ColecçÃo dois mundos frederick forsyth o punho de deus cmpv tradução livros do brasil lisboa rua dos Caetanos



Yüklə 1,16 Mb.
səhifə30/31
tarix25.07.2018
ölçüsü1,16 Mb.
#57959
1   ...   23   24   25   26   27   28   29   30   31

449 Martin viu todo o topo da Fortaleza irromper num autêntico braseiro. O clarão produzido permitiu-lhe descortinar um cano maciço que parecia contrair-se e voar quase em seguida em numerosos fragmentos, - Um incêndio e pêras -comentou o sargento Stephen- son.-Infernal, mesmo. ,. Martin começou a transmitir os códigos de alerta para os ouvintes em Riade. Don Walker teve de ganhar mais altitude do que usualmente, depois de lançar as bombas, em virtude do risco de colidir com um dos picos das montanhas em volta. Foi a aldeia mais afastada da Fortaleza que obteve o melhor tiro. Os mísseis que disparou não eram SAM russos, mas os mais eficientes de que o Iraque dispunha-Roland franco-alemães. O primeiro seguiu demasiado baixo e perdeu-se ao longe. O segundo, porém, foi mais afortunado. Walker sentiu o abalo profundo da colisão no instante em que o míssil atingiu e quase arrancou o motor de estibordo. O Eagle foi projectado através do céu, com os seus delicados sistemas destruídos e as chamas a formarem uma espécie de cauda de cometa. Walker tentou actuar nos comandos, mas não obteve a menor reacção. Restava-lhe ejectar-se. Nunca tivera de executar uma manobra de emergência de semelhante natureza. A sensação de choque aturdiu-o por uns instantes e privou-o do poder de decisão. Por sorte, os fabricantes tinham contado com isso. No momento em que o pesado banco de metal se separou do seu corpo, o pára-quedas abriu-se automaticamente e ele ficou imerso na escuridão, oscilando sobre um vale que não conseguia enxergar. A distância não era grande, e o contacto com o chão ocorreu poucos segundos mais tarde. Rolou várias vezes, ao mesmo tempo que tentava localizar e accionar o fecho das correias. Por fim, logrou libertar-se do pára-quedas, que o vento arrastou ao longo do vale. Assim que se levantou, olhou em redor e chamou: - Tim? Estás bem, Tim? Procurou desesperadamente o seu wizzo, até que acabou por encontrá-lo. Tim ejectara-se perfeitamente, mas parte da onda de choque do míssil danificara a unidade de separação do banco, pelo que caíra na encosta da montanha preso a ele. Nenhum ser humano sobreviveria a um impacto de semelhante natureza. O jovem jazia de costas no vale, numa amálgama de mem- 450 bros fracturados. Walker retirou-lhe a máscara, separou-o dos destroços do banco, voltou as costas ao clarão proveniente da montanha e pôs-se a correr, sem conseguir conter as lágrimas. Correu até que lhe faltaram as forças e acabou por se arrastar para uma fissura, a fim de descansar. Martin contactou com Riade dois minutos após as explosões que destruíram a Fortaleza. Enviou a série de blips e em seguida a mensagem; -Agora, Barrabás. Repito: Agora, Barrabás. Os três homens do SAS, desligaram o rádio, guardaram-no, colocaram as mochilas às costas e começaram a afastar-se da montanha, o mais rapidamente possível. A área seria patrulhada como nunca, não propriamente à sua procura-era pouco provável que os iraquianos descobrissem imediatamente a razão pela qual o bombardeamento fora tão certeiro-, mas para tentarem encontrar os tripulantes do avião abatido. O sargento Stephenson tomara nota do local onde o Eagle se despenhara e calculou que a tripulação se devia encontrar nessa área, entrando em consideração com uma eventual deriva provocada pelo vento. Vinte minutos mais tarde, os três homens do SAS descobriram o corpo sem vida do wizzo de Don Walker. Reconhecendo que nada podiam fazer por ele, reataram as pesquisas. Dez minutos depois, ouviram, atrás deles, o estampido contínuo de armas de fogo de pequeno calibre, que se prolongou por algum tempo. Os Al-Ubaidi também tinham encontrado o corpo e, enraivecidos, crivavam-no de balas. O gesto serviu igualmente para denunciar a sua posição, e o trio de fugitivos estugou o passo. Don Walker quase não sentiu o contacto da lâmina da faca de Stephenson na garganta. A pressão era leve como a de um fio de seda. Mas ergueu os olhos e viu um homem debruçado sobre ele -alto e magro, com uma pistola na mão esquerda apontada ao seu peito e o uniforme da Divisão de Montanha da Guarda Republicana. Por fim, articulou: -O momento não é o mais apropriado para tomarmos chá. Sugiro que nos raspemos daqui. Naquela noite, o general Norman Scwarzkopf encontrava-se só na sua suite no quarto andar do edifício do Ministério da Defesa Saudita. Não fora aí que passara a maior parte do tempo nos últimos sete meses, pois conservara-se quase sempre ausente a visitar todas as unidades de combate que podia ou em reunião na subcave, com os seus planeadores e adjuntos. 451- Agora, sentava-se à secretária, adornada com o telefone vermelho ligado directamente a uma rede de alta-segurança com Washington, e aguardava. À uma menos dez da madrugada de 24 de Fevereiro, o outro telefone tocou. General Schwarzkopf?-O sotaque era britânico.

-Sim, o próprio. Tenho uma mensagem para o senhor. Venha ela. Diz o seguinte: "Agora, Barrabás. Agora, Barrabás." - Obrigado-agradeceu o comandante-chefe da Coligação, e pousou o auscultador. A invasão por terra foi iniciada às quatro horas da madrugada desse dia.



452 CAPÍTULO 23 OS três homens do SAS continuaram a caminhar durante o resto da noite. Estabeleceram um andamento que deixou exausto e ofegante Don Walker, apesar de não ter de carregar qualquer peso e supor que se encontrava em excelente condição física. De vez em quando, ajoelhava-se, consciente de que não podia prosseguir e a própria morte seria preferível às dores excruciantes dos músculos. Quando tal acontecia, duas mãos de aço seguravam-no, uma debaixo de cada axila, e ouvia o sotaque inconfundível do sargento Stephenson junto do ouvido. -Só mais um pouco, amigo. Vê aquela elevação? Poderemos descansar no outro lado. Não foi, porém, o que aconteceu. Em vez de se encaminharem para sul, em direcção aos contrafortes da cordilheira Jebal Hamreen, onde correriam o risco de se lhes deparar Guardas Republicanos com veículos, Mike Martin preferiu rumar a leste, no sentido das colinas que se estendiam até à fronteira ira-niana. Era uma táctica que obrigava as patrulhas dos homens da montanha de Al-Ubaidi a ir no seu encalço. Pouco antes da alvorada, avistou um grupo de seis homens em baixo que pareciam ganhar terreno. No entanto, continuaram em frente, até que, perto da vila de Khanaquin, ele resolveu fazer uma pausa, para contactar com Riade pela rádio. Entretanto, Stephenson e Eastman mantinham-se vigilantes, voltados para oeste, de onde poderiam surgir as patrulhas perseguidoras. Martin limitou-se a comunicar que restavam três homens do SAS e os acompanhava um aviador americano. Absteve-se

" P) Dialecto dos bairros londrinos mais modestos. (N. do T-) 453 de indicar a sua posição, para o caso de a mensagem ser interceptada. Depois, reataram a marcha. No topo das montanhas, perto da fronteira, encontraram abrigo numa espécie de cabana de pedra, utilizada pelos pastores locais no Verão, quando os rebanhos procuravam pasto nas áreas mais elevadas. Aí, com guarda montada pelo sistema rotativo, aguardaram ao longo dos quatro dias da guerra terrestre, enquanto, a sul, os tanques e aviação dos Aliados esmagavam o exército iraquiano numa ofensiva de noventa horas e prosseguiam até ao Koweit. No mesmo dia, primeiro da guerra terrestre, um soldado solitário entrou no Iraque, proveniente de oeste. Era um israelita dos comandos de Sayeret Matkal, escolhido pelo seu excelente arábico. Um helicóptero israelita, equipado com tanques de longo alcance e a aparência do exército jordano, emergiu do Negev e atravessou o deserto da Jordânia, para depositar o homem no interior do Iraque, a sul do ponto de travessia de Ruweishid. Depois, alterou o rumo e regressou a Israel, despercebido. À semelhança de Mike Martin, o soldado dispunha de uma motorizada, com pneus apropriados para percorrer o deserto. Apesar de camuflada para parecer velha, enferrujada e cheia de mossas, tinha o motor em óptima condição e transportava combustível de reserva em dois recipientes aos lados da roda da retaguarda. O soldado seguiu pela estrada principal para leste e entrou em Bagdade ao pôr-do-Sol. As preocupações dos seus superiores em termos de segurança tinham sido exageradas. Entretanto, os habitantes da capital sabiam que o seu exército estava a ser destroçado no deserto, no sul do país e no Koweit. Ao fim da tarde do primeiro dia, a AMAM recolhera ao seu aquartelamento, de onde não voltou a sair. Agora que o bombardeamento terminara, porque todos os aviões dos Aliados eram necessários sobre o campo de batalha, os habitantes de Bagdade circulavam livremente e trocavam impressões sobre a chegada iminente dos americanos e ingleses para varrer Saddam Hussein do seu pedestal. Era uma euforia que duraria uma semana, até tornar-se evidente que os Aliados não apareceriam, e a AMAM voltou a estabelecer o seu círculo férreo em torno da população. A estação central de autocarros estava cheia de soldados, na sua maioria reduzidos à roupa interior, pois haviam-se desem- 454 baraçado dos uniformes no deserto. Tratava-se dos desertores que se tinham esquivado aos pelotões de execução à sua espera na retaguarda das linhas da frente. Vendiam as suas Kalashni-kov pelo preço de uma passagem de regresso às aldeias natais. No início da semana, essas armas podiam atingir trinta e cinco dinares, para o preço se reduzir a dezassete, quatro dias mais tarde. O israelita infiltrado achava-se incumbido de uma missão, que executou durante a noite. A Mossad conhecia a localização de apenas três das caixas de cartas mortas para contactar com Jericó, deixadas por Alfonso Benz Moncada em Agosto. Na realidade, Martin cancelara duas, por razões de segurança, mas a terceira ainda funcionava. O israelita depositou mensagens idênticas em três "cestos", inscreveu as três marcas a giz apropriadas, subiu para a motorizada e rolou de novo para oeste, incorporando^se na multidão de refugiados que seguia naquela direcção. Tardou mais um dia a alcançar a fronteira. Uma vez aí, cortou para sul da estrada principal, no sentido do deserto, entrou na Jordânia, recuperou o transmissor que enterrara na areia junto de um aglomerado de pedras e utilizou-o. O blip-blip foi captado imediatamente por um avião israelita que sobrevoava o Negev, e um helicóptero não tardou a surgir no local para levar o infiltrador. Este não dormiu durante aquelas cinquenta horas e comeu pouco, mas executou a missão e regressou à procedência são e salvo. No terceiro dia da guerra terrestre, Edit Hardenberg sentou-se à sua secretária no Winkler Bank perplexa e irritada. Na manhã anterior, quando se preparava para regressar a casa, recebera um telefonema. A voz do outro lado do fio, num alemão impecável com sotaque de Salisburgo, apresentou-se como sendo um vizinho da mãe dela e comunicou que Frau Hardenberg dera uma queda grave na escada e ficara muito maltratada. Edith apressou-se a tentar telefonar à mãe, mas deparou--se-lhe repetidamente o sinal de linha interrompida. Desesperada, ligou à central telefónica de Salisburgo e inteirou-se de que o número em causa estava avariado. Por fim, telefonou ao banco para comunicar que não compareceria e seguiu no carro para Salisburgo, onde chegou ao fim da manhã. A mãe, de excelente saúde, ficou surpreendida ao vê-la e assegurou-lhe que não sofrera qualquer queda ou 455 outro tipo de acidente. Quanto à avaria do telefone, explicou, indignada, que um vândalo desconhecido cortara o cabo à entrada do prédio. Quando Edite regressou a Viena, já era tarde para se apresentar no banco. No dia seguinte, foi encontrar Wolfgang Gemutlich ainda mais mal humorado do que ela e teve de suportar uma vigorosa descompostura pela ausência da véspera. O principal motivo do agressivo estado de espírito do banqueiro não tardou a tornar-se óbvio. A meio da manhã do dia anterior, procurara-o um jovem que declarara chamar-se Aziz e ser filho do titular de uma conta numerada substancial. Segundo ele, o pai achava-se adoentado e incumbira-o de o representar. E o árabe apresentara documentação perfeitamente em ordem que o autorizava a movimentar a referida conta. Herr Gemutlich examinara^a minuciosamente, em busca de alguma irregularidade, mas tivera de se render à evidência. O jovem declarara que o pai pretendia encerrar a conta e transferir o dinheiro para outro estabelecimento bancário. E isto apenas dois dias depois de haverem sido depositados nela três milhões de dólares, o que elevava o total para dez. Edith Hardenberg escutou a descrição do angustiado chefe sem o interromper e, no final, quis elucidar-se melhor acerca do referido Aziz. Sim, na verdade o seu nome de baptismo era Karim e tinha uma cicatriz no queixo. Se não estivesse tão desolado com a situação, Herr Gemutlich decerto teria estranhado que a sua secretária o interrogasse acerca de um homem que sem dúvida nunca vira. Quando saiu do trabalho, ela seguiu directamente para casa e procedeu a uma limpeza radical. Por fim, pegou em duas caixas de cartão e foi depositá-las no contentor do lixo à entrada do prédio. Uma continha uma larga variedade de produtos de beleza e a outra diversas peças de lingerie. Os vizinhos revelaram mais tarde que manteve o equipamento de alta-fidelidade a funcionar até meio da noite. Desta vez, optou de preferência por obras de Verdi, e não de Mozart ou Strauss, como era seu hábito, com particular insistência no "Coro dos Escravos", da ópera Nabucco. Por fim, já de madrugada, a música parou e ela partiu no carro, com dois objectos da cozinha. Foi um contabilista aposentado, que saíra para passear o cão no Prater Park, na manhã seguinte, que a encontrou. Envolvia-a o casaco de tweed cinzento, com o cabelo puxado para a nuca e sapatos de salto raso. Prendera a corda de nylon 456 no ramo resistente de uma árvore e saltara do pequeno escadote de cozinha, que se via ao lado, para se enforcar. Achava-se numa posição irrepreensível, as mãos aos lados do corpo e biqueiras dos sapatos apontadas para o chão. Uma senhora impecável na morte, como fora em vida. O dia 28 de Fevereiro foi o último da guerra terrestre. Nos desertos do Iraque a oeste do Koweit, o exército iraquiano fora cercado e aniquilado. A sul da cidade, as divisões da Guarda Republicana que tinham invadido o Koweit, a 2 de Agosto, haviam deixado de existir. Nesse dia, as forças que ocupavam a cidade, depois de incendiar tudo o que podia arder e tentar destruir o resto, partiram para o norte numa coluna irregular de camiões, carrinhas e outros veículos pesados. Foram interceptados no ponto em que a auto-estrada do norte atravessa a cumeada de Mutla. Os Eagle, Jaguar, Tomcat, Horrtet, Tornado, Thunderbolt, Phantom e Apaches sobrevoaram a coluna e reduziram-na a um monte de destroços. Os militares que não perderam a vida renderam-se com prontidão. Ao fim da tarde, as primeiras forças árabes entravam no Koweit para o libertar. Naquela noite, Mike Martin voltou a contactar com Riade e inteirou-se dos últimos desenvolvimentos, após o que indicou a sua posição e a de uma área razoavelmente plana nas proximidades. Os homens do SAS e Walker encontravam-se sem comida, derretiam neve para beber e passavam frio, por não se atreverem a fazer uma fogueira e denunciarem onde se encontravam. A guerra terminara, mas as patrulhas das montanhas podiam desconhecer o facto. Pouco depois da alvorada, dois helicópteros Blackhawk cedidos pela Divisão Aérea 101 americana foram recolhê-los. Era tão grande a distância desde a fronteira saudita, que vinham da base de emergência estabelecida pela 101, oitenta quilómetros no interior do Iraque, após o maior assalto de helicópteros da História. Mesmo desde essa base na margem do rio Eufrates, era uma distância enorme até às montanhas da fronteira perto de Khanaqin. Era essa a razão da presença de dois aparelhos -o segundo dispunha ainda de mais combustível para o percurso de regresso à base principal. Por uma questão de segurança, oito Eagle sobrevoavam o local, e Don Walker olhou para cima com curiosidade. -São os meus camaradas! -exclamou. 457 Despediram-se numa faixa de areia varrida pelo vento, rodeada pelos destroços de um exército derrotado, perto da fronteira saudita-iraquiana. Um Blackhawk levou Walker para Dharan, enquanto um Puma britânico aguardava à distância, a fim de transportar os homens do SAS para a sua base secreta. Naquela noite, numa casa de campo confortável, nas dunas ondulantes de Sussex, o Dr. Terry Martin foi informado de onde o irmão estivera desde Outubro e que se encontrava agora fora do Iraque e em segurança na Arábia Saudita. O académico quase adoeceu de alívio e o SIS deu-lhe boleia de regresso a Londres, onde reatou a sua vida como professor na Escola de Estudos Orientais e Africanos. Dois dias mais tarde, a 3 de Março, os comandantes das forças da Coligação reuniram-se numa tenda junto de um pequeno aeródromo iraquiano chamado Safwan, com dois generais de Bagdade para negociar a rendição. Os únicos porta-vozes dos Aliados eram os generais Nor-man Schwarzkopf e o príncipe Khalid bin Sultan. Ao lado dos americanos, sentava-se o comandante das forças britânicas, general Sir Peter de Ia Bilière. Os oficiais ocidentais ainda hoje estão convencidos de que só compareceram dois generais iraquianos em Sawan. Na realidade, eram três. A rede de segurança americana era extremamente apertada, para excluir a possibilidade de um assassino se introduzir na tenda em que os generais de campos opostos se reuniam. Toda uma divisão cercava o aeródromo. Ao contrário dos comandantes aliados, que tinham chegado do sul numa série de helicópteros, o grupo iraquiano recebera instruções para se dirigir de carro a uma encruzilhada a norte do aeródromo. Aí, abandonaram os veículos e transferiram-se para transportes blindados americanos denominados humvees, que os conduziram ao local de encontro. Dez minutos depois de os generais entrarem na tenda de negociação com os seus intérpretes, outra limusina Mercedes preta percorria a estrada de Basra em direcção à encruzilhada. A barreira naquele ponto era comandada por um capitão da Sétima Brigada de Blindados e o inesperado veículo foi imediatamente interceptado. No banco de trás, encontrava-se um terceiro general iraquiano, embora apenas brigadeiro-general, que segurava uma attaché-case preta. Tanto ele como o condutor não falavam inglês, e o capitão não dominava o arábico. Este último preparava-se 458 para contactar pela rádio com o aeródromo, a fim de pedir instruções, quando chegou um jipe conduzido por um coronel americano, com outro oficial da mesma patente no banco de trás. O primeiro usava o uniforme das Forças Especiais dos Boinas Verdes e o passageiro exibia a insígnia da G2, Informação Militar. Os dois homens mostraram os cartões de identidade, e o capitão, que os examinou, reconheceu a sua autenticidade e efectuou a saudação militar. Não há novidade, capitão -disse o coronel Boina Verde. -Estávamos à espera deste filho da mãe. Parece que se atrasou por causa de um furo. Aquela pasta -acudiu o oficial da G2, apontando para a attaché-case do brigadeiro iraquiano, que entretanto se apeara -contém os nomes de todos os nossos POW (61), inclu sive os aviadores desaparecidos. O general Schwarzkopf quer vê-la com urgência. Não restavam dúvidas. O coronel Boina Verde impeliu o oficial iraquiano sem delicadeza em direcção ao jipe. Por seu turno, o capitão estava perplexo. Não sabia absolutamente nada de um terceiro general iraquiano. E não ignorava que a sua Unidade ingressara recentemente na lista negra por se ter vangloriado de ocupar Safwan, quando não alcançara esse objectivo. O que menos lhe interessava de momento era voltar a provocar a ira do general Schwarzkopf retardando a recepção da lista dos aviadores desaparecidos. Por conseguinte, o jipe prosseguiu a marcha em direcção a Safwar". Na estrada a caminho do aeródromo, o veículo passou entre filas de blindados americanos que se estendiam por quase dois quilómetros. Depois, havia uma área vazia antes do cordão de helicópteros Apache que circundavam o local das negociações. Quando deixaram os blindados para trás, o coronel da G2 voltou-se para o iraquiano e indicou-lhe em arábico irrepreensível: - Debaixo do banco. Não saia, mas vista isso depressa. O interpelado vestia o uniforme verde-escuro do seu país e o que se encontrava sob o banco era de coronel das Forças Especiais da Arábia Saudita. Ele trocou rapidamente de roupa, sem a menor hesitação. Pouco antes de alcançar o círculo de helicópteros, o jipe abandonou a estrada e internou-se no deserto, contornando o

.;.. (61) Prisioner of War: Prisioneiro de Guerra. (N. do T.) 459 aeródromo e rumando a sul. No lado oposto de Safwan, regressou à faixa de rodagem. Os tanques dos Estados Unidos alinhavam-se de cada lado, voltados para fora. A sua missão consistia em impedir o acesso a eventuais infiltradores. Os respectivos comandantes, do alto das suas torres, assistiram à passagem de um jipe com dois dos seus coronéis e um oficial saudita, que abandonava o perímetro e a zona protegida, pelo que não lhe prestaram atenção especial. O veículo tardou quase uma hora a alcançar o aeroporto do Koweit, na altura pouco mais que um monte de escombros coberto por uma nuvem de fumo proveniente dos poços de petróleo incendiados ao longo de todo o emirado. O percurso demorou tanto porque, para evitar a carnificina da estrada de IVMla fiidge, descreveu um largo arco através do deserto a oeste da cidade. A oito quilómetros do aeroporto, o coronel da G2 retirou um comunicador manual do porta-luvas e transmitiu uma série de blips. Sobre o aeroporto, um avião isolado iniciou a manobra de aproximação. A torre improvisada era um reboque guarnecido por americanos e o aparelho que se acercava um Aerospace HS 125 britânico. Além disso, tratava-se do avião pessoal do comandante, general da Ia Bilière. Ou, pelo menos, devia ser, porque tinha todo o aspecto disso. Por outro lado, o sinal que emitia condizia com o habitual, pelo que o controlador de tráfego autorizou^o a aterrar. O HS 125 não rolou, depois de pousar, em direcção ao monte de escombros, mas a um local distante, onde aguardava um jipe americano. A porta do avião abriu-se, foi lançada a escada e três homens subiram para bordo. Granby Um, autorização para descolar -ouviu o controlador de tráfego, que se concentrava na chegada de um Hércules canadiano com medicamentos para o hospital. Aguarde, Granby Um. Qual é o seu plano de voo? - Queria na realidade dizer: "Para onde raio julga que vai?" --Desculpe, torre do Koweit. A voz era clara e firme, puro estilo da Royal Air Force. O controlador, que estava farto de ouvir pilotos da RAF, achava-os todos cabotinos. - Atenção, torre do Koweit. Acabamos de receber a bordo um coronel das Forças Especiais Sauditas gravemente doente. Um membro da comitiva do príncipe Khalid. O general Schwarz- 460



kopf pediu a sua evacuação imediata, pelo que Sir Petér ofereceu o seu avião. Autorização para descolar, amigo. No mesmo sopro, o piloto britânico acabava de mencionar um general, um príncipe e um cavaleiro do reino. O controlador era um primeiro-sargento competente, com uma excelente folha de serviço na Força Aérea dos Estados Unidos. A recusa de evacuação de um coronel saudita enfermo integrado na comitiva de um príncipe a pedido de um general a bordo do avião pertencente ao comandante britânico de modo algum lhe beneficiaria a carreira. Por conseguinte, não hesitou. - Autorizado a descolar, Grandy. O HS 125 abandonou o Koweit, mas em vez de rumar a Riade, que dispõe de um dos melhores hospitais do Médio Oriente, fixou a rota no sentido da fronteira norte do reino.: O permanente alerta AWACS viu-o e perguntou que destino levava. Desta vez, a voz clara e firme com sotaque britânico explicou que se dirigia para a base inglesa em Akrotiri, no Chipre, a fim de evacuar, de regresso à pátria, um amigo íntimo e também oficial do general de Ia Bilière, gravemente ferido por uma mina. O comandante do AWACS não tinha o menor conhecimento do assunto, mas não sabia exactamente como devia objectar. Mandava abater o aparelho? Quinze minutos mais tarde, o HS 125 abandonou o espaço aéreo saudita e cruzou a fronteira da Jordânia. O iraquiano sentado na retaguarda do "jacto" desconhecia tudo aquilo, mas estava impressionado com a eficiência dos ingleses e americanos. Tinham-lhe acudido dúvidas quando recebera a última mensagem dos seus "patrões" ocidentais, mas reconheceu que era prudente abandonar o país já, em vez de aguardar até mais tarde e fazê-lo por sua própria iniciativa e sem ajuda. O plano que lhe fora revelado naquela comunicação funcionara com a suavidade de um sonho. Um dos dois pilotos da RAF de uniforme tropical emergiu do cockpit e murmurou algo ao coronel americano da G2, o qual sorriu. - Bem-vindo à liberdade, brigadeiro -disse em arábico ao passageiro. -Acabamos de abandonar o espaço aéreo saudita. Não tardará a seguir num avião comercial para a América. Antes que me esqueça: tenho uma coisa para si. Extraiu um talão do bolso do peito e mostrou-o ao iraquiano, que o leu com satisfação crescente. Tratava-se de um simples total -a quantia depositada na sua conta pessoal em Viena, agora superior a dez milhões de dólares. O Boina Verde estendeu a mão para um pequeno compar- 461 timento e retirou vários copos e uma série de garrafas-miniaturas de scotch. Em seguida, verteu o conteúdo de cada uma em cada copo e distribuiu-os. -Bem, meu amigo: à aposentação e prosperidade. Bebeu, o outro americano imitou-o e, por fim, o iraquiano sorriu e fez o mesmo. -Devemos chegar dentro de uma hora -informou o coronel da G2, em arábico. -Entretanto, aproveite para descansar. E deixaram o passageiro só. Este pousou a cabeça na almofada do assento e deixou o espírito vaguear pelos eventos das últimas vinte semanas, em que amealhara a sua fortuna. Expusera-se a grandes riscos, mas a recompensa justificara-os. Evocou o dia em que se encontrava na sala de reuniões do palácio presidencial e ouvira o Rais anunciar que o Iraque possuía finalmente, no momento oportuno, a sua própria bomba atómica. A revelação provocara-lhe um abalo profundo, tal como acontecera com o corte repentino de todas as comunicações, depois de informar os americanos. MaiS tarde, tinham voltado a dar sinais de vida, mais insistentes que nunca, para exigir que se inteirasse da localização do engenho em causa. Ele não fazia a menor ideia, porém a oferta irresistível de cinco milhões de dólares justificara que pusesse tudo em jogo. E, no entanto, resultara muito mais fácil do que previra. O desesperado engenheiro nuclear, Dr. Salah Siddiqi, fora capturado nas ruas de Bagdade e acusado, entre o mar de dores excruciantes em que se achava imerso, de ter revelado o local onde o engenho se encontrava. Protestando a sua inocência, divulgara a área de Al-Qubai e a camuflagem do cemitério de veículos. Na verdade, o cientista não podia saber que era interrogado três dias antes do bombardeamento e não quarenta e oito horas depois. O abalo seguinte de Jericó ocorrera ao inteirar-se do derrube dos dois aviadores britânicos, ocorrência que não fora prevista. Precisava desesperadamente de averiguar se, nas informações fornecidas antes da missão, lhes fora fornecida alguma indicação de como a revelação chegara ao conhecimento dos Aliados. O alívio ao tornar-se óbvio que nada sabiam a esse respeito -o facto de o local constituir um depósito de munições para a artilharia -fora de breve duração, quando o Rais insistira em que tinha de haver um traidor. A partir de então, o Dr. Siddiqi, acorrentado numa cela sob o ginásio, tinha de ser eliminado, o que acontecera com uma injecção de ar no coração, que originara uma embolia coronária. 462 Os registos do seu interrogatório, de três dias antes do bombardeamento até dois depois, haviam sido devidamente alterados. Mas o maior de todos os abalos consistira em tomar conhecimento de que os Aliados não tinham alcançado o seu objectivo e a bomba fora removida do esconderijo para um local chamado Qaala, a Fortaleza. Qual fortaleza? Onde? Uma observação casual do engenheiro nuclear antes de morrer revelara que o ás da camuflagem era um certo coronel Osman Badri, da Engenharia, porém a consulta aos registos indicara que se tratava de um adepto apaixonado do Presidente. Como alterar a situação? A resposta residia na detenção e assassínio do seu estimado pai, com base em acusações forjadas. A partir de então, o amargurado Badri fora autêntica massa de vidraceiro nas mãos de Jericó, durante o encontro na sua limusina, logo após o funeral. O homem chamado Jericó, também apelidado de Atormentador, sentia-se em paz com o mundo. Acudiu-lhe uma leve e agradável sonolência, porventura resultante da tensão dos últimos dias. Tentou mover-se, mas descobriu que os membros não lhe obedeciam. Os dois coronéis americanos olhavam-no e exprimiam-se num idioma que ele não entendia, embora soubesse que não era inglês. Esforçou-se por dizer algo, mas os lábios não logravam formular qualquer palavra. O WS 125 rumava agora a sudoeste e sobrevoava a costa da Jordânia, a três mil e quinhentos metros de altitude. Sobre o Golfo de Agaba, o Boina Verde abriu a porta do lado do passageiro e permitiu a entrada de um jacto de ar, embora o piloto tivesse reduzido a velocidade ao mínimo possível. Os dois coronéis ergueram o corpo inerte, que tentava dizer algo, sem o conseguir. Sobre as águas azuis a sul do Golfo de Aqaba, o brigadeiro Ornar Khatib abandonou o avião e mergulhou na superfície, num impacto que quase o desmembrou. Depois, os tubarões fizeram o resto. O HS 125 rumou a norte, passou sobre Eilat, após reentrar no espaço aéreo israelita, e aterrou finalmente em Sde Dov, aeródromo militar a norte de Telavive. Aí, os dois pilotos despiram os uniformes britânicos e os coronéis os americanos, para retomarem as patentes habituais nas fileiras de Israel. Por seu turno, foram retiradas as insígnias da Royal Air Force do "jacto", em seguida pintado para retomar o aspecto originário e devolvido ao sayan de aluguer de aparelhos no Chipre. O dinheiro de Viena foi transferido primeiro para o Kanoo Bank em Bahrain e depois para outro estabelecimento bancário na América. Uma parte seguiu para o Hapoalim Bank em Telavive e foi restituído ao governo israelita -correspondia ao que Israel pagara até à passagem de Jericó para a CIA. O saldo, cerca de oito milhões de dólares, ingressou naquilo a que a Mossad chama "O Fundo de Divertimento" Cinco dias depois de a guerra terminar, dois outros helicópteros americanos de longo curso regressaram aos vales da cordilheira de Hamreert. Não pediram autorização a ninguém, nem procuraram aprovação. O corpo do tenente Jim Nathanson, oficial do Sistema de Armamento do Eagle Strike, nunca foi encontrado. Os soldados da Guarda Republicana tinham-no destruído com rajadas de metralhadora, e os chacais e abutres haviam-se ocupado do resto. As suas ossadas devem achar-se algures em aqueles vales; frios, a menos de duas centenas de quilómetros de onde os seus antepassados outrora labutaram e sofreram junto idas águas de Babilónia. O pai recebeu a comunicação em Washington e chorou-o sem companhia na mansão de Georgetown. O corpo do cabo Kevin North, ao invés, foi recuperado. Enquanto os Blackhawk aguardavam, mãos britânicas separaram-no dos destroços do banco em que se ejectara e depositaram-no num saco impermeável apropriado. Em seguida, levaram-no para Riade e daí para Inglaterra a bordo de um Hércules. Em meados de Abril, foi celebrada uma pequena cerimónia no quartel-general do SAS, nos arrabaldes de Hereford. Não existe qualquer cemitério para os homens do SAS. Muitos deles jazem em campos de batalha estrangeiros, cujos nomes são desconhecidos da maioria das pessoas. Alguns encontram-se sob as areias do deserto da Líbia, onde tombaram em combate contra as forças de Rommel, em 1941 e 1942. Outros estão entre as ilhas gregas, nos montes Abruzos, Jura e Vosges. Acham-se dispersos na Malásia, Bornéu, leme, Mascate e Omão, em selvas, regiões glaciais e sob as águas frias do Atlântico, ao largo das ilhas Falkland. Sempre que os corpos foram recuperados, regressaram à Grã-Bretanha, mas para serem entregues às famílias, para enterramento. Mesmo nesses casos, nenhuma pedra tumular V2) The Fun Fund. (N. do T.) 464 menciona o SAS, porque o Regimento acreditado é a unidade original de onde o soldado veio -Fuzileiros, Paras, Guardas ou qualquer outra. Existe apenas um monumento. No coração das Linhas, em Hereford, há uma torre baixa e maciça, pintada de castanho--chocolate. No topo, um relógio dá as horas, pelo que a construção tem simplesmente o nome de Torre do Relógio. Em torno da base, vêem-se placas de bronze em que estão inscritos todos os nomes e lugares onde morreram. Naquele Abril, havia cinco novos nomes a descerrar. Um deles fora fuzilado pelos iraquianos no cativeiro, dois abatidos quando tentavam alcançar a fronteira saudita e um quarto sucumbira a hipotermia, depois de permanecer vários dias com a roupa encharcada em condições de temperaturas glaciais. O quinto era do cabo North. Achavam-se presentes vários antigos comandantes do Regimento, nesse dia de chuva: John Simpson, o conde Johnny Slim, Sir Peter, o director das Forças Especiais, J. P. Lovat e o coronel Bruce Craig. Além do major Mike Martin e alguns outros. Como se encontravam no seu país, os que ainda prestavam serviço podiam usar a boina cor de areia raramente vista, com o seu emblema do punhal alado e a divisa "Quem Ousa Vence". A cerimónia não foi longa. Os oficiais e soldados assistiram ao descerramento dos novos nomes. Perfilaram-se e afastaram-se para regressar aos vários edifícios da messe. Pouco depois, Mike Martin subiu para o carro que deixara estacionado no parque, transpôs os portões guardados e rumou ao chalé que ainda possuía numa aldeia nas colinas de Here-fordshire. Pelo caminho, evocou tudo o que acontecera nas ruas e areias do Koweit, no céu em cima, nas vielas e bazares de Bagdade e nos montes da cordilheira de Hamreen. Como era um homem reservado, congratulava-se ao menos com uma coisa: ninguém se inteiraria jamais.

Yüklə 1,16 Mb.

Dostları ilə paylaş:
1   ...   23   24   25   26   27   28   29   30   31




Verilənlər bazası müəlliflik hüququ ilə müdafiə olunur ©muhaz.org 2024
rəhbərliyinə müraciət

gir | qeydiyyatdan keç
    Ana səhifə


yükləyin