Perto das cidades o pessoal e esperto; ninguem ha de querer
ajudar fugitivos; apanham-nos a os entregam sem do.
- Se vocˆs soubessem, meninos, quanta gente ruim ha
neste mundo!
- Esses siberianos s8o umas feras!
- Gente muito ...-toa!
- Esses siberianos não tem sal nas orelhas: se a gente
lhes cai nas unhas, adeus!
- U, mas os nossos dois rapazes ...
- Sim, com eles a coisa e dura. Não e com eles que
h de ser facil.
- Espera! Se não morrermos, logo o saberemos!
- Achas mesmo que nao serão apanhados?
- Eu, por mim, tenho a certeza de que não os apanha-
rão nunca! afirmou um dos excitados, dando um murro na
mesa.
- Hum! Isso depende de como andarão as coisas!
- Pois esta aqui o que acho, pessoall disse Skurafov
Eu, se fugir, nunca mais ninguem me pega!
- Tu?
27
Vk
Puseram-se a rir e alguns fingiram recusar-se a ouvir
mais. Porem Skuratov estava animado.
- Nunca me haveriam de apanhar! repetiu energica-
mente. Penso tanto nisso, irmãos, que, ...s vezes, at‚ me
admiro. Preferia me enfiar num buraco de rato ~ deixar #
me porem a mão em cima!
- Ora, se estivesses morrendo de fome, acabavas pe-
dindo um peda‡o de pão por -esmola!
Novas gargalhadas.
- Pedir esmola! Burrice!
- Burro es +u! Tu e o velho Vassia vingaram a "mor+e
da vaca" (1) e por isso estão aquil
As gargalhadas redobraram. Os for‡ados serios assu-
miam um ar cada vez mais indignado.
- Mentiroso! gritou Skura+ov. Miki+ka e um m,entiro-
so, e inventou isso contra mim e contra meu tio Vassia. Sei
que me complicaram nessa his+oria. Sou de Moscou e des-
de pequeno corro mundol Quando o sacristão queria me
ensinar a ler, puxava-me as orelhas e dizia: "Repete: Poupa-
me Senhor, na vossa misericordia" . . . eu repetia: "Poupa-
me, Senhor, da miseria e da corda. . . " Assim e que sou,
desde pequenino.
As risadas continuaram. Era isso que Skura+ov procura-
va. Gostava de servir de palha‡o. Mas depressa o deixa-
ram de m3o para voltarem ... conversa seria. Os peritos em
evasões emitiam pareceres; os mais jovens e os mais; calmos
escutavam, satisfeitos, o pesco‡o estendido, os olhos fixados
neles. Havia uma multidão na cozinha, porem nenhum sub-
oficial estava Ia, pois do contrario os presos mostrariam mais
reserva. Entre os que rejubilavam, observei o fartaro Ma-
metka, hornerizarirão de pornulos salientes, e aspecto extraor-
dinariamente comico. Mal falava o russo e não compreendia
quase nada do que os demais cliziam; entretanto, estirava a
(1) Quer dizer que mataram Um mujique ou uma baba, suspeitos de deitarem
mau olhado ao gado. Havia no nosso presidio um criminoso dessa especie. (Nota do
Autor). #
394 DOSTOIEVSKI RECORDA€õES DA CASA DOS MORTOS 395
cabe‡a por cima dos outros e agu‡ava o ouvido com aten‡ão, Claro! aprovava um outro. Os
rapazes tomaram as v
com beaf itude. 1 suas precau‡ões1 1
- Hein, Mametka, iakchi (que bom) falava Skuratov, As suposi‡6es foram mais longe.Prefendia-se que os
voltando-se para o t rtaro. Abandonado por todos. agar- fugitivos ainda estavam escondidos
num arrabalde da cidade,
rava-se em desespero de causa ...quele ouvinte. no fundo de uma adega, esperando que passasse a eferves-
- l£chi, uch, iaLhi! aprovou ardentemente Mame- cencia, e que o cabkp raspado crescesse. Isso
poderia du-
fka, abanando a cabe‡a grotesca para o lado de Skufarov. rar seis meses, um a‚~b, e depois
eles sairiam do canto.
- Não os apanham, iok? (não?) Todos se mostravam de humor inventivo e romanesco.
- lok, iok! Mas de repente, oito dias ap6s a evasão, espalhou-se o
E dessa vez, Mame+ka se p"s a resmungar, gesticulando. boato de que tinham encontrado uma
boa pista. Esse boato
---lsso quer dizer que se um mente o outro não o des- es+Upido foi logicamen+e desmentido
com desprezo; entre+an-
mente, não ‚? to, na mesma noite, ia +ornando consistencia, e os for‡ados
- ! e! i£chil respondeu Mamefka meneando sempre come‡aram a se agitar. Na manhã
seguinte, contaram na
a cabe‡a. cidade que os fugitivos tinham sido apanhados, que eram
- Então seja ialtchil frazidos de volta. Depois do jantar, conheceram-se informes
E para refor‡ar o iaLhi, Skurafov lhe enterrou o gorro mais circunsfanciados: tinham sido
presos em certa aldeia
ate aos olhos, depois, deixando ali Mamefka at"nito, saiu da a setenta versfas de distancia.
Enfim, chegou-nos a hisforia
cozinha muito bem humorado. autentica. O sargento, voltando da casa do maior, noticiou
Durante a semana inteira, prosseguiram as providencias que naquela mesma noite seriam os
fugitivos conduzidos ao
severas na fortaleza, bem como batidas minuciosas nos arre- corpo da guarda. Não se podiam mais
alimentar duvidas.
Seria dificil descrever a impressão que essa nova provocou
dores. Os defenfos imediatamente ficaram a par - não sei nos for‡ados; a principio foi
exaspera‡‚io, depois desanimo,
como - de todas as medidas tomadas para a recupera‡ão e afinal escarneo. Come‡aram a
zombar, não dos persegui-
dos fugitivos. Nos primeiros dias, as noticias eram favora- dores, mas dos perseguidos.
veis aos trƒnsfugas: tinham desaparecido sem deixar rastro.
Nenhum indicio, nada! Nossos for‡ados não se cansavam de De inicio alguns apenas
escarneceram, porem depressa
zombar dos chefes. Não sentiam a minima inquieta‡ão pela todos fizeram coro. S6 uns dois ou
frˆs presos ficaram em
sorte de Kulikov. e A. silencio; eram homens serios e obstinados, que não se deixa
- Não, n,ngu.em os encontra! não os apanham! re- vam impressionar por zombarias, e
fitavam com desprezo o
pefiam uns aos outros, satisfeitos. grupo estouvado dos discufidores.
- Sumiram como uma bala! Tal como haviam erguido ...s nuvens Kulikov e A., do
mesmo modo se esfor‡avam agora em rebaix51os. Pa- 1
- Ate breve, e sempre amigos, não? a #
recia e 1
N6s. sabiamos que todos os mujiques dos arredores ha- af' que os dois acabavam de
cometer uma afronta.
contra todos. Os nossos contavam com ar de desprezo que,
viam sido prevenidos, vigiavam todos os lugares suspeitos,
batiam florestas e ravinas. 11 incapazes de suportar a fom-e, entraram ambos numa aldeia
- Para que isso? tro‡avam os for‡ados. Decerto eles afim de esmolgr pão, - cousa que
representa o ultimo grau
fˆm um esconderijo, em algum lugar. do nebaixamenfo para um vagabundo. Alias, essas hisforias #
DOSTOIEVSKI
,a
am falsas. Vendo-se ca‡ dos, os fugitivos se esconderam
ma mata que em breve foi toda cercada: como não dispu-
am de meio nenhum para fugir, renderarn-w esponfanea-
ente. Não lhes sfava outra alternativa.
Mas quando a noite os trouxeram de pes e mãos atados,
coitados pelos guardas, todos os for‡ados se encostaram a
li‡ada para ver afraves das fendas o que lhes iriam fazer.
ão se avistaram, e claro, senão os carros do governador e
o maior parados a frente do corpo da guarda. Os evadi-
fora postos na solitaria, ferrados outra vez, e no dia
uinte tompareceram ante os juizes. A zombaria e o des-
o
zo dos for‡ados depressa cairam por si proprios. Sou-
e-se melhor do que houvera, soube-se que Kulikov e A.
inham sido obrigados a se render, e todos se puseram a
companhar avidamente a marcha do processo.
- Vão +ornar pelo menos mil! dizia um.
- Mil! replicava um outro. Est s brincando? Vão
apanhar ate morrer. Pode ser que A. +orne apenas mil, mas
o outro vai deixar o couro nas varas, meu velho, porque 6 da
especial.
Entretanto, não haviam calculado direito. A. saiu-se
com quinhentos a‡oi+es-, era o seu primeiro delito e foi
levado em considera‡ão o seu bom procedimento anterior.
Quanto a Kulikov, creio que recebeu mil e quinhentos a‡oites.
A puni‡ão foi afinal de contas bastante suave. Como ho-
mens sensatos, não denunciaram ninguem. Declararam, cla-
ra e resolutamente, que tinham fugido sem se deter em parte
nenhuma. Quem mais lamentei foi Koiler: perdeu ate a £l+i-
ma esperan‡a, e o seu castigo ultrapassou os dos outros em.
severidade: levou dois mil a‡oites e foi enviado como-gal‚
os
9
re
para um outro presidio. Quanto a A., gra‡as aos m‚dicos,
não recebeu o castigo senão quase "pro-forma". Porem no
hospital pOs-se a arrotar fanfarronadas, a se declarar pronto
para tudo: não recuaria diante de nade e ainda daria que
falar. Kulikov portou-se como sempre - homem de juizo,
RECORDA€õES. DA CASA DOS MORTOS
397
o
decente. Ao voltar ao pre'*dio, depois de ser fustigado, pa-
recia que nunca saira dali. Mas ninguem o olhava mais com #
os mesmos olhos, embora ele soubesse sempre e em toda
parte marifer-se no seu lugar. No seu foro Intimo os for‡a-
dos lho, tinham perdido o respeito: tratavam-no agora tão bom
como tão bom, com uma familiaridade sem considera‡ão.
O ˆxito vale tanto, neste mundo! #
P,
6
x
A saida do presidio
udo isso se passou no meu £ltimo ano de prisão. Esse
£ltimo ano, sobrefudo no fim, me ficou fio fortemenfe
T gravado na memoria quanfo o primeiro. Mas para
que dar minucias? Direi apenas que, apesar da minha im-
paciencia, esse ano foi o menos penoso de todo o meu perio-
do de presidio. Em primeiro lugar, eu tinha variOs amigos
enfre os for‡ados, bons camaradas, que me consideravam
todos um ¢timo sujeito. Muitos deles me eram dedicados,
tinham-me sincera afei‡ão. O ordenan‡a Bakluchine sen-
tiu vontade de chorar quando nos acompanhou a mim e ao
meu companheiro para fora da prisão: e como depois, em-
bora j6 libertos, n¢s devessemos passar um mˆs na cidade
num estabelecimento do governo, ele 16 aparecia diar¡amen-
fe, com o fim £nico de falar conosco. Deus sabe por que. #
400 ' DOSTOIEVSKI
-en+re+an+o. certos indivilos rebarbativos, nunca, at‚ ao fim,
me 1 dirig~ram a palavra. Parecia que uma barreira se erguia
entre n6s.
Nos £ltimos tempos, gozei de muito mais imunidades que
nos outros periodos de minha deten‡ão. Tinha encontrado
conhecidos entre os oficiais em servi‡o na cidade, antigos
comppinheiros de escola (1) e reentabolara rela‡ões com, el¢s.
Por seu intermedig, dispunha de mais dinheiro, podia escrever
ta
... rin¡nha fAmilia e obter livros. Ja havia anos que não r
um 56 , livro, e seria dificil reproduzir a impressão estranha
e a emo‡ão , que me causou 9 primeiro volume - um n£mero
de reV~i~o-, lembro-me de o ter come‡ado a ter ... noite, assim
que 1 fec 1 haram as casernas, e continuar na leitura at‚ a madru-
ga.d - a. Era como_ um mensageiro de outro mundo, que hou-
ves . se voado ate mim: minha vida de outrora erguia-se diante
dos meus olhos num clarão limpido, e eu procurava adivinhar,
afraves da leitura, se me tinha atrasado demais, se eles tinham
vivido intensamente sem mim, Ia no mundo. Com que se ag¡-
favam agora? Que questões debatiam? - Definha-me nas
palavras, lia nas entrelinhas, procurava descobrir os pensa-
men+os secretos, as alusões ao passado: procurava os tra‡os
do que outrora perturbava e comovia os esp¡rifos ... E que.
tristeza me possuiu quando tive que reconhecer at‚ que pon-
+o estava eu alheio a vida atual! Era um membro mutilado da
sociedade. Tinha que me habituar as inova‡ões, travar co-
nhecim.ent¢ com a nova gera‡ão1 (Enfronhei-me especial-
mente num artigo assinado por um nome conhecido, o nome
dum homem de quem estivera aproximado ... Mas j6 outros
nomes eram famosos: novos trabalhadores haviam ocupado
os lugares antigos: apressei-me em travar conhecimento com
eles, desesperando-me por ter tão poucos livros em mão, e
tanta dificuldade em ob+e-los. Antes, no tempo do nosso
antigo maior, era grave risco introduzir livros no presidio.
(1) Principalmente uma meia duzia de guardas-marinha cujas opiniões avan‡adas
os haviam deportado em 1849 para os batalhões da guarni‡ão de Ornsk. (N. de H. M.)
O
RECORDA€õES DA CASA DOS MORTO
401
Em casos de busca, farpeavam a gente de interroga‡ões- "De
ro9 Onde o apanhaste? Quais são teus
onde vem este liv .
cUmplices?" E que poderia eu responder'a isso tudo? De
forma que vivera sem livros, dobrado sobre mim mesmo, mau #
grado meu. Quanfas perguntas fiz a mim proprio sem poder
eluci -las, apesar dos tormentos que me provocavam!
Porem isso tudo e impossivel de exprimirl , * *
Como eu chegara ao presidio durante o inverno, deveria
+ambem ser libertado nessa esta‡ão, no aniversario de mi-
nha entrada! Com que impaciencia aguardei esse inverno,
com que alegria vi morrer o verão, as folhas amarelecerem
nas 6rvores, a erva ressecar na estepe! Mas enfim o verão
acabou. O vento de outono gemia, o primeiro floco de neve
voli+ava ... O inverno tão longamente esperado chegara ...
O imenso pressentimento da liberdade me fazia bater o co-
ra‡ão em pancadas surdas, vioien+a~. E, cousa estranha, quan-
+o mais o tempo passava, mais se aproximava o momento,
mais eu me +ornava paciente, mais me. acalmava. Durante os
£ltimos dias espantava-me; acusava-me de indiferen‡a, julga-
va-me de gelo. Muitos dos for‡ados, quando me encontra-
vam no pafio, na hora do repouso, vinham me falar, felicitar:
- Então vai embora, Alexandr Pe+rovitchi A liberdade
chega, breve estar6 a¡: vocˆ vai nos deixar, vai largar os
pobres diabos dos seus companheiros1
- E voce tambem, Marfynov, muito breve chegar6 sua
vez! respondia eu.
- Oh, muito breve não, ainda tenho que tirar sete
anos1
œ ele suspirava, definha-se, olhava diante de si com ar
disfraido, como se fixasse o futuro ...
Sim, muitos me felicitavam franca e cordialmente. To-
dos me pareciam mostrar mais afabilidade, sentia-se que eu
16 ' deles, que j6 se ha
nao era mais um viam despedido de mim.
K-czinski, um jovem fidalgo polaco, manso e delicado, gostava
de, como eu, passear pelo pafio nas horas de repouso. Pen-
sava que o ar puro e o movimento lhe conservariam a saude,
O compensariam das noites sufo‡antos da c¢sorno, #
DOSTOIEVSKI
€--- A -
Espero com impaciencia a sua par+ida, disse-me ele
m dia, sorrindo, durante um passeio. Ficarei sabendo então
uO ma resta apenas um anol
Notei de passagem que, gra‡as ... longe priva‡ão (i ...
ossa fendencia para o devaneio, a liberdade, vista da f¢r-
aleza, nos parecia mais absoluta do que o era na vida tan,-
ivel e real. Os for‡ados viam-na por demais embelezada,
ousa bastante natural num prisioneiro. Qualquer bagagWtro
oficial nos parecia quase um rei, quase o ideal do homem
ivre, simplesmente porque ia aonde queria, sem grilheta, sˆm
scolfa, sem a cabe‡a raspada.
Na v‚spera do £ltimo dia, ao crep£sculo, dei pela der-
deira vez volta ... pali‡ada. Quanfos milhares de vezes
era eu . aquele caminho? Ali, por tr s das casernas, va-
ueara sor¡tario, abandonado, desesperado, durante todo o
rimeiro ano da minha vida de presi...io. Recordava a ‚poca
m que ainda contava por milhares os dias que me restavam
cumprir. Senhor, quanto tempo fazia que isto se passara!
C est o canto onde se debatia a nossa aguia, - aqu¡ ‚
que Petrov vinha sempre ao meu encontro. Petrov, -ali s,
não me deixava mais: corria ao meu encontro adivinhando
talvez meus pensamentos, espantado mau grado seu, cami-
nhova em silencio ao ‚neu lado. Desped¡-me de todas as
vigas enegrecidas e mal esquadrejadas da nossa caserna.
Como me pareciam rebarbativas, então, nos primeiros fem-
pos1 Sem duvida tinham envelhecido ainda mais: eu, porem,
não o podia notar. E quanta juventude hnterrada naquelas
muralhas, quanta for‡a inutilmente perdida, sem proveito.~
nhumI Sim, devo dizˆ-lo: todos aqueles homens tinham den-
fro de si recursos maravilhosos, eram talvez os mais dotados,
os mais en‚rgicos filhos do nosso povo, mas suas capacida.
des soberanas viam-se aniquiladas sem remissão. De quem
a culpa?
Sim, de quem era a culpa?
Cedinho, no dia seguinte, entes da hora da partida dos
hornens para o trabalho, logo que o sol foi nascendo, dei volta
I
i #
RECORDA€OES DA CASA DOS MORTOS
·
NI
as casernas para me despedir de todos os de+entos. Muitas
mãos calosas e rudes se estenderam cordialmente para mim.
Mas os que me apertaram a mão como. c . ompanheiros não
eram numerosos. Compreendiam que eu iria imed*ia-~amen~e
me tornar outro homem. Sabiam que eu tinha rela‡ões na
cidade, que dentro em Pouco iria ... casa de alguns barines
junto aos quais tomaria lugar, como seu semelhante. Com-
pneendiam isso, e, embora o seu aperto de mão fosse cordial.
um dos seus, mas dum barine.
senti que não se despediam d não responder
Alguns me deram as costas e teimaram em
... minha sauda‡ão. Outros me lan‡aram olhares de odio.
O tambor rufava, todos partiram para o trabalho e eu
fiquei s6. Suchilov, que nessa manhã acordara antes de
h61-
todos os outros, arranjara tempo para me preparar o c
Pobre Suchilovi Chorou quando lhe dei os meus pertences
de preso: as camisas, as correias de segurar as grilhefas, e
um pouco de dinheiro.
- Não 6 por isso, não e por isso! murmurava ele atrav‚s
das 16grimas, mordendo os labios trˆmulos . . . Corno vou
suportar sua perda, Alexandr Petrovitch9 Como posso viver
sem vˆ-lo aqu¡?
Desped¡-me de Akim Akimi+ch.
- Breve ser6 sua vez, disse-lhe eu.
- Ainda me resta bastante tempo, bastante +empoi
murmurou Mim, aper+ando-me a mão.
Atirei-me aos seus bra‡os e nos beijamos.
Dez minunfos ap6s a partida dos for‡ados o compa-
nheiro com quem viera para o presidio e eu deixamos a
fortaleza para nunca mais ta +ornar. Fomos diretamente ...
forja afim de nos tirarem os ferros, mas ia não levavamos
escolta armada, e um Unico sub-oficial nos acompanhava.
Foram for‡ados que nos desembara‡aram dos ferros na ofi-
cina de engenharia. Esperei que tirassem o grilhão do meu
companheiro, depois me aproximei da forja. Os ferreiros me
fizeram voltar as costas, seguraram-me a perna por fras, esti-
405
I #
#
DOSTOJEVSKI
i~... na ... Esfor‡avam-se em realizar
raram-na em cima de big
o trabalho da methor maneira possivel-
- olha - a ponta do cravo. vira primeiro a ponta do
crav01 ordenou o mestre ferreiro. Segura assim, for‡al
Agora uma martelada ...
Cairam os ferros. Ergu¡-os; ... Queria segur‚i-105 Com
minhas mãos, olh&-10S uma £ltima Vez. Maravilhava-me não
os sentir mais nas pernas.
- Bem, vão com Deus! Vão corri Deus! repetiram os
for‡ados, com suas vozes rudes, en+recortadas, nas quais mo
parecia perceber uma nota alegre.
Sim, iamos com Deus! Para a liberdade! Vida nova,
ressurrei‡ão de entre os mortos[ Maravilhoso momen+01
-m
Biblio I -,- - " ~'! 7, ' ~ - - - - ~
4
4
INDICE
dos Mortos"
Notas sobre "Recorda~ da Casa
Intro&jOo ...........
ix
PRIMEIRA PARTE
1 - A casa dos mortos ..................
Primeiras iffre~ .....
Primeiras impressões (continu~ ...........
jV - Primeiras impressões (continua€&O) ................
V - O primeiro mis ............
Vi O primeiro m‚s (continua€&O) ..............
Vil Novos conhecidos - Petrov ................
Vill - o "fac¡nora" Luka *----
1X - isai Fomitch - O banho - A historia de Bakluchine ....
X - Natal ...................
X1 - O espet culo ..................
SEGUNDA PARTE
#
i - O ~tal .................
11 - O hospital (conti~o) -
lli - O hospital (cont~ ....................
IV - o marido de Ai‡ulka (histOria) ........
V - Primavera ...............
V, - os animais do presidio .................
Vil - A queixa ....*-------
V111 - Companheiros .....................
1X - uma evasilo .********
x - A saida do presidio ..................
9
27
49
69
91
III
129
145
155
177
199
225
243
263
285
301
323
339
361
379
399
NOTA - Este livro foi publicado pela primeira vez em 1861 na
revista Vremia. de Petersburgo. pertencente a Mikhail, i~ de Dos-
tojevski. Saiu em folhetim. Tinha, entio, o escrim 33 anos de idadc-
i #
erso
Os grandes romances, da literatura umv
COLE€AO
FOGOS CRUZADOS
o
Ôste livro foi co~to e imPressO
nas oficinas da
EMPRSA GRµFICA DA "REVISTA DOS TRIBUNAIS" LTDA.,
... rua Conde de Sarzedas, 38, - São Paulo
para a
LIVRARIA jOS OLYMPIO EDITORA
Rio de janeiro
em setembro de 1945.
Esta cole‡ão que oferecemos aos leitores brasi-
leiros reune grandes obras literarias de todos os
tempos e todos os estilos. Atrav‚s de romances que
atravessaram os s‚culos, e obras modernas que tal-
vez não fiquem Para a eternidade, mas que são bem
representativas do momento atual, a alma e a terra
estrangeiras teem na esplˆndida cole€ão as suas v0-
zes mais expressivas. As ca;acter¡sticas dos "FO-
GOS CRUZADOS" $do a Perfei00 literaria e
forte intensidade humana: destinam-se, Pois, tanto
...., elites como aos que buscam a emo‡5o de sim
romance vital.
Excelentes tradu€õeS. Bela apresenta‡ão gr fica
Formatos in-8 e in~16. Volumes iniciais:
S.
4.
L
I
1. JANE AUSTEN - ORGULHO E PRECONCEITO
Tradu‡ão prefacio de LUCIO CARDOSO
ETHEL VW~ - FUGA
Tradu‡ão de LUCIO CARDOSO
TOLST01 - A SONATA A KREUTZER
Tradu‡ão de AMANDO FONTES
NINA FEDOROVA - ISTO A UM PEDA€O DA INGLA-
TBRRAI (A FAMILIA) - Premio "Atlantic" de 200 mil
cruzeiros
Tradu‡ão de R. MAGAL1IXES JUNIOR
S. uPTON SINCLAIR - O FIM DO MUNDO
Tradu‡ão de Lucio CARDOSO
6. NATRANIEI, HA=11ORNE - A LETRA ESCARLATE #
ROSA) - In-
(com um bico-de-pena do autor por SANTA
trodu‡ƒo de WILLIAm LyoN PlIBLPs (ex-professor de litera-
tura na Universidade de Yale)
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