5.2. A biografia de Gilberto Gil
Os caminhos do destino de Gilberto Gil são muito parecidos com aqueles de Caetano Veloso, como já pudemos ver no capítulo anterior.
Gilberto Passos Gil Moreira31 nasceu a 26 de junho de 1942 em Salvador. Até os nove anos de idade viveu com o pai, médico José Gil Moreira, e a mãe, professora primária Claudina, na cidade de Ituaçu, no interior da Bahia, para onde foi com vinte dias de nascido. Lá começa a interessar-se pela música das bandas da cidade e pelo que ouvia no rádio, como Orlando Silva, Dorival Caymmi e Luiz Gonzaga, cuja influência é notável em vários discos de Gil Gilberto. De volta a Salvador, em 1951, foi morar na casa da tia Margarida no bairro de Santo Antônio no centro histórico da cidade e lá começa a aprender, provavelmente sob a impressão da música do já mencionado Luiz Gonzaga, a tocar acordeom. Na juventude outro nordestino (baiano) famoso, João Gilberto, com sua bossa nova se torna uma influência importante para ele e Gil passa a tocar violão: “Quando o João Gilberto apareceu, eu disse: 'Taí o que eu queria'. E entrei na bossa nova com ele.”32 Depois de terminar o colégio, inscreve-se no curso de Administração de Empresas na UFBA, onde se formou em 1964. No início da carreira artística, ainda em Salvador, apresentou-se em programas de rádio e televisão. Foi através desses programas que ganhou a admiração de Caetano Veloso, que mais tarde se tornou seu parceiro e grande amigo. No início da grande colaboração dos artistas há dois espetáculos “Nós, por exemplo” e “Nova bossa velha e velha bossa nova”, realizados no teatro Vila Velha, em Salvador.
Cedo após a formatura, assim como Caetano, também Gilberto Gil muda ao Sul do país e reside em São Paulo, onde trabalha na multinacional Gessy-Lever. Em 1967, abandona seu emprego e nos anos seguintes dedica-se apenas à música e participa dos festivais da música popular, compondo novas e novas canções e também grava, neste ano, seu primeiro LP “Louvação”. O festival mais importante para sua carreira é o III Festival da Record, em 1967, onde Gilberto toca “Domingo no parque”, acompanhando pelos Mutantes, uma das músicas mais impactantes do festival, classificada em segundo lugar. “Alegria, alegria”, de Caetano, classificada em quarto lugar, formaria junto com “Domingo no parque” o embrião do movimento tropicalista, em boa parte por causa da inserção de guitarras elétricas em uma música que não era rock. Em 1968, com uma proposta de antropofagia de valores culturais estrangeiros baseada em idéias de Oswald de Andrade, o tropicalismo se concretizou com “Tropicália ou panis et circensis”, disco conceitual que contou, além de Caetano e Gil, com os Mutantes, Torquato Neto, Capinam, Tom Zé, Nara Leão e arranjos do maestro Rogério Duprat. A faixa “Geléia geral”, música composta por Gilberto Gil em parceria com Torquato Neto, teve especial destaque por representar “uma síntese dos cânones do próprio movimento tropicalista, além de ser um modelo de seu contorno poético”.33
Como já vimos na biografia de Caetano Veloso, em 1969, depois de serem presos pela ditadura, partem os dois músicos baianos com suas esposas para o exílio político na Inglaterra. Antes de partir, Gilberto Gil lança a irônica “Aquele abraço”, uma de suas músicas famosas. Do exílio regressa juntamente com Caetano ao Brasil em 1972 e juntam se novamente com Gal e Bethânia, formando o grupo baiano Doces Bárbaros. Os sentimentos depois da volta a terra natal descreve a canção “Back in Bahia”. Volta a descobrir a cultura nordestina sertaneja, que faz parte de sua infância, e revitaliza-a no LP “Espresso 2222”.
Na década de 70, viaja Gilberto Gil várias vezes à África com a intenção de conhecer uma das raízes fundamentais da baianidade, a contribuição africana, e é natural que essa experiência se reflete depois com maior intensidade na obra dele, como por exemplo no álbum “Realce”, de 1979, ou no “Raça Humana”.
Em 1993, vinte cinco anos depois do disco tropicalista “Tropicália ou panis et circensis”, Caetano e Gil retomam a idéia do Tropicalismo e lançam junto “Tropicália 2”. Também a obra de Gil é reconhecida internacionalmente, quando o disco “Quanta”, lançado em 1997, foi premiado com o Grammy na categoria World Music.
Mas Caetano Veloso e Gilberto Gil não se restringem apenas à música. Os dois costumam expressar a sua opinião a todos os problemas que afligem o Brasil. Gilberto Gil foi o primeiro negro a integrar o Conselho de Cultura da Bahia e exerceu o cargo do presidente da Fundação Gregório de Mattos. Seu interesse pela política sempre foi grande, tendo sido eleito vereador em Salvador em 1988, ano em que lançou o livro “O poético e o político”, escrito em parceria com Antônio Risério. Como uma pessoa politicamente muita ativa, depois da queda da ditadura, no Partido Verde, recebeu o cargo de Ministro da Cultura no governo do atual Presidente Luis Inácio Lula da Silva.
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