Adria se curvou com um tremor, suas mãos em seus joelhos, depois de Riaz ter desaparecido na direção oposta. Parecia que seu corpo queria explodir de sua pele, rasgado pelo caos das necessidades e desejos concorrentes. Quando Riaz a tocou, ela quase se derreteu contra o calor rude de seus dedos, apesar de todos seus votos pelo contrário, seu corpo já condicionado a esperar o prazer selvagem.
Inalando outra respiração trêmula, tomou um desvio em sua descida à toca, seguindo um caminho antigo que, se sua memória não falhasse, guiava à uma pequena cachoeira escondida. Ela a encontrou quando era pequena, e se tornou seu lugar secreto, aonde vinha pensar sobre decisões importantes, ou para satisfazer sua frustração e temperamento.
Um sorriso puxou seus lábios. Deus, fôra uma criança tão séria, tão temperamental. Conforme crescia, aquela selvageria de emoção maturou para uma intensidade silenciosa de paixão contida e calma.
Você é magnífica e eu mal posso esperar para aprender tudo à seu respeito. Palavras que Martin lhe dissera durante seu primeiro ano como casal.
Seu sorriso se desfez em uma tristeza tão profunda que se acumulou em seu peito, um caroço denso. Mesmo a visão de “sua” cachoeira, pequena, secreta e efervescente, não melhorou seu humor. Sua mente estava com a mulher que ela fôra, tão preparada para começar o que pensou ser a próxima fase de sua vida, com um homem que acreditou que caminharia ao lado dela conforme os dois mudassem e crescessem. E pela primeira vez desde que tomou a decisão de terminar o relacionamento, sua raiva foi lavada em tristeza.
O Martin que ela conheceu não era o homem distante que tão frequentemente mostrava, como se fossem estranhos, um homem secretamente desconfortável em situações sociais. Ele era tão doce quando estavam sozinhos, um senso de humor perverso e um jeito de olhá-la como se ela fosse a mulher mais atraente do mundo. Não somente isso, mas ele celebrava suas conquistas, assim como ela celebrava as dele.
Levou-o para jantar em um restaurante fino quando ele ganhou seu doutorado, e estranho à cozinha como era, ele uma vez colocou um avental e fez um bolo quando ela completou um curso de treinamento particularmente extenuante. O bolo havia desmoronado no meio e estava cru nas bordas mas estava maravilhoso. Eles riram e se embebedaram com champanhe barato, comendo tanto bolo que solenemente juraram — Nunca, nunca mais.—
Aquilo era o que ela tentara salvar por tanto tempo, incapaz e indisposta a acreditar que algo tão inocente e brilhante poderia ter se transformado em tanta hostilidade. Ela achava que se tentasse o bastante, seria capaz de consertar tudo. Era como sua cabeça funcionava, mesmo quando era uma criança e descobrira que artes marciais não combinavam com seu modo rígido de movimento, mas sabia que a habilidade se provaria útil como soldado, então ela simplesmente cerrou os dentes e praticou de novo e de novo até que seu corpo se movia com graça perfeita.
Somente depois de estar quebrada pelas ruínas de seu relacionamento foi que entendeu que não importava o quanto ela tentasse, não teria importado. Porque em algum ponto durante o caminho, um veneno se infiltrou em seu relacionamento. Silencioso e sorrateiro, corrompeu o tecido de emoção que os unia até que aquele tecido estivesse em farrapos... E sua loba se retraiu completamente do relacionamento.
Martin sabia. Isso só aprofundou seu ressentimento.
Umidade em sua bochecha, uma trilha descendo até sua boca. Sal. Era o gosto da primeira lágrima que ela derramva desde que fechara a porta na cara de Martin um ano atrás, sabendo que nunca mais a abriria. Tão frágil, a única gota iridescente mesmo assim destruiu suas defesas. Caindo de joelhos, ela permitiu a tristeza se derramar para fora dela, seus ombros tremendo com a força de seus soluços.
Riaz captou o cheiro de Adria enquanto corria, e rosnou, frustrado que sua presença fantasma continuasse a assombrá-lo. Quando ficou mais forte ao invés de desaparecer, ele percebeu que ela não havia voltado para o carro, mas continuara a pé. Ele teria prosseguido, mas captou um leve suspiro de som que fez seu lobo estalar atento. Franzindo, se aproximou o suficiente para assegurar que ela não estivesse em problemas... E ouviu o cru, doloroso som de uma mulher cujo coração estava sendo quebrado.
Seu peito se apertou, instintos protetores rugindo à superfície, mas não se aproximou. Adria era uma mulher orgulhosa, forte, não gostaria que ninguém a encontrasse num momento tão vulnerável, suas defesas despedaçadas. Mas mesmo enquanto se dizia para partir, o som irregular de suas lágrimas o despedaçava.
Ela ergueu a cabeça no instante em que ele entrou em sua linha de visão, seu rosto devastado pelas lágrimas. — Vai!
Querendo caçar o que quer que a tenha devastado tanto, mas ciente de que não era um inimigo físico que pudesse derrotar, ele se abaixou e a puxou em seus braços. Ela começou a lutar, toda cotovelos afiados e mãos firmemente em punhos. — Me deixe ajudar, maldita seja. — Não era a coisa mais suave ou mais charmosa a se dizer, mas veio de sua alma e coração, sua voz áspera com a frustração do lobo por ser incapaz de fazer algo.
Outro soluço dilacerante, e então ela se derreteu em seus braços, como se não pudesse lidar com a profundidade agonizante de sua dor e o afastar ao mesmo tempo. Puxando-a tão perto quanto podia, seus joelhos abertos para aninhá-la entre eles, segurou a parte de trás de sua cabeça com uma mão, enrolou um braço em sua cintura... E simplesmente a segurou enquanto ela chorava.
Ele havia visto mulheres fortes chorarem antes, mas nunca assim. Até que parecia que ela estava sendo rasgada de dentro para fora. Mão cerrada em seu cabelo, enrolada em sua trança, ele pressionou sua bochecha ao preto puro de seu cabelo e deixou suas unhas se enterrarem em suas costas enquanto ela enrolava seus braços em torno dele em um abraço forte.
Um minuto, uma vida depois, aquelas mãos se tornaram punhos novamente e ela o socou. Os golpes não tiveram impacto por causa de sua posição, mas a agonia neles era excruciante. Seu lobo se enfureceu com sua impotência, mas mesmo assim, ele se pressionava contra a pele de Riaz, querendo suavizar, reassegurar. Mas tudo que eles podiam fazer era segurá-la, o cheiro de amoras esmagadas em gelo se afogando em sal.
O vento era silencioso, o sol mais baixo no céu quando ela ficou quieta, deitada contra ele de uma forma que dizia que toda a luta havia sido tirada dela. Ele a conhecia por um fragmento de tempo, mas odiava vê-la tão derrotada. Adria era orgulho, espírito e força. Não uma mulher que desistia. — Você perdeu alguém? — Morte era a única coisa que ele podia pensar para explicar a profundidade de seu desespero.
— Estava morto há muito tempo. — Palavras raspadas. — Eu só não estava preparada para chorar por isso até agora.
Ele esfregou sua bochecha contra o cabelo dela, um lobo tentando confortar outro. — Você se sente melhor?
— Eu me sinto como se tivesse sido atropelada. — E rápido assim, ela era Adria novamente.
Se afastando e se levantando, ela foi até a piscina no fim de uma minúscula cachoeira que ele mal podia ver, pegando um punhado de água e lavando seu rosto. Em qualquer outra hora, com qualquer outra mulher, ele poderia ter esperado, mas podia ver pela curva rígida de sua espinha que ela odiava o fato de que ele a tinha visto assim, então se virou e se afastou.
Seu lobo rosnou, mas não resistiu. Porque ele, também, entendia que Adria não era nenhuma donzela indefesa em problemas. Riaz a vira lutar ao seu lado com uma coragem inabalável, testemunhara sua determinação de aço enquanto ela se arrastava na linha de fogo para tirar um membro do clã machucado para fora da zona de perigo, confiara nela para dar-lhe cobertura quando o inimigo ameaçou rodeá-los.
Uma mulher como aquela não iria querer nenhum homem, muito menos um com o qual ela tinha apenas o mais frágil dos cessar fogo, e a vira indefesa e fraturada por seu luto. Ele se perguntou se isso criaria outra barreira entre eles, já que ela queria se distanciar da memória. A idéia pinicou seu interior, um afiado, inesperado desconforto.
DE: Sascha<sascha@darkriver.net>
PARA: Lara<lara@snowdancer.org>
CC: Tammy<tamsyn@darkriver.net>;
Ashaya<ashaya@darkriver.net>;
Amara<amara@sierratech.com>
DATA: 3 de set., 2081 às 11h14min.
ASSUNTO: Paciente A
Lara, eu falei com Tammy e Ashaya, recebi a última atualização sobre nossa paciente.
Embora minha última tentativa não tenha funcionado, eu estive relendo meu livro (sim, de novo), e lendo nas entrelinhas, parece que tenho uma habilidade empática distinta que pode ajudar nossa paciente.
Não posso provar, assim como não há como testar a teoria exceto em alguém nas condições dela, mas se você achar que não irá interferir com o que já estamos testando, eu gostaria de tentar.
DE: Ashaya<ashaya@darkriver.net>
PARA: Sascha<sascha@darkriver.net>
CC: Tammy<tamsyn@darkriver.net>;
Lara<lara@snowdancer.org>;
Amara<amara@sierratech.com>
DATA: 3 de set, 2081 às 11:17.
ASSUNTO: re: Paciente A
Como todas vocês sabem, hoje mais cedo Lara injetou a Paciente A com um agente químico que Amara e eu sugerimos. Pode ajudar a guiar à um aumento do nível de consciência da paciente. Acho que é racional assumir que somente a fará mais receptiva à empatia de Sascha. Eu não vejo mal nisso, de qualquer forma. Amara concorda.
DE: Lara<lara@snowdancer.org>
PARA: Sascha<sascha@darkriver.net>
CC: Tammy<tamsyn@darkriver.net>;
Ashaya<ashaya@darkriver.net>;
Amara<amara@sierratech.com>
DATA: 3 de set, 2081 às 11h58min.
ASSUNTO: re: re: Paciente A
Estou aberta à qualquer coisa que possa ajudá-la. Sascha, vou te ligar e nós marcaremos um horário para você vir. Pode ser melhor esperar até que possamos ver se a fórmula de Amara e Ashaya está fazendo efeito.
Um dos técnicos veteranos esteve aqui esta semana e recalibrou o equipamento que estamos usando para monitorar a paciente, então nós veremos mesmo o menor sinal de consciência.
DE: Tammy<tamsyn@darkriver.net>
PARA: Lara<lara@snowdancer.org>
DATA: 3 de set, 2081 às 14h02min.
ASSUNTO: Vida
Eu não tive a chance de falar com você sobre isso enquanto estava na toca, mas espero que não esteja deixando essa situação com a Paciente A te consumir, Lara. Eu sei como é difícil não ficar emocionalmente envolvida, na maior parte do tempo curandeiros não tem escolha, mas nós duas sabemos que não é saudável, especialmente com essa paciente, dado seu prognóstico.
Estou preocupada com você. Me ligue.
DE: Lara<lara@snowdancer.org>
PARA: Tammy<tamsyn@darkriver.net>
DATA: 3 de set, 2081 às 15h15min.
ASSUNTO: re: Vida
Acabei de tentar te ligar, mas seu telefone deu caixa postal. E acho que deve estar no treino de hockey dos meninos. (Deus, quão adoráveis eles ficam naquelas miniaturas de uniformes?! Eu não sei como você aguenta.)
Estou bem, sério. Walker e as crianças me mantém centrada, e Walker é tão protetor, que literalmente me carrega para fora da enfermaria quando estou sendo teimosa sobre descansar. Não estou brincando, ele me jogou sobre seus ombros noite passada! Disse que eu já havia recebido meu aviso.
Tenho que admitir que eu talvez tenha rosnado (Okay, sim, eu rosnei), mas acho que é saudável quando meu racional companheiro Psy subitamente se torna um homem das cavernas. E eu aqui, pensando que seria mais fácil para mim do que para todas vocês acasaladas com changelings dominantes. Mostra o quanto eu sei.
Lara
P.S.: Os rosnados não duraram muito. Não tenho força de vontade quanto ele fica todo forte, silencioso e possessivo. Só me chame de Mulher Geléia.
DE: Tammy<tamsyn@darkriver.net>
PARA: Lara<lara@snowdancer.org>
DATA: 3 de set, 2081 às 15h27min.
ASSUNTO: re: re: Vida
Você é tão louca pelo seu Psy, que posso ver o sorriso bobo em seu rosto neste momento.
Nate mencionou em outro dia como ele e Walker concordam completamente quando se trata de cuidar de suas curandeiras, mesmo se nós estivermos sendo totalmente irracionais sobre isso, e, quando superei a vontade de bater nele, eu decidi beijá-lo, ao invés. Nós tivemos sorte, baby.
Aparentemente eles estão se aproximando. Nate passou no treino para ver os meninos, e fui informada de que todos nós iremos jantar juntos amanhã à noite. Não sei se deveria ficar assustada por esse desenvolvimento, mas mal posso esperar para te ver, para que possamos conversar devidamente.
Estou esperando que a Paciente A responda à tentativa de Sascha.
Tammy
P.S.: Anexadas fotos de meus lindos pequenos causadores de problemas em seu jogo desse fim de semana. Jules saiu do jogo uma vez, e Romes na verdade ficou no jogo, ao invés de sair junto em solidariedade. Fico feliz em dizer que por mais que sejam profundamente unidos, eles também estão se tornando pequenos ferozes e independentes homens.
Vinte e quatro
Hawke olhou para o documento que BlackSea enviou alguns minutos atrás e chamou Riaz para uma consulta, desde que o tenente teve múltiplos contatos cara a cara com membros do incomum — clã — enquanto esteve na Europa. Pegou Riaz em seu caminho descendo das elevações mais altas, teve que esperar quarenta e cinco minutos para ele chegar.
— Almoçou? — ele perguntou quando o outro homem entrou em seu escritório. Eram três e meia, mas ele não tivera chance de comer.
Riaz se espalhou na cadeira em frente a mesa de Hawke. — Não, mas não vou desvanecer.
— Eu vou. — Ligando para a cozinha principal, pediu para uma das crianças em atividades pós-escolares na cozinha para trazerem dois pratos. — Massa está bom para você?
Ao aceno de Riaz, ele adicionou um pedido de sobremesa e sorriu para a resposta insolente da chef, Aisha, quando a juvenil no telefone repassou o pedido. Desligando, ele entregou a Riaz uma cópia do documento dos BlackSea. — O que você acha disso?
Diferente da maioria dos grupos changelings, BlackSea não era composto de uma espécie em particular de changeling, mas era um conglomerado de todos os changelings aquáticos. Vários trabalhavam em Alaris, a estação localizada no fundo do Oceano Pacífico, não muito longe da Mariana Trench, embora o pessoal da estação não fosse completamente changeling.
Um grande número do pessoal de BlackSea tinha ocupações normais, em cidades localizadas perto do mar ou em grandes bacias de água doce, dependendo de suas espécies individuais. Não havia, porém, nenhum changeling aquático na Bay Area, ou ao longo da costa Californiana. Dada a forte dominância de SnowDancer e DarkRiver na região, o pessoal de BlackSea se mantinha afastado, não querendo inadvertidamente causar um conflito territorial.
Agora eles queriam não somente permissão para se mover livremente nas águas dentro e ao redor do território, assim como trabalhar nessa região, mas também uma aliança com SnowDancer. Porém, sua visão de um processo de aliança era muito diferente da visão de Hawke. Por isso a consulta. — Espere, — ele disse quando Riaz começou a falar. — Deixe-me colocar Kenji na conversa, ele é quem está em contato com os BlackSea.
Toby bateu na porta aberta neste momento usando seu pé, suas mãos ocupadas por uma bandeja cheia. Sentiu um puxão de orgulho em suas entranhas à visão do garoto que era da família agora, Hawke acenou para que entrasse. — Ouvi que você se voluntariou para fazer turnos extras na cozinha. — De acordo com Sienna, seu irmãozinho estava se tornando um excelente cozinheiro.
Toby assentiu, cabelo vermelho escuro deslizando sobre sua testa enquanto ele colocava pratos cheios de fettuccine de frango com cogumelos na mesa de Hawke seguidos de uma grande tigela de salada, grandes pães de alho mornos, duas garrafas de água, e duas enormes fatias de cheesecake. Por último os talheres.
Sorrindo por ter completado a operação toda sem derrubar nada, Toby inclinou a bandeja cuidadosamente contra a parede. —Aisha disse para você ligar se precisar de mais.
— Valeu, Toby. Dê a Aisha um beijo por nós. — Hawke piscou.
Toby deixou o escritório com um sorrisinho, fechando a porta atrás de si ao aceno de Hawke.
— Eu acho que ela está tentando nos engordar. — Riaz grunhiu enquanto pegava o fettuccine.
— Desculpa, estou muito ocupado morrendo de êxtase gastronômico para falar.
Não havia sequer uma migalha restante quando eles terminaram. Profundamente satisfeito, Hawke colocou Kenji na conversa através da grande tela de conferência na parede à direita de sua mesa.
— A quê devo essa honra? — Kenji perguntou, abaixando um hambúrguer meio comido, o misterioso hematoma em sua bochecha, - existente desde a noite da cerimônia de acasalamento - não mais em evidência, embora seu cabelo permanecesse roxo com estrelas douradas.
Riaz ergueu o documento em uma explicação silenciosa.
Kenji fez uma careta. — O que tem isso? Eu não disse nada ao negociante deles, mas não é exatamente como nós fazemos as coisas.
Cara a cara, changeling a changeling, era assim que SnowDancer começava um relacionamento que tinha o potencial de se tornar uma aliança.
— BlackSea não é comum de qualquer modo, forma, ou molde, — Riaz disse, esticando suas pernas à frente depois de mudar sua posição de modo que pudesse olhar diretamente para a tela. — Porque eles estão espalhados pelo mundo, eles tiveram que desenvolver outras formas de se conectarem. Dificulta o fato de a maioria de seus membros ser sigilosa e reticente ao extremo.
Hawke esfregou sua mandíbula. — É, ninguém nunca confirmou se algumas das espécies changeling que são oficialmente parte do BlackSea sequer existem. — Changelings aquáticos não informavam suas espécies, e muitos escolhiam viver nas pequenas cidades flutuantes em águas internacionais, que eram permitidas através do acordo assinado após as Guerras Territoriais.
As cidades eram abertas à qualquer um, se você conseguisse achar transporte à localização: BlackSea tinha uniformemente escolhido perigosos trechos de água para ancorar as cidades, águas que só um peixe seria capaz de navegar. E desde que eles se asseguraram que não houvesse nenhuma superfície apropriada para aterrissar do céu, os únicos visitantes nas cidades eram os convidados.
Mesmo os Psy deixavam os BlackSea em paz, mais provavelmente porque os changelings aquáticos faziam tudo que podiam para ficar sob o radar. O que trazia outra questão, mas Hawke a guardou por agora, porque Kenji estava falando.
— Então, o quê, — ele disse, engolindo seu refrigerante, — eles funcionam como os Psy?
— De certa forma, — Riaz disse, rugas entre suas sobrancelhas. — Não cometa o erro de pensar que eles não são ferozmente leais uns aos outros como qualquer outro clã changeling, mas tudo é gravado e verificado para que possa ser compartilhado com membros em torno do mundo.
Kenji bateu com uma caneta laser contra a bochecha. —Honestamente, eu amo a ideia de nos aliarmos com BlackSea. Sua rede de informações sozinha é inestimável. A questão é, SnowDancer pode se adaptar o bastante para trabalhar com um grupo que funciona tão diferentemente?
Era uma pergunta astuta.
Colocando a caneta atrás de sua orelha, Kenji continuou. — Nós não podemos tratá-los como tratamos nossos contatos Psy, porque como Riaz disse, eles são changeling e isso iria irritá-los. Mas, não parece que nós podemos ter com BlackSea o mesmo tipo de relacionamento que nós temos com DarkRiver e estamos construindo com WindHaven.
Hawke assentiu. Ele confiava nos alfas dos clãs de leopardo e falcão profundamente. Nem Lucas nem Adam jamais iriam apunhalá-lo pelas costas, disso ele tinha absoluta certeza. — De acordo com a linha oficial, — ele disse, — Eles não têm um alfa, e sim uma ‘Conclave’ que representa todos os maiores e menores grupos de espécies em BlackSea.
Riaz balançou a cabeça. — Isso tudo é um monte de merda que eles divulgam. O nome dela é Miane Levèque e ela sabe de tudo o que acontece em BlackSea.
— Foi o que pensei. — Miane era alguém em quem Hawke mantinha um olho em cima, assim como fazia com os alfas da maior parte dos grandes clãs. — Independente do que aconteça, um encontro cara a cara é inegociável. — Seu lobo não aceitaria nada menos.
Riaz bateu nos documentos enrolados em seu colo. — Meu conselho: nós tratamos esse pedido seriamente, passamos pelo contrato, e pedimos mudança conforme necessário. Acho que eles estão nos testando, vendo se somos capazes, ou pelo menos se estamos dispostos a tentar nos adaptarmos ao seu jeito único de fazer as coisas.
— Poderia ser um jogo de poder, — Kenji apontou. — A sardinha tentando fazer a baleia seguir seus desejos.
Hawke sorriu. — Excelente analogia marinha, rock star.
Kenji tocava guitarra aérea excelentemente bem. — Eu estive guardando.
— É definitivamente um pouco disso, também, — Riaz disse, claramente sem dúvidas sobre os instintos predatórios de BlackSea. — Então nos asseguraremos de que eles percebam que enquanto trabalharmos com eles, seremos inflexíveis sobre o crítico encontro entre Miane e Hawke.
— E, — Hawke adicionou, — transporte garantido de entrada e saída de suas cidades. — O movimento deve ser feito dos dois lados para uma aliança funcionar. — Se eles planejam nos barrar lá, o acordo está acabado. E avise-os que se isso acontecer depois de concordarmos com uma aliança, nós consideraremos uma violação fatal e uma declaração de agressão. — SnowDancer tinha muitos dentes, e não queria que BlackSea tivesse quaisquer duvidas de que usariam esses dentes no instante em que o outro grupo tentasse manipular a situação.
Os olhos de Riaz brilharam em concordância, seu lobo perto da superfície. — Nós também precisamos estipular um link de comunicação permanente. Nada de evitar nossas ligações e colocar a culpa na interferência náutica, antes ou depois. Assegure que eles saibam que os SnowDancer não dão segundas chances.
— Esse é um ponto muito bom, — Kenji disse, engolindo um pedaço do que parecia torta de cereja. — Ouvi que BlackSea é ótimo em adiar as coisas até que seja tarde demais.
— Seguirei o que vocês sugerirem, vocês dois tem mais experiência com BlackSea que qualquer um do clã. — Hawke era muito ciente de que ou ele respeitava as forças e habilidades de seus homens e mulheres, ou ele os perderia para o tédio e a frustração. —Vocês dois tem autoridade completa para negociar. Só me mantenham informado.
— Tem mais uma coisa. — A expressão de Riaz era pensativa. — Vocês não estão se perguntando o porquê de eles estarem fazendo contato agora?
Era a pergunta que Hawke guardou mais cedo. — Sim, pois eles viram as consequências de se aliar conosco muito bem detalhadas. — Como um aliado, era esperado que BlackSea provesse apoio em quaisquer conflitos futuros.
— Das últimas vezes que encontrei um membro do BlackSea, — Riaz disse, — Senti que algo estava acontecendo. Como umaa tensão sutil sob a superfície.
— Eu tenho a mesma sensação. — Kenji deu mais uma mordida em sua torta, e tomou mais refrigerante. — Eles estão em algum tipo de problema, e o que quer que seja, está fazendo nosso clã parecer atrativo.
Ambos os tenentes olharam para Hawke, uma pergunta não feita em seus olhos.
— Nós continuamos o processo. — As vantagens de ter BlackSea como um aliado eram vastas. — Não há motivos para trazer isso à tona agora. — Os changelings aquáticos não confiavam nos SnowDancer o bastante para dizer a verdade. — Uma vez que as outras peças estejam encaixadas, nós os questionaremos, se eles se recusarem a cooperar, acaba ali. — Ele não iria aliar seu povo com um grupo que poderia guiá-los a um perigo desconhecido.
— Sabe, tudo o mais de lado, eles são fascinantes. — O tom de Riaz mostrava interesse. — Um grupo de changelings que mesmo outros changelings não entendem.
— Assustadores pra caralho às vezes, também, — Kenji murmurou. — Aqueles olhos pretos que alguns deles têm, é como estar olhando para o rosto de um tubarão anequim.
— Talvez você esteja, — Riaz respondeu com um sorriso. — E merda, Kenji, você vive em uma dieta de porcarias?
— Meu sushi está em outra marmita. — De repente, ele mordeu um pedaço de bolo.
Hawke ouviu os dois discutirem alguns assuntos preliminares antes de Kenji desligar e Riaz ficar de pé. Ele ainda estava preocupado com o tenente, mas como disse à Riaz, ele conhecia lobos solitários. Daria ao outro homem um pouco de tempo. A coisa positiva da situação é que Riaz veio para casa, e ficou.
— Vou dar uma olhada no contrato hoje à noite, — o outro macho agora disse, olhando para seu relógio. — Tenho que ligar para Pierce em alguns minutos, ele disse que ficaria acordado até tarde.
Pierce era o lobo solitário que tinha assumido as tarefas de Riaz na Europa. — Diga a ele para manter seu nariz limpo ou eu o colocarei para fazer rondas na Sibéria. — Ao contrário de Riaz, Pierce era um conquistador, seu rosto foi apresentado para mais de um punhado de fêmeas enciumadas.
— Então nós teríamos que lidar com WhiteSteppe, — Riaz disse com um sorriso, nomeando o único clã de lobos da Sibéria. — Eles provavelmente declarariam guerra contra nós depois de ele seduzir a namorada de algum tenente.
Rindo enquanto o outro homem partia, Hawke acenou para a adolescente que apareceu na porta. — Está aqui para pegar os pratos, Silvia?
Um sorriso tímido. — Sim. — Ela rapidamente os juntou, sem sinais restantes das lesões que sofreu em uma queda severa.
— Como estão indo suas sessões com Ava? — ele perguntou, sabendo que a fêmea maternal tinha assumido Silvia como sua protegida.
— Tudo que ela me ensina, — a adolescente disse, — se encaixa. Como se eu meio que soubesse. Eu queria perguntar se talvez eu possa ter mais tempo com ela?
Tímida ou não, havia força ali, Hawke pensou, morna e forte. — Converse com Nell, — ele disse. — Ela vai providenciar isso.
Quando Silvia saiu com outro pequeno sorriso, Hawke se lembrou da nota que Nell havia enviado essa manhã. Pegando-a de sua mesa, ele considerou como lidar com aquela situação em particular. Ele deveria fazer Riley lidar com isso, era a maldita culpa dele por colocar ideias nas cabeças cheias de hormônios dos juvenis. O pensamento o alegrou por um segundo, mas ele sabia que essa era uma tarefa para um alfa, então engoliu, e fez a ligação. — Você está na cabana?
— Sim, — Lucas respondeu. — Traga torta de chocolate da Aisha para Sascha se vier para esse lado. Até onde minha viciada em chocolate está envolvida, é como ambrósia.
— Qualquer coisa para a querida Sascha.
— Isso não funciona agora que você está acasalado.
— Droga. — Hawke desligou, então ligou para Aisha para preparar a torta, a cozinheira adorava como Sascha desejava sua comida, então era um caso de amor mútuo. Colocando sua cabeça no escritório de Riley depois de pegar o doce, ele disse ao tenente onde estaria se fosse necessário. — Você sabe onde Sienna está? — Ele podia senti-la através do elo de companheirismo, rastreá-la se fosse preciso, mas se prometeu que só faria isso em caso de emergência. Ele nunca iria querer que sua companheira se ressentisse do elo entre eles, o visse como uma rédea ou uma jaula.
Riley ergueu uma lista. — Ela está na hora dos estudos, então acho que está na biblioteca.
— Valeu. — Mesmo com algumas interrupções por pessoas querendo conversar, não demorou muito para Hawke entrar na biblioteca da toca, onde encontrou sua companheira com a cabeça curvada sobre um pedaço de papel no qual estava escrevendo fórmulas que faziam o cérebro dele doer. Livros de matemática e física estavam abertos em vários enormes datapad em torno dela, e o pequeno computador que ela ocupava estava mostrando o que parecia ser uma equação complexa.
Colocando as mãos de cada lado da mesa por trás dela, ele deu um beijo em um ponto sensível sob sua orelha, o cheiro de outono e temperos dela o acalmando e revigorando seu lobo ao mesmo tempo. — Senhora Sienna Lauren Snow, — ele brincou, — Por que você está trabalhando em algo tão arcaico como papel?
Vinte e cinco
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