A máe que desistiu do céu



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2 - OS LENÇOS BRANCOS


Certa ocasião, no Além, se promoveu reunião de espíritos que haviam se dedicado ao mister de servir a humanidade pelas sendas do trabalho mediúnico, da caridade e da orientação espiritual.

Havia, no conclave, atmosfera de expectativa, pois, um iluminado irmão orador viria de esferas mais altas. A assembléia era composta de espíritos desenfaixados da carne e de outros, que tinham sido levados para ali, durante o sono.

Eis que, como um nimbo de luz, o Grande Visitante desce no meio do anfiteatro, mas conserva-se silencioso. Não se pronuncia sobre tema algum, deixando a assistência perplexa, já que esperavam, deste mestre, abordagem de temas importantes e transcendentes. Depois de algum terp- po, começou a mover os braços, como um caçador de borboletas, e apanhar, no ar, lenços brancos. Depois de recolhê-los, jogava-os em direção ao auditório. Os lenços, porém, subiam a pique e, no alto, se tornavam bioluminescentes, como retalhos de ectoplasma luminoso, que desciam direcionados para a cabeça dos presentes, penetrando-lhes o corpo perispiritual. Todos, um por um, foram se acendendo como se fossem lampiões belgas tocados por uma mecha. Por fim, cada irmão, cuja tônica dominante, em sua vida carnal ou espiritual, era do serviço à humanidade, se converteu em verdadeiro bojo de luz.

“Que é isto? - murmurou a Irmã Veneranda, diretora dos trabalhos. Por acaso, trata-se de um espetáculo de pres- tidigitação?”

A palavra do Emissário divino quebrou o silêncio, esclarecendo:

“Estes lenços brancos são o sfmbolo da mensagem que trago do nosso Mestre Jesus, destinada a todos os que o servem na seara do bem, na disseminação da luz e da consolação. Principalmente, e mais ainda, aos que fazem tal sacrifício, suportando o vilipêndio e a incompreensão, por parte da humanidade.

“Os lenços brancos, que em vos mostro, são aqueles com os quais enxugastes as lágrimas dos desesperados; dos que estavam à beira do suicfdio e, com a vossa palavra, os segurastes e os reerguestes, fazendo com que continuassem a viver em vida abundante; dos que tinham o lar derruldo pela discórdia, e lhes destes as palavras próprias vossas ou inspiradas, de tal forma, que o fogo na lareira persistisse aquecendo e iluminando-os; daqueles que tinham angústia no coração e a tirastes; dos que perderam os seus filhos e buscavam-nos na campa gélida e lhes destes a certeza da continuidade da vida no Além, permitindo-lhes sentir o hálito quente e a palavra confortadora dos seus mortos queridos; daqueles que não acreditavam em mais nada, mas, conseguistes vivificar-lhes a fé em alguma coisa, numa existencia- lidade mais ampla no Universo; daqueles que reecontraram, graças a vós, o Cristo desaparecido na voragem do materia- lismo ou da pátina do tempo e das deformações feitas na sua figura pelos homens; daqueles aos quais, sofridos e la- nhados, conseguistes estender uma taça, não com o sangue de Jesus, e considerada sagrada, mas, com misteriosos fluidos de amor, refrigerantes e curativos; dos que, desenganados pela medicina terrena, conseguistes-lhes um medicamento fabricado nas retortas do coração do Mestre ou nos arcanos indevassáveis do Criador; daqueles que mesmo incuráveis, mercê de débitos cármicos, destes-lhes tão grande suplemento de força e reserva espiritual, que passaram, dali por diante, a sofrer sorrindo; daqueles deserdados da sorte que reunistes num lugar, tratastes dos mesmos e dos seus filhos, destes-lhes sopa, abraçastes tais criaturas como se fossem amigos e parentes próximos; daqueles que, sem paz, a receberam de vós; dos que, condenados, confinados em ergástulos como feras e mergulhados na solidão, sem qualquer outro afeto para litigar- Ihes o 'profundo sentido de desolação, visitastes, levastes-lhes agasalhos e cuidastes dos seus filhos. Eis, pois, meus irmãos, os lenços brancos que Jesus vos mostra e vos dá, para que não vos desanimeis em vossas lutas, pois que Ele andou pelo mundo, teve os seus pés em ferida, foi lancetado pela ingratidão, atacado pelos doutores da Lei e, por esta razão, vos entende em vossas tarefas, que os presunçosos desdenham. Ele sabe que, muitas e muitas vezes, vos sentireis frustrados à vista dos parcos resultados da colheita em relação à semeadura e do indisfarçável riso mofino daqueles que não obtiveram resultados rápidos, julgando estivéssemos administrando o pátio dos milagres.

“Assim Ele quer que, quando vos sentires fraquejar, vos lembreis dos lenços brancos com os quais enxugastes tantas lágrimas e, por certo as vossas, também, o serão pelo Senhor.



TEMA PARA REFLEXÕES: O prazer de servir - O serviço remunerado. - Obcecação pelo lucro - Importância de um trabalho não retribuído.

POR QUE DAR TANTA IMPORTÂNCIA AO SERVIÇO AO PRÓXIMO NÃO REMUNERADO?

- É característico do movimento espírita brasileiro este afã de servir ao próximo, sem remuneração, o que causa estranheza a outros povos. Mas, não devem nos estranhar, pois, o trabalho, para ganhar a vida ou enriquecer materialmente, tem a sua paga, que é o dinheiro. Assim, o homem trabalha, e o faz com fito naquilo que vai ganhar. O ganho é o seu objetivo, e não o que faz e a quem está servindo. Daí provêm muitos males à humanidade que caminha permanentemente em guerra dentro de si mesma. Se um produto dá lucro, produzem-no, caso contrário, embora a ausência provoque a morte de muitos, deixam de fabricá-lo. Se a fabricação de armas enriquece a empresa e cria divisas para a nação, incrementam-na, e poderão até ser exportadas para nações com as quais se encontre em beligerância. Uma pessoa pobre, indigente, pode morrer às portas de um hospital, caso não tenha recursos. Na cadeia se encontram muitos presos que já cumpriram a pena, mas não possuem meios para contratar advogados. Crianças carentes crescem no analfabetismo e outros não prosseguem no estudo, embora talentosos, porque os seus pais não ganham o suficiente para lhes pagar a mensalidade dos colégios.

Como o objetivo primacial do Espiritismo é exercitar os bons pendores do espírito, levando-o ao crescimento espiritual, estimula esse tipo de trabalho caritativo. Todo homem, entrando por esse caminho, aprende o que poucos povos aprenderam: ligar o seu esforço à satisfação do beneficiado. Tornamo-nos mais irmãos daqueles a quem servimos. A fraternidade brota sã desta comunhão efetiva. Prepara-se, aqui, um novo espécime humano para a nova Civilização do III Milênio, na qual os planejamentos públicos se darão, libertos de tais empeços, pois, a regra será a colaboração. O hedonismo econômico, aquele princípio de que “só daremos coisas aos semelhantes, se eles nos derem outras em troca”, passará a existir como um sonho mau que se foi.



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