A dama do tempo a wife in Time Cathie Linz desejo 77 como num passe de mágica, eles viveram uma inacreditável paixãO!



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CAPÍTULO TRÊS

Um quarto? — repetiu Suzana, incrédula. Sabia muito bem que partilhar um quarto com ele seria mui­to... tentador. — Vamos precisar de dois quartos.

— Concordo. Precisamos de dois quartos.

— Ótimo.

— Infelizmente, só temos dinheiro para alugar um, o que significa que...

— Que você está maluco se pensa que eu vou dividi-lo com você.

— Acredite, já duvidei de minha sanidade esta noite mais vezes do que posso contar — respondeu Kane, secamente. — Mas só temos dinheiro para alugar um quarto.

— Lembre-se de que foram as minhas jóias que pagaram por ele.

— Correção: suas jóias permitiram a aposta ini­cial. Meu talento quadruplicou essa aposta. E não se esqueça da importância do meu relógio. Ah, aqui estamos. — Parou em frente a uma grande casa de três andares. — Agora tente lembrar que você é casada comigo, e as mulheres eram quietas nessa época.

— Uma típica fantasia masculina — retorquiu, prontamente. — Sempre houve muitas mulheres fortes, em qualquer século.

— E é claro que tenho a sorte de estar junto a uma das mais teimosas — murmurou Kane. — Não vamos querer ficar aqui fora parados, vamos?

— E a bagagem? — lembrou ela. — Não acha que isso vai levantar algumas suspeitas?

— Fique quieta e apenas ouça o que eu digo

— comandou, enquanto a empurrava para cima dos degraus da frente da casa até a sacada.

— Que tal usar isto? — sugeriu Suzana, pu­xando um trinco dourado redondo, colocado perto do batente direito da porta.

Na mesma hora, uma campainha tocou do outro lado da porta.

— Não sei o que faz você pensar que vão atender a porta a essa hora da noite.

— O fato de estarem me esperando. Boa noite — disse à senhora que abriu a porta. — Sra. Broadstreet? Jed Paines, da Taverna da Cidade, disse que a senhora estaria nos esperando. Meu nome é Kane Wilder, e esta é minha mulher, Suzana.

— Ah, o pobre casal que teve a bagagem rou­bada na estação.

Balançando a cabeça, o gorro de renda noturno atado com uma fita sob o queixo, a sra. Broadstreet abriu a porta e fez sinal para que entrassem.

— Jed mandou um recado falando sobre isso. Dis­se que o senhor tinha que ir a uma festa impor­tante e que depois viria diretamente para cá.

— Isso mesmo — confirmou Kane.

— Pedimos desculpas pela hora avançada — disse Suzana, pouco familiarizada com formalidades.

— Bem, normalmente não aceito hóspedes sem referências — informou a sra. Broadstreet —, mas confio no julgamento de Jed. Que terrível ter todas as malas roubadas desse jeito! Pelo menos vocês puderam ficar com uma delas. — Apontou para a bolsa de Suzana, pendurada em seu ombro. — Preciso confessar que nunca vi uma igual a essa. Sobre sua bagagem roubada, espero que tenham notificado as autoridades.

Kane concordou.

— Eles não têm muita esperança de encontrar nossas coisas.

— Não sei onde vamos parar! — exclamou a sra. Broadstreet, sacudindo a cabeça. — Ninguém está a salvo. Quando o presidente dos Estados Unidos pode ser assassinado em uma estação de trem...

Kane estranhou.

— Pensei que Lincoln tivesse sido assassinado no teatro.

— Eu me referia ao presidente Garfield, há três anos.

— Oh!


— Desculpe meu marido — disse Suzana rapi­damente. — Foi um longo dia.

A sra. Broadstreet concordou, compreensiva.

— Vou acompanhá-los ao seu quarto. Enquanto seguiam a senhora escada acima,

Kane sussurrou para Suzana:

— Foi um longo dia mesmo. Cento e onze anos...

— Psiu!


No segundo andar a sra. Broadstreet conduziu-os para um quarto no fundo do corredor. Enquanto abria a porta, disse:

— Vão precisar de roupas. Espero que não se importem com minha falta de cerimônia: já coloquei algumas para vocês sobre a cama. Minha filha dei­xou algumas aqui, e você pode usá-las até que suas malas sejam encontradas. E meu falecido marido devia ter seu tamanho, sr. Wilder, por isso as poucas coisas que ainda guardei devem servir-lhe.

— Obrigado — disse Kane.

A sra. Broadstreet continuou hesitante,'e afinal informou o preço do aluguel do quarto por uma semana, com refeições. Quando Kane nem sequer piscou ouvindo o preço, ela completou:

— Isso deve ser pago adiantado.

Ele procurou no bolso do paletó e cuidadosamente contou a quantia pedida. O dinheiro lhe era total­mente desconhecido, e precisava ser cuidadoso.

Enquanto isso, Suzana imaginava como pergun­tar onde seria o banheiro das senhoras em mil, oitocentos e oitenta e quatro. Haveria encanamen­to dentro das casas por essa época?

— Há um banheiro no nosso quarto?—perguntou, esperançosa, procurando à volta por uma porta.

— Banheiro? — repetiu a senhora, confusa. — Temos uma banheira de cobre no quarto no fim do corredor.

— E onde fica a toalete? O vaso sanitário?

— Existe um lugar conveniente lá fora, nos fun­dos. Ou, se preferirem, há também essa nova in­venção que meu marido insistiu em instalar antes de sua morte.

Abriu uma porta e, segurando o lampião acima da cabeça, mostrou-lhes aquilo do que falava. Era um vaso sanitário, o mais antigo de que se tinha notícia, talvez, e com semelhança muito ligeira com qualquer outra que Suzana já vira, mas es­tava lá, com assento de madeira e uma corrente pendurada no teto.

Não entendendo o olhar duvidoso de Suzana, a sra. Broadstreet disse:

— A água vem de uma cisterna no teto, e fun­ciona, mas eu mesma nunca confiei nessa coisa. Você ouve essas histórias de explosões de gás de esgotos e tudo o mais...

Kane já ajudara um amigo a refazer um ba­nheiro vitoriano. Por isso, disse:

— O gás do esgoto não é problema, não com o cotovelo no cano.

— O senhor parece entender dessas coisas — notou a sra. Broadstreet com admiração. — Por acaso é encanador?

— Não, senhora.

— Oh, desculpe. Não queria me intrometer. Bem, vou deixá-los a sós, então. Há água fresca na jarra do quarto. E o lampião está aceso. A que horas quererão o café da manhã?

— Nove horas está bem.

— Certo. Boa noite. Ah, vocês vão precisar disto. A sra. Broadstreet estendeu o lampião para Suzana.

— E quanto à senhora?

— Eu poderia encontrar meu caminho nesta casa de olhos vendados — respondeu a sra. Broadstreet com um largo sorriso. — Boa noite.

Fechando cuidadosamente a porta do pequeno banheiro, Suzana disse a si mesma que poderia ter sido muito pior; ao menos aquele banheiro es­tava dentro da casa.

Dirigiu-se em seguida para o quarto, onde havia uma cama de casal, uma cômoda com bacia e jarra, um espelho, um biombo feito com alguma espécie de tecido preso a um enquadramento de madeira, e uma cadeira de balanço no canto. Na parede, um globo de vidro.

Suzana sentia medo de explosões causadas por instalações a gás, por isso tinha um fogão elétrico em sua casa.

Sua casa... Quando voltaria para lá? Quando iria ver sua família de novo? Ela não percebeu que fizera as perguntas em voz alta até que Kane disse:

— Não sei quando vamos voltar.

— Era quarta-feira quando saímos. Eu não de­via voltar a Nova York antes de terça-feira, pela manhã. Mas minha ausência na conferência vai ser notada antes disso.

— Também vão sentir minha falta — afirmou Kane, interrompendo os pensamentos dela.

— Como será que essa coisa de viagem pelo tempo funciona?

Kane sacudiu a cabeça.

— Se você tivesse feito essa pergunta para mim ontem, teria dito que. uma situação como esta seria impossível. Pelo que me lembro da teoria de Einstein, o tempo caminha a passos iguais. Droga! Que falta faz um computador. Eu poderia obter essa informação num instante.

— Deixe ver, aposto que não sabe o número de telefone de ninguém, também. Só sabe de cor os do seu banco. Estou certa?

Como se fosse uma deixa, o relógio de Kane tocou outra vez.

— Garotos e seus brinquedos — murmurou Su­zana, sacudindo a cabeça.

— Pois este já me ajudou a ganhar o jogo de cartas, esta noite.

— Mesmo assim, é melhor você tirá-lo antes que alguém mais perceba o quanto ele é estranho.

— Desligarei o alarme.

Percebendo que aquilo era tudo o que conse­guiria dele, Suzana partiu para o próximo item da agenda.

— Ouça, depois de seu comentário hoje sobre Lincoln, acho que devo lhe passar algumas infor­mações importantes. Como editei um livro sobre o período vitoriano, não faz muito tempo, vou ten­tar lembrar de alguns pontos. Bem, essa foi uma era de consumo excessivo e de uma busca insa­ciável de lucros.

— Parece com os anos oitenta de nosso século — notou Kane.

Suzana concordou.

— Na verdade, existem muitas semelhanças. Am­bos os períodos foram de grandes inovações e in­venções. A eletricidade, o telefone, os filmes, discos, todas essas coisas apareceram nessa época. Houve também muitas fraudes entres os grandes. Fortunas foram feitas e dilapidadas. A Bolsa era manipulada.

— E quem é o presidente dos Estados Unidos agora?

— Arthur.

— Arthur o quê?

— Chester A. Arthur.

— Sem essa. Não lembro de nenhum presidente Arthur. — Kane, claramente desgostoso, sentia-se em desvantagem intelectual.

— Ele não teve mesmo muita expressão. Ficou apenas três anos na presidência depois que Garfield foi assassinado, porque era seu vice-presidente.

— O beisebol já existia — lembrou Kane.

— E o livro O príncipe e o pobre acabou de ser lançado. Ouvi algumas pessoas falando sobre ele na festa de hoje, enquanto comiam.

Kane gemeu.

— Não fale em comida. Afinal, não consegui aquele sanduíche que estava procurando.

— Acho que tenho algo de comer em minha bolsa. Suzana procurou e ficou encantada ao encontrar a maçã que comprara no centro de convenções; des­cobriu também alguns biscoitos, duas barras de cho­colate, vários pacotinhos de amendoim salgado, uma caixa de chiclete dietético e outra de dropes de menta. Colocou tudo sobre a cômoda e ofereceu:

— Vamos dividir.

Kane olhou, divertido, para a sortida coleção.

— Trago balas no avião para não ficar enjoada — defendeu-se ela. — E nunca como nada sal­gado enquanto dura o vôo porque o sal nos faz inchar mais.

Suzana, morrendo de fome, apanhou a maçã. Kane pegou uma barra de chocolate e alguns biscoitos.

— Não tive ainda a chance de contar quanto ganhei...

— Ganhamos — ela o interrompeu, antes de dar outra mordida na maçã.

Vendo Suzana com os olhos fechados pelo prazer de comer, Kane, repentinamente, se lembrou de que ela era responsável por quase arruinar o ca­samento de seu irmão.

Voltando a atenção para o dinheiro que espa­lhara sobre a cama, concentrou-se em contá-lo. Seu sorriso desapareceu do rosto ao descobrir que não tinha a menor idéia do valor.

Sentada na cadeira de balanço, Suzana ignorou Kane enquanto continuava a procura em sua bol­sa. Os dois maiores itens eram o toca-fitas portátil e o estojo de maquiagem. Ali havia coisas essen­ciais, como escova e pasta de dentes, desodorante e espuma para banho. Depois que terminava de arrumar sua bagagem para uma viagem, o que sobrava ia parar dentro da bolsa. Depois do vôo, sempre tirava tudo e deixava no hotel. Mas hoje não tivera tempo para isso, graças aos céus.

O que mais haveria ali? Suas chaves presas no molho com seu alarme pessoal. Isso poderia ser útil. Então encontrou algo ainda melhor: roupas de baixo. Agora podia enfrentar o mundo.

Vasculhando um pouco mais, achou seu vidro de remédio. Discretamente abriu-o e tentou apa­nhar uma pílula.

— Se economizarmos, nosso dinheiro pode durar um mês — disse Kane do outro lado do quarto.

— Um mês! — Suzana encarou-o, desesperada. — Não posso ficar aqui um mês. Só tenho dezes­seis pílulas comigo.

As palavras lhe escaparam antes que percebesse.

— Que espécie de pílulas? — perguntou Kane, desconfiado.

— Não é da sua conta — murmurou.

— Ótimo! Aqui estou eu preso numa viagem no tempo com uma hipocondríaca.

Suzana poderia ter lhe contado sobre o seu pro­blema de coração, que não a impedia de levar uma vida normal, desde que tomasse o remédio, mas a atitude dele fez com que mudasse de idéia e se calasse a esse respeito.

— Sabe, a primeira vez que o vi pensei que fosse um idiota. Estava errada. Você é um estú­pido, bárbaro e mal-educado!

Agarrou a fina camisola de algodão deixada ao pé da cama e dirigiu-se para trás do biombo. Sem perceber, levara a bolsa consigo. Bem feito. Não confiava nele mesmo. Não iria deixar que pegasse o restante de suas balas, nem que ouvisse seu toca-fitas.

— Suzana...

— Não quero falar com você — informou, fria­mente, descendo o zíper do vestido.

Uma brisa morna veio da janela dando-lhe gran­de alívio. Mas ainda sentia-se mal. Vendo a bacia e a jarra, decidiu tomar um banho de esponja.

Sentindo-se bem melhor, enxugou-se e vestiu a camisola.

Quando saiu de trás do biombo, encontrou Kane deitado na cama. Ele havia tirado o paletó, desabotoado a camisa, e estava descansando com o braço sob a cabeça.

Seguindo seu olhar, Suzana percebeu que a luz do lampião sobre a cômoda transformara o tecido branco em um show de sombras, permitindo que ele visse todos os seus movimentos e cada contorno de seu corpo.

Suzana viu tudo vermelho.

— Seu pervertido!

Arrancando o travesseiro de sob a cabeça de Kane, golpeou-o diretamente no estômago.

Kane se encolhera, pois o pesado travesseiro machucava a cada golpe. Ótimo! Esperava que ele pensasse duas vezes antes de brincar de voyeur novamente.

Kane, no entanto, não parecia sentir nenhum re­morso. Em vez disso, se mostrava tão zangado quan­to ela. Grunhindo, agarrou-lhe o pulso e puxou-a em sua direção. E Suzana notou que estava caindo...


CAPÍTULO QUATRO

A queda de Suzana foi abruptamente interrompida pelo peito seminu de Kane, sobre o qual ela se estatelou. Ele prendeu a respiração. Ela também.

Antes de perder o equilíbrio, Suzana vira uma chama de desejo nos olhos azuis de Kane.

Num segundo, a lembrança do beijo daquela noite voltou-lhe à mente. Seu nariz estava pres­sionado contra a cavidade do pescoço de Kane, e podia sentir seu pomo-de-adão mover-se quando ele engolia. As mãos dela estavam presas sob o corpo, entre seu peito e o dele. Podia sentir as batidas do coração de Kane em sua palma. Estava disparado. Assim como o seu.

Sentiu-se enrijecer. Sua mente sabia que devia mover-se, tentar imediatamente levantar-se, mas seu corpo parecia amortecido.

Afastando-o com as mãos, flagrou-se olhando fixamente para o rosto de Kane. A expressão dos olhos azuis fez com que perdesse o equilíbrio. Es­taria ela também olhando para ele daquela ma­neira? Tudo indicava que sim, porque ali estava o desejo desesperado de ficar ainda mais perto de Kane, de baixar seus lábios sobre os dele e mais uma vez sentir a sensualidade de seu beijo.

Não estava certa de quem se mexeu primeiro. Só soube que a boca máscula cobria a sua. O pri­meiro beijo havia sido rápido e intenso; este era lento e doce.

"Espere, isso não pode ser, não pode!" Suzana lu­tou para livrar-se da teia mágica que a prendia em seus fios, tentando fixar-se na idéia de que Kane a havia acusado de ter um caso com seu irmão. Ele pensava que ela era uma mulher fácil. Sendo assim, Kane Wilder tornara-se algo a ser evitado.

Mas evitar como, uma vez que estavam divi­dindo o mesmo quarto? O primeiro passo era en­cerrar aquele beijo. Fez isso imediatamente. Seus olhos encontraram os dele por um segundo antes de ela desviar os seus. Nesse momento, reparou pela primeira vez no cortinado fino contra mos­quitos, caindo do dossel da cama e preso nos qua­tro mastros.

Os pensamentos passionais de Suzana esvaí­ram-se quando um outro lhe ocorreu ao olhar para a janela sem tela... a rede de mosquitos... e a febre amarela.

— Espere um minuto. Quando foi que acabaram com a febre amarela? — perguntou enquanto se esforçava para sair da cama.

— O quê?


Ele estava claramente surpreso com a pergunta. Havia um minuto, segurava-a em seus braços, fitava os olhos da cor do chocolate e aqueles lábios que Podiam fazer um cego enxergar, e no minuto seguinte ela lhe lançava uma pergunta sobre febre amarela.

Talvez ela estivesse doente, o que explicaria o forte calor que o envolvia sempre que estava perto dela. Aquele primeiro beijo, na sala de jogo, quase o deixara fora de si. Podia entender por que seu irmão Chuck estava caído por ela. Suzana era uma mulher passional. Voluptuosa. Sentira-lhe os seios pressionados contra seu peito, e suas mãos, ávidas, a envolvê-lo em carícias tórridas.

— Febre amarela. — A voz de Suzana chamava sua atenção. — Quando foi que descobriram a cura?

Kane mudou o rumo de seus pensamentos eró­ticos e esquadrinhou a memória.

— Enquanto construíam o canal do Panamá, acho.

— Sim, mas em que ano foi isso?

— Sei lá! — disse, irritado, ainda atarantado pela maneira como reagira a ela.

— Então não tem perigo que eu durma no chão e me arrisque a ser picada por um mosquito trans­missor — declarou ela.

— Por quê? Não quer dormir comigo?

O olhar irônico de Kane provocou a raiva de Suzana.

— Acho isso apenas um pouco menos atrativo do que ter febre amarela — retorquiu ela. — Além do mais, não vou dormir com você.

— Sendo assim, vamos estar fazendo alguma outra coisa nessa cama?

Kane estava tornando tudo deliberadamente di­fícil para ela, que estava tentada a socá-lo outra vez com o travesseiro de dez quilos.

— Estaremos dividindo a cama. É isso. Nada mais. Ela é grande o suficiente para nós dois. E podemos enrolar esse edredom e colocá-lo entre nós.

— Você não está um tanto vestida demais para dormir? — perguntou Kane, com zombaria.

— E assim que vou ficar — declarou, friamente. A camisola cobria-a praticamente do pescoço aos tornozelos, e, apesar de ter preferido usar sua ca­misola curta de seda que ficara na mala, no hotel, não tinha essa opção.

— Você está pensando em dormir com o colar? — perguntou Kane.

Levando a mão ao pescoço, Suzana viu que ele tinha razão. Ainda estava com o colar de sua bi­savó. Aliás, com todas as outras jóias, também.

— Tem medo que eu as roube? — continuou ele, secamente. — Posso assegurar que você não tem nada que eu queira.

— Você já conseguiu a única coisa que vai re­ceber de mim: uma barra de chocolate.

— E alguns biscoitos também, isso sem contar dois beijos.

— Eu preferia que não mencionasse esses beijos. E não os repetisse também — avisou, com um olhar gelado, antes de tirar suas jóias e colocá-las numa sacolinha apropriada, dentro da bolsa. — Você me pegou desprevenida. Eu sei como me pro­teger, fique sabendo.

— Estou impressionado — disse ele, dando de ombros. Mas seu olhar, cheio de desejo, parecia tentar fazer um desenho mental de como Suzana seria por baixo da camisola de algodão.

— Acho que devíamos nos concentrar em nossos próximos passos com relação a esta situação —ela declarou com firmeza.

— Pensei que já havíamos decidido qual seria nosso próximo passo: você ia dormir comigo.

Ela ignorou o comentário.

— Referia-me a Elsbeth. Está claro que devemos descobrir mais sobre ela, uma vez que é a chave de tudo isso. Foi ela quem nos trouxe aqui. Agora precisamos descobrir por quê.

— Ainda tenho dificuldades com esse negócio de viagem no tempo — admitiu Kane.

— Verdade? Não me diga que está pensando em ir de encontro a mais alguns postes de luz — zombou.

Ele não pareceu divertido.

— O que desejo é acordar amanhã e descobrir que estou de volta ao meu quarto do hotel porque, francamente, não tenho tempo para nada disto — grunhiu ele.

— Tempo é uma coisa que você não pode con­trolar. Acho que nós dois somos exemplos exce­lentes desse fato.

Ele não respondeu. Abriu os últimos botões da camisa e fechou os olhos.

— Você não vai se despir? — perguntou ela. Kane mirou-a e informou, preguiçosamente:

— Não. Hoje não vai haver show. Apague a luz. Ele era impossível.

— Apague você — declarou ela, enquanto en­rolava o edredom e o colocava entre os dois.

Enquanto Kane se levantava, Suzana rapida­mente entrou na cama, puxou o cortinado do seu lado e o enfiou embaixo do colchão para não deixar nenhuma abertura para os pequenos sugadores de sangue entrarem.

No entanto, assim que o quarto ficou escuro, viu que não podia dormir. A realidade da situação era aterradora.

Kane dormia profundamente, Suzana podia ou­vir sua respiração ritmada. Mas para ela, nada de repouso reparador. Ele tinha razão: estava co­meçando a falar e mesmo a pensar como uma mulher do período vitoriano. E como uma delas, estava a ponto de desmaiar. Ali estava, presa em mil, oitocentos e oitenta e quatro, com o último homem sobre a terra com quem desejava partilhar a companhia.

Sentiu-se só e perdida. Abandonada. Lágrimas dançavam em seus olhos e a garganta se fechou.

Não se sentia assim desde uma viagem desas­trosa a St. Martin, no ano passado. Era uma co­lônia de férias com a obra ainda não concluída, nada parecido com as fotografias do anúncio. Na­quela ocasião quase perdera a compostura.

A quem queria ela enganar? Havia muito tempo já perdera a calma, provavelmente desde o pri­meiro momento em que saíra da casa histórica dos Whitaker e tivera aquele pressentimento. E a perdera ainda mais quando vira a data no anún­cio do circo, naquele poste de luz.

Ainda que a idéia de uma viagem no tempo pudesse parecer romântica e excitante, tinha que admitir que a realidade era... apavorante. Estava num território absolutamente desconhecido.

Ao menos sabia alguma coisa sobre aquela época. Mas não era uma especialista. Nem sequer sabia quando descobriram a cura da febre amarela, e essa informação teria vindo a calhar aquela noite.

Então, o que estava fazendo ali? A maioria das viagens no tempo de que ouvira falar pareciam envolver grandes eventos históricos, como a guer­ra civil. Agora que pensava sobre isso, não havia dúvida de que o mesmo fenômeno sucedia com pessoas que acreditavam que tinham sido Cleópatra na vida passada, ou algum outro persona­gem importante. Ninguém desejava ser alguém perdido no meio da multidão.

Será que estaria no meio de alguma ação his­tórica que teria uma conseqüência importante? Não, claro que não. Acabara em uma calma rua em Savannah, no período vitoriano, dividindo a cama com um homem que a beijara como o diabo e estava a ponto de deixá-la maluca.

Bem, então deveria estar feliz por não ter caído em algum período muito pior. Mas, mesmo ali, poderia ter tido a sorte de aparecer na mansão dos Vanderbilt, na Quinta Avenida...

Na verdade, Suzana ansiava por estar de volta a Nova York. Mordendo o lábio para segurar as lágrimas, acabou por decidir que talvez a melhor maneira de lidar com esse sentimento de perda era seguir em frente como se soubesse exatamente o que estava fazendo, seu olhar dizendo muito clara­mente que ninguém ousasse nenhuma coisa contra ela. Se isso funcionava no metrô em Manhattan, deveria também servir para os tempos vitorianos.

"Você precisa me ajudar."

As palavras brotaram em sua mente.

— Elsbeth? — murmurou Suzana, incerta, um enorme cansaço tomando conta de todo o seu cor­po, deixando seus membros inertes.

"Não tenha medo."

Lembrando que todas as comunicações com o fantasma tinham sido interrompidas quando ela tentara falar em voz alta, Suzana usou seus pen­samentos para se expressar.

"Elsbeth, por que estou aqui?"

"Para me ajudar."

Suzana lutou para manter a linha de seus pen­samentos. Estava tão cansada...

"Mas eu não posso ajudá-la. Chegamos aqui muito tarde."

"Não, você ainda pode me ajudar a limpar o meu nome."

A idéia entrou na consciência de Suzana um segundo antes de ela finalmente pegar no sono. Sonhou com um homem de olhos azuis e um sor­riso hipócrita, de jogador.

Suzana acordou vagarosamente na manhã se­guinte, sem ter uma idéia clara do que acontecia. Teria ela sonhado que saltara no tempo? Teria um fantasma realmente se comunicado com ela? Espreguiçando-se, finalmente abriu os olhos. Viu tudo branco. Um tom brilhante, que quase a cegava.

Pensamentos lhe chegaram com incrível rapi­dez. Estaria morta?

Seu coração parou... Não, estava batendo. Então não estava morta.

Preferia muito mais a viagem no tempo do que a morte.

Pelo menos, estava no céu. O branco mostrava isso, não é? Mas ali era mais quente do que o Hades. Certamente não teria ido parar... em outro lugar? Por que razão?

— Ficará deitada o dia todo ou vai se levantar? Assustada, Suzana virou de costas e deu de cara com Kane.

— Você!


— Esperava mais alguém em sua cama? Cama... Devia ser o cortinado de mosquitos aquele branco todo.

— Eu não esperava...

— Sonhando com o meu irmão casado, não é? — interrompeu-a, num duro tom de voz.

Suzana parecera-lhe muito convidativa pela manhã. Estivera terrivelmente sexy durante a noite quando ele se levantara para tirar a camisa e a calça, para dormir só de short. Kane acordara essa manhã encontrando-a toda encurvada de en­contro a ele, o edredom tendo sido de algum modo chutado para a ponta da cama. Ela parecera tão macia e atraente. Durante o sono, seu rosto era mais angelical do que o de uma criança.

Kane não podia se permitir cair nos seus tru­ques. Por isso, saíra da cama como se mordido por uma serpente, ao passo que Suzana apenas rolara para o outro lado e continuara a dormir.

— Não estava sonhando com seu irmão — ne­gou, furiosa, ao mesmo tempo que se perguntava se teria sido uma ponta de ciúme o que ouvira na voz dele. — Se é que quer saber, eu pensei... Não tem importância. Você não ia entender mes­mo. Está quente aqui.

— Desculpe-me, princesa, por não ligar o ar-condicionado — disse ele, brincando, fazendo uma mesura em sua direção.

— Muito engraçado.

— Vou lhe dizer o que é engraçado: estas roupas.

— Apontou para a calça emprestadas que usava.

— Elas não têm zíper. Têm botões.

Quando ele disse isso, os olhos dela natural­mente se dirigiram para a braguilha de sua calça. Como evitar isso, depois do que ele dissera? A calça era larga, mas não o suficiente para que não se percebesse o que havia sob o tecido. Ele tinha quadris estreitos. Os olhos dela subiram para o rosto dele e o viu sorrindo.

— Apreciando o panorama? — perguntou, zombeteiro.

— Não exatamente — negou ela. — Estava es­tudando as roupas. Aposto que o zíper ainda não foi inventado.

— Aposto que o cara que inventar o zíper vai ganhar uma fortuna. Talvez eu devesse...

— Nem pense em uma coisa dessas! — ela ex­clamou, saindo de trás do cortinado dos mosquitos.

— Você não vai roubar a invenção de quem quer que tenha tido essa idéia.

— Não era isso o que ia sugerir. Ia dizer que talvez eu devesse usar a calça com que, vim em vez dessa coisa.

— E como pensa em explicar esse zíper aí?

— O que a faz pensar que alguém vai olhar para a minha braguilha? — retornou ele.

— Acredite em mim, alguém há de notar.


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