A voz do passado



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Ao examinar as bases da alteração das relações de classe, já tocamos num aspecto essencial da história política; e a biografia dos líderes sindicais pode ser considerada um outro aspecto. Mas as fontes orais têm importância muito mais geral para a história política. Defende-se com muito vigor sua utilização mais ampla no estudo histórico das atitudes políticas da maioria desorgani-zada e inerte da população. O menosprezo por isso tem resultado em que ainda só compreendemos de maneira a mais superficial o conservadorismo da classe operária na Grã-Bretanha, apesar de seu papel essencial na história política. Analogamente, a evidência oral pode oferecer muita informação de que carecemos sobre as atitudes dos militantes dos partidos; suas leituras, seus antecedentes sociais e ocupações, e assim por diante.
É possível a reconstrução das organizações políticas no nível das bases, mesmo onde a documentação, por definição, em grande medida não existe: isso pode ser observado, de maneira excepcionalmente esclarecedora e descomplicada, em Shenfan, de William Hinton, por meio do testemunho retrospectivo que os moradores da aldeia do Grande Arco deram sobre as disputas complexas e o caos devastador da revolução cultural chinesa. Há estudos comparáveis sobre a longa e confusa revolução do Mé-xico e, também, sobre a resistência européia ao fascismo e os movimentos políticos clandestinos durante a Segunda Guerra Mundial. Os exemplos mais notáveis são os estudos sobre os guerrilheiros do Norte da Itália, e a pesquisa internacional sobre a

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resistência dos judeus sob os regimes nazistas, agora centraliza-dos em Yad Washem, em Jerusalém. Esses empreendimentos têm sido, porém, realizados em resposta a desastres nacionais inco-muns, que transformaram todo o significado da história política. As narrativas sobre os campos de concentração, sejam elas de sobreviventes, de colaboradores, ou de filhos das vítimas, conti-nuam a ser pungentes tanto para os que as fazem quanto para os que as ouvem. Há coisas equivalentes nas recordações dos sobreviventes da bomba atômica de Hiroshima. E só um pouco menos penosa é a história da Espanha sob o fascismo, o temor que levou as pessoas a passarem a melhor parte de suas vidas escondendo- se, e a experiência multiforme, confusa e ambivalente da guerra civil para a gente comum das pequenas cidades e do campo, ho-mens e mulheres, vencedores e vencidos, que Ronald Fraser tão brilhantemente nos transmitiu, por meio da história oral, em Blood of Spain.
As fontes orais têm sido utilizadas mais comumente para duas finalidades muito mais limitadas. Em primeiro lugar há estudos sobre acontecimentos políticos muito recentes e não é possível analisar satisfatoriamente por meio de registros escritos. Esta tem sido uma modalidade típiça da história oral norte-americana como, por exemplo, The Death of a President, de William Manchester, que se valeu de mais de 250 entrevistas, ou violence in Ulster: an Oral Documentary, de W H. Van Voris. Mesmo nos casos em que essas obras não sejam mais do que um jornalismo de alta qualidade elas fornecem um material essencial para historiadores futuros. Em segundo lugar está a biografia. Aqui, tam-bém os exemplos mais surpreendentes vêm das Américas, tais como Huey Long, de Harry Williams, ou Getúlio, um retrato por colagem desse líder político brasileiro, feito por Valentina da Rocha Lima, cada um deles elaborado a partir de mais de duzentas entrevistas. Mas o método ainda que com menor divulgação é utilizado normalmente por biógrafo e político britânico: caracteristicamente, de modo informal e exploratório. Os volume de Martin Gilbert sobre Churchill oferecem exemplo re117

cente excepcional dos frutos dessa abordagem. E urna vez ou outra algum biógrafo político britânico sente necessidade de aprofundar- se na utilização de fontes orais. Bernard Donoughue e George Jones entrevistaram mais de trezentas pessoas para seu Herbert Morrison: Portrait of a Politician. "Fomos obrigados, desde o início1 a recorrer à entrevista devido à falta de determina-das outras fontes documentais. O próprio Morrison deixou muito poucos documentos,. tendo queimado a maioria deles quando se mudou de casa no final da_vida. Os papéis oficiais relativos ao período de governo de 1945-5 1, em que teve papel predominante. também não são acessíveis devido à regra dos trinta Apelando para a entrevista "como último recurso (...}. passamos logo a apreciar seu enorme valor. Elas mostraram ser não apenas um recurso substitutivo de fontes melhores,. mas, em si mesmas, uma fonte muito nitidamente valiosa". De modo especial. isso mos-trou ser possível elaborar uma série muito mais. Completa de- perspectivas e insights sobre o homem (...) suas virtudes e seus- vícios, e até que ponto aquelas eram,. muito frequentemente, o reverso destes". O início de uma vida política, tantas vezes omi-tida por um biógrafo, pôde ser reconstruído com extraordinário detalhe. E por toda sua carreira Morrison pôde ser mostrado em ação, como ministro ou no governo local, por meio dos "diversos grupos de pessoas sobre as quais ele teve algum impacto: seus correligionários políticos, seus adversários políticos, os funcioná-rios públicos que trabalharam com ele, as pessoas das bases que o apoiaram ou que foram receptores finais de suas políticas 4. Pode-se acrescentar que o resultado disso é uma biografia não apenas incomumente bem acabada, mas que também criou uma nova fonte histórica de importância para o futuro.


Os interesses da história política vão além dos acontecimen-tos internos e das biografias - o que é muito evidente no caso da Grã-Bretanha que, no início do século XX, era urna potência im-perial que controlava urna quarta parte da superfície do mundo e urna população colonial de perto de 400 milhões de pessoas. Há diversos projetos norte-americanos e britânicos de coleta de evi-118

dência oral no campo da história militar. Ainda uma vez, eles são especialmente importantes no esclarecimento da experiência comum, como "a vida no convés inferior" da Marinha, nos aloja-mentos de soldados do Exército, ou do soldado negro nos campos de batalha da Segunda Guerra Mundial. Analogamente, podem propiciar informações impossíveis de obter de outro modo a res-peito de atividades antibélicas realizadas por motim declarado no - seio da tropa, sabotagem, resistência passiva, ou pelos que se re-cusam ao serviço militar por razoes de consciência. Empreendimentos paralelos de história colonial ocupam-se da administra-ção civil. O Cambridge South Asian Archive concentrou-se na Índia, o Oxford Colonial Records Project, na África. O fascínio desse tipo de história social colonial tomou-se amplamente conhecido pelos programas de rádio de Michael Mason sobre os britânicos na Índia, e por sua seqüência impressa, os Piam Taies from the Raj, de Chanles Allen. Por meio deles, como de nenhum outro modo, pode-se ingressar no estranho mundo da elite branca imperial dominada por castas e classes: os refeitórios e as casas dos oficiais e dos soldados do Exército indiano, os pilotos do rio Calcutá, os "de origem divina" do serviço público indiano, seus bordéis, concubinas e memsahib: as esposas e filhas do Raj.

Este é apenas um lado da história. O outro diz respeito aos povos que eram colonizados. A ausência quase total de depoi-mentos individuais provindos de seu seio continua a ser surpreen-dente. Os antropólogos europeus que acompanharam os coloniza-dores não tinham nada do interesse norte-americano em histórias de vida, e autobiografias orais, tais como Untouchabie, de James Freeman, índio proscrito, operário e cáften, ou, do mesmo autor,

Kiki, criança de uma aldeia de canibais da Nova Guiné, ou, de Mary Smith, Baba of Karo, história pessoal de uma mulher haussá muçulmana reclusa e seus casamentos, divórcios e co-esposas , continuam a ser tão raras quão importantes. Contudo, par-ticularmente na África, sobretudo em história política, mas tam-bém potencialmente, em relação à história social, as fontes orais desempenham papel fundamental. A documentação escrita, ainda



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que por certo presente, é muito menos rica do que a de socieda-des que se tomaram letradas mais cedo, enquanto o material de fontes orais é abundante. Ele tem sido sistematicamente utilizado por historiadores da África desde a década de 1950, com uma metodologia cada vez mais elaborada, inclusive com o desenvol-vimento de técnicas especiais para fixar as cronologias das tradi-ções orais, que muito freqüentemente remontam ao século XVI e, em alguns casos, até mais longe. De início, essas tradições foram entendidas como sendo essencialmente documentos transmitidos oralmente, mais valiosos quando houvessem sobrevivido intactos desde o passado longínquo, de modo que o método exigia tradi-ções históricas formais e era utilizado mais eficazmente em rela-ção á história política de remos africanos de organização relati-vamente sólida, especialmente no período anterior a sua colonização no século XIX. Progressivamente, o interesse deslocou-se para o processo pelo qual as tradições orais variaram e se re-constituíram com o passar do tempo e, pois, para os sistemas políticos locais mais difundidos, onde as próprias contradições nas tradições orais de diferentes comunidades ou famílias forne-cem as pistas a partir das quais se pode conceber as lutas políti-cas e os movimentos migratórios do passado. Womunafii 's Bo-nafu, de David Cohen, e The Traditionai History of the Jie, de John Lamphear, constituem histórias notáveis de pequenos povos da floresta e dos montes de Uganda reconstruídas desse modo, enquanto Liptako Speaks, de Paul Irwin, estuda também, habil-mente, as contradições que existem naquilo que aprendeu no seio de um povo da savana do Alto Niger. A interpretação simbólica e social dos mitos de origem tem trazido novos significados a par-tir deles também, não só a partir de um antropólogo como Steven Feierman, em seu The Shambaa Kingdorn, como também a partir de historiadores corno Roy Willis que, em seu A State in the Ma-king, atribui o mito de Fipa ao momento em que esses tanzanra-nos montanheses passaram da agricultura nômade para a agricul-tura sedentária. Ironicamente, a pura criatividade exigida para estabelecer os modelos elementares de povoamento e de poder

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político na África pré-colonial, a partir de fontes orais, parece ter impedido que se apliquem energias na exploração de potencial equivalente que elas possuem para o desenvolvimento da história social africana, particularmente associada à evidência direta da história de vida no passado mais recente, o qual já tem sido utili-zado para a história polftica dos movimentos nacionalistas.
Pois é na história social, de que passamos a tratar, que menos se pode fugir à relevância da evidência oral. The Edwar-dians: the Remaking ofBritish Society, de minha autoria, foi con-cebido originalmente como unia reavaliação global da história social do período, mais do que como uma especulação em tra-balho de campo. Porém, bem cedo descobri que, muito embora houvesse grande riqueza de publicações impressas a partir do iní-cio do século XX, entre as quais inúmeros documentos oficiais, e alguns estudos sociológicos pioneiros, a maior parte do que eu desejava saber ou era tratado de uma única e insatisfatória pers-pectiva, ou inteiramente ignorado. Não era possível preencher essas lacunas com material manuscrito porque, onde acessível, ele simplesmente discorria mais longamente sobre as perspectiva burocráticas já disponíveis nas fontes impressas. O período ta muito recente para que uma série satisfatória de documentos pessoais houvesse chegado às repartições oficiais de registro. queria saber como era ser criança ou pai naquela época; como jovens se encontravam e namoravam; como conviviam como indo e mulher; como encontravam emprego e como mudavam de emprego; como se sentiam em relação ao trabalho; como encaravam seus patrões e seus companheiros de trabalho; de que modo sobreviviam e como se sentiam quando desempregados; variava a consciência de classe entre a cidade e o campo e as ocupações. Não parecia possível responder a nenhuma perguntas a partir de fontes históricas convencionais, mas o Thea Vigne e eu começamos a colher a evidência das entrevistas que, no fim, foram cerca de quinhentas, a riqueza de ação que se podia obter por esse método tomou-se imedia-tamente patente. Na verdade, colheu-se muito mais do que podia

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ser utilizado para um só livro, de modo que, finalmente, The Ed-wardians tomou-se tanto um ponto final quanto um ponto de par-tida, e as entrevistas coletadas para sua elaboração já serviram de base para outros estudos históricos. Não obstante, isso sugere algo a respeito do alcance mais geral das fontes orais para a história social. As entrevistas ofereceram um pano de fundo que permeou as interpretações do livro; foram citadas em todos menos dois dos 22 capítulos; e algumas seções, especialmente sobre a famí-lia, baseiam-se abundantemente em citações diretas. De igual im-portância é ter sido possível apresentar, como um antídoto contra as simplificações de um esboço geral da estrutura social, catorze relatos de verdadeiras famílias edwardianas, obtidas numa varie-dade de classes e locais da Grã-Bretanha, porém irredutivelmente individuais - "a realidade desordenada sobre que (...) se alicer-çam tanto a sociologia teórica quanto o mito histórico".5
O trabalho de campo para The Edwardians foi em escala até então incomum e singular para aquela época sob um aspecto: a escolha dos informantes foi orientada por uma "amostra por quo-tas", de tal modo que os homens e as mulheres entrevistados repre-sentam amplamente as regiões, a zona urbana e a rural, e as clas-ses sociais ocupacionais da Grã-Bretanha do começo do século XX como um todo. Evidentemente, os recursos de um pesquisador isolado não comportam um plano de pesquisa desse tipo. Por isso, a contribuição característica da evidência oral tem sido, não o ensaio em história social geral, mas sim a monografia, em di-versas áreas distintas.
A primeira delas é a história social rural. Já vimos como, neste caso, o caminho foi aberto por George Ewart Evans. Seus livros são, à sua maneira peculiar, insuperáveis: entrelaçamentos inequívocos, ainda que sutis, de história agrícola e econômica com estudos culturais e de comunidade, retratos individuais e narrativas. Numa das seções, ele estuda o contraste entre a estru-tura social de uma aldeia "aberta" de Suffolk, como Blaxhall de Ask the Fellows Who Cut the Hay, com a Helmingham patema-lista de Where Beards Wag Ali. Em outra, com a visão de um

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antropólogo, indicará o significado de alguma superstição ou lenda relativa a animais, ou um costume excêntrico de vestir-se, como a drástica mudança dos meninos ao deixarem para trás o cabelo comprido e as camisolinhas da infância. Talvez o melhor de tudo seja a percepção que demonstra ter da vida e da fala do trabalha-dor rural de East Anglia. Aqui e ali, assinalará a qualidade muito peculiar de sua sintaxe, de seu humor, de sua franqueza; e o mesmo cuidado sempre se demonstra nas transcrições que faz. De todos esses modos, estabelece um padrão rigoroso para aquilo que veio a ser uma das áreas mais conhecidas da história oral. Talvez não seja de surpreender o fato de que quando Akenfield: Portrait of an English Vïllage, de Ronald Blythe, transformou em êxito lite-rário internacional a história oral de Suffolk, isso se tenha dado com uma investigação menos bem cuidada. Apesar do título, Aken-field compõe-se de histórias de vida obtidas em várias aldeias, e - não de um retrato de uma só comunidade; enquanto, no detalhe, não se pode confiar nem na linguagem das tianscrições, nem mesmo na atribuição delas a determinados informantes. O censo do "tra-balho na aldeia" também não passa de uma invenção. Porém, se, como modelo para a sociologia ou a história, Akenfield é muito insuficiente, mostrou-se indiscutivelmente bem-sucedido na po-pularização de uma nova forma de literatura rural, cruzamento entre o documentário por entrevistas e o romance. Como também pode haver dúvida alguma de que a evidência oral constitui sua verdadeira força. Assim, muito embora o livro comece com o

bucolismo dos chalés em torno da igreja da paróquia, a dura realidade da vida do trabalhador da aldeia logo irrompe com a primeira seção de recordações de velhos trabalhadores agrícolas. Ele possi-bilitava, também, que se veja a comunidade a partir de pontos de conflitantes, tanto de geração como de classe, uma vez que ouvem sucessivamente o trabalhador agrícola e o fazendeiro, o pároco e o coveiro, o magistrado conservador e o representante Sobretudo, isso se dá mediante a imediatez com que a palavra falada põe o leitor na presença das próprias pessoas.


Assim, Akenfield, apesar de determinados defeitos - evitá-123

veis- apresenta-se como um estimulo à história oral essencialmente pelas razões corretas. Mais recentemente, por meio da- apresentação das autênticas vozes do campesinato italiano e fran-cês, Nuto Revelli, em Il mondo dei vinti, e Pierre Jakez Hélias em Le cheval d'orguei incendiaram do mesmo modo a imagina-ção nos respectivos países. A Akenfield seguiram-se outros estu-dos de comunidade1 freqüentemente levando a história rural para muito além das preocupações que era possível ter quando se empregava apenas a evidência documental. O excelente estudo de Raphael Samuel sobre Headington Quarry refere-se a um vilarejo sem um proprietário que o comandasse, composto de trabalhado-res agrícolas migrantes, cavadores de valas, pedreiros, mascates, caçadores e lavadeiras, o qual não possui quase nenhuma docu-mentação, exatamente por ser tão igualitário e mal controlado, mas que era, afirma ele, um elemento fundamental e nada inco-mum na economia social rural do século XIX. Fenwomen, de Mary Chamberlain, é um estudo de aldeia, influenciado por Akenfield, mas inteiramente obtido mediante evidência fornecida por mulheres e revelando, também, uma realidade muitas vezes t dura numa comunidade em que "os homens eram os donos": na s família e na escola, no namoro e no nascimento das crianças, - na capela e na sociedade da aldeia, no trabalho, quer nas cozinhas, quer no trato dos campos de terra negra varridos pelo vento. Neste caso mais uma vez , a utilização de fontes orais dá imediatamente uma nova dimensão á história.


Todos esses exemplos vêm da zona rural do Sul e do Leste do da Inglaterra: a região de terra fértil e de trabalhadores assalariados. As regiões de fazendas familiares do Norte e do Oeste atraí-ram muito antes os estudiosos envolvidos com a evidência oral: coletores de literatura e de folclore, especialmente no País de Gales, na Escócia e na Irlanda, mas também sociólogos e antropólogos. Resultado disso foi uma série de importantes estudos de comunidade, desde o Family and Community in Ireland (1940), de C. M. Arensberg e S. T. Kimball, todos eles baseados em trabalho de campo oral. Dois dos mais interessantes são os succssi-

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vos livros de W. M. Wihiams sobre The Sociology ofan English l'2llage: Gosforth na Cúmbria e a aldeia de Devon, Ashworthy. No primeiro, ele enfatiza a recente erosão de um sistema social tradicional e estável; no segundo, porém,, afirma que a sociedade rural estava sempre se modificando, reajustando-se a partir de pressões externas, econômicas, tecnológicas ou políticas, bem como a partir da ascensão e queda de indivíduos e de suas famí-lias. Westrigg, de James Littlejohn, também é especialmente im-portante, por oferecer um modelo bem-sucedido de história oral de comunidade, como alternativa a Akenfield: uma análise muito eficaz das mudanças ocorridas na estrutura de classe local no cor-rer dos últimos sessenta anos, à medida que os agricultores com-praram suas próprias terras da antiga classe fundiária e que o antigo predomínio da economia da ovinocultura das fronteiras es-cocesas deram lugar ao avanço da silvicultura. E num outro estudo, Ian Carter procura explicar por que os trabalhadores agrí-colas do Nordeste da Escócia, ao contrário de seus congêneres ingleses, não eram respeitosos em suas atitudes sociais - e con-tudo deixavam de sindicalizar-se. Atualmente, os historiadores sociais dessas regiões também estão utilizando fontes orais. Nas Highlands escocesas, para uma história social da ilha de Tiree,

Eric Cregeen utilizou fontes orais não só como a evidência mais importante relativa às crenças e costumes das pessoas, e para os relatos que faziam dos conflitos do proprietário de terras e de seu feitor com a comunidade de Lavradores, e para contrabalançar os

documentos de um proprietário de terras agricolamente "progres-sista" com o sistema de trabalhar a terra, que continuava o mesmo; mas também, mais surpreendentemente, para traçar um retrato de personalidades, relações familiais, ocupações e migrações desde os meados do século XIX, disso resultando que as Itagens áridas do censo de 1851 não só se enriqueceram e se terligararn, como ainda ganharam uma dimensão temporal, su-perando assim uma de suas limitações mais graves como evidência -histórica. David Jenkins também teve acesso à informação ml, notavelmente pormenorizada para o seu The Agricultural

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Comntunity in South West Wales at the Turn of the Twentieth Cen-tury, o que lhe permitiu elaborar um relato meticuloso e atraente de um sistema social de divisão de trabalho e status que abrangia, além das relações salariais normais entre fazendeiros e empregados, um tipo de "dívida de trabalho" ou prestação de serviço na colheita do milho em troca do fornecimento de terra para a cultura de batata.
O impacto potencial da evidência oral é igualmente forte se passamos da história rural para a história urbana. Neste caso, porém, ela em geral produz primeiro novas fontes e não novas formas de análise. Exceção a isso foi o estudo clássico de Richard Hoggart sobre o impacto das revistas, filmes e outros meios de comunicação de massa sobre a cultura e o relaciona-mento moral da comunidade operária da cidade. The Uses of Li-teracy vale-se largamente das próprias recordações de Hoggart de uma infância no Norte da Inglaterra, quarenta anos antes. Esse estudo é mais explicitamente história oral - um de seus capítu-los se intitula "Uma tradição oral: resistência e adaptação: um modo de vida formal" - quando procura estudar as convenções de fala da classe operária em relação à mudança social. Quanto a isso, porém, a influência de Hoggart, ao dar muita ênfase ás limi-tações da fala da classe operária, mostrou-se mais uma desvanta-gem do que uma ajuda, e continua a ter ramificações na história oral. Isso ofereceu um tema explanatório para os estudos desalen-tadores de Jeremy Seabrook sobre o preconceito e a visão limi-tada das classes trabalhadoras urbanas, The Unprivileged e City Close- Up. Ambos são parcialrnente históricos, o primeiro, uma visão familiar autobiográfica de Northampton, o último, de Blackburn, cidade manufatureira do Norte; e ainda que repre-sentem um contragolpe ao romantismo cômodo, parecem por demais moldados por comentários amargos e entrevistas tendenciosas do autor. O tema de Hoggart foi adotado também por educadores e nele se baseou Basil Bernstein para desenvolver a doutrina de que a fala da classe operária era um empecilho esmagador para a capacidade de compreender. Mais típica, porém, foi . a história de comunidade, tal como os folhetos pioneiros do Cen-

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treprise, do East London, e a coleta conjunta de memórias orais e fotografias de família para as histórias de bairro como Trafford Park, realizada pelos Manchester Studies. Dois exemplos muito bons são norte-americanos: Steveston Recollected, relato de uma cidade pesqueira nipo-canadense às margens do Vancouver, pu-blicado pelos British Columbian Provincial Archives, e a Boston Bicentenary Neighbourhood History Series, produzida por um grupo de quinze comissões de bairro por toda a cidade, que com-binou pesquisa bibliográfica com a localização de fotografias e entrevistas de moradores. Ambos os trabalhos ilustram o valor característico da evidência oral quando oferece urna fonte de his-tória urbana de um outro ponto de vista: no caso de Steveston, a de um grupo étnico minoritário da cidade; no de um bairro de como The South End, um registro de como uma comunidade viu a luta por ela travada - e finalmente vitoriosa - para conseguir uma prorrogação da remoção e da renovação indiscriminadas de uma área favelada. Ali há imagens vívidas dos por-menores da vida urbana - cortiços, botequins, pugilistas e bêba-dos - e os fios de ligação essenciais entre migração e trabalho.

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