Aos residentes do Hospital Presbiteriano-Shadyside da



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Fred: Você pegou minha roupa na lavanderia?

Ingrid (com tom de gozação): “Você pegou minha roupa na la­vanderia?” Pegue você sua maldita roupa na lavanderia. O que é que eu sou? Sua empregada?

Fred: De jeito nenhum. Se você fosse uma empregada, pelo menos saberia lavar roupa.5

Durante a troca, as fisiologias de Fred e Ingrid rapidamente se desorganizaram (imagino que a variabilidade de seus rit­mos cardíacos também deva ter se tornado caótica, embora isso não fosse medido pelo Laboratório do Amor). Os efeitos no relacionamento são desastrosos.

Com argumentos inquestionáveis, Gottman define esse tipo de situação negativa como característica dos “quatro cavalei­ros do Apocalipse”, quatro atitudes com as quais as pessoas dão cabo de todos os relacionamentos que encontram pelo ca­minho. Essas atitudes carregadas ativam o cérebro emocional do outro a ponto de ele responder com maldade ou se retrair como um animal ferido. Se respondermos como os quatro ca­valeiros, podemos ter certeza de que não vamos conseguir o que queremos do relacionamento, no entanto quase sempre invocamos esses guerreiros para a linha de frente de nossas batalhas emocionais.

  1. Crítica. O primeiro cavaleiro é a crítica; desaprova-se o caráter de alguém em vez de simplesmente dizer o motivo da queixa. Eis um exemplo de crítica: “Você está atrasado de novo. Você só pensa em você”. Uma queixa seria: “São nove horas. Você disse que estaria aqui às oito. E a segunda vez esta sema­na. Eu me sinto sozinha e fico chateada quando fico esperando por você assim”.

Crítica: “Eu estou cheia de pegar suas roupas. Sua bagunça é de enlouquecer!”. Queixa: “Quando você deixa suas coisas espalhadas na cozinha, isso me incomoda. De manhã, quando estou tomando café, preciso de tudo organizado à minha volta para me sentir bem. Você poderia tentar pegar tudo à noite an­tes de ir para a cama?”.

O dr. Gottman dá uma receita infalível para transformar uma queixa legítima, com boas chances de ser ouvida, em uma crítica que certamente trará ressentimento, má vontade e um violento contra-ataque. Tudo o que você precisa fazer é acres­centar um desdenhoso “O que está acontecendo com você?”.

O que surpreende nessas observações é que elas são óbvias. Todos nós sabemos exatamente como não gostamos de ser tratados. E duro, por outro lado, dizer exatamente como gosta­ríamos de ser tratados. Todavia, nossa gratidão transborda de imediato quando alguém se dirige a nós de um jeito emocio­nalmente inteligente.

Lembro-me de uma lição inesperada que recebi um dia pelo telefone. Eu estava na espera havia vinte minutos enquanto uma funcionária de uma companhia aérea verificava minha reserva. O vôo era para aquela tarde e eu estava impaciente e preocupa­do. Quando ela finalmente admitiu que não conseguiu encon­trar minha reserva, explodi: “O quê? Mas isso é uma loucura! Para que você serve, se não é capaz de achar uma reserva?”.

No momento em que proferi essas palavras, já me arrepen­di. Eu sabia muito bem que estava alienando a pessoa de quem eu mais precisava para resolver meu problema. Mas não sabia como sair daquela enrascada. Pensei que seria ridículo pedir desculpas. (E, na verdade, nunca é cedo ou tarde demais para pedir desculpas, mas eu ainda não tinha aprendido isso.) Para minha enorme surpresa, foi ela quem me salvou: “Quando o senhor levanta a voz, não consigo me concentrar em ajudá-lo”.

Eu tive sorte; ela me dera a oportunidade perfeita para pedir desculpas sem ficar com a cara no chão. Fiz isso imediatamente. Alguns instantes mais tarde, estávamos novamente falando como dois adultos tentando resolver um problema. Quando lhe expli­quei quão importante a viagem era para mim, ela até mudou meu assento para o corredor - quebrou a regra me dando uma cadeira em um vôo que estava teoricamente lotado.

O psiquiatra era eu, mas ela é quem já tinha se tornado mestra das emoções. Naquela noite, eu a imaginei a caminho

de casa, indubitavelmente mais relaxada que eu. Essa experi­ência me levou a aprender sobre a não-violência na comunica­ção emocional. De fato, em meus anos de estudo, ninguém con­siderara importante ou útil me ensinar isso.

  1. Desprezo. O segundo cavaleiro do dr. Gottman, o mais violento e perigoso para o nosso equilíbrio límbico, é o despre­zo. O desprezo mostra seu rosto em insultos, claro. Do mais suave - algumas pessoas diriam “sorrateiro” como “Queridi- nha", ao mais convencional e violento, como “Coitado, você é mesmo burro”, ou o comum “Você é um idiota”, ou o simples, mas não menos mortífero, “Deixe de ser ridículo”.

O sarcasmo também é capaz de magoar muito. Ouça a res­posta de Fred a Ingrid: “Se você fosse uma empregada, pelo me­nos saberia lavar roupa”. Pode até ser algo engraçado no cinema (e mesmo lá, depende), mas não tem graça nenhuma em um rela­cionamento real. Porém, quando tentamos dar uma de espertos - freqüentemente à custa dos outros -, o sarcasmo é precisamente a ferramenta a que recorremos, às vezes com requintes de prazer.

Conheço uma importante jornalista francesa de língua feri­na que passou mais de quinze anos fazendo o que considera um curso muito bem-sucedido de psicanálise. Um dia, logo após o fim de sua análise, estávamos falando sobre jeitos de lidar com conflitos. Ela me disse: “Quando me sinto atacada, tento destruir meu adversário. E se o reduzo a estilhaços, fico feliz”.

Expressões faciais com freqüência bastam para comunicar desprezo: olhos que se voltam para o teto em resposta ao que acabou de ser dito, os cantos da boca virados para baixo, com os olhos se fechando em reação à outra pessoa. Quando o de- preciador que nos envia tais sinais é alguém com quem vive­mos ou trabalhamos, eles vão direto para o coração. E isso pra­ticamente impossibilita a solução pacífica da situação. Como podemos raciocinar ou falar com doçura quando a mensagem que recebemos é de que inspiramos desdém?

  1. Contra-ataque e 4. Apedrejamento. O terceiro e o quar­to cavaleiro são o contra-ataque e o apedrejamento. Quando so­mos atacados, as duas respostas que o cérebro emocional nos oferece são luta ou fuga (são as famosas alternativas dadas pelo grande fisiologista norte-americano Walter B. Cannon, em uma descrição clássica, em 1929). Essas respostas foram gravadas em nossos genes durante milhões de anos de evolu­ção, e são, realmente, as escolhas mais eficazes para os insetos e os lagartos.

Entretanto, em todos os conflitos, o problema do contra- ataque é que ele leva, por sua vez, a apenas dois resultados possíveis. Magoada pelo meu contra-ataque, a outra pessoa vai aumentar as apostas. Este cavaleiro está em grande atividade no Oriente Médio, mas também em todas as cozinhas do mun­do onde os casais se enfrentam. A escalada geralmente prosse­gue até que haja uma separação física permanente entre as fac­ções em guerra - a destruição do relacionamento pela rejeição, pelo divórcio... ou pelo assassinato.

Na melhor das hipóteses, o contra-ataque “é bem-sucedi- do” e a outra parte é derrotada por nossa verve. Ou a vitória é obtida - como os pais freqüentemente fazem com os filhos e os homens, às vezes, com as mulheres - com um tapa. A lei da selva falou e o réptil em nós está satisfeito, mas esse tipo de vitória inevitavelmente deixa o outro ferido e ofendido; a feri­da só aumentará a distância emocional e tornará o convívio mais difícil. Um contra-ataque violento jamais inspira um ad­versário a pedir desculpas ou a tomar o agressor nos braços. Todavia, mesmo em relacionamentos lacerados, esse é, preci­samente, o resultado pelo qual ansiamos.

A outra opção - o apedrejamento - é uma especialidade masculina que desagrada demais às mulheres. O apedrejamen­to em geral prenuncia a fase final de um relacionamento em desintegração, seja o casamento, seja uma sociedade.

Depois de semanas ou meses de críticas, de ataques e con­tra-ataques, um dos protagonistas escolherá a “fuga” e aban­donará o campo de batalha, pelo menos emocionalmente. En­quanto uma das partes busca fazer contato e se oferece para conversar, a outra fica de cara amarrada, olha para os pés, ou se esconde por trás do jornal “à espera do ciclone”. O antagonis­ta, exasperado pela tática que supõe ignorá-lo completamente, fala cada vez mais alto e, por fim, começa a gritar.

O apedrejamento é o estágio do prato que voa ou - quando é a mulher que vira “um muro de pedra” - da mulher que apa­nha. A violência física é uma tentativa desesperada de se unir novamente ao outro que deixou a cena, para tentar fazê-lo ou­vir o que se está vivenciando emocionalmente, para fazê-lo sen­tir a dor que se está experimentando. Obviamente, isso nunca funciona. Em O corcunda de Notre-Dame, Victor Hugo ilustra mag­nificamente essa busca violenta e vã do objeto de amor que ignora seu perseguidor. Para se sentir reconhecido por Esme­ralda, que insistia em ignorá-lo e rejeitava seus avanços, Frollo acaba por torturá-la e enviá-la para a morte.

A retração emocional não é um modo eficaz de lidar com conflitos. Como o dr. Gottman já demonstrou em seu laborató­rio, e Victor Hugo descreveu antes dele, o apedrejamento com freqüência leva a um triste final.
Dizendo tudo, mas sem fazer mal nenhum
Graças ao Laboratório do Amor de Seattle, já compreende­mos o que é que se passa na mente e no coração das pessoas em conflito e como freqüentemente elas batem a cabeça direto na parede. Naturalmente, temos todas as razões para acreditar que os mesmos reflexos e os mesmos erros também minam o curso de nossos conflitos fora do casamento.

Esses conflitos podem envolver nossos filhos, nossos pais, nossos sogros ou, com mais freqüência, nosso patrão e nossos colegas no trabalho. Mas quais são, então, os princípios da co­municação eficaz? A comunicação que consegue transmitir sem alienar aquele que a recebe? A comunicação que, ao contrário, incita o respeito e faz essa pessoa querer nos ajudar?

Um dos mestres da verdadeira comunicação emocional é o psicólogo Marshall Rosenberg, Ph.D., autor do livro Nonviolent Communication [Comunicação não violenta]. Nascido em um bair­ro pobre e violento de Detroit, ele era muito jovem quando se tornou apaixonadamente interessado pelos modos inteligentes de resolver conflitos sem violência. Ele já os ensinou e pôs em prática em muitas circunstâncias e em várias partes do mundo - do Oriente Médio à África do Sul6 - onde o gerenciamento de conflitos é indispensável, o que inclui escolas em bairros difí­ceis e grandes empresas que estão passando por reorganização.

O primeiro princípio da comunicação não violenta é subs­tituir o julgamento - ou seja, a crítica - por uma afirmação ob­jetiva dos fatos. Dizer “Você está indo de mal a pior”, ou mes­mo “Este relatório não está nada, nada bom”, imediatamente coloca o outro na defensiva. Ser objetivo e específico é muito melhor: “Neste relatório são necessárias três idéias para co­municar nossa mensagem e você é capaz de colocá-las aqui”.

Quanto mais específicos e objetivos somos, maiores as chan­ces de que a outra pessoa reaja às nossas palavras como uma tentativa legítima de comunicar e não de atacar. Rosenberg cita um estudo que examina o relacionamento entre a literatura de um país e a violência de seus cidadãos. De acordo com essa pesquisa, quanto mais as obras literárias do país contêm frases rotulando as pessoas como “boas” ou “más”, mais regularmen­te são registrados atos de violência em seu sistema judiciário.7

O segundo princípio é evitar qualquer julgamento do outro enquanto estivermos nos concentrando inteiramente no que estamos sentindo. A suspensão do julgamento é a chave mes­tra da comunicação emocional. Se falo sobre o que sinto, nin­guém pode discutir comigo. Se digo “Você nunca pensa em mim; é seu egoísmo costumeiro”, a pessoa com quem estou falando só pode contestar minhas palavras. Se, por outro lado, eu dis­ser “Hoje foi meu aniversário e você não se lembrou. Quando faz isso, me sinto sozinha”, meus sentimentos não podem ser questionados pelo outro. Ele talvez pense que eu não deveria senti-los, mas isso não cabe a ele decidir; eles são aquilo que eu sou.

A questão é que devemos descrever a situação com frases começando com “Eu” em vez de “Você”. Ao falar de mim, e só de mim, não critico nem ataco o outro. Estou expressando meus sentimentos e, portanto, sendo autêntico e aberto. Se eu for habilidoso e realmente honesto comigo mesmo, posso chegar até a expor minha vulnerabilidade ao mostrar como o outro me magoou. Posso ser vulnerável porque expus uma de minhas fra­quezas, mas, na maior parte dos casos, é precisamente essa ho­nestidade que desarma o adversário. Minha franqueza fará a outra pessoa querer cooperar - desde que, claro, ela esteja en­volvida no relacionamento.

Essa técnica é exatamente a que George empregou com tia Esther (“... quando você me liga... eu me sinto frustrado”) e que a moça da companhia aérea utilizou comigo (“Quando o senhor levanta a voz, não consigo me concentrar em ajudá-lo”). Eles falaram apenas sobre duas coisas: o que tinha acabado de acontecer - objetivamente, e portanto algo além do julgamen­to - e os sentimentos que vivenciaram em resposta. Nem uma palavra sequer foi dita sobre o que eles acharam de seu “opo­nente” porque isso teria sido inútil.

De acordo com o dr. Rosenberg, ainda mais eficaz é não ape­nas dizer o que sentimos, mas também expressar nosso desapon­tamento pessoal. “Quando você chega tarde para irmos ao cine­ma, eu me sinto frustrada porque realmente gosto de ver o início do filme. E importante para mim ver todo o espetáculo para poder me divertir”. Ou “Quando você espera uma semana inteira para me ligar e me dizer que está bem, fico com medo de que alguma coisa ruim possa ter acontecido a você. Preciso me certificar mais vezes de que tudo está bem”. Ou no trabalho: “Quando você deixa um documento circular com erros de ortografia, eu me sinto cons­trangido. Minha imagem e a imagem de toda a equipe é afetada. Nossa reputação é muito importante para mim, especialmente por­que demos um duro danado para ganhar o respeito das pessoas”.

Ensino essa abordagem em comunicação a jovens médicos que estão precisando aprender um método para lidar com pa­cientes difíceis. Eu na verdade dou-lhes o procedimento “passo a passo”, e eles geralmente o anotam em um cartão que mantém no bolso, caso tenham de se preparar para um encontro difícil.

O dr. Rosenberg fala sobre um participante em seu workshop que lhe contou a seguinte história: “Um homem ti­nha começado a fazer uso de um cartão (como o que meus alu­nos usam) com seus filhos. No início, é claro, era um tanto cons­trangedor, às vezes até ridículo. Seus filhos imediatamente notaram quão artificial era sua abordagem, mas ele não deixou a peteca cair e disse: ‘Quando vocês me dizem que sou ridículo, exatamente quando estou tentando melhorar nosso relaciona­mento e ser um pai melhor, vocês me fazem ficar triste. Preciso sentir que também é importante para vocês que eu mude o jei­to com que estamos falando uns com os outros”'.

A nova abordagem funcionou; as crianças começaram a es­cutá-lo e o relacionamento estava melhorando. Ele seguiu nes­sa toada durante semanas - o tempo suficiente para dispensar o cartão. Então, um dia, enquanto discutia com os filhos a res­peito da TV, perdeu a cabeça e esqueceu sua resolução sobre a não-violência. Seu filho de quatro anos gritou: “Papai, vá pegar o seu cartão!”.

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