A carga elétrica naqueles olhos passado um vívido lobo dourado levantou todos os pelos do corpo de Adria. — Não. — Nem mesmo se o áspero calor do contato tivesse balançado-a. — Eu disse à mim mesma que nunca mais o convidaria à minha cama e quis dizer isto.
Riaz vacilou. — Eu estou fazendo o convide.
O orgulho machucado a fez querer repudiá-lo como ele a repudiara, mas se estar com Martin a ensinou uma coisa, era que seu orgulho poderia ser uma fraqueza terrível. — Você só vai me odiar por isso. — E ela tivera o suficiente do ódio de um homem.
Estremecendo, Riaz avançou até tocar seu rosto com as mãos. Surpreendida no aperto tenro, ela não se afastou quando ele se inclinou para apertar a testa na dela. — Não. — Um fôlego quente nos seus lábios, as mãos dele mornas e calejadas no seu rosto. — É sobre mim. — Cru, sua alma desnudada. — Eu não consigo continuar como estou.
— Então sou a pílula amarga2? — Até quando disse isto, parte dela ressoou com o tumulto de necessidade e dor o despedaçando.
— Adria?
— Não. — Um dedo pressionado às curvas firmes dos lábios dele. — Você está certo. Precisa fazer uma ruptura clara… E eu também. — Deu-lhe aquela parte de si mesma de modo que este lobo ferido saberia que não era o único entrando nesta com a mais dolorosa das motivações. Não era simplesmente sobre o sexo, não era simplesmente sobre suavizar a fome de pele que assombrava a ambos. Era sobre dizer adeus a um sonho que nunca teve chance. — Mas, — ela sussurrou, se forçando a segurar a dominância potente de um olhar que era lobo puro, — você tem que estar certo disto.
— Estou. — Nenhuma vacilação, mesmo que as palavras fossem irregulares como pedra quebrada. — Não há nada para mim no passado.
Sim, ela pensou, o passado estava perdido para sempre, para ambos. — Tudo bem.
Os olhos dele brilhavam bonitos e selvagens na sua visão quando baixou a cabeça, roubando seu fôlego. Ela deixou as pálpebras vibrarem fechadas, sabendo que independentemente do que acontecesse depois disto, se eles permanecessem amantes ou fossem embora, uma coisa ela nunca, jamais seria capaz de mudar –ela foi a primeira mulher a levá-lo a traição.
Uma dor enfadonha, uma dor aceitável.
Então seu lobo veio à vida dentro do seu corpo, e o pensamento fraturou sob um caos de sensação. Envolvendo os braços ao redor do pescoço dele, encontrou a febre do seu beijo, seus ossos fundidos com paixão. Contudo... Havia uma hesitação neles que não tinha estado presente antes, e Adria se perguntou se seu tempo passara. Uma torção no seu peito. Um machucado que era mais profundo. Mais perigoso. Mas quando ela fez menção de recuar, o grunhido que resoou da garganta de Riaz foi uma coisa primitiva.
A mão dele fechou sobre seu seio, a boca chupando o pulso em seu pescoço quase antes de ela processar o fato de que ele a levara para a grama, a terra ainda mantendo o calor do sol. Qualquer pensamento de se afastar fragmentou, a fome dentro dela um desejo selvagem. Arranhando sua camisa, ela ouviu algo rasgar. Ele rosnou contra ela, empurrando uma mão debaixo da sua própria camiseta para empurrar para cima seu sutiã e espalhar os dedos sobre a carne nua do seio, acariciando e modelando.
— Oh, Deus! — Arqueando ao toque firme e confiante, ela rasgou a camisa dele até que estava em pedaços ao redor deles, o corpo grande e musculoso dele erguendo-se sobre o seu próprio, a boca dele ocupada em seus lábios, queixo, pescoço.
A pele era um tom de marrom polido, morno e bonito, seu prazer em tocá-lo – finalmente – quase doloroso. Quando ele empurrou a camiseta e abaixou a cabeça ao seu seio, seu ventre apertou em antecipação. Sua respiração na sua pele... a sucção quente da sua boca. Torcendo loucamente, ela cerrou a mão no seu cabelo, tentando tirá-lo. O prazer, oh Deus, o prazer vicioso era demais, seu corpo muito sensível.
Ele usou os dentes.
Gritando, ela ficou confusa com o súbito frio em sua carne úmida. — O que... — Um momento depois, ele estava abrindo seu jeans, tirando-os, junto com as botas. Sentiu algo rasgar e soube que sua calcinha tinha ido. Quando ele abriu o zíper e moveu-se entre suas coxas, ela as espalhou contra a pesada penetração, pronta ao ponto de sua pele doer.
Numa única dura punhalada ele estava acomodado bem em seu interior, a espessura dele uma marca pulsante.
Ela congelou por um minuto, o corpo atordoado com a possessão quase violenta. Músculos não utilizados há muito tempo doeram, mas sob tudo isso a necessidade. Tal necessidade nua, crua. Subindo em direção a ele, ela encontrou olhos brilhantes contra o anoitecer. Ela não foi a menos surpresa pelo grunhido de advertência, ou pela mão que ele cerrou no seu cabelo para arquear-lhe o pescoço. A mordida ao longo do declive sensível onde o pescoço corria para o ombro foi forte o suficiente para arder, forte o suficiente para empurrá-la além.
Mesmo enquanto ela gozava com um grito, ele batia nela com tal fúria selvagem que a sensação dele reverberava por seus muitos ossos. Uma brutal palavra em sua voz masculina tão dura foi quase irreconhecível. Seus músculos internos espasmando em resposta erótica. A mão dele apertando seu seio. O calor primitivo dele derramando nela.
****
Riaz deitou na grama, tão bravo cosigo mesmo que não podia olhar para Adria. Mas podia senti-la empurrando o sutiã e a camiseta de volta no lugar. Ela não se levantou para encontrar seus jeans, e ele se perguntou se estava em uma única peça. — Eu sinto muito. — Sua voz revestida em cascalho.
Uma pausa. — Por quê?
— Eu nunca machuquei uma mulher assim. — Soube malditamente bem que ela tinha hematomas, e aquela mordida na curva suave do ombro não ia desaparecer tão cedo.
Adria suspirou, esticando-se sob as cores crepusculares do céu. — Eu não estive reclamando, Riaz, e sou forte o suficiente para ter destruído você se tivesse feito algo que não queria que fizesse.
— Maldição, Adria. — Ele se ergueu sobre um cotovelo para encará-la, o corpo ainda bombeado com adrenalina. — Você merece mais que uma foda na grama.
Os olhos dela se arregalaram.
Ele ia dizer algo mais, perdeu o pensamento quando os olhos caíram sobre seus lábios meio separados. Marcada por beijos luxuriantes, sua boca era a tentação mais erótica, a necessidade dentro dele nem perto de saciada pelo seu acoplamento frenético. A respiração entrando em duros ofegos, ele conseguiu dizer uma única palavra, a única pergunta que importava, — Adria?
— Sim. — Permissão.
Prometendo a si mesmo que lhe daria ternura desta vez, ainda que isso o matasse, ele chupou o seu lábio inferior, tocou a língua em toda parte, mas não empurrou para entrar. Ao invés, lambeu, provou e brincou como deveria ter feito mais cedo... Até que as mãos dela pousaram nos seus ombros, as garras liberando apenas o suficiente para picar a pele em uma muda demanda feminina.
Sorrindo, ele colocou uma coxa coberta por jeans entre as dela e empurrou. Ela silvou. Quebrando o beijo de uma vez, ele abaixou para alisar uma mão sobre sua panturrilha, sua perna levantou e curvou no joelho. — Dolorida? — Não surpreendente, desde que ele empurrara nela com toda a delicadeza da média de dezoito anos de idade.
Ela assentiu, erguendo os dedos à boca dele. Ele manteve a posição e deixou-a explorar. Quando ela o puxou de volta para baixo, ele reivindicou um beijo que foi língua, profunda e molhada e uma desavergonhada prova das coisas que queria fazer com ela, antes de retirar a coxa e se mudar de modo que ficasse em baixo. — Acho, — disse ele, segurando-a firme com as mãos na cintura enquanto ela se erguia para escarranchá-lo, — que é minha vez de tomar a surra.
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Adria ficou apanhada pelo sorriso brincalhão puxando os lábios de Riaz, os ângulos severos do seu rosto relaxados para revelar um inebriantemente e atraente macho – um que estava brincando com ela, só um pouco... Mas vindo de um lobo solitário...
— Não? — Riaz disse quando ela não se moveu, a cabeça dele inclinada de um modo que lhe disse que seu lobo permanecia muito perto da superfície.
Inclinando-se para frente, ela afastou seu cabelo da testa. Soube que era um movimento doce, um que ia além do sexo, mas que precisava fazer. A verdade era que independentemente do que lhe dissera aquele dia no treinamento, independentemente do que tentara convencer a si mesma porque doía demais fazer o contrário, ela não era uma mulher que poderia jamais ter sexo por causa de sexo. Não estava nela.
Casa, lar e família, isso é para o quê você é construída.
Palavras ditas por Tarah há muito tempo, há tanto tempo que sua irmã provavelmente esquecera. Adria não havia. Aquela mulher continuou a existir dentro dela, e, apesar das rachaduras no seu coração, ela ainda queria uma família dela mesma; uma casa cheia de amor; Um homem que a adorava e que ela poderia adorar em troca. Este tenente que a segurava com as mãos fortes e mornas, seu coração já dado à outra, não era com quem ela jamais realizaria esse sonho, mas isso não significava que sua união tinha que ser uma coisa dura e fria.
Riaz não se afastou do toque suave, e uma das rachaduras profundas dentro dela se curou uma pequena fração. — Vamos ser amigos, — ela sussurrou para o homem de olhos dourados que a observava com tal foco predatório, o lobo em seus olhos.
Suas mãos flexionaram em seus quadris. — Eu não posso ser o amigo platônico com você, Adria. — Não uma rejeição, apenas uma verdade contundente de macho para fêmea, lobo para lobo.
— Eu sei. — Agora que eles haviam se tocado, a necessidade nela somente se tornara mais forte.
Polegares acariciaram suavemente sobre a curva do seu quadril. — Amigos que compartilham privilégios de pele íntima então? — Um esclarecimento tranquilo. — Você acha que podemos ser?
— Sim. — Mas ela entendeu por que Riaz hesitou, embora estivesse claro para ela que ele necessitava de um amigo assim como de uma amante. — Eu vou aceitar você como é, — ela prometeu, querendo que entendesse que não exigiria dele o que não tinha para dar, o machucaria lembrando-lhe do que tinha perdido. — Sem expectativas. Sem laços. Sem promessas. — Só uma amizade que poderia ajudá-los a curar.
Riaz acariciou as mãos até suas coxas nuas, voltando para deslizar sob a camiseta, os calos nas palmas das mãos raspando sobre a pele com uma sedução áspera que a fazia tremer. — Você quase fala como se preferisse isso.
— Eu prefiro. — Sem mentiras, ela pensou, não aqui, neste belo momento com o mundo tão silencioso e privado ao redor deles. — Eu tenho estado... perdida por muito tempo. Sou lobo suficiente para querer o contato com um homem que não só estou fisicamente atraída, mas que estou começando a gostar, — disse com profunda honestidade, pensando na ternura do seu beijo, no jeito com o qual ele lidou com seus estagiários com tanto afeto e disciplina essa tarde, — mas eu preciso da minha liberdade.
Apesar dos sonhos de família que ela nutria em uma parte secreta da alma, sabia que estava danificada. Até que se reparasse, se isso fosse mesmo possível, ela não poderia, não iria, roubar um compromisso de ninguém, muito menos um homem que pertencia a outra de um modo que nunca poderia ser apagado.
Ele estendeu a mão para puxar o laço solto de sua trança, soltando seus cabelos. — Amigos. — Era uma promessa, o lobo ardendo no dourado de seus olhos. — Fale-me sobre ele.
E porque ela entendeu o quão difícil era para um macho dominante como Riaz ser vulnerável para tê-la, para manter os segredos dele, ela fez. — Para entender como isso aconteceu, você tem que saber o começo. — Ela contou como ela e Martin tinham estado separados por longos períodos pelos cinco primeiros anos depois que se conheceram, enquanto Martin buscava um diploma de pós-graduação na Inglaterra, e ela se concentrava no treinamento intensivo de soldado.
— Minha família tendia a desgostar de todos aqueles anos juntos, mas eles só me viam esporadicamente, — ela disse a ele, recordando aquele tempo exigente e emocionante. — Meus pais foram mandados para o outro extremo do território, Tarah estava ocupada com Evie... — Isso fez seu coração firmar dolorosamente apertado mesmo agora, para lembrar quão fraca tinha sido. Evie era uma criança... — E Índigo ainda estava na escola no território da toca, enquanto eu estava nas Cascades.
Riaz assentiu. — Eles não teriam tido ideia de sua vida diária.
— Ou quão louco isso era. Assim como o treinamento de soldado, Hawke tinha me pedido certos cursos universitários on-line. — Coisas que lhe deram uma base em princípios básicos de negócios, assim ela podia agir como assessora para um tenente caso viesse a ser necessário. — Eu mal tinha tempo para respirar, muito menos começar uma relação de compromisso.
— Foi assim para mim quando me tornei um tenente, — Riaz disse, os dedos se movendo em sua pele, a leve aspereza dos dedos dele uma carícia requintada. — Curva de aprendizagem íngreme.
— Eu acho que foi parte do por que de eu estar atraída por Martin quando ele veio para casa visitar, por que eu disse sim quando me convidou para sair em encontros. Ele era quente, inteligente, engraçado , me fazia relaxar. — Manchado pela escuridão que tinha vindo mais tarde, todo mundo parecia lembrar-se só dos momentos ruins, mas não foi pelo homem bravo que ele se tornou que ela tinha se apaixonado.
— Ele me chamava para assistir filmes tolos; contar piadas numa voz inexpressiva que me teria em pontos. — Mas ele só compartilhara essa parte de si mesmo com aqueles que conhecia bem. — Uma coisa que a maioria das pessoas não percebe é que Martin é tímido, sempre foi. Às vezes aparece arrogância ou presunção, o que significa que ele não causa a melhor primeira impressão, não causou com meus pais.
Entretanto, ela tinha visto e gostado do homem por trás da máscara, sinceramente acreditara que sua família gostaria também, uma vez que conseguissem conhecê-lo. — Nós não tínhamos química explosiva, — ela admitiu, — mas eu nunca esperei esse tipo de paixão. — Pensara em seu lobo como muito sensível para o fogo selvagem que vira queimar em tantos outros no bando. — Eu não saí por aí me aproximando de melancólicos lobos solitários depois.
Os olhos de Riaz aqueceram com divertimento tranquilo, mas ele não interrompeu.
— Nós éramos compatíveis em muitas outras formas, a nossa perspectiva sobre a vida, a nossa convicção de que lealdade era o núcleo de uma relação, as coisas que nos faziam rir, que quando ele sugeriu que tomássemos nossa relação para o próximo nível, eu disse sim. Seu lobo tinha gostado de Martin o suficiente para não interferir com a decisão humana, mas nunca tinha exigido mais, nunca sentiu fome de se enredar com o próprio lobo de Martin... nunca o escolheu.
— Você não se preocupou com o assunto da dominância?
— Inicialmente, sim. — era uma pergunta importante para deixar pra lá. — Mas perceba, pelo tempo que demoramos a morar juntos, tínhamos nos conhecido e nos encontrado casualmente por anos atrás. — Independentemente da impressão dos outros, incluindo Tarah e Índigo, poderia ter resultado no afastamento dele perto de estranhos, nem uma vez Martin tinha feito ou dito qualquer coisa que a fizesse acreditar que ele não poderia lidar com o fato de sua dominância.
— Quando consegui me formar soldado sênior enquanto namorávamos, ele me deu uma bonita faca cerimonial, — ela disse, querendo que Riaz entendesse como pôde ter cometido um engano tão terrível e como isso podia não ter sido um engano em tudo, não então. — Ele tinha comprado há meses, porque estava tão certo que eu fosse conseguir a promoção. Estava orgulhoso de mim.
Acariciando as mãos sobre suas coxas, a vigilância calma do predador que rondava por trás da sombra cativante dos olhos dele. — Quando começou a dar errado?
— Eu nunca consegui entender exatamente. — A única coisa que soube foi que a mudança a desnorteou. — Talvez fosse a realidade do estar dia a dia com uma mulher cujo lobo era dominante para o seu próprio, a percepção de que se chegasse a hora, eu não precisaria dele para me proteger. — Tudo que tinha eram suposições, porque a morte de sua relação foi uma coisa lenta e insidiosa, difícil de ver até que fosse tarde demais.
— Pelo que você diz, parece como se fosse ele quem te perseguia, pode ser que ele sentisse mais em relação a você do que você a ele, — Riaz disse calmamente. — Nós dois sabemos que você não o amava, não como uma loba fêmea forte deve amar seu homem.
Ferida, Adria disse, — Enquanto estava naquela relação, dei a ele tudo que tinha para dar. — Não percebera que tinha a capacidade para uma paixão selvagem, que a intensidade escura que testemunhava nos companheiros de bando era uma parte da sua natureza, também. — Se ele era infeliz, por que não disse nada?
— Porque era um idiota fraco, — foi a fria adição. — Posso ver a razão pela qual ele podia ter reagido mal, mas isso não quer dizer que eu tenha qualquer simpatia por ele.
Sim... Martin havia feito suas próprias escolhas, que mantivesse a responsabilidade por elas. — Eu devia ter ido embora quando comecei a perceber que ele tinha começado a se ressentir de mim pela minha força, mas eu não podia suportar desistir e provar para aqueles que tinham me alertado para abandonar um homem menos dominante, que eles estavam certos. — Deus, ela foi tão teimosa, tão orgulhosa.
— Você é uma fêmea dominante, ser sanguinária é parte do pacote.
Ela riu, inclinou-se até tocar os dedos pelo cabelo dele mais uma vez. — Sim, eu tenho me perdoado por isso. — Porque sob o orgulho havia o desejo honesto de salvar uma relação que tinha começado com tal promessa. — E eu acho que teria aceitado a derrota mais cedo e ido embora, mas então... Martin salvou a minha vida.
Ela tinha estado fora em uma tempestade, procurando por um filhote que todos pensavam que estava perdido quando uma árvore caiu sobre ela. Quebrou sua perna e deslocou-lhe o ombro quando a jogou em um córrego que estava cheio em níveis perigosos, onde bateu a cabeça em uma pedra exposta. Tonta e desorientada, ela tinha começado a arfar na água em vez de no ar.
Tendo descrito o acidente para Riaz, ela disse, — Martin tem um medo de arrepiar os cabelos de água após quase se afogar quando criança, mas ele saiu na tempestade porque estava preocupado comigo, e depois mergulhou em uma torrente furiosa para salvar minha vida. — No entanto, essa não era a parte mais importante do irregular quebra-cabeça que fora sua relação. — Ele me tirou, mas quando estava puxando a si mesmo, uma pedra enorme bateu nele, esmagando a maioria de suas costelas e fazendo danos sérios aos órgãos. Ele ficou na enfermaria mais tempo do que eu.
Riaz se sentou, acariciando as mãos ao longo da coluna dela. — Ele usou isso, não foi, para te segurar?
A parte de cima da tatuagem no ombro esquerdo de Riaz apenas visível para ela desta posição, ela riscou as linhas curvas dela. — Não sei se foi consciente, mas sim. — A pressão tinha sido tão sutil que ela não tinha percebido o que estava acontecendo por um longo tempo. — Eu sempre tive aquela bolha doentia de culpa dentro de mim sempre que pensava em terminar com um homem que tinha arriscado tudo para me salvar.
Depois que a relação terminara, ela se encontrara incapaz de entender por que Martin lutara para mantê-la, mesmo quando se tornara dolorosamente claro que eles seriam mais felizes separados. Mas se Riaz estivesse certo, se Martin a tivesse amado de um modo que ela não fora capaz de retribuir – isto explicava muito, mesmo não descartando a dor que ele lhe causou.
— Lealdade não é algo para se envergonhar. — A respiração quente de Riaz contra sua pele.
— Não... Mas levada longe demais, pode se tornar um defeito. — Deslizando as mãos pelos seus ombros quando o olhar dele se escureceu em conhecimento, ela deu um sorriso triste. — A compreensão tardia é sempre vinte-vinte3, não é?
Ele esfregou a bochecha contra a dela. — Isso é por que ela é uma cadela.
Novamente, ela riu, surpresa com a veia de humor dentro do lobo solene com olhos dourados. — Bem, eu acabei com o olhar para trás, — ela disse, saboreando a picada salgada e cítrica da pele dele, o toque de chocolate amargo no seu beijo exótico e intrigante. — Estou pronta para viver o hoje.
Desta vez, o amor deles foi uma dança íntima.
Longos, drogados beijos, prolongados golpes da mão dela sobre um tórax firme ligeiramente coberto por um punhado de pelo que foi uma carícia erótica contra seus seios, e um passeio tão fundo, tão lento. O corpo dele curvado sob o seu próprio, os tendões esticados brancos sob a tonalidade escura da sua pele quando as mãos apertaram seus quadris.
Ela nunca se sentiu tão bonita, tão poderosamente fêmea.
Vinte e oito
Kaleb olhou abaixo para o corpo colocado sobre a placa de metal frio, iluminado pelo branco frígido das luzes do necrotério. O cadáver fora descoberto quatro horas atrás, priorizado no nível mais alto de importância. — Suas conclusões? — ele disse para Aden. O médico Arrow – treinado para realizar autópsias em Arrows caídos, tinha feito a tarefa ele mesmo.
— A causa da morte foi o pescoço quebrado, — respondeu Aden. — A partir do exame sobre o local, parece que ele tropeçou e caiu da escada.
Não uma ocorrência inacreditável, e nada disso teria chamado atenção dos Arrow, exceto pelo fato de que a vítima era uma âncora. Todas as mortes de âncora eram investigadas por Arrows, mesmo quando a idade avançada era um fator evidente – nascidos com a habilidade de fundirem-se totalmente na Net, aqueles de Designação A eram muito integrados com sua estrutura psíquica para arriscar quaisquer erros.
Âncoras tinham muitas funções, mas a mais importante era estabilizar e “segurar” a PsyNet no lugar. Eles eram a razão de os Psy poderem cruzar o mundo no plano psíquico sem estresse mental. A morte da pessoa deitada na maca tinha causado algumas ondulações pequenas, mas medidas de segurança temporárias haviam entrado em cena no momento em que ele desapareceu da Net, impedindo qualquer dano importante. Aqueles na zona afetada teriam experimentado uma leve dor de cabeça no máximo, antes que a rede de âncoras da região realinhasse suas esferas de influência para cobrir a lacuna.
Uma única morte em nada iria esticar a rede tênue, mas a perda de qualquer âncora era um motivo de preocupação. Entretanto, apenas um telecinético no local podia ter prevenido um acidente que pareceu ter sido causado por um erro físico de frações de segundos.
— Você acredita no relatório sobre o local? — ele perguntou para Aden.
— Tanto Vasic quanto eu fizemos uma varredura no local, não encontramos nada fora de ordem. A filmagem do sistema de segurança privado também se mostrou limpa. Teoricamente, um Tk capaz de teletransporte poderia ter ‘portado’ e ‘assistido’ a queda, mas por que matar uma âncora? — Era a pergunta mais crucial. — Eles não têm nenhum poder político, e suas mortes não fazem nada exceto enfraquecer a Net.
E independentemente da filiação política, cada único Psy na Net precisava do biofeedback fornecido pela vasta rede mental. Rompa sua ligação à Net e aqueles de sua raça morreriam uma morte excruciante em minutos.
— Não-Psy? — Kaleb propôs.
— Se houvesse um intruso, teria que ser um Tk. Nenhuma outra designação poderia ter evitado o sistema de segurança.
Ele encontrou o olhar de Aden. — Judd Lauren é um Tk fora da Net. — Foi uma declaração que ele fez por muitas razões.
— Judd também tem um vínculo emocional com os membros de sua família, — assinalou Aden. — É razoável supor que ele não ia querer causar dano para o jovem na Net, e não há maneira de controlar o efeito generalizado da morte de um âncora.
Pesando todos os fatores, Kaleb deu um pequeno aceno. — Mesmo os mais importantes não são imunes a acidentes, — ele disse, analisando as contusões no corpo do homem de meia-idade. — No entanto, não quero nenhuma pergunta sem resposta. Faça uma varredura secundária do local, assegure-se de que sua primeira impressão está correta.
Aden não disse nada, mas Kaleb soube que seria feito. Ele e os Arrows tinham chegado a um entendimento – mas ele não cometeu o erro de pensar que tinha seu apoio total. A mais letal força de combate na Net ainda estava compondo sua opinião a respeito dele. O que os Arrows não perceberam era que Kaleb estava avaliando-os também, o propósito dessa avaliação nem Aden nem seus homens podiam imaginar.
Vinte e nove
Riaz pressionou a testa na parede do chuveiro e deixou a água cobri-lo, lavando o suor e as manchas de grama, mas não fazendo nada para apagar as memórias da paixão que varrera sobre ele há não muito tempo... E da mulher selvagem e sensual cuja boca luxuriante estava se tornando rapidamente um vício privado.
Vergonha, raiva, desejo, todos eles disputavam a posição principal dentro da tensão rígida que era seu corpo. A ideia de estar com outra pessoa uma vez que tinha encontrado a mulher destinada a ser sua companheira era tão anátema para tudo que já tinha acreditado, que tanto o homem quanto o lobo ficaram confusos, perdidos. Mas essa não foi a única coisa que o teve se sentindo como um merda – independentemente do que Adria tinha dito sobre estar com ele a cada passo do caminho durante a primeira união primitiva deles, ele não era um homem que maltratava mulheres. Continuou a envergonhá-lo que tivesse sido tão desconsiderado com ela.
Uma memória instantânea, o cabelo de Adria caindo ao redor dele em uma cascata sedosa enquanto ela se inclinava para chupar seu lábio inferior, soltando-o em uma provocação deliciosa em forma de mordida. — Sem mais culpa, Riaz. — Uma ordem rouca. — Eu precisei disto tanto quanto você. Podemos ir devagar desta vez.
Mudando a água para gelada quando seu pau levantou na repetição mental de exatamente quão lento eles tinham ido, ele friccionou os dentes até que seu lobo gritou em falta. Desde que estava prestes a ficar azul, ele saiu, se secou e colocou um par de jeans desbotados, as linhas desfiadas mal se segurando acima do joelho esquerdo. Uma camiseta branca, meias e botas e estava pronto. Correu um pente por seu cabelo, esfregou o queixo. Raspavam os pelos duros. Desde que estava tarde demais para a pele delicada de Adria, ele deu de ombros e deixou-os.
Dirigindo-se ao pequeno escritório que o tinha sido atribuído, ele começou a passar por alguns documentos que Pierce pediu-lhe para examinar, imaginando que pegaria o jantar na cozinha mais tarde, pois eram apenas sete e meia.
No entanto, Riley bateu na sua cabeça um instante depois. —Jantar na minha casa hoje à noite.
Riaz havia retornado à toca porque sabia que precisava de seu bando. Mas depois do que acabara de acontecer, a decisão dolorosa que tinha feito de esquecer Lisette e continuar sua estranha e sensual amizade com Adria, seu lobo eriçou os pelos do pescoço, querendo ser deixado só. — Obrigado, mas tenho um monte de trabalho. — Não era mentira, ele era o tenente encarregado dos interesses de negócios internacionais dos SnowDancer, Pierce e os outros estavam sob seu comando direto.
Riley se inclinou contra o batente da porta, de braços cruzados. — Se quisesse isolar a si mesmo, — ele disse, — você não voltaria para casa.
— Não me empurre, Riley. — Podia sentir as garras picando o interior da pele.
— É o que os amigos fazem. Nós estamos indo em dez minutos.
Percebendo que apenas acabaria pensando nisso se ficasse para trás, Riaz cedeu e juntou-se a Riley, Drew, e Índigo fora da toca, o céu uma suave escuridão ainda não polvilhada com estrelas. — Nós estamos aguardando alguém?
Riley olhou por cima do ombro. — Eis eles vindo.
Riaz não precisou girar para saber que Adria fazia parte do grupo. Mas o fez mesmo assim, viu que Hawke caminhava ao lado dela. O alfa estava rindo de algo que Adria disse, o rosto dela virado para o dele, o cabelo úmido preso em uma trança solta.
Aquela risada desbotou quando seus olhos caíram nele, mas seu sorriso não.
Algo duro e irregular nele aliviou uma fração, o lobo se estabelecendo.
E então eles estavam se movendo, o ritmo confortável, conversa sendo trocada enquanto atravessavam as árvores. Adria e Índigo correram à frente, Riley e Hawke seguindo, enquanto Drew tinha acabado ao lado de Riaz. Teria sido uma dupla inesperada há alguns meses, mas ele e Drew fizeram as pazes, o outro homem tão estabelecido no seu acasalamento com Índigo que nada poderia abalá-lo.
Uma gargalhada feminina, rouca e generosa.
Compelido por uma mulher que estava se tornando importante para ele de uma forma que ameaçava minar as fundações do seu mundo, ele se perguntou sobre o que Adria e Índigo conversavam que as tinha tão divertidas, decidiu que era provavelmente uma daquelas coisas que um homem não quer saber.
— Sienna está faltando, — disse a Drew. — Incomum. — Homens recentemente acasalados gostavam de estar próximos de suas mulheres como uma regra, e Hawke era alfa, com as unidades primitivas equivalentes. Sua companheira também tinha estado em perigo brutal há pouco tempo. Continuava a estar, em muitos aspectos.
— Ela está treinando com Judd. — Drew deve ter feito alguma coisa através do elo de companheirismo, porque Índigo lhe deu um olhar malicioso por cima do ombro antes de retornar a sua conversa com Adria. Sorrindo, Drew adicionou, — Eles virão juntos depois.
Não era, Riaz soube, porque Judd era um tenente que Hawke confiava no outro homem com sua companheira, quando os impulsos possessivos de acasalamento tinham que estar correndo soltos por seu corpo. — Ela é tão jovem. — Preocupava-o às vezes que Sienna Lauren não fosse capaz de suportar o peso colocado em seus ombros.
— Você viu o que ela fez. — Uma resposta solene. — Esse tipo de poder envelhece uma pessoa.
— Sim. — Sienna não mostrara sinais evidentes disso, mas sabia que ela teve que ter pagado um preço pelo fogo frio que salvara tantos SnowDancers. — Não importa, porém, parte de mim ainda quer protegê-la. — Ela tinha o seu respeito, mas isso não significava que seus instintos normais estavam mortos.
— Eu também, — Drew admitiu. — Não pense que a preocupa, a garota é dura suficiente para lidar com um alfa.
Assim como a mulher na frente dele, Riaz pensou, era mais que dura suficiente para lidar com qualquer coisa que ele jogasse para ela, a delicadeza de seu odor desmentindo um núcleo de aço que começou a fascinar o lobo.
— Vocês dois são tão lentos quanto duas velhinhas, — Hawke disse, tendo ficado para trás para juntar-se a eles.
Drew assobiou. — Soa como um desafio para mim.
— Soa. — Pegando o olhar de Drew, Riaz se chocou contra Hawke sem aviso prévio, tombando o alfa no chão.
— O que...
Drew já havia tirado as botas de Hawke, desamarrou os cadarços, e jogou tudo em quatro direções diferentes pelo tempo que o alfa conseguiu passar por Riaz aos seus pés. — Essas são minhas botas favoritas!
Drew esfregou as mãos. — Melhor achá-las então. Enquanto isso, nós vamos bater seu traseiro para o de Riley.
Hawke arreganhou os dentes, e a corrida estava em marcha, as mulheres e Riley se juntaram. O lobo de Riaz sorriu enquanto corria, feliz no sentido mais simples. As árvores chicotearam pela velocidade da luz, e eles derramaram até a clareira que dava para casa de Riley, um chalé de madeira e pedra gracioso a meio caminho entre o território DarkRiver e SnowDancer, para em menos de dez minutos mais tarde... Encontrar Hawke e suas botas esperando por eles nos degraus.
— Maldição. — Drew fez uma careta, as mãos sobre os joelhos. — Nós precisamos enganar melhor da próxima vez!
Os olhos de Hawke eram um brilho noturno. — Toque nas minhas botas novamente e vou fazer Aisha grelhar você para o almoço.
Peito arfando, Riaz balançou a cabeça. — Nós devemos fazê-lo correr perneta. — O alfa tinha sido rápido quando era um menino, mas agora ele era rápido. — Talvez jogá-lo abaixo, nas pedras.
Hawke recostou-se nos degraus, descansando em seus cotovelos. — Você ainda estaria comendo meu pó.
— Oooh. — Drew sacudiu a cabeça. — Essa é uma declaração de guerra.
— Meninos! — Mercy saiu da casa. — Sejam legais. — Sua expressão divertida mudou quando pousou sobre Riley, que correu até os degraus para reivindicar um beijo, a mão grande e gentil contra a bochecha dela.
Dorian e Ashaya chegaram quase no mesmo instante, parando em um veículo flutuante que estacionaram na borda da clareira. Riaz sabia que o homem era um dos amigos mais próximos de Mercy, bem como parceiro de treinamento de Judd. Parecia uma combinação estranha – o antigo Arrow e um homem que se encaixaria bem em uma praia de surf – mas entre outras coisas, Dorian era mortalmente preciso com um rifle de atirador.
— Entrem. — Riley acenou à todos a casa.
Eles entraram em massa para encontrar o ar repleto de cheiros apetitosos.
— Sim. — Mercy recuou contra o peito largo de Riley com um suspiro dramático, as costas da mão pressionadas na testa. — Fui escravizada por causa de vocês. Espero que apreciem.
Foi quando uma cabeça masculina ostentando o mesmo distintivo cabelo vermelho de Mercy estalou para fora da cozinha. — Vejo que a calça de alguém está pegando fogo4.
— Cale-se, Bas. — Mercy enxotou o homem alto, que se aproximou para envolver um braço ao redor do seu pescoço e arrastá-la para seu lado em um aperto carrancudo, como se ela não fosse uma sentinela com seu companheiro tenente bem ali.
— Diga que sente muito.
— Nunca. — Acotovelando o homem para libertar-se, Mercy fez as apresentações. — Pessoal, este é meu irmão Bastien, também conhecido como uma dor no pescoço, e um cozinheiro excelente. Bas, estes são os lobos que cairão em cima de você e lhe devorarão se sequer piscar errado.
— Tenho ferramentas para tortura de lobo, também, — Bastien murmurou antes de empurrar a cabeça em direção à cozinha. — A comida está pronta. Eu e minha ajudante de serviço traremos para fora. — Arrastou Mercy com uma fraternal falta de preocupação em relação a sua expressão insultada.
O olhar de Riaz conectou com os olhos risonhos de Adria, seus próprios lábios se curvando.
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