De descartes



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vida para salvar um filho que nos faz sentir bem; mas a ideia de

näo o salvar e de perde lo faz que nos sintamos muito pior do

que com o risco imediato. Por outras palavras, a escolha decorre

entre a dor imediata e a recompensa futura e entre a dor ime 

diata e a dor futura @da maior. (Um exemplo comparável é a

aceitaçäo dos riscos de combate numa guerra. No passado, a es 

trutura social em que as guerras «morais» eram travadas inclura

uma recompensa positiva para os que sobreviviam ao comba 

te, e a vergonha e a desgraça para aqueles que se recusavam a

participar nelas.)

Significa isto que näo há verdadeiro altruisme? Será esta

uma perspectiva demasiado cinica do espirito humano? Julgo

que näo. Em primeiro lugar, a verdade do altruismo, ou de

qualquer comportamento equivalente, tem a ver com a relaçäo

entre aquilo em que internamente acreditamos, sentimos ou ten 

cionamos fazer e aquilo que exteriormente declaramos acreditar,

sentir ou querer. A verdade näo se encontra nas causas fisiológi 

cas que nos fazem acreditar, sentir ou querer de uma deter 

minada forma. As crenças, os sentimentos e as intençöes säo o

resultado de uma série de factores radicados nos nossos orga 

nismos e na cultura em que nos encontramos imersos, mesmo

que esses factores possam ser remotos e näo nos apercebamos

deles. E existera motivos neurofisiológicos e educativos que

fazem que algumas pessoas sejam honestas e generosas   que

assim seja. Mas isso näo significa que a sua honestidade e os

seus sacrificios tenham menos mérito. Além disso, compreender

os mecanismos neurobiolôgicos subjacentes a alguns aspectos

da cogniçäo e do comportamento näo diminui o valor, a beleza

ou a dignidade dessa cogniçäo ou comportamento.

Em segundo lugar, apesar de a biologie e a cultura deter 

minarem muitas vezes o nosso raciocinio, directa ou indirec 

tamente, e aparentemente limitarem o exercicio da liberdade

individual, temos de admitir que os seres humanos contam com

algiinia margem para essa liberdade, para quererem e executa 


A HLPOTESE DO MARCADOR SOMATICO 189


rem acçöes que podem ir contra a aparente determinaçäo da

biologia e da cultura. Algumas atitudes humanas sublimes

advêm da rejeiçäo do que a biologia ou a cultura impelem os

individuos a fazer. Essas atitudes säo a afirmaçäo de um novo

nivel de existência em que é possivel inventar novos artefactos

e criar modos mais justes de viver. Em determinados cir 

cunstäncias, porém, a libertaçäo das condicionantes biológicas

e culturais pode ser também um sinal de loucura e alimentai as

ideias e os actos do louco.

MARCADORES SOMATICOS: DE ONDE VEM?

Qual a origem dos marcadores somáticos em te=os neurais? Como

foi que desenvolvemos mecanismos täo úteis? Nascemos com eles? E, se

näo nascemos, como surgiram entäo?

Como vimos no capitulo anterior, nascemos com a maquinaria neural

necessária à criaçäo de estudos somáticos em resposta a determinados

categorias de estimulos, a maquinaria das emoçöes primárias. Esta maqui 

naria encontra se inerentemente preparada para processar sinais relati 

vos ao comportamento pessoal e social, e integra, à partida, disposiçöes

que ligam um grande número de situaçöes sociais com respostas somá 

ticas adaptativas. Certas descobertas em seres humanos normais estäo de

acordo com esta perspective, e o mesmo parece suceder com a evidência

acerca de padröes complexes de cogniçäo social que se encontram nou 

tros mamiferos e nas avesl. Todavia, a maior parte dos marcadores somá 

ticos que usamos para a tomada racional de decisöes foi provavelmente

criada nos nossos cérebros durante o processo de educaçäo e socializaçäo,

através da associaçäo de categorias especificos de estimulos a categorias

especificas de estudos somáticos. Por outras palavras, os marcadores ba 

seiam se no processo das emoçöes secundárias.

A constituiçäo de marcadores somáticos adaptativos requer que tanto

o cérebro como a cultura sejam normais. Quando o cérebro ou a cultura

säo deficientes, é improvável que os marcadores somáticos sejam adap 

tativos. Um exemplo do primeiro caso é o que encontramos em alguns

doentes afectados por um estado conhecida por sociopatia ou psicopatia

evolutiva.

Conhecemos bem os sociopatas ou psicopatas evolutivos através das

noticias que nos chegam diariamente. Roubam, violam, matam, mentem.

O limiar a partir do qual as suas emoçöes podem ser desencadeadas é täo

190 O ERRO DE DESCARTES


alto que nada os parece afectar, e säo, de acordo, aliás, com os relates que

däo de si próprios, insensfveis e indiferentes. Säo a imagem exacta da

cabeça fria que nos dizem que devemos manter a fim de agirmos correcta 

mente. Os psicopatas repetem os seus crimes, com frequência, a sangue 

 frio e com clara desvantagem para todos, incluindo eles próprios. Säo, de

facto, um outro exemplo de um estado patológico em que uma dimi 

nuiçäo da racionalidade se faz também acompanhar de diminuiçäo ou

ausência de sentimentos. É sem dúvida possivel que a sociopatia evolu 

tiva provenha de uma disfunçäo dentro do mesmo sistema geral que foi

afectado em Gage, ao nivel cortical ou subcortical. Mas, em vez de resultar

de lesöes macroscópicas súbitas que têm lugar na idade adulta, a limita 

çäo dos sociopatas evolutivos deve provir de redes de circuitos anómalas

e de sinais quimicos também anómalos que se registam no inicio do

desenvolvimento individual. A compreensäo da neurobiologia da socio 

patia poderia levar à prevençäo ou ao tratamento deste problema. Poderia

também ajudar a compreender até que ponto os factores sociais intera 

gem com os biológicos para agravarem o estado patológico ou aumenta 

rem a sua frequência e, inclusivamente, levar a compreendér estudos que

se podem afigurar superficialmente semelhantes mas poderäo ser deter 

minados, na sua maior parte, por factores socioculturais.

Quando a maquinaria neural que sustenta a constituiçäo e o desenvol 

vimento dos marcadores somáticos é afectada na idade adulta, como foi

no caso de Gage, o dispositivo do marcador somático deixa de funcionar

devidamente, mesmo que até ali se tenha mostrado normal. Uso o termo

sociopatia «adquirida», como forma abreviada de descrever uma parte

dos comportamentos desses doentes, apesar de os meus doentes e os so 

ciopatas evolutivos revelarem diferenças várias, em particularno facto de

os meus doentes sá raramente serem violentes.

O efeito de uma «cultura doentia» sobre um sistema de raciocinio

adulto normal parece me menos dramático do que o efeito de uma lesäo

cerebral numa área especifica desse mesmo sistema adulto normal. No

entanto, há contra exemplos. Na Alemanha e na Uniäo Soviética, durante

os anos 30 e 40, na China durante a Revoluçäo Cultural e no Cambodia du 

rante o regime de Pol Pot, para referir apenas os casos mais óbvios, uma

cultura doentia predominou sobre uma maquinaria normal da razäo,

com consequências desastrosas. Receio que grandes sectores da socie 

dade ocidental se estejam gradualmente a transformar noutros contra 

 exemplos trágicos.

Os marcadores somáticos säo, pois, adquiridos através da experiência,

sob o controlo de um sistema intemo de preferências e sob a influência de

um conjunto externe de circunstäncias que incluem näo só entidades e

A HIPOTESE DO MARCADOR SOMATICO 191


fenómenos com os quais o organisme tem de interagir mas também con 

vençöes sociais e regras éticas.

A base neural para o sistema interne de preferências consiste, sobre 

tudo, em disposiçöes reguladoras inatas com o fim de garantir a sobrevi 

vência do organisme. Conseguir sobreviver é coincidente com conseguir

reduzir os estudos do corpo desagradáveis e atingir estudos homeostá 

ticos, i. e. estudos biológicos funcionalmente equilibrados. O sistema

interne de preferências encontra se inerentemente preparada para evitar

a dor e procurar o prazer, e está provaveknente pré sintonizado à partida

para alcançar esses objectivos em situaçöes sociais.

O conjunto de circunstäncias externas abrange os objectes, o meio

ambiente fisico e os acontecimentos em relaçäo aos quais os individuos

devem agir; opçöes possiveis de acçäo; possiveis resultados futuros para

essas acçöes; e o castigo ou a recompensa que acompanham uma certa

opçäo, tanto de imediato como após determinado intervalo de tempo, à

medida que as consequências da acçäo escolhida se desdobram. No inicio

do desenvolvimento individual, o castigo e a recompensa säo aplicados

näo só pelas próprias entidades mas também pelos pais e outras figuras

tutelares, que habitualmente materializam as convençöes sociais e a ética

da cultura a que o organisme pertence. A interacçäo entre um sistema in 

temo de preferências e conjuntos de circunstäncias externas aumenta o

repertório de estimulos que serao marcados automaticamente.

O conjunto critico e formativo de estimulos para os emparelhamentos

somáticos é, sem dúvida, adquirido na infäncia e na adolescência. Mas o

crescimento do número de estimulos somaticamente marcados termina

apenas quando a vida chega ao fim, pelo que é adequado descrever esse

crescimento como um processo contínuo de aprendizagem.

Ao nivel neural, os marcadores somáticos dependem da aprendiza 

gem dentro de um sistema que possa associar determinados tipos de en 

tidades ou fenómenos com a produçäo de um estado do corpo, agradável

ou desagradável. A propósito, é importante näo restringir o significado

do castigo e da recompensa que ocorrem nas interacçöes sociais. A au 

sência de recompensa pode constituir um castigo e revelar se desagra 

dável, tal como a ausência de castigo pode constituir uma recompensa e

ser bastante agradável. O elemento decisivo é o tipo de estado somático

e de sentimento produzido num dado individus, em dado ponto da sua

história, numa dada situaçäo.

Quando a escolha da opçäo X, que leva ao mau resultado Y, é seguida

de castigo e, deste modo, de estudos corporais dolorosos, o sistema do

marcador somático adquire a representaçäo oculta de disposiçöes desta

ligaçäo näo herdada, a qual é arbitrária e motivada pela experiência. A

192 O ERRO DE DESCARTES


reexposiçäo do organisme à opçäo X, ou aos pensamentos sobre o resulta 

do Y, terá agora o poder de voltar a produzir o estado corporal doloroso

e servir, assim, como um avisador automatizado das consequências nega 

tivas que adviräo dessa opçäo. Isto é uma simplificaçäo excessiva, mas

consegue transmitir o processo básico tal como o vejo. Como irei escla 

recer mais adiante, os marcadores somáticos podem actuar de forma

oculta (näo é necessário a sua percepçäo consciente) e podem desem 

penhar outras funçöes úteis para além da de enviar sinais de,

«Avançar!»

UMA REDE NEURAL

PARA OS MARCADORES SOMATICOS

O sistema neural critico para a aquisiçäo da sinalizaçäo pelos marca 

dores somáticos situa se nos córtices pré frontais, onde é, em grande

parte, coextensivo com o sistema das emoçöes secundárias. A posiçäo

neuroanatómica dos córtices pré frontais é ideal para esta finalidade,

pelos motivos já apontados.

Em primeiro lugar, os córtices pré frontais recebem sinais de todas as

regiöes sensoriais onde se formam as imagens que constituera os nossos

pensamentos, incluindo os córtices somatossensoriais, em que os estudos

do corpo passados e presentes säo constantemente representados. Quer

os sinais tenham origem nas percepçöes relacionadas com o mundo exte 

rior ou em pensamentos que estejamos a ter sobre esse mesmo mundo,

quer nos acontecimentos do corpo propriamente dito, o córtice pré fron 

tal recebe esses sinais. Isto aplica se a todos os diferentes sectores desses

córtices, porque os diversos sectores frontais estäo ligados entre si dentro

da regiäo frontal. Deste modo, os córtices pré frontais contêm algumas

das poucas regiöes cerebrais com acesso aos sinais sobre praticamente

toda a actividade que ocorre em qualquer «ponto» na mente ou no corpo

dos nossos sereS7 . (Os córtices pré frontais näo säo os unicos pontos de

escuta; um outro ponto de escuta é o córtex entorinal, a porta fronteira

para o hipocampo.)

Em segundo lugar, os córtices pré frontais recebem sinais de vários

sectores biorreguladores do cérebro humano. Incluem se aqui os núcleos

neurotransmissores situados no tronco cerebral (por exemplo, aqueles

que distribuera dopamina, norepinefrina e serotonina) e no prosencéfalo

basal (aqueles que distribuera acetilcolina), assim como a amigdala, o


A HIPOTESE DO MARCADOR SOMA OCO 193


cingulo anterior e o hipotálamo. Poder se ia dizer a este respeito que os

córtices pré frontais recebem mensagens de todo o pessoal do Service de

Padröes e Medidas. As preferências inatas do organisme relacionádas

com a sua sobrevivência   o sistema de valores biológicos, por assim

dizer   säo transmitidas aos córtices pré frontais através desses sinais,

fazendo deste modo parte intégrante do mecanismo de raciocinio e to 


mada de decisöes.

Os sectores pré frontais ocupam uma posiçäo privilegiada relati 

vamente a outros sistemas do cérebro. Os seus córtices recebem os sinais

sobre o conhecimento factual, já existente ou que vai chegando, relacio 

nado com o mundo exterior; sobre as preferências biológicas reguladoras

inatas; e sobre o estado do corpo, anterior e actual, à medida que é cons 

tantemente alterado por esse conhecimento e por essas preferências. Näo

causará surpresa o facto de todos eles estarem täo envolvidos no tema que

vou abordar seguidamente: a categorizaçäo da nossa experiência de vida

de acordo com diversas dimensöes contingentes.

Em terceiro lugar, os próprios córtices pré frontais representam cate 

gorizaçöes das situaçöes em que o organisme tem estado envolvido, as

quais säo classificaçöes da nossa experiência da vida real. Quer isto dizer

que as redes pré frontais estabelecem representaçöes de disposiçöes para

certas combinaçöes de coisas e fenómenos, na nossa experiência indi 

vidual, de acordo com a releväncia pessoal dessas coisas e fenómenos.

Passo a explicar. Por exemplo, na sua própria vida, os encontros com um

determinado tipo de pessoa simpática mas autoritária podem ter sido se 

guidos de uma situaçäo em que se sentiu diminuido ou, pelo contrário,

poderoso; ao ser impelido para um papel de lider, isso pode ter feito reve 

lar as suas melhores qualidades, ou as piores; as estadas no campo podem

torná lo melancólico, ao passo que o oceano o pode ter transformado

num romäntico incurável. O seu vizinho do lado pode ter passado pela

experiência exactamente oposta, ou pelo menos por uma experiência di 

ferente. É aqui que se aplica a noçäo de colitingência: é algo só seu que se

relaciona com a sua experiência, algo relative a acontecimentos que

variam de individus para individus. A experiência que cada um de nós

teve com puxadores de porta ou cabos de vassoura é menos contingente,

uma vez que, no seu todo, a estrutura e o funcionamento dessa categoria

de entidades säo consistantes e previsfveis.

As zonas de convergência localizadas nos córtices pré frontais cons 

tituem, deste modo, o repositôrio de disposiçöes das contingências ca 

tegorizadas da nossa experiência de vida. Se lhe pedir para pensar em

casamentos, essas representaçöes de disposiçöes pré frontais têm a chave

para essa categoria e podem reconstituir, no espaço imaginário da sua
Forum da Ciência 29   13

194 O ERRO DE DESCARTES


mente, várias cenas de casamentos. (Näo esqueça que, em termos neurais,

as reconstruçöes näo têm lugar nos córtices pré frontais, mas antes em di 

versos córtices sensoriais iniciais onde se podem formar representaçöes

topograficamente organizadas.) Se eu lhe falar de casamentos judeus ou

de casamentos católicos, talvez consiga reconstruir o conjunto adequado

de imagens categorizadas e conceptualizar um tipo de casamento ou ou 

tro. Além disso, talvez me consiga até dizer se gosta de casamentos, qual

o tipo que prefere, e assim por diante.


Toda a regiäo pré frontal parece consagrada à categorizaçäo de contin 

gências na perspective da sua importäncia pessoal. Este facto foi estabe 

lecido pela primera vez no trabalho de Brenda Milner, Michael Petrides

e Joaquim Fusterl para o sector dorso lateral. O trabalho desenvolvido no

meu laboratório corrobora näo só estas observaçöes mas sugere também

que as outras estruturas frontais, no pólo frontal e nos sectores ventrome 

dianos, näo säo menos criticas para o processo de categorizaçäo.

As contingências categorizadas constituera a base para a produçäo de

cenários ricos em resultados futuros, os quais säo necessários para a ela 

boraçäo de previsöes e para o planeamento. O nosso raciocinio toma em

consideraçäo metas e escalas temporais para a concretizaçäo dessas

metas, e necessitaremos de uma grande quantidade de conhecimentos

pessoalmente categorizados se quisermos prever o desenrolar e os re 

sultados de cenários relativos a metas especificas, nos enquadramentos

temporais adequados.

É provável que os dominios do conhecimento estejam categorizados

em diferentes sectores pré frontais. Deste modo, os dominios biorregu 

lador e social parecem ter alguma afinidade com os sistemas no sector

ventromediano, enquanto os sistemas na regiäo dorso lateral parecem

alinhar se com dominios que incluem o conhecimento do mundo exterior

(entidades tais como objectes e pessoas: as suas acçöes no espaço tempo;

a linguagem; a matemática; a música).


Uma quarta razäo por que os córtices pré frontais säo idealmente

adequados à participaçäo no raciocinio e na decisäo é o facto de se en 

contrarem directamente ligados a todas as vias de resposta motora e

quimica existentes no cérebro. Os sectores dorso lateral e mediano supe 

rior podem activar os córtices pré motores e, a partir dali, controlarem o

chamado córtex motor primário (M,), a área motora suplementar (M,) e

a terceira área motora (M3)1. A maquinaria motora subcortical dos gänglios

basais é igualmente acessível para os córtices pré frontais. Por último,

mas nem por isso de somenos importäncia, como o demonstrou pela

primera vez o neuroanatomista Walle Nauta, os córtices pré frontais

ventromedianos enviam sinais para os efectores do sistema nervoso autó 

A HIPOTFSF DO MARCADOR SOMANCO 195


nomo e podem promover respostas quimicas associadas à emoçäo, fora

do hipotálamo e do tronco cerebral. Esta demonstraçäo näo foi pura coin 

cidência. Nauta foi um neurocientista excepcional na importäncia que

atribuiu à informaçäo visceral no processo cognitivo. Em conclusäo, os

córtices pré frontais e em particular o seu sector ventromediano säo

ideahnente adequados à aquisiçäo de uma ligaçäo triangular entre os si 

nais respeitantes a tipos especificos de situaçöes; os diferentes tipos e

grandezas dos estudos do corpo que foram associados a certos tipos de

situaçöes na experiência única do individus; e os efectores daqueles es 

tados do corpo. Os pisos superiores e inferiores do edificio neural inter 

ligam se harmoniosamente nos córtices pré frontais ventromedianos.

MARCADORES SOMATICOS:

TEATRO NO CORPO OU TEATRO NO CÉREBRO?

Dada a discussäo prévia que tivemos sobre a fisiologia das emoçöes,

deve estar à espera de dois mecanismos para o processo do marcador so 

mático. Em virtude do mecanismo básico, o corpo é levado pelos córtices

pré frontais e pela amigdala a assumir um deterrninado perfil de estado,

cujo resultado é ulteriormente assinalado ao córtex somatossensorial,

consultado e tornade consciente. No mecanismo alternative, o corpo é

transposto e os córtices pré frontais e a amigdala limitam se a dizer ao

córtex somatossensorial que se organize de acordo com o padräo explicito

de actividade que teria assumido caso o corpo tivesse atingido o estado

desejado e informado o córtex de acordo com esse estado. O córtex so 

matossensorial funciona como se estivesse a receber sinais sobre um

determinado estado do corpo, e, muito embora o padräo de actividade

«como se» näo possa ser exactamente igual ao padräo de actividade origi 

nado por um estado do corpo real, pode, mesmo assim, influenciar a
tomada de decisäo.

Os mecanismos «como se» säo uma consequência do desenvolvimento

individual. É provável que, à medida que fomos sendo socialmente

«sintonizados» na infäncia e na juventude, a maior parte das nossas de 

cisöes fossem sendo moldadas por estudos somáticos relacionados com

castigos ou recompensas. Mas ao crescermos, e com a categorizaçäo das

situaçöes repetidas, teria diminuido a necessidade de contar com os es 

tados somáticos para cada caso de tomada de decisäo e ter se ia de 

senvolvido mais um nivel de autonomia económica. As estratégias de

196 O ERRO DE DESCARTES


tomada de decisäo teräo começado a depender, em parte, de «simbolos»

dos estudos somáticos. Em que medida dependemos desses simbolos

«como se» em vez da realidade, eis uma questäo empirica importante.

Julgo que esta dependência varia bastante de pessoa para pessoa e de te 

ma para tema. O processamento simbólico pode ser vantajoso ou perni 

cioso, consoante o tema e as circunstäncias.


MARCADORES SOMATICOS MANIFESTOS

E OCULTOS

O próprio marcador somático tem mais de uma via de acçäo; uma de 

las é através da consciência, a outra fora da consciência. Quer os estudos

corporais sejam reais quer sejam simulados «

correspondente pode ser tornade consciente e constituir um sentimento.

No entanto, apesar de muitas escolhas importantes envolverem sentimen 

tos, uma boa parte das nossas decisöes quotidianas decorre aparente 

mente sem eles. Isso näo significa que näo se tenha registado a avaliaçäo

que leva normalmente a um estado do corpo; ou que o estado do corpo ou

o seu substituto simulada näo tenham sido criados; ou que o mecanismo

disposicional de regulaçäo subjacente ao processo näo tenha sido activa 

do. Muito simplesmente, o sinal de um estado do corpo ou de um seu

substituto pode ter sido activado mas näo constituir o centro da atençäo.

Sem esta última, nenhum deles fará parte da consciência, apesar de

qualquer deles poder integrar uma acçäo oculta sobre os mecanismos que


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