Aos residentes do Hospital Presbiteriano-Shadyside da



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Um tratamento para a ansiedade... e células imunitárias
Bernard não está sozinho. O que ele descobriu, Platão já tinha descrito há 2500 anos. E, no curso dos últimos vinte anos, a ciência ocidental já o demonstrou: o exercício é um tratamen­to tremendamente eficaz para a ansiedade.

Estudos a respeito do assunto são tão numerosos hoje que há até várias “metanálises”, estudos sobre estudos.1 Um deles lida, inclusive, com os benefícios do uso de uma bicicleta esta­cionária comum, que é muito menos intensa do que a “de disco”, de que Bernard tanto gosta. Esse estudo mostra que a maio­ria dos participantes se sentia mais cheia de energia, e também mais relaxada, depois de pedalar em bicicletas estacionárias.2 Os benefícios ainda eram evidentes um ano depois, como mos­tram os registros da pesquisa, uma vez que a grande maioria dos participantes, por vontade própria, continuava a se exerci­tar regularmente.

O curioso é que quanto menos em forma estamos - quanto mais ricas as nossas refeições, mais tempo passado na frente da TV ou atrás do volante de um carro -, mais rapidamente o exercício físico, mesmo em doses pequenas, nos fará sentir melhor.3 Bernard estava certo em aumentar sua dose de exercí­cios em períodos de maior stress.

Na Universidade de Miami, Arthur LePerrière, Ph.D., exa­minou os efeitos protetores do exercício em situações difíceis. Para esse teste, ele escolheu um dos piores momentos pelo qual um ser humano pode passar - aquele no qual lhe é dito que é HIV positivo. Na época dessa pesquisa, muito antes da desco­berta da tríplice terapia, o diagnóstico significava uma senten­ça de morte. E as pessoas eram deixadas sozinhas para lidar psicologicamente com esse fato devastador.

O dr. LaPerrière observou que pacientes que vinham se exer­citando regularmente durante pelo menos cinco semanas pa­reciam estar “protegidos” contra o medo e o desespero. E mais, seu sistema imunológico, que invariavelmente desmorona em situações de stress, também resistiu melhor no momento em que receberam a terrível notícia. Células que são “assassinas naturais” (AN) são a primeira linha de defesa do corpo contra uma invasão externa - como o vírus da Aids - e a expansão de células cancerígenas. Altamente sensíveis às nossas emoções, quanto melhor nos sentimos, mais energia elas têm para fazer o seu trabalho. Por outro lado, em períodos de stress e depres­são as células assassinas naturais tendem a ficar abatidas e a parar de se multiplicar. Esse foi o resultado observado pelo dr. LaPerrière em casos de pacientes que não se exercitavam. Suas células AN diminuíam abruptamente depois do diagnóstico - exatamente o oposto dos pacientes que se exercitavam com regularidade.4
A iniciação de Xaviera
Um pouco de jogging também é bom para pessoas com de­pressão. Em um dos primeiros artigos modernos sobre o as­sunto, John Greist, M.D., da Universidade de Wisconsin, Madi- son, conta a história de Xaviera.

Xaviera era uma aluna de 28 anos que estava em busca de um segundo mestrado na Universidade de Wisconsin. Morava sozinha, raramente saía, exceto para ir às aulas, e com freqüên­cia se queixava de que jamais iria conhecer o homem de sua vida. Sua existência era vazia e ela já tinha perdido a esperança de que isso iria a mudar.

Seu único consolo eram três adorados maços de cigarro por dia. Ela passava o tempo vendo a fumaça subir em círculos, em vez de se concentrar nas notas do curso. Não ficou nem um pouco surpresa quando o médico na clínica da faculdade lhe disse que sua nota na escala da depressão a colocava no grupo dos 10% mais afetados da instituição. Sua depressão vinha se instalando havia dois anos e nenhum dos tratamentos sugeri­dos era aceitável para ela.

Xaviera não queria falar com um psicólogo sobre sua mãe e seu pai ou sobre seus problemas de infância. E recusava a me­dicação porque, como dizia, “Eu posso estar deprimida, mas não estou doente”. Não obstante, ela concordou em fazer parte de um projeto de pesquisa que o médico estava dirigindo, tal­vez porque fosse um desafio.

Ela tinha que correr três vezes por semana durante vinte a trinta minutos, sozinha ou em um grupo, como quisesse. Na primeira reunião com seu instrutor de jogging, imaginou que se tratava de uma brincadeira. Como é que ele poderia esperar que uma pessoa com dez quilos acima do seu peso, que não se exercitava desde os catorze anos e que fumava três maços de cigarro por dia fosse um candidato adequado para um estudo sobre jogging? A última vez que ela fora pedalar tinha conse­guido andar somente dez minutos e pensou que ia morrer. E jurou a si mesma: “Nunca mais”. Então a idéia de que ela preci­sava de um instrutor para aprender a correr parecia ainda mais ridícula. O que havia para aprender? Andar rápido pondo um pé na frente do outro?

Ainda assim, Xaviera escutou os conselhos que seu instru­tor lhe deu, e eles acabaram por ser absolutamente essenciais para seu sucesso futuro. Primeiro, foi-lhe dito que desse passos muito pequenos, que deveria trotar mais do que correr, que deveria inclinar seu corpo ligeiramente para a frente, e não de­veria levantar muito os joelhos. Acima de tudo, ele a aconse­lhou a andar devagar a ponto de conseguir conversar (“Você terá que ser capaz de falar, mas não de cantar”, seu instrutor insistiu). Se ela ficasse sem fôlego, deveria diminuir o ritmo e jamais sentir dor ou fadiga.

A meta, de saída, era simplesmente cobrir uma milha (1,6 quilômetro), levando quanto tempo desejasse, tentando correr (“jog”) o máximo possível. Conseguir alcançar seu objetivo logo no primeiro dia foi uma fonte de satisfação para ela. Depois de três semanas, ao ritmo de três sessões semanais, Xaviera era capaz de manter seu ritmo de jogging durante uma milha e meia, depois duas milhas, sem grande dificuldade. Ela tinha que ad­mitir que estava se sentindo um pouco melhor - sobretudo, estava dormindo mais profundamente, sentindo-se mais cheia de energia e passando menos tempo com pena de si mesma.

Pouco a pouco Xaviera fez mais progressos, e a cada dia, durante um período de cinco semanas, sentia-se melhor. En­tão, um dia, ela forçou um pouco demais no final da corrida e torceu o tornozelo - não o suficiente para que tivesse de ser totalmente imobilizado, mas o suficiente para ter de parar de correr durante três semanas. Alguns dias mais tarde, foi a pri­meira a se surpreender com o próprio desapontamento ao não poder mais praticar o jogging. Privada de sua corrida durante uma semana, notou que seus sintomas de depressão começa­vam a voltar. Pensamentos obscuros se instalaram e ela se sen­tia pessimista a respeito de tudo novamente.

No entanto, quando Xaviera afinal voltou ao que tinha se tornado o “seu” exercício, os sintomas diminuíram mais uma vez em algumas poucas semanas. Ela nunca se sentira tão bem. Mesmo seu período menstrual - que era geralmente doloroso - parecia menos desconfortável. Quando falou com o treinador após a primeira corrida depois de três semanas, Xaviera lhe disse: “Estou fora de forma, mas sei que ela voltará e me sinto definitivamente melhor do que da primeira vez que corri”.

Embora jamais venhamos a saber se ela parou de fumar ou se encontrou o homem de seus sonhos, muito tempo depois desse projeto de pesquisa ter terminado, de acordo com o dr. Greist, Xaviera ainda era vista correndo ao redor do lago com um sorriso no rosto.5

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