dades respectivas daqueles sectores do cérebro. Por outras palavras: o
âmago cerebral antigo encarregar se ia da regulaçäo biológicabásica, na
cave, enquanto nos andares de cima o neocórtex deliberaria com sensatez
e subtileza. Em cima, no córtex, encontrar se ia a razäo e a força de von
tade, enquanto em baixo, no subcórtex, se encontraria a emoçäo e todas
aquelas coisas fracas e cannais.
Contudo, esta opiniäo näo dá conta do arranjo neural subjacente à
tomada racional de decisöes, t,al como eu o vejo. Por um lado, näo é
compativel com as observaçöes discutidas na primera parte. Por outro,
existera provas de que a longevidade, um presumivel reflexo da quali
dade do raciocinio, está relacionada näo só com o maior tamanho do
neocórtex, como seria de esperar, mas também com o maior tamanho do
hipotálamo, que é a principal divisäo da «cave cerebral>@'. A aparelhagem
da racionalidade, tradicionalmente considerada neocortical, näo parece
funcionar sem a aparelhagem da regulaçäo biológica, tradicionalmente
considerada subcortical. Parece que a natureza criou o instrumento da ra
cionalidade näo apenas por cima do instrumento de regulaçäo biológica
mas tambéma partirdele e com ele. Os comportamentos que se encontram
para além dos impulsos e dos instintos utilizam, em meu entender, tanto
o andar superior como o inferior: o neocórtex é recrutadojuntamente colti
o mais antigo cerne cerebral, e a racionalidade o resultado das suas activi
dades concertadas.
Surge aqui uma questäo interessante: até que ponto estäo os processos
racionais e näo racionais alinhados relativamente com as estruturas corti
cais e subcorticais no cérebro humano? Com o fim de abordar esta ques
täo, irei debruçar me agora sobre as emoçöes e os sentimentos, os quais
constituera aspectos centrais da regulaçäo biológica, para sugerir que eles
estabelecem uma ponte entre os processos racionais e os näo racionais, en
tre as estruturas corticais e subcorticais.
144 O ERRO DE DESCARTFS
EMOÇOES
Há cerca de um século, Williamjames, cujas intuiçöes acerca damente
humana sá encontraram rivais nas de Shakespeare e de Freud, avançou
uma hipótese verdadeiramente surpreendente sobre a natureza das emo
çöes e dos sentiinentos. Escutemos as suas palavras:
Se irnaginarmos uma emoçäo forte e depois tentarmos abstrair
da consciência que temos dela todos os sentimentos dos seus
sintomas corporais, vemos que nada resta, nenhum «substrato
mental» com que constituir a emoçäo, e que tudo o que fica é um
estado frio e neutro de percepçäo intelectual.
Recorrendo a exemplos ilustrativos convincentes, James prossegue
com as seguintes afirmaçöes:
É me muito dificil, se näo mesmo impossivel, pensar que
espécie de emoçäo de medo restaria se näo se verificasse a
sensaçäo de aceleraçäo do ritmo cardiaco, de respiraçäo sus
pensa, de tremura dos lábios e de pernas enfraquecidas, de pele
arrepiada e de aperto no estômago. Poderá alguem imaginer o
estado de raiva e näo ver o peito em ebuliçäo, o rosto congestio
nado, as narinas dilatadas, os dentes cerrados e o impulso para
a acçäo vigorosa, mas, ao invés, músculos flácidos, respiraçäo
calma e um rosto plácidol@
Creio que William James conseguiu captar com estas palavras, bas
tante avançadas tanto para a sua como para a nossa época, o mecanismo
essencial para a compreensäo das emoçöes e dos sentimentos. Infe
lizmente, e ao contrário do que é tipico no seu caso, o resto da sua proposta
ficou muito aquém da variedade e complexidade dos fenómenos que
abordou, o que tem dado origem a uma polémica infindável e por vezes
inútil4. (Näo posso fazer aqui justiça aos extensos est,,idos e debates sobre
este assunto, os quais foram recapitulados e anal'isados por George
Manáler, Paul Ekman, Richard Lazarus e Robert Zajonc.)
O principal problema que se deparou a algumas pessoas no que se re
fere à perspectiva de james näo é tanto o facto de ele reduzir a emoçäo a
um processo que envolve, de entre todas as coisas possiveis, o corpo, por
muito que isso tenha parecido chocante para os seus criticos, mas antes o
de ele ter atribuido pouca ou nenhuma importäncia ao processo de ava
EMOÇOES E SENTIMENTOS 145
liaçäo mental da situaçäo que provoca a emoçäo. A sua exposiçäo fun
ciona bem para as primeras emoçöes que sentimos na vida, mas näo faz
justiça ao que se passa na mente de Otelo antes de dar largas ao ciúme e
à raiva, ou aquilo com que Hamlet cisma antes de levar o seu corpo a um
estado de verdadeira náusea, ou aos motivos tortuosos que levam Lady
Macbeth ao extase quando arrasta o marido para uma violência assassina.
Quase täo problemático como este p@oblema foi o facto de James näo
con rcomummecanismoalternativoousuplementarparacriarosenti
mento correspondente a um corpo excitado pela emoçäo. Na perspectiva
jamesiana, o corpo encontra se sempre interposto no processo. Além
disso, James pouco ou nada tem a dizer sobre as possiveis funçöes da
emoçäo na cogniçäo e no comportamento. No entanto, conforme sugeri
na Introduçäo, as emoçöes näo säo um luxo. Elas desempenham uma
funçäo na comunicaçäo de significados a terceiros e podem ter também
o papel de orientaçäo cognitiva que proporei no próximo capitulo.
Em suma, James postulou a existência de um mecanismo básico em
que determinados estimulos no meio ambiente excitam, através de um
mecanismo inílexivel e predeterminado à nascença, um padräo especifico
de reacçäo do corpo. Näo havia necessidade de avaliar a importäncia dos
estimulos para que a acçäo tivesse lugar Na sua própria afirmaçäo lapi
dar: «Cada objecto que excita um instinto excita também uma emoçäo.»
Porém, em muitas circunstäncias da nossa vida como seres sociais, sa
bemos que as nossas emoçöes só säo desencadeadas após um processo
mental de avaliaçäo que é voluntário e näo automático. Em virtude da
natureza da nossa experiência, há um ampl@o espectro de estimulos e
situaçöes que se vieram associar aos estimulos que se encontravam ina
tamente seleccionados para causar emoçöes. As reacçöes a esse amplo es
pectro de estimulos e situaçöes podem ser filtradas através de um pro
cesso de avaliaçäo ponderada. Este filtro reflexivo e avaliador introduz a
possibilidade de variaçäo na proporçäo e intensidade dos padröes
emocionais pré estabelecidos e produz, com efeito, uma modulaçäo na
maquinaria básica das emoçöes intuida por James. Além disso, parece
existirem também outros meios neurais para alcançar a sensaçäo corpo
ral que James considerou como sendo a essência do processo emocional.
Nas páginas que se seguem irei apresentar em esboço os meus pontes
de vista sobre as emoçöes e os sentimentos. Começo, numa perspective de
história individual, por esclarecer as diferenças entre as emoçöes que
experienciamos na infäncia, para as quais um «mecanismo pré organi
zado» de tipo jamesiano seria suficiente, e as emoçöes que experien
ciamos em adultos, as quais se foram gradualmente alicerçando sobre as
Fo@um d. Ciência 29 11)
146 O ERRO DE DESCARTES
fundaçöes daquelas emoçöes «iniciais». Proponho chamar às emoçöes
«iniciais» primárias e às emoçöes «adultas» secundárias.
Emoçöes primárias
Até que ponto se encontram as reacçöes emocionais <@staladas»* no
momento do nascimento?
Eu diria que näo é forçoso que os animais ou os seres humanos se en
contrera inatamente instalados para terem medo de ursos ou de águias
(embora alguns animais e seres humanos possam encontrar se activados
para terem medo de aranhas e de cobras). Uma hipótese que me parece
näo levantar qualquer dificuldade é a de que estamos programados para
reagir com uma emoçäo de modo pré organizado quando determinados
caracteristicas dos estimulos, no mundo ou nos nossos corpos, säo detec
tadas individuahnente ou em conjunto. Exemplos dessas caracteristicas
säo o tamanho (animais de grande porte); uma grande envergadura
(águias em voo); o tipo de movimento (como o dos répteis); determinados
sons (como os rugidos); determinados configuraçöes do estado do corpo
(a dor sentida durante um ataque cardíaco). Estas caracteristicas, indivi
dualmente ou em conjunto, seriam processadas e depois detectadas por
uma componente do sistema limbico do cérebro, digamos, a amigdala; os
seus núcleos neuronais possuem uma representaçäo de disposiçöes que
desencadeia a activaçäo de um estado do corpo, caracteristico da emoçäo
de medo e que altera o processamento cognitivo de modo a corresponder
a esse estado de medo (veremos mais adiante que o cérebro pode «si
mular»** estudos do corpo e «passar ao lado do corpo», e iremos discutir
também de que modo se obtém a alteraçäo cognitiva).
Repare se que, para se provocar uma resposta do corpo, näo é sequer
necessário «reconhecer» o urso, a cobra ou a águia como tal, ou saber
exactamente o que provoca a dor. Basta apenas que os córtices sensoriais
iniciais detectem e categorizem a caracteristica ou caracteristicas chave
de uma determinada entidade (isto é, animal, objecto) e que estruturas
como a amigdala recebam sinais respeitantes à sua presença conjuntiva.
Um pinto no alto de um ninho näo faz qualquer ideia do que é uma
águia, mas reage de imediato com alarme e esconde a cabeça quando um
* Wired, no original, palavra que se refere aos fios eléctricos com que se ins
talam circuitos num aparelho electrónico. O termo é usado correntemente com
referência à «instalaçäo» de circuitos cerebrais e processos mentais. (N. da T.)
Bypass, no original. (N. da T.)
EMOÇOES E SENTIMENTOS 147
O estimulo
ropostas endócrinas
sinais para e outras de origem quimica
os músculos para a corrente sanguines
do rosto
e dos membro sinais para os núcleos
neurotransmissores
sinais autónomos
Figura 7.1 Emoçöes primárias. O perimetro negro representa o cérebro e o tronco
cerebral. Depois de um estimulo adequado ter activado a amigdala (A), seguem se várias
respostas: respostas internas (assinaladas RI); respostas musculares; respostas viscerais
(sinais auténomos); e respostas para os núcleos neurotransmissores e hipotálamo (H). O
hipotálamo dá origem a respostas endécrinas e outras de origern quimica que usam a cor
rentesanguinea. Näo incluo no diagrama diversas outras estruturas cerebrais necessárias
à implementaçäo desta enorme série de respostas. Por exemplo, as respostas musciilares
através das quais exprimimos einoçöes, digamos, com a posture do corpo, utilizam prova
velmente estruturas nos gänglios basais (designadamente o cliamado striatum ventral).
objecto de asas largas o sobrevoa a uma determinada velocidade (ver
Figura 7.1).
Só por si, a reacçäo emocional pode atingir alguns objectivos úteis: por
exemplo, fuga rápida de um predador ou exibiçäo de raiva em relaçäo a
um competidor. No entanto, o processo näo termina com as alteraçöes
corporais que definem uma emoçäo. O ciclo continua, pelo menos nos
seres humanos, e o passo seguinte é a sensaçiio da emoçäo em relaçäo ao ob
jecto que a desencadeou, a percepçäo da relaçäo entre objecto e estado
emocional do corpo. Podemos perguntar, neste caso, por que motive
haveria necessidade de se ser conhecedor dessa relaçäo? Para quê compli
car as coisas e fazer intervir a consciência neste processo, se existe já um
meio de réagir de forma adaptativa em termos automáticos? A resposta
é que a consciência proporciona uma estratégia de protecçäo alargada.
Considere se o seguinte: se vier a saber que o animal ou a situaçäo X causa
medo, tem duas formas de se comportar em relaçäo a X. A primera é
inata; näo é controlada por si. Além disso, näo é especiíica de X; pode ser
148 O ERRO DE DESCARTES
causada por um grande número de criaturas, objectes e circunstäncias. A
segunda forma basera se na sua propria experiencla e é específica de X.
O conhecimento de X permite lhe pensar com antecipaçäo e prever a
probabilidade da sua presença num dado meio ambiente de modo a con
seguir evitar X, antecipadamente, em vez de ter de reagir à sua presença
numa emergência.
Mas há outras vantagens para o «sentir» das suas próprias reacçöes
emocionais. Pode generalizar o conhecimento acerca delas e decidir, por
exemplo, acautelar se em relaçäo a algo que se assemelha a X. (Claro que,
se generalizar em excesso e se comportar de forma extremamente cautelo
sa, poderá cair na fobia o que näo é bom.) Além do mais, pode ter
descoberto, durante o seu encontro com X, algo de peculiar e poten
cialmente vulnerável no comportamento de X. Pode querer explorar essa
vulnerabilidade no próximo encontro, e essa será mais uma vantagem
para precisar de ter conhecida a emoçäo. Em sintese, sentir os estudos
emocionais, o que equivale a afirmar que se tem consciência das emoçöes,
oferece nosflexibilidade de resposta com base na história especifica das nossas
interacçi5es com o meio ambiente. Embora sejam precisos mecanismos inatos
para pôr a bola do conhecimento em marcha, os sentimentos oferecem
nos algo extra.
As emoçöes primárias (leia se, inatas, pré organizadas, jamesianas)
dependem da rede de circuitos do sistema limbico, sendo a amigdala e o
cingulo as personagens principais. A prova de que a amigdala é a perso
nagem chave na emoçäo pré organizada provém tanto da observaçäo de
animais como da de seres humanos. A amígdala tem sido objecto de di
versos estudos animais por parte de Pribram, Weiskrantz, Aggleton e
Passingham e, mais recentemente e talvez da forma mais abrangente, por
Joseph LeDouxl. Entre os outros contributos para o campo incluem se os
de E. T. Rolls, Michael Davis e de Larry Squire e da sua equipa, cujo traba
lho, apesar de visar a compreensäo da memória, revelou de igual modo
uEna ligaçäo entre a amigdala e a emoçäol. Veio também a estabelecer se
o envolvimento da amigdala na emoçäo graças aos trabalhos de Wilder
Penfield e de Pierre Gloor e Eric Halgren, quando estudaram doentes
epilépticos cuja avaliaçäo cirúrgica requeria a estimulaçäo eléctrica de
diversas regiöes no lóbulo temporal'. Mais recentemente, houve outras
observaçöes confirmativas sobre este papel da amigdala humana por
parte de investigadores da minha equipa e, em retrospectiva, o primeiro
indicio de que a amigdala e as emoçöes poderiam estar relacionadas par
tiu do trabalho de Heinrich Kluver e Paul Bucy8, os quais demonstraram
EMOÇOES E SENTLMENTOS 149
que a ressecçäo cirurgica da parte do lóbulo temporal que contém a
amigdala criava, entre uma série de outros sintomas, indiferença afectiva.
(Para provas da relaçäo entre o cingulo anterior e a emoçäo, ver o Capi
tulo Quatro do presente livro e as pertinentes descriçöes de Laplane et al.,
1981, e A. Damásio e Van Höesen, 19839.)
Mas o mecanismo das emoçöes primárias näo descreve toda a gama
dos comportamentos emocionais. Elas constituera, sem dúvida, o meca
nismo básico. Creio, no entanto, que em termos do desenvolvimento de
um individus se lhes seguem mecanismos de emoçöes seclindárias que
ocorrem mal começamos a ter sentimentos e a formar ligaçi5es sistemáticas
entre categorias de objectes e situaçöes, por um lado, e emoçöes primárias, por ou
tro. As estruturas no sistema lúnbico näo säo suficientes para sustentar o
processo das ernoçöes secundárias. A rede tern de ser alargada e isso re
quer a intervençäo dos cortices pré frontal e somatossensorial.
Emoçöes secundárias
A fim de abordarmos a noçäo de emoçöes secundárias, vamos passar
a um exemplo retirado da experiência de um adulto. Imagine que en
contra um amigo que näo vê há muito tempo, ou tem conhecimento da
morte inesperada de uma pessoa com quem trabalhou em estreita cola
boraçäo. Em qualquer destes casos reais e talvez até agora durante o
simples processo de imaginaçäo, já está a imaginar , sentira uma emo
çäo. O que sucede consigo em termos neurobiológicos quando tem lugar
essa emoçäo? O que significa realmente «experienciar uma emoçäo»?
Depois da formaçäo de imagens mentais sobre os aspectos principais
dessas cenas (o encontro com o amigo há muito ausente; a morte de um
colega), verifica se uma mudança no estado do seu corpo definida por vá
rias modificaçöes em diferentes regiöes do corpo. Se encontrar um velho
amigo (na sua imaginaçäo), o seu coraçäo pode bater mais depressa, a sua
pele pode corar, os músculos do seu rosto podem mudar em redor da bo
ca e dos olhos para formar uma expressäo feliz, enquanto todos os outros
músculos se propöem descansar. Ao saber da morte de um conhecida o
seu coraçäo pode sobressaltar se, a boca ficar seca, a pele emp@ilidecer,
uma contracçäonabarriga, e um aumento de tensäo dos músculos do pes
çoco e das costas completaräo o quadro, enquanto o seu rosto desenha
uma máscara de tristeza. Em qualquer dos casos, registam se mudanças
numa série de parâmetros relativos ao funcionamento das visceras (cora
çäo, pulmöes, intestinos, pele), musculatura esquelética (a que está liga
da aos ossos) e gländulas endócrinas (como a pituitária e as supra renais).
150 O ERRO DE DESCARTES
O cérebro liberta moduladores péptidos para a corrente sanguines. O sis
tema imunológico também se altera rapidamente. O ritmo de actividade
dos músculos lisos nas paredes das artérias pode aumentar e originar a
contracçäo e o estreitamento dos vasos sanguineos (o resultado é a pa
lidez); ou diminuir, caso em que os músculos lisos relaxam e os vasos
sanguineos se dilatam (o resultado é o rubor). De um modo geral, o con
junto de alteraçöes estabelece um perfil de desvios relativamente a uma
gama de estudos médios que correspondem ao equilibrio funcional, ou
homeostase, de acordo com o qual a economia do organisme funciona
provavelmente no seu nivel óptimo, dispendendo menos energia e pro
cedendo a ajustamentos mais simples e rápidos. Esta gama de equilibrio
funcional näo deve ser vista como algo estático; ela é uma sucessäo
continua de alteraçöes de perfil, as quais apresentam limites superiores e
inferiores que se encontram em constante deslocaçäo. Poderia ser com
parada a uma cama de água quando alguem caminha sobre ela em várias
direcçöes: algumas zonas descem enquanto outras sobem; formam se
ondulaçöes; toda a cama se altera, mas as mudanças ocorrem dentro de
uma gama de valores especificada pelos limites fisicos da unidade: um es
paço delimitado que contém uma determinada quantidade de liquide.
Na sua hipotética experiência de emoçäo, muitas partes do corpo säo
levadas a um novo estado em que säo introduzidas mudanças significa
tivas. O que acontece no organisme para provocar essas mudanças?
1. O processo inicia se com as consideraçöes deliberadas e
conscientes que lhe ocorrem em relaçäo a uma determinada
pessoa ou situaçäo. Estas consideraçöes encontram expres
säo como imagens mentais organizadas num processo de
pensamento e envolvem uma infinidade de aspectos da sua
relaçäo com uma determinada pessoa, reílexöes sobre a si
tuaçäo actual e suas consequências para si e para outros, em
suma, uma avaliaçäo cognitiva do conteúdo do aconteci
mento de que faz parte. Algumas das imagens assim invoca
das näo säo verbais (a aparência de uma determinada pessoa
num determinada lugar), enquanto outras säo verbais (pala
vras e frases relativas a atributos, actividades, nomes, etc.).
O substrato neural para essas imagens é uma colecçäo de re
presentaçöes aut(5noni,as topograficamente organizadas que
ocorrem em diversos cortices sensoriais iniciais (visual, audi
tivo e outros). Essas represent@içöes säo criadas sob o con
trolo de representaçöes disposicionais distribuidas por um
grande número de cortices de associaçäo
EMOÇOESESENTIMENTOS 151
2. A um nivel näo consciente, redes no córtex pré frontal rea
gem automática e involuntariamente aos sinais resultantes
do processamento das imagens acima descritas. Esta respos
ta pré frontal provém de representaçöes disposicionais que
incorporam conhecimentos relativos à forma como determi
nados tipos de situaçöes têm sido habitualmente emparcei
rados com certas respostas emocionais na sua experiencla
individual. Por outras palavras, provêm de representaçöes
de disposiçöes adquiridas e näo inatas, embora, conforme re
feri anteriormente, as disposiçöes adquiridas sejam obtidas
RI estimulo
i RI
respostas endócrinas
e outras de origem quimica
na corrente sanguinea
sinais para os músculos sinais para os núcleos
do rosto e membros neurotransn dssores
sinais autónomos
Figura 7.2 Emoçöes secundárias. O estimulo pode ainda actuar directamente na
amigdala mas agora é também analisado noprocesso depensamento epodevirdaia activar
os córticesfrontais (VM). Por seu ttirno, o VM actua por via da amigdala (A). Por outras
palavras, as emoçjes secundárias utilizam a maquinaria das Emoçi5es Primárias. Estou de
novoa simplificar intencionalmente, z)isto qiiediversos cortices pré frontais, para além do
VM, sio igualmenteactivados, mas creio qttea essência do mecanismo seencontra expres
sa no diagrama. É de notar que o VM depende de A para exprimir a stia actividade. Esta
relaçäo de dependência precedência constitui tim excelente exemplo dos remendos da en
genharia da natureza. A natureza recorre a estriittiras emecailismos antigas afim de criar
novos mecanismos e obter novos resultados.
sob a iníluência de disposiçöes inatas. Aquilo que as dispo
siçöes adquiridas incorporam é a sua experiência única des
sas relaçöes ao longo da vida. A sua experiência pode variar
muito ou pouco em comparaçäo com a de outras pessoas;
mas é só sua. Apesar de as relaçöes entre tipo de situaçäo e
emoçäo serem em grande medida semelhantes entre dife
152 O ERRO DE DESCARTES
rentes individuos, a experiência pessoal e única personaliza
o processo para cada individus. Em resumo: disposiçöes
pré frontais adquiridas, necessárias para as emoçöes secun
dárias, säo distintas das disposiçöes inatas, aquelas que säo
necessárias para as emoçöes primárias. Mas, como se irá ver
de seguida, as primeras precisam das últimas para se pode
rem expressar.
3. De uma forma näo consciente, automática e involuntária, a
resposta das disposiçöes pré frontais descrita no parágrafo
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