Aos residentes do Hospital Presbiteriano-Shadyside da



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O “barato” do corredor
A depressão é sempre associada a pensamentos obscuros, pessimistas, pensamentos que rodam incessantemente em nos­sa cabeça: “Jamais terei sucesso. De qualquer maneira, não vale a pena tentar. Não vai dar certo. Eu sou feia. Eu não sou inteli­gente. Eu sou azarada. Isso sempre acontece comigo. Eu não tenho energia, força, coragem, força de vontade, ambição sufi­ciente. Eu estou no fundo do poço. As pessoas não gostam de mim. Eu não tenho nenhum talento. Eu não mereço atenção. Eu não mereço ser amada. Eu estou doente...”.

Essas idéias podem ser não só excessivas como dolorosas (tais como “Eu sempre desaponto todo mundo”, o que sim­plesmente não pode ser verdade). Mas, no momento em que elas se manifestam na depressão, esses pensamentos já se tor­naram tão automáticos que não é mais óbvio quão anormais eles são, apenas o indício (externo) de um mal (interno). Por meio de seu trabalho, que começou nos anos 60 e 70, Aaron Beck, M.D., o inventor da terapia cognitiva, já mostrou que, apenas por repetirmos esses pensamentos em nossa mente, nós a mantemos deprimida. Ele também mostrou que pará-los de­liberadamente em geral ajuda os pacientes a encontrar o cami­nho de volta ao bem-estar.6

Uma das características do esforço físico sustentado é pre­cisamente que ele põe fim, pelo menos por algum tempo, a essa torrente de pensamentos depressivos, os quais raramente sur­gem de modo espontâneo durante o exercício. Se o fazem, o fato de desviar a atenção ao fixar seus pensamentos em sua respiração ou na sensação dos pés tocando o chão ou na con­centração na sua coluna vertebral quase sempre é suficiente para nos livrar deles. A maioria das pessoas que pratica jogging, ou corre, afirma que depois de quinze ou vinte minutos de esforço contínuo atinge um estado no qual seus pensamentos são es­pontaneamente positivos e até mesmo criativos. Elas se tor­nam menos autoconscientes e se deixam guiar pelo ritmo de seu esforço. Alguns se referem a essa experiência como “o ba­rato do corredor”. Somente aqueles que perseveram durante várias semanas o experimentam. Trata-se de um estado sutil e (longe de ser uma heroína) costuma criar dependência. Depois de uma certa quantidade de exercícios consistentes, muitos pra­ticantes de jogging não conseguem ficar sem a sua corrida de vinte minutos um dia sequer.

Um grande erro que os iniciantes cometem quando voltam de uma loja orgulhosamente estreando seus tênis novos é que- rer correr rápido demais e durante muito tempo. Para falar a verdade, não há uma velocidade ou uma distância mágica. O que leva a um estado de “fluxo” é a perseverança em um esfor­ço que você é capaz de sustentar no limite de suas capacidades. No limite, mas nunca além. Mihaly Csikszentmihalyi, Ph.D., o pesquisador dos “estados de fluxo”, já demonstrou isso brilhan­temente. Para um iniciante, a distância será inevitavelmente curta e os passos, curtos. Mais tarde, o corredor terá que correr mais depressa e percorrer uma distância maior para conseguir manter o “fluxo”, mas apenas depois que já tiver se tornado um viciado na corrida.
Ultrapassando o Zoloft
Pesquisadores da Universidade de Duke realizaram recen­temente um estudo comparando os efeitos antidepressivos do jogging com os do Zoloft, um antidepressivo eficaz muito co­nhecido. Após quatro meses, pacientes tratados com as duas abordagens estavam indo igualmente bem. A medicação não oferecia nenhuma vantagem particular sobre a prática regular de jogging. Mesmo a combinação do remédio com o jogging não intensificou os efeitos. Por outro lado, um ano depois, hou­ve uma diferença incrível entre os dois tipos de tratamento. Mais de um terço dos pacientes que estavam sendo tratados com o Zoloft tivera recaídas, ao passo que 92% daqueles que seguiram o programa de jogging ainda estavam indo bem.7 Eles decidiram, por iniciativa própria, continuar se exercitando mes­mo depois de o estudo ter sido concluído.

Outro projeto de pesquisa na Duke mostrou que juventude e boa saúde não são requisitos necessários para conseguir be­nefícios do exercício físico. Pacientes deprimidos com idades variando entre cinqüenta e setenta e sete anos se beneficiavam tanto de uma caminhada vigorosa de trinta minutos (sem cor­rer) três vezes por semana como dos antidepressivos. O medi- camento aliviava os sintomas um pouco mais rápido, mas não mais eficazmente. Essa era a única diferença.8

Exercícios físicos regulares podem ajudar não apenas a curar um episódio de depressão, como também provavelmente a pre­veni-lo. Em uma população de sujeitos normais, as pessoas que se exercitavam no início do estudo estavam muito menos pro­pensas a ter depressão nos 25 anos seguintes.9

Eu já senti os efeitos tanto do tratamento como da pre­venção do exercício em minha própria vida. Quando, aos 22 anos, cheguei aos Estados Unidos, não conhecia praticamen­te ninguém. Os primeiros meses foram tomados por todas essas atividades comuns entre os imigrantes. Além do curso de medicina, que ocupava muito do meu tempo, eu estava procurando um apartamento e fazendo a mudança. Começar tudo de novo sem os pais em volta para dizer o que fazer e como fazer foi divertido no início. Eu me lembro do prazer que senti com a simples compra de cortinas ou mesmo de uma frigideira. Mas depois de alguns meses, já estabelecido e preso à rotina de estudante, minha vida parecia especialmente vazia, desprazerosa.

Sem minha família, meus amigos, minha cultura, minhas “saídas” favoritas, de repente me dei conta de que me sentia como se estivesse murchando aos poucos. Lembro-me de uma noite em especial, na qual nada parecia importar ou fazer sen­tido exceto a música clássica. Fiquei escutando-a por toda a noite em vez de estudar. Lembro-me de dizer a mim mesmo até que reger uma orquestra era a única profissão que talvez valesse a pena praticar em um mundo tão frio e indiferente.

Como não tinha a mínima chance de ter sucesso nessa pro­fissão, meu pessimismo como imigrante isolado só piorou. Depois de várias semanas nesse humor devastador, dei-me conta de que, se não reagisse, iria ser reprovado nos exames. Deixar a França para vir até aos Estados Unidos só para ser reprovado não seria um absurdo? Então, sim, eu teria motivo para ficar deprimido!

Eu não sabia por onde começar, mas sabia que tinha que sair daquele estupor que me deixava prostrado horas a fio, sem fazer nada além de escutar sempre as mesmas fitas. Pensei no squash, que praticava em Paris antes de partir. Felizmente eu trouxera minha raquete comigo - e ela me salvou.

Primeiro, tornei-me membro de um clube de squash. Du­rante as primeiras duas semanas de jogo nada mudou, exceto que afinal eu tinha alguma coisa prazerosa por que ansiar em minha vida. Eu sabia que, pelo menos três vezes por semana, me divertiria gastando minha energia física e depois tomando uma ducha longa e merecida.

Graças ao squash também conheci umas poucas pessoas que foram legais em me convidar para jantar. Pouco a pouco fiz amigos e descobri uma vida social gratificante. Durante muito tempo não soube se a maior ajuda tinha vindo do exercício ou dos meus novos amigos, mas, qualquer que fosse a explicação, não fazia a menor diferença. Eu me sentia melhor e estava no comando de novo.

Mais tarde aprendi que, mesmo nas horas mais difíceis, se eu corresse vinte minutos pelo menos dia sim dia não, geral­mente sozinho, ficava mais bem preparado para lidar com desafios e me sentia capaz, de qualquer maneira, de evitar as angústias da depressão. E, apesar de todas as pesquisas e in­vestigações, nada do que aprendi desde aquela época me levou a mudar de opinião: o exercício ainda é minha “primeira linha de defesa” contra as incertezas da vida.

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