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SESSENTA E SEIS
MATÉRIA DA ASSOCIATED PRESS, PUBLICADA EM 28 DE MARÇO, ÀS 11H45 EDT:
As polícias de pelo menos quatro cidades ao redor do mundo lançaram operações relâmpago contra as sedes de alguns dos maiores bancos do mundo, o que parece ser uma ação com co­ordenação internacional motivada pelo surpreendente pronun­ciamento de renúncia do presidente Stephen Baker.

O principal alvo foi o banco AitkenBruce, que declarou um lucro de 12 bilhões de dólares no último ano. As sedes em Lon­dres, Nova York e Dubai foram invadidas com uma diferença de poucos minutos, e agentes da Interpol apreenderam imediata­mente registros computadorizados, ordenando o que foi chama­do de um "bloqueio total" para que provas cruciais não fossem destruídas.
ATUALIZAÇÃO PUBLICADA ÀS 12H01:
Agentes federais prenderam Roger Waugh, presidente e diretor-executivo do banco AitkenBruce, em sua mansão de 35 milhões de dólares em Long Island. O Sr. Waugh foi conduzido para fora da casa perante jornalistas, algemado e com as pernas acor­rentadas. De acordo com uma fonte do FBI que falou com a AP sob a condição de não ter a identidade revelada, um sinal de que os promotores pretendem fazer "acusações da mais alta gravida­de" contra o gigante bancário e o seu principal executivo...

SESSENTA E SETE
Uma semana depois...
— Senhoras e senhores, o presidente dos Estados Unidos!

Maggie observou atentamente para ver quais deputados e senado­res estavam ansiosos para apertar a mão do novo presidente e quais agiam de forma mais reservada. Quando Baker fez um pronunciamen­to televisionado em uma seção conjunta do Congresso, os democratas estavam todos desesperados para tocá-lo, esperando roubar um pouco daquele brilho. Mas os republicanos se mantiveram à distância.

Agora ambos os lados estavam ansiosos, aplaudiam com entusias­mo, se esticavam para cumprimentar Bradford Williams enquanto ele abria caminho pela multidão que obstruía a entrada do plenário. Os democratas estavam determinados a usar a ocasião para apoiar o novo presidente; os republicanos, suspeitava Maggie, estavam dispostos a demonstrar naturalidade com o fato de terem um presidente negro a partir de então.

Foram precisos quatro minutos para que cessassem os aplausos de todos os 435 deputados e cem senadores, além dos nove juizes da Su­prema Corte e dos chefes do Estado-Maior das Forças Armadas em seus uniformes engomados. Então Williams começou a falar:



  • Caros americanos, daria de bom grado tudo o que tenho para não estar aqui neste dia. A partida de Stephen Baker foi um duro golpe para a nossa nação, um golpe que pareceu abalar as fundações do nos­so sistema. Precisaremos de muito tempo para nos recuperarmos. Não será fácil. Na verdade, será difícil. Para mim, assim como para vocês. Mas juntos, acredito que isso seja possível.

Outra rodada de aplausos. Maggie notou que a testa de Williams já estava brilhando.

  • Foi um choque não apenas porque esta nação depositou con­fiança em Stephen Baker e lhe concedeu um mandato para governar há apenas poucos meses. Foi um choque pelo que descobrimos. Que existia uma conspiração para negar ao povo americano o direito de ser livre e soberano, uma conspiração para controlar o homem que esta nação escolheu como o seu presidente. Estou aqui esta noite para dizer a vocês e àqueles por trás dessa conspiração, quem quer que eles sejam: isso não ficará impune.

Um trovão de aplausos. Maggie se mexeu na cadeira, inquieta.

  • Amanhã assinarei uma lei que regulará esses bancos, não ape­nas aqueles que ganharam importância demais para deixarem de ter apoio do governo, mas também os que se tornaram simplesmente im­portantes demais. Ponto. Planejo dar um basta à forma imprudente como essas instituições recebem e usam o nosso dinheiro. A nossa economia deixará de ser um cassino. Ela é importante demais para isso.

Recebeu uma nova onda de aplausos, mas prosseguiu em um ton mais alto.

  • Planejo limitar a remuneração dessas instituições, para que ela reflita o mundo em que vivemos, para que aqueles que trabalham duro possam seguir em frente, mas aqueles que mentem, roubam e trapa­ceiam deixem de ser recompensados pelas suas ações.

Maggie notou que todos, a não ser um punhado de conservadores linha dura, aplaudiam. Os políticos sabiam o efeito que uma mensa­gem populista como aquela teria em suas bases: eles estariam fritos se ousassem discordar do que Williams acabava de dizer.

O novo presidente falou em seguida sobre educação e meio am­biente, com uma breve referência à previdência social. Ele parecia estar encontrando seu rumo. Então passou para questões internacionais.

— Não posso prometer ser igual ao meu antecessor. Somos diferen­tes. Mas Stephen Baker tinha muitos planos grandiosos e alguns desses planos agora recaem sobre mim. Quero mencionar um em especial esta noite.

"Há muito tempo acontece um massacre longe daqui, no Sudão. Uma guerra terrível contra crianças, mulheres e homens que desejam apenas viver em paz. Não, não ameaçarei invadir esse ou qualquer ou­tro país que nos desagrade. Essas intervenções coercitivas não funcio­nam. Mas tampouco estou sugerindo ficarmos parados sem fazer nada.

"E é por isso que esta noite ordenarei que o Departamento de Defe­sa prepare o envio de trezentos dos nossos helicópteros mais bem-equipados para a União Africana. Eles serão os olhos que vigiarão aquela terra turbulenta. Se a matança continuar, que os assassinos tremam, pois estarão sendo observados."

Maggie balançou a cabeça, com deleite e incredulidade. Ela acredi­tava que o plano para Darfur discutido com Baker seria engavetado no instante em que ele renunciou. Era um projeto com forte carga pessoal para ambos e não para angariar votos. Ainda assim, ele claramente o entregara ao seu sucessor. Baker deve ter dito que aquela também era uma prioridade, ou nunca teria sido mencionada em uma ocasião im­portante como aquela. E então ela se lembrou das palavras de Baker: Espero um dia poder encontrar uma forma de retribuir tudo o que fez.


SESSENTA E OITO
WASHINGTON, DC, TRÊS MESES DEPOIS
Maggie correu os olhos pela multidão no bar Dubliner, tentando des­cobrir quem trabalhava para quem, qual grupo era de republicanos e qual era de democratas, quais trabalhavam na administração e quais no Congresso. Um minuto depois, desistiu. Os homens vestiam cami­sas, calças chino e blazers azuis; as mulheres, os obrigatórios terninhos Ann Taylor. Todos pareciam ser iguais. E ninguém ali reconheceria um verdadeiro bar irlandês, mesmo que entrasse em um por acidente.

Ela virou o que restava de uísque no copo e pensou em pedir outro. Uri enviara uma mensagem de texto dizendo que se atrasaria, então não havia sentido em vigiar a porta. Mas ainda assim ela não se conti­nha, ansiosa por vê-lo entrar. Ela o imaginava, a pele morna depois de um dia sob o sol de junho. Ele estaria de bom humor: acabara de ser informado pelos distribuidores sobre a seleção do seu documentário, A vida, os tempos e a curiosamente curta Presidência de Stephen Baker, para o Festival de Toronto.

Mas, ainda assim, ela não conseguia evitar a tensão. Por que Uri sugerira um encontro ali, e não no apartamento? Um território neutro é escolhido apenas quando se acredita que as negociações serão tensas e complicadas, como ela aprendera há muito tempo. Então que águas agitadas Uri desejava negociar?

Ela levou o copo aos lábios outra vez, apesar de saber que estava vazio. Era verdade que as últimas semanas não haviam sido das me­lhores. Depois daqueles lunáticos dias finais de março, eles decidiram se afastar, tirar férias juntos. E escolheram a ilha vulcânica de Santorini, no mar Egeu.

Um planejamento absurdo se seguiu, para garantir que o destino permanecesse em segredo. Por insistência de Zoe Galfano, a agente do Serviço Secreto responsável pelo que foi oficialmente chamado de "acompanhamento posterior", o cônsul americano na região foi notifi­cado e uma equipe de segurança "discreta" foi providenciada. Quando Maggie fez objeções, afirmando que Roger Waugh e companhia esta­vam atrás das grades, Zoe disse apenas que o ex-presidente Baker ha­via sido inflexível: Maggie Costello adquirira por mérito a proteção do governo americano.

Ela gostaria de culpar os agentes pelo que se seguiu, mas não po­dia. Eles foram, de fato, discretos: ficaram próximos o bastante para deter qualquer um com más intenções, distantes o bastante para que pessoas comuns não notassem a sua presença.

Tudo começou bem, com Maggie saboreando a chance de pôr o sono em dia, comer bem... e desfrutar da companhia de Uri. Eles acordavam tarde, ela acenava para Uri quando ele saía para correr nas areias negras e então tomavam café juntos, sem pressa. Faziam amor de forma lenta e hesitante às tardes, um tanto incertos um com relação ao outro depois de tanto tempo separados, então caminhavam e con­versavam até o pôr do sol e comiam tarde. Ela olhava para Uri, ainda bonito o bastante para virar a cabeça de outras mulheres, estivesse ele tomando banho de mar ou cochilando na rede, e se admirava da pró­pria sorte. No entanto, depois de alguns dias de paz e tranqüilidade, ela se viu com as mãos coçando para pegar o BlackBerry. A princípio, Uri apenas mostrou uma leve impaciência.


  • O que você está fazendo?

  • Nada.

  • Um tipo especial de nada que requer um dispositivo portátil.

  • O New York Times está publicando uma série sobre os cem pri­meiros dias de Williams.

  • E você quer lê-la. Apesar de estar de férias.

  • Não tem nada a ver com você, Uri. Por que precisa ficar con­trariado?

  • Eu não estou contrariado. Só quero saber por que você não con­segue ficar deitada numa praia e relaxar como uma pessoa normal.

  • Porque não gosto de sol. Sou irlandesa. Eu me queimo.

  • Mas você está na sombra.

  • Para não me queimar.

Os desentendimentos acabavam passando, mas com o avançar da semana eles voltavam com cada vez mais freqüência.

  • Que tal um banho de mar? — sugerira Uri.

  • Já tomei um.

  • Mas isso foi ontem.

  • Acho que você está enganado. Foi hoje.

  • Tenho certeza de que foi ontem.

  • Fico impressionada que se lembre: um dia é exatamente igual ao outro.

  • Estamos aqui há apenas cinco dias, Maggie! Por que você não lê um pouco?

  • Eu não quero ler. Não quero nadar. Não quero correr e não quero me queimar. Quero fazer alguma coisa.

Maggie sorria agora, lembrando que Liz sempre dizia que a sua definição de inferno era uma viagem de duas semanas sozinha com ela. E ela fora impossível, não havia dúvida. Irritável, mal-humorada e entediada.

Desde então, Uri trabalhara sem parar para concluir o filme. Maggie passara algum tempo com ele em Nova York e ele viera a DC para algu­mas entrevistas de última hora. E agora que a produção estava conclu­ída, ele estava em Washington para um jantar com executivos da PBS, para discutir as datas de transmissão. E sugerira que se encontrassem para um drinque imediatamente depois.

Ela estava para ir ao banheiro arrumar os cabelos, já de volta ao comprimento e à cor de sempre, quando o viu entrar. Aqueles olhos, ao mesmo tempo de um homem corajoso e de um menino assustado, a derreteram como sempre. Ele sentou-se ao seu lado na mesa de canto que mantinha com zelo desde que chegara ao bar, vinte minutos antes. Mas, quando tentou beijá-lo nos lábios, ele lhe ofereceu o rosto, o que provocou um leve tremor de ansiedade.


  • Parabéns pela seleção para o festival de Toronto!

  • Obrigado.

  • O filme vai ser um sucesso, Uri. Tenho certeza.

  • Obrigado.

  • Quem sabe? Pode ser que entre para a história como a única ver­dadeira realização da Presidência de Baker.

  • Não se esqueça da "Ação pelo Sudão". Dos helicópteros.

  • Verdade.

  • Seu legado, Maggie.

Ela assentiu, sentindo uma ligeira pontada de culpa pelo que não lhe contara, então pediu as bebidas. Outro uísque para ela, uma cerveja para ele.

Uri bebeu um gole direto do gargalo.



  • Maggie, precisamos conversar.

  • Isso soa agourento.

  • Me escute.

  • Isso soa ainda pior.

  • Apenas escute. Lembra-se daquela noite na praia em Santorini, depois que nos instalamos e fomos caminhar na praia? A lua estava cheia.

  • E claro que lembro. — Ela sentiu a garganta ficar seca.

  • Eu tinha um discurso preparado para aquela noite. Ia dizer que não suportava ficar longe de você, que deveríamos ficar juntos, que a vida é muito curta e preciosa, por isso precisamos fazer escolhas. Que em certos momentos, simplesmente precisamos fazer escolhas.

Maggie assentiu, mas não disse nada.

  • Eu havia feito a minha escolha. E ia dizer: "Eu quero você, Maggie. Você é a mulher que escolhi para mim."

Ela buscou a mão de Uri, mas ele a puxou.

  • Era isso o que eu ia dizer. Havia planejado tudo.

  • E o que aconteceu? — Apropria voz soava distante para Maggie. Ela sentia o que estava por vir.

  • Você sabe o que aconteceu. Você já estava desesperada para ir embora no momento em que chegamos.

  • Não acho que isso seja justo.

  • Você é sempre tão inquieta, Maggie. Começa a trabalhar na Casa Branca, um bom emprego, e então, quando menos se espera, está cruzando o país, fugindo de assassinos em Nova Orleans, no no­roeste e...

  • Aquela foi uma semana louca, insana, Uri.

  • É sempre louco e insano com você, Maggie. Alguma coisa sem­pre acontece. Quando nos conhecemos em Jerusalém, você estava fu­gindo para salvar a própria vida. E, de repente, estava fazendo a mes­ma coisa aqui, a mesma coisa.

  • Ah, peraí, foi apenas uma coincidência. Quando...

  • É mesmo, Maggie? De verdade? Porque não sei mais se acredito em coincidências.

  • O que você quer dizer com isso?

  • Quero dizer que não pode ser apenas o destino, a falta de sorte ou coincidências que sempre a deixam no meio de uma tempestade.

  • Então o que é, professor Guttman?

  • Eu acho que você gosta.

  • Você tem conversado com a minha irmã?

  • Estou falando sério, Maggie. Acho que, de alguma forma, você gosta. Você precisa disso.

  • Ah, pelo amor de Deus...

  • Vive acontecendo. Você tenta voltar, estabelecer-se em uma vida normal, ter um emprego que a manteria atrás de uma mesa, com uma jornada de trabalho normal, e então algo sempre dá errado.

  • Eu fui demitida, Uri!

  • Por chamar o secretário de Defesa de idiota! Quem escreve isso em um e-mail, a não ser que queira sabotar tudo que tem? E funcionou. No minuto seguinte, bum! Lá está você, quase sendo assassinada.

  • Alguém tramava destruir o presidente! E, caso você não tenha notado, Uri, eles conseguiram. — A voz dela ficava mais alta: todos no bar a olhavam.

  • Não estou dizendo que não tenha sido por uma boa causa, Maggie. Só quero saber por que sempre precisa ser você.

  • Uma boa causa? Uma boa causa? — Agora o sangue dela estava esquentando. — Você não sabe nada a meu respeito?

  • Sei o que você me contou.

  • E o que eu contei, Dr. Ereud?

Qualquer outro se irritaria com o sarcasmo, mas Uri manteve a voz baixa e controlada.

  • Você disse que, apesar de o lugar ser um buraco, de pessoas morrerem à sua volta a torto e a direito e de ir dormir ao som de tiros de fuzil, você nunca foi tão feliz quanto na África.

  • Isso foi há muito tempo. Eu era jovem.

  • Eu vi por mim mesmo. Em Jerusalém. Você escapava da morte por um triz todos os dias e quer saber? Estava adorando. Até mesmo disse. "Nunca me senti tão viva."

Era verdade. Maggie se lembrava. Ela voltou a falar, em voz baixa agora.

  • Então o que você está me dizendo?

  • Estou dizendo que quero você, Maggie. Mas também quero uma vida. Viver em um único lugar. Ter filhos.

  • Mas eu também quero isso! — Ela olhava para ele agora, seus olhos começavam a ficar injetados. — Quero de verdade.

  • Maggie, eu não tenho certeza do que você quer. Mas sei que você sempre quer algo mais. Salvar o mundo, ou pelo menos não ficar em um mesmo lugar tempo o bastante para se entediar. Isso já aconteceu vezes demais.

A ânsia por defender-se começava a perder força. Ela não conse­guiria dizer nada que o fizesse mudar de idéia, assim como nunca convencia Liz. E isso porque, apesar de ter se esforçado muito tempo para não admitir, sabia que tinha um pouco de verdade no que eles diziam. Mesmo nos piores momentos, quando foi atirada para fora da estrada em Aberdeen ou quando esteve frente a frente com Roger Waugh, ela sentira a adrenalina pulsando nas veias. Ela era boa no que fazia, e o fazia por um bom motivo. O que Uri disse era verdade: ela se sentira viva.

Ela fitou Uri, aqueles olhos pretos e intensos, o rosto impassível. Ele tentara de verdade estar com ela e ela quisera muito estar com ele. Tentaram fazer com que funcionasse em diversas cidades e de diversas formas diferentes, em tempo integral e parcial, enquanto trabalhavam e durante as férias, e toparam com a mesma barreira todas as vezes. Era exatamente como Liz lhe dissera em uma de suas incontáveis discus­sões, apesar de a irmã ter sido mais explosiva do que Uri seria capaz. "Uma viciada em adrenalina com complexo de messias", essa fora a última tentativa de Liz de descrevê-la. Maggie batera o telefone, man­dando Liz ir passear, mas a descrição pegou. Em parte porque era so­nora, em parte por parecer um juiz proferindo uma sentença de morte.

Ela sentia as lágrimas aflorando, mas, desesperadamente, não que­ria chorar: não ali. Ao desviar os olhos, perscrutou os rostos à volta e uma repugnância súbita aflorou — pelo bar, seus ocupantes, por Washington. Não suportaria passar mais um dia sequer naquela cida­de. Enganara tanto a si mesma quanto a Uri ao fingir que as coisas dariam certo ali.

Por um breve momento, lembrou-se do telefonema que recebera — mas não o mencionara a Uri — do chefe de gabinete do presidente Williams, oferecendo-a o cargo de coordenadora do plano Ação pelo Sudão. Ela o aceitaria com uma condição: se pudesse trabalhar in loco, na África.

Vinha afastando a oferta da cabeça, como se fosse uma iguaria cul­pada que não devesse ser experimentada. Entendia isso agora. Talvez estivessem certos a seu respeito, Liz e Uri; talvez a conhecessem mais do que ela se conhecia.

Maggie voltou-se para ele, contendo as lágrimas à força.



  • Quer saber, Uri? Eu preciso sim saber que o que faço faz diferen­ça. E sim, perco a cabeça quando me vejo a cem metros de bater ponto para entrar em um escritório. E digamos que você esteja certo, que eu goste da emoção provocada pelo perigo. Digamos que tudo isso seja verdade. É um crime, Uri? Sério? É um crime ter visto coisas terríveis em lugares terríveis e desejar usar cada grama de energia que tenho para fazer com que a realidade seja melhor? Pode chamar de complexo de messias se quiser, mas...

  • Eu nunca disse nada sobre...

—... É assim que eu sou. E estou farta de me desculpar por isso. Com você, com a minha irmã, com o maldito Magnus Longley. Não quero estar no divã, não quero ser analisada. Aprendi a lidar com o perigo, aprendi a resolver problemas que deixam todos à minha volta roendo as unhas, e sou boa nisso.

Uri fez menção de falar, mas ela ergueu a mão.



  • Não consigo ser como essas pessoas, Uri. — Ela gesticulou para os lobistas, advogados e assessores legislativos com seus uniformes da Ba­nana Republic. — Não consigo continuar a correr na minha pequena roda de hamster, perseguindo a próxima promoção, nunca desafiando as re­gras, nunca pensando em nada no mundo além dessa cidade minúscula

Maggie o fitou nos olhos.

— Eu queria estar com você. Queria de verdade. Mas não posso ser outra pessoa, Uri. Precisei de muito tempo para me dar conta disso, mas é assim que eu sou. Desculpe-me.

Ela curvou-se sobre a mesa e lhe deu um beijo longo e intenso. Então se levantou, reuniu suas coisas rapidamente e caminhou para a porta antes que as lágrimas rolassem.
EPÍLOGO
Naquela mesma noite...
O senador Rick Franklin da Carolina do Sul deixou de lado o memoran­do que acabara de receber, detalhando os resultados de uma pesquisa encomendada pela CPAC, a Conferência pela Ação Política Conserva­dora, em que prováveis eleitores republicanos eram convidados a dar notas a figuras de destaque do partido. Para deleite da sua equipe, ele estava em segundo, pouco atrás do superastro republicano e ex-candidato a vice-presidente, que sempre ficava em primeiro naquelas pes­quisas, em parte por seu nome ser reconhecido instantaneamente.

Ele sabia por quê. Apesar de a maioria dos americanos ter ficado abalada com a renúncia de Stephen Baker — que desencadeou vigílias na Casa Branca, com milhares de pessoas do lado de fora dos portões segurando velas e cantando velhas músicas de protesto —, aquele ha­via sido um dia de festa para a direita radical, e Rick Franklin passou rapidamente a ser visto como um herói. Afinal, era o homem cuja per­sistência expulsara Baker do cargo. O The Weekly Standard, os comenta­ristas políticos da Fox, a página de editoriais do The Wall Street Journal, todos eram unânimes ao apontar o senador Franklin como principal nome republicano para concorrer com o presidente Bradford Williams na eleição que ocorreria dali a uns três anos.

Sua base de apoio estava em êxtase; assim como a sua esposa. No entanto, ele sentia uma pontada de ansiedade com toda aquela conver­sa presidencial.

Ele vira Baker ser forçado a confessar todos aqueles deslizes do passado. Aquilo o destruiu. E não seria ele, Rick Franklin — pai de família, garoto-propaganda da direita cristã —, tão vulnerável quanto? O caso com Cindy já durava quase dois anos; não havia nada que não tivessem experimentado, inclusive coisas ilegais em muitos estados. Ele seria destruído.

Era bom que estivesse fora naquela semana, em uma conferência no Colorado. Ela se divertiria e, quando voltasse, ele terminaria a re­lação. Cindy entenderia que era por um bom motivo. Franklin estava decidido.

Talvez vinte minutos depois, ele recebeu um telefonema de Charleston.



  • Senador, é Brian. — Um dos seus assessores menos graduados. Ele soava ansioso, tinha a voz trêmula, como se fosse uma colegial em uma cerimônia de entrega de premiações.

  • O que foi, Brian? Vamos, fale de uma vez.

  • É Cindy, senhor. Acabamos de receber um telefonema de...

  • O que aconteceu?

  • Ela está morta, senhor. Morreu em um acidente de esqui.

Fraklin sentiu o coração disparar. Estaria prestes a sofrer um infarto? Ele pôs o fone no gancho de forma lenta e cuidadosa e respirou fundo diversas vezes. Disse a si mesmo que a dor no peito era sofri­mento, e em parte era. Ele gostava muito de Cindy; ela era uma garota adorável, com um corpo talhado pelas mãos do Criador...

Porém, havia mais naquela tensão no peito do que sofrimento. Um pensamento fermentava. Seria aquilo a Providência interferindo nos assuntos dos homens, agindo para remover o último grande obstáculo entre ele e a Casa Branca? Seria aquilo obra do mesmo Deus benevo­lente que lhe estendera a mão em tantos outros momentos delicados da sua carreira?

Rick Franklin passou a tarde ao telefone, com os pais de Cindy e sua equipe, oferecendo-se para fazer um discurso no velório. Mas, em determinado momento, olhou de relance para o memorando e os nú­meros da pesquisa.

Eles eram, de fato, muito encorajadores.


De todos os telefonemas que recebeu, um foi inesperado. Foi feito por um veterano de Washington, Magnus Longley, o homem que fora chefe de gabinete de Baker e que estava por lá há mais tempo do que o Me­morial de Lincoln.

  • A que devo o prazer, Sr. Longley?

  • Senador, acabo de saber da tragédia com a sua talentosa coorde­nadora de Assuntos Legislativos.

  • O senhor é bem informado, Sr. Longley: ainda não foi feito um anúncio, apenas amigos e familiares sabem do acontecido.

  • Acredito que fui um dos primeiros a saber. — Uma longa pausa. Ele pigarreou. — Enfim, os meus pêsames. Esperava que pudéssemos ter uma conversa.

  • É claro. Sim, Eu...

  • Permita-me começar dizendo, e isso pode surpreendê-lo, que eu e meus colegas temos o senhor na mais alta consideração, senador Franklin. Sempre tivemos.


AGRADECIMENTOS
Mais uma vez, recebi auxílio de amigos generosos o bastante para di­vidirem comigo a sua sabedoria. Richard Adams, John Arlidge, Andy Beckett, Laura Blumenfeld, Jay Carney, Steve Coombe, Tom Cordiner e Monique El-Faizy, em especial, merecem destaque.

Pelo quinto livro sucessivo, Jonathan Cummings provou ser um investigador infatigável de fatos elusivos: trabalhar com ele sempre é um prazer. Na HarperCollins, Jane Johnson — novamente auxiliada com competência por Sarah Hodgson — foi incansável, chegando ao ponto de manter uma jornada de trabalho lunática como a minha para darmos vida a este livro. Ela foi não apenas meticulosa, mas também sensível e perspicaz. Sou um homem de sorte por tê-la como minha editora. Uma palavra também sobre Jonny Geller: muita gente refere-se a ele hoje em dia como um "superagente". O que poucos sabem é que ele é um superamigo, uma fonte constante de conselhos, incentivo e compreensão.

Por fim, a mirtha esposa Sarah, ao lado dos meus filhos Jacob e Sam, tiveram a paciência testada por este livro, como tantas vezes no passado. Ele me ocupou por mais tempo do que qualquer um de nós desejaria. Mas Sarah nunca demonstrou nada que não amor, oferecen­do a palavra certa de apoio no momento exato. Sinto-me grato todos os dias por tê-la escolhido — e por ela ter me escolhido.
Jonathan Freedland,

março de 2010




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