DOCUMENTO 2 - Charge
LEGENDA: As redes sociais servem de tema para a charge de junho de 2013.
FONTE: Carlos Amorim/Acervo do cartunista
REFLITA E RESPONDA
1. Com base no texto de abertura desta unidade e no documento 1, pode-se afirmar que os mecanismos de funcionamento da democracia são mais amplos do que apenas o direito de votar e escolher os representantes políticos de um país. Qual é o sentido mais amplo de democracia?
2. A charge de Carlos Amorim constrói uma reflexão sobre o papel das redes sociais no mundo contemporâneo. Considerando a imagem, qual a reflexão proposta pelo cartunista sobre essas tecnologias?
3. Com base no relatório do documento 1 e na charge do cartunista Carlos Amorim, redija uma dissertação relacionando o conceito de democracia e cidadania com o desenvolvimento de novas formas de participação social de indivíduos em diferentes partes do planeta.
4. Como você e seus colegas de classe podem contribuir para ampliar o processo democrático no Brasil?
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UNIDADE - 4 Diversidade religiosa
As crenças religiosas estão entre as mais antigas experiências do ser humano em busca de proteção para a vida e de segurança espiritual diante do fenômeno da morte. A religião está estreitamente relacionada à história e às formas de organização das sociedades que lhes deram origem.
Devido a essa historicidade, as religiões costumam ter preceitos, valores e ritos quase sempre incompreensíveis para quem não conhece a cultura da qual fazem parte. Assim, para algumas religiões, os sábados são dedicados aos ritos religiosos; para outras, os domingos é que são considerados sagrados (algumas religiões proíbem o corte de cabelos, outras determinam que seus seguidores fiquem carecas).
De modo geral, as religiões pregam a paz, o bem e o amor ao próximo. Apesar disso, a intolerância em relação aos preceitos religiosos alheios já provocou muitas guerras em diversos períodos da História. Ainda hoje, conflitos como a guerra entre judeus e muçulmanos na Palestina; entre budistas e hindus no Sri Lanka; e entre muçulmanos e cristãos no Sudão e na Nigéria, por exemplo, têm componentes religiosos.
No Brasil, depois dos adeptos das religiões de matriz africana, os seguidores do islamismo são os que mais sofrem com a intolerância religiosa. Em ambos os casos, as pessoas dessas religiões costumam sofrer com insultos, cusparadas, pedradas, ameaças de morte.
Nesta Unidade estudaremos o mundo medieval europeu e o Império Islâmico - contextos históricos nos quais se desenvolveram o cristianismo e o islamismo, duas das religiões com mais seguidores no mundo moderno. Conheceremos também alguns dos reinos mais antigos da África, um pouco de sua cultura e de suas manifestações religiosas.
LEGENDA: Ilustração do artista austríaco Peter Hermes Furian, criada em 2015, que representa a harmonia e a tolerância entre as várias religiões.
FONTE: Peter Hermes Furian/Shutterstock
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LEGENDA: Imagem do encontro ecumênico no estádio do Maracanã, promovido pela Pastoral do Esporte da Arquidiocese do Rio de Janeiro em 2014, com o lema "Por um mundo sem armas, drogas, violência e racismo".
FONTE: Celso Pupo/Fotoarena
Professor(a), veja no Procedimento Pedagógico deste capítulo uma breve discussão que aprofunda o tema da diversidade religiosa e uma proposta de AtividadeAlternativa sobre o tema da laicidade do Estado.
COMEÇO DE CONVERS,
1. Um passo importante para o exercício da tolerância religiosa é conhecer a diversidade de crenças da comunidade em que vivemos. Pense nas religiões praticadas pelos moradores da sua comunidade ou bairro e anote o nome e as características delas. Tente identificar o maior número de crenças possível, incluindo as praticadas por um pequeno número de indivíduos. Depois, reúna-se em grupo e apresentem o resultado para os colegas em sala de aula.
2. Leia atentamente: A pluralidade religiosa é um elemento fundamental para o desenvolvimento cultural de uma sociedade, estimulando o aprendizado ético da convivência com a diferença, uma vez que essa multiplicidade permite aos indivíduos observar que existem variados modos de vida, crenças e práticas cotidianas e que isso não significa existência de hierarquia de valores, mas sim evidencia que todas as crenças e culturas merecem respeito e aceitação. Justifique essa afirmação e apresente exemplos que fundamentem seus argumentos.
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CAPÍTULO 9 - Mundo árabe-muçulmano
O islamismo é hoje a segunda maior religião do mundo e existe uma grande diversidade entre aqueles que professam a religião. Com cerca de 1,3 bilhão de adeptos, essa doutrina defende a justiça e a prática da generosidade entre as pessoas. Seus seguidores são conhecidos como muçulmanos, que em árabe significa "aqueles que se subordinam a Deus".
Fundado no século VII, na atual Arábia Saudita, pelo profeta Muhamad (Maomé), o islamismo desempenhou importante papel no processo de unificação dos diversos povos árabes em torno de um governo centralizado.
Neste capítulo estudaremos o processo da unificação dos povos árabes, cujo desdobramento mais significativo foi a formação de um império, que, por volta do século VIII, se estendia da península Ibérica, na Europa, até o rio Indo, na Ásia. Veremos também alguns aspectos que envolvem o islamismo nos dias de hoje.
LEGENDA: Foto publicada em uma rede social no Irã, em que mulheres protestam sem véu contra as restrições sociais e legais a que são submetidas no país. Foto de 2014.
FONTE: Reprodução/www.pragmatismopolitico.com.br/2014/05/iranianas-fazem-selfies-sem-veu-em-protesto-por-mais-liberdade.html
LEGENDA: A paquistanesa Malala Yousafzai recebeu o prêmio Nobel da Paz em 2014 aos 17 anos. A jovem é ativista pelo direito à educação feminina em seu país e sobreviveu a uma tentativa de assassinato organizada pelo Talibã. Foto de 2013.
FONTE: Mary Altaffer, FILE/AP Photo/Glow Images
OBJETIVOS DO CAPÍTULO
· Conhecer as origens do Império Muçulmano.
· Compreender a formação e alguns fundamentos do islamismo.
· Identificar o papel do islamismo no processo de unificação e expansão da cultura árabe.
· Analisar a formação do Império Islâmico e seus desdobramentos.
· Refletir sobre o legado do mundo islâmico.
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1. A base da cultura árabe
Professor(a), veja no Procedimento Pedagógico deste capítulo uma discussão sobre as diferenças entre os termos árabe e muçulmano.
Por volta de 1200 a.C., os habitantes da península Arábica, cujo território é formado em sua maior parte por desertos, encontravam-se divididos em pequenas tribos, os árabes, de origem semita, que se dedicavam principalmente ao pastoreio e ao comércio.
Ao longo dos séculos seguintes, as atividades comerciais desenvolveram-se. Tornaram-se frequentes as caravanas em direção à Palestina e à Síria atuais, mais ao norte, onde eram vendidas mercadorias do Oriente que chegavam pelo oceano Índico. Na travessia das áreas desérticas, alguns núcleos urbanos se formaram em torno de oásis, como os de Qurayya e Tayma, onde era possível obter água potável.
De modo geral, esses pequenos núcleos se configuravam como cidades-Estado, pois contavam com leis e governos próprios, não tendo a Península Arábica um governo único. Pouco a pouco, alguns desses núcleos se enriqueceram com o comércio e se transformaram em reinos, como os de Magan e A'ad.
Inicialmente, os árabes cultuavam diversos deuses relacionados aos astros e a fenômenos naturais e eram animistas, ou seja, cultuavam objetos inanimados por acreditarem que também tinham alma.
Meca, cidade situada em um oásis no lado ocidental da península Arábica e ponto de encontro das caravanas (veja o mapa A expansão islâmica (622-750), da página 178), com intenso comércio, contava com um santuário construído em formato de cubo (ka'ba, em árabe), conhecido como Caaba. Ali, as pessoas reverenciavam 360 deuses e deusas e prestavam homenagens a uma pedra negra considerada sagrada.
LEGENDA: Ídolos antropomórficos árabes, produzidos entre 3000 a.C. e 1000 a.C. Feitas de granito, as peças foram encontradas no Iêmen.
FONTE: Philippe Maillard/akg/Latinstock
2. O islamismo
O governo de Meca era exercido por um conselho e um clã. A partir de 613, contudo, um condutor de caravanas chamado Maomé passou a proclamar a existência de um único Deus, que chamou de Alá, e denominava sua religião de islã, que quer dizer "submissão a Deus".
Para os grandes comerciantes de Meca, o monoteísmo de Maomé podia afastar os peregrinos e afetar o comércio. Hostilizado por eles, em setembro de 622 (pelo calendário cristão) Maomé fugiu para a cidade de Yatrebe.
Essa viagem, conhecida como hégira (emigração), marca o início do calendário da nova religião difundida por Maomé. Os seguidores do islamismo passaram a ser chamados de muçulmanos (muslim, em árabe, cujo radical linguístico é o mesmo da palavra islã).
Boxe complementar:
FILME
Veja o filme Maomé, o mensageiro de Alá, de Moustapha Akkad, 1977, 220 min. Filme sobre o início do islamismo, os conflitos de Maomé com os poderosos de Meca e sua peregrinação para Medina.
Fim do complemento.
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O islã e o jihad
Em Yatrebe, que posteriormente passou a se chamar Medina (Cidade do Profeta), surgiu a primeira comunidade regida por princípios islâmicos. Sob a liderança de Maomé, o governo da cidade se tornou teocrático: como representante de Alá na Terra, o profeta assumiu as funções de juiz, líder espiritual, militar e administrativo.
Como chefe militar, Maomé organizou ataques às tribos vizinhas e às caravanas que cruzavam o deserto. Ele afirmava que a luta contra as pessoas que não seguiam o islã era um "esforço em favor de Deus", ou seja, um jihad (veja a seção Passado presente a seguir). Aqueles que morressem em prol da fé muçulmana seriam considerados mártires e, como recompensa, conquistariam a salvação eterna no paraíso.
Essa valorização da morte por meio do jihad provocou um aumento no número de pessoas dispostas a combater em nome de Alá. Os líderes tribais da região, percebendo a força militar conquistada por Maomé, uniram-se a ele, convertendo-se ao islamismo. Em janeiro de 630, Maomé, acompanhado de aproximadamente 10 mil seguidores, invadiu a cidade de Meca e mandou destruir todos os ídolos existentes na Caaba, declarando-a um lugar sagrado para os muçulmanos e centro de suas peregrinações.
Com esses fundamentos religiosos, Maomé unificou as tribos da península Arábica e criou um forte sentimento de identidade entre os árabes, fazendo surgir um Estado árabe-muçulmano. Quando morreu, em 632, praticamente toda a região ocidental da península Arábica estava sob domínio da teocracia islâmica.
LEGENDA: Gravura turca do século XV representando uma aparição do anjo Gabriel a Maomé. Na imagem, o anjo ordena a Maomé que anuncie a mensagem de Deus às pessoas. Note que, na figura, não está retratado o rosto de Maomé.
FONTE: Reprodução/Museu Topkapi, Istambul.
Professor(a), veja no Procedimento Pedagógico deste capítulo uma sugestão para trabalhar essa temática em sala de aula.
PASSADO PRESENTE
Os princípios do islamismo
O islamismo conta atualmente com mais de 1 bilhão de fiéis no mundo; a maioria deles concentrada na Ásia (70%) e na África (26%).
Maomé é o principal profeta da crença islâmica. Segundo a tradição, quando tinha 40 anos ele recebeu uma missão do anjo Gabriel, que lhe ordenou pregar a existência de um Deus único: Alá, em árabe.
Entre 610 e 632, ano de sua morte, Maomé teria recebido revelações divinas reunidas no corão, livro sagrado do islamismo, que guarda todos os preceitos econômicos, jurídicos, políticos e religiosos dos muçulmanos. Nele estão definidos os cinco pilares
Os princípios do islamismo
O islamismo conta atualmente com mais de 1 bilhão de fiéis no mundo; a maioria deles concentrada na Ásia (70%) e na África (26%).
Maomé é o principal profeta da crença islâmica. Segundo a tradição, quando tinha 40 anos ele recebeu uma missão do anjo Gabriel, que lhe ordenou pregar a existência de um Deus único: Alá, em árabe.
Entre 610 e 632, ano de sua morte, Maomé teria recebido revelações divinas reunidas no Corão, ou Alcorão, livro sagrado do islamismo, que guarda todos os preceitos econômicos, jurídicos, políticos e religiosos dos muçulmanos. Nele estão definidos os cinco pilares da religião muçulmana: aceitar que há um só Deus e que seu profeta é Maomé; rezar cinco vezes por dia voltado para Meca; ajudar os pobres; jejuar no mês sagrado do Ramadã; e peregrinar ao menos uma vez na vida a Meca.
Para os muçulmanos, abraçar o islã significa assumir o total compromisso de viver nos moldes prescritos no Alcorão. Trata-se de um jihad, ou seja, de um esforço físico, moral, espiritual e intelectual em favor de Deus. De acordo com o historiador Peter Demant, o termo jihad pode significar tanto essa disciplina de transformação interior (grandejihad) como também o empenho na guerra de conversão dos não muçulmanos ao islamismo (pequeno jihad).
Texto elaborado com base em: DEMANT, Peter. O mundo muçulmano. São Paulo: Contexto, 2004. p. 24-28; BURGIERMAN, Denis Russo; CAVALCANTE, Rodrigo; VERGARA, Rodrigo. A palavra de Deus. Superinteressante. São Paulo: Abril, n. 170, nov. 2001; ARMSTRONG, Karen. Maomé: uma biografia do profeta. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.
DE OLHO NO MUNDO
Atualmente, existem muitos países cuja maioria da população é praticante do islamismo. Em grupos, pesquisem aspectos variados desses países islâmicos: características do funcionamento da democracia; questões de gênero (relações entre homens e mulheres); aspectos econômicos; distribuição de renda entre os habitantes; aspectos culturais relevantes; e a tolerância à diversidade religiosa nesses países. Cada equipe deverá escolher um país diferente. Ao final, apresentem um seminário sobre o assunto.
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ORGANIZANDO AS IDEIAS
NÃO ESCREVA NO LIVRO
ATIVIDADES
1. No século XII a.C., a população da península Arábica era formada por pequenas tribos independentes. Descreva a organização social e econômica dessas tribos.
2. Em linhas gerais, relate o processo de surgimento do islamismo e suas principais características.
3. Aponte as características das crenças religiosas dos habitantes da península Arábica antes do surgimento do islamismo e destaque a(s) diferença(s) entre o islamismo e as crenças até então vigentes.
INTERPRETANDO DOCUMENTOS: TEXTO
ATIVIDADES
Leia a seguir o trecho da obra Al-Muqaddimah, do historiador árabe Ibn Khaldun (1332-1406). O historiador, importante intelectual do mundo islâmico, nasceu em Túnis e morreu no Cairo. Sua obra consiste em um estudo metodológico sobre a escrita da história dos povos muçulmanos. A partir da leitura, responda ao que se pede.
Habituados à simplicidade da vida nômade, [os árabes] jamais tinham dirigido a sua atenção para as artes. Mas, uma vez afirmada a sua dominação, assim como o seu império, quando adotaram a vida sedentária, alcançaram um alto grau de civilização jamais alcançado por povo algum; quando começaram a cultivar as ciências e as artes em todas as suas ramificações, sentiram vontade de estudar as ciências filosóficas, das quais tinham ouvido falar, aos bispos e sacerdotes que administravam os povos tributários e também porque o espírito do homem aspira naturalmente ao conhecimento dessas matérias.
BISSIO, Beatriz. Percepções do espaço no medievo islâmico (século XIV). Tese (Doutorado) - UFF, Niterói, 2008, p. 49.
a) De que modo o historiador descreve a vida nômade dos árabes antes do surgimento da religião islâmica?
b) Segundo o historiador, qual fator permitiu aos povos árabes modificar sua relação com a cultura e a civilização?
3. Expansão islâmica
Após a morte de Maomé, os islamitas se dividiram em duas facções para definir seu sucessor: os sunitas acreditavam que deveria ser escolhida a pessoa mais capacitada (a palavra árabe sunni significa "aqueles que seguem os costumes") e os xiitas defendiam que o sucessor de Maomé deveria ser seu parente mais próximo por consanguinidade, no caso, seu primo e genro, Ali (xiita vem do árabe shi'at Ali, ou seja, "partido de Ali").
Ainda hoje os muçulmanos se dividem entre sunitas (84%) e xiitas (16%). Os sunitas acreditam que a autoridade espiritual pertence à comunidade islâmica como um todo; os xiitas afirmam que o líder da comunidade, o imã, é quem deve centralizar o poder (veja o boxe na página 179 Os fundamentalistas islâmicos).
Os sunitas saíram vitoriosos. Abu-Bakr, sogro de Maomé, foi o escolhido com o título de halifa (em português, califa), palavra árabe que quer dizer "sucessor". No entanto, enquanto Maomé era considerado profeta pelos muçulmanos, os califas eram encarados apenas como líderes políticos e religiosos. Quando Abu-Bakr morreu, em 634, praticamente todas as tribos da península Arábica já haviam se convertido ao islamismo. Seu sucessor, Omar ibn al - Khattab, deu início à expansão externa da península Arábica, que resultou na formação de um grande império (veja o mapa a seguir).
NÃO ESCREVA NO LIVRO
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FONTE: Adaptado de: DUBY, Georges. Grand atlas historique. Paris: Larousse, 2006. Créditos: Banco de imagens/Arquivo da editora
Dinastia dos Omíadas (661-749)
Em 661, o governo do império passou para a família Omíada e tornou-se uma monarquia laica, ou seja, os cargos administrativos não eram mais ocupados de acordo com a importância religiosa, mas seguiam critérios de competência e conhecimento.
A capital do império foi transferida de Medina para Damasco, na Síria, e o árabe passou a ser o idioma oficial, obrigatório para todas as pessoas convertidas ao islamismo.
A expansão do islamismo continuou. Em 711, os árabes conquistaram, a leste, a região dos atuais países Paquistão e Afeganistão e, a oeste, a península Ibérica, onde ficam atualmente Portugal e Espanha. Entre 749 e 750, o império passou para as mãos da dinastia dos Abássidas. Os Omíadas ficaram na península Ibérica, onde criaram um califado independente em 756.
LEGENDA: Os arcos árabes que decoram essa catedral em Córdoba, na Espanha, denotam a dominação árabe na região durante a Idade Média. Foto de 2015.
FONTE: Renata Sedmakova/Shutterstock
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PASSADO PRESENTE
DIALOGANDO COM... GEOGRAFIA E RELIGIÃO
Os fundamentalistas islâmicos
A liberdade religiosa é um dos direitos básicos do ser humano. Essa premissa, encontrada na Constituição de diferentes países, garante que cada um possa expressar sua fé ou até mesmo não seguir/acreditar em religião alguma - situação essa que deve ser vista com naturalidade e respeito por todos nós.
Ainda assim existem aqueles que tendem a ser intolerantes com a religião dos outros e até com pessoas de seu próprio grupo religioso que pensam diferente. Em geral esses indivíduos são chamados de fanáticos religiosos: eles acreditam ser portadores de uma determinada verdade e não aceitam nem respeitam a opinião alheia. Infelizmente existem fanáticos em quase todas as religiões, inclusive na religião islâmica.
Nas últimas décadas, surgiram diversos grupos radicais islâmicos que defendem ações violentas contra todos os que interpretam a religião de modo diferente do que eles acreditam. Exemplos são os grupos do Estado Islâmico (EI, originário do Iraque), da Al-Qaeda (Arábia Saudita), do Talibã (Paquistão e Afeganistão), do Boko Haram (Nigéria) e do Hezbollah (Líbano). Esses grupos, chamados de fundamentalistas, veem nos fundamentos da religião a base para a organização da vida social e política. Assim, estão empenhados na criação de uma sociedade regida pelo Alcorão.
LEGENDA: Defensores do movimento xiita libanês Hezzbollah agitam bandeiras durante um discurso do líder do movimento, Hassan Nasrallah, transmitido em praça pública a partir de um local não revelado. Promovida em Beirute, em 2016, a manifestação marcou o aniversário dos assassinatos ocorridos em diferentes momentos da história do movimento.
FONTE: Anwar Amro/AFP
Analistas que acompanham a trajetória dessas organizações alertam, no entanto, que, muitas vezes, mais do que as questões religiosas, está em jogo o controle do petróleo e as disputas geopolíticas envolvendo sunitas e xiitas.
A Al-Qaeda, por exemplo, organização responsável pelos ataques terroristas aos Estados Unidos em 11 de setembro de 2001, surgiu na Arábia Saudita (país de maioria sunita), que vê o Irã (país xiita) como sua principal ameaça. O Irã, por sua vez, é acusado por muitos de patrocinar, com o dinheiro do petróleo, o Hezbollah, grupo que age principalmente no Líbano. Também o Iraque tornou-se palco de explosões e atentados envolvendo disputas "aparentemente" religiosas, mas também de cunho geopolítico.
Além dos ataques perpetrados aos próprios países de maioria muçulmana, alguns desses grupos passaram a promover também ações em países ocidentais. Essas ações visam protestar contra a intervenção militar do Ocidente no Oriente Médio e, ao mesmo tempo, mostrar a força dessas organizações. É o caso, por exemplo, do Estado Islâmico, grupo formado no Iraque, em 2004, como um braço da Al-Qaeda (com a qual rompeu posteriormente).
Em 2015, o Estado Islâmico controlava regiões do Iraque e da Síria (onde formou um califado), e orquestrou um ataque terrorista em Paris, na França, que matou mais de 100 pessoas e feriu cerca de 350. Em um vídeo divulgado após os atentados, o grupo afirmou que a ação deveu-se ao fato de a França ter participado de bombardeios aéreos na Síria. (Em 2011, teve início uma guerra civil na Síria, que, em quatro anos, matou mais de 210 mil pessoas.)
Por causa dessas ações, muitos seguidores da religião islâmica têm sido erroneamente associados a terroristas e sofrido perseguições em diversos lugares do mundo, inclusive no Brasil.
No entanto, o que precisa ser considerado é que não podemos responsabilizar todos os muçulmanos do mundo (mais de 1 bilhão) pelas atrocidades promovidas por pequenos grupos. Outro ponto importante é que, em geral, os muçulmanos também são vítimas desses extremistas. Basta considerar que boa parte das migrações mundiais de hoje em dia são promovidas por islamitas fugindo dessas regiões de conflitos.
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Dinastia dos Abássidas (749-1258)
O governo da dinastia dos Abássidas consolidou o islamismo nas regiões conquistadas. Muçulmanos não árabes passaram a ter permissão para ocupar cargos públicos e o império deixou de ser unicamente árabe para se transformar em um Império Muçulmano.
O califa tornou-se um autocrata com poderes absolutos, de origem divina, e foi criado o cargo de vizir, uma espécie de primeiroministro, responsável pela administração do império. Em 762, os Abássidas transferiram a capital de Damasco para a então recém-construída Bagdá, atual capital do Iraque.
LEGENDA: Miniatura de pintura persa representando o jovem califa abássida do Império Muçulmano, Harun al-Rashid (imagem sem data).
FONTE: Reprodução/Wikimedia Commons
LEGENDA: Peça de xadrez do século X, feita de bronze, representando o califa (já maduro) Harun al-Rashid, que governou o Império Muçulmano entre os anos de 786 e 809. Al-Rashid nasceu nas terras que hoje pertencem ao Irã e foi o quinto califa abássida do Iraque.
FONTE: Bridgeman/Keystone
4. Aspectos culturais do mundo islâmico
Professor(a), veja no Procedimento Pedagógico deste capítulo um texto que aprofunda a temática do Império Muçulmano e as trocas culturais que ocorriam no interior desse território.
Nas bibliotecas públicas de Bagdá, centenas de copistas se dedicavam a traduzir, para o árabe, tratados de Filosofia, Ciências, Matemática e Medicina, escritos em grego, latim, hindu, persa e outras línguas. Para abrigar todo esse material, foi construído um complexo de museus e bibliotecas conhecido como Bait al-hikma, que quer dizer "A casa da sabedoria".
Nessas condições, Bagdá passou a atrair intelectuais de diversas regiões. A revitalização cultural e científica se propagou pelo mundo muçulmano. Muitos mercadores ricos e governantes passaram a atuar como protetores das artes e das ciências e houve a invenção de novas técnicas de agricultura e de construção de canais de irrigação. O contato com outras culturas permitiu o avanço dos muçulmanos em outras áreas de conhecimento.
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