Amor sem pecado



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CAPÍTULO VI

Sarah acordou de repente e olhou para o relógio na mesinha de cabeceira. Nove horas da manhã! Como pudera dormir até tão tarde? O que Wade andara fazendo durante todo esse tempo? Ainda sonolenta, levantou-se, tomou uma chuveirada rápida, vestiu-se e rumou para a cozinha.

Embora a garrafa térmica estivesse cheinha de café fresco, não havia sinal do dono da casa e depois de chamá-lo alto duas vezes, e não obter resposta, decidiu sair à sua procura.

Wade estava na varanda superior, no exato local onde ocorrera o acidente. A tensão daquele corpo forte deixava evidente o quanto a lembrança do ocorrido continuava a afetá-lo.

Sarah permaneceu em silêncio, observando-o, admirada com a determinação dele de enfrentar o lugar que, com certeza, ainda lhe causava receio.

Para ser sincera, Wade infundia-lhe sentimentos que iam além da admiração. Bastava vê-lo para sentir o coração disparar, o sangue correr mais rápido nas veias. Se fosse deixar-se dominar pelas emoções, correria para ajudá-lo a descer; entretanto, sabia muito bem que cada um precisa aprender a dominar o próprio medo.

Ele colocou o pé no primeiro degrau e iniciou a descida vagarosamente, cada novo passo aumentando-lhe a confiança e determinação. As feições contraídas deixavam evidente o esforço feito para vencer o pavor das recordações. Ao atingir o último degrau, Wade virou-se e iniciou a subida outra vez.

"Quinta-feira, nove horas e cinquenta e quatro minutos" — entoou a voz metálica.

Olá, você já está acordado? — Sarah perguntou ao ouvi-lo abrir a porta do quarto.

Sim. Estou me vestindo e estarei aí embaixo num minuto.



Ela sorriu cheia de compreensão, percebendo que Wade preferia não dizer que estivera na varanda superior, obrigando-se a enfrentar o fantasma do medo. Satisfeita com os progressos de seu paciente, foi para a cozinha e serviu-se de um café.

Sarah Jane Morrison, você está aqui? — indagou ele, entrando na cozinha.

Sim. Eu pensei que você tinha acabado de levantar-se, porém já encontrei o café pronto.

Hum... De fato eu acordei algum tempo atrás e decidi tentar me virara sozinho. O café está OK?

Na verdade está ótimo — respondeu ela rindo, sem esconder a surpresa.

Não precisa ficar assim tão admirada, afinal não preparei nenhuma refeição. Usei apenas dois simples ingredientes: café e água.

Sei disso, mas você soube dosar as proporções exatas e o que é mais importante: não deixou vestígios de sujeira para eu limpar.

Ah, minha senhora — ele falou rindo. — Não sou o tipo de deixar bagunça para outros arrumarem.

Vejo que você solucionou o problema da combinação de cores

Sarah observou, reparando que o homem alto e bonito vestia calça jeans desbotadas, suéter verde e mocassins sem meias.

É, mas estou satisfeito porque iremos organizar os meus armários hoje.

Não se esqueça de que planejamos passar parte do dia ao ar livre.

"Quinta-feira, dez horas e seis minutos" — entoou a voz computadorizada.

Não sei — Wade murmurou, um tanto inseguro. — Já está um pouco tarde, talvez não tenhamos tempo. Você perdeu a hora — brincou, tentando mudar de assunto.

Eu sei... Mas não consegui dormir muito bem.

Tampouco eu — Wade respondeu com suavidade. Ambos permaneceram em silêncio por um longo tempo, cada qual imerso nos próprios pensamentos. Sarah sentia-se de certo modo aliviada por Wade não poder vê-la, pois tinha certeza de que seu rosto expressava toda a emoção que lhe ia na alma, todo o sentimento forte que aquele homem despertava em seu coração sedento de amor.



Wade, por seu lado, lutava contra o desejo imperioso de tocá-la, de beijá-la com avidez. Apenas o receio de afugentá-la o impedia de tomá-la nos braços e amá-la...

Acho melhor começarmos a trabalhar antes de perdermos o dia inteiro — ela falou com dificuldade, tentando romper o silêncio pesado e cheio de significados.

É... Vamos trabalhar — concordou ele sem entusiasmo.

O resto da manhã passou rapidamente, apesar da nuvem de desconforto parada no ar. Sarah ajudou Wade a organizar armários e gavetas de maneira lógica, etiquetando as roupas de acordo com as cores.

E quanto à mesinha de cabeceira? — ela perguntou abrindo a gaveta e deparando com várias caixinhas de preservativos. Com o rosto em fogo, fechou-a no mesmo instante.

Não há nada ali que mereça atenção — ele respondeu depressa demais.

Se estivesse na presença de outra pessoa que não fosse Wade Danforth, não teria dificuldades para discutir o tópico envolvendo atividades sexuais, pois todos os seus anos de prática deixaram claro que muitas vezes precisava abordar assuntos delicados e íntimos. Mas como manter uma postura profissional, quando se sentia atraída por seu paciente de uma maneira tão profunda?

Há outras coisas que você queira organizar ou precise esclarecer? — indagou.

Sim. Ainda não consigo entender por que a assusto tanto — retrucou ele, puxando-a para perto de si e sentindo-a ficar tensa. — Por favor, não tenha medo de mim — pediu, acariciando lhe os lábios com as pontas dos dedos.

Por favor, pare com isso — Sarah implorou numa voz quase inaudível, estremecendo da cabeça aos pés.

Quero saber como é você...

Que diferença pode fazer minha aparência?



Ignorando a pergunta, Wade tocou-a no rosto, explorando cada detalhe da face feminina:

Suas feições são delicadas, a pele é macia como seda. Diria que você é uma mulher jovem e bonita, com lábios carnudos e sensuais. Aposto que tem um sorriso adorável também.

Ainda não lhe ensinei a técnica de ver com as mãos — ela falou, tentando esconder o embaraço. — Onde aprendeu?

No hospital. Pratiquei em cada médico, atendente ou enfermeira que chegasse perto de mim.

Mais uma surpresa.

Quantos anos você tem?

Tenho... Tenho quarenta e sete, sou casada e mãe de três filhos, dos quais um já está na universidade. Meu marido é professor.

Aquela era uma pequena mentira que costumava contar aos seus pacientes, pois uma mulher mais velha e experiente no trabalho costuma despertar maior confiança.

Não, você não tem quarenta e sete anos e não é casada. Sua pele é lisa, sem rugas, e não há sinal de aliança na mão esquerda.

Engano seu... Sarah tentou consertar.

Não, sei que estou certo. Por que você se esconde dessa maneira? Já conheci muita gente que costuma mentir quanto à idade, porém nunca conheci uma mulher que fizesse questão de acrescentar pelo menos uns vinte anos à idade real. Diga-me que tenho razão! Admita ainda não ter completado trinta anos! E essa história de três filhos? Diga-me, Sarah Jane Morrison, quem toma conta da sua família enquanto passa os dias aqui?



Ela sentia-se asfixiar lentamente, como se de repente o calor do quarto fosse insuportável. Queria afastar-se dele, correr para bem longe daquela presença magnética, mas sabia que não tinha forças para desvencilhar-se dos braços fortes que pareciam aprisioná-la num abraço sensual e demorado.

Por favor, me solte pediu.

Você está sempre se esquivando dessa conversa, evitando dizer-me por que a deixo tensa. Entretanto, ninguém pode fugir para sempre e o dia virá em que você terá de enfrentar seus medos e aprender a lidar com eles. Quando essa hora chegar, lembre-se de que estou a seu lado e de que quero ajudá-la.

Vamos dar um passeio lá fora ela sugeriu, ansiosa para mudar de assunto.

Lá fora? repetiu ele, parecendo inseguro.

Sim. Você não disse que todos nós precisamos enfrentar nossos medos? Bem, estou aqui para ajudá-lo a enfrentar os seus.

Não era exatamente isso o que eu estava querendo dizer. Vamos almoçar primeiro, estou com fome.

"Quinta-feira, treze horas e quarenta e dois minutos" anunciou o relógio falante.

OK, acho que não fará mal se adiarmos o passeio ao ar livre por alguns minutos.

Para Wade, o tempo pareceu voar e, logo depois do almoço, Sarah voltou a insistir no assunto:

É como mover-se dentro de casa, pois você já andou pelos arredores centenas de vezes. O calçadão, a doca, o barco, o trajeto até a rua...

A rua? — repetiu ele sem disfarçar o pânico — Não, não posso...

Sim. Hoje passearemos apenas pelos jardins, porém amanhã de manhã iremos ao supermercado e à tarde ao hospital, pois você tem hora marcada com o dr. McKendrick e a dra. Cameron.

Ei, espere um momento. Não creio que eu já esteja preparado para fazer tudo isso. Talvez na semana que vem...

É claro que está preparado. — Percebendo a angústia de Wade, Sarah ajoelhou-se junto à poltrona dele, tentando infundir-lhe confiança. — Não há nada lá fora do que deva ter medo, nada desconhecido. Tudo o que você precisa aprender a fazer é a lidar com essas mesmas coisas de uma maneira diferente. O dia está lindo, vamos dar um passeio. Sabe, nunca estive num barco à vela antes. Adoraria ver o seu.



Os dois caminharam lado a lado, Sarah tendo o cuidado de não tomar a frente da situação, de dar a impressão de guiá-lo, embora estivesse pronta a ajudá-lo, caso fosse necessário.

Wade procurava usar a bengala o mínimo possível e ainda que levemente hesitante, seguia em frente, na direção da doca, esforçando-se para não demonstrar apreensão.

Ela percebia a ansiedade estampada no rosto másculo, compreendia o medo gerado pelas sombras e admirava a determinação daquele homem em vencer as próprias limitações.

Sarah Jane Morrison, bem-vinda à bordo do Mulher Encantadora! — ele exclamou convidando-a a subir, o sorriso orgulhoso deixando claro o quanto amava a embarcação. — Nestes últimos três anos, esta tem sido minha verdadeira companheira. Você disse que nunca velejou antes? Sabe, é a experiência com maior sabor de liberdade que alguém pode vivenciar. Deslizar sobre a água sentindo o vento no rosto, um leve gosto de sal nos lábios, os olhos perdidos no horizonte...



Wade calou-se de súbito e apoiou-se no corrimão do convés, as feições alteradas por uma tristeza infinita. Sarah tocou-o de leve no braço, desejando expressar toda sua compreensão e afeto.

Ele estremeceu, tentando escapar do mais profundo desespero. Desde que perdera a visão temera esse momento, quando se veria obrigado a enfrentar o fato de que não tinha mais condições de manter o barco. Embora procurasse convencer-se de que voltaria a enxergar logo, sabia que o futuro estava cheio de interrogações; portanto, a única saída seria vender e cortar uma fonte extra de despesas.

Se ao menos eu pudesse velejar uma vez mais antes de... Num movimento delicado, Wade puxou Sarah para junto de si, abraçando-a com a angústia de quem se agarra à própria vida.

Diga-me, Sarah Jane Morrison, diga-me a verdade... Há alguma chance de que eu volte a enxergar algum dia?

Sim, as chances são muito grandes.



Os dois permaneceram abraçados e em silêncio por um longo tempo, embalados pelo suave balanço do mar.

De repente Wade deu-se conta de que ela não parecia assustada desta vez. Talvez porque ao perceber sua necessidade de apoio, sua ansiedade crescente, tivesse sufocado os próprios medos para ajudá-lo.

A verdade é que se sentia cada vez mais confuso em relação a Sarah. Impossível negar para si mesmo o quanto a desejava. Gostaria de poder segurá-la para sempre, de sentir aquele corpo macio e sedutor colado ao seu...

Você não vai me mostrar o resto do barco? — ela perguntou, procurando romper o clima sensual que parecia envolvê-los.

Sim, claro — respondeu ele sem entusiasmo. Ao tentar abrir a porta da cabine principal, percebeu que estava trancada. — Droga! Esqueci que costumo deixar tudo trancado. A chave deve estar na escrivaninha do meu escritório.

Tudo bem, podemos voltar aqui mais tarde, quem sabe ao anoitecer? Vamos andar pelos jardins agora.



Relutante, Wade seguiu-a num passeio pelos arredores da casa. Sarah parou diversas vezes para perguntar-lhe onde estavam naquele instante, testando o sentido de orientação de seu paciente. Ele respondia sem vacilar, impressionando-a pela exatidão e firmeza das respostas. Mas ao notar que caminhavam na direção da rua, recusou-se a seguir em frente, propondo:

Vou pegar as chaves para lhe mostrar o resto do barco.

Espere...

Não, estarei de volta num minuto.



Antes que Sarah pudesse dizer mais alguma coisa, ele já havia desaparecido dentro da casa. Resignada, decidiu ir andando na frente e esperá-lo a bordo do Mulher Encantadora.

Minutos depois Wade surgia, caminhando vagarosamente na direção da doca, lutando contra a sensação de que o trajeto parecia durar uma eternidade. Sem deixar transparecer o quanto se sentira ansioso ao enfrentar aqueles poucos metros sozinho, ele subiu a bordo e destrancou a porta que conduzia às cabines, afastando-se para que Sarah fosse a primeira a entrar:

Mas é encantador aqui dentro! — ela exclamou, entusiasmada. — É muito mais espaçoso do que eu tinha imaginado! Olhe só os armários!



Sem dizer uma palavra, ele deixou-se cair numa cama beliche próxima à porta, o rosto traindo toda a angústia interior.

Eu sei o quanto este momento deve estar sendo difícil, mas acredite-me, tudo ficará bem — Sarah murmurou, passando um braço ao redor daqueles ombros fortes. — Por favor, não desanime. Há tantas coisas que você pode fazer. Há tantas pessoas que se importam com o seu bem-estar...

Que pessoas? Não se pode dizer que o meu telefone não para de tocar.

E o que me diz do interesse demonstrado por Edith Haggarty, Rich, Margie?

E quanto a você? — Wade perguntou, acariciando lhe os cabelos sedosos, estreitando-a com ternura.

O que tenho eu?

Você faz parte do grupo de pessoas que se importam comigo?

É claro que me importo com você—Sarah respondeu, tentando ignorar o sentido real da pergunta. — Todos nós, o dr. McKendrick, a dra. Cameron e eu, nos preocupamos com...

Por favor, não se faça de desentendida.

Então Wade beijou-a com suavidade, sentindo-a estremecer no exato momento em que os lábios de ambos se encontraram. Embora não o repelisse, Sarah enrijeceu-se de repente, dando a impressão de não saber como agir.

Será que corresponder a um simples beijo vai contra os seus princípios? — ele perguntou delicadamente. — Não pode ser assim tão ruim. Na verdade, já me disseram que sou bom nisso, porém fica ainda melhor quando as duas partes participam. Tente.



Aquelas palavras, ditas de maneira tão inocente, pareceram atingi-la fundo. Magoada, Sarah empurrou-o para longe e ficou de pé.

Sim, estou certa de que além de ser bom nisso, você possui bastante prática também. Portanto, não precisa desperdiçar seu tempo comigo.

Sarah Jane Morrison, espere! Por favor, não vá embora. Eu não queria magoá-la. Volte!

Cega pelas lágrimas, ela correu para a casa, culpando-se pelo acontecido. Estava certo o ditado que diz não se dever misturar trabalho e prazer. Na sua vida não havia lugar para o prazer, nem agora, nem nunca.

O que fizera fora imperdoável, totalmente contra a ética. Também não havia desculpas para o fato de ter largado um paciente sozinho, embora soubesse que ele era capaz de achar o caminho de volta sem dificuldade alguma. Só lhe restava uma saída: amanhã mesmo pediria dispensa do caso à dra. Cameron.

Tudo o que precisava fazer era evitar a presença de Wade tanto quanto possível, até o dia seguinte. Assim que Edith chegasse, iria embora para o hospital e nunca mais voltaria a vê-lo.

Sarah entrou em seu quarto e jogou-se sobre a cama, ainda trêmula e assustada. Como pudera permitir que ele a beijasse? O fato de não ter correspondido não tinha a menor importância, pois não alterava o acontecido. Também sabia muito bem que sua reação às palavras de Wade fora injusta, uma vez que ele não estivera, em absoluto, fazendo alarde dos próprios predicados sexuais, mas apenas tentando tranquilizá-la. Havia sido o desejo de deixar-se beijar, de ansiar pela carícia, o que a transtornara. Algo em seu íntimo dizia-lhe que seria capaz de entregar-se àquele homem sem oferecer qualquer resistência, e o conhecimento de tamanha fraqueza causava-lhe mais pavor do que as lembranças de sua fatídica noite de núpcias.

De pé no convés, Wade tentava entender o que se passara. O que a fizera agir de maneira tão exaltada? Que tipo de trauma a impediria de entregar-se a qualquer contato físico? A fugir da mais inocente carícia?

"Quinta-feira, dezessete horas e quarenta e três minutos" — anunciou a voz metálica.



Devagar, Sarah abriu os olhos e sentou-se na cama. Estava escuro lá fora. Ainda tonta de sono, acendeu o abajur e consultou o relógio. Vinte e duas horas e trinta minutos! Como pudera dormir tanto?

Ela levantou-se e rumou para a cozinha. Não havia sinal de Wade. Talvez ele estivesse dormindo. Decidida a certificar-se, subiu as escadas e espiou pela porta entreaberta do quarto. Não havia ninguém ali. A cama permanecia intocada.

Tomada de pânico, Sarah precisou apoiar-se na parede para não cair. Ela o deixara no barco havia mais de cinco horas e ele ainda não voltara.

Wade, onde está você? — gritou, cheia de angústia.



Ninguém respondeu. Desesperada, percorreu cada cômodo da casa, chamando-o sem parar, mas só se ouvia o silêncio.

Quase cega pelas lágrimas, Sarah saiu para a noite e correu na direção da doca.

Oh, Deus, por que fora deixá-lo sozinho? Não havia sentimentos feridos que justificassem o fato de ter colocado a vida de um paciente em perigo. Jamais poderia perdoar-se se algo tivesse lhe acontecido.

Trêmula, subiu a bordo e abriu a porta da cabine principal. Tudo estava às escuras e um pavor profundo pareceu dominá-la.

CAPÍTULO VII

Quem está ai? — indagou uma voz masculina, quebrando o silêncio e a escuridão da noite.

Wade, é você?

Sarah Jane Morrison. O que está fazendo aqui?

Vim procurá-lo. Já é muito tarde. Não o achei em casa e fiquei... bastante preocupada — ela completou num murmúrio tímido.

"Quinta-feira, vinte e duas horas e cinquenta e oito minutos" — entoou o relógio falante.

O que esteve fazendo aqui sozinho, durante todo esse tempo?

Estive pensando, ouvindo o barulho da água. Agora que você já sabe que eu não fugi e nem caí no lago, pode voltar para casa e dormir em paz. Não preciso de babá.

Wade... — Percebendo a mágoa escondida atrás daquelas palavras ditas com fingida indiferença, Sarah aproximou-se do beliche onde ele estava deitado. — Eu... bem...

Por acaso está tentando me dizer alguma coisa, Sarah Jane Morrison?



Já era hora de deixar cair a máscara e enfrentar os próprios medos. Wade Danforth a fazia sentir coisas que jamais julgara vir a experimentar. Não adiantava mais lutar contra os sentimentos, contra o desejo de entregar-se às sensações desconhecidas e poderosas.

Por favor, desculpe as minhas palavras impensadas. Desculpe-me tê-lo largado aqui.

Por que você agiu daquela maneira? — ele perguntou baixinho, puxando-a para junto de si.

De repente o ar da cabine pareceu ficar rarefeito e Sarah mal podia respirar, a proximidade de seus corpos deixando-a zonza, louca de desejo.

Por que agiu daquela maneira? — Wade insistiu, beijando-a no pescoço muito de leve.

Você... Você me assusta.

Como posso assustá-la, quando a trato com tanto respeito?

E o que os seus lábios estão fazendo neste momento que me aflige, Wade. É o toque das suas mãos que me deixa insegura, porque não sei como reagir. Não consigo entender o que você deseja.

Pois vou lhe dizer o que não desejo. Chega de me ver cercado de parasitas, de pessoas interessadas apenas em aparecer. Estou farto de gente superficial, incapaz de compreender qualquer coisa que não seja o próprio ego. Basta de mulheres como Traci Sinclair, pois já tive muitas daquele tipo. Quero dar sentido e significado ao resto da minha vida.

Mas a sua vida tem significado — ela falou, confiante. — Você é um arquiteto respeitado, vitorioso. Basta ler as revistas especializadas para se ter ideia de como o seu talento é reconhecido. Alguém capaz de projetar uma casa como a sua realmente possui um dom especial. Também é sabido que os estudantes de arquitetura costumam inspirar-se no seu trabalho.

É bom ouvi-la dizer tudo isso, porém palavras de ânimo e conforto fazem parte das suas obrigações, não é mesmo? Afinal, todos os pacientes precisam de encorajamento, de estímulo, de se sentirem membros ativos da sociedade e não um peso morto. Faz parte do seu trabalho ajudar-me a encontrar uma razão para acordar a cada amanhecer, para levar minha vida adiante.



Wade ficou em silêncio, tomado do mais completo desespero. Sarah estava ao seu lado apenas por motivos profissionais, quando ele ansiava por mais, por muito mais...

Por favor, não faça isso consigo mesmo... e comigo também. Eu me importo...



Ela calou-se de súbito, assustada com as palavras que estivera a ponto de dizer. Oh, Deus, se continuasse tão atordoada, acabaria expondo seus verdadeiros sentimentos, que nada tinham a ver com mero interesse profissional.

Sentindo-a estremecer, Wade enlaçou-a pela cintura, tomado de uma louca esperança.

Acho que ambos precisamos de um abraço — falou, procurando os lábios femininos. — E de um beijo também.



Embora uma voz interna insistisse para que se afastasse, Sarah entregou-se à tentação e passou os braços ao redor do pescoço másculo, retribuindo a carícia de modo delicado e hesitante.

Não passou despercebida a Wade a pouca experiência da mulher aninhada em seus braços e foi com muita dificuldade que conseguiu refrear o desejo de beijá-la avidamente, evitando amedrontá-la.

Até o acidente, suas parceiras de cama costumavam ser mulheres vividas e experientes, capazes de usar qualquer truque para atingir o máximo de prazer. Fora assim com Traci, e embora ela o deixasse sexualmente satisfeito, nunca conseguira tocar-lhe a alma. Após cada relação ficara sempre a impressão de que faltava algo importante e especial. Algo que viera a descobrir apenas na pureza, doçura e honestidade de Sarah.

Wade, terei de deixar a sua casa o quanto antes — ela murmurou tentando engolir as lágrimas, tomada da mais profunda tristeza. — Para realizar bem o meu trabalho preciso manter um relacionamento estritamente profissional, e no entanto agi contra a ética, quebrei todas as regras do regulamento. Já não sou mais capaz de atuar com objetividade, de tomar decisões baseadas em fatos, de demonstrar firmeza.



Ele entendia a lógica daquela linha de pensamento, porém todo o seu ser rebelava-se contra a ideia de deixá-la sair de sua casa, de sua vida.

Não, você não irá embora — Wade falou com firmeza. — Não permitirei que isso aconteça. Farei qualquer coisa que você desejar, mas, por favor, não se vá.

Amanhã pedirei à dra. Cameron que providencie alguém para substituir-me. É claro que ficarei aqui até o meu substituto chegar.

Você parece não ter ouvido o que eu disse. Falei que não permitirei a sua partida. Olhe, prometo não tocá-la mais — Wade propôs quase que com desespero. — Eu não me adapto às pessoas com facilidade e nunca conseguiria me acostumar com um estranho dentro de casa. Portanto, a ideia de um substituto está fora de cogitação.

Talvez devêssemos discutir esse assunto amanhã de manhã — Sarah falou ficando de pé e esforçando-se para não ceder às emoções. — Depois de algumas horas de sono poderemos raciocinar melhor. Boa noite, Wade.

Por favor, não vá!

Eu preciso ir, não há alternativa — ela respondeu num fio de voz, incapaz de controlar os tremores do corpo e a angústia da alma.

Já não consigo ser imparcial em relação a você e ao que aconteceu entre nós.



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