Amor sem pecado


Imediatamente Sarah percebeu que alguma coisa estava errada. Aflita, perguntou



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Imediatamente Sarah percebeu que alguma coisa estava errada. Aflita, perguntou:

O que você está sentindo?

Nada de especial ele mentiu, sabendo que se dissesse a verdade ela não sossegaria enquanto não o levasse para o hospital. Está tudo bem, creio que ainda estou um pouco sonolento. Bem, o que temos para o jantar? Na verdade estou faminto.

Sarah fitou-o desconfiada. Havia algo errado e precisava saber o que era.

Wade, por favor...

Você não me respondeu. O que temos para o jantar? Ele interrompeu-a, beijando-a de leve nos lábios.

Wade...

Vou colocar a mesa e abrir uma garrafa de vinho. Embora não pudesse enxergar, ele tinha certeza de que Sarah o fitava, desconfiada de que havia algo realmente errado acontecendo. Contudo não iria para o hospital de maneira alguma, pois não correria o risco de deixá-la só naquela casa enorme.

Os pontos luminosos espalhavam-se por todo canto, minando a escuridão total e deixando-o ligeiramente desorientado.

Estou abrindo vinho branco ou tinto? indagou ele, tentando aparentar naturalidade. Ainda não sei o que vamos comer.



Sarah suspirou resignada, sabendo que não conseguiria arrancar mais uma palavra de explicação daquele homem teimoso. Porém não desistiria até descobrir a verdade.

Durante o jantar Wade falou quase sem parar, impedindo-a de questioná-lo com seriedade. Contou-lhe sobre quando fora apanhado de surpresa por um temporal enquanto velejava pela costa canadense em direção ao Alasca e também falou de uma tempestade de neve que o manteve, e a outros amigos, presos numa cabana nas montanhas por três dias, comendo apenas feijão enlatado. Felizmente havia uma grande quantidade de lenha e puderam sobreviver ao frio.

Embora tentasse fazê-la rir contando-lhe histórias engraçadas e aventuras interessantes, seus esforços eram recebidos apenas com intervenções polidas. Era óbvio que Sarah não estava nada convencida de que tudo corria muito bem.

Wade, quero levá-lo ao... — interrompeu ela, incapaz de suportar por mais tempo a agonia de saber que algo estava errado.

Não!

É claro que eu não tenho força física para arrancá-lo daqui, se você não quiser cooperar... Mas por favor, diga-me o que está acontecendo — implorou com a voz trêmula.

Por que você não acende a lareira? Uma tempestade como essa merece que sentemos diante de um fogo aconchegante e tomemos um licor.

Claro, eu acendo o fogo e você traz os copos.



Sentados no sofá, apenas o crepitar das chamas quebrando a quietude da sala, os dois nada disseram por um longo tempo, saboreando a paz causada pela proximidade de seus corpos.

Sarah não podia esquivar-se à sensação de que Wade estava recusando-se a lidar com uma situação potencialmente perigosa para a própria saúde. Por que ele insistia em agir como se nada estivesse ocorrendo? Ela não suportaria se algo acontecesse ao homem a quem amava mais do que tudo no mundo.

Tenso, Wade procurava abafar o nervosismo crescente, piscando várias vezes. As manchas de luz pareciam ter aumentado, fundindo-se numa figura pouco definida, mas cheia de claros e sombras. Além do mais podia perceber uma espécie de movimento!

As chamas! Podia enxergar as chamas crepitando na lareira! Oh, Deus! Ele seria capaz de ver Sarah, de oferecer-lhe um futuro, de tomar conta dela!

Abraçando a mulher amada com força, tentou controlar os tremores de ansiedade que sacudiam seu corpo.

Wade — Sarah falou afastando-se, a voz carregada de preocupação. — O que está acontecendo? Não tente me enganar, mudando de assunto outra vez. Posso sentir sua...

Não agora — pediu ele, tocando-lhe os lábios com as pontas dos dedos. — Dê-me uns minutos mais.

Ainda sem mover-se, Wade manteve os olhos fixos à sua frente, enquanto áreas de luz e sombra tomavam-se cada vez mais definidas e focalizadas. Conseguia até mesmo perceber o contorno dos móveis e objetos maiores!

Ele estava enxergando! É claro que as imagens pareciam fora de foco, mas o importante era que voltara a ver!

Sarah... Alguma coisa está acontecendo, embora eu não saiba nem como nem porquê — murmurou emocionado, voltando-se para fitá-la.



Não, ele não dava mostras de estar sentindo dor, muito pelo contrário. E aqueles olhos verdes, outrora vazios, tinham um brilho diferente, emanavam vivacidade.

Wade? Você... você consegue me ver? — Rindo e chorando de alegria, Sarah abraçou-se ao homem amado, tremendo da cabeça aos pés. — Responda-me, você consegue me ver?

Não muito claramente — murmurou ele, temendo que tudo fosse mera ilusão. — Posso ver luz e sombra. Posso distinguir formas. Posso enxergar cores brilhantes. É como um filme fora de foco.

Quando... Como? — indagou ela cobrindo-o de beijos.



Os dois abraçaram-se com paixão, rindo e chorando de felicidade, provando o gosto das lágrimas um do outro. Sarah foi a primeira a recuperar um pouco de calma:

Agora você me deixará levá-lo ao hospital?

Você é uma mulher muito teimosa, sabia?

Então me considera cabeça-dura? Pois saiba que eu desconhecia o verdadeiro significado da palavra teimosia até conhecê-lo. Agora sei que trata-se de um sinônimo para Wade Danforth.

E eu não sabia o verdadeiro significado da palavra amor até encontrá-la. Hoje, pela primeira vez na vida, sei o que amar significa.

Wade? Você está querendo me dizer... — Emocionada demais, ela calou-se, temendo alimentar falsas esperanças.

O que estou tentando dizer-lhe é que a amo. Só que pareço não estar me saindo muito bem.

Oh, Deus, aquele homem maravilhoso a amava! Nada tinha mais importância, apenas a sensação de ser correspondida em seu amor.

Mas e se ele estivesse equivocado, confundindo amor com entusiasmo passageiro?

Tem certeza do que está me dizendo? Tem mesmo certeza? Esse tipo de situação no qual estamos envolvidos costuma misturar sentimentos baseados em...

Eu sei que muita gente costuma confundir seus próprios sentimentos, querida, porém conheço-me bastante bem, sou um homem seguro do que quer. Eu a amo, Sarah Jane Morrison.

Não posso acreditar nisso, não posso crer que eu esteja vivendo uma felicidade tão grande. Fale de novo, Wade. Diga que não estou sonhando. Por favor, diga que me ama outra vez.

Nunca, nem mesmo por um momento, duvide de que a amo com paixão. Você não está sonhando e jamais me cansarei de repetir o quanto a quero bem. Eu a amo, Sarah Jane Morrison. Eu a amo, eu a amo, eu a amo.

Nunca pensei que algo tão maravilhoso pudesse me acontecer. Nunca me cansarei de ouvi-lo dizer essas palavras especiais. Oh, Wade, eu o amo tanto que chega a doer!

Eu a amo, Sarah — murmurou ele, sentindo-se plenamente feliz e realizado. — Passei momentos horríveis temendo nunca vir a ser capaz de oferecer-lhe um futuro, de tomar conta de você. Quero poder vê-la com clareza, admirar seu rosto adorável.

Aquelas palavras carinhosas, ditas em voz suave, atingiram-na fundo, trazendo à tona os velhos medos. Agora que ele poderia enxergar, não tardaria a voltar à vida de antes: velejar, esquiar, festas de fim de semana, um roteiro de badalação e entretenimento no meio de gente bonita e rica. Logo Wade perceberia que não a amava de verdade e que em seu mundo não havia lugar para uma mulher simples.

Entretanto Wade Danforth era um homem de honra e não teria coragem de pôr um fim na relação de ambos, depois de ter feito tantas promessas de amor. Portanto cabia a ela afastar-se em vez de assistir ao abismo entre os dois aumentar cada dia mais. Amava-o muito para suportar isso.

Sarah fechou os olhos e chorou baixinho, mas não eram lágrimas de alegria. Ela ficaria junto dele até os médicos o considerarem curado, e então desapareceria para sempre, tendo como companhia apenas as lembranças dos dias mais maravilhosos de toda sua vida.

O uivo dos ventos e o barulho incessante da chuva faziam-na pensar que tudo chegava ao fim. As palavras de amor não tardariam a ser sopradas para longe e lavadas pela água do esquecimento. Só lhe restaria a solidão.

CAPÍTULO XII

Eufórico, Wade perdia-se em pensamentos relacionados ao futuro, agora que podia sonhar com a felicidade. Tudo seria perfeito, especialmente porque tinha Sarah ao seu lado, em seus braços. Por obra de um milagre, havia recuperado a visão. Não tardaria a voltar a trabalhar e poderia oferecer segurança e conforto à mulher amada. Tão logo o dr. McKendrick o liberasse para voltar à antiga rotina, pediria Sarah em casamento.

Ele ansiava enxergar o rosto querido, fitar os olhos que sabia serem lindos. Porém precisava ter paciência, pois as imagens ainda permaneciam um pouco fora de foco e não conseguia ver os detalhes de nada.

Sarah continuava em silêncio, absorta em dúvidas e temores. Gostaria que fizessem amor agora, pois provavelmente aquela seria a última vez. Teria se tornado uma criatura insaciável e imoral por alimentar desejos desse tipo? Não, só queria uma última lembrança da felicidade, para acompanhá-la durante os anos solitários que a aguardavam.

Wade?

Sim, querida? O que posso fazer para agradá-la?

Me abrace, por favor, me abrace forte.



Embora tentasse, Sarah não conseguiu disfarçar a tristeza da voz, o que logo o sobressaltou.

Sarah, qual é o problema?

Venha para cama comigo ela pediu fechando os olhos e lutando para manter a realidade do lado de fora. Faça amor comigo... agora. Por favor...

Você realmente não acredita que é preciso pedir, não é mesmo?



Com gestos lentos e sensuais, eles despiram-se um ao outro, e nus, subiram a escada na direção do quarto, os corpos trêmulos de antecipação.

Logo a boca ávida de Wade fechava-se sobre um mamilo róseo, sugando-o e lambendo-o até deixá-lo ereto e sensível.

Sarah sentia-se em fogo, o toque dele marcando-a como ferro em brasa, despertando nela uma sensualidade que julgara não possuir.

Lentamente ela fechou a mão sobre a virilidade intumescida que pressionava-lhe as coxas, perdendo-se no prazer de acariciar o membro rígido e pulsante.

Wade gemeu baixinho, contorcendo-se numa doce agonia.

Sarah, minha adorada... — sussurrou ele, fascinado com o poder das mãos dela em fazê-lo experimentar sensações tão profundas.



Com infinita delicadeza, Wade beijou-a na boca, nos seios, no abdômen, até atingir o centro da sua feminilidade, deixando-a lânguida, louca de desejo.

Wade... — ela murmurou atônita, sacudida por ondas de prazer. — Me abrace...



Puxando-a para cima do próprio corpo, ele penetrou-a, fascinado com a perfeição com que seus corpos se completavam.

Unidos na dança imemorial, os dois entregaram-se ao ritmo alucinado da paixão até que, perdidos um no outro, abandonaram-se à linguagem sem palavras em que mãos e lábios viajam pela rota eterna do amor.

Sarah sentia a consciência desaparecer num turbilhão de sensações alucinantes, engolfada por uma maré de puro erotismo.

A explosão final arrebatou-os como uma onda poderosa, algo tão intenso que Sarah e Wade jamais haviam experimentado antes. Eles agarraram-se um ao outro, os corpos trêmulos, suados e enfim saciados.

Durante um longo tempo, nenhum dos dois falou nada, entregues ao torpor da satisfação plena.

A chuva tinha diminuído de intensidade e o vento balançava as árvores com delicadeza. Wade abraçou a mulher amada, sabendo que por fim encontrara o que vinha buscando a vida inteira.

Sinto-me imerso num mundo estranho, dominado por meia-luz. Posso ver e não posso. Distinguo as formas dos objetos, mas não consigo enxergar seu rosto claramente — ele falou beijando-a com carinho. — Sabe, não vejo a hora de voltar ao trabalho. Sempre amei minha profissão, é algo muito importante para mim, algo de que senti muita falta. Mal posso esperar para entregar-me a um novo projeto.



As coisas estavam acontecendo exatamente como ela imaginara. Primeiro seria o trabalho. Wade era um arquiteto talentoso, com muito a oferecer ao mundo. Depois do trabalho, seriam as saudades dos amigos, das atividades de lazer. Logo não haveria lugar para ela na rotina antiga.

Você vai adorar o barco. No primeiro fim de semana disponível iremos às ilhas San Juan. Estive pensando e acho que talvez seja melhor eu deixar a Mulher Encantadora ancorada no Iate Clube e não aqui na doca. É provável que seja um pouco mais caro, mas o serviço de manutenção e segurança compensarão. Tenho certeza de que tudo será maravilhoso — murmurou beijando-a no pescoço.

Wade... Talvez fosse melhor se...

Se o quê? — indagou, mordiscando-a na ponta de uma das orelhas.

Se você aguardasse até a consulta com o dr. McKendrick antes de começar a fazer muitos planos.

Sarah fechou os olhos, envergonhada com os próprios pensamentos. Por um momento desejara que Wade não recuperasse a visão para que as coisas pudessem continuar como estavam.

Você está querendo me dizer que esse meu estado atual poderia reverter-se? — ele perguntou muito sério, o rosto destituído de qualquer traço de alegria. — Ao invés de melhorar eu poderia piorar ou então permanecer como estou nesse momento?

Não, claro que não! Estou apenas dizendo-lhe para ter cautela até conversar com o dr. McKendrick.

Claro, entendo.



Havia algo estranho no jeito de Sarah, embora ele não conseguisse entender bem o quê. Wade beijou-a de leve no rosto, apreensivo, quando desejava estar louco de felicidade.

O som de vidro se espatifando no chão acordou-o de repente. Alerta, sentou-se na cama e chamou por Sarah.

O que foi, Wade?

Shh, acho que ouvi algo. Pareceu o som de vidro sendo quebrado.

Eu não consigo escutar nada — respondeu ela tensa.

Fique aqui. Vou lá embaixo.

Não sozinho! — Num segundo Sarah estava de pé, o corpo coberto pelo robe.

Você fica aqui — insistiu ele.

Embora você seja capaz de discernir luz e sombra ainda não voltou a enxergar plenamente. Irei com você, não discuta. O barulho deve estar de alguma maneira ligado à tempestade.

Venha então, sua teimosa.

Ao chegarem à cozinha Sarah suspirou aliviada. Um galho de árvores havia atingido uma das vidraças, espatifando o vidro.

Não se aproxime — avisou-o. — Há vidro espalhado pelo chão e o carpete está molhado. Tão logo seja dia e as lojas abram, vou alugar uma daquelas máquinas de limpar carpetes e dar um jeito nessa bagunça.



Wade esfregou os olhos e massageou as têmporas. De certa forma parecia estar enxergando um pouco melhor do que algumas horas atrás.

Acho que eu deveria levá-lo ao hospital ainda hoje para um exame minucioso. Dr. McKendrick não vai aprovar se não o colocarmos imediatamente a par do desenrolar dos acontecimentos.

Que diferença faz se esperarmos mais um ou dois dias? Tenho consulta marcada para a próxima terça-feira. Por que nos apressarmos?

Nós não temos certeza absoluta do que está acontecendo aí — ela argumentou, tocando-o de leve na têmpora esquerda. — Talvez seja um sintoma de algo muito diferente do que a restauração da visão. Você precisa ser examinado.



E ela precisava saber quanto tempo mais tinha de felicidade, antes de fazer a mala e partir para sempre.

Você acha mesmo que eu deveria ser examinado o quanto antes?

Sim, acho. Vou telefonar para o dr. McKendrick agora.

Wade temia o momento de enfrentar o médico, de ouvir o diagnóstico, pois se aqueles sintomas não fizessem parte do quadro de completa recuperação, então não teria nada a oferecer a Sarah. Ele podia viver sem enxergar, mas não conseguiria viver sem Sarah.

Dr. McKendrick empurrou a lâmpada fluorescente para o lado e sentou-se ao lado de Wade.

Uma pancada na cabeça ocasionou sua perda de visão, portanto, na teoria, outra pancada poderia fazê-lo voltar a enxergar. Na verdade seria uma cura miraculosa, algo para o qual a ciência não teria explicações racionais.

Será que o senhor poderia ser um pouco mais claro, doutor? — indagou ele nervoso.

A verdade, Wade, é que eu não tenho uma explicação lógica para o que está acontecendo aqui. Todos os testes indicam que a sua visão está voltando, embora eu não saiba como nem porquê. Gostaria de mantê-lo no hospital durante essa noite para fazermos um acompanhamento minucioso e realizarmos mais alguns testes.



Sentada à sua escrivaninha, a dra. Cameron não perdia uma só das reações de Sarah enquanto apreciava a nova aparência de sua colaboradora, bonita em seu conjunto de calça e blusa azul. Além de estar com os cabelos soltos ela ainda se maquiara!

O que está acontecendo de verdade, Sarah? As notícias sobre Wade não poderiam ser melhores e o fato de vocês terem enfrentado o assaltante é uma dose de emoção suficiente para uma vida inteira. Porém tenho certeza de que existe algo mais. Você não me procuraria hoje apenas para falar desses incidentes. — Depois de alguns minutos de silêncio, a psicóloga continuou — Você está muito bonita, Sarah. Sempre lhe disse que bastaria deixar de esconder-se para transformar-se numa mulher atraente. Como vejo que seguiu meus conselhos, posso apenas concluir que tem algo a ver com Wade Danforth. Primeiro você me telefona, pedindo para ser desligada do caso e agora... essa metamorfose em sua aparência. Gostaria de me falar sobre o assunto?



Sarah finalmente conseguiu sustentar o olhar da psicóloga e durante os próximos dez minutos falou sem parar sobre tudo o que acontecera entre Wade e ela e sobre os medos quanto ao futuro.

Por que você precisa ter tanto medo? A mim parece-me um sonho tornando-se realidade. O fato dele ter colocado a sua segurança acima de tudo, inclusive correndo o risco de ser morto pelo assaltante ao tentar protegê-la, demonstra o quanto ele a ama.

Concordo com você nesse ponto. Mas quando Wade voltar à vida de antes, verá que eu não me encaixo em seu mundo. Ele é um homem brilhante, com um belo futuro à frente e eu... eu não passaria de amarras que o prenderiam a um período difícil do passado. Não posso permitir que Wade jogue a felicidade pela janela por causa de laços emocionais temporários.

Sarah voltou para a casa do lago sozinha, pois embora relutante, Wade concordara em permanecer no hospital durante a noite para submeter-se a uma nova bateria de testes. Ao chegar, encontrou Rich consertando a vidraça quebrada.

Não são maravilhosas as notícias a respeito de Wade? — indagou o advogado, sorrindo de uma orelha à outra. — Nunca um telefonema me deu tanto prazer quanto a sua chamada do hospital. Margie deve estar lá agora, fazendo companhia ao nosso amigo.

Sim, as notícias são ótimas — respondeu ela tentando disfarçar a tristeza.

Sarah, há algo errado? Algo que eu não saiba?

Não, claro que não. Estou apenas um pouco cansada. Sabe, fico-lhe grata por ter vindo dar um jeito nessa bagunça — falou com alegria forçada, procurando mudar de assunto.

Não foi trabalho algum. Eu realmente não gostaria que Wade voltasse para casa e visse... E ele estará vendo quando voltar, não é mesmo?

De acordo com o dr. McKendrick, sim. O médico afirma que o processo de cura está prosseguindo com rapidez e se tudo continuar assim, Wade recuperará cem por cento da visão. Talvez amanhã, quando for liberado do hospital, ele ainda tenha um pequenino problema para focalizar, o que será sanado em poucas horas.

Isso é maravilhoso! — exclamou Rich abraçando-a e beijando-a no rosto. — É maravilhoso demais!

Bem, parece-me que você tem tudo sob controle aqui e se me desculpar agora, tenho coisas a fazer. Com o recente desenrolar dos acontecimentos, meu trabalho está completo. Eu... ah, desculpe-me — Incapaz de conter as lágrimas por mais tempo, ela deu-lhe as costas e correu para o quarto.

Confuso, Rich observou Sarah afastar-se, surpreso com aquele comportamento. Sempre achara que o relacionamento entre ela e Wade ia além do estritamente profissional e nunca imaginara vê-la partir de maneira tão abrupta.

Exceto pelo abajur aceso no escritório, a casa estava às escuras. Sentada à escrivaninha, Sarah contemplava a folha de papel em branco à sua frente. Wade receberia alta no dia seguinte às dez horas da manhã e Rich iria apanhá-lo, pois ela não suportaria a agonia final de vê-lo mais uma vez.

Deixar um bilhete era uma maneira covarde de resolver a situação, porém não seria capaz de agir de outra forma. Vê-lo de novo e saber que ele poderia, finalmente, vê-la estava acima de suas forças.

Não, não havia outra saída. Quando Wade voltasse para casa ela já teria saído da vida dele para sempre e não demoraria muito para se transformar numa lembrança sem rosto, ligada a um período doloroso e passageiro.

Sua mão tremia ao escrever as palavras de adeus enquanto lágrimas manchavam o papel.

CAPÍTULO XIII

Rich! — Wade exclamou surpreso ao ver o amigo caminhando na sua direção. — O que você está fazendo aqui? Eu estava esperando... Sarah está aqui, não está? — Indagou apreensivo. — Está tudo certo, não está?

Sim, ela está bem. Apenas pediu-me para vir buscá-lo, pois parece que tinha algumas coisas para resolver — respondeu o advogado, começando a preocupar-se.

Então vamos embora daqui. É bom poder vê-lo, porém o que eu mais quero agora é poder ver Sarah.



Estava claro o quanto Wade estava ansioso, nervoso. Durante todo o trajeto ele não parou de falar no desejo de ver Sarah, de finalmente poder oferecer-lhe um futuro.

Eu a amo, Rich. Ela é tudo o que eu tenho procurado durante todos esses anos.



O silêncio do amigo não passou despercebido a Wade.

Há algum problema? Você me parece preocupado.

Não, claro que não — respondeu o outro de forma pouco convincente.

Será que você poderia dirigir um pouco mais depressa? — Wade pediu, sentindo que alguma coisa estava terrivelmente errada.



Sarah terminou de desfazer a mala e antes de guardar o conjunto de saia e blusa cor-de-rosa, acariciou o tecido devagar, pensando que nunca mais teria uma oportunidade de usá-lo. Os dias felizes tinham acabado.

O apartamento, mobiliado com simplicidade, parecia ainda menor do que quando o deixara. Triste e desesperançada, ela deixou-se cair numa poltrona e fechou os olhos. Nunca em sua vida sentira-se tão vazia ou tão sozinha.

Provavelmente tudo aquilo que a dra. Cameron lhe dissera era verdade, porém ela optara pela maneira covarde de resolver os problemas e deixara o bilhete. Afinal conhecia-se muito bem e não poderia suportar a humilhação e a dor quando percebesse o desaponto nos olhos de Wade.

Uma quietude estranha dominava a casa e a sensação de que algo estava errado só fazia aumentar. Quase em pânico, Wade subiu a escada, sabendo que não precisava chamar por Sarah, pois não havia ninguém a esperá-lo.

Ela lhe disse alguma coisa? — ele perguntou a Rich, as feições marcadas pela dor intensa. — Talvez tenha saído para resolver assuntos pessoais.



Rich desviou o olhar, incapaz de suportar a tristeza estampada nos olhos do amigo. Pelo que parecera uma eternidade, aqueles olhos não tinham sido capazes de enxergar nada, e agora, agora que haviam voltado à vida, não podiam ver a única coisa que desejavam.

Ela me disse que sua missão estava terminada, que não tinha mais nada a fazer aqui...

Oh, entendo... — Wade murmurou, afastando-se. — Talvez eu não tenha entendido bem o significado do que aconteceu entre nós...

Você está bem?

Claro, estou ótimo. Obrigado pela carona. Vejo-o mais tarde. O bilhete estava sobre seu travesseiro. Com as mãos trêmulas, ele apanhou a folha de papel, preenchida com uma letra delicada e feminina, e depois de alguns segundos de hesitação, começou a ler:

"Meu querido Wade,

Essa é a coisa mais difícil que jamais precisei fazer, mas é a única saída.

Você é um homem talentoso e tem muito a oferecer ao mundo. Agora que recuperou a visão, logo voltará à vida de antes, rodeado dos amigos antigos e ricos. Se eu permanecesse ao seu lado, você não tardaria a notar o quanto uma mulher simples e comum como eu destoaria nesse mundo chique. Não sei nada sobre iates, acontecimentos formais na sociedade, festas suntuosas. Nem mesmo cheguei a cursar a faculdade.

Prefiro afastar-me agora, do que tornar-me uma carga, um empecilho e, finalmente, um embaraço para você diante de seus amigos e sócios de negócios. Muito em breve não serei mais do que uma vaga lembrança associada a uma fase desagradável da sua vida. Não preciso desejar-lhe sorte e sucesso, porque sei que ambos estarão ao seu lado. Gostaria de agradecer-lhe por ter me proporcionado os dias mais felizes da minha vida. Por algum tempo senti-me realmente querida e aceita por aquilo que sou. Guardarei essa lembrança com muito carinho. Eu o amo, Sarah."

Wade leu o bilhete mais duas vezes antes de conscientizar-se plenamente do significado das palavras. Ele sentia-se exausto, enfraquecido, confuso. O que aguardara como um momento de felicidade suprema tinha se transformado na mais completa desolação. Nunca em sua vida sentira-se tão desesperado, nem mesmo quando flagrara Júlia na cama com seu melhor amigo, nem mesmo quando acordara no hospital e os médicos lhe disseram que talvez não voltasse a enxergar. Nada comparava-se ao desespero de perder Sarah.

Todos os seus planos para o futuro a incluíam e nem por um minuto duvidara de que partilhariam suas vidas.

Oh, Deus! Como suportar tanto sofrimento? Ele fechou os olhos e bendisse a escuridão.

Venda tudo, Rich. Liquide tudo, até a menor peça do mobiliário. Deixe de fora apenas o barco. Vou fazer uma viagem e não sei para onde vou nem quando estarei de volta.

Então é essa a sua resposta? — Rich perguntou, balançando o bilhete de Sarah no rosto de Wade. — Fugir?

Já não sei mais o que fazer e não posso continuar vivendo desse jeito. Deixei milhões de recados no hospital e na secretária eletrônica da casa dela, porém nunca obtive resposta. A cada vez que vou procurá-la em seu apartamento, o senhorio me olha com tristeza e diz que Sarah não está.

Se você não a ama o suficiente para insistir, então talvez ela tenha tido razão ao deixá-lo. — Rich abriu a pasta com a papelada da venda da casa e começou a falar de negócios, embora Wade parecesse não estar lhe dando a mínima atenção.

Insistir? Como? Onde mais posso procurá-la?

Bem, se você está realmente interessado...

Se estou realmente interessado? Rich, se você está escondendo alguma informação de mim, juro que Margie logo será uma viúva rica.

Quando eu comecei a fazer aquela investigação que você me pediu, descobri que Sarah comparece ao hospital toda segunda-feira às seis e meia da manhã, para uma reunião com a dra. Cameron.

Vestindo o conjunto azul, Sarah entrou no escritório da dra. Cameron e não reparou no homem sentado na sala de espera, entretido com a leitura do jornal. Tão logo ela fechou a porta, Wade pôs o jornal de lado, tomado de uma forte emoção.

Aquela era a primeira vez que a via e Sarah correspondia exatamente à imagem mental que fizera. Ela era linda, realmente linda e teria sido capaz de reconhecê-la em qualquer lugar. Inebriado de amor, ele aguardou a reunião terminar.

Quando Sarah saiu do consultório, meia hora depois, passou a segui-la a uma distância segura pelos corredores do hospital, observando-a parar num bebedouro.

Sarah tinha a garganta seca e uma terrível dor de cabeça que parecia perseguí-la dia após dia. Desde que voltara ao apartamento nunca mais tivera paz e vivia sob um stress constante. Nestas duas últimas semanas não sabia o que era uma noite bem dormida.

Ela abriu a bolsa, tirou duas aspirinas e tomou um pouco d'agua. Ao levantar a cabeça notou que havia alguém ao seu lado, provavelmente aguardando a vez de usar o bebedouro.

Sarah virou-se e viu-se frente a frente com Wade Danforth. Surpresa, deu um passo atrás e encostou-se na parede, a respiração alterada, o peito arfando. Aqueles olhos verdes e faiscantes pareciam penetrá-la, devassando os recantos mais escondidos da sua alma, impedindo-a de mover-se.

Ele viu o choque estampado no rosto adorado. Os olhos azuis eram perfeitos, a pele macia como seda. Os cabelos escuros caíam em ondas suaves sobre os ombros arredondados e os lábios carnudos convidavam a mil beijos. Wade precisou de toda sua força de vontade para não tomá-la nos braços ali mesmo e cobri-la de carícias.

Imprensada contra a parede pelo corpo másculo, ela teve a impressão de que ia desmaiar. Num fio de voz, conseguiu murmurar:

Wade?

Tenho tentado entrar em contato com você respondeu ele num sussurro sensual. Telefonei e fui ao seu apartamento inúmeras vezes, todos os dias, desde que você saiu da minha vida daquela maneira rude e inesperada. Por que não retomou meus chamados?

Achei que meu bilhete fosse claro o suficiente.

Por acaso está se referindo a isso? indagou ele, tirando um papel amassado do bolso. Já li esta coisa tantas vezes que cheguei a decorar as palavras. Não há nada aqui além de tolices incoerentes sobre dois mundos diferentes e sua opinião de que ambos não se misturam. Diga-me, Sarah Jane Morrison, você pesquisou bastante antes de formular tais opiniões ou elas surgiram do nada, baseadas em puro preconceito? Ele baixou a cabeça ainda mais, seus lábios quase se tocando. Pelo que sei, você nunca chegou a consultar a única pessoa a quem a nota era endereçada.

Pensei que nossas diferenças fossem óbvias, mesmo quando você não podia enxergar.

Se você acredita nisso, então não era eu o cego.

Por favor, não faça isso comigo ela implorou, os olhos cheios de lágrimas. Será que não podemos parar por aqui? Nunca daria certo entre nós. Seria uma tortura ver você distanciando-se de mim a cada dia, deplorando o nosso relacionamento cada vez mais. Eu não poderia viver assim. Eu morreria aos pouquinhos.



Wade nada respondeu e segurando-a pelo braço, quase arrastou-a para fora do hospital.
Já lhe disse antes e vou repetir outra vez: nunca, nem por um minuto, duvide do quanto a amo ele murmurou, beijando-a na boca com paixão, os corpos nus roçando-se numa caricia lenta e erótica.

Sarah abraçou-se ao corpo másculo, sentindo-se feliz e saciada. Os dias que haviam passado separados haviam sido uma tortura insuportável, ainda mais difícil de enfrentar do que o ano horrível ao lado de Wardell.

Prometa-me, Sarah, prometa-me que nunca mais me deixará...

Wade, eu...

Ele tomou o rosto delicado entre as mãos, fitando-a com adoração:

Quando eu não podia enxergar, só desejava recuperar a visão para ser capaz de vê-la, de olhar dentro dos seus olhos. Quando fiquei curado, mal podia esperar para encontrá-la, mas só achei a solidão. Num mesmo dia, minha vida me foi restituída e meu mundo desabou. Não quero passar por uma experiência semelhante de novo.

Eu o amo, Wade — ela falou devagar. — E nada irá mudar isso, mas...

Então está decidido.



Ele levantou-se da cama e começou a vestir-se apressadamente.

O que você está fazendo?

Vamos, vista-se, querida.

Espere um momento. O que está acontecendo aqui?

Vamos ao seu apartamento agora para que você possa fazer as malas e aproveitaremos para informar ao seu senhorio que você está de mudança.

De mudança? Eu não posso vir morar aqui, não seria...

Pode me chamar de antiquado, tradicional ou qualquer coisa do gênero, mas eu acredito firmemente que a mulher deve morar sob o mesmo teto do marido.

Marido? — ela conseguiu murmurar, tomada de absoluta surpresa.

Sim, isso é, se você me aceitar. Não posso me imaginar vivendo sem você. Por favor, case comigo.

Casar com você? — O rosto coberto de lágrimas e o sorriso luminoso, não deixavam dúvidas quanto a resposta. — Casar com você?

A resposta é sim ou não? — Wade insistiu, rindo de felicidade.

Claro que é sim! Sim! Sim! Sim!



Lá fora entardecia, as cores suaves do pôr do sol iluminando o quarto cheio de amor.
Fim


1 Nota da Revisora: Cristal Lalique: centenária marca francesa de cristais, criada pelo francês René Jules Lalique, designer de vidro conhecido por suas criações de perfume garrafas, vasos, joias, lustres , relógios e ornamentos de capô de automóveis.


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