Reinos africanos
Formas de organização social e política
Reino de Axum
· Território da atual Etiópia
· Enriquecimento da cidade de Axum pelo comércio
· Expansão territorial com o início da Era Cristã
· Práticas politeístas
· Conversão ao cristianismo a partir do séc. IV
Desaparecimento devido às invasões muçulmanas na região
Reino de Gana
· Território da atual Mauritânia
· Importante região de extração aurífera
· Reino sem delimitação de fronteiras
Desaparecimento (início do séc. XII): transformações ambientais e descoberta de novas zonas auríferas em outras regiões
Reino do Mali
· Região da África ocidental
· Reino muçulmano
· Grande expansão territorial
Declínio (1337): após a morte do mansa Musa
Civilização iorubá
· Povos subsaarianos unidos por laços linguísticos e culturais
· Articulação de diversas cidades e aldeias
· Centro da civilização: Ilê Ifé
· Desenvolvimento da mitologia iorubá
Declínio (a partir do séc. XVIII): escravização e tráfico para o Brasil
Cultura banto
· Povos originários das terras entre os atuais Camarões e Nigéria
· Grupos africanos com origem linguística comum
· Grande deslocamento pelo continente africano
· Diversas formas de organização política
Declínio (1500-1889): escravização e tráfico para o Brasil
Uma das características da história do continente africano é a diversidade de experiências e formas de organização política e social. Com base na observação do esquema e em seus conhecimentos, indique as principais diferenças e semelhanças entre as sociedades africanas estudadas neste capítulo.
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ATIVIDADES
ORGANIZANDO AS IDEIAS
NÃO ESCREVA NO LIVRO
1. As crenças africanas eram variadas, mas também apresentavam importantes características comuns. Descreva as principais características dessas crenças.
2. Conforme o que você estudou neste capítulo, descreva a relação entre a arte e as práticas religiosas de diferentes povos no continente africano.
3. Aponte as características do Reino de Gana e do Reino do Mali.
4. As religiões monoteístas, como o cristianismo e o islamismo, também se disseminaram entre os povos do continente africano. Com exemplos dos reinos de Axum e do Mali, descreva como ocorreu esse processo.
5. Os iorubás contribuíram para formar a cultura brasileira. Deles herdamos, por exemplo, elementos religiosos, musicais e culinários, entre outros. Redija uma pequena síntese da história da civilização iorubá.
6. Quem eram os bantos e como se realizou a expansão desse povo pelo continente africano?
INTERPRETANDO DOCUMENTOS: TEXTO E IMAGEM
DIALOGANDO COM... LITERATURA
1. As narrativas transmitidas oralmente são fortes tradições culturais na África. Mitos, lendas, acontecimentos históricos e costumes milenares são repassados de uma geração à outra pela história oral. Os contadores de histórias estão entre as figuras mais prestigiadas em diversas regiões do continente. Chamados griôs na África ocidental, eles percorrem as comunidades contando e cantando poemas épicos, fatos da história de seu povo, batalhas, genealogias, etc. As histórias que você vai ler agora são contos tradicionais de Angola reunidos em livros pelo estudioso da literatura oral africana, o suíço Héli Chatelain. Leia os textos e responda ao que se pede.
O esquilo e a realeza
Uma vez prometeram ao esquilo a realeza e ele respondeu:
- Que seja hoje mesmo.
- Estamos à procura da insígnia.
- De qualquer forma, desde que seja imediatamente.
Como represália, as pessoas decidiram:
- Quem não pode esperar pela insígnia para ser proclamado rei, também não será capaz de governar condignamente o povo. Portanto, não o queremos!
Pelo que ficou dito, prova-se que a expressão imediatamente privou o esquilo de ser rei.
O cão e a realeza
Uma vez resolveram dar ao cão o privilégio da realeza e pensaram em todas as insígnias: a coroa, o bastão, os anéis, a pele de mukaka, etc. Quando já estava tudo pronto, marcaram o dia da coroação. Não faltaram as festas com tocadores de tambor e marimba e uma infinidade de pessoas de categoria. Para o soberano se sentar ofereceram-lhe amavelmente tapetes e esteiras.
Depois, principiaram a distribuir as insígnias. Nessa altura, o cão avistou um peito de galinha. Com sofreguidão agarrou-o e correu para o mato. A multidão comentou o fato e se dispersou. O roubo praticado pelo cão fê-lo perder a realeza.
CHATELAIN, Héli (org.). Contos populares de Angola. Lisboa: Edição Agência-Geral Ultramar, 1964. p. 401-403.
a) Os dois contos revelam algumas diretrizes que deveriam nortear os procedimentos de um bom rei africano. Quais diretrizes seriam essas?
b) Em sua opinião, quais valores são necessários para caracterizar um bom governante? Faça uma lista desses valores, junto com argumentos que justifiquem
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a escolha. Depois, compare a sua lista com a de seus colegas e debatam o assunto.
c) Crie um pequeno conto, no qual um ou mais valores que você escolheu fiquem evidentes. Use como modelo as histórias que você leu nesta atividade.
2. Leia o texto a seguir sobre Ossain, uma das divindades cultuadas pela civilização iorubá na África. A narrativa de Ossain foi compilada pelo etnógrafo francês Pierre Verger, que dedicou grande parte da sua vida a pesquisar as tradições religiosas africanas, especialmente o culto aos orixás, no livro Lendas africanas dos orixás, publicado em 1985. Com base na leitura, responda ao que se pede.
Ossain recebera de Olodumaré o segredo das folhas.
Ele sabia que algumas delas traziam a calma ou o vigor.
Outras, a sorte, as glórias, as honras, ou, ainda,
a miséria, as doenças e os acidentes.
Os outros orixás não tinham poder sobre nenhuma planta.
Eles dependiam de Ossain para manter a saúde
ou para o sucesso de suas iniciativas.
Xangô, cujo temperamento é impaciente, guerreiro e
imperioso,
irritado com esta desvantagem,
usou de um ardil para tentar usurpar, de Ossain,
a propriedade das folhas.
Falou do plano à sua esposa Iansã, a senhora dos ventos.
Explicou-lhe que, em certos dias,
Ossain pendurava, num galho de lroko,
uma cabaça contendo suas folhas mais poderosas.
"Desencadeie uma tempestade bem forte num desses
dias", disse-lhe Xangô.
Iansã aceitou a missão com muito gosto.
O vento soprou a grandes rajadas,
levando o telhado das casas,
arrancando as árvores,
quebrando tudo por onde passava e,
o fim desejado, soltando a cabaça do galho onde estava
pendurada.
A cabaça rolou para longe e todas as folhas voaram.
Os orixás se apoderaram de todas.
Cada um tornou-se dono de algumas delas,
mas Ossain permaneceu senhor do segredo de suas
virtudes e das palavras que devem ser pronunciadas para
provocar sua ação.
E, assim, continuou a reinar sobre as plantas,
como senhor absoluto.
Graças ao poder (axé) que possui sobre elas.
VERGER, Pierre Fatumbi. Lendas africanas dos orixás. Salvador: Corrupio, 1997. p. 24.
a) De acordo com a narrativa, quem era Ossain e quais eram seus poderes?
b) Como se dá a relação entre os deuses na narrativa compilada por Verger?
c) O culto aos orixás se tornou um elemento muito importante da religião afro-brasileira. Além de Ossain, a narrativa apresenta outros elementos importantes para a compreensão do culto aos orixás. Em grupo, pesquise outras divindades e aspectos do culto. Apresente um seminário, aos colegas da classe, com o resultado da pesquisa.
3 Observe a imagem a seguir. Trata-se de uma pintura feita no século VI no mosteiro de Abba Pantelewon, que fazia parte do território do reino de Axum. Observe atentamente a imagem e responda ao que se pede.
LEGENDA: Pintura do mosteiro de Abba Pantelewon, na região de Axum, na Etiópia. As ruínas de Axum são Patrimônio Mundial da Humanidade segundo a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
FONTE: Bridgeman/Keystone
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a) Descreva a imagem e formule uma hipótese para explicar quais personagens estão representados na cena.
b) Esse tipo de representação indica uma importante transformação nas práticas religiosas do povo de Axum quando comparadas com os primeiros séculos desse reino. Explique qual transformação é essa.
c) A partir da análise desse documento, é possível dizer que as práticas religiosas, ao longo da história, podem ser vistas como relações históricas e, portanto, marcadas por permanências e rupturas? Justifique sua resposta.
TESTE SEU CONHECIMENTO
NÃO ESCREVA NO LIVRO
1 Leia o trecho a seguir do historiador Alberto da Costa e Silva sobre o Reino de Mali. Identifique a opção correta entre as afirmativas que tratam do texto. Depois, justifique no caderno o erro das afirmativas falsas.
O islão já tinha, havia mais de cem anos, boas raízes entre os mandingas. Mas, embora Sundiata pertencesse a uma linhagem que adotara o maometanismo e comandasse muitos moslins, a imagem que dele nos dão os bardos malinques é a de um rei mágico, que retirava sua força da natureza e dos antepassados, um homem estreitamente ligado à religião de seu povo.
SILVA, Alberto da Costa. A enxada e a lança. São Paulo: Nova Fronteira, 2014. Edição digital sem paginação.
I. Não é possível afirmar que o mansa Sundiata fosse um verdadeiro adepto do islamismo, já que essa religião não aceita práticas nem crenças mágicas. Assim, ele era apenas um líder pagão que se dizia muçulmano.
II. Entre o povo mandinga, não existia um histórico de crenças monoteístas, por isso o mani precisava fingir ter poderes mágicos para conquistar a liderança de seu povo.
III. A imagem construída pelos bardos malinques do mani Sundiata indica a possível existência de práticas sincréticas e destaca que a disseminação das religiões monoteístas não significou o completo abandono das crenças politeístas existentes na África.
IV. De acordo com o texto, é possível dizer que as crenças islâmicas já existiam entre as populações mandingas antes do reinado do mani Sundiata.
Glossário:
Maometanismo: o mesmo que islamismo.
Moslim: o mesmo que muçulmano.
Bardo: na Europa antiga, eram as pessoas encarregadas de transmitir histórias, mitos, lendas e poemas de forma oral.
Malinque: da região do Mali.
Mani: título do governante, equivalente ao título de rei.
Fim do glossário.
a) Apenas a afirmativa I está correta.
b) As afirmativas II e III estão corretas.
c) As afirmativas I e IV estão corretas.
d) As afirmativas III e IV estão corretas.
e) Todas as afirmativas estão corretas.
2 A cultura africana teve influência não apenas na população do continente africano, mas também na América, especialmente no Brasil. Leia as afirmativas sobre esse tema e identifique a opção correta. Depois, justifique no caderno o erro das afirmativas falsas.
I. Povos iorubás e bantos migraram para o Brasil, desde o século XVIII, com o objetivo de fugir da seca e da fome que se alastravam pelo continente africano no período.
II. A escravidão de povos africanos provocou o deslocamento forçado de muitos iorubás e bantos para a América. A maior parte desses povos foi enviada para Cuba, mas alguns foram vendidos no Brasil.
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III. A cultura axumita se disseminou na América, a partir do século XVI, devido às práticas escravistas europeias. Isso fez com que a religião cristã, praticada entre os axumitas, se espalhasse pelo Brasil e por Cuba.
IV. Apesar de muitos iorubás e bantos terem sido enviados para a América, pouco da cultura africana se disseminou entre as populações das colônias europeias no continente porque existia um forte preconceito contra as culturas africanas no período, e seus praticantes foram duramente reprimidos pelas autoridades coloniais.
a) As afirmativas I e II estão corretas.
b) As afirmativas II e III estão corretas.
c) As afirmativas III e IV estão corretas.
d) As afirmativas I, II e III estão corretas.
e) Nenhuma das afirmativas está correta.
DIALOGANDO COM... GEOGRAFIA
3 O mapa da página 190 sobre os reinos africanos traz informações sobre os reinos da África antiga entre os séculos VII a.C. a XV d.C. Após a observação atenta do mapa, leia as seguintes alternativas e identifique a opção correta. Em seguida, justifique no caderno o erro das afirmativas falsas.
I. O continente africano, entre os séculos VII a.C. e XV d.C., estava dividido em grandes reinos territoriais centralizados, que disputavam o controle dos recursos e dos territórios africanos. Exemplo disso foi o Reino de Gana, que incorporou os territórios do Reino de Mali.
II. De acordo com o mapa, é possível afirmar que o continente africano passou por uma grande transformação em sua dinâmica política ao longo dos séculos, com o surgimento e a dissolução de vários reinos e de grupos culturais diferentes e com características próprias.
III. As rotas comerciais indicadas no mapa evidenciam as relações estabelecidas entre diferentes regiões da África, inclusive cruzando o deserto do Saara e ligando a África setentrional com a África subsaariana.
IV. Os reinos africanos criaram diferentes formas de organização política. Um exemplo disso é o Reino de Gana, que não tinha fronteiras delimitadas, porque a força desse reino era determinada pela quantidade de pessoas que estivessem sob o controle de seu soberano. Assim, pode-se dizer que a representação no mapa indica muito mais a zona de influência de Gana do que as fronteiras de seu território.
a) As afirmativas I, II e III estão corretas.
b) As afirmativas II, III e IV estão corretas.
c) As afirmativas I e II estão corretas.
d) As afirmativas III e IV estão corretas.
e) Nenhuma das afirmativas está correta.
4 A civilização iorubá e os bantos formavam dois grupos linguísticos diferentes que se desenvolveram no continente africano ao longo dos séculos. Leia as seguintes afirmações sobre esse tema e identifique a opção correta. Em seguida, justifique no caderno o erro das afirmativas falsas.
I. Os ancestrais da cultura iorubá começaram a se desenvolver desde a Pré-História. Essa cultura continua viva até o presente, tendo inclusive se mesclado com outras influências e se disseminado no Brasil e em Cuba.
II. Os bantos ocupavam cerca de dois terços do continente africano no fim do século XIII. Porém, as guerras e a escravidão provocaram o fim dessa cultura no século XVIII.
III. Um dos estados bantos que ganhou destaque e importância foi o Grande Zimbábue, surgido por volta de 1300, no atual Zimbábue. Na região, os bantos se tornaram artesãos, pastores, agricultores e comerciantes, que levavam ouro e marfim para vender na costa oriental do continente.
IV. A civilização iorubá não tinha um centro importante, mas se organizava em tribos nômades que se deslocavam pelo continente africano em busca de recursos e meios de sobrevivência.
a) As afirmativas I e III estão corretas.
b) As afirmativas II e IV estão corretas.
c) As afirmativas I, II e III estão corretas.
d) As afirmativas II, III e IV estão corretas.
e) Todas as afirmativas estão corretas.
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HORA DE REFLETIR
NÃO ESCREVA NO LIVRO
DIALOGANDO COM... LÍNGUA PORTUGUESA
A história do continente africano tem profundas ligações com a história do Brasil. Considerando a ideia proposta pela escritora Chimamanda Adichie (sobre o perigo de se contar uma história única) e o que foi discutido sobre as religiões afro-brasileiras neste capítulo, reflita sobre a maneira como a imprensa e outros meios de comunicação descrevem e abordam as religiões afro-brasileiras. Para isso, em pequenos grupos:
1. Pesquisem três reportagens sobre religiões afro-brasileiras publicadas em diferentes meios de comunicação, como jornais, revistas, portais jornalísticos.
2. Discutam como essas religiões foram representadas nos textos, refletindo principalmente se elas foram abordadas de forma respeitosa nos artigos.
3. Apresentem as conclusões do grupo aos colegas em sala de aula.
LEGENDA: Dança de máscaras do povo dogon, no Mali, em foto de 2014. Realizada principalmente para os turistas hoje em dia, a dança de máscaras é um dos aspectos mais famosos da cultura dogon malinesa.
FONTE: Jean-Pierre Degas/Prismapix/AFP
MINHA BIBLIOTECA
PARA NAVEGAR
Casa das Áfricas. Site da biblioteca/midiateca do instituto cultural, voltado para o estudo das sociedades africanas, com vídeos, áudios, dissertações, etc. Disponível em: http://africas.org.br/. Acesso em: 1º dez. 2015.
Centro Cultural Africano. Site do centro cultural, criado para manter vivas as tradições culturais africanas. Há fotos, notícias da África e dados sobre as atividades da ONG. Disponível em: www.centroculturalafricano.org.br. Acesso em: 1º dez. 2015.
Museu Nacional de Belas Artes. O site do museu possui uma coleção com mais de cem fotos de objetos de arte africana, com a cultura a que pertencem. Disponível em: http://mnba.gov.br/portal/colecoes/arte-africana.html. Acesso em: 1º dez. 2015.
PARA LER
Contos e Lendas Afro-Brasileiros - A criação do Mundo, de Reginaldo Prandi, Editora Companhia das Letras. O livro traz contos e lendas da tradição iorubá que foram trazidos e preservados no Brasil. A obra destaca a riqueza dos mitos dos orixás e deuses africanos por meio do percurso de Adetutu, um iorubá que foi trazido para o Brasil como escravo.
FONTE: Reprodução/Companhia das Letras
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CAPÍTULO 11 - Reinos medievais e fortalecimento da Igreja
Professor(a), veja no Procedimento Pedagógico deste capítulo uma breve discussão teórica acerca da Idade Média e também uma Atividade Alternativa sobre o tema.
A cavalhada é um folguedo de origem cristã bastante popular no Brasil. Nessa encenação, dois grupos de cavaleiros simulam um combate: os cavaleiros de azul representam os cristãos e os de vermelho, os muçulmanos, também chamados de mouros.
O enredo da cavalhada baseia-se nas histórias e lendas em torno da figura do rei cristão Carlos Magno. No século IX, ele controlava o Império Carolíngio, que se formou quando uma parte da Europa - especialmente a península Ibérica - estava sob o domínio muçulmano (reveja o mapa sobre a expansão islâmica, no Capítulo 9).
Neste capítulo estudaremos a transformação do Reino Franco em Império Carolíngio e os novos reinos que surgiram na Europa após a queda do Império Romano do Ocidente. Também abordaremos o processo de fortalecimento do poder da Igreja católica durante a Idade Média e o impacto desse processo na sociedade europeia daquela época.
LEGENDA: Cavalhada de Santo Amaro, em Campos dos Goytacazes, estado do Rio de Janeiro. Foto de 2014.
FONTE: Luciana Whitaker/Pulsar Imagens
OBJETIVOS DO CAPÍTULO
· Explicar a formação dos reinos germânicos na Europa após as invasões.
· Conhecer o processo de integração de tradições germânicas e romanas que definiu algumas características das sociedades feudais.
· Abordar as origens e a organização do Império Carolíngio.
· Entender o processo de fortalecimento da Igreja católica durante a Idade Média.
· Identificar as motivações que levaram à organização das Cruzadas.
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1. Reinos germânicos
No início do século V, o território que compunha o Império Romano do Ocidente - onde hoje se localizam vários países europeus - foi invadido por diversos povos, principalmente pelos germânicos (também chamados de germanos): visigodos, ostrogodos, burgúndios, anglos, saxões, francos, hérulos, vândalos e outros. Esses povos tinham crenças, idiomas, valores culturais e formas variadas de organização política. Eles criaram diversos reinos, a maioria teve curta duração. O mapa a seguir, com os reinos germânicos, mostra os mais duradouros.
Segundo o historiador inglês Perry Anderson, em termos político-administrativos ocorreu nesses novos reinos um lento processo de integração de elementos romanos e germânicos. Em termos sociais, o resultado desse processo foi a formação de dois grupos distintos e sobre os quais se estruturou a sociedade: a aristocracia rural (composta de grandes proprietários) e o campesinato (completamente dependente dos donos de terra). Devido à miscigenação cultural entre romanos e germânicos, nasceu um novo tipo de sociedade, que se tornaria a base dos atuais povos europeus.
Relações de dependência
Os soberanos germânicos consideravam que seus reinos eram propriedade pessoal. Por isso, entendiam que tinham direito de reparti-los entre os filhos ou de doar extensões de terras a pessoas que lhes prestavam serviços importantes.
FONTE: Adaptado de: DUBY, Georges. Grand atlas historique. Paris: Larousse, 2006. Créditos: Banco de imagens/Arquivo da editora
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Para manter seus povos unidos em torno de sua autoridade, procuravam mobilizá-los em constantes campanhas militares. As guerras permitiam que os nobres mais poderosos organizassem seus próprios exércitos, recrutando guerreiros aos quais ofereciam um soldo ou a garantia de subsistência.
Em troca de proteção, muitos guerreiros doavam suas pequenas propriedades a um chefe poderoso, que lhes assegurava o direito de continuar trabalhando em suas antigas terras. Embora livres, essas pessoas tornavam-se dependentes dos senhores aos quais se ligavam, de modo que a linha que separava a servidão da liberdade passou a ser muito tênue. Aos poucos, o poder desses nobres cresceu em detrimento do poder real.
Fuga para o campo
No século VI, um surto de peste bubônica assolou a Europa, reduzindo drasticamente sua população (veja abaixo a seção Você sabia?). Assustadas, muitas pessoas abandonaram as cidades, onde a mortalidade era maior, e foram para o campo. Em ruínas, embora nunca totalmente despovoadas, as cidades passaram a ganhar ocasionalmente comerciantes e peregrinos durante festas religiosas. Com a ruralização, o comércio declinou.
Boxe complementar:
VOCÊ SABIA?
DIALOGANDO COM... BIOLOGIA
Peste bubônica ou peste negra
Hoje em dia, sabe-se que a peste negra é causada por uma bactéria e transmitida ao ser humano pela picada da pulga de ratos contaminados. Era assim chamada porque provocava várias manchas negras na pele e um inchaço exacerbado (os bulbos) das glândulas linfáticas localizadas nas axilas, virilhas e pescoço.
Na Idade Média, era fatal. Pelo fato de a causa real da doença ser desconhecida, durante muito tempo foi considerada castigo divino. Com o aparecimento dos antibióticos, no século XX, o tratamento da peste tornou a doença controlável.
LEGENDA: Iluminura do século XVI representando vítimas da peste bubônica na cidade de Perugia, Itália.
FONTE: Dea/A.Dag/iOrti/DeAgostini/Getty Images
Fim do complemento.
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2. A Igreja católica se fortalece
Com o processo de enfraquecimento do poder real, de fortalecimento da nobreza rural, de desaparecimento e surgimento de reinos, uma instituição conseguiu superar as adversidades, permanecer unida e se fortalecer: a Igreja católica.
Religião oficial do Império Romano do Ocidente desde o ano 380, o cristianismo foi pouco a pouco adotado pelos reinos germânicos surgidos na Europa ocidental a partir do século V. Com o tempo, a Igreja acumulou vastas extensões de terra e outros bens materiais transformando-se na mais rica e poderosa instituição da Europa ocidental. As propriedades da Igreja - diferente do que ocorria com os nobres, cujos bens eram repartidos após a morte devido ao direito de herança - não podiam ser divididas, pois não pertenciam a seus membros, mas à própria instituição. Dessa forma, além do poder espiritual, a Igreja passou a deter um amplo e sólido patrimônio material.
O poder terreno (também chamado de poder temporal) e o poder ideológico da instituição religiosa na sociedade começaram a se firmar quando alguns reis germânicos se converteram ao cristianismo. Foi o caso de Clóvis, rei dos francos, cuja conversão em 496 abriu caminho para uma sólida aliança entre a Igreja católica e o poder real. A união mostrou-se vantajosa para ambas as partes. De um lado, a Igreja obtinha apoio de uma força política e militar capaz de garantir sua sobrevivência; de outro, o rei amparava-se na Igreja como forma de legitimar seu poder e usufruía da organização administrativa do clero para governar.
LEGENDA: Muitos séculos depois do evento, o vitral da Igreja de São Boaventura, em Lion, França, ilustra o batismo do rei Clóvis, convertido em 496. A igreja foi concluída no século XIV. Foto de 2013.
FONTE: Pierre-Jean Durieu/Shutterstock
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3. Os francos e o Império Carolíngio
No início do século V os francos invadiram a região da Gália (atual França). No final do século, já dominavam grande parte da Europa central. Essa política expansionista era muito bem vista pela hierarquia eclesial, pois o crescimento do Reino Franco significava também a difusão da fé cristã (como vimos, em 496, Clóvis, o rei dos francos, havia se convertido ao cristianismo).
Em 732, já governados pela dinastia Carolíngia, um forte exército de cavaleiros couraçados francos impediu o avanço dos muçulmanos na Europa, na batalha de Poitiers (sobre os cavaleiros couraçados, veja a seção Olho vivo na página ao lado). Após essa vitória, os carolíngios passaram a ser vistos como os grandes defensores do mundo cristão. Posteriormente, os laços entre a Igreja e os reis francos iriam se fortalecer ainda mais.
Carlos assumiu o reino Franco em 771 e iniciou um período de conquistas territoriais e de expansão do cristianismo. Em dezembro do ano 800, durante as celebrações do Natal, o papa Leão III coroou Carlos como imperador dos romanos, com o título de Carlos Magno. O episódio representava o fortalecimento da união entre o reino e a Igreja e uma tentativa de restaurar o antigo Império Romano do Ocidente, tornando o rei um representante de Deus na Terra.
LEGENDA: Coroação de Carlos Magno, em representação do manuscrito medieval Flor de Crônicas (também conhecido como Flor da História), do artista Jean Mansel (século XV).
FONTE: Dea Picture Library/Getty Images
No plano político-administrativo e jurídico, Carlos Magno assumiu o controle dos tribunais, padronizou o sistema de cunhagem de moedas e passou a fazer uso crescente de documentos escritos.
O vasto território carolíngio foi organizado e dividido em partes. Cada segmento ficou sob o governo de um nobre. Foi criada uma estrutura hierárquica que seria, posteriormente, utilizada na formação de outros reinos e perpetuada: os condados eram governados por condes; as marcas eram administradas pelos marqueses; e vários condados reunidos formavam um ducado, sob o comando dos duques.
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OLHO VIVO
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