Alfa: Lucas Hunter Curadora



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Descansado e acalmado pelo tempo que passou em San Diego antes de voltar para a toca em um voo matinal, com seus parentes e as crianças agendadas para chegar naquela tarde, Riaz ajudou a arrumar o sistema de som para a cerimônia, bem, na maior parte ele só carregou coisas enquanto os técnicos diziam a ele o que fazer. — Eu acho que eles estão gostando disso um pouco demais, —disse para Elias quando ele e o soldado veterano pausaram para tomar água.

— Com que frequência eles podem dar ordens a um tenente? — Elias sorriu... E quase caiu para frente quando um pequeno furacão o atacou por trás, envolvendo seus braços nas pernas dele.

— Papai!

Jogando sua garrafa de água para Riaz, Elias pegou Sakura, erguendo-a em seus braços. — Você quase me derrubou de cara no chão, bebê.

Sakura riu, seus finos traços pintados com as conhecidas marcas de uma princesa guerreira imaginária. — Neal estava me perseguindo. — Ela espiou sobre o ombro. — Lá vem ele! — Saindo dos braços de seu pai, ela correu pela esquina, braços e pernas pulsando com uma força que desmentia sua forma pequena.

Um garoto da idade dela deslizou correndo por eles um minuto depois, uma bomba de água verde fluorescente em sua mão.

Lobo se esticando com diversão, Riaz devolveu a garrafa de água à Elias. — Parece que as crianças começaram a festa cedo.

Ao invés de responder com gentileza, o soldado sênior encarava o ponto onde as crianças tinham desaparecido, sua expressão pensativa.

— Não se preocupe, — Riaz disse, pensando que Eli estava preocupado que o garoto machucaria Sakura. — Drew checou as bombas de água. Eles não atingem com nenhum impacto, só deixam a outra pessoa molhada.

— O quê? Oh. — Elias balançou a cabeça, passando uma mão por seu cabelo úmido de suor. — Não, não é isso. — Uma pausa enquanto bebia. — A coisa é... Eu não vejo aquele sorriso no rosto dela desde antes das queimaduras.

Atingido por um laser em um ataque dos PurePsy, Elias sofreu feridas tão severas, que estava em choque quando chegou à enfermaria. Pequena Sakura ficou desconsolada, era a menina dos olhos do pai dela, sua tristeza mais mordaz por ser tão silenciosa. Ela era essa criança solitária de olhos grandes, chocada, e tinha partido o coração do clã por vê-la assim.

Riaz sabia que tanto Eli quanto sua companheira Yuki continuavam se preocupando com o impacto de longa duração do trauma em sua filha. — Vai levar tempo, — disse, sua mente em outra criança, outro pai, — Mas ela vai superar. Crianças são mais duronas que os adultos pensam

Elias encontrou o olhar dele. — Você parece ter certeza.

— Meu pai fora gravemente ferido na briga em que Garrick morrera. — Seu pai, professor, sabia que não tinha nenhuma chance contra os dominantes que tinham se transformado, mas ele ficou firme, defendendo os inocentes. — Realmente me chocou. — Ele não gostava de pensar sobre isso, mesmo agora. — Porque pais não devem se machucar, sabe? A melhor coisa que meus pais fizeram foi não mimar nem superproteger meu irmão e eu depois, a normalidade nos ajudou a nos reestabelecer. — E mesmo como um garoto, ele sabia que fora sortudo, muito sortudo.

Riley perdera seus pais.

Hawke perdeu seu pai... E não muito depois, sua mãe.

Tantos outros amigos foram deixados órfãos ou com só um dos pais.

— Só a ame, — ele disse. — É tudo que ela precisa.

— Eu nunca vou esquecer como a toca era na época, quando tudo acabou. — Frias sombras passavam pelos olhos de Eli. — Quão sobrenatural, o quão quieto. Tantos dos fortes estavam mortos. Eu era novato na época, e aterrorizado de que o clã fosse desabar em torno de nós.

Mas os SnowDancer não se partiram. Ficaram mais fortes. Até que essa noite eles celebrassem o acasalamento do garoto que desistiu de sua infância para liderar o clã contra a escuridão. Nada nem ninguém, Riaz pensou, seu próprio lobo feroz em sua lealdade, nunca iria abalar a lealdade do clã a Hawke. — Vamos lá, — ele disse para Eli, — Os megalomaníacos chamados técnicos estão gesticulando para nos apressarmos.

Foram duas horas depois que o outro homem disse, — Pronto! Não sei quanto a você, mas eu apreciaria uma cerveja.

Pegando a camiseta que tirara mais cedo, Riaz a usou para secar seu rosto enquanto assentia. Ele passou a camiseta por trás de seu pescoço enquanto eles deixavam o Círculo do Clã, e não estava realmente prestando atenção quando um grupo de fêmeas passaram por eles, carregando pequenas caixas cheias de decoração.

Até que um assobio lupino perfurou o silêncio.

Olhando para trás, ele se encontrou sendo observado por uma bela mulher de olhos escuros e cabelos loiros cacheados que iam até o meio de suas costas. Ela apoiou a caixa em seu quadril, seus seios fartos empurrando contra o algodão de sua camiseta azul militar, seu sorriso um convite. A maioria dos machos de sangue quente teriam fechado a distância entre eles para aceitar, mas Riaz balançou a cabeça com um sorriso gentil para suavizar a rejeição, e continuou em seu caminho.

Elias não disse nada até que eles passaram da área densamente florestada imediatamente em volta do Círculo do Clã, e para uma sessão que estaria vazia se não fosse por eles. — Você já tem um encontro?

— Não estou interessado. — Seu lobo mostrou os caninos afiados como navalha, porque as palavras eram uma mentira. Havia uma mulher que o interessava muito mais.

Uma pequena pausa. — Você... É... Joga no outro time?

Riaz parou, encarou. — Mas que diabos, Eli?

Elias deu de ombros, inabalável. — Fato é que, as mulheres estão começando a se perguntar por que você as recusa quando é óbvio que precisa dividir privilégios de pele. E não atire em mim, mas estão fazendo à Lara umas perguntas bem diretas, também.

— Ótimo. — Riaz agarrou as pontas de sua camiseta, girou. —Meu pau está fixado numa mulher que faz meu sangue ferver — Uma fixação que continuava jogando Lisette para trás — E o clã acha que eu sou ou gay ou incapaz. — Ele não sabia se rosnava de raiva ou se quebrava algo.

— A que você quer — curiosidade aberta — ela está na toca?

— Não importa. — Ele não permitiria isso, independente do fato de que acordara com uma ereção rígida como pedra essa manhã, sua mente cheia com a voz rouca e o gosto erótico da mulher que ele quase fodeu contra o metal frio da porta de um carro.

— Okay. — As palavras geniais de Elias quebraram a intensidade de seus pensamentos. — Embora você devesse saber, sinto que um grande número de mulheres solteiras estão planejando te emboscar essa noite e obter uma resposta, de uma vez por todas.

— Eu deveria ter previsto isso. — Era um forte, elegível macho sem uma parceira. Seria mais surpreendente se ele não fosse emboscado de brincadeira. Também era dominante o bastante para assustá-las, mas só porque ele estava em uma merda de humor não queria dizer que quizesse arruinar a noite das mulheres que só estavam se comportando como suas naturezas ditavam. — Por que diabos eu voltei para a toca? — Foi um rosnado.

Elias deu um tapa nas costas dele. — Você sabe que nos ama.

É, ele amava. Então engoliu sua irritação e frustração, e dançaria todas as danças se fosse preciso, cada uma com uma parceria diferente, para que ninguém pensasse em reivindica-lo.

A única com quem ele não dançaria era Adria.

O envergonhava até a alma, destruindo tudo que achava que sabia sobre si mesmo, mas ele não tinha certeza se poderia tocá-la sem jogá-la na terra e arrancar-lhe a calcinha para se empurrar no aperto escaldante de seu corpo.



Quinze


Hawke captou um cheiro inesperado na brisa quando saiu com Judd, querendo tomar um ar fresco após a conferência que acabaram de ter com Lucas, Sascha, Nikita, Max, e Anthony. Era a segunda vez na semana que todos eles se conectavam, incomum para sua estranha aliança, mas necessário, dado a volatilidade da PsyNet.

Tornou-se perigoso o bastante para que ambos, Nikita e Anthony, fizessem planos de contingência caso fossem assassinados. Pela primeira vez, ele se encontrou sentindo um relutante respeito pelos Conselheiros, os dois consideraram o impacto de suas mortes não somente para seus negócios, mas também para as pessoas que contavam com eles para sua estabilidade. Ele nunca iria confiar ou gostar de nenhum dos dois, não quando sabia quanto sangue eles tinham em suas mãos, mas aceitou a necessidade de trabalhar com esse inimigo em particular para proteger os SnowDancer e a região.

Não era um cenário que ele teria antecipado sequer um ano antes, mas não iria pensar mais nisso hoje. Essa noite, era sobre sua companheira e seu clã. Sobre lobos e jogos. Risada e afeição.

Aquele cheiro novamente.

— Alexei está aqui? — Seu mais novo tenente queria comparecer à cerimonia, mas Hawke vetou o pedido. Enquanto nenhum dos setores fora do território da toca tivessem sido alvos ainda, os SnowDancer não podiam arriscar reduzir a segurança nessas regiões, e não era somente com os Psys que eles tinham de se preocupar. O setor de Alexei estava na borda, na fronteira com Oregon, perto da terra de um grupo muito menor de lobos, porém agressivo.

Judd deu um olhar inescrutável a ele. — Ele não está agendado para chegar até o próximo mês. Nós discutimos isso na reunião de tenentes.

— Eu sei, mas eu poderia jurar... — Balançando a cabeça, ele passou uma mão pelo cabelo. — Onde Riley disse que nos encontraria?

Judd acenou para a água cintilando através das árvores, o sol reluzindo em brilhantes focos de prata e cobalto. — Na clareira do outro lado do lago. Disse que queria um tempo longe da insanidade lá dentro.

Seu lobo nada feliz com o erro sobre o cheiro, mas disposto a deixar para lá, ele continuou a caminhar ao lado de seu tenente, um homem que, como resultado de suas incríveis habilidades durante a batalha em San Francisco, agora tinha um fã clube completo com camisetas e broches gravados com — Eu ♥ Judd— e — Judd é meu namorado—.

No curso normal dos eventos, civis não teriam chegado à qualquer lugar perto do ex-Arrow, mas foi impossível evacuar a cidade inteira devido ao ataque PurePsy. Seu nome, pelo menos, deveria ter ficado oculto, mas um número de jornalistas intrépidos arriscaram sua vida e membros para cobrir a batalha, e um deles ouviu os outros lutadores chamando Judd, e revelou isso em seu artigo. — Brenna te mostrou o site?

— Sim. — Um murmúrio sombrio.

O lobo de Hawke uivou de rir, pensando no estoque secreto de camisetas e broches — Eu ♥ Judd— que Drew comprara para todos usarem na próxima reunião de tenentes. — Estou pensando em torna-lo meu novo relações públicas.

— Odiaria deixar minha sobrinha viúva tão cedo, — foi a resposta fria.

— Ouvi que as mulheres estão postando o número de telefone delas para você. — Acompanhados por vídeos e fotos sexys.

Os olhos de Judd brilharam. — Não depois de Brenna hackear o site e fixar uma mensagem na página inicial apontando que eu sou muito felizmente acasalado com uma loba com dentes afiados, garras pontudas, e um caso selvagem de ciúme irracional. — Um pequeno sorriso que era inconsciente, silenciosamente satisfeito. — Ela também postou umas fotos macabras de mortes causadas por lobos selvagens.

Hawke sorriu orgulhoso, ele não esperava nada menos. — Essa é minha garota. — Sentindo outro cheiro, ele parou. — Maldição, esse era Matthias.

Judd o observou sem piscar, o perfeito Arrow sem expressão. —Você dormiu direito?

— Engraçadinho. — Rosnando baixo em sua garganta, aumentou sua velocidade. — Jem. Kenji. Cooper — E de repente, ele estava em uma clareira cheia com seus tenentes, machos e fêmeas, desde o mais jovem ao mais experiente, de todos os setores do território SnowDancer.

Uma algazarra aconteceu devido a sua entrada, e então ele estava sendo abraçado, recebendo tapas nas costas, e até sendo beijado. — Eu beijaria essa boca bonita, — uma Jem sorridente disse, tocando a bochecha que tinha beijado, — mas ouvi dizer que sua companheira é uma mulher possessiva.

Ele não estava com humor para rir. — Que diabos vocês todos estão fazendo aqui? — Seus homens e mulheres nunca desobedeceram suas ordens tão abertamente.

— Relaxa, chefe, — Tomás disse com sua irreverencia de sempre. — Nós viemos usando nossas melhores habilidades de espreitar para ficar sob o radar, ninguém vai sentir nossa falta por uma noite. Todos nós temos pessoas em quem confiamos no comando e — ele ergueu um telefone via satélite — Nós estamos em contato constante com nossos setores.

— Com, — Riaz adicionou, erguendo seu próprio telefone, —Judd, Riley, Indigo e eu agindo como reforço duplo no caso de haver alguma emergência.

Hawke olhou para Riley. — Eu assumo que WindHeaven está fazendo turnos de voo de patrulha sobre o território? — Seus tenentes eram muito espertos para não usar cada recurso disponível a eles.

— Eu disse que ele ia descobrir. — Alexei sorriu aquele sorriso de supermodelo dele, como Tomás uma vez descreveu... Bem antes de Alexei dar um olho roxo à ele. — Nós tínhamos que estar aqui. Você pode gritar e nos expulsar, mas nós vamos dar de ombros e voltar.

Kenji, seu cabelo tingido de um roxo escuro e com minúsculas estrelas douradas, assentiu. — Nós somos como cupins, você não pode se livrar de nós.

Ele era alfa, sua palavra era lei. Ele também sabia quando era derrotado.

Envolvendo um braço em torno da pequena forma de Jem, a apertou ao seu lado, seu lobo cheirando o dela em boas vindas. Ter a lealdade de homens e mulheres de corações tão fortes era uma dádiva, mesmo que isso significasse que ele teria de encarar ocasionais desafios à sua autoridade. E esse desafio em particular... Mostrava uma profundidade de amor que qualquer alfa seria dificilmente pressionado a repudiar. — Eu acho que é melhor encontrarmos um lugar para vocês dormirem.

Cooper bufou, o suave mogno de sua pele atravessado por uma cicatriz denteada no lado esquerdo de seu rosto. — Quem planeja dormir?

— Não eu. — O sorriso de Tomás era contagioso. — Pretendo dançar até o amanhecer, esperançosamente com a lobinha sexy que eu vi mais cedo, então ir pra casa antes que qualquer um perceba que eu saí.

— Acho que mulheres solteiras são a melhor escolha para você, mi amigo, — Matthias disse com um sorriso, um braço em torno de Indigo onde ela se inclinava contra o corpo musculoso dele. — Mas não se preocupe. Tenho certeza de que as avós irão apreciar sua companhia.

Virando-se na direção do tenente, Tomás balançou a cabeça, sua expressão falsamente solicita. — Eu teria cuidado se fosse você, Drew pode te arrebentar de novo se ouvir que você esteve tocando a Indy dele. Ele não arrebentou sua cara na última vez?

Indigo deu tapinhas no braço de Matthias. — Eles se reconciliaram.

— Houve beijos? — Tomás perguntou, batendo as mãos sobre seu peito. — Eu não acredito que você não me convidou.

Tendo se aproximado, Jem segurou seu rosto entre suas mãos e o beijou. — Pronto, Tommy.

Foi a primeira vez que Hawke viu Tomás sem palavras. Todos os outros caíram na risada.

O lobo de Hawke mostrou os dentes em um sorriso feliz, fazia anos desde que alfa e tenentes estiveram todos reunidos no mesmo lugar, e merda, isso era bom. Ele sabia que seria bom para o clã também, uma silenciosa declaração que os SnowDancer não estavam assustados ou acovardados por seus inimigos, fugindo e se escondendo.

Eles eram lobos. E eles eram fortes.

Dezesseis

O Conselheiro Kaleb Krychek se desligou da PsyNet e voltou para seu corpo físico onde estava de pé na borda da sacada de sua casa, nos arredores de Moscou. Aquela sacada não tinha cercas, e o desfiladeiro abaixo, envolto no véu da noite nesse lado do mundo, era puro, sinalizando morte para qualquer coisa que não pudesse voar... Ou teleportar.

Suas pálpebras se abaixaram, levantaram-se novamente.

Sua habilidade de se teleportar para indivíduos não significava nada, não nessa situação em particular. Por alguma razão, ele não podia se teleportar para a pessoa da qual ele passou anos aprendendo a conhecer, a entender. Abrindo seu olho psíquico novamente, ele considerou os caminhos que já tinha atravessado. Estava chegando perto, isso era indiscutível. A única pergunta era se ele seria rápido o bastante para...

Conselheiro.

Mudando seu foco para a saudação mental, deslizou de volta para sua mente e novamente para a PsyNet, dessa vez desprovido dos escudos que o tornavam invisível. — Silver.

A mente de sua assessora era clara como cristal, com nenhuma das finas rachaduras que sinalizavam condicionamento quebrado ou comprometido. — Senhor, — ela disse. — Minha família não perdeu seu contato dentro do PurePsy na luta com os changelings, e seu comunicado mais recente deixa claro que o grupo está se agitando novamente.

— Foi o que pensei. — PurePsy tinha sido gravemente danificado, mas não destruído pela fria violência do fogo X de Sienna Lauren combinado com uma feroz força de luta dos changelings, humanos e Psy.

Uma mistura incomum.

Kaleb assistiu de longe, medindo o que o esforço do grupo significava para o futuro não somente de sua raça, mas para o mundo.

— O novo objetivo deles? —perguntou.

— Não identificado. A informação está sendo comunicada a um seleto número de indivíduos somente se necessário. O único fato que o nosso contato foi capaz de confirmar é que eles mudaram sua atenção dos changelings para a Net.

Kaleb considerou a mudança radical. Depois da derrota decisiva que os PurePsy sofreram, fazia sentido o grupo repensar seus objetivos, mas tinha que ser mais que isso. Fanáticos não pensam logicamente, e PurePsy era uma construção de fanatismo absoluto, não importando o que seus aderentes dissessem a si mesmos sobre a pureza de seu Silêncio.

O mais provável era que, os membros tenham decidido que todos que não apoiaram o ataque do grupo aos changeling eram inimigos, incluindo aqueles de sua própria raça. — Obrigado, Silver.

— Senhor. — Sua presença móvel partira, uma estrela cadente.

Kaleb encarou o desfiladeiro no plano físico, mas no psíquico, ele estava alcançando a DarkMind. O que você ouve? O que você vê?

A quebrada, retorcida neo-sensciência, criada de todas as emoções que os Psy se recusavam a reconhecer, muito menos sentir, se enrolou em torno dele, um animal de estimação querendo afeição. Exceto que não era um animal, e sim um pesadelo, e Kaleb não entendia o conceito de afeição. Ainda assim, ele conseguia imitar bem o suficiente para acalmar a DarkMind.

A neo-sensiência o mostrou mentes perturbadas, áreas da Net perturbadas, mas Kaleb viu isso pessoalmente, monitorou o assunto 8-91 em uma base continua. PurePsy, ele disse, refinando os parâmetros de pesquisa.

A DarkMind não tinha nada de novo para mostrar sobre o tópico.

Então, Silver estava mais certa do que pensava, os PurePsy estavam mantendo todas as informações sobre seus novos planos sob proteção mental e psíquica. Isso significava que seus membros tinham que estar limitando suas comunicações para telepatia ou encontros pessoais. Lento... Mas uma proteção excelente para assegurar que ninguém descobrisse seu objetivo até que fosse tarde demais.



Dezessete



Sienna olhou-se no espelho, espantada pela mulher que a olhava de volta. Tudo que ela tinha comprado nos últimos anos, ela tinha adquirido em expedições de compras com os amigos. Mas não o vestido que usava hoje. Assombrosamente consciente de que essa noite, quando ela reivindicasse publicamente seu lobo e fosse reivindicada também, ressoaria em sua alma pelo resto de sua vida, ela precisava que isso fosse uma coisa privada.

Escolhera o design sozinha, pesquisara e adquirira o tecido verde esmeralda, cortara o modelo usando o molde, então pedira a Tarah que costurasse para ela. O resultado era de tirar o fôlego. Feito de um material sedoso que acariciava ao invés de se agarrar, ele tinha tiras que cruzavam seu peito antes de se curvar em torno de seu pescoço em uma curva, e uma graciosa saia fluida que chegava até seus tornozelos. Extremamente elegante, menos a fenda escondida de um lado que ia até o meio de sua coxa somente se ela se mexesse de um certo modo.

Fazia-a se sentir jovem e sexy, bela e graciosa, ao mesmo tempo.

Para seus pés, ela escolhera nãosaltos respeitáveis, mas botas muito desrespeitosas que chegavam até suas coxas, as mesmas que ela usou na noite que Hawke a carregou pra fora do Wild. Aquela foi a noite que eles dançaram sua primeira dança, uma dança que ela nunca esqueceria.

Seu cabelo ela deixou solto, porque seu lobo preferia desse jeito.

Aquele lobo agora rosnava. — Vem aqui pra eu dar uma mordida.

As suas coxas se apertaram. — Se comporte. — Ele estava lindo em uma camisa preta formal e calças, seu cabelo e olhos brilhantes, mas ela tinha outra coisa em mente. — Eu comprei um presente para você.

Um lento sorriso lupino. — Eu tenho um para você, também. — Fechando a pequena distancia entre eles, ele a fez esticar a mão, palma pra cima.

— Oh, — ela disse em deleite, — O que você comprou? — Os brinquedos intrincados que ele deu durante a corte eram um dos bens mais preciosos para ela.

Quando ele colocou o brinquedo mecânico antigo em sua palma, ela parou de respirar. Era uma minúscula representação de um átomo completo, com bolas coloridas representando nêutrons, prótons, e do lado de fora, presos a arcos de finos fios, elétrons. Virando a chave no lado que fazia os elétrons se moverem, o que ela achou que fossem bolas na verdade eram esferas esculpidas em vidro que brilhavam coloridas.

Um brilhante, bem pensado, maravilhoso presente para uma pessoa formada em física.

Olhos ardendo, ela engoliu. — É perfeito. — Ainda a chocava de vez em quando, como ele se lembrava das coisas que importavam para ela, mesmo quando ela não achava que ele estava prestando atenção. Outro dia, um livro tinha aparecido no seu leitor, que ela somente mencionara que queria.

Ele esfregou as costas de sua mão sobre a bochecha dela, como se entendesse exatamente o que seu cuidado significava para ela... Então percebeu que ele entendia. O elo de companheirismo os conectava num nível que era tão selvagem quanto o coração do lobo.

— Por que magnésio? — ela perguntou, identificando o número atômico do metal leve.

Sua mão na mandíbula dela, a boca dele na dela. — Porque é lindamente explosivo, assim como a minha X.

Seu coração pulou uma batida. — Eu gosto do jeito que você me trata, também. — O modo como a fazia sentir como se seu fogo gelado fosse um dom, não uma maldição.

Colocando o presente na mesinha quando o relógio bateu, ela pegou a caixa que tinha colocado na cadeira em frente a ela. — Isso é para você. — Nervos à flor da pele. — Se você não gostar tudo bem, —disse enquanto ele tirava o laço com impaciência masculina e abria a tampa para revelar o conteúdo.

Silêncio.

— Eu posso mandar de volta, pedir outra... — O beijo dele tirou o fôlego dela, tirou suas palavras, teria roubado seu coração se já não pertencesse à ele.

Tocando seus lábios inchados com os dedos, seus seios se apertando contra o corpete de seu vestido, ela o observou colocar a caixa de volta na cadeira e tirar sua camiseta, expondo o belo peito que ela lambeu e chupou no chuveiro não muito tempo antes, seu companheiro conseguia ser paciente agora que a ansiedade passara, embora paciência fosse algo relativo.

Ela acabou sendo presa contra a cerâmica molhada, suas pernas enroladas em torno do quadril dele. Acariciando-a com possessividade preguiçosa, ele a acariciou lenta e profundamente até que ela explodiu em uma chuva de prazer. Ainda assim seu corpo pulsava por ele novamente, a memória sensorial de se esfregar contra o peito dela sensibilizando seus mamilos a ponto de doer.

As narinas de Hawke se alargaram, mas ele não parou o que estava fazendo.

Jogando sua camisa na cama, ele vestiu a que ela passara horas e horas procurando online. Quando ele ergueu suas mãos para os botões, ela se aproximou. — Eu faço isso. — Ela não conseguia evitar beijar cada polegada rígida e musculosa antes de cobri-las.

Sienna.

Um arrepio cobriu sua pele ao som daquela profunda voz rouca. — Nós não podemos nos atrasar para a nossa própria cerimônia.

Puxando a cabeça dela pra trás, ele mordeu seu lábio inferior, seus olhos azuis lupinos. — Eu vou colocar na sua conta.

— Ou talvez eu coloque na sua, — ela disse, dando-lhe um pequeno arranhão com suas “garras”.

— Eu prometo que pagarei. — Sua mão livre, possessiva e quente, na curva do quadril dela. — Com juros.

Fechando o ultimo botão, ela resistiu ao impulso de desfazer seu trabalho e se afastou para assisti-lo colocar a camisa em suas calças e arrumar seu cinto. Havia algo intensamente erótico em ver seu homem se vestir, e Sienna tinha a impressão de que isso nunca mudaria. Não com Hawke.

— Então? — ele disse.

Ela arrumou a gola. — Você está muito bonito.

— Já é minha camisa favorita. — Hawke se lembrava de ver Lucas em uma camiseta que combinava perfeitamente com a cor de seus olhos não muito tempo atrás, e sentir a pontada de inveja por saber que a companheira do alfa leopardo tinha comprado para ele. Ele achara que a beleza selvagem de tal ligação estava para sempre perdida para ele.

Agora, ele estava sendo acariciado por uma mulher que tinha, de alguma forma, conseguido encontrar uma camisa que combinava com o tom incomum de seus próprios olhos, os fios azuis árticos tão finos, que era como usar um beijo contra sua pele. O beijo de Sienna. — O que você vai me comprar para o meu aniversário? — Ambas as partes dele admiravam seu reflexo, seu cabelo quase brilhando contra o fundo azul.

— Não seria surpresa se eu te contasse, — foi a resposta astuta.

Deliciado com ela, roubou-lhe outro beijo antes de entrelaçar seus dedos nos dela. — Preparada?

— Sim. — A menor alteração na respiração dela. — Sei que esses eventos seguem seu próprio ritmo, mas você tem alguma ideia do que nós deveríamos esperar?

— Boa chance de que os tenentes iniciem com um discurso. — Hawke olhou pra baixo, vislumbrou o couro sintético preto da bota dela através da fenda, e se lembrou daquela noite quando se permitiu pela primeira vez segurá-la, embora tenha sido uma tortura fazer somente aquilo e nada mais. — Então nós dançaremos e celebraremos. — Normalmente, Hawke seria aquele que falaria primeiro em qualquer cerimônia de acasalamento ou ligação, deixando o novo casal saber que sua ligação era aceita e bem vinda. O impacto daquele momento era luminoso, algo inexplicável, mas poderoso acontecendo entre um alfa e seu povo.

— Dançar a noite toda comigo? — Sienna perguntou enquanto eles saíam da toca para caminhar até o Círculo do Clã.

Ele gostava da sensação do vento jogando o vestido dela contra suas pernas, o suave calor dela uma carícia familiar sob a mão que tinha posicionado nas costas dela. — Eu sei que Tomás está planejando roubar uma dança, e Drew já reivindicou uma.

— Você está rescindindo a regra de não tocar por essa noite? — Era uma provocação risonha.

— Desde que não haja bebês felinos por aqui, sim. — Seu lobo rosnou ao lembrete da amizade dela com Kit. — Mas, falando nisso, — Não dando qualquer aviso à ela, a mordeu na pele nua de seu ombro direito.

— Hawke! — Enfiou uma mão no cabelo dele, descobriu que ao invés de afastá-lo, estava prendendo-o a ela enquanto ele lambia a marca com uma sensualidade derretida que fazia seus dedos dos pés se curvarem.

— Pronto, — murmurou, fendas de azul gelo visíveis entre pálpebras caídas. — Agora todos sabem que você é minha. — Outra lambida possessiva.

Pulsação bombeando contra sua pele, ela riu. — Como se eles tivessem alguma dúvida.

Um sorriso satisfeito, e muito alfa, em seu rosto, ele colocou sua mão sobre as costas dela novamente e continuaram seu caminho. — Eu vou permitir que o clã te monopolize até meia noite — um murmúrio baixo que era uma carícia rude contra sua pele — Então nós iremos dançar até que o sol apareça.

Coração quebrando com a beleza da promessa de seu companheiro, entrou no Círculo do Clã com ele.

A alegria que partia o ar era ensurdecedora. Sorrindo, Hawke a guiou até onde seus tenentes esperavam, em frente a uma multidão que incluía cada membro da população da toca, exceto pelos poucos em ronda de segurança.

Matthias ergueu os braços para silenciar o clã, mas cedeu o espaço à Riley uma vez que tinha a atenção da multidão. O tenente mais antigo de Hawke deu um passo à frente e, segurando o rosto de Sienna em suas mãos, disse uma única e simples palavra, — Bem vinda.

O uivo que se seguiu na clareira era multi harmônico e alegremente estridente, um som que era um presente. Ligado como ele estava à Sienna, Hawke sentiu sua maravilhosa impressionada e sabia que ela não percebia a importância do ato.

— Eles estão te recebendo, — sussurrou-lhe, seu peito vibrando com a necessidade de adicionar sua voz ao som, — não como minha companheira, mas como a companheira do alfa deles. — A distinção era importante, e quando a luz do sol incontida brilhou no rosto dela, ele soube que ela entendera.

Um ruído de risada e sussurros soou no último eco da harmonia, e de repente, eles estavam de frente com filhotes. Tarah estava discretamente posicionada ao lado, onde os mais novos conseguiam vê-la. Um gracioso agitar de sua mão e as crianças começaram a cantar, suas vozes altas e doces e cheias de uma inocência frágil como vidro.

Ele viu pela surpresa no rosto de Riley que as crianças conseguiram manter isso em segredo. O coração de seu lobo disparou com orgulho. Puxando a mão de Sienna para o lado dele, olhou para baixo para ver um brilho iridescente sobre o céu noturno do olhar dela. Sua prima, Marlee, estava entre os cantores, assim como seu irmão, Toby, ainda jovem o bastante para não se importar a se juntar às crianças, mas velho e esguio o bastante para encontrar um espaço bem no fundo. Ele segurava uma menina gordinha em seus braços, seu canto entusiasmado, se não totalmente coerente.

Foi no coro final que sua companheira o surpreendeu, adicionando sua voz com uma graça brincalhona que deliciou as crianças. Depois, mãos ligadas, os filhotes se curvaram rindo enquanto aplausos estrondosos enchiam a clareira. Quando uma menininha escapou em pernas instáveis para ziguezaguear até Hawke, ele a pegou no colo e recebeu um beijo babado e de olhos brilhantes.

Sorrindo, ele a entregou para seu pai risonho, seu vestido rosa amassando contra o braço bronzeado de seu pai. — Essa aí vai te dar trabalho.

— Ela é a paqueradora do berçário, — o outro homem disse, batendo no nariz do filhote em reprovação amorosa.

Foi uma fêmea muito mais elegante que se aproximou depois, seu pequeno corpo coberto num vestido de seda amarelo que ia até os tornozelos, seu brilhante cabelo preto em um coque bem feito. Nell representava não somente as maternais, mas todos os SnowDancer que não se identificavam como dominantes. Em seus braços ela segurava uma colcha, o artesanato requintado. — Cada família na toca contribuiu com uma peça à isso, assim cada bloco é único. — Ela entregou o presente precioso a Sienna.

Alcançando outra fêmea maternal, Nell aceitou o que parecia ser um tapete à moda antiga. — Nós criamos isso com fios enviados pelas famílias de todo o território. — Isso, ela colocou nos braços de Hawke, pressionando seus lábios na bochecha dele antes de virar-se para Sienna, o marrom evocativo de seus olhos puxados brilhando com afeto. — Você é amada, e você é nossa.

Entregando os presentes com o cuidado que eles mereciam, Hawke e Sienna os entregaram aos cuidados dos dois anciãos que estavam com eles. Um momento depois, silencioso, geralmente reservado, Alexei se aproximou e se inclinou para beijar a bochecha de Sienna, uma forte mão segurando seu ombro esquerdo. — Bem vinda. — O cabelo do jovem tenente brilhou dourado nas luzes coloridas penduradas por todo o Círculo do Clã quando ele se virou para Hawke e começou a jurar sua fidelidade.

Era um incremento inesperado, mas Hawke respondeu automaticamente, cortando sua palma com a faca que Tomás jogou para ele, para que uma única gota de seu sangue caísse na mão aberta de Alexei.

Sienna observou, calma como um lago parado, mas ele conseguia sentir a tensão dela pelo elo de companheirismo. Ele se esqueceu de explicar à ela, porque tinha sumido de sua mente, que quando um alfa acasalava, ou se ligava a um parceiro permanente, seus tenentes tinham que reafirmar sua fidelidade. Era uma diretiva feita para proteger o clã se um alfa escolhesse uma mulher que o clã não conseguia confiar ou respeitar, porque mesmo o mais poderoso lobo não poderia governar sem a lealdade de seus membros mais fortes do clã. Em tal situação, o clã inevitavelmente se partia, o antigo alfa partia com seus apoiadores.

A ligação de Hawke com seus homens e mulheres era tão forte que ele nem sequer pensara nessa possibilidade.

Alexei fechou sua mão sobre a gota de sangue e se afastou, o momento solene... Até que ele piscou para Sienna. Hawke sentiu a tensão dela se desfazer, bem antes de ela ser erguida de seus pés e beijada na boca por Matthias, suas mãos assustadas voando para pousar nos braços do tenente que era constituído como um tanque.

Hawke rosnou. — Cuidado.

Um sorriso impenitente marcando o suave e bronzeado rosto que seduzia muitas mulheres, Matthias colocou Sienna novamente sobre seus pés. — Se ele te perseguir por um corredor novamente, docinho, você sabe para quem ligar.

Sienna sorriu também. — Eu acho que preferiria ser pega.

Então Matthias estava na frente dele, jurando sua fidelidade. E então isso continuou até que todos os dez de seus tenentes tivessem completado a tarefa. Cada voto era diferente, porque não haviam palavras programadas para isso. Era somente o significado que importava. A lealdade. Um suspiro de felicidade passou pelo Círculo do Clã quando Riley fechou sua mão sobre a gota do sangue de Hawke.

Estava feito.

Seu clã aceitava tanto sua companheira quanto sua ligação. Não somente aceitava, ele pensou quando outro uivo multi harmônico se seguiu, mas celebrava. Desta vez ele não resistiu, e puxando Sienna contra seu peito, jogou sua própria cabeça para trás para cantar, sua mão cortada fechada firmemente em punho para parar o fluxo de sangue. Contra ele, conseguia sentir o sangue de sua companheira vibrando com a beleza da música, o fogo selvagem dela cegante através de sua ligação.

Quando Tomás a puxou para uma dança, Hawke não protestou. Possessivo como era, seu lobo entendia que Sienna pertencia ao Clã também, e que eles entregariam suas vidas por ela. Não queria dizer que ela teria uma jornada fácil quando se tratava de fazer seu lugar nos SnowDancer, mas esta noite, seus lobos diziam à ela que sabiam que ela era a companheira certa para seu alfa, independente de sua idade e inexperiência. Eles ficariam ao lado dela enquanto ela crescia em sua força.

Era um presente para o coração de Hawke.



Dezoito


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