Um capítulo próprio das músicas conectadas à baianidade é criado por aquelas que exprimem a saudade da Bahia. Muitas delas surgiram durante o exílio na Inglaterra. É natural que essas exprimem com maior veemência do que as outras a saudade da terra natal. Tão simples, mas belos, são esses versos escritos por Gilberto Gil no exílio: “Um pouco da minha grana / Gasto em saudade baiana / Ponho sempre por semana / Cinco cartas no correio” (“Fechado pra balanço“). Na canção “Back in Bahia”, escrita, como diz o próprio título, de volta à Bahia, faz a reminiscência à famosa “Canção de Exílio”, do poeta romântico Gonçalves Dias, justapondo “cá“ e “lá“70: “Mar da Bahia, cujo verde vez em quando me fazia bem relembrar / Tão diferente do verde também tão lindo dos gramados campos de lá / Ilha do Norte, onde não sei se por sorte ou por castigo dei de parar / Por algum tempo que afinal passou depressa como tudo tem de passar / Hoje eu me sinto como se ter ido fosse necessário para voltar / Tanto mais vivo de vida mais vivida, divida pra lá e pra cá”. Há aqui uma semelhança de atitude de Caetano e Gil em relação ao exílio nos seguintes versos da canção „Um Dia“: „Eu não estou indo-me embora / Estou só preparando a hora de voltar“. Caetano ainda canta nesta canção: „No Raso da Catarina / Nas águas de Amaralina / Na calma da calmaria / Longe do mar da Bahia / Limite da minha vida / Vou voltando pra você”.
Mas não só em Londres foram compostas as canções de saudade. Gilberto Gil e Caetano deixaram a Bahia já em 1966 e portanto não há surpresa que algumas músicas surgidas no Rio de Janeiro em São Paulo contenham algumas gotas de saudade. Na canção “Quem me dera” de Caetano, a saudade torna-se a substância principal: “Ai, quem me dera o dia / Voltar, quem me dera o dia / De ter de novo a Bahia / Todinha no coração / Ai, água clara que não tem fim / Não há outra canção em mim / Que saudade!”.
De saudade e nostalgia estão cheias também as músicas de Caetano onde se fala da cidade onde ele nasceu e passou a infância, Santo Amaro da Purificação. Na letra “Acrílico” ele chama-a, fusionando as expressções de “adolescência“ e “cidade“, de “adolescidade”. Também faz vários trocadilhos que nos devem aproximar de seu pensamento nostálgico, como, por exemplo: “Acre e lírico sorvete / Acrílico Santo Amargo da PUTRIFICAÇÃO”. Em várias músicas ele nomeia-a explicitamente, como em “Trilhos urbanos” ou “Adeus, meu Santo Amaro”: “Adeus, meu Santo Amaro / Que eu dessa terra vou me ausentar / Eu vou pra Bahia....Adeus, minha cidade / Adeus, felicidade / Adeus, tristeza de ter paz / Adeus, não volto nunca mais”. Vemos que Caetano com a licença poética rebatiza sua cidade em Santo Amargo e esta proximidade das palavras “Amaro“ e “amargo“ é utilizada muitas vezes. Outra brincadeira frequente de Caeatano é justapor a amargura contida no nome da cidade e a cana-de-açúcar, o produto típico do Recôncavo e de Santo Amaro especialmente: “Cana doce Santo Amaro, gosto muito raro / Trago em mim por ti, e uma estrela sempre a luzir”. A mesma coisa ele faz em “Sugar cane fields forever”, cujo título é uma clara alusão à música dos Beatles “Strawberry fields forever”71 e onde só a referência a Santo Amaro no final da letra justifica o título.
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