Amor Sem Pecado
Sarah and the stranger
Shawna Delacorte
Momentos Íntimos Edição de Férias nº 15
Sarah nunca foi beijada e acariciada assim nem experimentou um prazer tão intenso! A mercê da enlouquecedora virilidade de Wade Danforth, esquece que está violando a ética profissional ao desejar um paciente seu...
Digitalização: Nelma
Revisão: Andréa M.
Copyright © 1992 by Sharon Dennison
Originalmente publicado em 1992 pela Silhouette Books, Divisão da Harlequin Enterprises Limited.
Todos os direitos reservados, inclusive o direito de reprodução total ou parcial, sob qualquer forma.
Esta edição é publicada através de contrato com a Harlequin Enterprises Limited, Toronto, Canadá.
Silhouette, Silhouette Desire e o colofão são marcas registradas da Harlequin Enterprises B.V.
Todos os personagens desta obra são fictícios.
Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas terá sido mera coincidência.
Título original: SARAH AND THE STRANGER
Tradução: Maria Elizabeth Hallak Neilson
Copyright para a língua portuguesa: 1992
EDITORA NOVA CULTURAL LTDA.
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Esta obra foi composta na Editora Nova Cultural Ltda.
Impressão e acabamento: Gráfica Círculo.
CAPÍTULO I
— Bem, ao que tudo indica o sr. Wade Danforth parece ser um tipo que adora festas. Então escorregou numa rolha de champanhe e despencou da varanda, escada abaixo — Sarah murmurou, lendo as anotações da ficha. — Hum... Perna esquerda com duas fraturas, três costelas trincadas, clavícula deslocada, vários arranhões e um ferimento na cabeça que resultou na perda da visão.
Os cabelos escuros presos num coque severo, o rosto sem um pingo de maquiagem e os olhos azuis momentaneamente livres dos óculos de aro preto, compunham a imagem séria e compenetrada de Sarah Jane Morrison. Ao terminar a análise dos dados, ela devolveu a ficha à dra. Elizabelh Cameron, disposta a perguntar mais detalhes quanto ao estado de saúde do desconhecido.
— A perda da visão é permanente ou existe possibilidade de recuperação?
— Walter acha que as chances do paciente voltar a enxergar sem ser submetido a uma cirurgia são de cinquenta por cento, daí a decisão de esperar mais três meses até optar pela operação. Eu continuarei com as sessões semanais de psicoterapia, embora o fardo maior vá recair sobre os seus ombros, Sarah. É você quem lidará com Wade no dia-a-dia.
— Há algum prognóstico de quanto tempo estarei envolvida neste caso?
— É difícil dizer. Se você conseguir fazê-lo sair da concha de silencio e obstinação na qual parece ter se metido e obrigá-lo a reagir de maneira construtiva, creio que dentro de uma semana, ou um pouco mais, estará liberada. Do contrário...
— Entendo. Qual é a profissão dele?
— Arquiteto. E pelo que ouvi dizer, trata-se de um excelente profissional, alguém que já atingiu o topo da profissão, embora tenha apenas trinta e quatro anos de idade.
— Arquitetura é uma profissão marcadamente orientada pela visão. Aposto que todas as facetas da vida de Wade Danforth estão apoiadas no aspecto visual também: seus amigos devem ser pessoas atraentes, as roupas talvez sigam o último estilo da moda, e é provável que as atividades de lazer se concentrem em prática de esportes como tênis... ou navegação. Sendo arquiteto, sua casa deve ser uma verdadeira obra de arte. — Sarah sorriu com tristeza ao concluir:
— Suponho que o seu paciente esteja bastante irritado.
— Sim, e muito frustrado também. Trata-se de um homem dinâmico, acostumado a tomar decisões e estar no comando de tudo ao redor. Fique preparada, pois encontrará resistência. Wade não tem demonstrado a mínima vontade de cooperar e tentará tomar as coisas difíceis para você.
— Bem — ela respondeu levantando-se e ajeitando a camisa grande demais sobre a calça baggy. — Acho melhor pôr mãos à obra.
Sarah deixou o centro de Seattle, atravessou a ponte sobre o lago Washington e dirigiu até o extremo sul da ilha de Mercer sem encontrar grandes dificuldades para localizar o endereço de seu novo paciente. Rodeada por árvores centenárias e adaptada aos contornos do terreno, a casa de dois andares e muitas janelas oferecia uma visão encantadora e imponente, numa harmonia total com o meio ambiente.
Depois de tirar as malas do bagageiro, ela caminhou na direção da porta principal, mas antes que pudesse tocar a campainha alguém a atendeu:
— A senhorita deve ser Sarah Morrison — uma senhora gorducha e simpática, beirando os sessenta anos, estava dizendo. —Sou Edith Haggarty, empregada do sr. Danforth. A dra. Cameron me avisou da sua chegada.
— Oh, devo ter entendido mal — Sarah murmurou, surpresa. — Pensei que ele morasse sozinho. Talvez...
— Não, não, a senhorita não entendeu mal — Edith retrucou, trazendo-a para dentro e fechando a porta com um sorriso amigável.
— Venho apenas duas vezes por semana para limpar a casa e cozinhar. Pelo menos assim tenho certeza de que o meu patrão irá comer algumas refeições balanceadas e não apenas sanduíches. Ele realmente trabalha demais e, quando está envolvido num projeto, sequer se levanta da prancheta para se alimentar, contentando-se com pizzas ou qualquer outra coisa que possa ser entregue e consumida em poucos minutos. É claro que agora tudo será diferente
— a empregada falou baixinho, os olhos cheios de lágrimas. — Ele ficará bom, srta. Morrison? Voltará a enxergar algum dia?
Sarah ficou comovida com a emoção de Edith. Um homem capaz de despertar sentimentos tão sinceros de preocupação e cuidados numa pessoa que era paga para servi-lo devia ter grandes qualidades.
— Acho que tudo ficará bem — falou com delicadeza e confiança. — O médico acredita na recuperação completa. E, por favor... me chame de Sarah.
- Venha, deixe-me lhe mostrar o seu quarto — a empregada propôs, sem esconder o alívio que as palavras da recém-chegada lhe trouxeram. — Assim você já estará instalada quando o sr. Danforth chegar. Sabe, ele é uma pessoa muito organizada, do tipo "cada coisa em seu lugar, um lugar para cada coisa" e detesta bagunça.
— É mesmo? Então isso facilitará o meu trabalho. É muito importante que a ordem seja observada e os objetos mantidos em lugares específicos, desde o mobiliário até peças de roupas. A comida também obedecerá a um critério de armazenagem.
Edith conduziu Sarah ate a suíte de hóspedes, localizada no térreo. Grande e decorada com extremo bom gosto, possuía janelas francesas que se abriam para uma varanda, criando um ambiente elegante e, de certa maneira, instigante. É que a mistura de texturas e fragrâncias diferentes, como se trazidas de uma outra época, deixava transparecer uma certa sensualidade difícil de ser explicada, porém facilmente sentida. Sarah não conseguiu evitar um certo desconforto, causado por sensações adormecidas que ela preferiria esquecer...
Um cortinado de renda caía sobre a cama de quatro colunas, enfeitada com almofadas em tons suaves. Sobre uma cômoda escura, algumas tigelas com sachês e pacotinhos de ervas aromáticas. Nas paredes, apenas fotos difusas em tonalidade sépia, metidas em molduras antigas e trabalhadas. A maioria dos retratos era de mulheres nuas e apenas uma, dependurada defronte à cama, mostrava um casal, também nu, mergulhando num lago.
Sarah desfez as malas rapidamente e olhou para o relógio. Seu paciente estaria chegando dentro de três horas, portanto teria tempo para conhecer a casa antes de recebê-lo.
Wade Danforth acomodou seu um metro e noventa de altura na cadeira em frente à escrivaninha do dr. Walter McKendrick. A bengala ao seu lado era a última evidência da perna fraturada, porém os cabelos em desalinho e a barba por fazer deixavam claro o quanto aquele homem bonito e másculo ainda estava longe de sentir-se recuperado. Os olhos verdes e vazios fitavam o espaço, sem nada enxergar.
— Então os ortopedistas finalmente o liberaram — o oftalmologista falou com entusiasmo. — Creio que está na hora de abandonar a bengala, não é mesmo?
— Ótima ideia — Wade respondeu com amargura. — Vou trocá-la pela bengala branca dos cegos ou, quem sabe, comprar um daqueles cães treinados para servirem de guias.
— Vamos, Wade, já falamos sobre isso antes. — A voz do médico demostrava a confiança e tranquilidade adquiridas nos longos anos de prática. — As chances de você recuperar a visão são excelentes. Vamos esperar um pouco mais e deixar as coisas acontecerem. Caso sua condição não sofra alterações dentro de um período razoável de tempo, então partiremos para as outras opções de tratamento.
— Droga, doutor! Não me trate com condescendência! Seja claro!
Seguiu-se um silêncio desconfortável. O dr. McKendrick nada respondeu e simplesmente fitou o homem nervoso à sua frente, sabendo que tanto descontrole não passava de insegurança diante da nova situação. Com uma voz calma pediu à secretária, através do interfone, que chamasse a dra. Cameron à sua sala.
Momentos depois uma mulher alta, de uns cinquenta anos, entrou no consultório. Elizabeth Cameron ocupava a posição de chefe do Departamento de Psicologia do hospital e costumava trabalhar ao lado do oftalmologista, prestando acompanhamento psicológico aos pacientes.
— Bom dia, Wade — ela cumprimentou-o com delicadeza. — Bom dia, dr. McKendrick. Você me chamou?
— Sim, dra. Cameron. Gostaria que explicasse ao nosso amigo quais serão os próximos passos do tratamento, pois ele deverá ir para casa ainda hoje.
— Muito bem — Wade falou cheio de sarcasmo. — Sintam-se à vontade para falar a meu respeito como se eu não estivesse presente. Já que não posso vê-los, provavelmente não posso ouvi-los também.
— Está se sentindo melhor depois dessa pequena explosão? — perguntou a psicóloga num tom educado e profissional.
— Sim, estou — murmurou ele de má vontade.
— Ótimo, então podemos continuar a tratar de negócios... Sua companhia de seguros solicitou ao meu departamento que providenciasse alguém para lhe fazer companhia durante algum tempo, para ajudá-lo a ajustar-se...
— O quê? Vocês estão me mandando uma babá? Alguém para me dar comida, me vestir e cuidar para que eu não sofra acidentes dentro da minha própria casa?
Furioso, Wade saiu da sala sem que nenhum dos presentes fizesse menção de impedi-lo.
— Bem, Walter, as coisas saíram um pouco melhores do que eu esperava. Mas esse homem irritado e frustrado realmente dará muito trabalho a Sarah...
— Tem certeza de que ela dará conta do recado? Não será jovem demais para enfrentar um paciente tão difícil? Talvez se escolhêssemos uma pessoa mais velha e experiente...
— Não se preocupe, Sarah é perfeita para tratar desse caso. Embora tenha somente vinte e nove anos, possui grande experiência com pacientes problemáticos e pode ser tão teimosa e decidida quanto Wade. Também é capaz de ser compreensiva sem resvalar para a piedade.
— Você a conhece há muito tempo, não?
— Há dez anos. Sarah Jane Morrison era então uma garota de dezenove anos, recém-chegada a Seattle. Mesmo depois de conseguir empregar-se como garçonete em meio período, veio ao hospital à procura de outro trabalho e, por engano, entrou na minha sala. É difícil acreditar que uma pessoa com a criação dela tenha conseguido chegar tão longe. Durante toda a vida ouviu os pais dizerem-lhe o quão desajeitada e sem graça era e que provavelmente não possuía habilidades ou aptidões para o que quer que fosse. Aos dezessete anos, tão logo completou o segundo grau, os pais a forçaram a casar-se com um fazendeiro de cinquenta, cujo único objetivo era encontrar uma moça saudável, capaz de dar-lhe muitos filhos para ajudá-lo no trabalho da fazenda. Coagida, Sarah não teve outra escolha.
— Pessoas desse tipo não deveriam existir — o médico comentou com ar incrédulo. — É admirável que Sarah tenha tido a fortaleza de espírito necessária para conseguir dar um basta e livrar-se de uma situação insustentável.
— Exato. É por isso que a considero perfeita para lidar com Wade. Trata-se de uma lutadora, de uma sobrevivente. Ela conhece e compreende o tipo de raiva e frustração que o estão corroendo, pois também já se sentiu assim. Às vezes é difícil continuar lutando, resistindo, quando tudo parece desabar ao redor. É nesse momento que precisamos da ajuda de alguém de fora, mais ainda do que o apoio da família ou dos amigos, pois essa pessoa "desconhecida" poderá enxergar a situação com a objetividade necessária para entender os motivos, o que se esconde por trás dos sintomas.
— O que aconteceu para que Sarah viesse parar em Seattle?
— Como depois de um ano de casamento ainda não tivesse engravidado, o tal fazendeiro "gentil e educado" colocou-a para fora de casa. Depois de passar por Montana e Colorado, acabou fixando-se aqui. Consegui arrumar-lhe um lugar decente para morar e, depois de dois anos de terapia de grupo, considerei-a apta a começar o treinamento para o seu trabalho atual. Ela é muito inteligente e aprendia com grande rapidez.
— Foi por isso que você a aconselhou a trabalhar com os cegos?
— A decisão não foi minha, mas dela, e com certeza motivada por traumas que ainda carrega dentro de si. Sarah continua a considerar-se uma mulher de poucos atrativos, portanto o trabalho com cegos é a solução ideal para o problema de autoimagem. Já que eles não podem vê-la, não corre o risco de vir a ser humilhada ou rejeitada. Embora possua a autoconfiança necessária para desempenhar bem o seu trabalho, não confia em si mesma como mulher. Apesar de dois anos de terapia comigo, jamais conseguiu abrir-se totalmente. Há recantos da sua alma que permanecem intocados e a mais leve menção de um possível relacionamento íntimo e sexual a faz empalidecer de maneira assustadora. Quisera saber o que aquele animal com quem foi casada fez para deixá-la nesse estado de absoluto pavor — a psicóloga concluiu sem esconder uma profunda tristeza.
— Talvez algum dia ela encontre um homem com maturidade e sensibilidade suficientes para perceber que a beleza exterior não importa.
— Mas Sarah não é feia, muito pelo contrário! Simplesmente prefere esconder-se atrás de roupas largas demais e usar penteados severos, próprios para mulheres de idade. Creio que não se veste de maneira mais feminina por temer atrair olhares de possíveis admiradores. E na verdade os óculos de aros pretos que costuma usar não tem grau algum, pois a sua visão é perfeita. Ela é mesmo um enigma, embora seja a pessoa certa para esse nosso caso.
Se pretendia ajudar Wade a tomar-se independente, precisava primeiro familiarizar-se com o ambiente no qual ele vivia. Sarah decidiu começar pelo térreo, dominado pelo vestíbulo, duas suítes para hóspedes, sala íntima, lavanderia, quartos de empregados e garagem para três carros. No primeiro andar ficava a imponente sala de estar, onde peças caras e elegantes haviam sido harmoniosamente distribuídas pelo espaço amplo. Uma lareira de pedra dava um toque especial de aconchego, criando um efeito contrastante com os vários objetos de cristal Lalique1. Ao lado, sala de jantar, copa e cozinha. Janelas francesas se abriam para a varanda de onde era possível avistar um barco à vela (que sem dúvida devia pertencer a Wade), ancorado no lago Washington. O segundo andar era tomado pela suíte principal, sala íntima e um escritório cujas estantes estavam abarrotadas de livros, fotos, citações em jornais e prêmios recebidos.
Todos os retratos mostravam casas por ele desenhadas e os recortes de jornais enfatizavam sua grande habilidade para adaptar cada construção ao terreno, aproveitando ao máximo os recursos naturais, como por exemplo, a utilização da luz solar como fonte de energia. A paixão que aquele homem dedicava à profissão estava evidente em cada recanto de seu local de trabalho.
Sarah hesitou alguns segundos antes de entrar no quarto, como se pudesse sentir a presença silenciosa de Wade Danforth espreitando-a. A decoração masculina e requintada transpirava uma certa sensualidade nos detalhes escolhidos.
Sobre uma cômoda antiga, reluzia uma estatueta de vidro, representando as formas perfeitas de uma mulher. Alguns desenhos em nanquim chamaram-lhe a atenção também, e em especial o que retratava um casal nu, as pernas e os braços entrelaçados, fazendo... amor.
Ela sentiu o sangue subir-lhe ao rosto no mesmo instante. Como era possível um desenho tão explícito ser exposto daquela maneira casual? Não que fosse algo grosseiro ou pornográfico, muito pelo contrário. Porém a carga de erotismo dos traços mexia com seu íntimo e a fazia pensar que Wade Danforth devia ser um homem extremamente sensual.
Como era possível sentir-se afetada por alguém que ainda nem chegara a conhecer? Como ignorar as sensações estranhas que começavam a incomodá-la, quando mal podia compreendê-las?
Por um breve momento Sarah tentou imaginar como seria sentir-se livre, aberta para o amor e para a própria sexualidade, capaz de vivenciar certas emoções às quais jamais conseguiria entregar-se.
Não, as lembranças do inferno vivido doze anos atrás nunca deixariam de atormentá-la, por mais que tentasse esquecê-las. A porta do passado precisava continuar fechada, ainda que lhe custasse a plena realização como mulher. O que havia de tão especial nos aposentos de Wade Danforth para despertar o que sempre tentara sufocar? Por que um homem desconhecido teria o dom de tocar-lhe a alma?
Assustada com os próprios sentimentos, Sarah saiu quase correndo do quarto e procurou refúgio na companhia de Edith Haggarty. Quem sabe a empregada não saberia dizer-lhe por que aqueles desenhos eróticos faziam parte de uma decoração tão sóbria e requintada?
— Desculpe-me por rir tanto — a senhora gorducha estava lhe dizendo. — É que aquelas coisas estão aqui há tanto tempo que já nem me lembrava delas. As fotos no quarto de hóspede foram uma brincadeira do sr. Danforth.
— Brincadeira?
— Meu patrão tinha uma tia solteirona, falecida há dois anos, que estava sempre lhe fazendo sermões sobre o que era "certo e apropriado." A cada vez que vinha visitá-lo o deixava louco com tanta carolice. Então, para desconcertá-la, ele comprou aquelas fotografias e as colocou no quarto onde a tia costumava dormir. A distinta senhora ficou tão chocada que foi embora dois dias depois, não sem antes deixar bem claro que um rapaz tão jovem quanto ele não devia olhar para aquelas imoralidades.
— E quanto ao desenho... incomum, na suíte principal? — Sarah perguntou.
— Oh, sim. Foi presente de Aberdeen, aquele pintor famoso cujas obras estiveram recentemente expostas no museu de arte. Ele é amigo do sr. Danforth e fez o desenho durante uma festa aqui. A namorada atual do meu patrão não quis que o quadro ficasse na sala, pois achava que iria chamar mais atenção do que a sua própria pessoa. Não sei como ela o aceitou no quarto...
A empregada calou-se de súbito, temendo ter revelado mais do que deveria sobre a pessoa para quem trabalhava.
— Você disse a "namorada atual" — Sarah falou um pouco sem jeito. — O sr. Danforth costuma mudar de relacionamentos com frequência?
— Não tanto quanto algum tempo atrás. Depois que a esposa morreu, quando ainda morava na outra casa...
— A esposa morreu? — ela perguntou sem esconder a surpresa.
— Oh, sim, foi tão trágico. Eram ambos tão jovens e estavam casados há apenas um ano. Júlia sofreu um acidente fatal de carro... O sr. Danforth estava cursando o último semestre na faculdade e creio que se atirou ao trabalho para afogar o sofrimento. Por volta de um ano depois começou a sair com várias namoradas, porém nenhuma delas durou muito. Essa última está com ele há alguns meses, o que já é um recorde. Creio que o meu patrão está começando a ficar cansado da vida de solteiro. Só precisa encontrar a mulher certa.
A conversa foi interrompida pelo barulho de um carro aproximando-se.
— Deve ser o sr. Danforth! — Edith exclamou, entusiasmada. Sarah sentiu um suor frio escorrer lhe pelas mãos e a boca ficar seca, tamanho o nervosismo. Não havia dúvidas de que seu novo paciente possuía uma personalidade complexa e iria resistir a qualquer aproximação. Esse seria o seu caso mais difícil e deveria ficar preparada para os muitos obstáculos a serem vencidos.
Então uma figura alta e máscula aproximou-se da porta, quase tirando-lhe o fôlego. Wade Danforth era o homem mais bonito que jamais conhecera e, mesmo sem enxergar, parecia hipnotizá-la.
— Sarah — a dra. Cameron chamou-a, arrancando-a do transe. — Venha conhecer Wade.
CAPÍTULO II
— Você está se sentindo bem? — a psicóloga perguntou, tocando-a de leve no ombro.
- O quê? Sim, estou bem.
— Tive a impressão de que alguma coisa a preocupava. Há algo errado?
— Não — respondeu Sarah sem muita convicção. — Claro que não.
— Ótimo. Venha conhecer Wade então.
A proximidade daquele homem sensual parecia envolvê-la por inteiro, despertando sensações estranhas e perturbadoras.
— Wade, gostaria de apresentar-lhe Sarah Jane Morrison — a dra. Cameron falou, trazendo-a de volta à realidade. — Ela ficará na sua casa por algum tempo, até você se adaptar à nova rotina.
— Prazer em conhecê-lo. — Sarah estendeu-lhe a mão num gesto automático, procurando aparentar uma calma que estava longe de sentir.
— Então, Sarah Jane Morrison, a senhorita será a minha babá. Com certeza me obrigará a comer verduras e a ir cedo para a cama. — Wade sorriu com ironia, o rosto uma máscara de desafio.
— Não são essas as minhas obrigações — ela respondeu com frieza. — Não estou absolutamente interessada no tipo de alimentos que você aprecia ou a que horas costuma deitar-se. Estou aqui para ensiná-lo a enfrentar a nova rotina de vida sem assistência constante. Mas se por acaso precisar de ajuda no meio da noite, sinta-se à vontade para descer as escadas e acordar-me, pois serei capaz de lhe prestar auxílio. E, por favor... me chame de Sarah.
O efeito psicológico daquelas palavras falsamente sinceras foi imediato, pois Wade abandonou o sarcasmo e permaneceu em silêncio até a saída da dra. Cameron.
Ao apanhar a mala do patrão e rumar para a escada, Edith Haggarty lançou um olhar cheio de aprovação na direção de Sarah, como se percebesse muito mais do que deixava transparecer.
— Você não devia estar fazendo algo de útil? — Wade perguntou a Sarah sem muita delicadeza.
— Por que não nos sentamos e conversamos um pouco? Posso explicar-lhe a nossa programação para a próxima semana. Venha, vamos nos sentar no sofá. — Percebendo a expressão quase de pânico toldar aquele rosto másculo, ela insistiu com suavidade: — Pare e concentre-se, Wade. Não há nada nesta sala que você já não tenha visto pelo menos um milhão de vezes. Tente visualizar a disposição dos móveis e objetos. Diga-me onde você está neste momento.
— Que bobagem... — respondeu ele, cheio de raiva.
— Sente-se incapaz de fazer isso? Esta é a sua casa, o lugar onde tem vivido por muitos anos. É impossível que não saiba onde estão os móveis, escadas, portas...
— É claro que sei o lugar de tudo! Atrás de mim fica a porta de entrada e à frente, a saleta.
— OK. Onde estou eu agora?
— Que história é essa de "onde estou eu?" — Wade estendeu o braço na direção do som daquelas palavras ditas com suavidade, sem esconder a irritação da própria voz. — Você está ali.
— O que quer dizer "ali?" Em que parte específica da sala estou? Quão distante de você?
— Como diabo posso saber?
— Bem, no final das contas, parece que tenho uma ou outra coisa para lhe ensinar. Que tal nos sentarmos no sofá e conversarmos um pouco?
O resto da tarde transcorreu da mesma maneira. Wade recusando-se a mover-se a menos que se visse obrigado, recusando-se a cooperar, a prestar atenção no que Sarah tentava ensinar-lhe, recusando-se mesmo a comportar-se de maneira educada e civilizada.
Edith terminou a limpeza da casa e deixou o jantar pronto antes de sair. Ao despedir-se de Sarah, não pôde evitar as recomendações carinhosas e preocupadas:
— Voltarei na sexta-feira, mas se você precisar de alguma coisa, basta me telefonar. O número está anotado na caderneta de endereço.
— Em voz mais baixa, continuou: — Embora seja um ser humano maravilhoso, sei que o meu patrão é teimoso e às vezes não muito fácil de lidar. Por favor, não desanime, pois ele precisa de ajuda e creio que você é a pessoa certa. É difícil para um homem tão autossuficiente admitir suas limitações e aceitar auxílio. Não se deixe intimidar, minha querida. Se o enfrentar, ganhará a parada.
Sarah abraçou a empregada e acompanhou-a até a porta. Ao voltar para a cozinha, encontrou Wade ainda sentado no mesmo lugar à mesa. Depois de servir-se de uma xícara de café, perguntou:
— Gostaria de mais um cafezinho?
— Está com medo que eu mesmo me sirva? Acha que não sou capaz de manusear a garrafa térmica sem deixar derramar?
— Em absoluto. Ofereci-lhe por simples cortesia. Se não quiser mais, basta dizer-me.
Wade murmurou algo inteligível, porém Sarah não se deu por vencida:
— O que você disse?
— Eu disse sim, quero mais café.
— Pois não. — Ela o serviu.
— Obrigado.
— De nada. Não foi trabalho algum.
Embora o agradecimento tivesse sido dito em voz quase inaudível, Sarah sorriu, contente consigo mesma. Não, aquele homem perturbador não iria levar a melhor e aprenderia a respeitá-la. O toque repentino do telefone quebrou o silêncio em que os dois haviam se envolvido.
— É para você — ela anunciou, estendendo-lhe o fone.
— Anote o recado.
— Ele atenderá em seguida, aguarde um momento, por favor. — Ignorando o pedido de Wade, Sarah depositou o fone sobre o balcão e insistiu: — O telefonema continua sendo para você.
— Eu lhe disse para...
— E eu lhe disse que é para você — ela o cortou com frieza, sem deixar-se abalar pela expressão enfurecida do rosto másculo e sensual. — Agora venha até aqui e atenda ao telefone.
Para sua surpresa, Wade caminhou vagarosamente na direção do balcão, cada novo passo parecendo injetar-lhe mais confiança e determinação. Entretanto, o ligeiro sorriso de satisfação se apagou tão logo ele reconheceu a voz do outro lado da linha:
— Olá, querido! Estou tão feliz que já esteja em casa!
— Traci!
Percebendo tratar-se de uma conversa pessoal, Sarah saiu da cozinha e sentou-se na sala de estar, rememorando os acontecimentos do dia. Sim, Edith tinha razão. Wade Danforth era um homem muito teimoso... além de bonito e extremamente desejável. Oh, Deus! Como podia estar pensando num paciente naqueles termos?
Chocada consigo mesma, levantou-se e se pôs a acender o fogo na lareira. Quem sabe o aconchego das chamas, além de suavizar o frio da noite, não lhe traria um pouco de calma? Jamais se envolvera de maneira pessoal com qualquer um de seus pacientes, pois considerava atitudes assim pouco profissionais.
Então, por que aquelas sensações estranhas teimavam em atormentá-la? Por que se sentia tão confusa? Desde que deixara a casa de Wardell Morrison, para nunca mais voltar, decidira secar todas as lágrimas e sufocar os sentimentos. Seu único objetivo fora tornar-se independente, livre de amarras que a obrigassem a aguentar...
— Eu... ah, tenho uma pergunta. — A voz de Wade soava tão hesitante quanto seus passos. — Sarah Jane Morrison, onde está você?
— Na sala de estar, em frente à lareira — respondeu ela, observando-o parar, indeciso, na soleira da porta. — Pare um instante e pense onde, exatamente, você está e o que fica no meio do caminho entre a porta da sala e a lareira.
Vacilante, Wade estendeu um braço para a frente e tentou dar mais alguns passos, porém desistiu, o corpo tenso, as feições desfeitas pela raiva.
— Onde diabo está aquela droga de bengala que você me deu?
— "Aquela droga de bengala" deve estar onde você a deixou — respondeu Sarah sem se abalar.
Sem dar mais uma palavra, ele deu-lhe as costas e rumou para a cozinha, voltando segundos depois com a bengala nas mãos.
— Parece que você a encontrou.
— Hum... é. Estava mesmo onde eu a tinha deixado. — Seguiram-se alguns momentos de silêncio, quebrado apenas pelo som dos passos de Wade aproximando-se do sofá. — Tenho a impressão de que você acendeu a lareira.
— O que o leva a dizer isso?
— Posso sentir o calor das chamas — respondeu ele de má vontade. — Também consigo ouvir os ruídos da madeira queimando e do crepitar do fogo. A lareira fica à minha esquerda, portanto tenho que estar defronte à escada. À direita há uma mesinha com um abajur e uma pequena poltrona.
— Você está absolutamente correto! — ela exclamou, entusiasmada.
Então Wade Danforth sorriu e, num movimento espontâneo, abraçou-a, como se desejando compartilhar a pequena vitória. O breve instante de contato físico pareceu durar uma eternidade e foi com muita dificuldade que Sarah conseguiu recompor-se, afastando-se dele quase que em pânico. Numa voz sumida, murmurou:
— Você disse que gostaria de me fazer uma pergunta.
Wade permaneceu em silêncio, tentando entender o que se passava. Por que Sarah agira como se estivesse com medo, quando nada fizera para ameaçá-la? Não era possível que aquele breve contato físico a tivesse transtornado, pois tocar os pacientes cegos fazia parte do trabalho de orientação.
— Wade? O que gostaria de me perguntar?
— Hum? Oh, a pergunta... O telefonema era de Traci Sinclair, minha atual namorada — Quisera não ser obrigado a abordar um assunto tão pessoal com alguém desconhecido. E se Sarah risse dele e o considerasse idiota por estar se preocupando com a visita de uma mulher, estando naquelas condições? — Ela virá aqui amanhã à noite. O que você, ah... pretende fazer nas ocasiões que eu tiver companhia e quiser um pouco de privacidade?
— O que eu pretendo fazer é ficar no meu quarto e deixá-lo sozinho — respondeu ela, tentando convencer a si mesma de que aquela sensação estranha e incômoda não era uma pontada de ciúmes.
O barulho alto, seguido por uma torrente de imprecações, acordou Sarah repentinamente, fazendo-a levantar-se de um salto e correr para o corredor. O ruído viera mesmo lá de cima, portanto alguma coisa tinha acontecido a Wade! Segurando a barra da camisola para não tropeçar, subiu os degraus de dois em dois, parando junto à porta do quarto.
Caído ao chão, junto a uma poltrona virada, estava Wade Danforth, vestindo apenas short. Hipnotizada pela visão, ela não conseguia despregar os olhos daquela figura viril, de peito forte, ombros largos e pernas musculosas. Só de imaginar o que se escondia sob o short, sentia o coração disparar e a boca ficar seca... Desconcertada com a própria reação, desviou o olhar, odiando-se pela fraqueza.
— Quem está aí? É você, Sarah Jane Morrison? — perguntou ele, irritado.
— Sim, sou eu. Deixe-me ajudá-lo a levantar-se.
— No que foi que eu tropecei?
— Numa poltrona verde.
— Mas como? Esta poltrona deveria estar na garagem, pois eu pretendia dá-la para o jardineiro! O que este trambolho continua fazendo aqui?
— Esteja certo de que não sei a resposta. Contudo, posso tirá-la do caminho já. Por enquanto, vou colocá-la no escritório, e amanhã de manhã levo-a para a garagem, OK?
— Obrigado.
— Então, se está tudo bem agora, acho que vou voltar para o meu quarto.
— Eu estava com fome — Wade falou, sentando-se na beirada da cama. — Pensei em pegar algo na geladeira. Quem sabe não sobrou frango do jantar?
— Bem, fique à vontade. Vá em frente.
Sarah fitou-o com atenção, esperando a reação provocada por sua proposital falta de assistência. Se a princípio ele tentara virar-se sozinho, julgando-a adormecida, não havia motivos para que as coisas fossem diferentes agora.
— E você pretende ficar aí parada, me deixando correr o risco de cair na escada e quebrar... — Wade calou-se de repente, envolvido pelas lembranças do acidente recente, o chão aproximando-se mais e mais, sem que ele pudesse fazer nada para evitar...
— Você está se sentindo bem? Fale comigo! Você está bem?
— Sim, estou bem — murmurou ele com dificuldade, sem conseguir disfarçar a angústia. — Volte para a cama e me deixe só. Estou OK.
Sarah permaneceu imóvel, tentando adivinhar o que poderia tê-lo abalado tanto. A voz irritada de Wade alterou o rumo de seus pensamentos de maneira brusca e indelicada.
— Não a ouço mover-se. Já lhe disse que pode voltar para a cama! Estou OK.
— Se tem mesmo tanta certeza de que está bem, voltarei para o meu quarto.
Ela ainda não tinha se afastado muito, quando ouviu-o chamá-la quase que com raiva:
— Ei... Espere um momento, Sarah Jane Morrison. Volte aqui.
— Ficaria feliz em atendê-lo se fosse um pedido e não uma ordem.
— OK — resmungou ele sem entusiasmo.
— Não posso ouvi-lo. O que foi que disse?
— Eu disse OK.
— OK, o quê?
— Está bem! — Wade gritou. — É um pedido!
— O que você deseja? — Sarah indagou aproximando-se.
— Sinto tê-la acordado. — Embora fosse um pedido de desculpas, as palavras soavam de maneira levemente petulante, como as de um menininho sendo obrigado a reconhecer um erro.
— Não tem problema — ela retrucou com suavidade. — É para isso que estou aqui.
Num movimento espontâneo, tocou-o de leve no braço, como se para confortá-lo, mas retirou a mão no mesmo instante ao sentir seu próprio corpo vibrar, sacudido por tremores inesperados. Nervosa, procurou ajeitar o coque num gesto automático, e só então descobriu que havia se esquecido de prender os cabelos da maneira habitual.
Eles caíam em ondas suaves sobre a camisola comprida de flanela, emoldurando o rosto delicado e apreensivo.
O silêncio tomava-se cada vez mais pesado, fazendo-a sentir-se exposta e vulnerável diante de um homem que sequer podia enxergá-la. Numa tentativa de calar os sentimentos, falou a primeira coisa que lhe veio à cabeça:
— Eu, bem... Acho melhor voltarmos a dormir antes que esteja na hora de levantarmos.
— Que horas são?
— Uma e quarenta e cinco.
— Do dia ou da noite? Eu não posso diferenciar, você sabe.
Percebendo que Wade resvalava para o joguinho típico de situações similares, em que buscava se afirmar dando a palavra final e fazendo-a sentir-se culpada, Sarah ignorou a cilada e respondeu ao comentário cáustico da forma mais natural e indiferente possível:
— Da noite, é claro. E por falar em noite, vou me retirar. Vejo-o pela manhã.
— Bem, pelo menos um de nós estará vendo pela manhã.
Ela saiu do quarto sem responder à provocação, deixando-o só e pensativo.
Os acontecimentos das últimas semanas haviam sido extremamente difíceis e, enquanto estivera no hospital, Wade tentara convencer-se de que tudo voltaria ao normal tão logo voltasse para casa. Encarar a "impossibilidade de enxergar" como um evento temporário e não uma condição definitiva fora a única maneira de não ceder ao desespero e à depressão. Jamais pensara em si mesmo como cego, pois admitir essa realidade seria abrir mão de todas as esperanças.
Quanto a Sarah, não devia tratá-la com tanta indelicadeza, pois apenas tentava ajudá-lo a tomar-se independente, a ajustar-se a essa... "condição temporária."
Como seria ela, quantos anos teria? Pela suavidade da voz, julgava-a tratar-se de uma mulher jovem e, apesar de vestir-se com roupas largas demais (como pudera perceber ao tocá-la), certamente era magra e de constituição delicada.
Seria casada? Que tipo de pessoa escolheria uma profissão pouco usual, como a de treinar cegos? E por que se mostrava tão assustada a cada vez que ele se aproximava?
Wade deixou os pensamentos vagarem até se fixarem na figura alta e loura de Traci Sinclair. Ela o tinha visitado no hospital apenas duas vezes, e embora tentasse convencer a si mesmo, de que muitas pessoas não se sentem à vontade no meio de doentes, não podia ignorar um certo desapontamento em relação à namorada.
De qualquer modo ela viria visitá-lo logo mais à noite e quem sabe a proximidade daquele rosto e corpo perfeitos não apagaria a impressão deixada, a sensação de que viviam uma relação insatisfatória?
Na verdade Traci fora o modelo da estátua de vidro que enfeitava a cômoda de seu quarto. Wade ainda se lembrava do dia em que entrara na galeria de arte para comprar o objeto e o dono comentara que fora uma amiga sua quem havia posado para o escultor. Wade não perdera a oportunidade de conhecer, em carne e osso, a dona de curvas tão perigosas e logo estavam partilhando a mesma cama.
Traci era, talvez, uma das mulheres mais belas que ele jamais conhecera, mas vaidosa, egoísta, ciumenta e exigente. Antes mesmo do acidente, Wade estivera questionando aquele tipo de relação, baseada puramente em sexo, quando a intimidade se resumia apenas ao roçar dos corpos, sem que um sentimento mais profundo lhe tocasse a alma.
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