Autobiografia de um Iogue


Capítulo 35 - A vida crística de Láhiri Mahásaya



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Capítulo 35 - A vida crística de Láhiri Mahásaya


“Assim nos convém cumprir toda a justiça”282. Ao dirigir estas palavras a João Batista e ao pedir lhe o batismo, Jesus reconhecia os direitos divinos de seu guru.

Com base num estuco reverente da Bíblia, do ponto de vista de um oriental283, e em minha própria percepção intuitiva, estou convencido de que João Batista foi, em vidas anteriores, o guru de Cristo. Numerosas passagens na Bíblia deixam implícito que João e Jesus, em suas últimas encarnações, foram respectivamente Elijah e seu discípulo Elisha. (Tal é a grafia no Velho Testamento. Os tradutores gregos escreveram Elías e Eliseu, nomes que reaparecem, sob esta forma al­terada, no Novo Testamento).

Em seus versículos finais, o Velho Testamento prediz a reencarna­ção de Elijah e Elisha: “Eis que vos envio Elijah, o profeta, antes que venha o grande e terrível dia do Senhor”284. Assim, João (Elijah), enviado “antes da vinda... do Senhor”, nasceu com peque­na antecipação para servir de arauto a Cristo. Um anjo apareceu a Za­carias, o pai, para dar testemunho de que o filho esperado, João, não seria outro senão Elijah (Elias):

“Mas o anjo lhe disse: Não tema, Zacarias, pois tua prece foi ou­vida; e tua mulher Isabel dará à luz um filho e lhe porás o nome de João ... E converterá muitos dos filhos de Israel ao Senhor seu Deus. E irá diante dele285 no espírito e poder de Elias, para converter os corações dos pais aos filhos, e os rebeldes à sabedoria dos justos; a fim de preparar ao Senhor um povo disposto”286.

Duas vezes, inequivocamente, Jesus identificou Elijah (Elias) co­mo João: “Elias já veio, e eles não o conheceram ... Então, os discí­pulos compreenderam que ele lhes falara de João Batista”287. Em ou­tra ocasião, Jesus disse: “Porque todos os profetas e a lei profetizaram até João. E se quereis dar crédito, este é o Elías que havia de vir”288 .

Quando João negou que fosse Elias (Elijah)289, quis dizer que, no humilde traje de João, já não vinha com a elevada investidura ex­terior de Elijah, o grande guru. Em sua última encarnação, ele cedera o “manto” de sua glória e de sua riqueza espiritual a seu discípulo Elislia. “E disse Elisha: Peço te, deixa que uma porção dupla de teu espírito seja sobre mim.   E respondeu Elijab: Coisa difícil pediste; entretanto, se me vires quando eu for arrebatado de ti, terás o que pediste ... E (Elisha) tomou o manto de Elijali que este deixara cair”290.

Trocaram se os papéis porque Elijah João não mais era necessário como guru ostensivo de Elisha Jesus que se fizera, então, divinamente perfeito.

Quando Cristo se transfigurou na montanha291, foi seu guru Elias que ele viu, junto de Moisés. Em sua hora extrema na Cruz, Jesus exclamou: “Elí, Eli, lama sabachtâmi? Isto é, Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste? Alguns dos que permaneciam ali, ao ouvirem isto, disseram: Este homem chama por Elias ... Vejamos se Elias vem salvá lo”292.

O vínculo atemporal entre guru e discípulo, unindo João e Jesus, existia também entre Bábají e Láhiri Maliásaya. Com terna solicitude, o imortal guru cruzou as águas do abismo que redemoinhavam entre as duas vidas de seu chela, e guiou os passos sucessivos da criança e depois do homem Láhiri Mahásaya. Somente quando o discípulo completou trinta e três anos, Bábají julgou chegado o momento de restabelecer abertamente o laço jamais cortado.

Após o breve encontro próximo a Ranikhet, o abnegado guru não conservou o discípulo querido a seu lado, mas libertou o para o de­sempenho de uma missão ostensiva no mundo. “Meu filho, virei sem­pre que precisar de mim”. Que amante mortal pode cumprir as infini­tas implicações de semelhante promessa?

Sem que o mundo soubesse, um grande renascímento espiritual teve início em 1861, num remoto recanto de Benares. Assim como não se pode suprimir o aroma das flores, igualmente Láhiri Mahásaya, vi­vendo em quietude como chefe de família ideal, não podia esconder sua glória inata. Como abelhas, devotos de todas as partes da índia come­çaram a procurar o néctar divino do mestre liberto.

O chefe de seu departamento, um inglês, foi um dos primeiros a notar a estranha, transcendental mudança de seu funcionário, a quem afetuosamente apelidara de “Babú Extático”.

  O senhor parece triste. Que acontece?   Láhiri Mahásaya, compadecido, fez esta pergunta a seu chefe, certa manhã.

  Minha esposa na Inglaterra está gravemente enferma. A angús­tia me dilacera.

  Vou buscar para o senhor algumas palavras dela.   Láhiri Mahásaya deixou a sala e sentou se por algum tempo em local isolado. Ao regressar, tinha um sorriso consolador.

  Ela está melhorando; sua esposa lhe escreve uma carta, neste momento.   O guru onisciente citou alguns trechos da missiva.

  Extático Babú, já sei que não é um homem comum. Entre­tanto, sou incapaz de acreditar que o senhor pode suprimir, à vontade, o tempo e o espaço!

A carta prometida chegou afinal. Para seu grande espanto, o chefe descobriu que ela continha não só as boas notícias da cura de sua es­posa, mas também as mesmas frases pronunciadas pelo grande mestre, semanas antes.

Alguns meses depois, a esposa veio à índia. Ao encontrar Láhiri Mahásaya, ela o fitou com veneração.

  Senhor   disse ela   foi sua forma, nimbada de luz gloriosa, que contemplei, há meses atrás, ao lado de meu leito de enferma em Londres. Naquele instante, senti me completamente curada! Pouco de­pois, encontrava me em condições de empreender a longa viagem atra­vés do oceano.

Dia após dia, o sublime guru iniciava um ou dois devotos em Kriya Yoga. Além destes deveres espirituais e de suas responsabilidades pro­fissionais e domésticas, o grande mestre demonstrava, com entusias­mo, seu interesse pela educação. Organizou numerosos grupos de estu­do e tomou parte ativa no desenvolvimento de uma grande escola se­cundária no distrito Bengalitola, em Benares. Nas reuniões semanais que vieram a ser conhecidas como “Assembléia do Gíta” o guru. explicava as Escrituras a muitos ávidos buscadores da verdade.

Com estas múltiplas atividades, Láhiri Mahásaya procurou respon­der ao desafio comum: “Depois de cumprir os deveres profissionais e sociais, onde está o tempo para a meditação devocional? “A vida har­moniosamente equilibrada do grande guru chefe de família tornou se uma inspiração para milhares de homens e mulheres, Ganhando apenas um modesto salário e sendo econômico, despretencioso, acessível a to­dos, o mestre continuava, natural e venturosamente, na trilha da vida mundana disciplinada.

Embora escondido no trono da Suprema Divindade, Láhiri Mahá­saya mostrava reverência a todos os homens, sem considerar lhes os méritos. Quando seus devotos o saudavam, ele se inclinava, por sua vez, diante deles. Com humildade de criança, o mestre freqüentemente to­cava os pés de outras pessoas, mas raras vezes permitia que lhe pres­tassem homenagem idêntica, apesar desta observância em relação a um guru ser antigo costume oriental.

Um aspecto significativo da vida de Láhíri Mahásaya foi conferir a iniciação em Kriya a devotos de todos os credos. Não apenas hindus, mas maometanos e cristãos contavam se entre seus mais preeminentes discípulos. Monistas e dualistas, adeptos de várias seitas sem credo definido, eram imparcialmente recebidos e instruídos pelo guru universal. Um de seus chelas mais adiantados foi Abdul Gufoor Khan, maometano. Láhiri Mahásaya, pertencente à casta mais elevada, a dos brâ­manes, esforçou se em diluir, com muita coragem para sua época, o rí­gido fanatismo de castas. Caminhantes das mais diversas estradas da vida achavam abrigo sob as asas onipresentes do mestre. Como todos os outros profetas inspirados por Deus, Láhiri Mahásaya trouxe novas esperanças aos párias e aos oprimidos.

  Recorde se que você a ninguém pertence e que ninguém lhe pertence. Reflita que algum dia terá subitamente de abandonar tudo neste mundo; estabeleça, pois, o contato com Deus, agora   dizia o grande guru a seus discípulos.   Prepare se para a jornada astral da morte que se aproxima, viajando diariamente no aeróstato da percep­ção divina. Por obra da ilusão, você pensa que é um fardo de carne e ossos, o qual vem a ser, quando muito, um ninho de complicações293. Medite sem interrupção, e logo virá a contemplar se como Essên­cia Infinita, livre de todas as misérias. Deixe de ser um prisioneiro do corpo; usando a chave secreta de Kriya, aprenda a escapar para o Es­pírito.

O mestre encorajava seus vários discípulos a aderirem à boa dis­ciplina tradicional de seus próprios credos. Dando ênfase a Kriya como técnica prática de libertação que, por sua natureza, serve a homens de todos os credos, Láhiri Mahásaya, em seguida, dava a seus chelas li­berdade para expressarem suas vidas de acordo com o ambiente e a edu­cação que haviam recebido.

  Um maometano deveria realizar seu culto natnaj294 cinco vezes por dia   assinalava o mestre.   Várias vezes por dia deveria um hindu sentar se em meditação. Um cristão deveria ajoelhar se qua­tro vezes, diariamente, para rezar a Deus e, a seguir, ler a Bíblia.

Com sábio discernimento, o guru guiava seus adeptos nas sendas de Bhákti (devoção), Karma (ação), jnâna (sabedoria), ou Raja (real ou completa) Yoga, segundo as tendências naturais de cada homem. Lento em dar sua permissão a devotos desejosos de ingressar na senda formal do monacato, o mestre sempre os aconselhava a refletirem pré­via e demoradamente nas austeridades da vida monástica.

O grande guru ensinou seus discípulos a evitarem discussões teó­ricas das Escrituras. Sábio é quem se devota a realizar, não só a ler, as antigas revelações disse ele.   Resolva todos os seus problemas através da meditação295. Especulações improfícuas, troque as pela autêntica comunhão com Deus. Limpe sua mente do entulho teológico, repleto de dogmas, deixe que nela penetrem as águas frescas, curativas, da percepção direta. Harmonize se com o ativo Guia interno; a Voz Divina tem resposta para todo dilema da vida. Embora a habilidade hu­mana para meter se em dificuldades pareça inesgotável, o Socorro In­finito não é menos inexaurível.

O mestre demonstrou sua onipresença, certo dia, a um grupo de discípulos que ouvia sua exposição do Bhágavad Gíta. Ao explicar o significado de Kutástha Chaitânya ou Consciência Crística em toda a cria­ção vibratória, Láhiri Mahásaya, de súbito respirando ofegantemente, exclamou:

  Estou me afogando nos corpos de muitas almas, à pequena distância das costas do Japão!

Na manhã seguinte, os chelas leram um relato telegráfico da morte de muitas pessoas cujo navio fora a pique, no dia anterior, próximo ao Japão.

Numerosos discípulos distantes de Láhiri Mahásaya tinham cons­ciência de sua elástica presença.   Estou sempre com os que praticam Kriya   dizia consoladoramente a cada chela que não podia permanecer perto dele.   Eu o conduzirei ao Lar Cósmico através de suas percep­ções espirituais ampliadas.

Sri Bhupendra Nath Sanyal, discípulo eminente do grande guru, afirmou que, em sua adolescência, em 1892, não podendo ir a Benares, rezara ao grande mestre para receber instrução espiritual. Láhiri Mabá­saya apareceu lhe em sonho e deu lhe díksha (iniciação). Mais tarde, o adolescente foi a Benares e solicitou diksha ao guru.   já o iniciei, durante um sonho   respondeu Láhiri Mahásaya296.

Se um discípulo descurava qualquer uma de suas obrigações mun­danas, o mestre o corrigia e o disciplinava com gentileza. “As palavras de Láhiri Mahásaya eram brandas e curativas, mesmo quando devia re­ferir se abertamente às falhas de um chela   disse me Sri Yuktéswar, certa vez, acrescentando em tom de lamento:   Nenhum discípulo jamais escapou às farpas do mestre.   Não pude conter o riso, mas ga­ranti sinceramente a Sri Yuktéswar que, cortante ou não, cada uma de suas palavras era música ao meus ouvidos.

Láhiri Mahásaya cuidadosamente graduou Kriya em quatro inicia­ções progressivas297. Ele concedia as três mais elevadas técnicas somente depois que o discípulo manifestasse um progresso espiritual de­finido. Um dia, certo chela, convencido de que seu valor não estava sendo devidamente aquilatado, externou seu descontentamento.

  Mestre   disse ele   já estou preparado, sem dúvida, para a segunda iniciação.   Nesse momento, a porta abriu se para admitir um discípulo humilde, Brinda Bhagat, um carteiro de Benares.

  Brinda, sente se aqui, perto de mim.   O grande guru sorriu-­lhe afetuosamente.   Diga me, está preparado para a segunda Kriya?

O pequeno carteiro juntou as mãos em gesto de súplica.   Guru­deva   disse ele, alarmado   por favor, não mais iniciações! Como posso assimilar ensinamentos ainda mais elevados? Vim hoje para pedir-lhe a bênção porque a primeira divina Kriya inebriou me tanto que já não posso entregar as cartas!

  Brinda já nada no oceano do Espírito.   Ao ouvir estas pala­vras de Láhiri Mahásaya, o outro discípulo abaixou a cabeça.

  Mestre   disse ele   percebo que tenho sido um pobre ope­rário, atribuindo defeitos aos meus instrumentos de trabalho.

O modesto carteiro, inculto como era, desenvolveu mais tarde sua intuição através de Kriya, a ponto de especialistas virem ocasionalmente procurar sua interpretação de passagens complicadas ou controversas das Escrituras. Desconhecendo simultaneamente o pecado e a sintaxe, o pequeno Brinda conquistou renome entre os eruditos.

Além dos numerosos discípulos de Láhiri Mahásaya em Benares, centenas de outros vinham de distantes regiões da índia. Ele próprio viajou a Bengala em diversas ocasiões, visitando os sogros de seus filhos. Assim, abençoada por sua presença, Bengala multiplicou se em colmeias, em pequenos grupos de Kriya. Especialmente nos distritos de Krislinaria­gar e Bishriupur, onde há muitos devotos silenciosos, continua a fluir, até hoje, a invisível torrente de meditação espiritual.

Entre os muitos santos que de Láhiri Mahásaya receberam Kriya, podem ser mencionados o ilustre Swâmi Bliaskarananda Saráswatí, de Benares; e Balananda Bramachári, asceta de Deoghar, de grande adianta­mento. Durante algum tempo, Láhiri Mahásaya foi professor particular do filho do marajá íswari Narayan Sinha Bahadur, de Benares. Reco­nhecendo as elevadas conquistas espirituais do mestre, o marajá e seu filho buscaram a iniciação em Kríya, assim como o fizera o marajá Jo­tindra Mohan Thakur.

Vários discípulos de Láhiri Mahásaya, ocupando posições de in­fluência no mundo, desejavam expandir o círculo de Kriya, por meio da publicidade. O guru recusou lhes permissão. Um chela, médico da corte do Senhor de Benares, deu os primeiros passos para fundar uma organização que difundiu o nome do mestre como “Káshi Baba”(O Exaltado de Benares)298. O guru proibiu o.

  Deixe que o aroma da flor de Kriya seja levada pelo vento, de modo natural   disse ele.   As sementes de Kriya lançarão raízes firmes no solo dos corações espiritualmente férteis.

Embora o grande mestre não adotasse os meios modernos de pro­paganda   os grupos organizados e a imprensa   ele sabia que o po­der de sua mensagem se espraiaria como enchente irresistível, inundan­do com sua própria força as ribeiras das mentes humanas. Vidas trans­formadas, vidas purificadas, eram as únicas garantias da imortal vitali­dade de Kriya.

Em 1886, vinte e cinco anos depois de sua iniciação em Ranikhet, Láhiri Mahásaya aposentou se299. Tendo maior tempo disponível du­rante o dia, os discípulos o procuravam em número sempre crescente. O grande guru sentava se agora em silêncio, durante a maior parte do tempo, em tranqüila posição de lótus. Raramente deixava sua pequena sala de recepção, nem para dar uma caminhada ou mesmo fazer uma visita a outros aposentos da casa. Um quieto fluxo de chelas passava, quase incessantemente, para o darshan (vislumbre sagrado) do guru.

Para temor reverente de todos os observadores, o estado fisiológi­co habitual de Láhiri Mahásaya exibia as características sobre humanas de ausência de respiração, ausência de sonho, cessação do pulso e dos batimentos cardíacos, olhos calmos, sem pestanejar durante horas, e pro­funda aura de paz, Nenhum visitante partia sem experimentar elevação espiritual; todos sabiam que os acompanhava a bênção silenciosa de um autêntico homem de Deus.

O mestre permitiu, então, a um discípulo, Pancharion Bhattachárya, abrir em Calcutá um centro de ioga, o “Instituto Missão Ária”. O cen­tro distribuía certas ervas medicinais iogues300 e publicava as primeiras módicas edições do Bhágavad Gíta, em Bengala. Leu se o Gíta da Missão Ária, em hindi e bengali, em centenas de lares.

Seguindo um costume de eras antigas, o mestre dava, ao povo em geral, óleo de neem301 para a cura de várias moléstias. Quando o guru pedia a um discípulo que destilasse o óleo, a tarefa cumpria se facilmente. Se qualquer outro o tentasse, deparava com estranhas difi­culdades; descobria, depois de submeter o óleo aos processos de destilação necessários, que o líquido, quase por completo, se havia evapora­do. Segundo todas as evidências, a bênção do mestre era um ingrediente indispensável.

A letra e a assinatura de Láhiri Mahásaya, em língua bengali, apa­recem acima. As frases são de uma carta a um chela; o grande mestre interpreta assim um verso sânscrito: “Quem atingiu o estado de calma no qual as pálpebras não pestanejam, alcançou sambhábi múdra302 (assinado) Sri Slivama Charan Deva Sharman”.

À semelhança de muitos outros grandes profetas, Láhíri Mahásaya não escreveu livros, mas instruiu vários discípulos na interpretação que deveriam dar às Escrituras. Meu querido amigo Sri Ananda Mohan Láhiri, falecido neto do mestre, escreveu o seguinte:

“O Bhágavad Gíta e outros trechos do épico Mabábbárata pos­suem numerosos pontos chaves (vyas kutas). Não perguntemos o que significam esses pontos chaves e restam nos estórias mitológicas de tipo excêntrico e logo mal compreendidas. Deixemos sem explicação os pon­tos chaves, e perdemos uma ciência que a índia preservou com paciên­cia sobre humana depois de uma pesquisa equivalente a milhares de anos de experimentos303.

“Láhiri Mahásaya trouxe à luz, despida de alegorias, a ciência da religião que tão engenhosamente fora oculta em imagens enigmáticas das Escrituras. Antes ininteligíveis, uma prestidigitação de palavras, as fórmulas do culto védico   provou o mestre   são plenas de signifi­cado científico.

“Sabemos que o homem geralmente não tem forças para combater as paixões más; estas, porém, se reduzem à impotência, e o homem deixa de condescender com elas, quando nele alvorece a consciência da beatitude superior e duradoura, através de Kriya Yoga. Então o desis­tir, a renúncia, a negação da natureza inferior sincroniza com o insistir, a afirmação do superior, a experiência de bem aventurança. Sem essa evolução, as máximas morais que consistem em meras proibições são inúteis para nós.

“Por trás de todas as manifestações fenomênicas, marulha o Infi­nito, o Oceano de Poder. A sede de atividade mundana mata em nós o senso de reverência espiritual. Deixamos de perceber a Grande Vida oculta por trás de todos os nomes e formas porque a ciência moderna nos diz como utilizar os poderes da Natureza. A familiaridade com a Natureza fez nascer o desprezo por seus segredos últimos; nossa relação com ela é de caráter prático. Nós a importunamos, digamos assim, para descobrir de que modo podemos forçá la a servir nossos propósitos; ti­ramos proveito de suas energias, cuja Fonte ainda permanece desco­nhecida. Em ciência, nossa relação com a Natureza é semelhante à que existe entre um homem arrogante e sua criada; ou, em sentido filosófi­co, a Natureza é como um cativo no banco das testemunhas. Nós a in­terrogamos repetidas vezes, e a provocamos, e minuciosamente pesa­mos seu depoimento, em balanças humanas incapazes de medir seus va­lores ocultos.

“Por outro lado, quando a alma se acha em comunhão com um poder mais alto, a Natureza automaticamente obedece, sem esforço e sem tensões, à vontade do homem. Este domínio fácil sobre a Natureza é chamado “milagroso” pelo materialista que não o compreende.

“A vida de Láhiri Mahásaya estabeleceu um exemplo que modifi­cou a errônea noção de que a ioga é uma ciência misteriosa. Apesar do caráter objetivo da ciência física, todo homem, graças a Kriya Yoga, pode encontrar um caminho para compreender sua correta relação com a Natureza e sentir reverência espiritual por todos os fenômenos304, sejam de ordem mística ou prosaica. Deveríamos ter em mente que muitas coisas, inexplicáveis há mil anos atrás, já não o são, e os misté­rios de hoje podem tornar se perfeitamente inteligíveis daqui a alguns anos.

“A ciência de Kriya Yoga é eterna. É verdadeira como a matemá­tica; como as simples regras de soma e subtração, a lei de Kriya nunca será destruída. Reduzam se a cinzas todos os livros de matemática, a mente lógica sempre redescobrirá tais verdades. Suprimam se todos os livros de matemática, a mente lógica sempre redescobrirá tais verdades. Suprimam se todos os livros de ioga; seus princípios fundamentais se­rão revelados outra vez, sempre que aparecer um sábio com devoção pura e, consequentemente, conhecimento puro”.

Assim como Bábají, entre os maiores avatares, é um Maliávatár, e como Srí Yuktéswar pode, com justiça, ser chamado um Jnânavatár ou Encarnação da Sabedoria, igualmente Láhiri Mahásaya é um Yoga­vatár ou Encarnação da Ioga305.

Segundo os padrões do bem, tanto quantitativa quanto qualitati­vamente, o grande mestre elevou o nível espiritual da sociedade. Por seu poder de alçar seus discípulos íntimos à estatura do Cristo, e por sua ampla disseminação da verdade entre as massas, Láhiri Mahásaya figura entre os redentores da humanidade.

Sua singularidade como profeta reside em sua ênfase prática num método definido, o de Kriya, abrindo pela primeira vez a todos os ho­mens as portas da liberdade pela ioga. À parte os milagres de sua pró­pria vida, certamente o Yogavatár atingiu o zênite de todas as maravi­lhas ao reduzir as antigas complexidades da ioga a uma simplicidade efe­tiva, dentro dos limites da compreensão ordinária.

Com referência a milagres, Láhiri Mahásaya dizia freqüentemente: “A operação de leis sutis, desconhecidas do povo em geral, não deve ser publicamente discutida ou divulgada, sem o devido discernimento.”

Se, nestas páginas, pode parecer que descurei suas palavras de cautela, foi porque ele me deu seu consentimento por via espiritual. Contudo, ao registrar as vidas de Bábají, Láhiri Mahásaya e Sri Yuk­téswar, considerei conveniente omitir certas histórias milagrosas. Difi­cilmente eu poderia incluí las sem escrever também um volume expli­cativo de abstrusa filosofia.

Como iogue chefe de família, Láhiri Mahásaya trouxe uma mensa­gem prática adequada às necessidades do mundo moderno. As excelentes condições econômicas e religiosas da antiga índia não mais subsistem. O grande mestre por isso não econrajou o velho ideal do iogue como asceta errante carregando a sua escudela de mendigo. Ele preferiu sa­lientar as vantagens que teria o iogue em ganhar o seu próprio sustento, não dependendo de uma sociedade competitiva para a sua sobrevivência, e praticar ioga no recesso de seu lar. A este conselho, Láhiri Mahásaya acrescentou a força alentadora de seu próprio exemplo. Ele foi o modelo do iogue moderno, “aerodinâmico”. Seu modo de vida, planejado por Bábají, tinha o objetivo de servir de guia aos aspirantes à ioga em todas as regiões do mundo.

Nova esperança para novos homens! Proclamou o Yogavatar: A união divina é possível através do esforço reiterado, e independe de crenças teológicas ou da vontade arbitrária de um Ditador Cósmico.

Usando a chave de Kriya, as pessoas que não podem crer na divindade de homem algum, contemplarão, por fim, a plena divindade de si mesmas.



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