A dama Do Labirinto



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Capítulo XI

Um ruído de pratos acordou Aislin, que abriu os olhos e deparou com uma jovem de tranças loiras movimentan­do-se pelo aposento. A mocinha levou um susto quando repa­rou que ela estava desperta, indagando numa voz de menina:

— Oh, dama, eu a acordei? Perdoe-me, não era minha in­tenção...

— Já é dia? — Após se sentar, Aislin esfregou os olhos.

— Passa do meio-dia, milady. Lorde Desmond mandou tra­zer cerveja fresca e pão quente para a senhora. Estão aqui. — A mocinha apontou a bandeja. — Posso pentear seus cabelos?

— Pentear meus cabelos?

— Sim, minha dama. Nunca vi cabelos tão bonitos. As mu­lheres de Mereworth só fazem admirá-los. Hilde perguntou à mãe se existem ervas que podem deixar os cabelos claros dela com a tonalidade dos seus.

Aislin sentiu os olhos umedecerem.

— Como você se chama? — perguntou à jovem, com a voz embargada.

— Megret. Lorde Desmond disse que se a senhora gostar de mim, posso ter o privilégio de me tornar sua aia.

— Gostei muito de você, sim, Megret. E ficarei ainda mais satisfeita com você se pentear meus cabelos.

Uma hora mais tarde Aislin estava banhada e com as longas melenas penteadas em elaboradas tranças unidas por uma fita a lhe caírem sobre um dos ombros. Megret não cabia em si de orgulho ao terminar o último laço às costas do vestido cinza-claro, escolhido dentre outros tantos numa arca repleta de trajes femininos.

— Oh, dama, a senhora está tão linda! — elogiou a criada, unindo as palmas das mãos.

— Concordo plenamente. — Parado à soleira da porta, Des­mond deixou o olhar percorrer sua esposa de cima a baixo.

Após fazer uma mesura para ambos, Megret deixou os apo­sentos com um sorriso radiante.

— Você assustou minha aia — observou Aislin.

— Então foi bom ela ter-se ido daqui, pois iria se escanda­lizar com o que pretendo fazer com você.

Desmond não lhe deu tempo para protestar: saltando sobre ria com um sorriso maroto e uma onda de desejo que lhe in-flamava as virilhas, levou-a até a cama e deu toda a vazão à paixão que chegava a lhe embotar os pensamentos.

A tarde transcorreu numa atmosfera de indolente compa­nheirismo. Desmond levou sua esposa para conhecer Mere­worth, sempre caminhando junto dela e na maior parte do tem­po enlaçando-a pela cintura. Após o passeio, retornaram aos aposentos da castelã e ali ficaram a trocar idéias a respeito de vários assuntos.

A conversa seguia num clima tranqüilo, até que ele, refe­rindo-se à irmã e ao cunhado, deixou escapar:

— Rowanne sabe que é dever de uma esposa amar o lorde seu marido.

— E qual é seu dever para comigo? — indagou Aislin, per­cebendo o que ele insinuava.

— Protegê-la do mal, cuidar para que você tenha conforto, dar-lhe prazer no leito matrimonial e também filhos e filhas fortes.

— Isso significa que não haverá lugar para o amor?

— É dessa maneira que as coisas devem ser, e você sabe disso. Henrique quis que nos casássemos, e nós estamos casa­dos. Eu daria minha vida por você. Jurei protegê-la e honrá-la, e o farei.

— Mas não irá me amar. — Ela tentou engolir o nó na garganta. — Minha cabeça começou a doer de repente, meu lorde. Eu gostaria de ficar sozinha.

Ainda que confuso e um pouco contrariado, Desmond se levantou e caminhou até a porta.

— Descanse, eu a verei lá embaixo por ocasião da ceia. Isto não é um pedido, Aislin, e sim uma determinação.

Assim que a porta fechou-se com força, ela gritou de lá de dentro:

— Odeio você!

Desmond meneou a cabeça à tolice da esposa. Aislin tinha muito que aprender sobre o casamento.

Ao se virar, ele viu Galen caminhando ao seu encontro.

Mas se o senescal ouvira as palavras rudes da dama, não o demonstrou.

— As mulheres estão aqui, meu lorde.

— Ah, sim. E parecem ser o que de fato são?

— Bem, se aparência é algo em que se pode confiar, então posso afirmar que elas devem ser extremamente competentes.

— Bom, bom. Conversarei com as três juntas.

Desolada, Aislin cobriu o rosto com as mãos. O miserável está procurando uma amante!

Depois de abrir a porta com o cuidado de não fazer o menor ruído, Aislin desceu as escadas na ponta dos pés e assim se aproximou da entrada do salão nobre. Colando-se à parede, espiou lá dentro e logo deparou com seu marido sentado nu­ma poltrona, uma expressão ansiosa no rosto com a barba por dizer.

De súbito, como se pressentisse os olhos dela às suas costas, Desmond se virou.

— Aislin?

Após respirar fundo, ela deixou-se ver, já pronta para desobedecer se fosse mandada de volta a seus aposentos.

— Meu lorde, vim ajudá-lo a escolher uma amante. Já que terei de dividi-lo com alguém, creio que tenho o direito de conhecer a pessoa com quem irei compartilhá-lo.

Uma das sobrancelhas dele se ergueu em sinal de surpresa.

— Queira se aproximar para conhecer nossas visitas, minha esposa.

Ao vê-lo estender a mão para indicar as mulheres, só então Aslin se dignou a olhar para elas. Sentadas lado a lado, grisalhas e mal vestidas, três velhas dirigiram-lhe sorrisos formados por cacos de dentes enegrecidos. As três tinham olhos pene­trantes como os de um falcão.

O rubor da humilhação tingiu as faces de Aislin.

— Venha, minha dama — Desmond insistiu. — Você queria tomar parte na conversa, agora não se encolha como uma me­nina envergonhada.

Sem saber como, ela se viu sentando-se numa grande almo­fada próxima aos pés de seu marido. Sentia-se uma parva, uma estúpida. Como fora misturar e confundir o que ele dissera?

— Pedi a meu intendente que me trouxesse as mais sábias curandeiras de meus domínios — prosseguiu Desmond. — Ele me disse que vocês três são as mais versadas, as mais hábeis e respeitadas.

— Sim, sim — confirmaram as três a uma só voz.

— Assim sendo, eu gostaria de recrutar os serviços de vocês para solucionar um mistério.

— Que espécie de mistério, meu lorde? — perguntou uma delas.

— Um mistério de veneno e morte. Quero saber que tipo de veneno pode ser ministrado sem que se saiba e que mata cada vítima de um modo diverso e em diferentes intervalos de tempo.

— O senhor quer dizer poções de ação rápida? — indagou outra.

— Pelo contrário. Acredito tratar-se de uma droga que de­mora tanto tempo para fazer efeito que quem a ministra nunca está por perto quando sobrevêm a morte.

— Ah — as três voltaram a manifestar-se em uníssono, depois baixaram as cabeças grisalhas e puseram-se a cochichar. Assim que se separaram, uma delas declarou: — Iremos aju­dá-lo, meu lorde. Por uma recompensa.

— Digam seu preço.

— Ah, não. O que fazemos é ajudar primeiro e depois, em caso de necessidade, cobraremos nosso pagamento.

— Muito bem, assim será feito. Agora me digam o que sabem sobre o veneno de que lhes falei.

Aislin permaneceu calada enquanto as magas enumeravam ervas, flores, raízes e cascas de árvores com poderes letais. O tipo de morte que descreviam variava do sono tranqüilo e in­dolor após uma chávena de chá a semanas de vísceras aquosas e gengivas sangrando produzidas por um único arranhão de um certo espinho peçonhento.

Por que Desmond buscava aprender tantos detalhes sobre venenos? Seria possível que tencionasse tirar a vida de alguém?

Ela já estava a ponto de dar voz às suas divagações quando a corneta de um arauto rasgou o ar. Todos se viraram para o corredor que levava ao salão nobre. Galen não demorou a sur­gir, anunciando com um sorriso satisfeito:

— Meu lorde, lady Margaret chegou.

Desmond saltou da poltrona como se o assento estivesse em chamas.

— Prepare os aposentos dela, Galen, faça preparativos para um banquete; providencie um banho com óleos aromáticos e ungüentos. — Virando-se para Aislin, ele emendou: — Venha, quero que conheça lady Margaret.

Ela se ergueu com as pernas bambas. Dessa vez não podia estar enganada: ele realmente iria receber uma amante em Mereworth. Como eram cruéis as tradições e os hábitos dos homens. Desmond esperava ter o corpo e o amor dela, e ao mesmo tempo era livre para dar seu afeto e suas sementes a uma mulher que não lhe devia nenhuma obrigação. Mas apesar de injusto, tal comportamento era bastante comum; a maioria dos nobres tinha amantes, às vezes mais do que uma.

Grande tola, como é possível que esteja com ciúme dele? A pergunta ficou sem respostas, pois agora Desmond soltava a mão dela para abraçar a dama que acabava de entrar no salão. Aislin admirou-se ao constatar que a recém-chegada não era nem jovem nem deslumbrante como imaginara.

― Desmond, meu querido ― disse a dama, que tinha a cintura larga e marcas da passagem do tempo no pescoço. Virando-se para Aislin, lady Margaret indagou: ― Esta é sua esposa, não? Oh, você é tudo o que eu suponha e muito mais, minha menina. Deixei Irthing assim que recebemos a notícia vinda da corte nos pondo a par do casamento de Desmond.

Aislin não sabia o que dizer. Estranhando a reação dela, lady Margaret tornou a olhar para Desmond.

― Você não contou à sua esposa que tem uma família?

― Bem, a história é tão longa que ainda não tive tempo para...

― Ora, então deixe que eu me encarregue dos detalhes. Mas antes que o faça, não posso me esquecer de avisá-lo de que sua irmã está gerando mais um filho.

― E como vai meu sobrinho? ― Desmond tinha um sorriso largo.

― Gervais é um menino belo e robusto, Brandt espera que ele tenha uma irmã. ― Lady Margaret tomou a mão de Aislin como uma mãe faria com a filha. ― Venha, leve-me aos seus aposentos: Vamos tomar o melhor vinho de Desmond, e eu lhe contarei tudo o que sei a respeito desse tratante galante.

― Sua idéia é muito bem-vinda, senhora. Estou ansiosa por suas palavras. ― Aislin sorriu para a dama e, antes que as duas deixassem o salão nobre, teve a impressão de ver seu esposo engolindo em seco.

Assim que entraram no dormitório da castelã, lady Margaret foi sentar-se num banco coberto por uma almofada.

― Agora, minha menina, por que não me diz o que deseja de seu casamento e não está conseguindo obter? Não, não me olhe com esse ar de espanto. O que aquele patife fez para nublar de tristeza seus lindos olhos verdes?

Lutando contra as lágrimas que lhe assomavam, Aislin he­sitou um momento antes de confessar:

― Eu queria que ele me amasse.

― E ele não a ama?

― Desmond diz que é dever de uma esposa amar seu ma­rido, mas não está disposto a retribuir esse amor.

― Que bobagem. Por que os cavaleiros têm de ser criados com essas idéias? ― Lady Margaret esperou que Aislin fosse só sentar à beirada da cama para bater de leve na mão dela. ― Posso ajudá-la?

― Não há como fazer com que Desmond me ame.

― Ora, não seja tão boba quanto ele. Tampouco se deixe manar: seu marido está a meio caminho de idolatrá-la. O que falta é você ajudá-lo a completar essa jornada. Você o ama desde o início do casamento?

― Eu teria de ser uma tola sem miolos para amar um homem como ele.

― Está bem, Aislin, você não ama seu marido. Se é assim que escolheu pensar, não irei contradizê-la. ― Lady Margaret deu um sorriso, depois levou o dedo ao queixo. ― Desmond valoriza a coragem e a honradez de seus homens, e também a confiança que depositam nele, o que me faz imaginar... Minha menina, você já entregou sua confiança ao seu marido?

Confiança. A palavra atingiu-a como uma rajada de vento gelado. Não, não confiava nele e não o faria até que...

― Ah, creio ter tocado na raiz do problema. Você não con­segue confiar plenamente em Desmond e tem medo de amá-lo às claras. Mas preste atenção ao que digo, Aislin: você não conquistará o amor de seu esposo se Desmond não se sentir digno da sua confiança.

Galen curvou-se discretamente para murmurar ao ouvido de Desmond:

― Meu lorde, há visitantes no portão. Eles vêm de Sevenoaks.

Enquanto Aislin erguia a cabeça e lady Margaret fazia uma expressão curiosa, todos os cavaleiros a uma mesa lateral le­vantaram-se e deixaram o salão.

― Você sabe quais são minhas determinações com relação a essa questão, Galen. ― Com muita calma, Desmond levou a taça aos lábios e sorveu um bom gole de vinho.

O senescal se afastou sem mais palavras, e Aislin então in­dagou:

― O que significa isso? Que o portão será aberto e os visi­tantes serão trazidos a cear conosco?

― Não.


― Creio não tê-lo compreendido, meu lorde. ― Ela olhou de relance para lady Margaret. ― Tive a impressão de ouvir você dizer "não".

― Exato, foi isso mesmo o que eu disse. Enquanto eu não descobrir que espécie de malfeitoria está em andamento em Sevenoaks e quem é o responsável por ela, nenhuma pessoa daquela fortaleza será admitida em Mereworth.

― Mas...

― Não, dama, não quero ouvir objeções. Você está segura em meu castelo, aqui não há preparados nem poções.

― Sou uma prisioneira, então? ― Aislin largou-se de en­contro ao espaldar da cadeira. ― Não tenho o direito de dizer o que penso a respeito disso?

― Não.


Depois de lançar um olhar desesperançado a lady Margaret, ela se levantou e deixou o salão nobre para tomar a escadaria que levava à cumeeira do castelo. Ali, ignorou o olhar aturdido dos guardas e foi se colocar à beirada do parapeito guarnecido de ameias, de onde examinou a estradinha além da ponte levadiça. Lá estavam Giles e sua guarda pessoal de Tunbridge Wells. O semblante do abade era a imagem da ira.

― Giles! Giles! ― ela gritou, porém seu chamado perdeu-se no vento.

Erguendo o punho, o clérigo vociferou qualquer coisa. Pro­vavelmente uma praga condenando Desmond Vaudry du Luc à danação.

Dia após dia Desmond consultava-se com as magas, que haviam se instalado num cômodo do castelo e ali preparavam malcheirosas decocções e mingaus de aparência horrorosa, além de cremes e pastas feitos a partir de lanolina extraída da lã.

Espreitando-as do corredor, Aislin franzia a testa aos cochi­chos e palavras que apenas as três velhas compreendiam. Lady Margaret, que vinha do salão nobre, colocou-se às costas dela para espiar lá dentro.

― Meu marido perdeu o siso ― Aislin sussurrou por cima do ombro.

― Não. Ele só quer proteger você. ― Ao vê-la virar-se para olhá-la com um ar admirado, lady Margaret explicou: ― Essa é a maneira que certos homens encontram para demonstrar a uma mulher o quanto gostam dela.

― Ah, Desmond deixou bem claro o apreço que tem por mim: trancou-me nesta fortaleza e não mais me procura em meus aposentos. As atitudes de meu marido falam mais do que mil palavras.

― Não o julgue, Aislin. ― A dama afastou uma mecha de cabelos do rosto dela. ― Dê-lhe tempo para solucionar o pro­blema que há em Sevenoaks. Ele está muito preocupado com você.

― Comigo?

― Sim. Henrique fez saber a todos que se mais um esposo seu for para a sepultura, será sua a cabeça que irá rolar. O que Desmond pretende é evitar que isso possa vir a acontecer.

Desmond ergueu os olhos à primeira estrela a cintilar no firmamento. Se já ardia de paixão por Aislin no decorrer do dia, à noite, tocado pelo sussurro do vento e pelo perfume das flores, tinha a impressão de que seu corpo chegava a doer de tanta vontade de tê-la em seus braços.

À busca de sufocar o desejo e clarear os pensamentos, ele caminhava pelo topo da muralha quando avistou um pálido lampejo à porta de saída da fortaleza. Apertando as pálpebras, conseguiu ver quando a mancha clara deixou as sombras do muro que unia dois pavilhões do castelo.

― Pelo sangue dos santos!

Alheio às perguntas dos guardas, Desmond disparou pela muralha e continuou correndo até chegar à estrebaria. Sem sela nem manta, saltou à garupa de Nevoeiro e berrou para que lhe abrissem o portão.

― Logo mais estarei de volta com minha esposa ― gritou aos homens que tinham ido atrás dele. ― De agora em diante cuidem para que a porta de saída da fortaleza seja vigiada noite e dia.

As patas de Nevoeiro pareciam nem tocar o solo.

― Aislin! Pare antes que se machuque!

― Não vou deixar que me mantenha como sua prisioneira! ― ela gritou por cima do ombro.

Frustrado, Desmond balançou a cabeça e em seguida puxou as rédeas de leve. Iria deixar que o palafrém se cansasse; talvez até lá a aragem da noite tivesse acalmado o humor de sua es­posa... Com Nevoeiro a galopar numa marcha cômoda e, sem que o percebesse, ele sorriu à perícia com que Aislin cavalgava. Sem dúvida, ela sabia montar como um autêntico cavaleiro.

Mas então um filhote de veado pulou de uma moita para se colocar no caminho do palafrém. O cavalo se assustou e saltou de lado. Desequilibrando-se, Aislin foi ao chão com um baque surdo.

Desmond voou do lombo de Nevoeiro para ir se ajoelhar ao lado de sua esposa.

― Aislin, Aislin... Diga-me que não está ferida.

― Não se finja de preocupado, você deve é estar contente. ― Ela se sentou na grama orvalhada.

― Eu só ficaria feliz se você dissesse que me ama. E que sentiu falta de fazer amor comigo.

― Então talvez seja melhor você se preparar para perecer de melancolia. Não quero um marido que me evite. Eu nem me surpreenderia se, da próxima vez que vier me procurar, você estivesse usando luvas de punho largo para que não...

― Pela cruz do Cristo, é isso! ― Desmond beijou-a na testa, no queixo e no colo. ― Uma esposa que, além de bela, é tam­bém sábia. Você acaba de me fornecer a última peça que faltava no quebra-cabeça.

― Mas o que...

Pondo-se em pé com um salto, ele estendeu a mão para ajudá-la a levantar-se.

― Venha, Aislin. Precisamos nos apressar. Temos de retor­nar a Mereworth e acordar a fortaleza inteira para que possa­mos partir ao raiar do dia.

Ela parou de alisar os trajes que vestia para olhar para seu marido.

― Partir? Para onde?

― Pará Sevenoaks. Descobri "como", agora, com sorte e o auxílio das magas, em breve descobrirei "quem" e "por quê".

Em questão de uma hora o castelo todo se achava em plena atividade. Desmond insistira para que ela levasse os vestidos, utensílios e ornatos de que mais gostava entre as finas peças de Mereworth, de modo que Aislin se sentia no meio de um redemoinho quando lady Margaret apareceu esfregando o sono dos olhos.

― O que o lorde seu marido está pretendendo agora? Esta barulheira me tirou da cama.

― Estamos nos preparando para seguir para a fortaleza de Sevenoaks o mais depressa possível. ― Aislin afastou-se de lado a dar passagem a um baú que seria levado para uma das carroças da comitiva.

Lady Margaret não demorou mais do que um instante para se decidir:

― Peça a alguns criados que vão aos meus aposentos. Mi­nhas arcas ainda estão arrumadas, é só levá-las lá para baixo.

― Você... vem conosco?

― Estou farejando uma aventura e não quero ficar para trás. — Os lábios da dama curvaram-se num sorriso travesso. ― Passei tempo demais à parte da vida... Não, não vou perder uma intriga dessas, seja ela boa ou má.

E assim, num espaço de tempo bastante curto, consideradas as circunstâncias, o grupo deixou a robusta e segura fortaleza de Mereworth a caminho de um castelo dominado por enigmas e segredos.

O sol os encontrou já no pátio interno de Sevenoaks. Dali, e rapidamente, a caravana de carroças e guardas vinda de Mere­worth espalhou-se pelas dependências externas da fortaleza.

Aislin sentiu-se gratificada ao ver a presteza e a boa-vontade com que seus criados ajudavam a descarregar os veículos en­quanto outros serviçais providenciavam alimento para os recém-chegados e cuidados para os animais cansados da viagem. Coy e Gwillem não perderam tempo a irem colocar-se ao lado de Desmond. Os três conversavam em voz baixa, suas testas a ponto de tocarem-se, quando Giles apareceu correndo na direção de Aislin.

― Graças aos santos, você está bem. ― Ele ajudou-a a descer da carroça especialmente preparada e estofada para lady Alys, a falecida mãe de Desmond. ― Tentei trazê-la de volta a seu lar, mas não me permitiram cruzar o portão de Mereworth. O que Desmond pretendia ao mantê-la trancafiada naquela fortaleza horrenda?

― A julgar pelos relatos que ouvi, o mais certo seria dizer que ele pretendia manter você fora de lá ― observou lady Margaret, que viajara ao lado de Aislin, depois de saltar para o chão sem esperar pela assistência do clérigo.

― E quem é a senhora, minha dama?

― Sou Margaret, viúva de Thomas de Lucy, senhora de Sherborne e Letchworth. E você, religioso, quem é?

― Sou o abade de Tunbridge Wells ― respondeu Giles, inflado como um sapo que se sentisse ameaçado.

― Ah, então irei procurá-lo quando decidir me confessar. ― Lady Margaret deu-lhe as costas, explicitando o quão pouco se deixara impressionar pelo posto que ele ocupava na hierar­quia religiosa. ― Aislin, por que não me leva até seus aposen­tos para que possamos nos refrescar?

Aislin estava aturdida demais para fazer outra coisa que não atender ao pedido da dama. A malícia que vira cintilar nos olhos do primo enquanto ele altercava palavras duras com lady Margaret a deixara estupefata.

― Qual é o plano? ― indagou Coy, recostando-se à parede de pedras do lado de fora do pátio.

― Estamos prontos para seguir suas instruções ― disse Gwillem.

― Eu também, milorde. ― Tom se ajeitou melhor sobre as muletas.

― Vejo que preciso aprender a dissimular minhas emoções. Se vocês três já sabem que tenho um plano para pegar uma raposa, é provável que toda a fortaleza também o saiba. ― Desmond olhou para Coy. ― Alguma novidade durante minha ausência?

― Todas as noites o tal clarão aparece à vidraça das janelas dos aposentos do castelão. ― Seu amigo não parecia muito animado. ― Em todas as vezes eu havia seguido o abade até lá, mas há aquela ocasião em que vimos o clarão e Giles não se achava no interior das muralhas de Sevenoaks, pois tinha ido acompanhar o cavaleiro acidentado até Rye.

― Deve haver uma explicação lógica para isso. ― Desmond pensou por um momento. ― Como o abade ter deixado o ferido em algum lugar e voltado para Sevenoaks sem ser visto... Pre­cisamos estar atentos. Tomem cuidado, todos vocês. Não dei­xem que minha esposa coma ou beba nada que vocês mesmos não tenham visto alguém preparar.

― E quanto a você, meu amigo? Como vamos evitar que seja envenenado?

― Irei me alimentar e tomar cerveja na cozinha das carnes, junto da cozinheira e de nosso amigo Tom, embora esteja certo de que não é pela comida que serei envenenado.

― Você fala como se isso fosse de fato acontecer ― disse Coy.

― Estou torcendo para que aconteça.

O salão nobre de Sevenoaks foi palco de um grande ban­quete embalado pela claridade das tochas no alto dos feixes de juncos recém-trocados, pela melodia de alaúdes, pelos gracejos de bufões e pelo vinho de dois tonéis trazidos da despensa para a ocasião. Sentada ao lado do esposo, Aislin começava a es­tranhar que ele não tomasse um só gole da bebida nem provasse das travessas sobre a mesa, porém logo se lembrou da noite em que alguém a dopara com poção para dormir.

― Gostaria de dividir minha taça? ― ofereceu Giles.

Ao olhar para o primo, Aislin então viu que não era com ela que o abade falava e sim com lady Margaret, sentada ao lado dele.

― Não, obrigada ― recusou a dama. ― Não gosto de vinho tinto.

― Se nossos hóspedes comessem e bebessem tão pouco quanto a senhora, nossas despensas viveriam repletas ― ob­servou Giles.

― Nossos hóspedes? ― Lady Margaret sorriu com frieza. ― Pensei que a fortaleza de Sevenoaks pertencesse a Desmond e Aislin.

O rosto do clérigo tingiu-se de rubor, e no instante seguinte ele se punha em pé para afirmar num tom irritado:

― Preciso me preparar para minhas orações. ― E deixou o salão sem se dirigir ao lorde ou à dama do castelo.

― Meu lorde, estou bastante cansada. ― Cansada de ima­ginar o pior, pensou ela. ― Se me permitir, eu gostaria de me recolher.

― Sim, vá para seus aposentos ― Desmond concordou de pronto. ― Lady Margaret irá dividi-los com você esta noite.

Aislin olhou para sua hóspede e depois novamente para ele. Havia outras dependências no castelo, quase todas confortáveis e adequadas a uma dama da posição de Margaret.

― Que notícia agradável! Detesto ficar sozinha num lugar que ainda não conheço bem. ― Lady Margaret correu a se levantar. ― Venha, Aislin, vamos subir e fazer mexericos dian­te de sua lareira.

A sinceridade e a satisfação contidas naquelas palavras en­terneceram o coração de Aislin. O que a aborrecia não era a presença de lady Margaret, mas sim o fato de não poder contar com a companhia de seu esposo... e dos carinhos dele.

― Não consigo encontrar uma só fenda ou fresta por onde o piso pudesse ser erguido. ― Desmond tinha os joelhos do­loridos.

Do outro lado do aposento, em paredes distintas, Coy e Gwillem passavam os dedos pelo reboco, mas não encontra­vam algum sinal que pudesse explicar o interesse de Giles por aquele cômodo do castelo.

― E ainda há o tal poema... ― Desmond respirou fundo. A ocasião propícia surge à lua inteira/ Renuncia às estrelas e leva teu lume/ O lorde e a dama compartilham o gume/ Riquezas incalculáveis atrás da trincheira.

― O primeiro verso faz pensar que se trata de alguma coisa que fica à luz do luar. ― Bocejando, Coy coçou a cabeça.

À luz do luar. O comentário atingiu Desmond como um soco. Além de cego, sou estúpido.

― Coy, você e Gwillem podem ir para suas camas. Já in­vestigamos demais por hoje. Amanhã recomeçaremos nossas buscas.

― E quanto a você?

― Dormirei com um dos olhos aberto ― respondeu Des­mond, porém seus pensamentos estavam no labirinto. Algo lhe dizia que era lá que a charada começava. E que sua esposa sabia bem mais do que dizia saber.

Aislin esperou até ter certeza de que lady Margaret dormia antes de cobrir-se com seu manto e desaparecer pela passagem secreta que levava ao labirinto de arbustos. Não vira Pointisbright desde que chegara a Sevenoaks, era bem possível que seu gatinho estivesse no jardim.

Após percorrer o corredor de pedras tateando as paredes, pois ainda não tivera tempo para substituir as velas e a passa­gem se achava mergulhada na escuridão, encontrou a argola de ferro e abriu a porta encravada no muro... para se ver diante de Desmond.

― Nós estávamos à sua espera. ― Ele tinha Pointisbright nos braços. ― Venha, vamos nos sentar junto ao relógio de sol. Você irá me dizer a verdade. Irá me contar tudo o que sabe dos segredos da fortaleza de Sevenoaks.

― Não faço idéia do que você está falando. ― Ao reco­brar-se do susto, Aislin foi se colocar no passeio recoberto de cascalhos.

― Basta de mentiras. ― Desmond colocou Pointisbright no chão para ir segurar nos ombros dela. ― O mistério que cerca os aposentos do castelão se relaciona com uma charada que começa aqui no labirinto. Agora me conte o que você sabe.

― Já disse, não sei do que você está falando.

― Pois bem, então se sente e ouça o que eu sei.

― Desmond, só vim ao jardim para ver se encontrava Poin­tisbright aqui e se ele estava bem. Por favor, deixe-me voltar aos meus aposentos.

― Não me faça perder a cabeça, Aislin. Será que não en­tende que isto não pode continuar? Que nossas vidas estão em risco? Que precisamos tirar as ameaças e os segredos que pai­ram sobre nós para começarmos de fato uma vida como marido e esposa?

Aislin hesitou um momento. Então se rendeu à sensatez por trás daquelas palavras.

― O castelo tem passagens secretas. Uma delas liga meus aposentos a este jardim, é por esse corredor que venho aqui. Essa passagem se divide em duas, o outro caminho leva aos aposentos do castelão. Ambos os acessos estão ocultos pelos painéis de madeira entalhada que há no seu dormitório e no meu; eles deslizam pela parede quando se gira uma argola de ferro escondida sob um dos aparadores.

― Esse é o segredo de Sevenoaks?

― Só meu lorde Theron, o artesão mouro e eu sabíamos da existência de tais passagens. Bem, agora você também sabe.

Ele refletiu por alguns instantes antes de dizer:

― Leve-me até os aposentos do castelão por essas passa­gens, Aislin. Ainda há muito que esclarecer.

Assim que se viu em seu quarto, Desmond virou-se para examinar o painel por onde haviam passado momentos antes. Não havia juntas, sulcos, fendas, nada que indicasse que ali atrás existia um corredor. A obra do artífice mouro era perfeita.

― Giles poderia procurar até o dia do Julgamento Final e nem assim descobriria que isso é uma porta.

― O que foi que disse? ― Aislin admirou-se. ― Você está pensando que Giles sabe da existência dos corredores? Isso é impossível. É como eu disse: somente Theron e eu sabíamos... e agora você também sabe, porque lhe confiei esse segredo.

― E não pretendo dividi-lo com mais ninguém, bela esposa. Mas, seja como for, o fato é que Giles vem investigando estes aposentos noite após noite.

Desmond viu Aislin olhá-lo com uma expressão desconfia­da, como se não acreditasse no que ele havia dito. Não fazia mal. Agora só o que importava era a paixão que pulsava em suas veias e lhe embotava os pensamentos. Naquele instante desejava sua esposa mais do que tudo no mundo; ò resto podia esperar.

― O momento chegou, Aislin de Sevenoaks. Esta noite você irá descobrir para o que realmente serve uma cama. ― E tomou-a nos braços para carregá-la até o espaçoso leito recoberto de peles macias.

Pela manhã Aislin estava enredada nos braços de Desmond e em seus próprios cabelos e, ao abrir os olhos, encontrou seu esposo a observá-la atentamente. A expressão no rosto som­breado pela barba crescida ia muito além da curiosidade, havia naqueles olhos uma emoção nova, desconhecida... algo que lhe falava à alma.

Com a respiração presa na garganta, percebeu que não con­seguia deixar de fitar os expressivos olhos enquanto, sob seu rosto, sentia o coração de Desmond bater num ritmo forte e compassado. Ficaram assim por um longo lapso de tempo. En­tão ele lhe sorriu, dizendo:

― Venha, esposa, vamos fazer nosso desjejum. As peripé­cias da noite passada me deixaram faminto.

Aislin sentiu-se estremecer ao experimentar, por um breve momento, um estranho e melancólico desejo. Almejava algo que estava fora do alcance de sua compreensão. Ansiava por... amá-lo? Não, não podia ser. Não tinha coragem de entregar seu coração a um homem que não pretendia amá-la em troca.

Embora o salão nobre estivesse repleto e palpitasse ao ritmo da movimentação dos criados como todas as manhãs, naquele dia havia algo diferente no ar. Ocupando o costumeiro lugar ao lado de Desmond, Aislin tinha a sensação de que laços in­visíveis os envolviam. Quando seu marido inspirava, ela o per­cebia. Quando ele franzia a testa, era como se ela adivinhasse que iria fazê-lo. Estranho. Por que motivo de repente se sentia tão sensível à presença de Desmond? Por que agora...

Seus pensamentos foram interrompidos pela chegada de Giles. Mas em vez de se acomodar à mesa, o abade colocara-se diante dela para afirmar com voz firme:

― Quero falar com você, Aislin. ― Após olhar de relance para Desmond, ele emendou: ― A sós.

― Sinto muito, Giles, não será possível ― ela respondeu no, mesmo tom. ― Ainda não terminei meu desjejum, e depois disso pretendo passar o dia todo na companhia de meu marido. Agora, se você quiser conversar comigo e com ele...

― Aislin, minha prima.

Ela sustentou o olhar com que o clérigo parecia querer in­timidá-la.

Talvez Desmond esteja certo. Talvez haja um lado de Giles que nunca fui capaz de enxergar.

― Vou me preparar para regressar a Tunbridge Wells. Creio que lá precisam de mim mais do que aqui. ― E com isso o abade se foi dali envolto numa aura de afobação e ira.

Pelo meio da manhã, após um passeio a cavalo pelas ime­diações da fortaleza, Desmond entrou na cozinha das carnes trazendo Aislin pela mão.

― Ah, minha boa cozinheira, será que você tem um pastelão para mim e minha dama?

O calor que vinha da fornalha tirou o fôlego de Aislin. Uma senhora robusta sorriu para ela, depois colocou sobre a mesa uma travessa com duas tortas de carne ainda fumegantes. Pa­recia que a boa mulher já esperava pela visita dos dois.

― Minha dama. ― A cozinheira curvou-se numa mesura. ― Faz tempo que a senhora não vinha nos ver.

― Eu... ― Ao sentir a mão de Desmond apertar a sua, Aislin encontrou o encorajamento de que necessitava. ― Sim, faz muito tempo que não venho aqui, mas pretendo remediar esse descuido e vir visitá-la sempre que possível.

― O senhor gostaria de uma caneca de cerveja, milorde? ― ofereceu Tom, após baixar a cabeça à castelã.

― Sirva duas canecas, meu bom amigo.

― Mas eu não aprecio cerveja, Desmond ― ela o lembrou. ― Gosto de vinho branco.

― Experimente. Quem sabe você não acaba gostando?

Aislin meneou a cabeça num gesto afirmativo. De repente sentia vontade de agradar a seu marido, não porque fosse sua obrigação, mas sim porque lhe fazia bem ver o sorriso de con­tentamento que seu comportamento trazia aos lábios dele.

É assim que tudo começa?, indagou-se. O amor se originaria a partir de fragmentos de afeição e respeito, depois se trans­formaria num desejo veemente de agradar? Isso significava que acabaria escravizada pelo amor do homem decidido a não retribuí-lo?

― Prove isto, minha bela.

Ela deu uma mordida no pastelão que Desmond segurava diante de seus lábios. Estava uma delícia, e parecia ainda mais saboroso pelo fato de ser seu marido quem o ofertava. E quando ele limpou com o polegar uma migalha que ficara sob sua boca, Aislin viu-se estremecer ao arrepio que lhe percorreu a espinha.

― Nossa cozinheira faz o melhor pastelão de carne desta nação, eu o decreto. ― Visivelmente contente, Desmond riu com satisfação.

Comeram em silêncio, e Aislin não se surpreendeu ao cons­tatar que, como ele previra, achava o gosto da cerveja bastante bom. Ao término da refeição ligeira, Desmond segurou na mão dela para lhe soprar ao ouvido:

― Venha, querida, vamos procurar um lugar onde possamos ficar a sós.

Ela hesitou por um momento, mas então se encheu de co­ragem para sugerir com um sorriso insinuante:

― Por que não vamos ao labirinto? Lá, ninguém teria como nos incomodar...

Embora fosse quase hora de almoçar, lady Margaret estava sem fome, já que havia muito não se alimentava tão bem como o fizera no desjejum. Após subir a escadaria a caminho dos aposentos que dividia com Aislin, a dama deu um sorriso largo à bandeja com uma taça que alguém deixara diante do dormi­tório da castelã.

― Ah!, vinho branco. Meu preferido. ― Curvando-se, ela tomou a bandeja entre as mãos. ― Desmond e Aislin são tão gentis... Quem mais iria se importar com o que uma matrona de idade gosta ou deixa de gostar? Preciso presenteá-los com algo bem bonito antes de retornar a Letchworth.

Doce e fresco, o vinho lhe fazia cócegas na garganta. Em questão de instantes, a taça estava vazia.

No alto da escadaria, o senhor e a senhora de Sevenoaks trocaram um último beijo antes de seguirem para seus aposen­tos. À porta do dormitório do castelão, Desmond virou-se para admirá-la uma vez mais antes que ela desaparecesse no interior de seus aposentos. Sua esposa era tão bela e... e berrava feito uma louca!

Os gritos fizeram com que ele disparasse para a câmara ao lado da sua. Lá encontrou Aislin a morder a própria mão num gesto desesperado, com o olhar esgazeado fixo em lady Mar­garet, que, caída aos pés dela, tinha os lábios arroxeados e o rosto branco como neve.

― Ela está morta? ― indagou Aislin num fio de voz. Largando-se sobre os joelhos, ele colocou os dedos diante das narinas de lady Margaret.

― Ela está respirando, mas muito suavemente. ― Tomando a dama nos braços, Desmond depositou-a sobre a cama larga. ― Se ainda restava alguma dúvida de que há um assassino em Sevenoaks, essa dúvida acaba de se aclarar. Lady Margaret foi envenenada.


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