Alfa: Lucas Hunter Curadora



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Kenji encontrou o olhar de Riaz quando Emani se desconectou. — Como você quer lidar com isso?

Vou falar com Bo, — Riaz disse, referindo-se ao chefe de segurança e líder efetivo da Aliança Humana, um homem que ele fez questão de conhecer antes e depois do encontro da Aliança Humana com os SnowDancer e os DarkRiver.

— Hawke?

— Ainda não. — O alfa tinha o bastante em seu prato com a ameaça à Sienna, e ele sempre confiou em seus tenentes para trabalhar independentemente, parte da razão pela qual SnowDancer tinha tantos fortes homens e mulheres nesta posição. — Deixe-me ver o que consigo descobrir primeiro.

— Eu vou enviar alguns informantes também. — Kenji disse, sua expressão séria de uma forma que contrariava o abandono descuidado de sua cor de cabelo.

— Ligue-me se ouvir algo. — Desconectando, Riaz decidiu pegar café perto da sala de encontro antes de ligar para Bowen. Ele estava franzindo para as implicações da Aliança Humana estar envolvida no assassinato de um time inteiro de Psy quando entrou na sala de encontros, para parar completamente, o cheiro de amoras esmagadas no gelo o envolvendo, tão delicado quanto o mais frágil floco de neve.

Trinta e seis

Adria desviou o olhar da bancada, seu familiar sorriso reservado. — Ei. — Ela ergueu a cafeteira, servindo-lhe uma xícara quando ele acenou. — Leite?

— Não, preto. — Era estranho estar tendo essa conversa ordinária com ela, o subtom levemente desajeitado, quando ele estava enterrado até as bolas nela apenas algumas horas antes.

— Aqui está. — Entregando o café, ela começou a colocar açúcar no seu próprio.

Suas sobrancelhas se arquearam depois da quarta colher, a estranheza se dissipando em uma afeição divertida que fez seu lobo erguer as orelhas. — Certeza que não quer um pouco de café com o seu açúcar? — ele perguntou quando ela começou a mexer.

— Todos têm seus vícios. — Um comentário suspeitosamente brando, seguido por, — Talvez você prefira uma barra de chocolate amargo.

Ele sorriu, perguntando-se como ela descobrira sua preferência. — Achei que você fosse o tipo de garota que gosta de café-preto-forte. — O intrigava que ele estivesse tão errado, o fez ciente de todas as coisas que não sabia sobre a mulher que dividia seu corpo com ele. Especialmente quando ela despejou o que parecia ser a metade de um pote de creme, então tomou um gole, tremendo de prazer.

Seu corpo ficou tenso. O impulso de tocá-la, de clamar privilégios de pele fora do quarto era quase demais, mas ele cerrou os dentes e se controlou. Eles estipularam limites em seu relacionamento, e ele precisava respeitar isso, não somente pelo seu bem, mas também pelo dela.

Adria se inclinou contra o balcão. — Você parece tenso.

Seus olhos coloridos, eles viam demais. Foi uma das primeiras coisas que ele pensou em seu encontro inicial, e independente de quão desconfortável isso o deixava como homem, a percepção dela era uma habilidade que ele poderia utilizar como tenente. — Você sabe alguma coisa sobre o que aconteceu com a Aliança Humana um ano atrás?

A Aliança tentou plantar bombas em São Francisco, tentou sequestrar Ashaya Aleine. Bo e seu pessoal, rebeldes do grupo naquela época, cometeram o erro idiota de sequestrar um jovem macho do território DarkRiver em um esforço tanto para protegê-lo quanto para ganhar a atenção do clã. — Sobre Bowen e seu grupo?

— Sim, — Adria tomou mais um gole de café — Todos os soldados veteranos foram informados. Eu sei que nós temos trabalhado com os felinos para construir um relacionamento funcional com eles.

— Tem sido complicado, — Riaz reconheceu, — mas nós sabíamos que teríamos que encontrar um jeito de fazer as coisas funcionarem. — Os negócios da Aliança tiveram um impacto imediato após os eventos em São Francisco, mas como Hawke previu, eles voltaram ainda mais fortes.



Changelings tem clãs, o alfa disse. A Aliança é o equivalente humano, não somente representa os humanos como um grupo como é poderoso o bastante para que as pessoas prestem atenção.

Nenhum corpo a ser negligenciado, independente do fato de os humanos serem frequentemente classificados como a parte mais fraca do triunvirato que era o mundo.

— Eles estão quebrando seu lado da barganha, — Adria perguntou, — tentando algo em nosso território?

— Não, mas estão envolvidos em uma série de assassinatos no Mediterrâneo. — Ele se afastou da parede, decisão feita. — Vou ligar para o Bowen. Quer participar?

Olhos azuis-violeta com listras douradas se arregalaram nos cantos. — Sim, eu adoraria.

Cafés bebidos e xícaras lavadas, eles foram em direção à sala de conferências. — A Aliança tem pessoas com treinamento para executar algo tão limpo, e nós temos que assumir, rápido? — ela perguntou quando ele terminou de resumir a situação.

— Bo poderia ter feito isso. Ele trabalhou em operações secretas no braço militar da Aliança antes de decidir que não gostava da direção que aquele braço estava seguindo sob a liderança anterior. — Possuindo uma violência tão fria e autobenéfica quanto à do Conselho. — Se foi a Aliança, eu estou mais interessado no por que.

Adria arqueou uma sobrancelha quando eles entraram na sala de conferência.

— Bo, — ele explicou, — Tem reconstruído muito cuidadosamente a reputação da Aliança.

— E esse tipo de violência, se vazasse, — Adria murmurou, —traria muitas lembranças feias para a população.

Ele fechou a porta atrás dela. — Sente-se fora do alcance da câmera, — disse, permitindo o enigmático cheiro dela infiltrar-se em suas veias. — Quero que você aja como um segundo par de olhos e ouvidos, Bo é muito bom em só mostrar o que quer.

Escolhendo um assento que lhe oferecia um excelente ponto de vista, Adria observou Riaz fazer a ligação. De costas para ela, ele não podia vê-la, então ela se permitiu deliciar em um exame visual mais demorado, seus olhos atraídos ao ombro esquerdo dele e às curvas e linhas da tatuagem escondida sob a camiseta. Ela amava o modo como a tinta preta ficava contra a pele dele, assim como ela amava a beleza musculosa de sua forma, o modo como ele se movia dentro dela.

Não era difícil de entender por que ele a intrigava em um nível mais profundo.

Mas embora ele fosse um homem inegavelmente sexy e bonito, sua loba via beleza através de lentes diferentes. Era atraída pela força dele, seu conforto consigo mesmo e com ela. Riaz não se incomodaria se ela perdesse o controle durante a intimidade e tirasse um pouquinho de sangue, não se importaria se ela quisesse tomar as rédeas às vezes.

Quando eles trabalharam juntos durante a batalha com os PurePsy, deu-lhe ordens com frio e calmo controle mesmo no meio do caos. O soldado nela o respeitava por isso, enquanto a mulher achava isso outro aspecto atraente de seu caráter.

Contudo, ela também entendia que ele seria enlouquecedor em um relacionamento. Não era somente um changeling predador, um tenente, ele era um lobo solitário. Era lenda o quão incrivelmente possessivo e insanamente protetor um lobo solitário se tornava com a mulher que reivindicava como dele, o que era o oposto de uma mulher com quem concordou em construir uma amizade baseada em tempestade de necessidade compartilhada... E dor.

— Dois segundos, — ele disse, aqueles olhos maravilhosos encontrando os dela. — Pronta?

Seu estômago contraiu- se com consciência visceral. — Sim.

— Quem diabos está aí? — uma rouca voz masculina perguntou, aceitando a transmissão de áudio somente após o telefone ter tocado por uns quinze segundos.

— Bo. É o Riaz.

Uma pausa, o som de lençóis se mexendo. — Jesus, deixa eu me levantar, — foi a resposta, embora tivesse que estar no meio da manhã em Veneza.

— Longa noite? — Riaz perguntou.

— Infelizmente não foi do tipo proibido para menores. — Mais alguns segundos se passaram antes do rosto de Bo aparecer na tela. Ele raspava o cabelo, então não estava com ele bagunçado, mas seu rosto estava amassado de um lado, o suave marrom caramelo de sua pele com um bronzeado... Como se ele tivesse estado fora, perto do mar. — Foi rápida. — Olhos obscuros que observavam Riaz com uma intensidade perfurante.

Riaz não piscou. — Você sabe sobre o quê isso se trata.

— Posso adivinhar. — Bo esfregou uma mão sobre a cabeça, as linhas de seu rosto masculino elegantes, um homem que seria bonito se não fosse pela dureza impiedosa em seus olhos, as cordas de músculo em seus ombros nus. — Não posso falar à repeito assim.

— É seguro.

Mas Bowen balançou a cabeça, um ângulo teimoso em sua mandíbula. — Tem que ser cara a cara, e não estou planejando viajar no momento.

Inclinando-se contra a parede, Riaz cruzou os braços. — Você está soando paranóico.

— Você soaria, também, se tivesse acabado de ter a semana que eu tive. Só vai levar o que — Bo franziu — Três horas num jatinho expresso para chegar aqui?

— Não é a melhor hora para um tenente SnowDancer deixar o clã. — Riaz segurou o olhar do macho da Aliança. — Qual é a prioridade de sua informação?

— Alta. — Nenhuma hesitação.

— Eu te retorno.

— Confie em mim, Riaz. Você quer ouvir o que eu tenho a dizer. — Bowen se desconectou com aquelas palavras pressagiosas.

Esperando até que a tela estivesse vazia, Adria disse, — Por que você não confirmou a viagem? — Ele estava certo a respeito do momento, mas era manejável, não afetaria a força de suas defesas.

— Se ele está certo sobre a conexão estar sendo monitorada, — Riaz disse, mechas preto-azuladas de cabelo caindo em sua testa, — não havia por que dar a dica aos nossos ouvintes de que estaríamos lá.

Seu pulso acelerou. — Nós?

— Eu vou precisar de apoio. — Riaz viu os olhos de Adria se arregalarem. — Em situações como esta, eu geralmente pediria para o meu pessoal que já está na área, mas eles já têm outro assunto com o qual lidar, e você fala italiano fluente. — Ele sabia que era a decisão certa, que sua habilidade linguística e status como um soldado experiente a faziam a escolha perfeita. Ele também sabia que estava cruzando uma linha perigosa.

Mas Adria, quando ficou de pé, não mostrou nenhuma indicação de ter lido alguma sugestão a mais além do que ele havia dito. — Como você sabe disso? Que eu falo italiano?

— É meu trabalho, — ele disse, — Mantenho registros de todos no clã que tenham alguma habilidade que possa ser utilizada internacionalmente. — O curriculum de Adria passou por sua mesa quando ela se transferiu. — O que eu não entendo é por que você escolheu aprender italiano quando espanhol teria sido mais útil na região.

Ela hesitou, suas próximas palavras dizendo que a mente dela estava em outro lugar. — Eu não quero romper as coisas tão cedo com meus alunos.

— Só seria por um dia ou dois. — Ele sabia o quanto os juvenis se apoiavam em seus supervisores.

Um lento aceno. — Isso é manejável. Eu estava planejando pedir a Riley para me colocar na ronda do perímetro exterior, de qualquer forma. — Captando seu olhar questionador, ela disse, — Eles podem ser submissos, mas a vigilância constante não é boa para o desenvolvimento de nenhum lobo.

— Nós partiremos cedo amanhã, — ele disse, se perguntando como uma soldado veterana durona entendia os SnowDancer submissos tão bem. — Isso te dá tempo suficiente para organizar cobertura para suas tarefas?

— Sem problemas. — Então, para surpresa dele, ela fez uma dancinha engraçada em volta da cadeira, cantando, — Eu vou para Veneza, eu vou para Veneza.

Isso arrancou risadas espantadas dele, seu lobo se erguendo com fascinação à inesperada e charmosa rachadura na fachada sóbria de Adria. — Se você for bem boazinha, — ele disse quando ela parou de dançar para sorrir-lhe, — Eu te levo para um passeio de gôndola pelos canais. — Deleite, brilhante e perigoso, cascateou através das veias dele.

Trinta e sete



Tendo completado sua pesquisa, Vasquez localizou os três primeiros endereços rápido o suficiente, mas levou horas hackeando os firewalls da Net para desenterrar a segunda metade, e quatro dias para completar a lista. Psiquicamente exausto, ele considerou enviar um e-mail para aquele a quem ele servia com a atualização, mas eles concordaram com silêncio eletrônico e psíquico. Nada em seu plano iria vazar e destruir tudo o que eles meticulosamente haviam posicionado.

Ciente de que o cansaço poderia resultar em erros, Vasquez dormiu por tempo o bastante para se tornar funcional, então fez seu caminho até o composto escondido em um setor rural da Irlanda. —Eu tenho as coordenadas e imagens necessárias do primeiro grupo de alvos.

— Quando poderemos nos mover? — A voz era áspera, quebrada, emitida de uma garganta que sofreu queimaduras de segundo grau, Henry Scott gritou enquanto suas pernas eram transformadas em cinzas, um de seus braços cortado abaixo do cotovelo por um frio chicote de fogo.

Os médicos estiveram trabalhando em reparar os danos, mas eram severos. O fogo X de Sienna Lauren cauterizou as feridas, então eles precisaram cortar veia por veia para permitir que o time de regeneração trabalhasse. Porém, o pior dano foi feito quando um operante PurePsy jogou seu corpo sobre o de Henry em um esforço para protegê-lo. A arma do operativo se derreteu na carne do ex Conselheiro.

Estava se provando quase impossível retirar o plástico de seu corpo, uma parte dele parecendo ter se integrado aos seus órgãos. Como resultado, Henry ainda se mantinha ligado a vários dispositivos, seu corpo inerte em uma cama de hospital dentro de uma grande câmara de vidro estéril, sua voz arruinada soando através de um auto falante. Porém, o fogo não fez nada à sua mente, e eles eram Psy. A mente era tudo o que importava.

— Nós estamos em posição de atacar? — Henry elaborou, seus olhos injetados de sangue olhando para Vasquez através do vidro.

— Recomendo esperar até termos dez grupos completos. — Isso os permitiria atacar de uma vez, não deixando tempo nem espaço para um contra ataque. Porém, tudo dependia de Vasquez conseguir reunir pessoas confiáveis o bastante com as habilidades certas.

Altas, ruidosas respirações. — A Net está ficando mais fraca a cada dia que passa, cheia daqueles cujo Silêncio é defeituoso. Nós precisamos lembrá-los de quem nós somos como raça.

— Sim, mas nossas chances de sucesso crescem exponencialmente se agirmos sem quaisquer avisos. Não dando nenhum tempo para o inimigo se preparar antes da avalanche.

Henry tomou um longo tempo para responder, sua respiração tão áspera que Vasquez sabia que esse encontro logo acabaria. —Cinco grupos, — O ex Conselheiro disse finalmente. — Cinco grupos completos e um discrepante.

— Senhor?

— Uma pequena localização, uma demonstração do que nós podemos fazer além dos ataques primários.

— Um teste para averiguar a validade do nosso método refinado? — Seu plano anterior provou ter uma falha fatal, então ele poderia concordar com a precaução, exceto que isso arriscava sua chance.

Mas Henry disse, — Se aqueles na Net querem sentir, então talvez nós devêssemos ensiná-los o sabor do terror.

Vasquez nunca trairia o único homem que parecia estar tratando a desintegração do Silêncio não só como uma inevitabilidade, mas como uma doença que precisava ser parada, mas ele também não era um ciborgue que seguia todos os comandos de Henry. — Nós arriscamos perder o elemento surpresa, — ele disse—poderia resultar nos alvos primários sendo isolados.

— Não seria melhor, — Henry disse, — Se nós não tivéssemos que agir contra esse alvos? Talvez uma demonstração seja tudo que precisamos.

Vasquez considerou a questão, percebeu que seu líder estava certo. Essa estratégia não era uma com a qual eles concordassem facilmente, era contra os princípios do PurePsy. Porém, era um fato atestado que aqueles que se adaptavam às diversas circunstâncias eram aqueles que sobreviviam. — Se nós vamos seguir o horário, devo voltar para as minhas tarefas.

— Vá. — Uma pausa. — Vasquez?

— Senhor?

— Você tem sido leal. Eu não esquecerei.

— Pureza irá nos salvar, senhor. — Os ancestrais de Vasquez antes dele haviam sido assassinos e sociopatas. Silêncio era sua salvação. — Eu vou organizar as coisas.

Todos, não importa sua localização ou raça, tinham um vizinho Psy, colega ou conhecido de negócios. Quando os PurePsy se erguessem dessa vez, não seriam somente os Psy que aprenderiam o significado do medo.



Trinta e oito



RIAZ saiu do barco em que ele e Adria embarcaram para chegar a Veneza depois que o jato pousou nas proximidades do Aeroporto Marco Polo, ambos carregando pequenas mochilas. Esta época do ano era temperada, o ar em torno deles escuro com o pôr do sol que se aproximava, a luz suave polindo a pedra antiga dos edifícios que permaneciam acima da linha da água.

Como resultado da mudança de nível das águas do mar Adriático, e um terremoto submarino que danificara as bases de madeira em que estava Veneza, grande parte da joia que era a cidade estava agora debaixo d'água, embora algumas de suas icônicas e graciosas pontes tenham sobrevivido, algumas permaneciam abandonadas no meio de largos canais. No entanto, em vez de afundar no esquecimento, Veneza permaneceu uma cidade vibrante e viva, como resultado de sua complexa rede de biosfera abaixo da linha d'água.

Os núcleos foram desenvolvidos por uma equipe de changelings estabelecidos na água e colocados em prática durante a última década do século XX. Um grande número de pessoas do BlackSea ainda chamava Veneza de casa, mas o lobo de Riaz achava a antiga cidade claustrofóbica, principalmente abaixo da superfície, onde a biosfera agia como, em sua mente, prisões cautelares.

— Eu sempre fui fascinada por Veneza. — Adria fez um círculo completo na estrada “flutuante” projetada para subir com a água, seus olhos absorvendo tudo com franca admiração. — É cheia de tanta história que você quase pode ouvir a cidade sussurrá-la para você.

Embora suas memórias de Veneza fossem dolorosas, era impossível não ser afetado pela profundidade contagiante da alegria dela. — Você deveria ver durante o Carnevale. — Foi um pouco antes do último Carnevale que viu Lisette pela primeira vez, e foi incapaz de impedir-se de procurá-la durante as celebrações.

De pé nas sombras criadas pela alcova de um edifício coberto de musgo, o rosto escondido por uma meia máscara, ele assistiu sua figura ágil girar nos braços de seu marido, ambos cheios da energia selvagem que vinha do belo caos do festival. Ela estava vestida de vermelho e preto, uma dançarina espanhola de flamenco transplantada em solo Veneziano, com seu cabelo dourado como o sol tingido de preto vivido.

— Está na minha lista. — A voz ligeiramente rouca de Adria invadiu seus pensamentos, muito diferente da voz soprano com sotaque francês de Lisette. — Juntamente com o Mardi Gras em Nova Orleans, a Trilha Inca, o Taj Ma... — Seus olhos se conectam com os dela, ela se interrompeu no meio do caminho, uma ligeira onda de cor em suas bochechas. — Desculpe, estou falando sem parar.

— Não, me conte. — Atingiu-lhe mais uma vez o quanto ele não sabia sobre ela, e se viu fascinado.

— Que tal você me contar, — ela disse em vez disso, inclinando a cabeça um pouco para o lado, enquanto eles desviavam para deixar as malas no hotel. — Esteve fora por um longo tempo. Conte-me sobre alguns dos lugares que você visitou, as coisas que viu.

Riaz passou a mão pelos cabelos, pensando. Apesar de ter se estabelecido na Europa, ele viajou pela Ásia e partes da África, teve aventuras que o emocionaram e o mudaram de diferentes maneiras. — Uma vez fui pego nas chuvas de monções na Índia, — ele disse, escolhendo uma memória que ele sabia que iria fazê-la rir, porque quando Adria ria... As margens dentro dele se suavizavam, doía menos. — A minha parte humana amou, mas meu lobo não ficou impressionado. — Ele estremeceu, como se estivesse jogando água para fora de seu pelo.

A risada de Adria demonstrava a diversão de seu próprio lobo, os finos traços de ouro em seus olhos brilhando à profunda luz alaranjada do sol poente. — Eu posso imaginar. Você conseguiu chegar ao Nepal, viu Kathmandu?

Ele balançou a cabeça. — Eu estava no caminho para lá quando fui chamado à Roma para cuidar de negócios do clã. — Ele conheceu Lisette não muito depois, e os meses que se seguiram o estraçalharam sem piedade, até que teve de ir para casa, para a toca profunda nas montanhas de Sierra Nevada, onde ele poderia lamber suas feridas cercado pelo calor de seu clã.

Ele ainda precisava daquele calor, daquela conexão, mas não sentia falta disso hoje, embora estivesse longe da terra de seu coração. Não era difícil entender por que, com Adria dando longas e felizes passadas ao lado dele, seu prazer em Veneza tão aberto e tão franco como o coração de sua loba.

Sem vínculos. Sem promessas.

No entanto, apesar do voto que fizeram, laços estavam se formando. Laços de amizade, de necessidade, de respeito. Mesmo quando essa relação terminasse, essas ligações permaneceriam. O lobo de Riaz estava pensativo sobre isso, mas não rejeitava a ideia de cara, Adria não era apenas clã agora, não era apenas uma amante com quem ele compartilhava privilégios de pele. Ela se tornara alguém que importava para ambos os lados de sua natureza, que fazia parte de seu próprio ‘clã’ pessoal de pessoas.

Dele para proteger.



BOWEN estava esperando por eles do lado de fora de um despretensioso edifício do século XVII meio submerso pelas águas que inundavam permanentemente a lagoa de Veneza, a ponte que já o ligara para outro edifício maior há muito tempo, tornando-o uma ilha no final da estrada, o brilho da água além. O líder da Aliança Humana estendeu uma mão. — Riaz, é bom vê-lo novamente.

— Bo. — Sacudindo a mão estendida, disse ele, — Esta é Adria.

O sorriso de Bowen mudou, para o tipo que um homem dá a uma mulher que chamou sua atenção. — Bem vinda a Venezia, Adria.

— Obrigada.

O afastamento frio de sua resposta fez Riaz perceber quanto tempo se passara desde que ele ouvira aquele tom vindo dela. O orgulho presunçoso de seu lobo fez seus lábios se puxarem para cima nos cantos.

— Entrem. — Bowen os conduziu através das portas do aparentemente pequeno edifício que abrigava os escritórios da Aliança, pelo corredor acarpetado a frente, e para um elevador.

Riaz avistou seis câmeras de segurança, cinco guardas óbvios, e pelo menos três escondidos que ele discerniu apenas por causa de seu olfato. Estava à cima de um sistema de alarme a laser e a recepcionista lindamente vestida tinha olhos de assassina. Ele sequer pensou antes de se posicionar de modo que Adria ficasse protegida pelo intenso volume de seu corpo. Viu seu olhar penetrante, captou o pequeno aceno de cabeça. Ao invés de lutar contra sua postura sutilmente protetora, ela focou a própria atenção sobre a cobertura dos pontos cegos dele.

— Esperando companhia? — ele perguntou a Bo, uma vez que estavam no elevador.

O outro homem encostou-se à parede, cruzando os braços sobre uma camiseta preta que dizia: — Só por que você é paranoico não quer dizer que eles não queiram pegá-lo. — A citação era divertida, a maneira como ele mostrava os dentes menos como um sorriso e mais como uma exibição selvagem semelhante à de um lobo. — Algo assim. Vamos conversar lá dentro, — ele disse enquanto as portas do elevador se abriam. — Eu pedi comida.

Entrar na parte da biosfera protegida de Veneza fez os ombros de Adria caírem em decepção, embora seus olhos nunca perdessem sua atenta vigilância. — Não é diferente da cidade acima do solo, — ela sussurrou em um murmúrio subvocal do qual ele teve de se inclinar para ouvir, a respiração dela como uma carícia em sua mandíbula.

— Seja paciente. — Ele sabia o que estava por vir, seu lobo tremendo de antecipação enquanto esperava para ver sua resposta.

— Aqui. — Bo abriu a porta.

Adria congelou na porta, os olhos arregalados.

— Mais parecido com o que você esperava? — ele murmurou no ouvido dela, empurrando-a para frente com uma carícia na parte inferior das costas.

Claramente cativada pela sala de reunião, que, à primeira vista, parecia suspensa sobre nada além de água, ela caminhou lentamente para dentro. O edifício Alliance ficava na orla da cidade, o que significava que era realmente possível ver a água batendo na biosfera de um número de salas no piso inferior. Localizada a um canto, com três paredes de vidro, esta era a mais magnífica, criava a ilusão de que a clara água azul-esverdeada tocava o vidro, quando a curva real da biosfera estava a muitos metros de distância.

Como se montando um show, um cardume de elegantes peixes prateados disparava pela água, suas escamas capturando a luz do sol lá de cima.

Sem dizer uma palavra, Adria atravessou o verde profundo do tapete para olhar pelas janelas e para a água. De perto, Riaz sabia que o ponto de vista era cortado no lado direito pelos restos de edifícios vizinhos que afundaram e se deterioraram antes da restauração, bem como pelas estacas de madeira em que estes edifícios uma vez estiveram, mas perfeitamente clara sobre o lado que era de frente para a lagoa.

— Ela é bonita pra caramba. — Bowen disse, o que soava como uma pergunta.

A resposta de Riaz foi instintiva. — Ela tem dono. — Nenhuma parte dele se importava que o acordo que fizera com Adria não lhe dava direito de posse.

— Bastardo sortudo, seja quem for. — Um olhar oblíquo.

Adria se virou naquele momento, a luz da água brincando sobre os ângulos perfeitos de seu rosto, a luz âmbar lançada de seus olhos uma indicação silenciosa do fascínio de sua loba por esta cidade estranha. — Eu ficaria insana vivendo aqui, mas para uma visita, sim, que visão!

— Você deveria ver durante uma tempestade. — Bo caminhou até a mesa de conferência já arrumada com sanduíches, água, frutas e biscoitos, apressando-os a tomar seus lugares. — Mesmos algumas pessoas que vivem e trabalham aqui não aguentam. A lembrança de que não há muito entre Veneza e o esquecimento corta até os ossos.

— Você gosta. — A voz de Adria descongelara uma fração, sua exuberante boca macia com o mais fraco dos sorrisos.

O rosto de Bowen se enrugou em um sorriso profundo em resposta. — Sim, ela é uma mulher deslumbrante, minha Veneza.

O lobo de Riaz se irritou com a sugestão de flerte na voz do homem, mas ele conseguiu a manter-se polido enquanto cada um pegava um pouco de comida. — Então, — ele disse, uma vez que todos tiveram a oportunidade de dar algumas mordidas, — por que a paranoia intensa?

Girando em sua cadeira, um biscoito na mão, Bo usou um elegante controle remoto preto para ligar uma imagem na tela de comunicação atrás dele. Era de um homem de meia-idade, um pouco rechonchudo e de aparência completamente inofensiva. — Um de nossos especialistas sênior em comunicação. — Ele largou o cookie em seu prato, sua mandíbula era uma linha dura. — Nós descobrimos faz duas semanas que os Psys o invadiram e o programaram.

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