Aos residentes do Hospital Presbiteriano-Shadyside da



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Um dia na vida de Charles
Aos quarenta anos, Charles é gerente de uma importante loja de departamentos. Já escalou vários degraus na hierarquia da empresa e está muito à vontade em sua área. O único pro­blema é que, há meses, ele vem sofrendo de “palpitações”. Elas lhe causam preocupação e já o fizeram procurar vários cardio­logistas, que não conseguiram ajudá-lo. Charles chegou a um ponto em que decidiu parar de praticar esportes. Tem medo de ter um ataque que o leve de novo a um pronto-socorro. Ele também fica de olho quando faz amor com a esposa, por ter medo de forçar o coração. Em sua opinião, suas condições de trabalho são “perfeitamente normais” e “não particularmente estressantes”. Entretanto, durante a nossa consulta ele explica que está pensando em deixar sua posição de prestígio. A verda­de é que o presidente da empresa é insolente e cínico. Embora

Charles trabalhe bem nesse meio competitivo - e agressivo nunca deixou de ser uma pessoa sensível que se magoa com os comentários grosseiros e desagradáveis do presidente. E mais, como acontece amiúde, o cinismo que ele ostenta infecta todos os membros da equipe: os colegas de Charles na área de marke­ting, propaganda e finanças têm um relacionamento frio entre si e são rudes em seus comentários.

Charles concordou em gravar a variabilidade de seu ritmo cardíaco durante 24 horas. Para analisar os resultados, ele teve de escrever o que estava fazendo nas diversas horas do dia. Não foi difícil interpretar o resultado. As onze da manhã, cal­mo, concentrado e eficiente, estava escolhendo fotos para um catálogo, sentado à sua mesa. Seu ritmo cardíaco demonstrava uma coerência saudável. Então, ao meio-dia, seu ritmo cardía­co virou um caos, além de ter aumentado cerca de doze bati­mentos por minuto. Naquele exato momento, ele estava se di­rigindo ao escritório do presidente. Um minuto depois, seu coração batia ainda mais rápido e o caos era total. Esse estado prevaleceu durante duas horas: tinham acabado de lhe dizer que a estratégia de desenvolvimento que passara algumas se­manas preparando era “inútil”. Se ele não fosse capaz de orga­nizá-la com mais clareza, melhor seria que outra pessoa cui­dasse daquilo. Após sair do escritório do presidente, Charles teve um episódio típico de palpitação que o forçou a deixar o prédio para se acalmar.

A tarde, Charles tinha uma reunião. O registro mostrou ou­tro episódio de caos que durou mais de trinta minutos. Quan­do o questionei, ele foi a princípio incapaz de lembrar o que poderia tê-lo causado. Após refletir, entretanto, lembrou-se de que o diretor de marketing tinha comentado, sem olhar para ele, que a aparência e o estilo dos catálogos que estavam sendo feitos não se encaixavam na imagem que a loja de departamen­tos tentava promover. Mas quando voltou à sua sala, o caos cessou e deu lugar a uma relativa coerência. Naquele momen­to, Charles estava ocupado revisando um projeto no qual acre- ditava muito. Em um engarrafamento a caminho de casa na­quela noite, sua irritação acarretou outro episódio de caos. Em casa, ele abraçou a esposa e os filhos, e isso foi seguido de uma fase de dez minutos de coerência. Por que somente dez minu­tos? Porque depois disso Charles ligou a televisão para assistir ao noticiário.

Uma pesquisa diferente já demonstrou que emoções ne­gativas, tais como raiva, ansiedade, tristeza e até preocupa­ções comuns, reduzem muito a variabilidade cardíaca e se­meiam o caos em nossa fisiologia.13 Por outro lado, emoções positivas, como alegria, gratidão e sobretudo amor, parecem promover a maior coerência. Em poucos segundos, essas emo­ções induzem uma onda de coerência imediatamente visível no registro da freqüência cardíaca.14 Para Charles, e para cada um de nós, os períodos caóticos em nossa fisiologia diária produzem uma verdadeira perda de energia vital. Em um es­tudo envolvendo milhares de executivos em empresas euro­péias, mais de 70% se descreveram como “cansados", seja “a maior parte do tempo” ou “o tempo todo”. E 50% deles disseram francamente que estavam “exaustos”.15 Como po­dem, homens e mulheres competentes e entusiasmados, cujo trabalho é parte essencial de suas identidades, chegar a esse ponto? Talvez seja, precisamente, devido ao acúmulo de pe­ríodos caóticos que eles mal podem notar. As agressões diá­rias ao equilíbrio emocional, quando sustentadas a longo pra­zo, sugam a energia, e os levam a sonhar com um emprego diferente ou, em suas vidas privadas, com outra família, com outra vida.

Felizmente, em contraste com nossas experiências de caos, todos nós experimentamos também períodos de coerência. Eles não se sobressaem necessariamente como momentos que co­roam a existência, tais como momentos de êxtase ou enlevo, que marcam nossas vidas. Em um laboratório na Califórnia, em que a coerência cardíaca é pesquisada, Josh, o filho de doze anos de um dos engenheiros, sempre passava para ver o pai e sua equipe. Ele sempre trazia Mabel, seu labrador. Um dia, os en­genheiros decidiram medir a coerência cardíaca de Josh e de Mabel. Longe um do outro, eles estavam em um estado comum de meio caos, meio coerência. Assim que ficaram juntos, pas­saram a ficar em estado de coerência. Se fossem separados, a coerência desaparecia de novo, quase instantaneamente. Para Josh e Mabel, só o fato de estarem juntos já gerava coerência. E deviam sentir isso intuitivamente, porque eram inseparáveis. Para eles, estar juntos não era uma experiência extraordinária, mas simplesmente algo que os fazia se sentir bem. Assim, esse elo significava que Josh nunca se pegava imaginando se deveria passar sua vida com um cachorro diferente, ou Mabel com um dono diferente. O relacionamento entre ambos trouxe-lhes uma coerência interna; era música em seus corações.

O estado de coerência cardíaca influencia outros ritmos fisiológicos. Em particular, a variabilidade natural na pressão sangüínea e nos ritmos respiratórios rapidamente se sincro­niza com a coerência cardíaca. Esses três sistemas operam em uníssono.

Tal fenômeno é comparável ao alinhamento de ondas de luz em um raio laser que, por essa razão, é chamado de “coe­rência”. O alinhamento fornece ao laser energia e poder. Uma lâmpada de cem watts dissipa sua energia em todas as direções e perde a eficácia, mas quando é focada em um raio e sua fase é alinhada, a mesma quantidade de luz pode cortar uma folha de metal. A coerência da variabilidade pode economizar energia de maneira idêntica. Esse focar de energia é provavelmente a razão por que, seis meses após uma sessão de treinamento em coerência cardíaca, 80% dos executivos antes citados não se declaravam mais “exaustos”. Só um em cada seis entre os que antes declararam estar sofrendo de insônia ainda tinham difi­culdade para dormir. Só um em oito que se declararam “ten­sos” continuavam a se sentir desse modo. Reduzir a inútil per­da de energia talvez seja tudo o que é necessário para restaurar a vitalidade natural.

No caso de Charles, algumas sessões de treinamento de coe­rência com o auxílio do computador capacitaram-no a contro­lar suas palpitações. Não há nada mágico ou misterioso em re­lação ao seu progresso. Todos os dias ele fez alguns exercícios sozinho para vivenciar, em seu peito, sentimentos de coerência e, de vez em quando, devia se lembrar de evocar esses mesmos sentimentos quando começasse a notar que a tensão estava se acumulando durante o dia. Ao fazê-lo, aumentou em muito o equilíbrio de seus sistemas simpático e parassimpático. Em outras palavras, ele fortaleceu e ajustou o “timing” de seu bre­que fisiológico.

Como os músculos de um atleta bem treinado, uma vez que esse breque esteja “em forma”, ele se torna extremamen­te fácil de usar. Com um breque muito bem afinado com o qual se possa contar o tempo todo, nossa fisiologia não foge do controle, mesmo quando as circunstâncias externas são di­fíceis. Dois meses após sua primeira sessão, Charles já estava praticando esportes novamente e fazendo amor com sua es­posa com o entusiasmo que seu relacionamento merecia. En­carando seu presidente, aprendera a permanecer focado nas sensações em seu peito para manter sua coerência e para evi­tar que sua fisiologia se desgarrasse. De fato, ele se tornara capaz de responder com mais tato. Também era capaz de en­contrar as palavras certas para neutralizar a agressividade de seus colegas sem ser defensivo (leia mais a respeito desse tema no capítulo 12).


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