Aos residentes do Hospital Presbiteriano-Shadyside da



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dele, não de Charles. Charles aprendeu a acalmar sua fisiologia, a evitar que ela o arrastasse. De fato, seu médico fi­cou surpreso em notar a redução em sua pressão sangüínea e lhe perguntou se ele tinha feito uma dieta sem lhe contar.

Quando se trata de operações empresariais e relacionamen­tos sociais, grupos que já aprenderam a dominar suas respostas internas trabalham mais harmoniosamente. Em empresas que foram testadas no Reino Unido, seis semanas e seis meses de­pois do treinamento em coerência, executivos disseram que estavam pensando com mais clareza, ouvindo mais uns aos outros e tendo reuniões mais produtivas. Em um grande hospi­tal na área de Chicago, no qual as enfermeiras foram treinadas, a satisfação no emprego aumentou sensivelmente. Ao mesmo tempo, os pacientes revelaram que estavam mais satisfeitos com os cuidados que recebiam delas. A rotatividade na troca de en­fermeiras, um ano depois do treinamento, caiu de 20% para 4%.10 Finalmente, um estudo realizado entre alunos do ensino médio norte-americano mostra até que ponto o gerenciamento efetivo do estado interior de uma pessoa pode mudar sua per­formance sob stress. Esses alunos repetiram o último ano. Após um treinamento em coerência de duas horas por semana du­rante oito semanas, 64% deles passaram na prova de matemá­tica, comparados com apenas 42% daqueles que não recebe­ram o treinamento. Obviamente, a coerência não muda o conhecimento matemático, mas faz com que o conhecimento existente fique prontamente mais acessível quando se está fa­zendo um teste estressante.11
Vivendo em coerência
Françoise Dolto, M.D., uma reputada psiquiatra infantil francesa da década de 1970, sabia falar com crianças com pro­blemas emocionais como ninguém. Com uma criança perdida que era incapaz de explicar o que estava doendo e que estava inconsolável, ela começava fazendo aquela pergunta mágica: “O que seu coração sente?”. Ela sabia que com essas poucas palavras abria diretamente a porta para as emoções, evitando elaborações mentais do tipo “Eu deveria” ou “Eu não deveria”. Françoise ajudava aqueles que estavam sofrendo a fazer conta­to com seus conteúdos internos, seus desejos mais profundos, as próprias coisas que, no fim das contas, determinam o bem- estar e a felicidade.

O mesmo vale para os adultos - especialmente para os que receberam um treinamento mais tradicional entre nós, aqueles que tendem a perceber e a reagir apenas por intermédio do cé­rebro cognitivo. Todo um mundo desconhecido - de sensações e emoções - se abre para quem olha para as reações de seu co­ração. Uma vez estabelecida a coerência, eles não raro se dão conta de que seu eu intuitivo interno os guia o tempo todo, e sentem compaixão, quase carinho, por seu ser interior. Como as tradições espirituais orientais sugerem, a compaixão pelo ser interior gera compaixão pelo mundo exterior. O conheci­mento está dentro de você. O ato de se tornar consciente disso o torna mais aberto em relação aos outros.

Eu mesmo, freqüentemente, invoco essa intuição do cora­ção. Lembro-me, por exemplo, de um caso difícil de uma jovem paciente afro-americana que estava tendo dores físicas terrí­veis, mas cujos exames e testes nada revelavam de anormal. Depois de alguns dias, os médicos se recusaram a fazer mais exames nela. A paciente queria que os médicos lhe dessem mor­fina, o que eles se recusaram a fazer, já que não havia um diag­nóstico claro. Em circunstâncias tensas como essa, não é inco- mum que meus colegas acabem por chamar um psiquiatra. A jovem estava furiosa com a sugestão de que seu problema esti­vesse “todo na sua cabeça”. Ela concordou em me ver somente na presença de sua mãe, que estava ainda mais determinada a que fizessem exames adicionais na filha. Do ponto de vista de­las, a recusa dos médicos em fazer mais exames era prova evi­dente de racismo. Se o hospital estava se recusando a fazer mais, era porque ela não era nem branca nem rica.

Meu dia tinha sido longo e difícil. Quando me receberam com uma enxurrada de insultos, sem me dar sequer tempo de me apresentar, senti uma onda de irritação subir por mim, algo que beirava a raiva. Saí do consultório abruptamente. No cor­redor me dei conta de que estava cheio de rancor. Como um professor que houvesse sido alvo da chacota de um aluno, co­mecei a pensar em tudo o que podia fazer para que pagassem por seu “mau comportamento". Observando esse estado inte­rior, comecei por inspirar profundamente, duas vezes, até que pude entrar na coerência, focando minha atenção em meu cora­ção; depois comecei a pensar que estava catando conchas com meu filho, ao pôr-do-sol, na Normandia. Acalmado, e com mi­nha mente já desanuviada, pensei sobre a situação novamente. Novas idéias pareciam surgir de outra parte de mim. Era evi­dente que aquela jovem sofrera demais para estar sentindo ta­manha raiva contra pessoas que estavam dando o melhor de si para ajudá-la. Ela deve ter sido rejeitada e mal-entendida inú­meras vezes. E minha atitude não a ajudou a mudar de opinião a respeito dos médicos do hospital, a maioria dos quais era bran­ca. Não era minha incumbência, afinal de contas, saber como ajudar as pessoas com personalidade difícil? Se eu, como psi­quiatra, não fosse capaz de me comunicar com ela, quem mais poderia fazê-lo? Como pude nutrir tais pensamentos de “vin­gança”? Em que isso poderia ajudar?

De repente, pensei em uma nova maneira de abordá-la. De­veria voltar ao consultório e dizer-lhe: “Você tem o direito de receber os melhores cuidados de meus colegas e de mim. Eu realmente sinto muito se não estive à altura de suas expectati­vas. Se quiser, gostaria de descobrir o que está acontecendo e como nós a desapontamos”. Iniciada a conversa, iria descobrir a causa real de seu sofrimento.

Talvez eu pudesse, então, ser capaz de sugerir uma aborda­gem mais eficaz do que a dos testes adicionais, que seriam não só desagradáveis para ela como desnecessários. O que eu teria a perder? Voltei ao consultório naquele novo estado mental e fiz minha proposta. Seu olhar hostil gradualmente se ilumi­nou. Começamos uma conversa de verdade. Descobri como vá­rios serviços de emergência a enviaram para outro lugar, como um médico a tinha insultado e, pouco a pouco, a conversa se tornou mais íntima. Ela finalmente pediu que sua mãe deixas­se a sala. Então pudemos falar sobre seu passado como prosti­tuta e sua experiência com drogas. Algumas de suas dores pre- sentes se deviam ao fato de ter parado de usar heroína. Isso era algo com que se poderia lidar facilmente. Prometi ajudá-la a reduzir a dor causada pela abstinência e nos separamos “de bem". Ela estava confiante de que iria, afinal, ser ajudada, e eu estava feliz por ter cumprido meu trabalho como médico. Quan­do deixei o consultório pela segunda vez, tremi ao pensar so­bre quão perto estivera, devido à raiva, de a ter mandado para casa sem nenhum tratamento.

Durante seu divórcio, Christine, que também tinha apren­dido a induzir a coerência interna, experimentou uma situação muito semelhante com seu filho Thomas, de cinco anos. Ela se oferecera para levá-lo ao zoológico no domingo de manhã, mas ele não estava fazendo nenhum esforço para achar os sapatos. Com pressa, ela ouviu em sua cabeça a voz da melhor amiga lhe dizendo: “Se você não lidar com a bagunça de seu filho ago­ra, ela só irá piorar. Espere até ele ser adolescente!”. Christine começou a dar bronca no filho pela incapacidade crônica de ar­rumar suas coisas, tarefa que ele sempre deixava para mais tar­de. A reação de Thomas foi sentar no chão, cruzar os braços e agir como uma criança incompreendida e martirizada, prestes a cair no choro. Foi a gota d’água. Christine, que estava tensa devido à sua situação familiar, decidiu sair sem ele e deixá-lo com sua mãe, que fora ajudar nesse dia. Ela estava determina­da a não ser novamente lograda pelas manipulações emocio­nais de seu filho.

Depois de entrar no carro, porém, Christine avaliou seus sentimentos. Ela ainda estava irritada e tensa, mais se deu con­ta de que o resto do dia, e provavelmente o resto do fim de semana, seria estragado por aquele começo catastrófico. Ela decidiu pôr em prática o que aprendera no treinamento em coe­rência e, assim que a calma interior prevaleceu, outra pers­pectiva se abriu para ela. E se o atraso e a desorganização de Thomas naquela manhã não tivessem sido causados pela cos­tumeira propensão dele para a bagunça? E se fossem o resulta­do de sua tristeza devido ao divórcio dos pais? Christine se viu no lugar dele por alguns instantes, um garoto de apenas cinco anos, confuso, incapaz de expressar seu medo e sua infelicida­de. Ela também imaginou como teria reagido em tais circuns­tâncias se sua mãe não a tivesse entendido e insistisse em fazer cena sobre alguma coisa tão trivial quanto não colocar os sapa­tos. Que tipo de exemplo estava dando a seu filho? Ela queria que ele aprendesse a lidar com tensões emocionais saindo de rompante para fora da sala e batendo a porta como, de fato, acabara de fazer?

De repente, Christine viu, com clareza, que tinha de correr o risco de “ficar com a cara no chão” e voltar para casa para falar com Thomas. “Sinto muito por ter ficado tão brava”, ela lhe disse. “Afinal de contas, o zoológico não é tão importante assim. O que é importante é que você está um pouco triste e isso é normal nesta situação em que você, seu pai e eu estamos. E quando as pessoas estão tristes, elas têm dificuldade em ar­rumar as coisas. Também estou triste e é por isso que fico tão irritada facilmente. Mas se eu e você tivermos consciência dis­so, será muito mais fácil resolver todas as questões.”

Thomas olhou para ela e caiu no choro. Christine o pegou no colo e o abraçou. Pouco depois o menino já estava sorrindo de novo e eles passaram um dia ótimo juntos. De fato, Thomas se tornou uma criança mais organizada e atenta do que era an­tes. Quando a energia emocional é liberada pela coerência, so­mos com freqüência capazes de achar respostas, assim como as palavras certas, que mais reconciliam do que separam. E, quan­do o fazemos, paramos de desperdiçar energia.

A coerência leva à paz interior, mas não se trata de uma técnica de relaxamento. Visa facilitar a ação. A coerência pode ser praticada em qualquer situação diária. Você pode estabele­cer coerência tanto quando seu coração está a 120 como quan­do está a 55. Esta é, na verdade, a grande meta: manter a coe­rência tanto durante uma empolgante corrida ou luta como diante da dor da derrota; no prazer da vitória e no êxtase. Ma­nuais de sexualidade oriental ensinam que focar a mente no coração ajuda a dominar e maximizar o prazer. Mestres tântri- cos e taoístas já compreendiam, muito antes dos programas de computador estarem disponíveis, o efeito positivo da coerên­cia cardíaca durante a relação sexual. Os resultados experimen­tados por homens e mulheres que já descobriram a coerência e a praticam regularmente são bons demais para parecer verda­de. O controle da ansiedade e da depressão, a diminuição da pressão sangüínea, o aumento do hormônio DHEA (deidroepi- androsterona), o estímulo do sistema imunológico - o que os resultados preliminares sugerem não é apenas uma diminui­ção do processo de envelhecimento, mas uma reversão do reló­gio fisiológico. Embora difícil de acreditar, a natureza de tais resultados casa com a natureza dos danos físicos e psicológicos causados pelo stress. Se o stress pode causar tanto mal, não fico nem um pouco surpreso com o fato de que o domínio inte­rior possa fazer tanto bem assim.

Todavia, para aqueles entre nós que foram machucados pela vida e cujas feridas ainda não cicatrizaram, olhar para dentro de si pode provocar ansiedade e ser doloroso demais. Nesse caso, o acesso à nossa fonte interior de coerência pode ser blo­queado. Geralmente isso acontece como resultado de um trau­ma no qual as emoções foram de tal maneira arrebatadas que o cérebro emocional, e portanto o coração, não é mais capaz de operar do mesmo modo. O sistema mente-coração não pode mais servir de bússola, mas é uma bandeira adejando ao vento. Outra abordagem pode então recobrar o equilíbrio, um méto­do tão surpreendente como eficaz, que pode ter sua origem no mecanismo dos sonhos: a dessensibilização e o reprocessamento pelo movimento dos olhos.

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Dessensibilização e Reprocessamento pelo Movimento Ocular (EMDR): o mecanismo de cura da própria mente


Após um ano de idílio, Mark, o homem com quem Sarah tinha certeza de que iria se casar, a deixou de repente. Não houvera uma probleminha sequer em seu relacionamento. Seus corpos pareciam ter sido feitos um para o outro e suas men­tes vivazes - eram ambos advogados - estavam de acordo em tudo. Ela amava tantas coisas nele: a voz, o cheiro, a risada que ele dava sempre. Até gostava dos futuros sogros. Tudo já estava planejado. Um dia, Mark bateu à sua porta com uma laranjeira nos braços, com uma enorme faixa. Em suas mãos estava uma carta que dizia o que ele não poderia lhe dizer pessoalmente. As palavras eram frias e duras. Mark voltara para a antiga namorada, que era católica como ele, e ela seria a mulher com quem se casaria. Sua decisão era definitiva, di­zia a carta.
A ferida no cérebro
Depois daquela tarde, Sarah nunca mais foi a mesma. Sem­pre fora forte como uma rocha, mas começou a ter ataques de ansiedade quando se lembrava do que havia lhe acontecido. Não era mais capaz de se sentar perto de uma árvore em um jardim, especialmente de uma laranjeira. Seu coração começava a pu­lar no peito assim que pegava um envelope com seu nome es­crito nele. As vezes, sem razão aparente, tinha flashbacks: re­via a cena da despedida como se Mark estivesse bem diante de seus olhos, como se tudo estivesse acontecendo de novo. A noite, costumava sonhar com ele e acordar assustada. Não se vestia mais como antes, não falava mais do mesmo jeito, nem sequer sorria mais. Durante muito tempo, seria incapaz de fa­lar sobre o que tinha acontecido com ela, tomada por uma mis­tura de vergonha - como pudera estar tão errada a respeito de Mark? - e constrangimento, pois seus olhos se enchiam de lá­grimas assim que evocava a memória. Falar sobre isso era im­possível; era incapaz de elaborar uma única frase para descre­ver o que lhe acontecera. As poucas palavras que lhe vinham pareciam tão insuficientes, tão pouco convincentes.

Como a história de Sarah ilustra bem - e como todos nós sabemos por experiência própria -, eventos traumáticos dei­xam marcas em nosso cérebro. Um estudo do departamento de psiquiatria da Faculdade de Medicina de Harvard mostrou como é essa marca. Pessoas que tiveram um grande trauma - “desor­dem por stress pós-traumático” - escutavam uma fita que re­contava o incidente enquanto permaneciam deitadas dentro de um scanner TEP (tomografia por emissão de pósitrons).

As imagens do scanner mostravam quais partes do cérebro eram ativadas ou desativadas durante esse período em que o terror estava sendo vivenciado de novo, e houve clara ativação da amígdala e da região adjacente: o centro do temor no cérebro emocional. O córtex visual também fora ativado, quase como se olhassem para uma fotografia de um evento que estivesse acontecendo bem à frente de seus olhos. Mais fascinante ainda era a “desativação” - um tipo de amnésia - da área de Broca no córtex pré-frontal esquerdo, a região do cérebro responsável pela linguagem verbal. O scanner TEP nos mostrava a assinatura neu­rológica do que, em geral, ouvimos os pacientes dizerem: “Não há palavras para descrever aquilo por que passei”.1

Os psiquiatras sabem que essas cicatrizes no cérebro são difíceis de eliminar. As pessoas com freqüência continuam a apresentar sintomas décadas após o trauma original. Esse fe­nómeno é comumente visto em veteranos da Guerra do Vietnã ou em sobreviventes do Holocausto, mas também vale para traumas que ocorrem na vida civil. Um estudo descobriu que a maioria das mulheres com PTSD, que foram vítimas de agres­são, ainda sofriam do mesmo mal dez anos depois.2 O que é incrível é que a maioria dessas pessoas sabe perfeitamente bem que não deveria estar se sentindo mais assim. Sabem que a Guer­ra do Vietnã acabou, que o Holocausto foi um pesadelo do pas­sado ou que o estupro é uma memória distante. Elas sabem que agora estão seguras, mas não se sentem assim.
O permanente vestígio da dor
Todos podemos compreender isso por experiência própria porque, de fato, a maioria de nós já passou pelo que podem ser chamados de traumas “com t minúsculo”, para contrapô-los aos traumas “com T maiúsculo” das experiências que põem a vida em risco, geralmente associadas ao diagnóstico de PTSD. Talvez tenhamos sido humilhados no ensino fundamental, ru­demente rejeitados por uma namorada ou namorado, ou come­tido um sério erro em nossa vida profissional, talvez perdido o emprego abruptamente. Pode até ter sido um divórcio difícil que nos deixou com uma cicatriz emocional. Indubitavelmente pensamos muito a respeito disso quando estamos sós, quando recebemos muitos conselhos de amigos e da família, lemos ar­tigos de revistas sobre esse tipo de situação e como responder a ela, talvez até tenhamos lido livros de auto-ajuda. De todas essas fontes, aprendemos, muito bem, inclusive, como
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