e apresenta reflexões e referências bibliográficas importantes sobre o tema DIVERSIDADE. Acesso: janeiro/2016.

CULTURA E ETNOCENTRISMO

http://goo.gl/Xk2M0z

Blog de História que apresenta dois vídeos: um sobre o conceito de etnocentrismo e outro sobre o conceito de cultura. Acesso: janeiro/2016.



MÚSICAS

GENI E O ZEPELIM - Autor: Chico Buarque. Intérpretes: Chico Buarque e Letícia Sabatella.

Geni era "diferente" e repudiada pelos habitantes da cidade. Até o dia em que ela se torna a única capaz de salvar todos da morte e a cidade da destruição.

SER DIFERENTE É NORMAL: O IMPÉRIO SERRANO FAZ A DIFERENÇA NO CARNAVAL

- Autores: Arlindo Cruz, Maurição, Aloísio Machado, Carlos Senna, João Bosco. Intérpretes: Nêgo e G. R. E. S. Império Serrano - Samba-enredo do Carnaval do Rio de Janeiro, 2007.

A letra do samba pergunta "diferença social para quê?". E responde: "tá na cara que a beleza está nos olhos de quem vê".



FILME DESTAQUE



DISTRITO 9 (District 9)

FICHA TÉCNICA:

Direção: Neill Blomkamp

Elenco: Sharlto Copley, Jason Cope, Nathalie Boltt.

Duração: 108 min.

(EUA, Nova Zelândia, 2009)



FONTE: TriStar Pictures/ Neill Bomkamp

SINOPSE:

Com o enguiço da sua nave, extraterrestres se refugiam numa favela de Johanesburgo, na África do Sul, o Distrito 9. Ao serem descobertos, provocam a reação do governo, que contrata uma empresa para controlar os alienígenas e mantê-los em campos de concentração.

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Aprendendo com jogos



Aritana e a Pena da Harpia

(Duaik, 2014)

FAÇA A DIFERENÇA!

FONTE: Divulgação/ Duaik

Um jovem índio deixa sua aldeia em busca de um artefato mágico, a pena da Harpia (também conhecido como Gavião Real). Tal artefato é única forma de salvar o cacique do seu povo, que está doente. Você deve assumir o lugar de Aritana, superar os perigos e desafios e enfrentar os espíritos da floresta e o temível mapinguari para salvar o cacique.

Como jogar:



1. Acesse a versão demo do jogo ("Baixar demonstração") em http://goo.gl/AtsNej

2. Explore o game, e, com base em sua experiência, utilize os conhecimentos adquiridos no capítulo para analisar os elementos do game. Escreva uma redação breve relacionando o capítulo com o jogo.

3. Faça uma pesquisa com o apoio do livro didático e procure observar como ele fala sobre os índios.

4. Uma vez compreendida a razão do 19 de Abril, pesquise como populações indígenas veem a data. Organize-se em grupos para um debate sobre as respostas encontradas.

5. Observem letras de música (de grupos de rap, por exemplo, como Bro Mcs e a música Eju Orendive) e façam uma pesquisa de suas palavras desconhecidas.

6. Produzam, ainda os mesmos grupos, desenhos sobre a visão dessas letras sobre os indígenas. Analisem os estereótipos visuais que podem surgir da representação dessas letras.

7. Comparem seus resultados com os demais grupos e reflitam com os seus colegas de sala.

Bonecas e bonecos

RESPEITE O DIFERENTE.

O jogo tem como objetivo a desconstrução de estigmas. A sociabilidade entre os indivíduos é o ponto principal e você está convidado a enxergar as pessoas com as quais "comumente" não se relacionaria.

Como jogar:



1. Bonecas e bonecos circularão entre todos os seus colegas de classe, organizados em um círculo. Você deve fazer alguma coisa com a (o) boneca(o). Um após outro chegará a suas mãos e você deve fazer algo com cada um deles. Assim como todos os seus colegas.

2. Depois de todos os colegas observarem os bonecos e fizerem algo com eles, cada um deverá comentar o que a experiência significou para si, se gostou ou não gostou da experiência e por qual motivo.

3. Analise junto com os seus colegas a "caracterização" possivelmente estereotipada desses bonecos e o que permitiu que fossem identificados como sendo um tipo ou outro.

4. Reflita junto com os seus colegas sobre as diferenças entre gênero, sexualidade e sexo biológico. Reflita sobre a violência decorrente da intolerância e do ódio fundado em preconceito e a necessidade de respeito a todos os sujeitos como questão de justiça e de igualdade política.

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Capítulo 7 - "A matrix está em toda parte...": ideologia e visões de mundo



O que será que anda na cabeça de nossa gente?

Nossa vida cotidiana é recheada de ideias, valores, concepções sobre determinados temas e fatos, e estes orientam nossas atitudes e comportamentos. Vejamos exemplos tirados das páginas de alguns jornais e revistas de grande circulação nacional, nos quais se publicam frases de e sobre pessoas famosas, e às quais retornaremos ao final deste capítulo:

Boxe complementar:

"Por que as pessoas entram na faculdade? Para arrumar um emprego. Eu já tenho um trabalho." (Avril Lavigne, cantora pop canadense, explicando por que não quer fazer graduação, em entrevista ao jornal Folha de São Paulo em 12 de setembro de 2005).

"Mussolini nunca mandou matar ninguém. Mandava as pessoas passar férias no exílio". (Silvio Berlusconi, ex-primeiro-ministro da Itália, ao descrever o ditador fascista Benito Mussolini. Revista Época em 15 de setembro de 2003).

"Só não vou te estuprar porque você não merece". (Jair Bolsonaro, deputado federal, dirigindo-se a Maria do Rosário, também deputada federal, em 09 de dezembro de 2014).

"Estão enviando gente que tem muitos problemas, estão nos enviando seus problemas, trazem drogas, são estupradores e suponho que alguns até podem ser boa gente, mas eu falo com agentes da fronteira e me contam a verdade". (Donald Trump, multimilionário norte-americano, ao se referir ao México e ao povo mexicano no discurso em que anunciou sua candidatura à presidência dos EUA, em 16 de junho de 2015).

"Precisamos de um ator jovem, na faixa dos 20/25 anos, muito bonito. A direção gostaria que ele fosse negro, então o ideal seria ter um ator negro e muito bonito, mas conscientes do grau de dificuldade, faremos teste também com os bons atores, lindos, que não sejam negros." (Anúncio da agência +Add Casting, contratada pela Boutique Filmes para a série de ficção "3%", da Netflix - Outubro de 2015).

"[...] calorias que "deveriam" ser ingeridas para alcançar o corpo perfeito: 800, 1.000 calorias diariamente. [...] no gueto de Lodz, em 1941, em pleno nazismo, os judeus se alimentavam de rações que tinham de 500 a 1.200 calorias por dia". (Ana Luísa Fernandes e Priscila Bellinio, em reportagem sobre a ditadura da estética da magreza, citando o livro O Mito da Beleza, de Naomi Wolf. Revista Superinteressante - 08 de julho de 2015).

Fim do complemento.

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FONTE: Dalcio/Correio popular

Estas e outras centenas de frases, que podemos ler toda semana em diversos veículos de comunicação, vêm carregadas de ideias sobre a sociedade, a realidade do mundo e as relações sociais entre os indivíduos. O que eles dizem pode estar na própria frase ou por trás dela. Podem ser metáforas, expressar preconceitos, valores ou um conjunto de ideias sobre determinado assunto. O que vamos estudar aqui é justamente esse conjunto de ideias que chamamos de ideologia.

Marilena Chauí assim define a ideologia:

Boxe complementar:

É um conjunto lógico, sistemático e coerente de representações (ideias e valores) e de normas ou regras (de conduta) que indicam e prescrevem aos membros da sociedade o que devem pensar e como devem pensar, o que devem valorizar e como devem valorizar, o que devem sentir e como devem sentir, o que devem fazer e como devem fazer. Ela é, portanto, um corpo explicativo, de representações e práticas (normas, regras e preceitos) de caráter prescritivo, normativo, regulador (...).

(1980, p. 113)

Fim do complemento.

É claro que, além desta, encontramos ao longo da história da Sociologia mais algumas definições de ideologia.

O conceito de ideologia foi, literalmente, inventado por um filósofo francês chamado Destutt de Tracy, que escreveu, em 1801, o livro Elementos da Ideologia. É um tratado enorme que, hoje, quase ninguém mais lê. Segundo este filósofo, a ideologia seria o estudo científico das ideias e as ideias são o resultado da interação de um indivíduo com seu meio ambiente.

Alguns anos depois, em 1812, Tracy e seus seguidores entraram em conflito com Napoleão, que os chamou de "ideólogos", no sentido bem pejorativo da palavra, ou seja, como pessoas que fazem abstração da realidade e que vivem especulando sobre o mundo. Como Napoleão era a pessoa mais importante na França daquela época, este sentido da ideologia ficou bastante popular.

LEGENDA: Napoleão Bonaparte, no século XIX, se referiu a um grupo de filósofos franceses como "ideólogos", ou seja, pessoas que viviam especulando sobre o mundo. Quadro: Napoleão atravessando os Alpes (c.1800) de Jacques Louis David.

FONTE: Coleção Château de Malmaison, Rueil-Malmaison, França

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Em 1846, Karl Marx dá outro sentido para o termo ideologia. Para ele - e Friedrich Engels, com quem escreveu a respeito desse tema -, falar em ideologia significa se referir às "falsas representações" que os homens apresentam sobre o mundo que os cerca. Dizendo ainda de outra forma, Marx e Engels afirmaram que, diante da tentativa dos homens de explicar a realidade, é necessário considerar as formas de conhecimento ilusório que levam ao mascaramento dos conflitos sociais (cf. MARX; ENGELS, 1979). Segundo Marx e Engels, portanto, a ideologia adquire um sentido como instrumento de dominação de uma classe social sobre outra ou de um grupo social sobre outro. Ideologia seria também uma falsa consciência da realidade.



Um dos seguidores das ideias de Marx, o revolucionário russo Vladimir Ilitch Uliânov, o Lênin, deu outro sentido para o termo ideologia. Segundo ele, ideologia era qualquer concepção da realidade social ou política, vinculada aos interesses das classes sociais, ou seja, cada classe social teria a sua própria ideologia (cf. LÊNIN, 2006).

Assim, como podemos ver, ao longo do tempo, a palavra vai mudando de sentido.

Nos anos de 1920, outro significado surge para o termo, segundo a reflexão do filósofo italiano Antonio Gramsci. Ele tinha uma concepção bastante interessante quando dizia que as ideologias "(...) organizam as massas humanas, formam o terreno sobre o qual os homens se movimentam, adquirem consciência de sua posição, lutam etc." (GRAMSCI, 1989, p. 62-63).

Para Gramsci, o conceito de ideologia significa também uma concepção de mundo manifestando-se implicitamente na Arte, no Direito, na atividade econômica, em todas as manifestações da vida. E, de acordo com o pensador italiano, tal conceito tem por função conservar a unidade de toda a sociedade e dos grupos.

Por fim, o sociólogo alemão Karl Mannheim apresentou um novo sentido para o termo ideologia com a sua obra Ideologia e utopia, publicada em 1929.

LEGENDA: Segundo Antonio Gramsci (1891 - 1937), o conceito de ideologia significa também uma concepção de mundo.

FONTE: Leemage/Other Images

Mannheim, primeiro, fez uma distinção entre os termos ideologia e utopia. Ideologia seria um conjunto de concepções, ideias e teorias que orientam os indivíduos para estabilizar, legitimar ou reproduzir a ordem das relações sociais dos homens. Ou seja, todas aquelas ideias, concepções ou teorias que têm um caráter de conservação da realidade social. Utopia seria o contrário, ou seja, ideias, concepções ou teorias que aspiram à construção de outra realidade social, que ainda não existe. Mas, Mannheim traz outra classificação para o termo ideologia: a ideologia total e a ideologia estrita. Ideologia total seria o conjunto de formas de pensar, estilos de pensamento, pontos de vista, que representam interesses de grupos ou classes. A ideologia estrita é a forma conservadora que a ideologia total pode se tornar (cf. MANNHEIM, 1976).



FONTE: Alexandre Beck

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Vamos utilizar uma interpretação da filósofa brasileira, Marilena Chauí (1980), para explicar, em outras palavras, o conceito de ideologia e ver como ele pode ser um instrumento de imaginação sociológica. Através de algumas características da ideologia como fenômeno social e do estudo de exemplos concretos, podemos descrever sua importância para entendermos melhor, em nossa vida cotidiana, como a ideologia opera e funciona.



No quadro a seguir, temos uma breve síntese da ideologia. Converse com seus colegas e com o(a) professor(a) e tente encontrar outros exemplos de acordo com as características da primeira coluna.

Quadro: equivalente textual a seguir.



IDEOLOGIA




Característica

O que faz

Exemplo

Prescrição de normas

Orienta as ações humanas. Modela os interesses humanos. Diz o que se deve fazer, pensar ou expressar.

A ideia de monogamia, nas sociedades ocidentais, faz com que homens e mulheres a considerem como a única forma possível de relação existente no mundo.

Representação da realidade

Dá sentido à realidade humana. Utiliza-se de símbolos e da criação mental.

O conceito pátria ou o sentimento patriótico.

Generalização do particular

Trata o específico como exemplo de um fenômeno geral.

Todos os alunos de uma turma são iguais.

Inversão da realidade

Esconde as reais causas de um fenômeno.

O MST não luta pela reforma agrária, mas sim invade terras produtivas.

Naturalização das ações humanas

Torna normal e natural aquilo que é histórico e contingente.

A desigualdade entre os homens e mulheres é normal. Por isso estas podem ser tratadas de forma inferiorizada.

Reificação da realidade

As coisas aparecem com vida própria, ou seja, coisas inertes ganham aspectos naturais, não construídas pelos homens.

Os salários não expressam relações desiguais de trabalho.

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