Coleção História em Debate 2 História Ensino Médio



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Glossário
Primazia: prioridade, primeiro lugar.
Página 90

Organizando ideias

A descrição a seguir é de um cirurgião naval inglês, Thomas Nelson, que presenciou o desembarque de um navio negreiro no Rio de Janeiro em fevereiro de 1841.

Amontoados no convés, e obstruindo as passagens em ambos os lados, agachados, ou melhor, curvados, trezentos e sessenta e dois negros, com doença, deficiência e miséria estampadas com intensidade de tal forma dolorosa que excedia qualquer poder de descrição. A um canto, um grupo de miseráveis estirados, muitos nos últimos estágios da exaustão e todos cobertos com as pústulas da varíola.

Observei que muitos deles tinham rastejado até o lugar em que a água havia sido servida, na esperança de conseguir um gole do líquido precioso; mas incapazes de retomar a seus lugares, jaziam prostrados ao redor da tina. Aqui e ali, em meio ao aglomerado, havia casos isolados da mesma doença repugnante em sua forma confluente ou pior, e casos de extrema emaciação e exaustão, alguns em estado de completo estupor, outros olhando penosamente ao redor, apontando com os dedos para suas bocas crestadas. Em todos os lados, rostos esquálidos e encovados tornados ainda mais hediondos pelas pálpebras intumescidas e pela ejeção puriforme de uma violenta oftalmia, da qual parecia sofrer a maioria, além disso, havia figuras reduzidas a pele e osso, curvadas numa postura que originalmente foram forçados a adotar pela falta de espaço, e que a debilidade e rigidez das juntas forçaram-nos a manter.

NELSON, Thomas apud CONRAD, Robert Edgar. Tumbeiros: o tráfico de escravos para o Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1985. p. 56.

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Coleção particular

Seção de um navio negreiro. Ao regressar à Europa em 1829, a embarcação em que viajava o Rev. Robert Walsh, irlandês, abordou em alto-mar um navio negreiro. Este transportava em condições desumanas 562 cativos negros trazidos da África.

1. De acordo com a imagem e as descrições do texto, quais eram as condições de saúde dos cativos encontrados no navio e que fatores provocavam essa situação?

2. Em dupla, reflita e anote suas hipóteses para responder à seguinte questão: Como os escravos eram mercadorias que só tinham valor comercial vivos, por que eram mantidos em condições que propiciavam a morte durante o trajeto?

Glossário
Crestado: queimado.
Ejeção puriforme: secreção de pus.
Emaciação: magreza extrema.
Encovado: diz-se de rosto magro, com depressões.
Esquálido: referente à magreza extrema e desnutrição.
Estupor: paralisia da capacidade de exibir reações motoras e perceber o ambiente.
Intumescido: inchado.
Oftalmia: inflamação dos olhos.
Pústula: ferida, pequena erupção na pele.
Tina: vasilha grande feita de tábuas, como um barril.

Professor, as orientações e respostas referentes a esta seção estão no Manual do Professor.


Página 91

Resistência dos escravos

Os escravos procuravam diversas maneiras de reagir ao cativeiro. Alguns usavam formas de sabotagem no trabalho ou nos equipamentos, desde diminuição do ritmo de trabalho à paralisação da produção, e também destruição de ferramentas e incêndio das plantações.

Várias foram as formas de resistência do escravo negro ao regime escravista. Mesmo com todas as limitações que a estrutura do sistema impunha ao cativo, ele, ao contrário do que afirmam aqueles que seguem a chamada historiografia acadêmica, resistiu de várias formas e níveis de importância durante todo o tempo em que a escravidão perdurou. Resistiu usando desde formas ativas, como as insurreições citadinas que não se esgotaram com a de Salvador, ocorridas durante o século XIX, até os quilombos, disseminados em todo o território nacional – do Rio Grande do Sul ao Pará – e as guerrilhas que permeavam as duas formas fundamentais de resistência.

Na verdade, estamos esquematizando um pouco, para melhor apreender o conjunto do processo. Várias outras formas de resistência poder-se-iam incorporar às acima enunciadas: há o assassínio individual do senhor pelo escravo, a fuga isolada, o suicídio, e mesmo formas extremas, como o aborto praticado pela escrava e o banzo, quando o escravo se deixava morrer de melancolia. Houve mesmo formas de violência extrema como o assassínio em massa do escravo pelos próprios companheiros, como aconteceu no interior de São Paulo. Evidentemente, em movimentos não escravos ele também participou, embora sem nunca ter conseguido, com essa participação, a conquista de níveis de poder político após a sua vitória. Um exemplo disto foi a Independência.

MOURA, Clóvis. Os quilombos e a rebelião negra. São Paulo: Brasiliense, 1986. p. 94-95.

Entre as formas de resistência estavam as fugas, das quais surgiram esconderijos na mata denominados quilombos.

Os quilombos chegavam a reunir milhares de pessoas que buscavam uma forma de organização baseada em seus costumes. O mais famoso e duradouro deles foi o Quilombo de Palmares, na Serra da Barriga – área que hoje pertence ao estado de Alagoas e na época fazia parte da capitania de Pernambuco.

Esses locais eram, quando descobertos, alvo de expedições militares que visavam destruí-los e reescravizar sua população.

Além das fugas, revoltas e outras ações, os escravos buscavam pequenos espaços de negociação. Nesses casos, muitas vezes conseguiam, por meio de pressões e negociações com os senhores, mais autonomia, menos repressão e esporadicamente até a liberdade.

A repressão aos escravos era explícita não só no âmbito do trabalho mas no que dizia respeito a cultura, religião e outros inúmeros costumes, trazidos das diversas regiões do continente africano das quais se originavam.



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Coleção Sergio Fadel, Rio de Janeiro

François Auguste Biard. Fuga de escravos, 1859. Óleo sobre madeira, 33 cm × 52 cm.
Página 92

A primeira reação dos senhores no Brasil foi a repressão desses costumes, já que acreditavam que permitir as práticas religiosas e culturais promoveria maior união dos escravos, o que poderia facilitar a resistência ao trabalho.

Entretanto, assim como resistiram à condição de trabalho imposta, os escravos também se opuseram à proibição de suas práticas culturais, tanto que, ainda hoje, podemos perceber muitos traços de diferentes culturas africanas que se fundiram à que já havia no Brasil, dando origem a novos costumes. São inúmeros os exemplos de resistência cultural, como a música, a dança, a capoeira e as religiões afro-brasileiras.

O que é possível detectar quando falamos de religiões afro-brasileiras é o sincretismo que uniu cultos a divindades das diversas regiões africanas às tradições cristãs, para dar origem a religiões como o candomblé e a umbanda.

O surgimento dessas religiões pode ser caracterizado como parte de uma estratégia de sobrevivência cultural que promoveu a integração étnica entre os escravos africanos no ambiente brasileiro, criando, em última análise, espaço para uma forma inicial de organização e inserção deles na sociedade que se constituía.

Os terreiros – locais de culto às divindades e prática dos rituais religiosos afro-brasileiros – passaram, nesse contexto, a constituir um local de assistência e apoio comunitário aos escravos. Dessa forma, promoveram a resistência e a preservação de tradições culturais que perduraram ao longo dos séculos e, presentes ainda hoje em todas as regiões do país, funcionam como meio de resgate às origens africanas da cultura brasileira.



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Sergio Pedreira/Pulsar Imagens

Babalorixá dando bênção no Terreiro Ile Axe Ala Obatalandê, Lauro de Freitas (BA), 2015.

Pausa para investigação

Em 1956 a ONU (Organização das Nações Unidas) promulgou a Convenção Suplementar sobre Abolição da Escravatura, do Tráfico de Escravos e das Instituições e Práticas Análogas à Escravatura. Esse documento proíbe definitivamente a escravidão em sua forma direta e também em condições análogas, que podem ser definidas como “o exercício do trabalho humano em que há restrição, em qualquer forma, à liberdade do trabalhador, e/ou quando não são respeitados os direitos mínimos para o resguardo da dignidade do trabalhador”.

GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Trabalho análogo à condição de escravo e degradante: antítese do trabalho decente. Revista do Direito Trabalhista, Brasília, Consulex, ano 14, n. 3, mar. 2008.

Faça uma pesquisa e elabore um texto sobre a existência de escravidão ou condições análogas à escravidão no Brasil contemporâneo analisando os casos à luz dos direitos humanos. Procure informações também sobre as punições previstas em lei e busque saber se são aplicadas. Esse assunto pode ser pesquisado na internet e em periódicos.

Professor, as orientações e a resposta referentes a esta seção estão no Manual do Professor.
Página 93

A colonização da América Inglesa

Em 1607 foi fundada a primeira colônia inglesa na América do Norte: Virgínia. Pouco tempo depois, a partir de 1620, várias famílias, sobretudo de protestantes ingleses, aportavam nas terras da América Inglesa, hoje Estados Unidos da América.

Até o século XVII foram fundadas 13 colônias na América do Norte, todas subordinadas à metrópole inglesa.

De acordo com o tipo de colonização implantado, essas colônias podem ser classificadas em duas categorias, descritas a seguir.

• Colônias do norte: eram povoadas principalmente por religiosos puritanos, e nelas multiplicaram-se as pequenas propriedades rurais baseadas na agricultura familiar e produção diversificada. Subsistiam também da pecuária, da pesca e das serrarias, onde a madeira era beneficiada para a construção de casas e navios. A produção era destinada ao mercado local, e o • excedente ia para o mercado regional.

• Colônias do sul: tinham sua economia baseada na monocultura de exportação, encaixando-se nas práticas mercantilistas do período.

A crise socioeconômica e as perseguições políticas e religiosas levaram ingleses, escoceses, irlandeses, alemães, suecos e outros povos europeus a emigrarem para essa região, já que a Europa – em especial a Inglaterra – sofria um período de graves conflitos entre protestantes e católicos, além de passar por um processo de cercamento – privatização de terras que antes eram comunais.

Esses fatores, somados à união entre Estado e burguesia na busca por novos mercados consumidores, incentivaram a atividade colonizadora e, posteriormente, o desenvolvimento das colônias.

Como poucos podiam arcar com os custos da viagem, visto que esses primeiros imigrantes eram, na maioria, pequenos burgueses, artesãos, comerciantes, camponeses e pequenos proprietários rurais, a solução foi o financiamento da viagem por pessoas de recursos. Com isso, muitos imigrantes comprometiam-se a pagar as despesas depois de instalados nas novas terras, gerando o que pode ser chamada de servidão temporária.

Durante o século XVII, a principal força de trabalho nas colônias inglesas eram esses servos temporários, sobretudo nas colônias do norte.

Já nas colônias do sul, essa força de trabalho servil não foi suficiente para a demanda exportadora, motivo pelo qual foi preciso recorrer ao lucrativo comércio de escravos africanos.

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Fototeca/Leemage/Glow Images

Os peregrinos: embarque de 102 famílias em 1620 a bordo do navio Mayflower. Gravura do século XVII de autoria desconhecida. Essa imagem faz alusão às primeiras famílias de ingleses que desembarcaram na América do Norte.

Glossário
Beneficiamento: conjunto de procedimentos efetuados em matérias-primas antes da industrialização.
Página 94

A mão de obra africana

Assim como no Brasil e em parte da América Espanhola, os escravos africanos também foram mão de obra nas colônias inglesas. Há estimativas de que, entre os anos de 1619 e 1860, cerca de 400 mil africanos tenham ido para a América do Norte como escravos.

Nas colônias inglesas, trabalhavam nas grandes plantações de tabaco, linho e algodão, produtos que causavam rápido esgotamento do solo, aumentando cada vez mais a área das propriedades.

Estima-se que no século XVII, na Virginia e Carolina do Sul, a maioria da população constituía-se de africanos escravizados. Com isso, foram criadas leis específicas para regulamentar a vida deles. Havia leis, por exemplo, proibindo-os de se reunir nas cidades aos domingos, para evitar aglomerações e insurreições contra seus senhores. Também era proibido o porte de armas, e os crimes cometidos por eles eram julgados com mais rigor, principalmente nos casos de rebeliões coletivas.

A resistência escrava se fazia por meio de fugas, destruição de plantações, quebra de ferramentas, diminuição no ritmo de trabalho, insurreições e fingimento de doenças.

Organizando ideias

1. Observe o mapa e responda às questões propostas.

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© DAE/Studio Caparroz

Fonte: . Acesso em: mar. 2016.

a) De que forma a população afro-americana se distribui pelo território dos Estados Unidos nos dias atuais?

b) Como se explica, historicamente, essa distribuição?

2. Em 2015, houve nos Estados Unidos inúmeros protestos contra casos de violência policial que envolviam jovens afro-americanos, desencadeando discussões sobre o racismo no país. Forme uma dupla com um colega e, juntos, pesquisem a permanência desse tipo de violência e as manifestações da população que visam mudar essa situação. Apresentem o resultado na sala de aula e debatam o tema com a turma.

Professor, as orientações e respostas referentes a esta seção estão no Manual do Professor.


Página 95

Viajando pela história A crise do sistema colonial

O antigo sistema colonial foi constituído no final do século XV e ao longo dos séculos XVI e XVII. Inicialmente, Espanha e Portugal, seguidos por França, Inglaterra e Holanda, colonizaram o continente americano.

No processo de colonização da América, a doutrina econômica dominante foi o mercantilismo, que pode ser entendido como uma política econômica própria dos Estados europeus modernos, nos quais predominava o regime absolutista. No sistema mercantilista, podemos destacar as seguintes

• características principais: forte presença estatal, por meio de leis e regulamentos intervencionistas;

• defesa do mercado nacional em formação;

• tentativa de assegurar à nascente burguesia as condições de monopólio econômico e oferta da mão de obra indispensável, favorecendo o processo de acumulação do capital;

• balança comercial favorável;

• concessão de privilégios às empresas consideradas merecedoras.

As práticas mercantilistas variaram de acordo com a época, bem como de um país para outro. O mercantilismo ibérico foi essencialmente metalista (privilegiava o acúmulo de metais preciosos) e mantinha monopólio sobre o comércio com suas colônias (o chamado pacto colonial); já os ingleses priorizaram uma balança comercial favorável.

De forma geral, as colônias americanas deveriam fornecer matérias-primas e metais preciosos, comprar produtos da metrópole e empregar os excedentes populacionais metropolitanos.

A partir da metade do século XVIII e à medida que as forças produtivas avançavam, o Antigo Regime entrou em profunda crise.

Cada vez mais fortalecida, a burguesia passou a questionar os privilégios do clero e da nobreza. No campo, começaram a ser contestadas as relações sociais baseadas no regime de servidão e erradicados os resquícios feudais que impediam a implantação completa do capitalismo.

A filosofia iluminista também teve papel relevante na derrocada do Antigo Regime e, por extensão, do antigo sistema colonial.

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Dudley Wood/Alamy; Stock Photo/Latinstock

Palácio dos Marqueses da Fronteira, Lisboa, Portugal, 2013.

O Antigo Regime da Europa centro-oci dental do século XV ao XVIII caracterizou-se pelo Estado absolutista, pelas práticas mercantilistas, pela sociedade de ordens (distinções sociais e privilégios com base no nascimento) e por uma visão de mundo essencialmente aristocrática.

O termo iluminista indica um movimento de ideias que teve suas origens no século XVII, mas que atingiu o apogeu no século XVIII, chamado de Século das Luzes.

Os pensadores adeptos dessa filosofia acreditavam na razão e no progresso, combatiam o misticismo, o absolutismo, a Igreja Católica, a tortura, a intervenção do Estado na economia, enfim, todas as forças que se opunham ao “progresso” e ao “desenvolvimento”.


Página 96

Em síntese, os séculos XVIII e XIX foram palco de inúmeras mudanças, sobretudo para o mundo europeu, como a queda das monarquias absolutistas e suas práticas mercantilistas, a difusão dos ideais iluministas, os movimentos que transformaram as estruturas políticas, econômicas e sociais, como a Revolução Industrial e a Revolução Francesa. Essas mudanças espalharam-se pela Europa e para além de suas fronteiras geográficas, atingindo as colônias europeias na América.

Os ideais de liberdade e igualdade defendidos pela Revolução Francesa difundiram-se pelas colônias motivando lutas por sua realização. Essas lutas levaram à independência das colônias e à formação de novos países.

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Bianchetti/Leemage/Other Images

Revolução de 1848: reunião em clube republicano. Gravura anônima do século XIX.

Organizando ideias

Leia, a seguir, o fragmento de um documento assinado por Larcher, capitão francês de um navio em expedição ao Brasil no século XVIII, e responda às questões.

O Povo, que eu tive a honra de Vos descrever na minha memória de 27 Prairéal 5º, é aquele de São Salvador na Baía de Todos os Santos, capital da mais considerável Capitania do Brasil cuja População é avaliada em sessenta mil almas.

Os habitantes investidos dos direitos do homem clamam sua independência; eles a pedem à República francesa, e não a Desejam senão de Vós.

Quinze Milhões no mínimo em matérias de ouro e prata, diamantes, preciosas madeiras de construção, açúcares, café, e algodões serão o testemunho desta Vontade, e Vós podeis julgar por aí a importância que eles dão a isso: eles estão tão cansados do Governo real e teocrático, tiveram tantos desgostos que todos os seus possíveis sacrifícios lhes parecerão pequenos, se eles puderem alcançar seu objetivo.

[...]


Assim que o comandante da divisão tiver lançado o sinal combinado, a colônia se levantará em massa, as tropas se reunirão aos habitantes que tomarão a casa da moeda, cofres, depósitos, e o arsenal: destituem-se todas as autoridades do Governo, e criam-se outras Populares [...].

Esta revolução terá um efeito elétrico sobre as outras capitanias do Brasil, a experiência nos prova: todas elas se reunirão para formar um povo livre. [...]

Um tratado de aliança com a República francesa terá lugar imediatamente: um outro de Comércio deve necessariamente o seguir: a República francesa poderá exigir a exclusividade durante um certo número de anos em que sua proteção será indispensável a este novo Povo [...].

Projeto de expedição contra São Salvador (Brasil) pelo cap. de navio Larcher – 24 de abril de 1797 apud JANCSÓ, István; MOREL, Marco. Novas perspectivas sobre a presença francesa na Bahia em torno de 1798. Topoi, v. 8, n. 14, p. 220, jan./jun. 2007.



1. O que estava acontecendo na cidade de Salvador?

2. Qual era a expectativa de Larcher sobre o desenlace dos eventos?

3. Faça uma pesquisa sobre a época em que o documento foi redigido e responda:

a) Pode-se afirmar que esses eventos em Salvador eram atos isolados?

b) Quais eram os estímulos que alimentavam o movimento baiano?

Professor, as orientações e respostas referentes a esta seção estão no Manual do Professor.


Página 97

Revolução Americana: a primeira reação americana contra a metrópole

A administração das colônias inglesas gozava de relativa autonomia política, principalmente nas colônias do norte.

A partir da segunda metade do século XVIII, porém, o Parlamento britânico foi tomando uma série de medidas coercitivas que intensificaram o controle sobre o comércio e, com isso, prejudicaram os colonos americanos. Essas medidas visavam aumentar a arrecadação fiscal da metrópole.

Foram diversas leis que incluíam proibições, taxações e perda do monopólio das colônias. Entre elas estão a Lei do Açúcar (1764), a Lei do Selo (1765) e a Lei do Chá (1773). O golpe final da metrópole veio com as Leis Intoleráveis (1774), um conjunto de medidas altamente repressivas que visavam conter as reações dos colonos às outras leis.

Essas medidas provocaram reação imediata das elites coloniais, que, temendo a perda de sua relativa autonomia, contestavam a cobrança abusiva de impostos.

As colônias se reuniram, em 1774, no Congresso Continental da Filadélfia para pedir o fim das medidas restritivas a seu desenvolvimento. A metrópole reagiu aumentando ainda mais a repressão.

O que se seguiu foi uma série de conflitos armados que contribuíram para a adesão de alguns setores conservadores das colônias do sul às reivindicações e para o retorno da autonomia. Começava, então, a guerra pela independência das 13 colônias.

Em 1775 houve o Segundo Congresso da Filadélfia, no qual se iniciou a redação da Declaração Unânime dos Treze Estados Unidos da América, finalizada em 4 de julho de 1776. Esse documento se tornou a Declaração de Independência das colônias que mais tarde formariam os Estados Unidos da América.

A Revolução Americana de 1776 foi a primeira rebelião bem-sucedida do mundo colonial. O processo emancipador foi pautado em diversos ideais iluministas, como liberdade, justiça e combate à opressão.

Professor, se necessário, retorne ao Capítulo 1 e relembre a Guerra de Independência e o processo de produção da Declaração de Independência dos Estados Unidos.



Organizando ideias

Leia o texto a seguir e faça o que se pede.

Em 4 de julho de 1776, as treze colônias que vieram inicialmente a constituir os Estados Unidos da América (EUA) declaravam sua independência e justificavam a ruptura do Pacto Colonial. Em palavras candentes e profundamente subversivas para a época, afirmavam a igualdade dos homens e apregoavam como seus direitos inalienáveis: o direito à vida, à liberdade e à busca da felicidade. Afirmavam que o poder dos governantes, aos quais cabia a defesa daqueles direitos, derivava dos governados. Portanto, cabia a eles derrubar o governante quando ele deixasse de cumprir sua função de defensor dos direitos e resvalasse pelo despotismo.

Esses conceitos revolucionários que ecoavam o Iluminismo foram retomados com maior vigor e amplitude treze anos mais tarde, em 1789, na França.

COSTA, Emília Viotti da. Apresentação da coleção. In: WINN, Peter. A Revolução Chilena. São Paulo: Unesp, 2003. p. 6.

1. Por que a autora afirma que as ideias iluministas eram subversivas para a época?

2. Explique por que a Declaração de Independência dos Estados Unidos é considerada um marco de luta pelos direitos humanos.

Professor, as orientações e respostas referentes a esta seção estão no Manual do Professor.



Glossário
Apregoar: como foi utilizado no texto, o termo tem o sentido de divulgar, denunciar.
Candente: muito intenso; entusiasmado, ardoroso.
Página 98

Independências na América Espanhola

No final do século XVIII, a Espanha apresentava economia agrária, sociedade rigidamente hierarquizada e uma administração que, de certa forma, dificultava a implantação de mudanças.

O reinado de Carlos IV (1788-1808) pautava-se pelo absolutismo e por uma frágil política econômica. As colônias na América deveriam essencialmente pagar tributo, fornecer metais preciosos e comprar as onerosas manufaturas metropolitanas.

Nas últimas décadas do século XVIII, os reis da Dinastia Bourbon procuraram modernizar a Espanha, bem como suas relações com as colônias. Foi implantado um modelo mais eficiente de tributação e de arrecadação dos impostos. Por outro lado, foram abrandadas as regras relativas ao comércio entre a América e a metrópole. A medida desagradou os comerciantes espanhóis, que perdiam o monopólio, e tampouco satisfez os criollos (brancos nascidos na América), que consideravam as mudanças insuficientes.

Essas reformas tornaram mais difícil a ascensão dos criollos aos altos cargos administrativos e eclesiásticos, o que aumentava o ressentimento em relação à metrópole. Quanto aos segmentos mais pobres da sociedade, nada foi feito pela Coroa para que a situação mudasse.

À medida que os interesses econômicos da elite criolla iam sendo cada vez mais contidos pela administração colonial, as diferenças entre colônia e metrópole se intensificavam, instigando ainda mais o desejo dos colonos de romper com a estrutura vigente.

[...] na década de 1770, quando um cacique de Tinta, ao sul de Cuzco, começou a desenvolver ambições políticas reformistas, mudou seu sobrenome de Condorconqui para “Tupac Amaru”, nome do último inca a resistir aos espanhóis no século XVI, e afirmou ser, talvez legitimamente, descendente direto do imperador rebelde.

Como Tupac Amaru ele liderou um grupo que, em novembro de 1780, executou o corregedor local por abusar da população índia, recrutou um grande exército de maioria indígena, travou batalhas contra a resistência armada espanhola, ameaçou Cuzco e, por algum tempo, dominou grande extensão da área do altiplano, até que se organizaram forças para derrotá-lo e executá-lo em maio de 1781. Mas se a revolta tinha base indígena, sua liderança era, em grande parte, crioula e mestiça – gente dos níveis médios das sociedades da província. O próprio Tupac Amaru tinha certa ascendência espanhola, fora educado em espanhol e tinha esposa espanhola. E se, por um lado, ele enfatizou o patriotismo inca entre os índios, entre os não índios falava de impostos mais baixos e justos, tribunais melhores e economia regional mais aberta. [...]

SCHWARTZ, Stuart B.; LOCKHART, James. A América Latina na época colonial. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002. p. 468-469.

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Georgios Kollidas/Alamy/Glow Images

Por sua atuação como líder da resistência indígena, Tupac Amaru II foi considerado um herói nacional no Peru. Com isso, passou a ser representado em diferentes símbolos nacionais, como nessa cédula de 50 soles de oro, moeda em circulação em 1977.

Peru

O contingente indígena tinha um peso significativo. No Peru, por exemplo, em uma população de 1 115 207 habitantes (em 1795), 58% eram indígenas; 20%, mestiços; 10%, negros livres e escravos; e 12%, brancos. A elite – europeus e descendentes – temia os nativos e suas revoltas.

Uma dessas temidas revoltas foi a rebelião de Tupac Amaru, em 1780, no Peru, um movimento indígena que teve a participação de africanos e afrodescendentes interessados no fim da escravidão.
Página 99

A elite criolla perdia paulatinamente a confiança no governo espanhol, desencadeando uma série de movimentos contestatórios. Eram revoltas contra tributos, o europeu e toda e qualquer forma de sujeição.

A invasão da Espanha por tropas de Napoleão Bonaparte, em 1808, acelerou o processo emancipacionista. Reunida nos cabildos (câmaras municipais), a elite criolla jurou fidelidade ao rei deposto. As juntas governativas instaladas no poder, em teoria, continuavam subordinadas à Espanha, mas com autonomia crescente.

Com a derrota de Napoleão, em 1813, o rei Fernando VII voltou ao trono. Sem considerar as mudanças que haviam ocorrido, procurou manter a mesma política mercantilista e arbitrária em relação às colônias. Com isso, os interesses dos criollos foram prejudicados pela metrópole.



México

No México, ocorreu uma tentativa emancipadora com participação ativa dos grupos mais pobres da população. A Nova Espanha (atual México) era a mais rica das colônias espanholas. Com uma população de pouco mais de 6 milhões de habitantes, era responsável por um terço da população total do império ultramarino.

Indígenas, mestiços, africanos, afrodescendentes, europeus e seus descendentes pobres viviam em condições precárias. Apesar de existirem leis que protegiam os índios, muitas vezes essa legislação não era aplicada, pois as autoridades estavam comprometidas em defender os interesses dos colonos.

Uma parte da elite criolla não apoiou os movimentos emancipacionistas. Alguns lutaram do lado dos espanhóis. Outros passaram a conspirar contra a metrópole.

O padre Miguel Hidalgo, inspirado pelos ideais iluministas, aderiu ao movimento, objetivando melhorar a vida de indígenas e mestiços.

Na manhã de 16 de setembro de 1810, Hidalgo proferiu seu “Grito de Dolores”. Invocando a proteção de Virgem de Guadalupe – padroeira do México –, convocou indígenas e mestiços a se juntarem a ele num levante cujos objetivos eram eliminar o domínio espanhol, defender a religião, abolir a escravatura e promover a devolução das terras às comunidades indígenas.

Os rebeldes chegaram a formar um exército de 80 mil homens, que saquearam aldeias e povoados, executaram espanhóis e chegaram a amea çar a Cidade do México. Entretanto, os realis tas desencadearam uma violenta contraofensiva, e Hidalgo foi preso e fuzilado. Ainda assim, a rebelião não estava vencida e, sob o comando do padre José Maria Morelos, o movimento revolucionário renasceu.

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Museu Miguel Hidalgo, Dolores Hidalgo/John Mitchell/Alamy/Other Images



Grito de Independência em 16 de novembro de 1810, pintura de autoria desconhecida a respeito da Independência do México e do líder Miguel Hidalgo. Em exposição na Museo Casa de Hidalgo, antiga casa de Miguel Hidalgo, na cidade de Dolores Hidalgo, estado de Guanajuato (México).
Página 100

[...] Morelos adotou também medidas importantes, que tornaram mais claros os objetivos políticos e sociais da revolta [...]. Seu programa tinha em mira a independência (proclamada em 1813), uma forma congressional de governo e reformas sociais – entre elas, a abolição do tributo, da escravidão, do sistema de castas e de barreiras legais ao avanço das classes baixas, bem como a introdução do imposto de renda. Defendeu também a distribuição das terras aos que nela trabalhavam [...] atenuou sua revolução social com declarações sobre o primado absoluto da Igreja Católica [...]. Tentou atrair abertamente o apoio dos “criollos” com declarações mais moderadas, mas, como Hidalgo, não conseguiu obtê-lo.

ANNA, Timothy. A Independência do México e da América Central. In: BETHELL, Leslie (Org.). História da América Latina: da independência a 1870. São Paulo: Edusp; Brasília: Funag, 2004. v. III. p. 89.

Morelos foi capturado, levado para a Cidade do México, julgado e condenado à morte.

Apesar disso, a emancipação política do México foi retomada pelas forças conservadoras. Agustín de Iturbide, militar que se destacara nas lutas contra Hidalgo e Morelos, considerou o processo de independência irreversível e negociou com o líder rebelde Vicente Guerrero. Em Iguala, proclamou seu plano: o México deveria ser governado por Fernando VII ou outro príncipe que ele designasse, criollos e espanhóis teriam direitos iguais e a Igreja Católica seria a única a manter todos os seus privilégios.

Como nenhum monarca europeu foi designado para governar o México, Agustín de Iturbide foi declarado imperador do México.

Guatemala, El Salvador, Nicarágua, Honduras e Costa Rica aderiram ao Império Mexicano, que durou pouco mais de um ano (de 1822 a 1823). Agustín de Iturbide foi deposto pelo general Antonio López de Santa Anna, que proclamou a república. Também em 1823, a antiga capitania da Guatemala separou-se do México, formando a federação independente das Províncias Unidas da América Central, a qual mais tarde se fragmentou formando vários novos países.

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Gianni Dagli Orti/The Art Archive/The Picture Desk/Afp Photos

Arturo Michelena. Entrega da bandeira vencedora de Numancia ao batalhão Sem Nome, 1883. Óleo sobre tela. (detalhe).

América Andina

Na América Andina, o grande articulador e executor do movimento emancipatório foi Simón Bolívar. De família rica, Bolívar recebeu excelente educação, que incluiu o estudo dos pensadores iluministas, e, depois de viajar para a Europa e os Estados Unidos, engajou-se nas lutas pela independência.

Apoiou Francisco Miranda quando este proclamou a Primeira República Venezuelana, em 1810, que acabou fracassando. Em 1812, fundou a Segunda República Venezuelana, que também sucumbiu diante da reação espanhola. Refugiou-se na Jamaica e, depois, viajou ao Haiti, onde recebeu o apoio do presidente Alexandre Pétion.

Em 1816, Bolívar retornou à Venezuela, iniciando uma campanha de emancipação das colônias que resultou na independência da Colômbia, da Venezuela e do Equador.


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Outra personalidade considerada um “líder da independência” na América Latina foi José de San Martín. Nascido na Argentina, ele destacou-se na liderança das lutas pela independência da Argentina, do Chile e do Peru. Suas ações no Peru foram importantes para que José Antonio Sucre, lugar-tenente de Bolívar, derrotasse o último batalhão espanhol na América. Quanto ao encontro de San Martín e Bolívar em Guayaquil, pouco se sabe de fato. Basicamente, os dois tinham projetos diferentes sobre o futuro da América Espanhola. Bolívar esperava a unidade, já San Martín argumentava em prol da criação de vários Estados independentes, pois entendia que as barreiras geográficas e os interesses locais impediriam a união.

Resumidamente, as independências na América Espanhola foram obra da elite criolla. Indígenas, afrodescendentes e mestiços foram incorporados ao processo pelas partes em conflito de acordo com seus interesses e necessidades.

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Museu Histórico Nacional, Buenos Aires

J. Collignon. Entrevista de Guayaquil em 1822, 1843. Litografia colorida. A imagem retrata o encontro de San Martín e Simón Bolívar.

[...] a elite “criolla” exercia seu papel de misto de bombeiro e carcereiro durante todo o século XIX. Independência, sim, mas branca, latifundiária e controle social. A ruptura com a Espanha abriria um novo ciclo de ditaduras na América Hispânica. Como escreveu o jurista argentino Juan Bautista Alberdi: “Agora que nos libertamos da Espanha, quem nos libertará de nossos libertadores?”

KARNAL, Leandro. Um mundo às vésperas do colapso. História Viva, São Paulo, Duetto Editorial, n. 48, p. 45, out. 2007.

Organizando ideias

Leia o texto a seguir e faça o que se pede.

A posição dos habitantes no hemisfério americano tem sido, no decorrer dos séculos, puramente passiva; a sua existência política era nula.

Nós, os do sul, estávamos num grau mais baixo da servidão, e, como tal, com mais dificuldades para nos elevarmos ao prazer da liberdade.

Permita-me estas considerações para assentar a questão. Os Estados são escravos pela natureza de sua Constituição, ou por abuso da mesma, de modo que um povo é escravo quando o governo, por essência ou por vício, calca ou usurpa os direitos do cidadão ou súdito. Aplicando estes princípios, diremos que a América não só estava privada da sua liberdade, mas também de uma tirania ativa e dominante [...].

É uma ideia grandiosa pretender formar o Mundo Novo uma só nação, com um único vínculo ligando suas partes entre si e com o todo.

Visto que tem uma origem, uma língua, costumes e uma religião, deveria ter um só governo que confederasse os diferentes Estados que venham a se formar, mas não é possível, porque climas remotos, situações diversas, interesses opostos, características não semelhantes dividem a América.

Trecho da Carta de Jamaica, escrita por Simón Bolívar em 1815.



1. Existe alguma relação entre o pensamento de Bolívar expresso no documento anterior e a atual situação americana? Explique.

Professor, as orientações e respostas referentes a esta seção estão no Manual do Professor.


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Haiti

No século XVII, os franceses ocuparam parte da ilha, dizimaram a população indígena e deram início à lavoura açucareira, fundamentada no trabalho escravo dos africanos. A partir do século XVIII, Saint-Domingue seria a mais rica de todas as colônias ultramarinas francesas. Em 1789, quando teve início a Revolução Francesa, a população era de 800 mil habitantes, 85% dos quais escravos.

Durante a Revolução Francesa, no período da Convenção (1792-1795), foi decretada a abolição da escravidão nas colônias. Toussaint L’Ouverture, líder popular, lutou pela República Francesa. Sob sua liderança, os exércitos espanhóis e ingleses foram derrotados, a ilha foi unificada e uma constituição votada. Saint-Domingue se tornou um país autônomo, mas sem deixar de ser parte da nação francesa.

Mais tarde, quando a França esteve sob o domínio de Napoleão Bonaparte, algumas conquistas se perderam. Após diversos combates, L’Ouverture entregou-se aos franceses. Enviado para a França, morreu num presídio em 1803.

Em 1802, os líderes negros Alexandre Pétion, Henri Christophe e Jean-Jacques Dessalines uniram-se para combater os franceses. Em janeiro de 1804, a colônia francesa de Saint-Domingue tornou-se independente, adotando o nome nativo de Haiti. Os escravos foram libertos.

Dessalines coroou-se imperador, com o título de Jacques I. Como adotou métodos autoritários de governo – arrendamento de terras e cobrança abusiva de impostos –, ocorreram muitos protestos e conflitos, que resultaram no declínio de seu império, seguido pela recuperação da parte leste da ilha pelos espanhóis. As ações adotadas por Dessalines resultaram em uma conspiração de generais, culminando em seu assassinato em 1806.

Os planejadores da conspiração acabaram se envolvendo em uma guerra civil, que resultou na divisão do país entre dois líderes: Henri Christophe – que governou o norte sob o título de Henri I – e Alexandre Pétion – que governou o sul.

Com a morte de Pétion (1818), foi eleito Jean-Pierre Boyer, que, após o suicídio de Henri (1820), promoveu a unificação do país e conquistou a parte oriental da ilha.

O último “ajuste” do território haitiano ocorreu em 1843, quando a República do Haiti, na parte ocidental, foi separada da República Dominicana, na oriental.

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Coleção particular

Gravura que retrata a Revolta em Leocane (Haiti), em 1791. Autoria desconhecida, 1840.
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Organizando ideias

Leia os textos a seguir e responda às questões propostas.



Texto 1

Ao ataque de lança ou golpes de facão, foram os expropriados os que realmente combateram, quando despontava o século XIX, contra o poder espanhol nos campos da América Latina. A independência não os recompensou: traiu as esperanças dos que tinham derramado seu sangue. Quando a paz chegou, com ela se reabriu uma época de cotidianas desditas. Os donos da terra e os grandes mercadores aumentaram suas fortunas, enquanto se ampliava a pobreza das massas populares oprimidas. Ao mesmo tempo, e ao ritmo das intrigas dos novos donos da América Latina, os quatro vice-reinados do império espanhol se quebraram em pedaços e múltiplos países nasceram como cacos da unidade nacional pulverizada. A ideia de “nação” que o patriciado latino-americano engendrou parecia-se demasiado à imagem de um porto ativo, habitado pela clientela mercantil e financeira do império britânico, com latifúndios e socavãos à retaguarda. A legião de parasitas, que recebera os comunicados da guerra de independência dançando o minueto nos salões das cidades, brindava pela liberdade de comércio em taças de cristais britânicas. Puseram na moda as mais altissonantes palavras de ordem da burguesia europeia: nossos países punham-se ao serviço dos industriais ingleses e dos pensadores franceses. Porém, qual “burguesia nacional” era a nossa, formada pelos donos de terras, os grandes traficantes, comerciantes e especuladores, os políticos de fraque e doutores sem raízes? A América Latina logo teve suas constituições burguesas, muito envernizadas de liberalismo, mas não teve, em compensação, uma burguesia criadora, no estilo europeu ou norte-americano, que se propusesse à missão histórica do desenvolvimento de um capitalismo nacional pujante. As burguesias destas terras nasceram como simples instrumentos do capitalismo internacional, prósperas peças da engrenagem mundial que sangrava as colônias e semicolônias. Os burgueses de vitrina, agiotas e comerciantes, que açambarcaram o poder político, não tinham o menor interesse em impulsionar a ascensão das manufaturas locais, já mortas ao nascer quando o livre-cambismo abriu as portas à avalanche de mercadorias britânicas.

Seus sócios, os donos das terras, não estavam, por sua vez, interessados em resolver “a questão agrária”, senão na medida de suas próprias conveniências. O latifúndio consolidou-se sobre o saque, ao longo do século XIX. A reforma agrária foi, na região, uma bandeira precoce. Frustração econômica, frustração social, frustração nacional: uma história de traições sucedeu à independência.

GALEANO, Eduardo. As veias abertas da América Latina. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2007. p. 128-129.



Texto 2

O latifúndio, a servidão, a escravidão e outros males prolongaram-se após a independência, está claro que com o livre-comércio, com os criollos governando e um novo senhor desenhando-se à vista de todos: a loura e perversa Albion – ou, se quiserem, a Inglaterra. E, o que é pior, um senhor mais poderoso que o de antes, que não demorou a engendrar meios para ficar com uma parte considerável da riqueza produzida pela sociedade. E tudo isto sem a necessidade de manter uma administração colonial, pagar exércitos e ditar leis incômodas.

POMER, Leon. A independência da América Latina. São Paulo: Brasiliense, 1996. p. 12.

1. De acordo com os textos, os objetivos da independência foram atingidos? Justifique.

2. Que situações permaneceram após a independência?

3. Como os autores descrevem a presença da Inglaterra durante e após o processo de independência na América?

4. Trace um paralelo entre a situação atual da América Latina e o projeto de independência da época. Quais são as semelhanças e as diferenças?

Professor, as orientações e respostas referentes a esta seção estão no Manual do Professor.


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Independência da América Portuguesa

Assim como ocorreu nas porções espanhola e inglesa das Américas, a independência na América Portuguesa ocorreu em meio à crise do sistema colonial e à disseminação das ideias iluministas de liberdade e igualdade, ainda que estas não tenham sido divulgadas por toda a extensão do Brasil.

Aliados a essas questões, alguns acontecimentos na Europa auxiliaram o processo de separação do Brasil de sua metrópole, Portugal.

No início do século XIX, a França era governada por Napoleão Bonaparte. Com o objetivo de tornar esse país uma potência continental, as ambições expansionistas do imperador esbarravam na Inglaterra, sua maior rival. Consciente da impossibilidade de vencer os ingleses militarmente, Napoleão resolveu prejudicá-los economicamente. Em 1806, ele decretou o Bloqueio Continental, que proibia as nações europeias de comercializarem com a Inglaterra, sob a ameaça de ter seus territórios invadidos pelas tropas francesas caso não cumprissem as determinações do bloqueio. Essa medida gerou um problema para Portugal, pois o país dependia economicamente da Inglaterra.

Desejando manter boas relações com ambos os países, o monarca português D. João optou pela neutralidade, mas não pôde sustentar essa posição por muito tempo. Em 1807, a pressão francesa aumentou e Napoleão determinou a invasão de Portugal, enviando as primeiras tropas para a região.

Com o risco de perder o trono, D. João resolveu transferir a Corte portuguesa para o Brasil, contando com o apoio e a escolta de navios ingleses. O projeto de transferência da Corte já havia sido cogitado na metade do século XVIII, visando aumentar a eficiência da administração da região mineradora.

Quando D. João e a Corte portuguesa mudaram-se para o Brasil, em 1808, a cidade do Rio de Janeiro tornou-se a nova capital.

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Museu Histórico Nacional, Rio de Janeiro

Francisco Bartolozzi. Embarque de D. João e toda família real, no Porto de Belém, Portugal, em 27 de novembro de 1807. Gravura de Francisco Bartolozzi a partir de pintura de Nicolas Delariva, 52,5 cm × 71 cm.
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Em 1815, com a queda de Napoleão Bonaparte, D. João foi chamado a reassumir seu trono em Portugal, o que lhe criou um impasse, já que não poderia mais governar a metrópole vivendo na colônia.

Para resolver a situação, D. João elevou o Brasil a Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, igualando-o assim politicamente a Portugal. Esse passo, apesar de não mudar efetivamente a situação da colônia, possibilitou o surgimento das condições para a independência brasileira.

Em 1820, a situação político-econômica do Brasil era estável. Já em Portugal, houve piora na crise política, militar e econômica, o que levou à deflagração da Revolução Liberal do Porto na cidade homônima. Entre as reivindicações dos líderes desse movimento estavam o retorno de D. João VI para assumir o trono e, com isso, a convocação de uma Assembleia Constituinte.

Pressionado por esses acontecimentos, D. João VI partiu em abril de 1821 para Portugal, deixando no comando do Brasil seu filho e herdeiro, o príncipe regente D. Pedro de Alcântara.

As Cortes Portuguesas desejavam reverter as conquistas políticas e econômicas alcançadas pelo Brasil. Diante disso, a classe dominante da colônia se sentiu impelida a buscar a independência, pois não queria mais a antiga subordinação.

A Revolução Liberal do Porto, entre outras reivindicações, era a favor da volta do pacto colonial e da elaboração de uma Constituição para Portugal e seus domínios ultramarinos. Esse processo levou à criação das Cortes Gerais e Extraordinárias da Nação Portuguesa, também conhecidas como Cortes Portuguesas e Soberano Congresso – reunidas entre 1821 e 1822 –, que foram, de maneira geral, o primeiro Parlamento português, interferindo bastante no regime político de Portugal. Para compor as Cortes, foram eleitos deputados representantes de Portugal e das províncias brasileiras, que, além da participação na Constituição, tinham a incumbência de analisar e orientar as ações empreendidas pela Coroa em seu período de vigência.

Em 1821 houve em Portugal uma reunião das Cortes, para a qual o Brasil, como parte do império, também deveria enviar representantes. Mas as Cortes se reuniram antes da chegada desses representantes, exigindo que o rei assinasse um documento que anulava o título de regente de D. Pedro, o que reduziria a autonomia da colônia. Reivindicavam, ainda, o retorno imediato de D. Pedro a Portugal.

No Brasil, além de sofrer a pressão vinda de Portugal, D. Pedro era pressionado internamente, sobretudo pelos dois grupos políticos locais: o Partido Português, integrado por militares e comerciantes de origem lusitana que apoiavam as decisões da metrópole, e o Partido Brasileiro, composto de comerciantes, proprietários de terras e profissionais liberais que queriam a manutenção da autonomia do país.

No início de 1822, foi entregue a D. Pedro um manifesto elaborado pelas elites brasileiras com centenas de assinaturas pedindo-lhe que ficasse no Brasil. Esse abaixo-assinado o levou a decidir sua permanência em 9 de janeiro do mesmo ano. Esse foi o primeiro de uma série de episódios protagonizados por D. Pedro que desagradaram as Cortes Portuguesas, culminando com a separação do Brasil de Portugal. Dentre eles, destacam-se:

• a nomeação de José Bonifácio de Andrada e Silva, membro do Partido Brasileiro, para chefiar o ministério;

• em maio de 1822, a decretação de que nenhuma ordem vinda das Cortes Portuguesas seria cumprida sem sua prévia autorização;

• em junho, a convocação de uma Assembleia Constituinte e Legislativa;

• em agosto, a proibição da entrada das tropas portuguesas no Brasil sem sua autorização.

No início de setembro, em resposta a essas ações, as Cortes Portuguesas enviaram despachos ao Brasil tornando nulas as decisões de D. Pedro e ordenando seu imediato retorno a Portugal.

Naquele momento, o príncipe regente estava em São Paulo, onde recebeu esses despachos das mãos de um mensageiro junto com um aconselhamento de José Bonifácio de romper os laços com a metrópole.


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Diante dessa situação, D. Pedro declarou a Independência do Brasil. Isso aconteceu no dia 7 de setembro de 1822. Em 12 de outubro, ele foi aclamado imperador e, em 1º de dezembro, coroado com o título de D. Pedro I, Imperador do Brasil.

A independência do Brasil, ao contrário do que ocorreu na América Espanhola, foi instaurada de forma rápida e sem fragmentação da colônia em diversos países. Houve graves conflitos armados em algumas províncias (entre elas Bahia, Piauí e Pará) como reação à independência, mas todos foram debelados até o fim de 1823.

[...] o Sete de Setembro representa um momento simbólico destacado de um longo processo de ruptura iniciado até antes da vinda da corte e que levou, ao fim e ao cabo, a uma solução monárquica, implantada bem no meio das Américas. [...] O evento é expressão visível de uma série de tensões e arranjos que se colavam à crise do sistema colonial e do absolutismo, tão característicos do período moderno. Era todo o Antigo Regime que se desintegrava, e com bases do colonialismo mercantilista.

[...] Se o movimento foi liberal, porque rompeu com a dominação colonial, mostrou-se conservador ao manter a monarquia, o sistema escravocrata e o domínio senhorial. Além do mais, se o processo de emancipação foi deflagrado pela vinda da corte, o que explica o formato final é o movimento interno de ajustamento às pressões de dentro e de fora, e principalmente um processo de substituição de metrópoles: com o atual reinando bem na região Centro-Sul do recém-fundado país. Por outro lado, se uma nova unidade política foi implantada, prevaleceu uma noção estreita de cidadania, que alijou do exercício da política uma vasta parte da população e ainda mais o extenso contingente de escravizados. […].

SCHWARCZ, Lilia Moritz. STARLING, Heloisa Murgel. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. p. 222.



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In: Viagem pitoresca e histórica ao Brasil. Coleção particular.

Jean-Baptiste Debret. Cerimônia de coroação de D. Pedro I, Imperador do Brasil, 1822. Aquarela, 27,5 cm × 20,5 cm.
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Organizando ideias

1. Leia o texto a seguir e faça o que se pede.

A transição de colônia para império independente caracterizou-se por um grau extraordinário de continuidade econômica e social. Dom Pedro I e a classe dominante brasileira assumiram o aparelho do Estado português existente, que, de fato, nunca deixou de funcionar. A economia não sofreu grandes desarranjos: os padrões de comércio e investimento se alteraram (em particular, a Inglaterra tornou-se o maior parceiro comercial do Brasil e fonte de capital), mas tanto o modo “colonial” de produção quanto o papel do Brasil na divisão internacional do trabalho não foram grandemente afetados. Não houve rebeliões sociais de maior importância: as forças populares, que de qualquer forma eram fracas – e divididas por classe, cor e posição – foram contidas com sucesso; nenhuma concessão relevante foi feita aos grupos menos privilegiados da sociedade; sobretudo, a instituição da escravidão sobreviveu (embora o tráfico de escravos estivesse agora sob ameaça). Fora feita uma revolução conservadora. [...]

BETHELL, Leslie (Org.). A independência do Brasil. In: História da América Latina: da Independência até 1870. São Paulo: Edusp; Brasília: Funag, 2004. v. III. p. 229-230.

a) Explique a “continuidade política” citada pelo autor com relação ao Brasil independente.

b) O que significou de fato a independência para o Brasil?

2. Observe as imagens e faça o que se pede.

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Museu Imperial, Petrópolis

François-René Moureaux. A Proclamação da Independência, 1844. Óleo sobre tela, 2,44 m × 3,83 m.

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Museu Paulista/USP, São Paulo

Pedro Américo. Independência ou morte, 1888. Óleo sobre tela, 4,15 m × 7,60 m.

a) Qual é a ideia de independência transmitida nas imagens?

b) Em dupla, responda: Qual é o papel das pinturas históricas na construção da memória nacional?

Professor, as orientações e respostas referentes a esta seção estão no Manual do Professor.


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Debate interdisciplinar
A transformação dos metais

Durante a exploração europeia na América, a extração de metais foi a principal atividade econômica. A extração de prata e ouro, por exemplo, foi responsável pelo aumento das receitas da Coroa espanhola. Além dos metais preciosos, outros metais eram explorados com o objetivo de compor ligas metálicas utilizadas na fabricação de diversos artefatos, incluindo armas para a repressão dos povos nativos.



Minerais metálicos

Os minerais metálicos são recursos naturais não renováveis encontrados em estruturas geológicas muito antigas. Correspondem a substâncias compostas, entre outros elementos, de químicos de metal, como a hematita, que tem em sua composição o óxido de ferro (Fe2O3), e a bauxita, que contém óxido de alumínio (Al2O3). Os minerais metálicos mais abundantes são o cobre (Cu), o alumínio (Al), o zinco (Zn), o ferro (Fe) e o chumbo (Pb). Em contrapartida, os mais escassos são o ouro (Au) e a prata (Ag). Como os metais não se encontram de forma pura na natureza, é preciso extraí-los e purificá-los. A obtenção dos minerais metálicos ocorre por meio de processos químicos.



Obtenção de ferro

O ferro é um dos elementos mais abundantes e um dos mais importantes do ponto de vista econômico, pois é utilizado como base na siderurgia, setor industrial que produz a liga metálica mais utilizada no mundo: o aço.

O ferro é obtido da hematita (Fe2O3), da magnetita (Fe3O4), da limonita (2 Fe2O3 3 H2O) ou da siderita (FeCO3). O princípio básico da formação do ferro é a interação de seus minérios com o monóxido de carbono (CO), produzindo ferro metálico e gás carbônico.

Fe2O3 + 3 CO → 2Fe + 3 CO2

óxido de ferro "mais" monóxido de carbono "gera" ferro metálico "mais" gás carbônico

Essa é uma reação de oxidorredução na qual o monóxido de carbono (CO) é o agente redutor, pois causou a redução do ferro.

Outros metais, como o alumínio, são obtidos por eletrólise, que é a redução dos minérios por meio de corrente elétrica, método econômico e eficiente.

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Phil Clarke Hill/In Pictures/Corbis/Latinstock

Vista aérea da mina de ferro Carajás, Pará, 2014.
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Ligas metálicas

Muitos dos materiais encontrados no cotidiano são considerados metais, embora na maioria sejam, de fato, ligas metálicas.

Uma liga metálica corresponde à união de dois ou mais elementos químicos, no qual pelo menos um deles (o predominante) é um metal e os outros podem ser outros metais ou diferentes elementos. Essa união dá origem a um material com propriedades metálicas, criado para modificar ou acrescentar propriedades diferentes das propriedades dos metais formados. Veja alguns exemplos a seguir.

1. Bronze – a liga entre o cobre (Cu) e o estanho (Sn) produz um material flexível e resistente à corrosão. Principais usos: industrial (fabricação de parafusos, ferramentas, aparelhos elétricos, conexões hidráulicas etc.); fabricação de sinos, instrumentos musicais e objetos de decoração.

2. Latão – a liga entre o cobre (Cu) e o zinco (Zn) produz um material resistente à corrosão em atmosfera ambiente e água do mar. As aplicações do latão são vastas, desde armamento e munições, passando pela ornamentação, até tubos de condensador e terminais elétricos.

3. Aço carbono – liga entre o ferro (Fe) e pequenas quantidades de carbono (C). Dentro do aço, o carbono se junta ao ferro e forma um composto chamado carboneto de ferro ou cementita (Fe3C), uma substância muito dura que é responsável pela dureza do aço, pois aumenta sua resistência mecânica. Esse tipo de liga constitui a mais importante categoria de materiais metálicos usada na construção de máquinas, equipamentos, estruturas, veículos etc.

Formação da cementita

3 Fe + C → Fe3C

ferro metálico "mais" carbono "gera" carboneto de ferro

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Zoonar/Artem Merzlenko/Alamy/Latinstock

Trabalhadores fundindo metal. Fotografia de 2014.

Fundição de metais

Existem vários processos de transformação dos metais e ligas metálicas em peças para inúmeras utilidades. Dentre eles, a fundição se destaca, pois, além de ser um dos métodos mais antigos, é muito versátil, sobretudo quando se consideram os diferentes formatos e tamanhos das peças produzidas por esse processo.

Na fundição, o metal é derretido e colocado em moldes para que se solidifique, formando os objetos metálicos. Esse processo não se restringe apenas ao ferro, pode ser empregado com diferentes metais e ligas metálicas, observando-se sempre as propriedades de cada um, por exemplo, a tem peratura de fusão.

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Aleksandr Kondratuk/Sputnik/Glow Images

Trabalhador da indústria siderúrgica fundindo aço. Fotografia de 2015.

Atividade

1. Atentando para o conceito de que muitos materiais encontrados em nosso cotidiano sejam, na verdade, ligas metálicas, cite outros exemplos de ligas, assim como suas características, importância e principais usos.

Professor, as orientações e a resposta referentes a esta seção estão no Manual do Professor.


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Testando seus conhecimentos

Responda no caderno

1. (Enem)

O canto triste dos conquistados: os últimos dias de Tenochtitlán

Nos caminhos jazem dardos quebrados;


os cabelos estão espalhados.
Destelhadas estão as casas,
Vermelhas estão as águas, os rios, como se alguém
as tivesse tingido,
Nos escudos esteve nosso resguardo,
mas os escudos não detêm a desolação...
PINSKY, J. et al. História da América através de textos. São Paulo: Contexto, 2007 (fragmento).

O texto é um registro asteca, cujo sentido está relacionado ao(à)

Alternativa b.

a) tragédia causada pela destruição da cultura desse povo.

b) tentativa frustrada de resistência a um poder considerado superior.

c) extermínio das populações indígenas pelo Exército espanhol.

d) dissolução da memória sobre os feitos de seus antepassados.

e) profetização das consequências da colonização da América.

2. (Unesp) Octávio Paz, escritor mexicano, assim se referiu à participação de índios e mestiços no movimento de Independência do México:

“A guerra se iniciou realmente como um protesto contra os abusos da metrópole e da alta burocracia espanhola, mas também, e sobretudo, contra os grandes latifundiários nativos.

Não foi a rebelião da aristocracia contra a metrópole, mas sim a do povo contra a primeira. Daí que os revolucionários tenham concedido maior importância a determinadas reformas sociais que à independência propriamente dita: Hidalgo decreta a abolição da escravatura; Morelos a divisão dos latifúndios. A guerra de Independência foi uma guerra de classes e não se compreenderá bem o seu caráter se ignorarmos que, diferente do que ocorreu na América do Sul, foi uma revolução agrária em gestação.”

PAZ, Octávio. O labirinto da solidão. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976.

Segundo o autor, a luta pela Independência do México

Alternativa e.



a) contou com o apoio dos proprietários rurais, embora eles considerassem desnecessária a questão da ruptura com a Espanha.

b) opôs-se aos ideais políticos do Iluminismo europeu, dividindo o país em regiões politicamente independentes.

c) recebeu a solidariedade de movimentos revolucionários europeus, dado o seu caráter de guerra popular.

d) enfraqueceu o Estado Nacional, favorecendo a anexação de territórios mexicanos pelos Estados Unidos da América.

e)apresentou um caráter popular, manifestando questões sociais de longa duração na história do país.

3. (Fuvest-SP) Uma observação comparada dos regimes de trabalho adotados nas Américas de colonização ibérica permite afirmar corretamente que, entre os séculos XVI e XVIII,

Alternativa c.



a) a servidão foi dominante em todo o mundo português, enquanto, no espanhol, a mão de obra principal foi assalariada.

b) a liberdade foi conseguida plenamente pelas populações indígenas da América espanhola e da América portuguesa, enquanto a dos escravos africanos jamais o foi.

c) a escravidão de origem africana, embora presente em várias regiões da América espanhola, esteve mais generalizada na América portuguesa.

d) não houve escravidão africana nos territórios espanhóis, pois estes dispunham de farta oferta de mão de obra indígena.

e) o Brasil forneceu escravos africanos aos territórios espanhóis, que, em contrapartida, traficavam escravos indígenas para o Brasil.

4. (UFPR) A mão de obra utilizada nas plantations que se estabeleceram nas colônias europeias na América era formada majoritariamente por escravos trazidos da África e seus descendentes.
Página 111

Responda no caderno

Sobre os processos de independência na América e sua relação com a escravidão de africanos e afrodescendentes, é correto afirmar que:

Alternativa b.

a) A libertação dos escravos na América do Norte foi o principal motivador da Independência das treze Colônias inglesas.

b) Os escravos e os negros e mestiços livres haitianos armaram-se para a luta e tiveram papel fundamental nos levantes contra as autoridades francesas que culminaram na Independência do Haiti e na abolição da escravidão nesse território.

c) As palavras Liberdade, Igualdade, Fraternidade, tornadas lema da Revolução Francesa, foram estendidas às suas colônias e concretizadas quando o governo revolucionário da França aboliu simultaneamente a escravidão em todos os seus territórios na América, desencadeando as guerras de independência.

d) Somente Colômbia, Venezuela e Equador levaram a cabo a abolição da escravidão durante seus processos de independência.

e) O Haiti e as Treze Colônias inglesas declaram sua independência das metrópoles, respectivamente França e Inglaterra, proibindo o tráfico de escravos nas últimas décadas do século XVIII.

5. (UFMG-MG) Assinale a alternativa que caracteriza o sistema de trabalho conhecido como "mita".

Alternativa c.



a) Trabalho escravo de negros nas plantações de açúcar do Caribe.

b) Trabalho forçado de índios mestiços nas plantações de café da Colômbia.

c) Trabalho forçado de índios nas minas de ouro e prata do Peru e Alto Peru.

d) Trabalho escravo de índios nas minas de salitre e cobre do Chile.

Para você ler

A conquista do México, de Hernan Cortez. Porto Alegre: L&PM, 2007. Coletânea de cinco cartas escritas por Hernan Cortez, capitão que subjugou a civilização asteca ao imperador Carlos V. Nelas, Cortez narra todos os detalhes de sua viagem, desde a partida de Havana até a completa conquista do território dos astecas.

As veias abertas da América Latina, de Eduardo Galeano. Porto Alegre: L&PM, 2010. Descreve o processo de dependência social e econômica da América Latina com relação aos europeus desde sua chegada ao Novo Mundo.

Os jacobinos negros: Toussaint L’Ouverture e a revolução de São Domingos, de Cyril Lionel Robert James. São Paulo: Boitempo, 2000. O livro aborda aspectos da História do Haiti e descreve minuciosamente a insurreição de escravos que expulsaram os colonizadores franceses da região.



Para você assistir

Manuela Sáenz, direção de Diego Risquez. Venezuela, 2000, 97 min. O filme retrata os últimos anos de Manuela Sáenz, companheira de Simón Bolívar, um dos maiores heróis da América do Sul.

A outra conquista, direção de Salvador Carrasco. México, 1998, 105 min. O filme retrata os conflitos entre o modo de vida asteca e o dos europeus que estavam conquistando a América. Em 1520, os espanhóis dizimaram os astecas durante uma cerimônia religiosa, evento que ficou conhecido como o Massacre do Grande Templo. Um habilidoso escriba asteca, filho ilegítimo do imperador Montezuma, sobrevive escondendo-se sob um cadáver. O longa-metragem acompanha o jovem enquanto ele testemunha a nova ordem instaurada em sua terra, então sob o domínio espanhol.

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