Não queremos abranger muito amplamente a vida destes músicos baianos, mas alguns fatos biográficos básicos serão necessários para a compreensão de sua obra.
5.1. A biografia de Caetano Veloso
Caetano Emmanuel Vianna Telles Veloso29 nasceu a 7 de agosto de 1942 em Santo Amaro da Purificação, cidade pequena no Recôncavo baiano, conhecida pela tradicional produção de açúcar. É filho de Claudionor Veloso – “Dona Canô”, uma mulher muito admirada em Santo Amaro, e de José Veloso que trabalhou como funcionário dos Correios e Telégrafos. Tinha sete irmãos, dos quais se destacou também no campo da música a irmã mais nova, Maria Bethânia. Aos catorze anos, muda-se para o Rio de Janeiro, onde pôde usufruir desde cedo de seus programas favoritos, como a música e o cinema.
Após um ano passado no Rio regressa a Santo Amaro e, em 1959, conhece o trabalho de João Gilberto através do LP “Chega de saudade”. Este seria o músico que mais influência sua trajetória artística, como Caetano afirma: “No João, parece que é tudo mais justo, necessário: melodia, as vogais, as consoantes, os sentimentos, o respeito por aquela forma, que ele reconheceu ali, o jeito daquelas coisas se expressarem esteticamente. João traduz a canção”.30 Em 1960 passa a morar em Salvador, onde mais tarde ingressa na Faculdade de Letras da UFBA. Lá conhece e torna-se amigo do ídolo que já conhecia pela TV, Gilberto Gil, e, em 1964, juntamente com ele e com Maria Bethânia, Gal Costa e Tom Zé, fazem o show “Nós, por exemplo” na ocasião da inauguração do teatro Vila Velha, em Salvador, que foi dirigida por Caetano e que inaugura a carreira dos artistas. Esse show representa um marco histórico, reunindo pela primeira vez o núcleo que futuramente será conhecido como Doces Bárbaros. O mesmo grupo apresenta ainda o show “Nova bossa velha e velha bossa nova”.
Caetano e Gil mudam logo depois ao Sul do Brasil que oferece melhores oportunidades para os músicos, Caetano ao Rio de Janeiro, abandonando a Faculdade e acompanhando Maria Bethânia chamada para substituir Nara Leão no show “Opinião”. E segue o período dos festivais da música. Em 1966, Caetano recebe o prêmio pela melhor letra da “Um Dia” no II Festival de MPB da TV Record. Grava seu primeiro disco “Domingo”, em 1967, no qual inclui a canção “Alegria, alegria”, que é classificada no quarto lugar no III Festival da Record. Esse Festival foi o ponto de partida para o movimento tropicalista, movimento que reuniu Gilberto Gil, Torquato Neto, José Carlos Capinam, Gal Costa ou Tom Zé, às vezes chamado grupo baiano. Este movimento vai ser analisado mais adiante. Também é nesse festival onde Caetano chama a atenção dos poetas concretos Augusto e Haraldo de Campos e Décio Pignatari, que o familiarizam com sua obra e crítica literária de Ezra Pound, James Joyce e Oswald de Andrade, o que terá de grande importância na fase tropicalista.
A situação política vai se agravando naquele tempo. O governo militar precisava de poderes excepcionais, que não constavam na Constituição. Assim, os Atos Institucionais, que oprimiram a oposição ao governo, foram lançados. Isso tem grandes conseqüências para Caetano Veloso. Primeiro, seu samba “A voz do morto” foi censurado e o disco com a música foi recolhido das lojas. Mas isso é só começo. Dentre os Atos Institucionais editados, o AI nº5 é tido como mais repressivo e é visto pela maioria dos jovens como o fechamento dos meios de resistência pacífica ao regime. AI nº5 cerceou completamente a liberdade de expressão. No dia 27 de dezembro de 1968, aplicando este AI, Caetano foi preso juntamente com Gilberto Gil sob o pretexto de desrespeito ao hino e à bandeira do Brasil. Foram levados para o quartel do exército de Marechal Deodoro, no Rio de Janeiro, permanecendo detidos por dois meses. A situação torna-se insustentável e após o último show de despedida, realizada em Salvador nos dias 20 e 21 de julho, Caetano Veloso e Gilberto Gil embarcam junto com suas mulheres, as irmãs Dedé e Sandra Gadelha, para o exílio na Inglaterra. Mesmo no exílio, produção de Caetano não pára e ele lança pelo selo inglês dois discos.
Em janeiro de 1972, volta definitivamente ao Brasil e continua em seu trabalho musical, colaborando com vários compositores e cantores, com Chico Buarque ou Milton Nascimento, entre outros. No dia 24 de junho de 1974, 10 anos depois do show “Nós, por exemplo”, Caetano reencontra Gal Costa, Gilberto Gil e Maria Bethânia no elenco do espetáculo “Doces Bárbaros” e a mesma situação acontece ainda em 1994, no show “Doces Bárbaros na Mangueira”.
No início de 1977, participa, ao lado de Gilberto Gil, do 2º Festival Mundial de Arte e Cultura Negra, em Lagos (Nigéria) e o encontro com a original cultura africana fornece vários motivos para seu trabalho. Em abril desse ano, lança seu primeiro livro, “Alegria, alegria”, uma compilação de artigos, manifestos e poemas, além de entrevistas concedidas ao amigo e poeta Waly Salomão. A tentativa de se exprimir não só através da música e das letras continua e Caetano Veloso torna-se o autor de vários livros, dos quais mais importante é o livro “Verdade tropical”, um relato pessoal sobre sua visão do mundo, lançado em 1997.
Após mais de 40 anos da carreira, Caetano Veloso continua a ser uma das pessoas mais respeitáveis no mundo da música brasileira e continua a compor novas músicas. Seu trabalho foi apreciado até no estrangeiro; em 2000, pelo CD “Livro”, recebeu na categoria World Music o Prêmio Grammy Awards.
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