ou educacional
redução do estatuto
socioeconómico, dislexias
baixo salário, e insucessos
selecção material, etc. escolares, etc.
i
L J
Figura 41- Modelo de indução sociobiológica, de Antante
O combate à privação sociocultural, à pobreza e à iséria, que está base de muitas DA, não se faz unicamente por rnedidas puramente edu cionais.
128
ETIOLOGIA E EPIDEMIOLOGIA DAS DIFICULDADES DE APRENDI AGEM
Por essa razão, a solução para as DA não se opera só na escola ou na políúca de educação; o problema estende-se naturalmente a outros campos do énvolvimento que tentaremos esquematizar, com a ajuda de Hallahan e Cruickshank I973, nos seguintes modelos teóricos:
1) Modelo de malnutriÇão - O desenvolvimento normal exige condições económicas mínimas para a obtenção de alimentos com um mínimo de calorias e proteínas, e para o pagamento de serviços médico=sociais, pois estão em jogo os processos de imaturação das estruturas neurofisiológicas do desenvolvimento cognitivo. Dois modelos são conhecidos (I. Cravioto e colab. ; II. Scrimshan e Gordon):
Condições sociais condutoras à malnutrição
Malnutrição
Atraso mental Ahaso na estatura ffsica
Condições sociais
Matnutrição
Atraso mental Atraso na estatura física
Figura 42 - Indicações das condições sociais e da malnutrição
2) Modelo de estimula ão benéfica - A privação de estímulos (informação) no seio familiar inipede a aproximação de aptidões multissensoriais, psicomotoras e psicolinguísticas necessárias às aprendizagens escolares. A privação de estímulos, de objectos, de afectos, de oportunidades tem como se sabe um grande impacte no comportamento da criança e no seu desenvolvimento harmonioso.
3) Modelo de reforço - Sem condições apropriadas de encorajamento, segurança, confiança e reforço, a criança não desenvolve comporta
129
/NSUCESSO ESCOlAR - ABORDAGEM PSlCOPEDAGÓGlCA
mentos desejáveis nem iniciativas e diligências indispensáveis à sua maturação. A permanência de reforços negativos ou neutros tem influências determinantes no desenvolvimento da criança. 4) Modelo subcultural - O papel dos padrões de linguagem está imp cito na ideologia dominante que é reproduzida pelos métodos e textos de aprendizagem. A ausência da complexidade nos processos semâni
ácossintáxicos reflecte-se, por este facto, no aproveitamento escolar. I 5) Modelo social - A escola visa um cri rio de homogeneidade cultural que não é compativel com um sistema social tão diferenciado e hierarquizado. Os mecanismos compeátivos alimentados pela escola ' _ segregam, à partida, uma grande fatia, de crianças, procurando I seleccioná-las para outros segmentos menos qualificados do mer I Í
cado de tcabalho. Êxito na escola significa êxito na sociedade, prestíÍ gio, poder, competência, etc. , que em si implicam novas situaçôes geradoras de operações cognitivas a que uns não têm acesso.
Através destes modelos facilmente nos confrontamos com a multidão de componentes que estão em jogo na etiologia das DA, muitas delas decor rentes de complexas privações socioculturais e de mWtiplos índices e factores sanitários, bem como de hábitos alimentares e culturais específicos.
A privaçâo psicossocial parece influenciar, em termos de causa- efeito, o desenvolvimento e a aprendizagem nas crianças. Tal privação interfere nas variáveis psicofisiológicas, impedindo que a programação genética se desencadeie e afectando, consequentemente, a maturidade socioemocional, o desenvolvimento cognitivo e a optimização do potencial de aprendizagem.
Gruenberg 1978, no sen estudo etiológico em que procurou estudar as causas da DA, chegou às seguintes percentagens:
- 1% das crianças apresentavam pertu 'baçneurológicas (paralisia cerebral, epilepsia, etc. );
-15% das crianças apresentavam problemas funcionais (atraso escolar, privação cultural, etc. );
- 5% das crianças apresentavam problemas de origem orgânica (disfunção ou lesão cerebral naínima, etc. ).
O mesmo autor constatou que tais crianças vinham mais de familias pobres, as quais, por sua vez, poderiam ser subdivididas em:
- Famllias eugénicas (The Eugenical) - cujas condições salariais são mfnimas para satisfazer as despesas de sobrevivência ( chapa ganha, chapa gasta );
- Fam6lias euténicas (The Euthenical) - cujas condições de vida são indesejáveis, a justiflcar a aflrmação de que, com melhor envolvimento, o número de casos com DA diminuiria.
130
ETIOLOGIA E EPIDEMlOLOGl A DAS DIFICULDADES DE APRENDl7AGEM
1 1 1
Funções Funçóes Funções
genéúcas H de H de
desenvolvimento sociabilização
Factores Factores
Factores H ne H culturais
cerebrais psicológicos e
envolvimentais
Forças H Forças H Forças
biológicas psicológicas sociais
Integração e Identificação Relaçóes
inter-relações H pensamento H interpessoais
sensoriais Cognição
Atenção H Análise H Gestos
Discriminação Síntese Acções
Selecção Memória Palavras
Input de informação Simbolieação Sinais
Estímulos internos Concentração Expressões
Processamento Planificação Produções
de informação de sespostas Comunicações
T
Figura 43 - Interacção dinâtnica dos factores de desenvolvimento humano
131
INSUCESSO ESCOIAR - ABORDAGEM PSICOPEDAGÓGICA
Estamos, de facto, perante uma espécie de darwinismo social" que é frequentemente defendida pela ideologia dominante: os pobres são pobres porque sâo pobresH biológica e hereditariamente.
Autores há, como Jensen e outros, que defendem mesmo factores gené ticos no QI e no aproveitamento escolar, meramente explicados em termos sociais dominantes. É bom não esQuecer que o QI não mede direetamente a capacidade intelectual geneticamente determinada, mas sim avalia as performances intelectuais definidas por uma cultura particular.
Os factores do desenvolvimento humano não são flxos nem imutáveis, pois há neles uma multiplicidade de interacções dinâmicas, como tentámos equacionar (Figura 42).
O estudo dos factores etiológicos e epidemiológicos das DA é complexo. Não o podemos, nem queremos, esgotar; apenas desejamos aflorar alguns enfoques mais significativos.
, Prob)emas perceptivos Pmblemas cogniGvos
. Problemas psieomotoccs Probkmas emocionais
. Pmblemas neurológicos Condições sociais AspectosCondições nuVicionais
soctolbgicos Condições de desenvolvimento Aspectos
psicológicos P ivação eultural
Sociais
Biológicos etiológios NuVicionais
Emocionais
(EEG)
Neumlogistas
Médicas
PsiquiaVas
Pmblemas psicomEVicos Teorias PediaVas
e educacionais Sociais
Linguísúcas
Familiares Psicológicas
Emocionais
CritErios de Apoio ( ) Pedagógicas
selecção QI In%n % Neurol
i( ) escolar
Figura 44 - O universo interdisciplinar das DA
132
EI7OLOGIA E EPIDEMIOLOGIA DAS DIFICULDADES DE APRENDI7AGEM
F ctores etiot6gicos das difculdades de aprendizegem
Muito se tem escrito acerca da interacção entre a heredi:ariedade e o meio. O pêndulo tende a oscilar consoante os enfoques unidimensionais; porém, o problema da etiologia das DA s6 pode ser tratado quando se aprofunda os estudos sociais, com o auxilio dos estudos dos factores patogénicos do envolvimento. De um estudo intradisciplinar a um estudo interdisciplinar integrado.
Pas manick e Knobloc 1964 escreveram vários artigos sobre a ucalamidade reprodutiva ligando os factores pré- natais, os cuidados de saúde e a nutrição da mãe às condições de desenvolvimento neurológico do feto e do necém-nascido.
Também Richardson 1966 sublinhou a importância dos factores sociais e envolvimentais, que implicam: atrasos de desenvolvimento; mortalidade infanúl; morbilidade e condições defectológicas.
Ouan autor, Cravioto I966, refere-se à im portância fundamental da nutrição oas primeiras fases do desenvolvimento psicológicfl da criança. A malnutrição tem efeitos desastrosos na maturação do tecido nervoso, como provaram as suas investigações quanto à organização intra e ìntersensorial.
Em termos ecológicos, dá-se um efeito circular enve a rnalnutrição e o enipobrecimento social que claramente inter- relaciona os factores sociais. Há entre eles uma unidade indissociável, de tal modo que só por cessidade didáctica se devem separar, na medida em que só a inter-relação conúgua e consecutiva entre múltiplas causas encadeadas hierarquica ente pode vir a clarificar a eúologia das DA. Eúologia que resulta num défice integrado e Kcumulativo", como podemos ver, por exemplo, no lo proposto por Bannatyne 1971 (Figura 45).
A classificação das causas pode ainda ser hierarquizada. O mesmo autor senta, neste senúdo, o quadro da Figura 45.
Para uma visão global e diferenciada, Bannatyne 1971 apresenta as principais características da criança com DA (ou da criança disléxica), chamando a atenção para o facto de que nem todas as características necessitam de estar pt sentes para a idenúficação do problema:
1) Problemas de discriminação auditiva de vogais; 2) Inadequada sequência fonema-grafema;
3) Fraca associação auditiva e pobre completamento auditivo; 4) Problemas de linguagem falada;
5) Problemas de maturação nas funções da linguagem; 6) Alguma eficiência visuoespacial;
7) Problemas de lateralidade;
8) Inversão de imagens e de letras;
9) Inconstância configuracional e direccional;
133
Causas finais Padrões morais. Autorrespeito. Identificação. Confonxúdade (qualquer destas causas pode ter uma influên-
cia nas características abaixo referidas) C
Características das DA Factores emocionais: Reacção, ansiedade falta de motivação, distractibilidade, etc. M
Factores visuoespaciais: Constância da forma análise selectiva, memória, reversibilidade espacial, etc.
Factores auditivos: Memória, tolerância de ruídos, completamento, discriminação, etc.
Factores motores: Equilfbrio, fala, mãos e dedos, olhos, hiperactividade, lentidão, etc.
Factores conceptuais: Generalização, indução, dedução, relaúvidade, etc.
Causas formais Padrões de maturação: Herdados Factores fisiológicos: saúde, nu- Envolvimento: ffsico:
(Padrões, Programas) ou adquiridos trição sono, exercício, etc. Oportunidades suburbanas,
Casa: Relações familiares e orga- Escola: educação, psofessores, urbanas e rurais. M
nizações comunitárias qualidade de ensino, etc. Amigos: clubes, interesses, etc.
Causas materiais Hormonas: Determinantes Disfilnção neurológica Distúrbios motivacionais Pobreza da linguagem b
(situação total do crescimento e fisiológica b
organismo) e emocionais (podem e desconhecimento
do ficar rejlectidos nas
(body-mind) n
causas finais) O,
ag Genes dos pais Acontecimentos peri- Doenças Acidentes (lesões cerenatais brais)
(A interinfluência das eausas pode operar no sentido de baixo para cima>> ou vice-versa)
Figura 45 - Factores etiológicos das DA, segundo Bannatyne
nnM ~, a.
n b n m G 3 p' É o. Q I
ETlOLOGIA E EPIDEMIOLOGIA DAS DIFICULDADES DE APRENDI7AGEM
10) Dificuldades em associar factores verbais e conceitos direccionais; 11) Dificuldades no ditado (integração auditivovisual tactiloquinestésica
motora);
12) Fraco autoconceito.
Conscientes da interacção mútua entre a etiologia hereditária e neurobiológica e a etiologia sociocultural das DA, vamos em seguida abordar cada uma delas, tentando não perder de vista a unidade recíproca e a indução crueda e integrada que as caracteriza.
Factores bioló cos
Vários conceitos etiológicos de organicidade podem ser perspectivados e dentro deles podemos, por agora, destacar sumariamente: factores genéticos; factores pré, peri e pós-natais e factores neurobiológicos e neuropsicológicos.
Antes, porém, de abordar com mais detalhe cada um destes factores, apresentamos uma simples listagem, na medida em que a finalidade do presente livro se situa num plano introdutório dos factores bioetiológicos mais focados em alguns trabalhos de investigação (Bannatyne 1971, Benson e Geschwind 1969, Benton 1962, Boder 1971, Chalfant e Scheffelin 1969, Cruickshank 1966).
Listagem de alguns factores bioetiológicos:
Envolvimentos intrauterinos desfavoráveis (embriopatias, fetopatias, placentopatias, etc. ); Variações genéticas;
Anoxia (hipoxia); Desvios orgânicos;
Malformações congénitas (glaucomas, etc. );
Irregularidade bioquimica;
Incompatibilidade Rh;
Lesões cerebrais (mínimas ou severas);
Doenças infecciosas;
Hemorragias cerebrais;
Disfunção cerebral (motora, mental, sensorial ou convulsiva); Prematuridade;
Desordens do desenvolvimento;
Intoxicação;
Desordens do processo de informação visual, auditiva e tactiloquinestésica; _
Anemias;
Traumatismos e acidentes;
135
INSUCESSO ESCOIAR - ABORDAGEM PSICOPEDAGÓGICA
Universo de
estudó
Grupos prineipeis
sub 'upos
flesordens da motricidade; Desordens da lingtzagem; Desordens perceptivas;
i36
Figura 46 - Classificação das causas da D A, de Bannatyne
ETIOLOGIA E EPIDEMIOLOGIA DAS DIFICULDADES DE APRE'NDl7. clGF. á
Todos estes factores podem, de certa forma, ser resumidos no esquema
DISFUNÇÃO CEREBRAL
meio
ol gico 3 Aspecto social eio educacional)
org%nismo
CsMmOI m Cd Hti7 Çg0
Dificuldade de aprendizagem
" Figura 4 - Interacção etiológica da disfunção cerebral e das DA I
A partir deste simples esquema etiológico podemos sugerir que as DA m resultar de três processos:
1) Disfunção cerebral herdada, congénita ou adquirida; 2) Interacção hereditariedade-meio; 3) Disfunção social ou educacionai.
f genéticos
fls factores genéticos, por vezes negligenciados em muitos trabalhos e los, por outros exageradamente considerados, permitem notar, todavia, algumas DA (dislexia) são de natureza familiar. O método que lhes está
" líoito permite a descoberta de factores que governam distribuições, bem saber se esses factores são devidos directa ou indirectamente aos efei as dos genes (Finucci 1979).
Enquanto o meio pode actuar como faciiitador do desenvolvimento, não podemos esquecer que o potencial de aprendizagem também é parcialmente
. Com o mesmo envolvimento favorável, sabe-se que os talenbosse diferenciam e que essa diferenciaçãò pertence a factores gené cos muito complexos, embora não expliquem tudo.
Os primeiros estudos eáológicos são devidos a Morgan 1869, a Kerr 1'897, e a Stephenson l904, médicos ingleses que se interessaram pelos primeiros casos de cegueira das palavras (word-blindness).
i37
INSUCESSO ESCOlAR - ABORDAGEM PSICOPEDAGÓGICA
Thomas 1905, outro médico, é o primeiro a lançar uma estimativa: uma em cada 2000 crianças londrinas escolarizáveis pode manifestar cegueira das palavras", sendo também este autor o primeiro a apresentar casos de natureza familiar. A cegueira das palavras" assume frequentemente um certo tipo familiar, ou seja, parece subsistir nela um carácter familiar.
Hinshelwood 1907 apresenta um estudo com quatro filhos afectados numa fami7ia de 11 descendentes e Stephensen 1907, por sua vez, surge com um estudo de seis membros afectados num grupo familiar de três gerações. Este autor chega mesmo a propor um processo recessivo de transmissão hereditária da dislexia, independentemente de se saber hoje que tal informação é incorrecta (Finucci 1978).
Estes dados parecem sugerir que várias histórias familiares de dislexia demonstram presença de factores genéticos responsáveis por padrões neurológicos herdados, implicados provavelmente no desenvolvimento de competências linguísticas (discriminação, sequencialização, associação auditiva, etc. ), competências psicomotoras (lateralização, visuoespacialidade, dominância hemisférica, integração intersensorial, etc. ) e competências cognitivas (integração, significação, generalização, etc. ), necessárias ao processo de aprendizagem da leitura.
Hinshelwood, em 1917, sugeriu o conceito de cegueira congénita das palavras" considerado por ele um defeito evolutivo, centrado na região do girus angular esquerdo.
Mesmo que se pense que os estudos genéticos da dislexia ou das DA têm pouco interesse para a sua reeducação, o contributo da genética é indispensável para a clarificação da sua causa. O controlo da causa, não o podemos esquecer, é a chave do êxito para abordar a identificação precoce, o diagnóstico e o tratamento.
De certo modo, a etiologia das DA tem uma certa analogia com a etiologia da deflciência mental. Como se sabe, a deficiência mental é heterogénica por natureza e apresenta variadíssimas causas, das quais cerca de 200 são já conhecidas (Apgar 1975).
Em consequência, algumas condições da deficiência mental são manifestações de desordens genéticas autossomáticas recessivas ou de anormalidades cromossómicas (exemplo: síndroma de Patan, síndroma de Edwardsc, síndroma de Down), outras, por exemplo, são o produto da combinação entre os factores genéticos e os factores envolvimentais.
Considerando que as características do comportamento são influencia1
das pelo potencial genético do indivíduo (genótipo), e pelo envolvimento onde o mesmo se desenvolve e socializa, não restam dúvidas de que alguns carácteres são mais dependentes de genes específicos, outros de factores envolvimentais, como é o caso da inteligência e do potencial de aprendizagem.
Para obviar a estas complexas constelações etiológicas, os investigadores da genética lançam mãos aos estudos dos gémeos, com a flnalidade de
138
ETlOLOGIA E EPIDEMIOLOGIA DAS DIFlCULDADES DE APRENDl7. tlGEM
stimular a contribuição relativa dos genes e do envolvimento no que respeita ao processo de desenvolvimento de uma dada área de comportamento.
Os estudos de gémeos idênticos ou monozigóticos, ou seja, de gémeos que se desenvolvem a partir da divisão de um só óvulo fertilizado, e port to do mesmo genótipo, são mais rigorosos em termos genéticos do que os estudos dos genes dizigóticos (fraternais), razão pela qual apenas nos refe 'emos aos primeiros.
Zerbin-Rudin 1967, estudando a tendência dos gémeos para a dislexia, descobriu que, em 17 pares de gémeos monozigóticos, todos (100%) eram concordantes na manifestação da dislexia, enquanto dos 34 pares de gémeos dizigóúcos, apenas 12 (35%) manifestavam concordância na dislexia. Por cste estudo se sugere, discutivelmente, que o papel da genética parece ser mais relevante na ocorrência da dislexia do que o papel do envolvimento sociocultural.
Bakwin 1973, foi mais longe e estudou 96 pares de gémeos masculinos monozigóticos, 1000 pares de gémeos femininos monozigóticos e 58 pares de gémeos femininos dizigóticos, todos com idades compreendidas entre os oito e os 18 anos. De acordo com as entrevistas feitas aos pais, 31 dos pares monozigóticos e 31 dos pares dizigóticos tinham, pelo menos, um gémeo com dislexia, mas enquanto 26 pares (84%) dos 31 pares de monozigóticos mostravam concordância, só nove pares (29%) dos 31 pares de dizigóticos evidenciavam concordância.
Em ambos os estudos foram detectados erros metodológicos. Um erro gelo método de selecção, outro pela definição vaga de dislexia, mas também em ambos se vislumbra uma sugestão, pelo menos respeitável, sobre o papel determinante dos factores genéticos na dislexia.
Na mesma linha de análise se deve referir os estudos defami Zias nas quais se tenha detectado a dislexia. Estão nesta linha as extraordinárias contribuições de Symmes e Rappaport, 1972, Fugram, Mason e Blackburn 1970, e de Rutter e Yule 1975. Em todas elas se verificou uma alta influência de dislezia de raiz familiar. Em todos os estudos familiares acima referidos foram identificados problemas de linguagem e de atraso na fala, bem como de disfunção neurológica, quer nos pais, quer nos filhos. De notar também que os rrsultados mais baixos dos filhos se encontram significativamente associados a poucos hábitos de leitura, a fracas aspirações culturais, a atitudes negligentes e a pobres histórias escolares dos próprios pais.
Neste tipo de estudos, Finucci 1979 identificou subtipos de dislexia; de acordo com as diferentes modalidades de processamento de dislexia, 100% dos filhos também a revelavam: se apenas um dos pais fosse afectado, só o pai ou só a mãe, 65% dos filhos evidenciavam diflculdades de leitura.
Os estudos das árvores genealógicas (pedigrees), simples ou múltiplas, também nos proporcionàm dados interessantes, independentemente da falta de uniformidade nos padrões considerados. Muitos casos da nossa clínica
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INSUCESSO ESCOlAR - ABORDAGEM PSICOPEDAGbGlCA
referem dificuldades na leitura ou na escrita em mães, tios, av6s, etc. Em vários casos, a DA transmite-se em três e mais gerações (Drew 1956, Hof e Guldenpenning 1972, e Hallgren 1950).
Hallen 1950 concluiu, no seu estudo de árvores genealógicas múltiplas, que a dislexia se manifestava em 47% dos rapazes e em 35% das raparigas, ao mesmo tempo que se manifestava nos pais em 47% e nas mães em 38%. A incidência da dislexia foi superior no sexo masculino em todos estes estudos, sugerindo um factor de transmissão hereditácia autossómica dominante de proporções mendelianas.
Todos estes estudos demonstram um alto grau de agregação familiar e reforçam a influência genéúca nas DA, não deixando muitas dúvidas de que a transmissão biológica desta condição é pelo menos relevante e respeitável, não se podendo com estes dados, de alguma forrna, minimizar o papel dos factores do envolvimento.
Factores pré, peri e pós-natais
Os estudos sobre factores pré, peri e pós-natais adversos ou suboptimais com incidências nas DA têm sido pouco sistemáticos e pouco consistentes.
Variáveis de difícil controlo como: as características das amostras; o estatuto socioeconómico; os tipos de dados e os seus locais de recolha; diferentes conceitos e definição sobre anoxia; prematuridade; complicações da gravidez; para além das dificuldades de controlo de factores confusos nas análises bioquímicas, etc. são algumas das condições que não permitem atingir, neste âmbito, objectividade etiológica com um mínimo de credibilidade.
Corah 1965, através do seu estudo longitudinal, de sete anos, com crianças afectadas por anoxia no nascimento e com crianças de um grupo de controlo, constatou que as crianças do grupo de controlo liam melhor do que as crianças com anoxia, tendo em atenção a precisão, a compreensão e a velocidade da leitura, quando testadas pelos Testes de Leitura Oral de Gilmore (Gilmore Oral Reading Test).
Como a anoxia se encontra relacionada com condições maternas adversas como a diabetes, a anemia, o parto prolongado, a eclâmpsia, etc. , é natural que tal condição esteja também associada a cotações de risco no índice de Apgar (choro fraco, problemas respiratórios e circulatórios, bradicardia e reflexos lentos), frequentemente implicados no desenvolvimento das crianças sujeitas a tais situações.
Kawi e Pasamanick 1958, num trabalho hoje já clássico no campo das DA, avaliaram a relação entce complicações da gravidez (mas sem anoxia) e a capacidade de leitura numa população de 205 casos de rapazes brancos. A selecção da amostra teve em consideração um grupo experimental e um grupo de controlo, com base no seguinte critério: QI 85 (Binet), dois anos de atraso na
140
ETIOLOGIA E EPIDEMIOLOGIA DAS DIFICUIll ADES DE APRENDl7rlGF JI!
Iáaua e obtenção de cerúficados de nascimento. Neste mesmo estúdo f am identificadas 104 complicações na gravidez nas mães do grupo experimental,
uanto só foram encontradas 50 nas mães do grupo de controlo. As mães los disléxicos apresentavam, pelo menos, uma complicação em 37, 6"e, Quanto as mães de erianças não disléxicas apresentavam 21, 5%. Mas 16, 6% dos disléxicos e apenas 1, 5% dos não-disléxicos únham sido expostos, pelo
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