Coleção História em Debate 2 História Ensino Médio



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1. Pensando a respeito da disputa pelo domínio das Ilhas Malvinas e dos diversos fatores envolvidos nos processos de formação das identidades nacionais, pesquise a chegada britânica à Argentina e a influência cultural europeia no país.

Estados Unidos: o novo imperialismo

Os estadunidenses – únicos na América que já haviam consolidado sua economia no século XIX –, com base na doutrina Monroe, intitula- ram-se defensores do continente contra as investidas das potências europeias.

A doutrina Monroe, instituída pelo presidente norte-americano James Monroe (1823), defendia a não intervenção dos europeus nos assuntos dos americanos. O lema “América para os americanos” reafirmava as independências recém-conquistadas na América Latina e reprimia qualquer tentativa de retomada das colônias pelas antigas metrópoles europeias.

Na prática, significou o fim do domínio europeu e o início da influência norte-americana no continente.


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Photos 12-Archive/Diomedia

A doutrina Monroe atualizada. Cartum publicado na revista semanal norte-americana Judge, 1903.

O avanço da colonização estadunidense para o oeste e o sul seguia a crença no chamado Destino Manifesto, que consistia na ambição de dominar as regiões periféricas, apresentando, como justificativa moral, o argumento de que essa seria uma missão que agradaria à providência divina. Com esse pretexto, os estadunidenses travaram guerra contra o México, apossando-se do Texas, do Novo México e da Califórnia.

No final do século XIX, durante a presidência de William McKinley (1897-1901), o general Alfred T. Mahan proclamava a necessidade dos estadunidenses de ocupar as ilhas do Caribe e controlar o Golfo do México. Nessa época, os Estados Unidos ocuparam as ilhas de Cuba e Porto Rico e instalaram bases navais em Guantánamo e Vieques.

Em 1904, o governo do então presidente, Theodore Roosevelt, enviou ao Congresso um documento que ficou conhecido como “Corolário Roosevelt”, uma espécie de complemento à Doutrina Monroe. Na prática adotou-se a política do Big Stick (Grande Porrete). O governo aconselhava seus compatriotas a “falar manso com o porrete na mão”. Em outras palavras, os Estados Unidos reservavam-se o direito de utilizar a força para intervir nos assuntos internos e externos das repúblicas latino-americanas.

Com o governo de Teodoro Roosevelt iniciou-se a fase do “big stick” e organizou-se a União Pan-americana, com a finalidade de implantar uma espécie de protetorado americano sobre todo território da América Latina. Com esta política sucederam-se intervenções dos “marines” em numerosos países, como o Haiti (1915-33), a República Dominicana (1916-24), a Nicarágua (1912-25 e 1926-33) etc. A intervenção era feita sempre para defender interesses das empresas estadunidenses ou impor governos que servissem a esses interesses. Entre os ditadores famosos por sua subserviên cia, salientaram-se Machado e Batista em Cuba, Trujillo na República Dominicana, Somoza na Nicarágua e os Duvalier no Haiti.

ANDRADE, Manuel Correia de. O Brasil e a América Latina. São Paulo: Contexto, 1991. p. 68.

No governo Roosevelt (1901-1909), os estadunidenses chegaram a interceder em prol da formação de um país – o Panamá – com o objetivo de atingir melhor seus desígnios imperialistas.
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Granger/Glow Images

Charge norte-americana do início do século XX que satiriza a política do Big Stick. Tio Sam, que representa os Estados Unidos, faz um arco com as pernas cobrindo a América e segura um porrete com os dizeres “Doutrina Monroe”.

Em 1879, o engenheiro francês Ferdinand Lesseps obteve do governo colombiano a concessão para construir um canal que ligaria os oceanos Atlântico e Pacífico. Dez anos depois, o empreendimento de Lesseps faliu e grande parte de sua companhia foi comprada pelos Estados Unidos, que, sem se importar com os legítimos direitos da Colômbia, tinham pressa em começar as obras.

[...] Foi então que o Big Stick a atingiu. Os funcionários da companhia sediada no Panamá foram estimulados a proclamar a independência da região. Vindo em socorro de um movimento autonomista, os fuzileiros desembarcaram em Cólon, impedindo a reação dos colombianos. Em novembro de 1903, firma-se o Tratado Hay-Bunau-Varilla [John Hay – Secretário de Estado norte-americano e Philippe Jean Bunau-Varilla], que dava aos Estados Unidos o domínio perpétuo sobre uma zona de 16 km de largura através do istmo. Em troca, os Estados Unidos pagariam 10 milhões de dólares e um arrendamento de 250 mil dólares anuais. […] Em 1904, o governo americano tomou posse formalmente da Zona do Canal, dando início às obras que seriam concluídas dez anos depois, quando, em 15 de agosto de 1914, o Canal era aberto ao comércio do mundo. Os Estados Unidos passavam assim a ser uma potência que tinha a possibilidade de exercer o controle sobre os dois grandes oceanos.

SCHILLING, Voltaire. EUA × América Latina: as etapas da dominação. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1984. p. 23-24.

Na presidência de William Howard Taft (1909-1913), foi aplicada a política chamada de diplomacia do dólar, a qual visava à obtenção de facilidades financeiras e comerciais para empresários estadunidenses. O objetivo era dominar economicamente as repúblicas centro-americanas e estender a influência norte-americana por toda a América Latina.

Os Estados Unidos adotavam uma política preventiva, fazendo o possível para abortar revoluções ou aniquilar pretensões nacionalistas de alguns governantes latino-americanos. Na Nicarágua, por exemplo, o presidente José Santos Zelaya foi derrubado por “ferir os interesses dos cidadãos norte-americanos”, mais especificamente da empresa de transporte United States-Nicarágua Concession.

No governo de Woodrow Wilson (1913-1921), os Estados Unidos passaram a intervir ainda mais intensamente nos países latino-americanos. As principais ações desse período foram:

• intervenções no México (1914);

• ocupação do Haiti por fuzileiros navais norte-americanos (1915);

• ocupação da República Dominicana (1915);

• perseguição a Pancho Villa em pleno território mexicano (1916).

As guerras e as intervenções econômicas relacionadas ao imperialismo se explicam pela necessidade de alimentação da máquina industrial, que desencadeia também a necessidade de expansão territorial.



Glossário
Istmo: porção de terra estreita, cercada de água dos dois lados, que liga um continente a uma península ou duas grandes porções de terra.
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Desse modo, os Estados Unidos assumiram a função de polícia a serviço das relações financeiras instauradas durante o período de maturidade do neocolonialismo. Os fatos iriam posteriormente demonstrar com que seriedade os Estados Unidos cumpririam os seus novos deveres nos trinta anos seguintes. Não era essa a única novidade nas relações da América Latina com o seu vizinho cada vez mais poderoso, e nem era sequer a única causa das intervenções norte-americanas. Só raramente os Estados Unidos intervinham inspirados pelo desejo de orientar um Estado hispano-americano qualquer no sentido de uma política mais sadia. As intervenções norte-americanas eram muito variadas: por vezes, basea vam-se numa espécie de puritanismo político que, em outros casos, desmentiam categoricamente e eram frequentemente escolhidas com um misto de indignação e incredulidade na América Latina, terminando também com frequência por comprometer a causa que pretendiam sustentar [...].

DONGHI, Tulio Halperin. História da América Latina. São Paulo: Círculo do Livro, s.d. p. 240.

Na segunda metade do século XIX, alguns países europeus – França, Alemanha, Bélgica e Itália – e os Estados Unidos despontaram no cenário industrial mundial como grandes potências. Buscando expandir suas margens de lucro por meio do aumento do mercado consumidor e da diminuição do custo de produção (obtida com a utilização de matéria-prima e mão de obra mais baratas), essas potências começaram a se dirigir para os territórios da África e da Ásia. Esse movimento é chamado de neocolonialismo, um termo que faz referência ao período de domínio europeu na América e na África, com a diferença de que, enquanto no caso colonial a justificativa para as ações chamadas imperialistas era a disseminação do cristianismo, no neocolonialismo o ideal ressaltado foi a disseminação da ciência e da tecnologia.



Organizando ideias

Leia os textos a seguir e desenvolva as atividades solicitadas.



Texto 1

A influência da mídia é tão forte que globaliza o indivíduo. Gradativamente, os seres humanos vão perdendo a sua identidade, individualidade, diferença, cultura. Um exemplo claro para nós da região Nordeste do Brasil, mais precisamente no sertão paraibano, é o crescimento das festas de Halloween.

Disponível em: . Acesso em: fev. 2016.

Texto 2

“O Halloween sem reflexão é a mera importação de valores culturais. Mas, a escola deve ser um espaço para formar cidadãos críticos que possam desvendar a lógica da padronização cultural. Por isso, não podemos ensinar as crianças a cultuar valores que não são nossos”, afirma [Marilza Suanno, pedagoga e mestre em Ciências da Educação Superior, da Universidade Estadual de Goiás].

Disponível em: .

Acesso em: fev. 2016.



Texto 3

Os cursos de língua inglesa também colaboram para a propagação da festa [de Halloween] em território nacional, pois valorizam e comemoram esta data com seus alunos: uma forma de vivenciar com os estudantes a cultura norte-americana e britânica.

Disponível em: . Acesso em: fev. 2016.

1. Você estudou a intervenção política e econômica norte-americana. Já os textos aqui citados mencionam outro tipo de intervenção. Você consegue identificar que tipo de intervenção é essa? Em sua opinião, o tipo de questão abordada nesses textos é uma forma de imperialismo? Justifique sua resposta.

2. Pesquise as origens históricas da celebração citada pelos textos.

3. Qual é sua opinião sobre as comemorações do halloween no Brasil?

Professor, as orientações e respostas referentes a esta seção estão no Manual do Professor.


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As revoluções

A forte intervenção norte-americana na economia dos países das Américas, a reor ganização econômica de alguns deles e o grande aumento populacional nas cidades primárias, que proporcionou o surgimento de uma vasta classe trabalhadora urbana, era o panorama da época. Ele fez surgir movimentos que questionavam tanto a intervenção americana nas demais economias da América Latina quanto os governos que incentivavam políticas de apoio ao imperialismo.



A Revolução Mexicana

Trinta e quatro anos depois da independência do México, subiu ao poder no país um grupo político de ideais liberais, que almejava alcançar a produtividade e a estabilidade econômica conseguidas pelos Estados Unidos após sua independência.

A essa época, os mexicanos já haviam perdido quase metade de seu território para os Estados Unidos na guerra travada entre 1846 e 1878, na qual o México tentou impedir a expansão da nova potência em seu território.

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Bridgeman Images/Keystone Brasil

Entrada das tropas dos Estados Unidos na Cidade do México. Litografia de Thomas S. Wagner e James Mc Guigan. 10,6 cm × 18 cm.

Os liberais buscavam assegurar a autonomia mexicana não só tentando manter seu território mas também por meio de medidas como a redução do poder político da Igreja – que havia se alinhado aos defensores do conservadorismo –, a retomada das terras pertencentes a ela e a retirada do catolicismo do papel de religião oficial do Estado mexicano. Assim como a Igreja, o exército, também partidário dos conservadores, perdeu muitas propriedades de terras e regalias.

No plano interno, em meio a tais acontecimentos, conservadores e liberais estavam em constante conflito. Os primeiros desejavam manter a sociedade mexicana sem grandes mudanças; já os outros pretendiam realizar algumas reformas econômicas e sociais com o intuito de modernizar o país.

A guerra entre eles chegou ao fim em 1857, com a vitória dos liberais. O primeiro representante destes a governar o México foi Benito Juárez, líder de origem indígena que implantou uma Constituição liberal, nacionalizou os bens da Igreja e procurou criar uma classe de pequenos produtores.

Os grandes proprietários de terra e a Igreja recorreram à ajuda externa para retomar o poder, mas os Estados Unidos, em plena Guerra de Secessão, não puderam ajudá-los. Os conservadores procuraram então a França, propondo a Napoleão III a criação de um protetorado francês sobre o México. Sendo assim, em 1863, as tropas francesas derrotaram os liberais e forçaram a substituição de Juárez por Maximiliano de Habsburgo, irmão do imperador da Áustria. Entretanto, a população mexicana opunha-se à presença de Maximiliano no poder.

Em 1867, tropas chefiadas por Benito Juárez depuseram e fuzilaram Maximiliano, abrindo espaço para a volta dos liberais ao poder, sob o comando do próprio Benito.

A Guerra de Secessão, ou Guerra Civil Americana, ocorreu nos Estados Unidos entre 1861 e 1865, marcando o embate entre os estados do sul – latifundiários, aristocratas e defensores da escravidão – e os estados do norte – industrializados e favoráveis à abolição. Os dois lados divergiam quanto às atividades econômicas regionais – e, por conseguinte, às políticas de importação e exportação adotadas – e à questão abolicionista.
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Stadtische Kunsthalle, Mannheim, Alemanha.

Édouard Manet. A execução do Imperador Maximiliano, 1867. Óleo sobre tela, 2,52 m × 3,05 m.

A partir de então, o governo de Juárez, ao mesmo tempo que combateu os setores reacionários da sociedade mexicana, abriu as portas do país aos investidores estran geiros, sobretudo aos estadunidenses, e à produção para o exterior, discriminou índios e mestiços pobres e substituiu a autonomia dos estados pelo centralismo. Tais medidas se consolidaram com a ditadura de Porfirio Díaz (1876-1911), durante a qual a elite de produtores e representantes dos capitais estrangeiros tomou conta da economia e das propriedades mexicanas como se o país fosse uma propriedade rural.

Durante o governo de Porfirio, o México reergueu sua agricultura, empregando técnicas modernas e consolidando a implantação do capitalismo agrário e exportador. Por outro lado, os setores de oposição foram duramente reprimidos, os estados perderam completamente sua autonomia, a população camponesa vivia sob condições de exploração e miséria e o operariado teve os salários congelados, situação que se opunha aos benefícios concedidos a uma minoria privilegiada.

Em 1910, deveria haver uma nova eleição presidencial, mas, como Díaz mantinha o controle do jogo eleitoral, sua vitória era tida como certa. Mesmo assim, Francisco Madero lançou-se candidato à Presidência.

Na época das eleições, Madero foi preso e as urnas deram mais uma vitória a Porfirio, que obteve 99% dos votos. Diante disso, era perceptível que Díaz provavelmente só seria derrubado pela força, motivo pelo qual Madero convocou o povo para se posicionar contra o governo, mesmo que fosse necessário um combate.

Em 20 de novembro de 1910, iniciou-se a revolução armada nas cidades de Puebla e Chihuahua. Em maio do ano seguinte, o ditador, derrotado, embarcou para a Europa e um governo provisório convocou eleições, vencidas por Madero. A administração de Madero caracterizou-se por algumas reformas democráticas e pela instabilidade militar, e também pelo descaso com os camponeses, os que mais necessitavam de medidas de auxílio.



Glossário
Reacionário: contrário à democracia, aquele que se opõe a qualquer mudança política ou social.
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Se no início do processo a hegemonia pertence aos liberais, no desenrolar dos acontecimentos os camponeses deixam de ser simplesmente uma classe-apoio da burguesia, apresentando seu projeto de revolução.

É esta singularidade que confere à Revolução Mexicana uma distinção radical em relação às numerosas lutas intraoligárquicas, típicas da história da América Latina.

A derrota dos exércitos camponeses nos campos de batalha permitirá ao Estado manipular as suas demandas e incorporar a mística de Villa e, sobretudo, Zapata ao projeto burguês de dominação. A especificidade dos vários movimentos revolucionários é diluída e surge uma nova burguesia pretensamente herdeira dos precursores e agentes da revolução. Este apagamento das diferenças e a realização de algumas reformas reivindicadas pelos dominados permitiram legitimar ideologicamente os novos donos do poder e preservar o regime político mais estável da América Latina neste século.

VILLA, Marco Antonio. A Revolução Mexicana. São Paulo: Ática, 1993. p. 8.

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© DAE/Studio Caparroz

Fonte: BETHELL, Leslie. História da América Latina: de 1870 a 1930. São Paulo: Edusp; Brasília: Fundação Alexandre de Gusmão, 2008. v. 5. p. 22.

Emiliano Zapata, líder dos camponeses do estado de Morelos, a princípio apoiou Madero. No dia 8 de junho de 1911, num encontro entre eles, Zapata mostrou a Madero que os camponeses exigiam a restituição de suas terras arrebatadas pelos latifundiários durante o governo de Porfírio Díaz. Madero procurou convencer Zapata de que a questão exigia tempo e os trâmites jurídicos deveriam ser respeitados.

Madero tomou o poder, aclamado como "o Redentor", mas os problemas econômicos, políticos e sociais herdados do governo de Porfirio permaneceram.



Emiliano Zapata Salazar (1879-1919) foi um mestiço, descendente de brancos e indígenas, cuja ocupação era treinar cavalos. Inconformado com o abandono da população pobre do México durante a gestão de Porfirio Díaz, Zapata organizou-se e lançou um manifesto, sob o lema “Terra e Liberdade”, unindo-se, a partir de então, a um grupo de indígenas e camponeses que realizavam ações de guerrilha, ocupavam e repartiam as terras dos grandes proprietários. Também fez alianças políticas com outros líderes na luta contra o governo autoritário de Díaz.
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Em novembro de 1911, os zapatistas proclamaram o Plano de Ayala, no qual exigiam a recuperação das terras usurpadas.

O plano [de Ayala] advertia que a “imensa maioria das gentes e cidadãos mexicanos não são mais donos senão do terreno que pisam”, e promulgava pela nacionalização total dos bens dos inimigos da Revolução, a devolução a seus legítimos proprietários das terras usurpadas pela avalanche latifundiária e a expropriação da terça parte das terras dos fazendeiros restantes. O Plano de Ayala converteu-se num ímã irresistível que atraía milhares e milhares de camponeses às fileiras do caudilho reformista. Zapata denunciava “a infame pretensão” de reduzir tudo a uma simples troca de pessoas no governo: a Revolução não era feita para isso.

GALEANO, Eduardo. As veias abertas da América Latina. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2007. p. 159.

O governo de Madero enviou exércitos bem equipados para combater as forças zapatistas, embora tal ação não tenha sido suficiente para derrotar o movimento revolucionário. Este tomou força com a população dos campos, que enfrentou a repressão, e as massas populares nas cidades, que por sua vez se organizaram em diversas associações com o intuito de derrubar o governo.

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Apic/Leemage/Getty Images

Mulheres mexicanas no exército revolucionário. Página do jornal francês Le Petit Journal, 16 nov. 1913.

A partir de então, ficou claro que o movimento revolucionário não reivindicava apenas mudanças políticas superficiais mas também transformações econômicas e sociais que tivessem efeito positivo sobre a vida da população pobre e trabalhadora – rural e urbana – do México.

Tendo em vista tais reivindicações, os Estados Unidos sentiram que seu interesse econômico no México poderia ser atrapalhado pelos ideais da revolução. Passaram então a apoiar as forças reacionárias, fomentando o golpe de Estado que levou ao poder, no lugar de Madero – fuzilado com outros membros do governo –, o general Victoriano Huerta, numa jogada aprovada pelo alto clero, pelos grandes industriais e comerciantes e pelos banqueiros ingleses, interessados nas riquezas minerais do país.

Entretanto, a subida ao poder nos Estados Unidos de um democrata – Woodrow Wilson – transformou a visão do país imperialista com relação aos governos autoritários. A nova administração americana defendia a formação de nações democráticas na América, o que, somado ao apoio inglês ao presidente Huerta, colocou os EUA contra o México, numa ação totalmente contraditória, visto que o país passou a se opor ao governo que ele mesmo ajudara a instituir.

Foi nesse momento que os Estados Unidos decidiram intervir no governo mexicano novamente, apoi ando as forças militares que depuseram Huerta, e colocaram em seu lugar o chefe militar e revolucionário Venustiano Carranza.

Nessa época, grandes reservas de petróleo haviam sido descobertas no território mexicano, o que aumentou o interesse dos Estados Unidos na política do vizinho, uma vez que os norte-americanos buscavam garantir a permanência de um governo favorável à sua interferência na economia local. Os ingleses, apesar da menor intervenção nos conflitos internos do país, tinham os mesmos interesses nas riquezas minerais mexicanas.


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A gestão de Carranza buscava conciliar a abertura do México para a exploração do petróleo pelos EUA com as reivindicações de melhores condições de vida e trabalho feitas pelos trabalhadores rurais e urbanos. Apesar disso, as camadas populares encontravam-se bastante insatisfeitas, e a oposição de Pancho Villa e Zapata atrapalhou a consolidação do regime.



Pancho Villa, como se denominava José Doroteo Arango, nasceu em Urango, no norte do México, em 1887. Trabalhador rural, aos 16 anos foi acusado de matar um fazendeiro que havia violentado sua irmã, sendo obrigado a fugir. Tornou-se, então, um “bandido” que saqueava fazendas para distribuir os produtos aos pobres. Após alistar-se no exército mexicano, lutou em 1910 contra a ditadura de Porfirio Díaz e a favor de Madero, com quem rompeu logo depois da vitória. Villa passou a ser a maior liderança revolucionária no norte do país, enquanto Zapata priorizou a luta no sul.

Pressionado pelo governo estadunidense, pelas companhias de petróleo, pelo clero, pelos latifundiários e pelos camponeses, Carranza ficou cada vez mais isolado e acabou sendo assassinado. O mesmo aconteceu com Zapata, em 1919, e Villa, em 1923. Pouco a pouco, a revolução foi imobilizada e institucionalizada. Contudo, o Estado oligárquico foi suprimido, uma reforma agrária realizada, o capital estrangeiro teve suas ações limitadas e a classe operária direitos garantidos, mas também uma nova elite política formou um Estado clientelístico e um sistema eleitoral corrupto.



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