60 Obra: dicionário de sociologia autor: raymond boudon e outros



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Distância social: No seu sentido mais geral e mais imediato, a distância social é o intervalo maior ou menor que separa, no espaço social, as posições de duas ou várias pessoas que pertencem a diferentes classes sociais, etnias, confissões religiosas ou subculturas.

Alguns autores falaram de distância social vertical para introduzir a noção de diferenças na hierarquia do estatuto, do poder ou dos recursos. Entretanto, o termo difundiu-se, sobretudo, em sociologia numa acepção mais psicológica, em virtude da elaboração por E. S. Bogardus de uma escala de distância social. A distância social é então concebida como o grau de compreensão simpática que existe entre duas pessoas, ou uma pessoa e um grupo, pertencentes a culturas, grupos sociais ou étnicos diferentes. Na prática, a escala de atitude construída por Bogardus consistia em medir o grau de aceitação (como esposo, como amigo, como vizinho, como colega, etc.) ou de exclusão de pessoas pertencentes a duas nacionalidades ou etnias.

PH. BD.


- Alexandre (1971), Park, Burgess (1921).
Divisão do trabalho: Pode fazer-se remontar a noção de divisão do trabalho a Platão e a Aristóteles, que a consideravam não como meio para aumentar a produção mas com o aumento da eficácia do indivíduo na medida em que este se especializa naquilo que corresponde melhor à sua natureza. Mas foi de facto na sequência das análises de A. Smith que a divisão do trabalho se popularizou nas ciências sociais (1776; nomeadamente os três primeiros capítulos do livro I consagrados ao estudo das causas e consequências da divisão do trabalho). Para Smith, ela é um método em que cada indivíduo está especializado numa fase determinada do processo de produção. Tem três funções primordiais: aumenta a habilidade de cada operário; economiza o tempo; é a causa fundamental da invenção que máquinas que facilitam e abreviam o trabalho e permitem a um único homem desempenhar a tarefa de vários. Todos estes factores concorrem para aumentar a produção de bens e melhorar a qualidade dos produtos, pois que, ao especializar-se numa tarefa simples, o operário adquire uma destreza que o não especialista jamais pode atingir mesmo que goze naturalmente de mais talentos. É que, nota Smith, a diferença dos dons (naturais) entre os indivíduos é mais pequena que a diferença entre indivíduos que exercem ofícios diferentes gerados pela divisão do trabalho. A divisão do trabalho é um efeito e não a causa da permuta. É portanto o mercado que a determina e a limita. A acumulação do capital é uma condição necessária da divisão do trabalho.

Esta tese foi retomada e reformulada num quadro mais amplo que o da economia por economistas e sociólogos como H. Spencer (1874-1875), G. Schmoller e, sobretudo, É. Durkheim (1893), que utiliza certas críticas que a escola histórica alemã dirigiu à teoria económica clássica para iniciar um debate com os utilitaristas, em particular Smith e Spencer. A divisão do trabalho é analisada por Durkheim quando se interroga sobre a especificidade das sociedades industriais em relação às outras sociedades. Ele distingue dois tipos ideais de sociedades: a sociedade de solidariedade mecânica e a sociedade de solidariedade orgânica. A primeira caracteriza-se por um volume e uma densidade baixos, uma organização social pouco diferenciada, um direito repressivo e uma consciência colectiva que integra fortemente o indivíduo. A segunda distingue-se por um volume e uma densidade elevados, funções sociais muito diferenciadas, um direito cooperativo e a emancipação do indivíduo. A divisão do trabalho envolve todas as esferas: social, económica, política, artística, científica, etc.

Para Durkheim, ela está positivamente correlacionada com o volume e com a densidade. Tornando-se mais densa e demograficamente mais volumosa, a sociedade assiste ao aparecimento de conflitos no seu seio. Se para satisfazer uma mesma necessidade um maior número de homens faz o mesmo trabalho, eles serão levados a lutar uns contra os outros. A divisão do trabalho é precisamente uma solução pacífica para essa luta, pois reduz os desequilíbbrios sociais. Em Durkheim, tal como em Smith, ela gera não apenas a especialização mas também a solidariedade, isto é, uma organização que coordena as funções e liga os indivíduos uns aos outros. É o que os teóricos da organização científica do trabalho, nomeadamente F. W. Taylor, tinham de facto sublinhado.

A especialização que fragmenta o trabalho foi objecto de críticas por parte de numerosos sociólogos como sendo uma causa fundamental da alienação do homem moderno. Impôs, além disso, uma separação entre os executantes (trabalhadores manuais) e as outras categorias (técnicos, administrativos, comerciais) acompanhada de uma hierarquização social. Durkheim notara que a divisão do trabalho poderia em certos casos gerar três formas anormais: a divisão do trabalho anómico, que é a desregulação do mercado e das relações sociais (crises económicas e sociais); a divisão do trabalho constrangimento, que é uma repartição injusta e desigual dos homens entre as funções; finalmente, a divisão do trabalho "burocrática", que se distingue por uma superabundância de agentes e uma baixa produtividade.

M. C.

- Blau (1977).


Divórcio: Segundo a tradição católica, o casamento é indissolúvel. Na França, a Revolução laiciza o estado civil e institui em 1792 o divórcio, que pode ser pronunciado por consentimento mútuo, como todo o contrato entre pessoas. Sujeito a restrições em 1803, proibido de novo em 1816, o divórcio volta a tornar-se legal em 1884 (lei Naquet), tendo por motivo a culpa de pelo menos um dos cônjuges ("divórcio sanção"). Uma lei de 1975 testemunha a evolução dos costumes ao torná-lo mais fácil e ao reintroduzir o consentimento mútuo.

Verifica-se uma subida lenta e regular do número de divórcios após 1884, independentemente dos fogachos consecutivos das duas guerras, depois uma estabilização em torno de 1 em 10 casamentos nos decénios 1950 e 1960; mas, a partir de 1970, dá-se um aumento contínuo muito forte, sem efeito aparente da lei de 1975, até 3 divórcios por 10 casamentos, em 1985; são estes os factos observados. Os divorciados tornam actualmente a casar-se com menos frequência. A coabitação em todas as idades, e nomeadamente juvenil (Roussel 1978), substitui-se muitas vezes ao casamento, que como instituição parece em crise. Fundadas mais no sentimento e nas conveniências individuais, as uniões tornam-se mais frágeis.

O aumento do trabalho feminino assalariado fora do lar, que dá mais independência às mulheres, o prolongamento da esperança de vida, que aumenta a duração média de uma união contraída na juventude, são factores a relacionar com a subida do número dos divórcios. Uma proporção considerável de crianças cresce mais frequentemente na companhia de um só dos seus dois progenitores. Mas viuvezes e recasamentos frequentes provocavam outrora situações análogas. A um destino aceite correspondem hoje decisões voluntárias, de consequências psicológicas e sociais difíceis de apreciar. Os divórcios, tal como as uniões, têm cada vez mais a ver com o domínio privado; mas a perpetuação do grupo e a transmissão de um património biológico e cultural estão em causa. A sociedade deverá encontrar formas jurídicas em relação com os novos comportamentos. A França encontra-se numa posição média no conjunto dos países industrializados. Com ligeiros desfasamentos no tempo e tendo em conta a situação de partida, a alta dos divórcios é geral na Europa Ocidental, e os desníveis cada vez menos sensíveis, se se exceptuarem os países nórdicos, que vão com avanço sob este aspecto. Nos Estados Unidos da América, os divórcios envolvem um em cada dois casamentos. Na URSS, as suas oscilações acompanham bastante de perto as modificações legislativas que os tornam ora mais ora menos fáceis.

A. G.


- Commaille (1978), Commaille et al. (1983).
Dom: vd. Troca, Potlatch.
Dominação: M. Weber (1922a) define a dominação como "a possibilidade de encontrar pessoas determináveis, prontas a obedecer a uma ordem".

Nesta perspectiva, o que é constitutivo da dominação é a presença efectiva "de um indivíduo que manda em outros com sucesso"; mas a dominação exerce-se muitas vezes no quadro de um agrupamento, cujos membros, pela própria aplicação dos regulamentos, estão sujeitos a relações de domínio. A dominação não é, portanto, sempre nem necessariamente política: só se torna tal em ligação com um agrupamento territorial, cuja direcção administrativa é susceptível de recorrer ao constrangimento físico. Weber reconhece em particular a importância da dominação de fundamento económico, "em virtude de uma constelação de interesses", mas tende a privilegiar nos seus escritos "a dominação em virtude da autoridade", duplamente caracterizada pelo "poder de mandar", e pelo "dever de obedecer". A relação do mando e da obediência é para ele o traço fundamental da dominação: está em particular na base de toda a dominação política, ainda que esta tente, geralmente, fortalecer-se por uma reivindicação específica de legitimidade.

Pode igualmente, à maneira de A. Giddens (1979, 1984), ver-se na dominação uma propriedade estrutural dos sistemas sociais: deixa então de ser encarada sob o aspecto das relações entre actores para sê-lo em termos de recursos e consiste numa distribuição assimétrica de recursos de duas ordens distintas, uma das quais implica o controlo dos objectos e dos bens (recursos de abono) e a outra o domínio sobre as pessoas (recursos de autoridade). Esta concepção permite pensar a relação entre dominação e poder em termos de complementaridade: o poder só opera com base nas assimetrias de recursos inerentes às estruturas de dominação; e reciprocamente a dominação depende, para a sua própria manutenção, do jogo das relações de poder e da implementação dos recursos que elas implicam. Convém acrescentar (Chazel 1983), no entanto, que o poder não contribui apenas para reconstituir ou para reproduzir as estruturas de dominação existentes; ele pode participar na constituição e na produção de estruturas de dominação diferentes. Com efeito, as estruturas de dominação estão destinadas a ser transformadas ou destruídas: são - ou serão - historicamente circunscritas.

De uma maneira geral, o conceito de dominação deve ser manejado com prudência, o que está longe de ter acontecido num período recente: a dominação é, sem dúvida, uma dimensão significativa da análise sociológica, mas não poderá tornar-se no seu princípio central, ou mesmo único; e, se devemos com Weber reconhecer a importância dos processos de reforço simbólico da dominação, a expressão "dominação simbólica" é demasiadas vezes empregada sem precaução, sem conhecimento do campo de aplicação pertinente da noção.

F. C.

- Bourdieu (1980), Clegg (1974, 1979).


DURKHEIM (Émile), sociólogo francês (Épinal 1858 - Paris 1917): Se se quiser resumir com uma palavra as múltiplas facetas da teoria do fundador da sociologia francesa, escolher-se-á seguramente o conceito de integração. Porquê e como é que os indivíduos são integrados na sociedade? Esta interrogação atravessa do princípio ao fim todas as pesquisas conduzidas por Durkheim. A partir da sua tese, De la division du travail social (1893), onde se interroga sobre a natureza e as causas da evolução das sociedades modernas para uma maior diferenciação das funções sociais, Durkheim levanta de novo a questão da origem da ordem social, contesta as explicações artificialistas por meio do contrato e propõe uma teoria fundada na norma e na sanção como condições primeiras de toda a vida em sociedade. Se vai buscar a H. Spencer a tese geral da evolução das sociedades modernas para uma maior divisão do trabalho, separa-se dela na explicação. Para Durkheim, esta mudança macrossocial advém não porque seja útil e corresponda a uma qualquer finalidade mas porque é gerada por causas mecânicas, como o aumento do volume, da densidade da população e das relações sociais. Estas ideias são retomadas e aprofundadas em Le Suicide (1897). Durkheim vê neste fenómeno e seu crescimento no séc. XIX a confirmação da sua tese relativa às consequências do individualismo e da má integração dos indivíduos nas sociedades modernas. Esta forma de suicídio que ele qualifica de egoísta distingue-se do suicídio altruísta que é a consequência de uma demasiado forte integração estrutural (por exemplo, o suicídio no exército e nas sociedades arcaicas) e do suicídio anómico que decorre de uma ausência de regulação normativa (por exemplo, anomias económica e sexual). A integração está ainda presente em Les Formes élémentaires de la vie religieuse (1912), onde define a essência do religioso pelo sagrado, pois que nem o sobrenatural nem o transcendente preenchem as condições de uma definição universal da religião. Ao sagrado, convém juntar as crenças, o ritual e uma Igreja, símbolo da comunidade dos fiéis. Para Durkheim, o sagrado é um elemento colectivo e impessoal; é a própria sociedade. A integração é por fim um conceito-chave da sua sociologia da educação e da família, duas instituições que contribuem para a socialização dos indivíduos da qual Durkheim umas vezes descreveu com precisão, outras vezes penetrou os mecanismos que as pesquisas contemporâneas redescobrem, explicitam e teorizam a um nível de abstracção mais elevado.

M. C.


- Durkheim (1922, 1925, 1938).
E
Ecologia: A ecologia é a ciência que estuda as relações entre os seres vivos e o seu ambiente; mostra como é que se estabelecem sistemas de dependência entre os vários elementos de um meio. A ecologia designa também um movimento de opinião empenhado em defender os equilíbrios naturais, de que os homens fazem parte, e que estão ameaçados pelo desenvolvimento económico incontrolado.

No início dos anos 70, o Clube de Roma lançou um grito de alarme contra as poluições irreversíveis. O homem não pode continuar a ser concebido como um conquistador face a uma natureza hostil ou generosa, mas como um elemento dos sistemas naturais que asseguram a sua sobrevivência. Os movimentos ecológicos podem aparecer como um dos efeitos da crise da cultura industrial voltando ao tema dos equilíbrios imutáveis. Mas, na maioria dos países industriais, foram, além dessa reacção de crise, opondo-se à indústria nuclear cujos perigos para hoje e para as gerações futuras sublinharam. Puseram também em causa os poderes e os aparelhos que decidiram acerca dos programas nucleares sem controlo político e democrático. Multiplicaram-se manifestações na França e na Alemanha Federal, ao mesmo tempo que os militantes propunham diversas alternativas energéticas e sociais pela adopção de um modelo de vida mais comunitário. Entretanto, para já, a passagem à acção política só se fez significativamente na Alemanha.

F. D.
Economia e sociologia: As relações entre estas duas disciplinas apresentam-se como mais ou menos harmoniosas segundo os contextos e as épocas. O sociólogo italiano V. Pareto é ao mesmo tempo um grande economista. Em Marx, economia e sociologia combinam-se estreitamente. Os sociólogos clássicos alemães G. Simmel e M. Weber interessam-se pelos trabalhos dos marginalistas austríacos e sugerem que a psicologia pode tirar deles lições de método. Em contrapartida, a economia quase não tem lugar em A. Comte. E É. Durkheim considera a teoria económica como uma especulação metafísica destinada a ser ultrapassada pelos progressos da sociologia, disciplina à qual, como Comte, confere um papel imperial.

Actualmente, a sociologia tornou-se, em geral, menos intolerante para com a economia. Por um lado, porque a importância do paradigma do individualismo metodológico é melhor compreendida pelos sociólogos. Ora, a teoria económica acompanha muito frequentemente este modo de pensamento que os sociólogos conceberam muitas vezes como contraditório com a essência de uma disciplina votada a interessar-se pelos fenómenos colectivos (como se os fenómenos económicos não fossem, também eles, colectivos). Por outro lado, os sociólogos medem melhor os inconvenientes que há em conceber o actor social, o homo sociologicus, como um sujeito inteiramente passivo, manipulado por forças sociais que escapam ao seu controlo e largamente inconscientes. O homo sociologicus tende hoje a ser concebido como capaz de intenções, de estratégia, de cálculo. Assim, aproxima-se do homo oeconomicus tradicional.

Será isto dizer que as duas disciplinas devem confundir-se? Não. Por um lado, porque elas estão interessadas em objectos diferentes.

Por outro lado, e principalmente, porque o modelo clássico do homo oeconomicus (que supõe o comportamento do actor guiado por uma racionalidade definida de maneira estreita), se é útil para analisar não apenas os fenómenos económicos que têm sobretudo a ver com a sociologia, é também em muitos outros casos insuficiente. Os esforços recentes feitos pelos economistas para aplicar este modelo, por exemplo, ao divórcio, ao casamento ou ao crime deram apenas resultados modestos. Porque, em muitos casos, o actor social é confrontado com situações cuja complexidade é tal que não pode dominá-las por processos racionais (em sentido estrito). Ora, uma das contribuições da sociologia para a família das ciências sociais é o ter esboçado uma teoria aberta da racionalidade.

R. B.

- Boudon (1979), Simmel (1900), Weber (1922a).


Educação (sociologia da): A educação interessa a duplo título as ciências sociais e mais particularmente a sociologia: sejam quais forem os costumes, os usos e os modos de pensamento dos povos, numa palavra, a sua cultura, esta é-lhes primeiramente transmitida; por outro lado, esta transmissão faz-se pela mediação de instituições, algumas das quais desempenham um papel social crescente.

Este duplo aspecto pode recobrir uma clivagem disciplinar: etnólogos e psicossociólogos interessar-se-ão mais pela transmissão e seus efeitos individuais; economistas e sociólogos, pelo funcionamento das instituições e pelo seu contexto social. Mas trata-se de pistas que, segundo a época e o ponto de vista, caminharão em paralelo ou misturarão o seu curso. O ponto de vista da sociologia da educação revela uma tal confluência; para E. Durkheim (1895), a educação é um fenómeno social fundamental: o meio social "tende a modelar a criança à sua imagem". Simultaneamente, é obra de instituições históricas que, como a escola, integram o homem moderno em toda a espessura de uma tradição (Durkheim, 1922). A aliança da psicanálise, da psicologia social e da antropologia vai, num primeiro tempo, promover a primeira pista. A modelação evocada por Durkheim pode encontrar ecos na restrição social das pulsões e contribuir para orientar a investigação para o papel desempenhado pelas diversas culturas na constituição de personalidades específicas. Esta direcção foi nomeadamente, entre as duas guerras, a da antropologia cultural americana.



A segunda pista era pouco seguida durante o mesmo período. Faltava-lhe, sem dúvida, o estímulo de uma pressão social que, pouco tempo após a Segunda Guerra Mundial, se tornou cada vez mais forte. Os anos 50 assistiram à implantação de um fenómeno cuja amplidão não deixará de aumentar: a escolarização de massa. Caracterizada pelo aumento contínuo dos efectivos escolares e pelo prolongamento crescente da escolaridade, está ligada a diversas causas: modificação do equilíbrio dos grandes sectores económicos e emergência poderosa do terciário; elevação geral do nível de vida nos países indastrializados e crescimento dos investimentos escolares; desejo de ruptura das barreiras sociais e promoção de ideais democráticos. Mas, muito rapidamente, este crescimento escolar revela profundas inadaptações: os sistemas escolares europeus datam do séc. XIX e apresentam-se já vetustos; repelem ainda milhares de jovens saídos dos meios populares quando faltam, de facto, técnicos, engenheiros, quadros, professores; privilegiam uma cultura humanista no exacto momento em que a indústria requer competências técnicas. Mas, para além de tais verificações, transparece a urgência de conhecer melhor a escola e o seu funcionamento, a fim de poder agir sobre ela e transformá-la. Em menos de quinze anos, sucederam-se inquéritos e reformas escolares na maior parte dos países industrializados, que fornecem à sociologia da educação um novo impulso e matéria renovada. Os inquéritos de demografia escolar (INED, 1970) revelam a selecção social operada pelos vários sistemas escolares e a confusão de competências que isso representa. Democratizar a escola torna-se então a palavra-chave das reformas. Mas, uma vez estas implantadas, as transformações revelam-se lentas e de pouco efeito: será de facto a escola um instrumento de democratização? A sua função social profunda não será antes reproduzir as desigualdades inerentes a uma sociedade de classes (Bourdieu, Passeron 1970; Baudelot, Establet 1971)? Inscrita num sistema em que estratificação social e hierarquia das competências caminham a par, poderá a escola ter um outro efeito (Boudon 1973)? Parada e objecto permanente de estratégias de açambarcamento, funcionará como uma armadilha (Berthelot 1983)? Estas perguntas sugerem não apenas respostas mas abordagens diferentes. Algumas reencontram a confluência originária das pistas: a escola reproduz as desigualdades sociais difundindo uma cultura de classe que modela os indivíduos no mais profundo e que estabelece como legítimas as desigualdades (Bourdieu, Passeron 1970). Outras, inversamente, aplicam a este campo um modelo de análise saído da economia: os indivíduos são actores que procuram rendibilizar o melhor possível o seu investimento escolar; os factores de conjunto verificados resultam da agregação de múltiplas decisões individuais no seio do espaço social definido pela escola (Boudon 1973; Cherkaoui 1982). Entretanto, a escolarização impõe-se em cada situação como objecto privilegiado da sociologia da educação. Os anos 80 registam uma nova evolução: a escolarização de massa parece ter transformado os sistemas escolares em monstros impossíveis de gerir, que segregam o fracasso e a incompetência; mas, simultaneamente, os novos rigores do ambiente socioeconómico tendem a fazer apelo à escola ou às suas variantes para gerir a todos os níveis a formação ou a reciclagem de contingentes cada vez mais numerosos e diversos. Gigantismo escolar e multiplicação das funções criam assim uma opacidade e uma complexidade novas.

Segundo diversos pontos de vista, e com base em vários objectos, implanta-se então uma espécie de quadriculado dos sistemas de formação: ensino inicial e formação contínua, ensino geral e ensino profissional, itinerários de formação e processos de orientação, os trabalhos multiplicam-se, tendem muitas vezes, ao contrário das grandes construções anteriores, a penetrar no mais profundo das situações escolares concretas para aí captar tanto o seu modelo de construção social como a razão dos seus feitos (Mollo 1986).

J.-M. B.

- Isambert-Jamati (1970), Plaisance (1986), Tanguy (1986).


Egoísmo: A palavra egoísmo não teria sentido específico em sociologia se É. Durkheim não tivesse feito uso dela na sua obra, não sem alguns equívocos. Nos seus primeiros textos é caracterizado como egoísta o indivíduo movido pelos seus interesses próprios tal como o concebem os economistas e os utilitaristas. Nos seus textos tardios, o egoísmo é identificado com as paixões e as tendências que derivam da constituição individual, orgânica, do homem por oposição à sua constituição social. Em ambos os casos, o egoísmo aplica-se a um indivíduo pré-social.

Mas o egoísmo pode ser também um produto da sociedade. O culto da pessoa humana torna-se o valor central das sociedades modernas. Este individualismo moral não se confunde com o egoísmo mas contribui para o seu desenvolvimento. Vê-se isso bem em Le Suicide (1987) com o tipo de suicídio que Durkheim chama egoísta. É aquele que procede de uma integração insuficiente do grupo social de pertença. Essa falta de coesão social gera uma ligação insuficiente do indivíduo ao seu grupo. Neste sentido, o tema do egoísmo como doença das sociedades modernas é central na sociologia de Durkheim. Para lhe dar remédio, é preciso fazer com que o indivíduo saia de si próprio levando-o à prossecução de grandes objectivos colectivos.

PH. BD.

- Besnard (1987), Durkheim (1925).


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