ColecçÃo dois mundos frederick forsyth o punho de deus cmpv tradução livros do brasil lisboa rua dos Caetanos



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do Ministério da Defesa Canadiano convenceram o ministro da tutela a suspender o financiamento. Buli protestou que podia colocar uma carga substancial de instrumentos no Espaço por uma fracção do que custava ao Cabo Canaveral. Não lhe serviu de nada. Para proteger os seus interesses, o Exército dos Estados Unidos transferiu-o de Barbados para Yuma, no Arizona. Aí, em Novembro desse ano, enviou uma carga a 180 quilómetros de altitude, recorde que se manteve durante vinte e cinco anos. Mas, em 1967, o Canadá retirou-se totalmente da corrida -o Governo e a Universidade McGill. O Exército dos Estados Unidos seguiu-lhe o exemplo e o projecto HARP foi encerrado. Buli fixou-se, numa base puramente consultiva, em Highwater, propriedade que comprara, na fronteira de North Vermont e o Canadá. Houve dois pós-escritos, no caso HARP. Em 1990, custava dez mil dólares cada quilograma de instrumentos colocados no Espaço, através do programa do Vaivém Espacial com sede no Cabo Canaveral. Até ao final da sua existência, Buli manteve-se convencido de que o teria conseguido por seiscentos. E, em 1988, o trabalho recomeçou com um pequeno projecto no Laboratório Nacional Lawrence Livermore, na Califórnia, o qual envolve uma peça gigantesca, mas, até agora, com um cano de apenas 4 polegadas de calibre e 50 metros de comprimento. Espera-se, mais tarde, e pelo custo de centenas de milhões de dólares, construir outro muito maior, com vista a disparar cargas para o Espaço. Foi-lhe dado o nome de Projecto de Pesquisas de Supergrande Altitude, ou SHARP (5). Gerry Buli viveu e dirigiu o seu complexo em Highwater, na fronteira, durante dez anos. Nesse período, abandonou o seu sonho irrealizado de uma peça que disparasse cargas para o Espaço e concentrou-se na sua segunda área de perícia -a mais lucrativa da artilharia convencional. Começou com o problema mais importante -quase todos os exércitos do mundo baseavam a sua artilharia na peça universal do obus de 155 mm. Ele sabia que, num duelo de artilharia, quem domina o maior alcance é rei. Pode repelir e destruir o inimigo e permanecer incólume. Assim, dispôs-se a aumentar o alcance e melhorar a pontaria da peça em causa. E principiou pelas munições. A experiência fora efectuada diversas vezes, sem êxito. Ele alcançou o seu objectivo em quatro anos. Nos testes, o obus de Buli ultrapassou uma vez e meia o limite máximo das outras peças de idênticas características, revelou-se mais rigoroso e explodiu com a mesma impetuosi- O Super-High Altitude Research Project. (N. do T.) 23 dade em 4700 fragmentos, número muito superior aos 1350 dos da NATO. Esta não se mostrou, porém, interessada. E, pela graça de Deus, a União Soviética tão-pouco. Imparável, Bui] prosseguiu na sua senda e produziu um novo obus de longo alcance. Ante o mesmo desinteresse da NATO, que preferia continuar com os seus fornecedores tradicionais e o obus de curto alcance. Mas se as Potências lhe voltavam as costas, a atitude do resto do mundo era diferente. Afluíam as delegações militares e Highwater para consultar Gerry Buli. Entre outras, havia as de Israel (foi nessa ocasião que ele cimentou amizades iniciadas com os observadores em Barbados), Egipto, Venezuela, Chile e Irão. Também fornecia conselho à Grã-Bretanha sobre outras questões de artilharia e depois à Holanda, Itália, Canadá e Estados Unidos, cujos cientistas militares (se não o Pentágono) continuavam a estudar com assombro os seus trabalhos. Em 1972, tornou-se discretamente cidadão americano. No ano seguinte, começou a trabalhar na peça de campanha de calibre 155. Em dois anos, descobrira que o comprimento perfeito do cano de um canhão era nem mais nem menos do que quarenta e cinco vezes o seu calibre. Aperfeiçoou uma nova concepção da peça de campanha de calibre 155, a que chamou CP (Calibre de Peça)-45. A nova arma, com os seus obuses de longo alcance, dominaria qualquer artilharia em todo o arsenal comunista. Mas se estava a contar com contratos, ficou desapontado. O Pentágono continuou fiel ao lobby do armamento e à sua nova ideia de obuses, com um preço por unidade oito vezes superior. O rendimento de ambos os obuses era idêntico. Buli começou a cair em desgraça de um modo aparentemente inocente, quando foi convidado, com a conivência da CIA, a ajudar a aperfeiçoar a artilharia e obuses da África do Sul e depois a combater os cubanos apoiados por Moscovo em Angola. Na realidade, ele era politicamente ingénuo a um grau quase incrível. Partiu para lá, descobriu que gostava dos sul--africanos e deu-se bem com todos. O facto de o país desfrutar da discutível honra do desprezo internacional em virtude da sua política de apartheid não o preocupava. Ajudou-os a conceber o novo parque de artilharia em obediência às linhas da peça de CP-45 de cano e alcance longos. Mais tarde, os sul--africanos produziram a sua própria versão, e foram esses canhões que esmagaram a artilharia soviética e repeliram os russos e os cubanos. De regresso à América, Buli continuou a expedir os seus obuses. O Presidente Jimmy Cárter ascendera ao poder, e a rectidão política constituía a nova palavra de ordem. Assim, 24

Buli foi detido e acusado de exportações ilegais para um regime banido. A CIA largou-o como uma batata escaldante. Foi convencido a guardar silêncio e confessar-se culpado. Não passava de uma formalidade, garantiram-lhe, e condená-lo-iam simplesmente por uma infracção de natureza técnica. Â 16 de Junho de 1980, um juiz dos Estados Unidos sentenciou-o a um ano de prisão, com a pena suspensa durante seis meses, e uma multa de 105 000 dólares. Acabou por cumprir quatro meses e dezassete dias na cadeia de Allenwood, Pensilvânia. Mas, para Buli, não era isso que interessava. Afligiam-no a vergonha e desonra, além da sensação de traição. Como fora possível que lhe fizessem aquilo? Ajudara a América sempre que pudera, adquirira a sua cidadania e aceitara o conselho da CIA, em 1976. Durante o período de clausura, a sua companhia faliu e fechou as portas. Estava arrumado. Quando foi posto em liberdade, abandonou a América e o Canadá para sempre e emigrou para Bruxelas, onde regressou à estaca zero num apartamento de uma divisão assoalhada com kitchenette. Alguns amigos revelaram mais tarde que se modificou depois do julgamento e nunca voltou a ser o mesmo. Jamais perdoou à CIA e à América, apesar do que desenvolveu esforços durante anos para a revisão do processo e concessão do perdão. Voltou a dedicar-se à actividade de consultor e aceitou uma oferta apresentada antes do julgamento: para trabalhar na China na remodelação da sua artilharia. Ao longo do princípio e meados dos anos oitenta, consagrou-se principalmente à Beijing e reconcebeu o seu parque de artilharia assim como as linhas do canhão CP-45, agora vendido ao abrigo de uma licença mundial pela Voest-Alpine da Áustria, a qual lhe comprara a patente por dois milhões de dólares. Buli sempre se revelou um péssimo homem de negócios, de contrário ter-se-ia tomado multimilionário. Haviam-se registado várias ocorrências, na sua ausência. Os sul-africanos serviram-se dos projectos de Bui! e aperfeiçoaram-nos substancialmente, criando um obus denominado C-5, do seu CP-45, e um canhão de autopropulsão, o C-6, ambos com um alcance de quarenta quilómetros, que a África do Sul vendia a diversos países. Em resultado do seu modesto acordo com eles, Buli não recebeu um único cêntimo de direitos. Entre os clientes interessados nessas armas, figurava um certo Saddam Hussein, do Iraque. Foram esses canhões que arrasaram as vagas humanas de fanáticos iranianos, na guerra de oito anos Irão-lraque, para acabarem por derrotá-los na região pantanosa de Fao. No entanto, Saddam Hussein juntou- 25 -lhes um ingrediente de sua própria inspiração, em particular na batalha de Fao. Encheu os obuses de gás letal. Buli trabalhou então para a Espanha e a Jugoslávia e converteu a velha artilharia de 130 mm de fabricação soviética do exército jugoslavo, com os novos canhões de 155 mm de obuses de longo alcance. Embora ele não vivesse o suficiente para o ver, foram estas peças herdadas pelos sérvios aquando do colapso do país, que serviram para pulverizar as cidades dos croatas e muçulmanos na guerra civil. Em 1987, inteirou-se de que a América utilizaria finalmente o canhão de lançamento de cargas no Espaço, mas com a sua participação firmemente eliminada. Naquele Inverno, recebeu um telefonema estranho da Embaixada do Iraque em Bona. Estaria o Dr. Buli interessado em visitar Bagdade como convidado do Iraque? Ele não sabia, porém, que, em meados dos anos oitenta, aquele país assistira à "Operação Estanque", esforço concertado americano para "secar" todas as fontes de importação de armamento destinado ao Iraque. Isto seguiu-se à carnificina de marines dos Estados Unidos em Beirute, num ataque apoiado pelos iranianos ao seu aquartelamento por fanáticos Hezbollaá. A reacção do Iraque, embora beneficiasse na sua guerra com o Irão com a Operação Estanque, consistiu em "se eles podem fazer isto ao Irão, podem aplicar-nos a mesma receita". A partir de então, decidiu importar não armamento, mas, sempre que possível, a tecnologia para o fabricar. Ora, Buli era, acima de tudo, um designar, pelo que lhe interessava. A missão de o recrutar competiu a Amer Saadi, Número Dois no Ministério da Indústria e Industrialização Militar, mais conhecido por MIM1. Quando Buli chegou a Bagdade, em Janeiro de 1988, Saadi, diplomata/cientista cosmopolita de maneiras suaves, que dominava os idiomas inglês, francês e alemão, além do árabe, "preparou-o" admiravelmente. Explicou que o Iraque necessitava dele para concretizar o seu sonho de colocar satélites de paz no Espaço. Para tal, precisava de conceber um foguete capaz de colocar a carga lá em cima. Os seus cientistas egípcios e brasileiros tinham sugerido que o primeiro passo consistiria em reunir cinco mísseis Scud dos 900 que o Iraque comprara à União Soviética. No entanto, havia problemas técnicos-e não poucos. Careciam de acesso a um supercomputador. Poderia Buli ser-lhes útil nesse sentido? Este último adorava os problemas, que constituíam a sua raison dêtre. Não tinha acesso a qualquer supercomputador, mas considerava-se o mais próximo substituto de duas pernas. De resto, se o Iraque pretendia realmente ser a primeira nação 26

árabe a colocar satélites no Espaço, havia outra maneira... menos onerosa, mais simples e rápida do que foguetes a partir do zero. "Conte-me tudo", solicitou o iraquiano. E Buli contou. Revelou que, apenas por três milhões de dólares, produziria uma peça de artilharia gigantesca que executaria o trabalho. Tratar-se^ia de um programa de cinco anos. Deixaria para trás os esforços dos americanos em Livermore. Constituiria um triunfo árabe. O Dr. Saadi exultava de admiração. Exporia a ideia ao seu governo e recomendá-la-ia com veemência. Entretanto, importava-se o Dr. Buli de inspeccionar a artilharia iraquiana? No final da visita de uma semana, o cientista aceitara a tarefa de solucionar os problemas de reunir cinco mísseis Scud para formarem o primeiro andar de um foguetão de âmbito intercontinental ou espacial, conceber duas novas peças de artilharia para o exército e apresentar uma proposta formal para a sua peça de colocação de uma carga em órbita. Tal como acontecera no caso da África do Sul, Buli conseguiu isolar a mente da natureza do regime para o qual trabalharia. Pessoas amigas haviam-no informado do recorde de Saddam Hussein como sendo o homem de mãos mais ensanguentadas do Médio Oriente. Mas, em 1988, havia milhares de companhias respeitáveis e dezenas de governos ansiosos por negociar com o perdulário Iraque. Para Buli, o engodo era a sua peça -a sua estimada peça-, sonho da sua vida, finalmente com um patrocinante disposto a ajudá-lo a aperfeiçoá-la e ingressar no panteão dos cientistas. Em Março de 1988, Amer Saadi enviou um diplomata a Bruxelas para conversar com ele. Este confirmou que efectuara progressos quanto aos problemas técnicos do primeiro andar do foguete iraquiano e acrescentou que teria o maior prazer em os divulgar após a assinatura de um contrato com a sua companhia, mais uma vez a Space Research Corporation. O acordo foi consumado. O Iraque reconheceu que a oferta da peça por três milhões de dólares era ridícula, pelo que a elevou para dez milhões, mas exigiu maior rapidez. Quando se dispunha a trabalhar depressa, Buli trabalhava mesmo depressa. Num mês, reuniu uma equipa dos melhores colaboradores independentes que conseguiu encontrar. À testa do grupo da superpeça no iraque, encontrava-se um engenheiro de projectos britânico chamado Christopher Cowley. O próprio Buli baptizou como Projecto Pássaro o programa de foguetes baseado no Saad 16, no norte do país. A tarefa da superpeça propriamente dita foi denominada Projecto Babilónia. Em Maio, as especificações exactas do Babilónia tinham 27 sido determinadas. Seria uma máquina incrível. Um metro de diâmetro, um cano de 156 metros de comprimento e o peso de 1665 toneladas -mais do dobro da altura da Coluna de Nelson em Londres e igual à do Monumento a Washington. Quatro cilindros de recuo com o peso de 60 toneladas cada um e dois de amortecimento de sete toneladas. A culatra pesaria 182. O aço tinha de ser especial, para suportar 4900 quilogramas por centímetro quadrado de pressão interna e uma resistência tênsil de 1250 megapascais. Buli já deixara bem claro a Bagdade que teria de construir um protótipo mais pequeno, um Mini-Babilónia com o diâmetro de 350 mm e o peso de apenas 113 toneladas, em que poderia testar cones de "nariz", úteis para o projecto do foguete. Os iraquianos ficaram satisfeitos com a ideia, pois também necessitavam desse tipo de tecnologia. O pleno significado do apetite insaciável deles pela tecnologia de cones de nariz parece ter escapado a Buli na altura. Existe a possibilidade de que, no seu entusiasmo ilimitado para ver o sonho da sua vida concretizado, se limitasse a ignorá-lo. Os cones de nariz de concepção muito avançada são necessários para evitar que a carga arda em resultado do atrito ao reentrar na atmosfera terrestre. No entanto, as cargas em órbita no Espaço não regressam -permanecem lá em cima. Em fins de Maio de 1988, Christopher Cowley fazia as suas primeiras encomendas a Walter Somers, de Birmingham, de secções de tubo que constituiriam o cano do Mini-Babilónia. As destinadas ao Babilónia Um, Dois,, Três e Quatro surgiriam mais tarde. Ao mesmo tempo, outras estranhas encomendas de aço eram efectuadas um pouco por toda a Europa. Entretanto, Buli trabalhava a um ritmo impressionante. Em dois meses, avançara de um modo que uma empresa do governo levaria dois anos a igualar. Em fins de 1988, concebera duas novas peças para o Iraque -de autopropulsão e não rebocadas como as fornecidas à África do Sul. Seriam tão potentes que poderiam esmagar virtualmente as peças das nações à sua volta-Irão, Turquia, Jordânia e Arábia Saudita-?, que se abasteciam da NATO e América. Mas conseguiu igualmente superar os problemas relacionados com a reunião de cinco Scuds para formarem o primeiro andar do foguete Pássaro, que se chamaria Al-Abeid, o Crente. Descobrira que os iraquianos e brasileiros do Saad 16 trabalhavam baseados em dados deficientes proporcionados por um túnel de vento que não funcionava nas melhores condições. A partir de então, confiou os seus cálculos recentes aos brasileiros, para que se guiassem por eles. 28

Em Maio de 1989, a maior parte da indústria do armamento e da Imprensa, juntamente com observadores do governo, compareceram a uma importante exposição de armas em Bagdade. O interesse geral concentrou-se nos modelos de protótipos das duas enormes peças. Em Dezembro, o Al-Abeid foi testado na presença dos abismados media e sobressaltou seriamente os analistas europeus. Perante as câmaras da TV iraquiana, o impressionante foguete de três andares ergueu-se da Base de Pesquisas Espaciais Al-Anbar, ganhou altitude e desapareceu no Espaço. Mas os analistas traçaram conclusões. Se o Al-Abeid podia fazer aquilo, também podia ser um míssil balístico intercontinental. Os serviços secretos ocidentais viram-se apressadamente forçados a corrigir a suposição de que Saddam Hussein não oferecia o menor perigo, situado a anos de distância de poder representar uma ameaça importante. As três principais agências -CIA, nos Estados Unidos, SIS, na Grã-Bretanha, e Mossad, em Israel -reconheceram que, dos dois sistemas, a peça Babilónia não passava de um mero brinquedo e o Pássaro uma verdadeira ameaça. Laboravam em erro. Foi o Al-Abeid que não funcionou devidamente. Buli sabia porquê e revelou aos israelitas o que acontecera. O Al-Abeid subiu a 12000 metros e foi perdido de vista. O segundo andar recusou separar-se do primeiro. O terceiro não existia. Era um simulacro. Ele achavarse ao corrente, porque fora incumbido de tentar convencer a China a fornecer-lhe terceiro andar e partiria para Beijing em Fevereiro. ; Seguiu na verdade para lá, mas os chineses rejeitaram a proposta com prontidão. Durante a estada naquele país, encontrou-se e conversou demoradamente com o seu velho amigo George Wong. Alguma coisa correra mal no assunto do Iraque que o preocupava seriamente, e não eram os israelitas. Insistiu várias vezes que queria "libertar-se" do Iraque, e o mais depressa possível. Acontecera algo, dentro da sua própria cabeça, e ansiava por abandoná-lo. Era uma decisão absolutamente correcta, mas pecava por tardia. A 15 de Fevereiro de 1990, o Presidente Saddam Hussein convocou uma reunião plenária do seu grupo de conselheiros, no Palácio de Sarseng, no topo dos montes curdos. Ele gostava particularmente do local. Erguia-se numa área altaneira e, das janelas de vidros à prova de bala, podia contemplar o território em volta onde os camponeses curdos passavam os agrestes Invernos nas suas frágeis cabanas. Não distava muitos quilómetros da aterrorizada vila de Halabja, onde, ao longo de dois dias -17 e 18 de Março de 1988-, 29 determinara que a localidade de 70000 habitantes fosse punida por pretensa colaboração com os iranianos. Quando a artilharia completou a sua obra, havia 5000 cães curdos mortos e 7000 incapacitados para toda a vida. Saddam ficara particularmente impressionado com os efeitos do cianeto de hidrogénio ejectado dos obuses da artilharia. As empresas alemãs que o haviam ajudado com a sua tecnologia a adquirir e criar o gás, assim como os agentes Tabun e Sarin, receberam a sua gratidão. Mereceram-na com o seu gás, muito similar ao Ziklon-B, empregado com extrema eficácia com os judeus no passado e num provável futuro. Postou-se atrás da janela do seu quarto de vestir e contemplou a manhã. Havia dezasseis anos que se encontrava no poder-um poder indiscutido-?, durante os quais se vira obrigado a castigar muitas pessoas. Mas também conseguira muitas coisas. Erguera-se uma nova Senaquerib da velha Nínive e outra Nebucadnezzar da Babilónia. Alguns tinham-no aceitado pela pela maneira mais fácil, a submissão. Outros, ao invés, do modo mais difícil e estavam agora quase todos mortos. Não obstante, ainda restavam muitos que precisavam de aprender. Mas aprenderiam, sem a menor dúvida. Ouviu o ruído dos helicópteros provenientes do sul, enquanto o costureiro o ajudava a vestir-se. Quando se considerou satisfeito, Saddam pegou na arma portátil pessoal -uma Beretta de coronha de ouro de confecção iraquiana -introduziu-a no coldre e colocou este último à cintura. Tivera de a utilizar, uma ocasião, sobre um ministro do seu Gabinete, e a necessidade poderia repetir-se. Por conseguinte, levava-a a toda a parte. Um lacaio de libré bateu à porta e informou o Presidente de que os convocados o aguardavam na sala de reuniões. Quando ele entrou no vasto aposento de janelas panorâmicas sobranceiras à paisagem nevada, todos se levantaram, como que impelidos por uma mola comum. Somente ali, em Sarseng, o seu receio de ser assassinado diminuía. Sabia que o palácio estava rodeado por três filas dos membros mais eficientes do seu pelotão de segurança presidencial -o Amn-al-Khass -, comandado pelo seu próprio filho Kusay, pelo que ninguém se podia aproximar das amplas janelas. No telhado, havia mísseis antiaéreos Crotale franceses, além de que os seus "caças" cruzavam o céu sobre os montes. Por fim, sentou-se na cadeira com a configuração de um trono no centro da mesa do topo que formava a haste do T. Ladeavam-no-dois de cada lado -quatro dos seus assessores mais fidedignos. Para Saddam Hussein, havia apenas uma 30

qualidade que exigia aos homens que desfrutavam da sua simpatia: lealdade. Uma lealdade absoluta, total, servil. A experiência ensinara-lhe que havia gradações nela. Em primeiro lugar, figurava a família, depois o clã e por último a tribo. Existe uma máxima árabe do seguinte teor: "Eu e o meu irmão contra o nosso primo; eu e o meu primo contra o mundo." Ele aceitava-a sem reservas, absolutamente convicto de que funcionava. Saddam provinha de um bairro miserável de uma pequena povoação chamada Tikrit e da tribo do al-Tikriti. Um número extraordinário de membros da sua família e do al-Tikriti ocupavam altos cargos no Iraque e podia perdoar-se-lhes qualquer brutalidade, erro ou excesso pessoal, desde que lhe fossem leais. O seu segundo filho, por exemplo, o psicopata Uday, espancara um criado até à morte e fora perdoado. À sua direita, sentava Izzat Ibrahim, seu primeiro adjunto, e, a seguir, o genro, Hussein Kamil, chefe do Ml Ml, encarregado da aquisição de armamento. À esquerda, encontravam-se Taha Rarnadan, Primeiro-Ministro, e depois Sadoun Hammadi, adjunto deste último e muçulmano xiita devoto. Saddam Hussein era sumia, porém a sua única área de tolerância residia em assuntos de religião. O Ministro dos Assuntos Estrangeiros, Tariq Aziz, era cristão. Que havia de mal nisso, se cumpria todas as suas ordens? Os chefes militares sentavam-se perto do topo da haste do T: os generais que comandavam a guarda republicana, infantaria, blindados, artilharia e engenharia. Seguiam-se os quatro peritos em resultado de cujos relatórios e experiência fora convocada) a presente reunião. Dois permaneciam à direita da mesa: o Dr. Amer Saadi, tecnólogo e assessor do genro de Saddam, e, a seu lado, o brigadeiro Hassam Rahmani, chefe da ala de contra-espionagem do Mukhabarat. Na sua frente, achavam-se o Dr. Ismail Ubaidi, que controlava o braço estrangeiro do Mukhabarat, ou serviços secretos, e o brigadeiro Ornar Khatib, director da temível polícia secreta, a AmnalAm. Os três homens do serviço secreto tinham tarefas claramente definidas. O Dr. Ubaidi conduzia a espionagem no estrangeiro; Rahmani contra-atacava a espionagem montada pelo estrangeiro no Iraque; e Khatib mantinha a população iraquiana na ordem, esmagando toda a oposição interna possível através de uma combinação da sua vasta rede de vigilantes e informadores e do terror puro e simples originado pelos rumores do que ele fazia aos oponentes detidos e levados para a prisão de Abir Gbraib, a oeste de Bagdade, ou para o seu centro de interrogatório pessoal conhecido ironicamente por Ginásio, nos subterrâneos da sede da AMAM. 31 Não eram poucas as queixas apresentadas a Saddam Hus-sein sobre a brutalidade do chefe da sua polícia secreta, todavia acolhia-as invariavelmente com uma risada sardónica. Constava que fora ele próprio que atribuíra a alcunha a Kathib-AI Muazib, o carrasco. Este último era, evidentemente do ai-Tikriti e leal até ao fim. Alguns ditadores gostam de manter uma reunião pouco numerosa, quando se trata de discutir assuntos delicados. Saddam pensava precisamente o contrário -se havia trabalho sujo para executar, deviam envolver-se todos. Assim, ninguém poderia alegar que tinha as mãos limpas e ignorava o que se passava. Deste modo, todos os que o rodeavam assimilavam a mensagem: "Se eu cair, vocês cairão comigo." Depois de devidamente instalados, o Presidente inclinou a cabeça para o genro, Hussein Kamil, o qual indicou ao Dr.-Saadi que falasse. O tecnocrata leu o seu relatório sem erguer os olhos uma única vez. Ninguém, possuidor de um mínimo de prudência, se atrevia a fitar Saddam abertamente. Este último alegava que podia ler na alma de um homem através da vista, e muitos acreditavam. Se ele suspeitava de deslealdade, o transgressor sucumbia usualmente a uma morte horrível. Quando o Dr. Saadi completou a leitura, Saddam conservou-se pensativo por um momento. Esse homem... esse canadiano, que sabe? Não tudo, mas creio que não tardará a saber o suficiente para traçar conclusões, sayidi. . O interpelado empregava a fórmula árabe honorífica equivalente ao ocidental sir, mas mais respeitosa. Um título alternativo e aceitável era Sayid Rais ou senhor presidente. Dentro de quanto tempo? Em breve, se porventura não se inteirou já, sayidi.: ; E tem conversado com os israelitas? Constantemente, Sayid Rais. É amigo deles desde longa data. Visitou Telavive e deu lições de balística aos seus oficiais superiores de artilharia. Sim, conta com muitas amizades, possivelmente até entre os membros da Mossad, embora ele talvez não o saiba. Podemos terminar o projecto sem ele? -quis saber Saddam, porém o genro interveio. É um homem estranho. Insiste em levar sempre consigo os documentos científicos, num saco de lona. Transmiti instruções ao nosso pessoal da contra-espionagem para que os examinassem e copiassem. Já o fizeram? -inquiriu o Presidente, volvendo o olhar para Hassan Rahmadi, chefe da contra-espionagem. ., ; Imediatamente, Sayid Rais. O mês passado, durante a 32

sua visita ao nosso país. É um grande consumidor de uísque. Drogámos-lhe a bebida e ele dormiu longa e profundamente. Aproveitámos então para confiscar o saco e fotocopiar todas as páginas que continha. Também gravámos as suas conversas de natureza técnica. Os documentos e transcrições foram entregues ao nosso camarada, Dr. Saadi. O olhar presidencial transferiu-se de novo para o cientista. Volto a perguntar, o projecto pode ser completado sem ele? Pode, Sayid Rais. Estou convencido disso. Embora alguns dos cálculos só façam sentido para o seu autor, os nossos melhores matemáticos estudam-nos há mais de um mês. Disseram que conseguem entendê-los. Os engenheiros podem ocupar-se do resto. Hussein Kamil dirigiu uma mirada de advertência ao seu adjunto: "Oxalá não te enganes, meu amigo..." Onde está ele agora? -perguntou o Presidente. Partiu para a China, sayidi -informou o homem da contra-espionagem no estrangeiro, Ubaidi. -Tenta encontrar um terceiro andar para o foguete Al-Abeid. Lamentavelmente, não o conseguirá. É esperado de regresso" a Bruxelas em meados de Março. Temos agentes lá... dos bons? Sim, sayidi. Mantivemo-lo sob vigilância constante durante dez meses, em Bruxelas. Foi assim que soubemos que recebeu delegações de Israel, no seu gabinete. Também dispomos das chaves do prédio em que se situa o seu apartamento. - Então, arrumem o assunto. No seu regresso. -Sem a menor demora, Saydi Rais. Ubaidi pensava nos quatro homens que tinha em Bruxelas. Um deles, já se incumbira de uma tarefa idêntica, no passado. Abdelrahman Moyeddin. Confiar-lhe-ia a delicada missão. Os três homens dos serviços secretos e o Dr. Saadi foram dispensados. Depois de saírem, Saddam Hussein voltou-se para o genro. - E o outro assunto? Quando estará pronto? - No final do ano, segundo me asseguraram, Abu Kusay. Como pertencia à "família", Kamil podia empregar a designação mais íntima de "Pai de Kusay". Ao mesmo tempo, recordava aos outros presentes quem era e quem não era da família. O Presidente emitiu um grunhido. - Precisamos de um lugar novo, uma fortaleza, e não de um já existente, por muito secreto que seja. Um lugar novo e secreto que ninguém conheça. Ninguém, à excepção de um


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