Coleção História em Debate 2 História Ensino Médio



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Resgate cultural

Holi e o Festival das Cores

Todos os anos os habitantes da Índia e de vários países de cultura hindu saúdam o início da primavera, na primeira lua cheia do mês de março, no festival Holi. Essa festa popular guarda práticas culturais que representam a vitória do bem sobre o mal. Trata-se de uma celebração tradicional da religião hindu que perdura por milhares de anos.



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Ancient Art & Architecture Collection/Alamy/Glow Images

Krishna e Rahda comemorando o Holi com companheiros, c. 1775-1780. Pintura feita com guache exposta no Museu Victória & Albert, Londres, Inglaterra.

Durante o Holi é realizado o chamado Festival das Cores: milhares de pessoas saem às ruas para colorir umas às outras com bexigas cheias de água, pétalas, pó e tintas de diversas cores. Como outras práticas culturais relacionadas ao início da primavera, o arremesso de água e pó colorido celebra o começo do período de fertilidade e prosperidade – nas sociedades tradicionais de base agrícola, esse período é representado no imaginário como o tempo da renovação, já que as temperaturas se elevam e se podem plantar diversas espécies.

[...] Anualmente, o evento que reúne um maior número de pessoas e que mais chama a atenção é o Festival de Cores que se realiza no segundo dia de Holi e que consiste em lançar balões d’água, pétalas e pó de cores – denominados gulal – entre as pessoas que estão nas ruas, enquanto se desejam um “Feliz Holi”.

Os pós coloridos eram preparados inicialmente com ervas medicinais, mas com o tempo foram sendo incluídos materiais sintéticos para que o pó durasse mais tempo no corpo dos participantes e também para experimentar novas tonalidades. Ainda assim, as cores utilizadas não são escolhidas aleatoriamente, e sim devem transmitir alegria e desejos positivos. Assim, foram mantendo certas cores como tradicionais dentro da celebração, como o amarelo, que evoca piedade, o laranja, que representa otimismo, o azul, que simboliza a calma, o vermelho, que é usado para o amor e a pureza, e o verde para a vitalidade. Entre as novas cores a que mais se destaca é o rosa.

GAETE, Constanza Martínez. Trad. De Victor Delaqua. “Festival de Cores Holi”: Boas-vindas da primavera na Índia. Archdaily, 23 abr. 2013. Disponível em: . Acesso em: fev. 2016.

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TUSHAR SHARMA/CITIZENSIDE.COM/AFP Photos

Crianças brincando no festival de primavera Holi, Kisorimohanpur, Índia, 2015.

Adeptos da religião hindu influenciaram a cultura de diversos países ocidentais, os quais abrigam comemorações inspiradas no Festival das Cores – trata-se, em geral, de uma festa que celebra a alegria e a harmonia entre as pessoas. Recentemente várias festas de música eletrônica adotaram o uso do pó colorido em seus eventos; algumas chegam a utilizar o nome do festival indiano – no Brasil, por exemplo, elas ocorrem o ano todo, sem que guardem relação com o início da primavera. No entanto, trata-se de eventos esvaziados de sentido religioso em que foram atribuídos novos significados.



1. Forme um grupo com uns colegas e, juntos, pesquisem os novos significados do Holi para a juventude indiana: Que práticas culturais são aceitas durante o festival?

Professor, as orientações e a resposta referentes a esta seção estão no Manual do Professor.


Página 172

Debate interdisciplinar
Semelhanças e diferenças entre os sistemas linguísticos de China, Índia e Coreia

A língua chinesa, que tem mais de 1,2 bilhão de falantes no mundo, é composta de diversos dialetos e variações, como o mandarim e o cantonês, espalhados por todo o território chinês e também por países onde há comunidades chinesas. As trocas culturais constantes entre a China e outros países do Leste Asiático resultaram na influência do idioma chinês em línguas como o coreano, o japonês e o vietnamita. Por outro lado, recebeu influências de outras línguas devido às transações comerciais estabelecidas pela Rota da Seda. Muitas palavras do vocabulário chinês foram emprestadas de idiomas falados nos países ligados por essa rota, como a Índia e a Pérsia.

Algumas influências linguísticas da Índia ocorreram por meio do budismo. Nesse processo, missionários indianos traduziram documentos budistas, escritos em sânscrito, para o chinês. A importância da literatura budista na China cresceu à medida que China e Índia tornavam-se países cada vez mais próximos. Esse foi um período de muitas trocas culturais em diversas áreas, como a matemática, a música, a astronomia e a medicina. A tradução dos textos indianos para o chinês mantinha os dois países em contato constante, proporcionando também enriquecimentos linguísticos. Atualmente, há forte tendência à valorização do sânscrito na China. Existem até mesmo cantores pop escrevendo letras de música nessa língua.

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The Bridgeman Art Library/Keystone

Página do códice Madhandeya Purana, escrito em sânscrito, c. 1756.
Página 173

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The Bridgeman Art Library/Keystone

Certificado de nobreza chinesa, c. 1644-1661.

A língua oficial da Coreia, o coreano, é falada por 78 milhões de pessoas no mundo atualmente. Suas origens, segundo estudiosos, não são muito claras. Uma hipótese é que o coreano seja uma língua isolada, que não tem semelhanças com nenhuma outra língua do mundo. Entretanto, o uso do chinês na Coreia se dá desde o século IV. Por muito tempo, a escrita coreana foi uma adaptação dos caracteres chineses hanzi, chamados de hanja na Coreia. Por volta dos séculos XIX e XX, o alfabeto fonético coreano, chamado hangul, passou a ser mais utilizado e o hanja ficou para trás. Hoje em dia, é necessário saber hanja quando se deseja estudar a História da Coreia ou melhorar seu vocabulário em coreano, pois conhecer o hanja permite saber mais da etimologia das palavras, apesar de mesmo as palavras de origem chinesa serem escritas com o hangul a maior parte das vezes.

Estima-se que mais de 50% das palavras coreanas tenham origem chinesa. Esse grupo de palavras é chamado de vocabulário sino-coreano, e é composto de palavras emprestadas do chinês e palavras criadas em coreano tendo como base os caracteres chineses. O budismo também foi responsável por levar a cultura indiana à Coreia por meio de textos budistas traduzidos para o chinês.

Assim como a China abriga muitos idiomas e dialetos diferentes, a Índia conta com cerca de 1 652 línguas nativas, sendo o hindi o idioma oficial do país e o inglês secundário. O sânscrito, língua utilizada no budismo, além de ter influenciado as línguas faladas na China e na Coreia, também influenciou o japonês, pois o budismo tornou-se uma das principais religiões do arquipélago.



Atividade

1. Em virtude da chegada dos portugueses ao Japão entre os anos de 1542 e 1543, há muitas palavras japonesas cuja origem está na língua portuguesa. Os portugueses foram os primeiros a traduzir o japonês para uma língua ocidental. Missionários jesuítas elaboraram um dicionário e o publicaram em 1603. A maior parte das palavras de origem portuguesa no japonês refere-se a costumes e produtos que chegaram ao arquipélago por meio dos comerciantes portugueses. Você consegue identificar a palavra portuguesa que deu origem a cada uma destas palavras japonesas: arukôru, birôdo, iesu, agirisu, kappa, shabon, kompeitô, iruman, furasuko?

Professor, as orientações e a resposta referentes a esta seção estão no Manual do Professor.


Página 174

Testando seus conhecimentos

Responda no caderno

Professor, as respostas dissertativas desta seção estão no Manual do Professor.



1. (UERJ) A palavra “imperialismo”, no sentido moderno, desenvolveu-se primordialmente na língua inglesa, sobretudo depois de 1870. Seu significado sempre foi objeto de discussão, à medida que se propunham diferentes justificativas para formas de comércio e de governo organizados. Havia, por exemplo, uma campanha política sistemática para equiparar imperialismo e “missão civilizatória”.

WILLIAMS, Raymond. Um vocabulário de cultura e sociedade. São Paulo: Boitempo, 2007.

No final do século XIX, os europeus defendiam seus interesses imperialistas nas regiões africanas e asiáticas, justificando-os como missão civilizatória. Uma das ações empreendidas pelos europeus como missão civilizatória nessas regiões foi:

Alternativa a.



a) aplicação do livre-comércio

b) qualificação da mão de obra

c) padronização da estrutura produtiva

d) modernização dos sistemas de circulação

2. (Uesc-BA) No século XVII, os tecidos leves de algodão representavam 60% a 70% das exportações indianas. Com a industrialização, a Inglaterra produziu máquinas 350 vezes mais rápidas do que um operário indiano. Graças à posição dominante, a Inglaterra pôde introduzir livremente seus tecidos na Índia. O resultado foi que, em menos de um século, a indústria dos algodões indianos havia praticamente desaparecido.

(Ferro. In: Vicentino, p. 337)

A análise do texto e da relação entre Revolução Industrial, capitalismo e imperialismo permitem afirmar:

Alternativa e.



a) A Índia enfrentou a concorrência inglesa, porque dispunha de um maior número de operários.

b) Os tecidos ingleses, de pior qualidade que os indianos, pagavam altos impostos de circulação em âmbito local.

c) O imperialismo inglês, na Índia, baseou-se nos princípios da cooperação e do respeito às tradições do artesanato local.

d) A produção de tecidos foi desarticulada, porque os seus responsáveis desistiram da ajuda inglesa para a aquisição de máquinas modernas.

e) A “posição dominante” da Inglaterra decorrida do poder econômico oriundo do capitalismo industrial e do poder político e militar, decorrente do imperialismo.

3. (UFMG) Em relação à expansão imperialista na Ásia, na segunda metade do século XIX, pode-se afirmar que o Império Chinês foi:

Alternativa c.



a) anexado ao Japão anulando a ameaça imperialista.

b) desmembrado em colônias pelas potências europeias.

c) dividido em zonas de influência pelos países ocidentais.

d) incorporado ao Império Britânico compondo a Commonwealth.

4. (UERJ) “Se tivéssemos de definir o imperialismo da forma mais breve possível, diríamos que ele é a fase monopolista do capitalismo.”

LENIN, V. I. O imperialismo: fase superior do capitalismo. São Paulo: Global, 1987.

Indique, tomando como ponto de referência o texto acima, dois fatores que estimularam a expansão imperialista.

5. (UFPB) O texto a seguir, relativo ao imperialismo, apresenta lacunas que devem ser preechidas corretamente.

Alternativa a.

Com a Conferência de Berlim, em 1884-1885, consolida-se um processo conhecido como ________, expressão que indica um conjunto de ações e intervenções de nações europeias nesse continente, buscando novas colônias para assegurar o controle de mercados, especialmente de matérias-primas e de fontes de energia. Processo similar se verificou na Ásia, quando os europeus ocuparam boa parte do seu Sudeste. Assim, contra a ________, a Inglaterra empreendeu a ________, finalizada com o Tratado de Nankin, ampliando o acesso dos europeus a esse mercado.
Página 175

Responda no caderno

As lacunas são preenchidas, respectivamente, por:



a) Partilha da África/China/Guerra do Ópio

b) Partilha da Ásia/Índia/Revolta dos Cipaios

c) Partilha da África/África do Sul/Guerra dos Boêres

d) Partilha da Ásia/Indochina/Primeira Guerra do Vietnã

e) Partilha da Ásia/Coreia/Guerra dos Boxers

6. (Unirio-RJ) Foi essa consciência de nossa superioridade inata que nos permitiu conquistar a Índia. Por mais educado e inteligente que seja um indígena, por mais valente que ele se manifeste e seja qual for a posição que possamos atribuir-lhe, penso que jamais ele será igual a um oficial britânico.

(Lord Kitchener, in: PANIKKAR, K. M., A Dominação Ocidental na Ásia. Tradução de Nemésio Salles, Rio de Janeiro: Saga, 1965, p. 160.)

A expansão imperialista europeia sobre o continente asiático, ao longo do século XIX e o início do século XX, atingiu uma de suas principais expressões na dominação britânica sobre duas das mais antigas civilizações da Ásia: a China e a Índia.

Marque a opção a seguir que apresenta uma característica correta da dominação imperialista inglesa sobre a China ou a Índia.

Alternativa c.

a) Na Índia, a extinção do sistema religioso de castas favoreceu a inclusão dos indianos na sociedade inglesa, porque foram utilizados como mão de obra barata no parque industrial da Inglaterra.

b) Na China, a vitória militar dos ingleses sobre os exércitos imperiais chineses na Guerra do Ópio (1841) determinou a instalação do monopólio da Inglaterra sobre o comércio chinês de especiarias com o Ocidente.

c) Na Índia, a dominação britânica provocou a destruição da economia tradicional voltada para a subsistência e sustentada por manufaturas têxteis incapazes de concorrer com a produção inglesa de tecidos de algodão.

d) Na China, a hegemonia política e econômica inglesa impediu a atuação de outras potências imperialistas porque isolou o território chinês pelo Tratado de Pequim (1860).

e) Na Índia, uma alta burocracia de indianos exercia a administração das áreas conquistadas para reduzir os custos elevados gerados pelos gastos militares com dominação imperialista.

Para você ler

O que é imperialismo, de Afrânio Mendes Catani. São Paulo: Brasiliense, 2002. Esse livro examina o fenômeno do imperialismo, que se caracteriza pela expansão territorial e econômica das grandes potências por meio do estabelecimento de colônias em diferentes regiões do globo.



Para você assistir

O motim, direção de Ketan Mehta. Índia, 2005, 144 min. Depois de cem anos sendo explorados pela Companhia Britânica das Índias Orientais, os indianos começam a vislumbrar a ideia de revolução e mudança. Em dura batalha, Mangal Pandey lidera o povo em motim contra o império estrangeiro.

Lagaan – era uma vez na Índia, direção de Ashutosh Gowariker. Índia, 2001, 225 min. Quando o Império Britânico ameaça dobrar o imposto cobrado dos moradores de uma pequena vila na Índia Vitoriana, o jovem Bhuvan propõe uma maneira inusitada de resolver a questão: jogadores veteranos de críquete disputariam contra os moradores da vila pelo controle do local.

A Guerra do Ópio, direção de Xie Jin. China, 1997, 110 min. Em 1839, negociantes britânicos de ópio são executados porque o comércio da droga está destruindo o Império. Depois que a China queima 20 mil caixas de ópio, a Inglaterra declara guerra, pois o ópio queimado era propriedade de um importante comerciante britânico.


Página 176

6 África: do escravismo ao imperialismo

Neste capítulo
A escravidão na África
O comércio de pessoas
O colonialismo europeu
O imperialismo e a partilha da África
Movimentos de resistência


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Fototeca/Leemage/Glow Images



O mercado de escravos em Zanzibar (África), 1871.

Ao analisar as relações imperialistas no século XIX, percebemos que o continente africano foi o mais submetido ao domínio europeu. Seu território foi dividido entre as potências econômicas do período e serviu tanto como região fornecedora de matéria-prima para a indústria e posteriormente de mão de obra para as colônias quanto como mercado consumidor para os produtos dos dominadores.

A partilha do continente pelos países europeus não respeitou a multiplicidade étnica, as distintas organizações políticas e a grande diversidade cultural dos povos africanos.
Página 177

A milenar cultura africana foi uma das mais subjugadas pelos povos colonizadores, tendo em vista a opressão e a escravização às quais foi submetido o povo africano.

Neste capítulo estudaremos a partilha imperialista da África, bem como os processos e mecanismos utilizados pelos países africanos na busca pela união das culturas e territórios separados pelo imperialismo europeu.
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A escravidão na África

Assim como outras regiões, a África esteve intimamente ligada à história da escravidão, por servir como fonte principal de mão de obra escrava para as sociedades antigas, o mundo islâmico, a Índia e as Américas e ser uma das regiões onde a escravidão era mais comum.

A escravidão já existia no continente africano séculos antes do início do tráfico de escravos realizado pelos portugueses, mas sem o caráter mercantil que foi incorporado a essa prática. Havia diversas formas de escravidão doméstica, o que não caracterizava o escravo como um produto a ser consumido, ele era uma ferramenta a mais para ajudar na colheita, caça, pecuária, mineração e nas campanhas bmilitares; enfim, atividades do cotidiano de agrupamentos familiares, aldeias, cidades etc.

[...] A maior fonte de escravos sempre foram as guerras, com os prisioneiros sendo postos a trabalhar ou sendo vendidos pelos vencedores. Mas um homem podia perder seus direitos de membro da sociedade por outros motivos, como a condenação por transgressão e crimes cometidos, impossibilidade de pagar dívidas, ou mesmo de sobreviver independentemente por falta de recursos. [...]

Se considerarmos a escravidão como: situação na qual a pessoa não pode transitar livremente nem pode escolher o que vai fazer, tendo, pelo contrário, de fazer o que manda o seu senhor; [...] situação na qual o escravo não é visto como membro completo da sociedade em que vive, mas como ser inferior e sem direitos, então a escravidão existiu em muitas sociedades africanas bem antes de os europeus começarem a traficar escravos pelo oceano Atlântico. [...]

SOUZA, Marina de Mello e. África e Brasil africano. São Paulo: Ática, 2006. p. 47.

Havia diferentes formas de organização social e também vários modos de escravidão na África. Entre alguns povos africanos, por exemplo, os escravos acabavam se tornando membros da sociedade, já que, entre eles, a condição de escravo não designava uma classe social, e sim o tipo de atividade desempenhado pelos trabalhadores. Havia, inclusive, casos de sociedades em que os escravos podiam, se fossem fiéis a seus senhores, assumir cargos de grande prestígio local.

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Prisma/Album Art/Latinstock

Hildibrand. Mercado de escravos em Zanzibar, 1882. Gravura.

Variava, por exemplo, de região para região, de cultura para cultura e de grupo para grupo, o número de pessoas habitualmente aprisionadas e postas a trabalhar à força pelos captores. [...]

O escravo de um grupo agrícola era utilizado de modo distinto ao de um grupo predominantemente pastoril. Aqui, seria tratado como pessoa da família, ou quase, a comer na mesma gamela que o amo. Ali, com a violência e as humilhações que merece o inimigo – nu ou com um trapo amarrado à virilha, a alimentar-se de restos lançados ao chão, sem conhecer descanso entre os empurrões e as bofetadas. Acolá, com o mesmo cuidado que uma cabra ou uma ovelha, uma vez que tinha, como esses animais, valor de uso e troca. [...]

SILVA, Alberto da Costa e. A manilha e o libambo: a África e a escravidão de 1500 a 1700. Rio de Janeiro: Nova Fronteira; Fundação Biblioteca Nacional, 2002. p. 80-81.



Organizando ideias

1. Levante hipóteses sobre o que significa a escravização do ponto de vista do escravo. Depois, apresente-as em sala de aula e busque documentos para comprovar ou confrontar as questões apontadas.

Professor, as orientações e a resposta referentes a esta seção estão no Manual do Professor.


Página 179

As religiões e a escravidão

Embora as três grandes religiões monoteístas – cristianismo, islamismo e judaísmo – incentivem, em seus preceitos, o respeito ao próximo, o tema “escravidão” provocou reações distintas entre os representantes religiosos ao longo dos anos, que, geralmente de acordo com os interesses de suas instituições, assumiram diferentes posturas no que diz respeito à utilização do trabalho escravo e ao tratamento dispensado aos escravizados.

No cristianismo, por exemplo, Paulo de Tarso (século I), um de seus maiores difusores, apesar de ter afirmado que, perante Cristo, não existe senhor ou escravo, não se opôs ao sistema escravista romano. Já Agostinho de Hipona (354-430) dizia que a escravidão era consequência do pecado, motivo pelo qual o indivíduo merecia ser escravizado. Para Tomás de Aquino (1225-1274), embora a escravidão fosse dolorosa, era útil e necessária. No século XVI, os europeus passaram a utilizar um velho argumento árabe: como os africanos descendiam dos filhos de Cam, que fora amaldiçoado por Noé (relato bíblico), eram escravos.

Algumas vozes se opuseram ao tráfico negreiro e à violência da escravidão, embora pouquíssimas tenham chegado a propor sua abolição, ao menos nos séculos XVI e XVII, pois era difícil imaginar o funcionamento da América Portuguesa sem o trabalho do africano escravizado. Para o Padre Antonio Vieira, por exemplo, a escravização de indígenas era uma perversão moral, sobretudo os que não eram escravizados segundo os critérios da “guerra justa”. No caso dos africanos, contudo, ele pregava que aceitassem sua condição e os infortúnios, pois seus sofrimentos eram semelhantes aos de Cristo. Caso suportassem sem se revoltar, assim como Cristo, alcançariam a redenção.

Entre os islâmicos, a escravização de não muçulmanos era aceita, não importando a etnia. Já entre os judeus, a relação tinha dois vieses: quando se tratava de escravizados de origem judaica, que se encontravam em tal condição devido a dívidas, roubos ou outros motivos, o tratamento era brando e durava o tempo limitado de sete anos; já no que se referia a escravos africanos, o tratamento e o tráfico ocorreram de maneira bem parecida com a que aconteceu na América Portuguesa, por exemplo.

Em suma, os fundamentos legais da escravidão, bem como os preconceitos em relação ao escravizado, não variavam muito, independentemente da orientação religiosa. Muçulmanos e cristãos, no início da Era Moderna, traf icaram e escravizaram seres humanos, sem considerar as possíveis restrições humanitárias que seus credos, em tese, propagavam.



Organizando ideias

A Mauritânia, um país localizado na costa ocidental da África, foi o último país do mundo a abolir a escravidão, em 1981. Contudo, somente em 2007 essa prática se tornou crime, sendo processado e condenado um único senhor de escravos. De 4% a 17% da população (dados da ONU em 2015) vive na condição de escravo, mas o governo do país nega-se a reconhecer que a prática escravista ainda exista.

A vastidão de seus territórios, os amplos domínios do Deserto do Saara e a baixa densidade populacional dificultam a execução das leis, sobretudo nas áreas rurais, onde os senhores de escravos mantêm-se quase escondidos. Por ser uma nação muito pobre, com altos índices de analfabetismo, na qual quase metade da população sobrevive com 2 dólares por dia, a procura por uma vida fora da escravidão é tarefa muito difícil.

Alguns líderes religiosos locais, os imãs, principalmente nas zonas rurais, têm sido historicamente favoráveis à escravidão. Eles afirmam que a submissão é uma maneira de alcançar o paraíso.

Com base no texto, faça o que se pede.


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