Envolvidos pela lei



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Capítulo 4

Era domingo e o dia estava lindo, o tipo do dia em que Andi passaria trabalhando na casa ou no jar­dim. Mas metade do dia já havia passado quando ela parou em frente à janela da copa, vestindo uma ca­misa enorme que usara para dormir e olhando para o nada.

Seus olhos queimavam por ter dormido pouco.

Sentia uma pontada de dor de cabeça a cada bati­da do seu coração. Tinha uma bolha no pé, gra­ças ao salto alto que calçara na noite passada, e a certeza de sentir uma espinha começando a des­pontar ao lado do seu nariz, algo que não ex­perimentava desde o baile de formatura do segun­do grau. E era tudo culpa de Gabe.

Ele a chamara de mentirosa. Em frente a sua pró­pria casa, à vista dos seus vizinhos.

E de provocadora.

O que era pior. Mentirosa ela podia aceitar. Afi­nal de contas, era verdade. Ela mentira para ele.

Mas que mulher admitiria que reagira ao estímulo de um homem? Especialmente quando esse homem estivesse jogando isso em sua cara.

Mas uma provocadora? Nunca aceitaria tal acu­sação. Não era provocadora. Pode até ter reagido ao beijo dele, mas não foi ela quem o começara e cer­tamente não fizera nada para que ele acreditasse que esse beijo o levaria a algum lugar.

E se ele ficou bravo porque ela parou o beijo, azar o dele. Ela se dera conta do erro que cometia. Uma conclusão a que ele mesmo chegaria, num da­do momento. A culpa era dela por ter chegado a essa conclusão primeiro?

... leva um homem a pensar há quanto tempo ela não faz sexo.

Lembrando-se desse comentário, apertava os punhos contra o rosto para conter as lágrimas e a humilhação. Como ele pôde saber isso sobre ela? Ela parecera assim tão necessitada? Tão deses­perada?

Ela raramente pensava em sexo ou na falta de sexo em sua vida. A decisão de viver como uma freira não foi uma decisão que tomara consciente­mente. Isso apenas... aconteceu. Era um modo ins­tintivo de sobreviver que, ao longo dos anos, tor­nara-se um estilo de vida. Uma forma de superar o coração partido por ter perdido...

Ela abaixou as mãos e apertou os punhos até seus dedos doerem. Não pensaria no passado, ou nele. Não agora. E, de preferência, jamais.

Mas Gabe ia ver com ela, Andie disse a si mesma. Não o deixaria sair ileso ao chamá-la de provocadora.

Quando chegou no chalé de Gabe, era depois das três da tarde. No caminho de sua casa até o chalé, perdera um pouco da raiva que a fizera ir atrás dele. Agora tremia de pavor de encontrá-lo e pensava se­riamente em voltar para casa.

Mas correr não era a resposta. Tinha que lidar com ele mais cedo ou mais tarde. Melhor que fosse na privacidade de sua casa do que na delegacia.

Compondo-se para o confronto, ela bateu na por­ta dele. Esperou alguns instantes, bateu novamente e escutou. Silêncio. Franzindo a testa, ela olhou em volta. Sabia que ele estava em casa, pois estacionara atrás da caminhonete dele.

Ao lembrar-se de Gabe comentando sobre caça e pesca, andou até a parte de trás do chalé. Mais atrás havia um emaranhado de árvores. Como a estação de caça não havia começado, ela duvidou que ele estivesse ali. O lago. Ela imaginou que fosse do outro lado das árvores. Confiante em que o encon­traria por lá, caminhou naquela direção.

Quando alcançou o início da floresta, já estava toda molhada de suor.

O ar estava fresco embaixo das árvores, saturado com a fragrância de vegetação. Respirou fundo e franziu a testa, certa de ter sentido o cheiro de fu­maça. Consciente do estrago que o fogo poderia fa­zer em áreas rurais, apertou o passo. Minutos depois, alcançou uma pequena clareira. No centro havia uma estrutura crua em forma de rotunda, e diante disso a fonte da fumaça - uma pequena fo­gueira, dentro de um círculo de pedras. Mais pe­dras estavam empilhadas no topo da madeira que se queimava lentamente, deixando-a curiosa quanto ao seu propósito.

- Gabe? - Ela chamou. Como ele não respon­deu, aproximou-se com cuidado do que parecia ser uma tenda. Ao averiguar de perto, ela viu que co­bertores cobriam aquela estrutura e uma peça re­tangular de um tecido mais grosso cobria uma aber­tura em frente à fogueira. Curiosa, ela se agachou para levantar o tecido.

No mesmo instante, o tecido voou para dentro e Gabe apareceu, agachado, para passar pela abertura. Quando ele se levantou, ela quase parou de respirar. A descendência nativo-americana nunca tinha sido tão evidente quanto naquele mo­mento. Seu peito nu brilhava de suor. Um peda­ço de tecido preso à cintura cobria-lhe as partes íntimas.

Ainda que ele devesse estar surpreso por vê-la ali, a única emoção que ele revelou foi irritação.

- O que está fazendo aqui?

Ele esfregou as mãos nas pernas, numa atitude nervosa.

- Eu... eu vim falar com você.

Franzindo a testa, ele se abaixou perto do círculo de pedras e pegou um graveto.

- Deixe para amanhã - disse ele, enquanto mexia o fogo, separando o carvão. - Um homem merece pelo menos um dia de folga.

- É... Não é sobre trabalho. É... pessoal.

- Não há nada pessoal entre nós - disse ele. - Você já se assegurou disso.

- Você me chamou de mentirosa e provocadora.

- Você é.

- Não sou! - Ela gritou, com raiva, dando-se conta que a negação era outra mentira. - ok - disse -, admito que gostei um pouco do beijo. Mas isso não faz de mim uma provocadora.

- Você parou o beijo, não parou? Você me deixou todo excitado e correu. No meu entender, isso faz de você uma provocadora.

Ela tentou manter o olhar no rosto de Gabe, e não deixar que escorregasse para o seu peito ou, pior, para o tecido que ele usava na cintura. Ele tinha al­go por baixo?

- Sim, parei - concordou ela. - Eu me dei conta do erro que estávamos cometendo. Você também teria se dado conta, certamente.

- Eu nunca me arrependo de beijar uma linda mulher, o erro seria deixar a oportunidade passar.

- Somos parceiros - disse ela. - Se nos envolvermos fisicamente, seríamos incapazes de trabalhar juntos.

- Como?


- Porque acabaria!

- Nem temos um relacionamento e você está preocupada que ele acabe?

- Não estou preocupada. Só estou dizendo os fa­tos. Sou mais velha do que você. Sete anos para ser exata.

- E daí?

- E daí que não daria certo! Cedo ou tarde a diferença de idade seria um problema e o relacionamen­to acabaria! - Dando-se conta de que estava gritan­do com ele, ela respirou. - Olha, estou contente com a minha vida do jeito que ela é. Eu tenho o meu em­prego, minha casa. Não quero um homem estragan­do tudo isso.

- Você acha que eu faria isso? Estragar a sua vida?

- Talvez sem a intenção, mas, sim, acho que sim.

- Nunca a vi como uma covarde, Andi.

- Não sou covarde.

- Sim, você é. Tem medo de suas próprias emoções. Morre de medo das pessoas chegarem muito perto, pois você pode sentir algo. Deve ser por isso que é tão boa no seu trabalho. É im­portante que um detetive não se envolva emo­cionalmente, não é? Essa é a carreira perfeita pa­ra você.

Atônita, Andi apenas o olhava, horrorizada pela possibilidade do que ele falara ser verdade.

Felizmente, ele não esperava uma resposta. Ele se virou e jogou o graveto no fogo.

- Se quiser que o nosso relacionamento seja ape­nas de trabalho, eu não me importo. Mas só por­que não somos amantes, não significa que não podemos ser amigos. - Ele estendeu a mão. - Certo, parceira?

Relutante, ela apertou-lhe a mão. - Amigos - disse ela.

Parecendo satisfeito com o seu novo relaciona­mento, ele se agachou perto do fogo e pegou outro graveto.

- Eu estava pronto para dar uma suada. Gostaria de se juntar a mim?

Sem saber do que ele estava falando, Andi franzia a testa, enquanto ele virava pedras em uma bacia de madeira.

- O que é uma suada?

- Uma velha tradição indígena. Uma forma de purificar o corpo, através do suor. Ele apontou para a estrutura em forma de rotunda. A suada acontece na cabana do suor, a versão indígena da sauna moderna.

- Hum ... Obrigada, mas acho que vou recusar. Ele deixou o graveto de lado e pegou a bacia.

- Não é perigoso - ele a assegurou, ao entrar na cabana. - É bom para a sua saúde - disse ele lá de dentro -, mas se você não confia em si mesma sozi­nha comigo, eu entendo.

Ele fechou a cabana, deixando-a do lado de fora. Ela deu um passo para dentro da cabana. Os co­bertores cobrindo a cabana bloqueavam a luz do sol. Levou um minuto para seus olhos se ajustarem. Mo­mentos depois, viu Gabe ajoelhado no chão de frente para ela, transferindo as pedras quentes para um bu­raco raso, cheio de cedro e grama seca.

- Você decidiu se juntar a mim.

- Quem recusaria um convite tão gracioso?

Escondendo um sorriso, ele atirou um tapete bor­dado aos pés dela e se sentou, convidando-a a sen­tar-se também.

Enquanto ela se sentava no tapete, ele levantou um jarro e despejou água sobre as pedras. Uma for­te nuvem de vapor encheu o ambiente.

- Você terá que tirar as roupas.

- O quê?


- Tire a roupa. Suadas são feitas sem roupas.

- Obrigada, mas posso suar vestida.

- É parte da cerimônia - explicou ele.

- Passar por uma suada é um renascimento espiritual. A ca­bana simboliza o ventre da Mãe Terra. Tirar as rou­pas é uma forma de nos despirmos de tudo o que é humano, permitindo que nos ofereçamos a Ela para a limpeza e o renascimento.

Ela se abraçou com força.

- Bem, a Mãe Terra vai ter que usar a imagina­ção. Eu não vou tirar a roupa.

- Não há motivos para ter vergonha do seu corpo. Eu sei que quando uma mulher envelhece, a gravidade não perdoa e certas partes do corpo dela começam a cair.

Como o olhar dele escorregou para os seios dela, sua insinuação foi clara. Insultada, ela tirou a cami­seta e soltou o sutiã.

- Você está vendo alguma coisa caída?

Ele se levantou e colocou a mão na corda que mantinha a sua única vestimenta no lugar.

- Não, não estou. Mas falta o bumbum. Já ouvi que esse cai tão rápido quanto os seios.

Andi engasgou quando a vestimenta dele caiu. Meu Deus, foi só o que ela conseguiu pensar. Não sabia se fingia indiferença ou elogiava o excelente espécime de masculinidade.

Olhou para ele e viu que ele a encarava. Suspirou, e se levantou. Em seguida, tirou a bermuda, junto com a calcinha, e sentou-se rapidamente, juntando suas roupas entre as pernas.

Ele também se sentou e jogou mais água sobre as pedras. Uma nova nuvem de vapor preencheu o ar, perfumando o ambiente de cedro e salva. Já quente, o ar ficou pesado, difícil de respirar.

Ela levantou a mão para limpar a transpiração que escorria pelo rosto.

- Quanto tempo temos que ficar aqui? - perguntou ela.

- Uma hora.

- Uma hora!

- Para aproveitar todos os benefícios da suada, ela deve ser conduzida em silêncio.

- Benefícios, uma pinóia - balbuciou Andi. Isso não é mais que uma forma de você conseguir uma emoção barata.

Gabe parecia não ouvir as reclamações dela - Per­manecia sentado em transe, de olhos fechados. O suor descia pelos braços, peito e pela barriga até o monte de pêlos no meio de suas pernas. O calor queimava-lhe as bochechas, enquanto olhava para a grossa coluna de carne que descansava sobre aque­le ninho negro.

Com medo que ele a pegasse olhando, desviou o olhar. Mas, em segundos, o seu olhar retornava ao homem sentado na frente dela.

Naquele ambiente quase escuro, a pele escura e bronzeada de Gabe brilhava, assim como os cabelos negros. Massas de músculos delineavam-lhe o pei­to, o abdome e os braços. Uma cicatriz que cortava o tórax chamou a atenção dela, fazendo com que tentasse imaginar como ele se ferira. Uma lembran­ça de uma cirurgia, talvez? Esfaqueado ao tentar prender um criminoso?

A maneira como ele conseguira a cicatriz não in­teressava, ela decidiu. A cicatriz não o deixava me­nos atraente. E no final das contas, dava até um ar de perigo e intriga, adicionando a um apelo que ela já achava difícil de resistir.

Fechou os olhos para o prazer de olhar para ele e respirou fundo, enchendo os pulmões de vapor, e os seus sentidos com o aroma de cedro e ervas. O calor circulava pelo corpo dela, tocando-lhe o corpo co­mo as mãos de um amante. A transpiração deixava o corpo escorregadio, mas a boca estava seca como um pedaço de algodão. O coração batia rápido, e sua mente, devagar demais. Tentava não pensar em Gabe sentado nu à sua frente, mas não conseguia. Mas a consciência da proximidade tornava-se um ser vivo que se arrastava pela corrente sangüínea e ativava-lhe os nervos.

Tinha que sair dali, antes que fizesse algo estúpido, disse a si mesma. Ele trapaceara, induziu-a a entrar na sauna com ele ao chamá-la de covarde. E tra­paceara de novo falando sobre o seu corpo. Não dava para saber o que ele planejava fazer depois.

Tinha que ir embora. Retornar à tranqüilidade de sua casa e ao mundo que criara para si. Um mundo sem lugar reservado para um homem. Sem razão para intimidade. Sem potencial de dor.

Ela já estava pronta para se levantar. Mas, quan­do abriu os olhos e encontrou Gabe olhando para ela, congelou.

Não viu desafio naquele olhar, tentando fazê-la ficar. Não viu o ar de superioridade tentando forçá­-la a suar. Viu apenas... calor.

Os olhos dele eram piscinas escuras onde uma mulher poderia se afogar e ela se afogava pela ter­ceira vez. Suas mãos coçavam para tocá-lo, seu cor­po ardia de desejo pelo dele.

Permaneceu sentada no tapete, enrolando as mãos nas roupas no colo. Não ia a lugar nenhum. Ain­da não.

No entanto, se algo acontecesse, teria que partir dela. Escolhera isso, quando disse a ele que não que­ria se envolver fisicamente. Insistiu que isso afetaria o modo de trabalharem juntos.

Ele não concordara, mas aceitara a decisão dela. Ela respirou fundo e disse:

- Você disse que poderíamos ser amigos. Ele balançou a cabeça concordando.

- Você mudou de idéia.

- Não. Você mudou?

Ela balançou a cabeça e mordeu o lábio inferior.

Não tinha muita experiência no jogo da sedução e não sabia como proceder.

- Acha possível duas pessoas serem amigas e amantes ao mesmo tempo?

- Está falando da população em geral ou tem al­gum casal em mente?

- Estava pensando em termos de você e eu.

- Isso dependeria das nossas expectativas. Se entrássemos no relacionamento entendendo que será apenas físico, e nenhum dos dois guardasse um de­sejo secreto por algo mais, não vejo porque não.

Ela certamente não tinha desejo que isso se tor­nasse algo mais. Não tinha a certeza de que poderia suportar o que sentia agora.

- Eu não vejo problemas em concordar com esses termos. E você?

-Não.

Era a resposta que ela esperava, mas ele não se moveu na direção dela. Por que ele não fez algo?, pensou frustrada. Ela praticamente se ofere­cera numa bandeja de prata, e ele continuou ali sentado.



- Vai me obrigar a fazer isso, não vai?

A resposta dele foi um leve movimento dos lábios.

Ela deixou as roupas de lado e levantou-se. Os joelhos tremiam enquanto rodeava o buraco, mas continuou até chegar ao lado dele. Ela achou que ele fosse ficar pelo menos de pé para encontrá-la. Quando percebeu que ele não faria isso, não soube muito bem o que fazer.

Ele finalmente guiou-a e ela sentou-se no colo dele, com os braços em volta do pescoço dele.

Agora que estavam sentados cara a cara, o calor que ela sentira no olhar dele era quase insuportável. Ela tinha certeza que se colocasse a mão no espaço entre eles, seus dedos pegariam fogo.

Respirando fundo, ela tocou-lhe o rosto e bei­jou-o. No primeiro toque em seus lábios, um gemi­do baixo surgiu da garganta dela e seus olhos se fe­charam. Enquanto se beijavam, o vapor continuava a preencher o ambiente. Perdida naquela névoa ex­citante, ela se entregou a seus sentimentos. Ela se entregou a ele.

Sabor, textura, sensação. As três coisas mistura­das na cabeça dela enquanto ele escorregava sua lín­gua na boca de Andi. Ela sentiu a suavidade da mão dele nas suas costas, o peso dela quando se assenta­va na curva de sua cintura.

Com as mãos nas nádegas para suportá-la en­quanto ela se curvava para trás, ele beijava e chupava os seios, e ela cravava as unhas nos ombros dele.

O desejo invadia-lhe o ventre.

Ela não conhecia esse tipo de desejo, um desejo desesperado de consumir o outro. Era como se ele tivesse liberado uma fera selvagem dentro dela. Ela tinha que tocá-lo, segurá-lo, ou morreria de desejo.

Deslizando suas mãos atrás do pescoço dele,pas­sou-as pelo peito, cintura, até agarrar o membro de­le. Ela sentiu o tremor que passava por ele e vibra­va contra os seios dela. Excitada com a reação dele, ela o acariciou. Para baixo e para cima, ela repetiu esse movimento várias vezes. Cada vez mais ela sen­tia sua ereção aumentar.

Ela sentiu um desejo enorme entre suas pernas e esfregou-se na coxa dele. Como se ele sentisse o desejo nela, escorregou a mão por entre as pernas de Andi.

Com um gemido, ela tocou a testa dele com a sua. - Gabe, por favor - implorava ela.

Soltando-a, ele alcançou um pilha de roupas e pegou um preservativo.

Ela olhou-o surpresa, enquanto ele abria e colo­cava o preservativo.

- Você está sempre preparado? - perguntou ela.

- Sou um escoteiro. Estou sempre preparado. Mas se você preferir uma roleta-russa, eu posso tirar.

Ela balançou a cabeça.

- Não, só estava surpresa.

Ele escorregou a mão abaixo da cintura dela. - Se você quiser desistir, esse é o momento. Agarrou-o pelo pescoço.

-Não.

O primeiro movimento deixou Andi sem ar. O se­gundo fez com que ela gemesse. No terceiro, ela já se movimentava no ritmo dele. Sua respiração ficou ofegante; seus músculos queimavam. Uma pressão crescia por dentro, formando um nó insuportável no ventre.



Fechando os olhos com força, ela se curvou para trás, buscando o alívio que pairava fora de seu alcance. - Gabe, por favor - ela implorava.

- Juntos - disse ele, puxando-a para perto.

O corpo dele endureceu e ela sentiu o tremor de seus músculos. Finalmente o nó dentro dela explo­diu, numa miríade de sensações e emoções, man­dando ondas e mais ondas de prazer por todo o corpo.

Pouco depois, ela estava deitada sobre o peito dele; o coração acelerado.

- Tudo bem?

- Qual a sua definição de bem?

- Se você pode falar, é bom o suficiente para mim. - Ele sorriu.

- Com que freqüência você toma essa suada?

Ele olhou para ela.

- Quem disse que essa já acabou?

Sorrindo, ela o beijou.

- Estava torcendo que dissesse isso.

Andi acordou, sentindo um calor estranho. Ela abriu os olhos e piscou, olhando para os galhos que formavam a armação daquela estrutura em forma de rotunda, e para as pedras, agora frias, no buraco dian­te dela. Levou um segundo até que se desse conta de onde estava. Outro segundo para identificar a fonte de calor nas suas costas.

Levou metade daquele tempo para se arrepender. Olhou para trás e viu que Gabe ainda dormia. Es­perando escapar antes que ele acordasse, começou a se levantar. A mão em sua cintura a impediu.

- Aonde você vai? - perguntou ele, sonolento.

- Para casa. Está ficando tarde.

Ele escorregou a mão pela barriga dela e puxou-a para perto.

- Não é tão tarde assim.

- Eu... tenho coisas a fazer.

- Tipo o quê?

Ela vasculhou a mente em busca de uma desculpa. - Eu... preciso limpar o quintal.

Ele cheirou o pescoço dela e balançou a cintura contra ela.

- Faça isso amanhã.

Ela sentiu-se enfraquecer e se afastou dele, le­vantando-se.

- Não posso - disse ela, enquanto pegava suas roupas e vestia. - Obrigada pela... suada.

Ele se apoiou no cotovelo. - Andi, não fuja.

- Não estou fugindo - insistiu ela, evitando olhar para ele. - Tenho coisas a fazer.

- Nada mudou - disse ele. - Podemos ser par­ceiro e amantes.

- É - disse ela, ao abaixar-se para sair da ca­bana, antes de cair em tentação mais uma vez. ­Pode ser.

Os nervos de Andi estavam à flor da pele quando chegou à cidade. Em uma tarde ela quebrara cada regra que seguia e colocara sua carreira em risco.

- Estúpida, estúpida, estúpida - lamentava-se baixinho, enfatizando cada repetição com um tapa no volante. Ela sabia que não era uma boa idéia se en­volver com um colega de trabalho. Relacionamen­tos acabavam, e poucas pessoas sobreviviam à es­tranheza que ficava depois disso.

O que ela fizera fora estúpido. Louco!

Parou o carro em frente à sua casa e abaixou a cabeça no volante, gemendo.

E se ela pudesse passar por isso de novo, faria a mesma droga.

Ela gostou de cada momento. E gostaria da mes­ma coisa nesse exato momento, se o seu bom senso não tivesse decidido aparecer.

Mas ela não podia deixar acontecer de novo.

Uma coisa que ela aprendeu com a prática era que isso viciava. Ela gostou demais de fazer sexo com Gabe, para deixar que aconteça de novo. Se deixar, pode ficar dependente dele até e mesmo precisar dele, e ela se recusava a permitir que alguém tivesse esse controle sobre a sua vida.

Suspirando, levantou a cabeça e esticou o braço para pegar a bolsa. Ela congelou, ao olhar para a porta da garagem. Pintada em vermelho vivo, a pa­lavra vadia. Pálida, desceu do carro e parou em frente à porta da garagem, enojada pelo vandalismo tanto quanto pela palavra em si.

Quem faria isso com ela? Ela se perguntou atôni­ta. Policiais recebiam muitos desaforos do público ao qual serviam. Ovos eram jogados em seus carros, além de serem xingados. Mas isso parecia mais que um desaforo a alguém que usava um distintivo. A própria palavra fazia isso parecer pessoal. Fora ape­nas coincidência que alguém escolhera esse dia para pichar a porta de sua garagem? Ou a pessoa sabia que ela estava com Gabe?

Não, ela disse a si mesma, recusando-se a acredi­tar nisso. Não havia como alguém saber que ela estava com. Gabe. Ela não planejara isso.

Mas a ironia de alguém escrever a palavra vadia em sua garagem no mesmo dia em que ela quebrara o seu voto de celibato era duro de engolir. Isso fez com que pensasse se aquela palavra fora escolhida aleatoriamente. E, além disso, o vândalo viera en­quanto ela estava fora. Outra coincidência? Impro­vável, pois domingo era o dia em que ela ficava em casa trabalhando.

Se considerados individualmente, cada um dos fatores poderia ser uma coincidência. Mas, quan­do combinados, ficava claro que quem fez isso sa­bia não só que ela não estava em casa, mas onde e o que estava fazendo.

Richard?

Ela olhou para a casa do vizinho. Ele, mais que ninguém, saberia quando ela chegava e saía. A en­trada da garagem podia ser vista da sala dele e da cozinha.

Mas como ele saberia que ela estava com Gabe? Ela se arrepiou. Só havia uma maneira de saber. Ele a seguira.

Capítulo 5

Ryan Fortune parou em frente à janela de seu escritório na Fortune TX Ltda. olhando para a área verde que cercava o complexo de escritórios. Mes­mo tendo passado o controle da companhia para o seu sobrinho, e servindo apenas como conselheiro, mantivera o seu escritório e gostava de visitar a companhia para ficar a par das operações. A dor de cabeça era insuportável, parecia aumentar a cada dia. Às vezes ele pensava que não era um problema de saúde, mas um castigo de Deus. Embora tentasse viver uma vida boa e honrada, guardava segredos que o envergonhavam... e o assombravam.

Linda Faraday estava no topo da lista.

Esfregou as têmporas. Pensar nela parecia fazer sua cabeça doer ainda mais.

Ele sabia que devia trazer Linda e seu filho para a família Fortune. Ele mantivera a existência deles em segredo por muito tempo. Mas a decisão de fa­zer isso não era egoísmo. Ele queria apenas prote­ger a memória do irmão, Cameron. Se trouxesse Linda e seu filho para a família, teria que explicar a aparição deles. Aí então todos saberiam que Came­ron desviara milhões de dólares da Fortune TX Ltda., um crime que Linda, como agente secreta do governo, fora contratada para desvendar.

Infelizmente para ela, Linda se apaixonara por Cameron e cometera o erro de entrar em um carro com ele quando estava bêbado. No acidente que aconteceu, Cameron perdera a vida e Linda en­trou em estado de coma. Sete meses depois, ainda presa a uma cama, deu à luz um filho. Filho de Cameron.

O governo, não querendo divulgar a identidade de Linda como agente secreta, decidiu protegê-la, fazendo parecer que ela havia morrido no acidente, quando, na verdade, ficara em coma por mais de dez anos.

Foi através de seus próprios contatos no gover­no que Ryan descobriu a farsa e ficou sabendo da existência de Linda. E esse conhecimento o assom­brava.

Ele apertava a cabeça com as mãos, tentando di­minuir a enorme dor e bloquear as memórias que o assombravam, a culpa. Ele achou que a descoberta do corpo no Lago Mondo o fizera pensar em Linda e em Cameron.

A marca em forma de coroa na cintura da vitima sugeria que o cadáver era de um Fortune, mas, quan­do fora chamado para identificar o corpo, Ryan não o reconhecera.

Ele abaixou as mãos, com um pesado suspiro. Agora, ele tinha mais uma preocupação para acrescentar à longa lista de problemas que en­frentava.

Será que Cameron tivera outro filho antes de morrer?

- Sr. Fortune, tem um minuto?

Ryan se virou e sorriu, quando viu Jason Wil­kes parado na entrada de seu escritório. Ele era orgulhoso das conquistas de Jason na diretoria da Fortune TX Ltda., especialmente por ter se esfor­çado tanto para que o rapaz fosse contratado. Ja­son saiu-se um ótimo trabalhador e mostrava-se uma grande promessa.

- Claro, Jason. Entre.

- Tudo bem com você? - perguntou Jason. - Pa­rece pálido.

- Estou bem. Só um pouco cansado. O que posso fazer por você?

- Gostaria de revisar esses papéis com você.

Mas, se estiver cansado, isso pode esperar.

- Vamos em frente. Mostre-me o que você tem aí.

Andi entrou na delegacia parecendo estar pronta para uma briga. Não demorou muito para encontrar uma.

- Ei, Andi - disse Reynolds. - Que tal jantar comi­go essa noite? - O policial foi insistente e irritante.

Ela se virou, bateu com as mãos na mesa dele e o encarou.

- A resposta é não, Reynolds, e continuará a ser não; não importa quantas vezes perguntar. Enten­dido?

Ele levantou as mãos.

- Ei, só estava brincando. Ela se afastou da mesa dele. - Você está me vendo rir?

Sem graça, Reynolds a viu sair de perto e olhou para Gabe.

- O que houve com ela?

Também curioso, Gabe se levantou. - Não sei, mas pretendo descobrir.

Quando ele chegou na cozinha, encontrou Andi de pé em frente à máquina de café, segurando uma caneca como se fosse o pescoço de alguém.

- Enforcar a caneca não melhora o gosto.

Ela bateu com a caneca na bancada e disse: - Preocupe-se com a sua vida.

- Opa - disse ele, pegando-a pelo braço enquanto ela passava por ele. - O que houve com você?

- Estou com um péssimo humor, ok? Por isso, caia fora.

Isso era mais do que péssimo humor, Gabe sabia disso. As olheiras de Andi indicavam uma noite sem dormir.

- Se é sobre o que aconteceu ontem... - começou ele.

- Nem tudo é sobre você, Thunderhawk.

- Sou seu parceiro, o que afeta você, afeta a mim.

- Então se satisfaça com isso - disse Andi.

Ele pegou-a pelo cotovelo e trouxe-a para perto de si.

- Desculpas aceitas.

Ela tentou se livrar dele.

- Isso não foi um pedido de desculpas.

- Foi bom o suficiente. - Ele a empurrou em uma cadeira e encostou-se na mesa. - Comece a falar.

Ela abaixou a cabeça e passou a mão nos cabelos. - Alguém vandalizou a minha casa ontem, enquanto estava fora.

Ele percebeu a raiva na voz dela e também algo mais. Medo?

- Como eles entraram?

- Não foi uma invasão. Algum idiota pichou a porta da minha garagem.

- Você sabe quem é o responsável? Ela abriu as mãos.

- Acredita como sou sortuda? Minha primeira peça de arte original e o artista esquece de assinar o nome.

Ele ignorou o sarcasmo.

- Falou com seus vizinhos? Eles podem ter visto ou ouvido algo.

Ela segurou uma risada e arrancou a borrachinha do rabo-de-cavalo.

- Já falei com eles. - Ela puxou o cabelo para trás, segurando-o com uma mão, enquanto colocava a borrachinha no lugar com a outra. - Eles já estão organizando uma reunião de segurança.

- Então vamos.

- Aonde?

- À sua casa.

Andi não queria Gabe bisbilhotando em sua casa, mas tentar pará-lo era como tentar parar um tanque de guerra numa descida.

Ele recolheu impressões digitais da porta da ga­ragem, vasculhou a área da frente e o quintal e subiu até no telhado. Sem encontrar qualquer vestígio, voltou à entrada da garagem e ficou olhando para o papelão que ela usara para cobrir a pichação.

- Importa-se se eu der uma olhada? - perguntou ele. Mesmo sabendo que ele não encontraria pistas sobre a identidade do vândalo, ela se afastou e dei­xou que ele removesse o papelão.

Quando a palavra vadia foi revelada, ela aguardou pela reação dele, torcendo para que não fizesse as mesmas associações que ela, quando vira a pa­lavra.

Ele ficou em silêncio. Ela se abaixou e pegou o pedaço de papelão.

- Rapaz talentoso esse, não? - disse ela enquan­to cobria o trabalho do vândalo. - Um verdadeiro Picasso.

- Onde você guarda a sua tinta?

Ela franziu a testa.

- Se você pensa que sou estúpida o suficiente para deixar latas de tinta por aí para qualquer imbe­cil roubar, está errado.

- Não foi isso que sugeri. Quero a tinta usada para pintar a porta.

- De jeito nenhum. Você não vai pintar a minha porta.

Ele desabotoou a camisa, arregaçando a manga. - Tente me parar.

Era difícil para Andi permitir que alguém fizesse algo para ela, que ela mesma pudesse fazer. Agora, ficar ali parada vendo Gabe trabalhar exigia mais energia do que ela possuía.

Então, enquanto Gabe pintava a porta da gara­gem, ela se escondeu em casa e passou o tempo navegando na Internet em busca de notícia sobre alguém desaparecido que tenha uma marca de nas­cença em forma de coroa. Um a um, ela clicou nos links produzidos pelo mecanismo de busca. Ela já tinha eliminado três páginas de possibilidades quan­do ouviu a porta de trás abrir e Gabe chamar:

- Andi?


Ainda irritada com seu parceiro, ela respondeu: - Aqui dentro!

Ela olhou para trás enquanto ele entrava no quarto, trazendo consigo o cheiro de tinta fresca e querosene.

Ele parou atrás da cadeira em que ela estava e olhou por sobre o ombro dela, enquanto abotoava a camisa.

- O que está fazendo?

- Procurando na Internet pelo Fortune Perdido.

- Encontrou algo?

- Ainda não. Outra página surgiu e ela começou a vasculhar o artigo de jornal que apareceu.

Gabe pegou um banco e colocou-o ao lado dela. - Precisamos conversar.

- Sobre o quê?

- A pichação.

- O que houve?

- Não acho que foi aleatória. Quem fez isso quis mandar uma mensagem.

- Como sou a única pessoa vivendo nesta casa, suponho que a mensagem seja para mim.

- Pareceria que sim. E como você é uma policial, seria natural supor que essa mensagem fora gerada por algo que você fizera no trabalho, e não na sua vida pessoal.

- Sim. E daí?

- Então, por que a palavra vadia? Porca. Nojenta. Até desgraçada, eu entenderia. Vadia não faz o me­nor sentido.

- Vandalismo raramente faz sentido - disse ela.

- Você não é uma mulher promíscua, Andie.

Ela ainda não olhara para ele.

- Você tem que parar com esses elogios, Gabe.

Ele se levantou.

- Quer parar com esse sarcasmo? Isso é sério.

- Você prefere que eu grite e chore? Desculpe, não é o meu estilo.

- Acho que sei quem fez isso.

Surpresa, ela girou a cadeira.

-Quem?


- Deirdre.

Ela olhou para ele e segurou o riso.

- Deixe disso, Gabe. Deirdre é minha amiga. Se ela tivesse algo a dizer para mim, diria na minha cara. Ela não precisaria pintar na porta da minha garagem.

- E se a mensagem não fosse para você? E se fos­se uma vingança contra mim?

Ela mordeu o lábio, lembrando-se do aviso so­bre Gabe que Deirdre lhe dera na cozinha da dele­gacia. Gabe é charmoso, mas é um dissimulado... tenho provas.

- Eu não confiaria tanto nela - continuou ele. ­Ela me assedia desde que terminei e me segue pela cidade. Deixa bilhetes na minha caminhonete, liga para a minha casa a qualquer hora da noite e depois desliga.

Ela pensou nos telefonemas que recebeu no mês passado e espantou os pensamentos, recusando-se a acreditar que Deirdre faria algo tão infantil e mes­quinho.

Ela voltou a olhar para a tela do computador.

- Desculpe, Gabe - disse ela -, mas o seu ego está à mostra. Deirdre não está louca por você como você pensa. Ela tem um novo namorado. Ela mesma me disse.

- Então como você...

Uma frase pareceu pular sobre ela da tela. Andi levantou a mão, interrompendo-o.

- Ouça - disse ela. - Elizabeth DuBois, mulher do desaparecido, descreve seu marido como tendo 1,55m de altura e 34 quilos; ele possui uma marca de nascença em forma de coroa na cintu­ra. Qualquer pessoa com informações sobre o paradeiro de Chad DuBois deverá ligar para o De­partamento de Polícia de New Orleans em bla­blablá...

Ela girou a cadeira de novo.

- Esse pode ser o nosso rapaz! O Fortune Per­dido!

- Talvez - disse ele, enquanto olhava para a tela.

- Esse artigo tem duas semanas.

- E daí? O nosso morto está aí por mais de dois meses. - Ela pulou da cadeira, abraçou o pescoço dele e foi em direção à porta.

- Arrume as malas, Thunderhawk - ela gritou. ­Nós vamos para a Louisiana!

Quando aterrissaram em Nova Orleans já era de­pois das dez da noite. Planejando fazer uma visita à sra. DuBois na manhã seguinte, alugaram um carro e foram para o hotel.

Depois de estacionar, Gabe pegou as malas e caminhou em direção à recepção.

- Precisamos de um quarto por hoje - disse ele ao atendente.

- Cama de solteiro ou de casal?

Ele pegou a carteira no bolso de trás.

Um cotovelo lhe atingiu as costelas.

Ele franziu a testa, olhando para Andi.

- Para que você fez isso?

Ela deu-lhe uma olhada raivosa e disse para o atendente.

- Duas de casal.

O atendente olhou para os dois e disse:

- Vou checar a disponibilidade. - Ele olhou pa­ra a tela do computador por um instante. - Parece que temos dois quartos conjuntos de casal, no quinto andar.

Gabe jogou o cartão de crédito no balcão. - Ótimo. Ficaremos com eles.

Andi empurrou o seu cartão de crédito próximo ao de Gabe.

- Ponha o meu quarto no meu cartão.

O atendente olhou para Gabe, sem saber o que fazer.

- Faça como a moça quer - disse ele. - Ela é a chefe.

Depois de assinar o recibo do cartão de crédito e receber a chave, Gabe pegou sua mala e foi em di­reção ao elevador. Apertou o botão e olhou para o indicador de andar.

Andi logo aproximou-se dele.

- Você está louco? - Ela sussurrou com raiva. ­Se levássemos o comprovante de despesa para ape­nas um quarto, todos na delegacia pensariam que estamos tendo um caso.

- E não estamos?

Ela abriu a boca para responder, mas desistiu quando viu o atendente observando-os com interesse.

As portas do elevador se abriram.

- Conversaremos mais tarde - disse ela baixinho, e entrou.

Ao ver que Gabe não a seguira, bateu com a mão na porta para evitar que se fechasse.

- E aí? - perguntou ela, sem paciência. - Você vem ou não vem?

Ele olhou para ela por um longo momento e desviou o olhar.

- Não.


Vestida para dormir, Andi andou de um lado para o outro em seu quarto de hotel, tentando ouvir algo do quarto ao lado. Ela parou para olhar o relógio de pulso e soltou um gemido quando viu que era mais de duas da manhã.

E nem sinal de Gabe.

Aonde ele pode ter ido? Ela se perguntou pela centésima vez desde que entrara no quarto. Certa­mente ele não sairia da cidade sem ela...

Ao lembrar do rosto dele na recepção, momentos antes de sair, sentou-se em sua cama e cobriu o rosto com as mãos. Ela deveria ter dito a Gabe antes de sair da cidade que não tinha a intenção de continuar o caso com ele. Se tivesse feito isso, teriam evitado aquela cena na recepção. Mas ela ficara tão empol­gada com a chance de finalmente resolver o caso do Fortune Perdido, que não pensara em mais nada.

Um barulho surgiu do corredor.

Ela abaixou as mãos e prestou atenção, certa de ter ouvido sons vindo do quarto ao lado. Apressando-se até a porta que ligava os dois quartos, ela a abriu e bateu na porta que abria para o quar­to dele.

- Gabe? - Ela chamou. - É você?

Ela esperou e bateu de novo, mais alto. - Gabe?

Ela levantou a mão para bater pela terceira vez, mas a porta se abriu.

Ela abaixou a mão lentamente.

- Onde você esteve? Fiquei preocupada.

Fazendo cara de nojo, ele se virou, tirando a camisa.

- Já sou bem crescidinho. Posso cuidar de mim mesmo.

Determinada a acertar as coisas entre eles, ela entrou no quarto.

- Precisamos conversar.

Ele pegou um cabide do closet e pendurou sua camisa.

- Não precisa. Já entendi tudo. Você não quer que ninguém saiba que dormimos juntos. Você tem a minha palavra. O seu segredo está a salvo comigo.

- Droga, Gabe - disse ela, frustrada. - Você faz parecer que estou com vergonha de você.

Ele olhou na direção dela e levantou a sobran­celha.

- E não está? Você é minha superiora - ele a lem­brou. - Imagino que dormir comum policial de pa­tente inferior não deva ser nada louvável para uma detetive. E tem aquele problema com a diferença de idade - continuou ele e parou para coçar a cabeça. - Mas agora que penso nisso, uma mulher mais ve­lha conseguir um namorado mais novo não seria motivo para ela ficar feliz e sair falando para todos, ao invés de esconder?

Ela sentiu as lágrimas brotarem nos olhos, mas lutou contra elas.

Ele estalou os dedos.

- Espere. Eu sei qual é o problema. É porque eu sou nativo-americano, não é? Você deve ser uma da­quelas pessoas racistas que acham que índios deve­riam estar confinados nas reservas indígenas. Não tem problema dormir com um índio, mas certamen­te você não quer ser vista com um.

Ela cobriu os ouvidos com as mãos.

- Por que está dizendo essas coisas? - Ela chorou.

- É para me machucar? Para acertar as contas porque machuquei você? - Ela destapou os ouvidos, cansada de lutar contra ele. - Se esse for o caso, vo­cê já conseguiu. Estamos quites. Não precisa dizer mais nada.

Ela se virou em direção à porta.

- Então é isso? Está acabado?

Ela parou, com a mão na maçaneta, sabendo que estava se referindo a mais coisas, além da discussão. - Eu lhe disse que não daria certo.

- Estava funcionando bem para mim.

Ela se virou para ele.

- Mas não para mim.

- Não me lembro de ouvir nenhuma reclamação sua ontem, enquanto fazíamos amor.

Ela apertou os punhos.

- Não, mas já tive um caso antes. Sei o que pode acontecer quando acaba. Não passarei por esse tipo de dor novamente.

- Então é isso - disse ele. - Eu pago pelo erro de alguém. Foi alguém que eu conheça? Alguém da de­legacia?

- Não. Foi há muito tempo. Um professor da faculdade.

- Ele largou você?

- Isso não é da sua conta.

Ele a pegou pelo braço.

- É, sim. Se vou pagar pelo erro dele, deveria no mínimo saber o que ele fez.

Ela se soltou dele.

- Ele foi despedido, está bem? Era contra as re­gras da universidade um professor namorar uma es­tudante, por isso ele perdeu o emprego.

- Eu imaginaria que um professor fosse esperto o suficiente para ser discreto.

- Ele era esperto. Um gênio, na verdade. A mi­nha colega de quarto descobriu tudo e contou pa­ra o reitor.

- A sua colega de quarto fez isso? Uau, isso é mes­quinho.

A memória da dor, a traição nas mãos de alguém que ela pensara ser sua melhor amiga era algo que Andi jamais esqueceria.

- Você não sabe da metade.

- Vocês continuaram a se ver depois que ele perdeu o emprego?

Ela desviou o olhar. - Ele saiu da cidade.

- Por que não foi com ele? Parece que você amava o rapaz.

- Ele não me perguntou nada. Fui até o aparta­mento dele numa tarde, e ele... desaparecera.

- E você acha que eu faria o mesmo.

Não era uma pergunta, mas uma afirmação, mes­mo assim ela achou que ele merecia uma resposta.

- Não sei se você faria isso. - Ela se virou para ele. - Mas não posso arriscar. Não passarei por aqui­lo de novo. Não posso.

- Uau. Você sabe mesmo como fazer um homem se sentir como um traste.

- Não foi minha intenção.

- É, eu sei. - Ele pôs as mãos nos ombros dela. - Eu lhe disse que poderíamos ser amigos. - Quando ela abaixou a cabeça, ele tocou-lhe o queixo, fazen­do-a olhar para ele. - Não mentirei dizendo que não estou desapontado. Mas ainda sou seu amigo. Se so­mos amantes ou não, não interessa.

O fato de ele ainda querer ser amigo dela depois dessa discussão tocou-a de uma maneira especial. - Um amigo agora seria ótimo.

- Imaginei que precisasse de um.

Lágrimas invadiram os olhos dela. A sua melhor e única amiga naquele tempo fora sua colega de quarto, a pessoa responsável por arruinar sua vida e a do homem que ela amava.

- Mais do que você imagina.

Ele a abraçou e trouxe-a para a cama dele.

- Chega de conversa por hoje. Vamos para a cama. Vendo a reação de espanto dela, ele levantou as mãos.

- Nada sexual, eu juro. Considere-me o seu ursi­nho de pelúcia. O que você quiser que eu seja.

Ele puxou as cobertas, guiou Andi para baixo delas e apagou a luz do abajur. No escuro, ela ouviu o som do zíper da calça dele, sentiu o colchão afundar quando ele se sentou próximo e tirou as calças. Momentos depois, ele levantava as cobertas e se aconchegava perto dela.

Ele enfiou o braço por baixo da cabeça dela e che­gou perto, beijando-lhe a testa.

- Boa noite, Andi.

Imaginando que isso era apenas um truque para ele fazer amor com ela, preparou-se para evitá-lo, caso tentasse algo. Um minuto se passou. Dois. Ela olhava para ele com suspeita. Três minutos. Quatro. Ao perceber, pelo ritmo da respiração, que ele já estava dormindo, ela relaxou e dormiu.

Quando Andi acordou, estava deitada de lado, en­quanto Gabe dormia atrás dela, com o braço esquerdo sobre a cintura dela. Era a mesma posição em que ela se encontrara quando acordara na cabana com ele. Pensou que fosse entrar em pânico, mas, estranhamente, isso não aconteceu. Sentiu-se segura, até mesmo confortada com a proximidade ele, o que era anormal.

O rapaz era um paradoxo. Ela não acreditara nem por um minuto, quando a colocara na cama, que ele pretendia apenas dormir ao lado dela. Ela pensou a que tática do ursinho de pelúcia era só mais um truque.

Mas ele não tentara nada. Apenas beijara-lhe a testa, dissera boa noite e dormira. Nada sexual, ele prometera. E mantivera a palavra. Ela deveria estar em êxtase, aliviada.

Então, por que estava desapontada?

O nariz dele bateu na curva do seu pescoço, e ela endureceu.

- Bom dia - disse ele, cheio de sono.

Aí vem ele, ela pensou, prendendo a respiração.

A sedução que ela esperava.

Mas, ao invés de se agarrar nela, ele pulou da ca­ma, esticou os braços para o alto, e abaixou-os com um suspiro e foi para o chuveiro.

- Espero que você planeje tomar café-da-manhã, estou faminto.

Chad e Elizabeth DuBois viviam a vida típica de um casal de classe média. Casa de tijolos de dois andares, com um jardim bem-cuidado e uma cami­nhonete estacionada na garagem.

Andi imaginou se a sra. DuBois seria capaz de manter esse estilo de vida por muito tempo se o seu marido fosse mesmo o Fortune Perdido.

- Deixe que eu falo com ela - disse Andi a Gabe enquanto tocava a campainha.

Ele concordou. - Você é a chefe.

Ela respirou fundo, preparando-se mentalmente para lidar com uma mulher histérica.

A porta se abriu, uma mulher apareceu. - Sra. Dubois? - perguntou Andi.

- Sim. Sou Elizabeth DuBois.

Andi mostrou-lhe o distintivo.

- Sou a detetive Matthews do Departamento de Polícia de Red Rock, Texas, e esse - disse ela, indi­cando Gabe - é o meu parceiro, o policial Thunder­hawk.

- Estava esperando vocês. O sargento Maxwell me telefonou avisando que vinham.

- Se tiver alguns minutos, gostaríamos de lhe fazer algumas perguntas.

A sra. DuBois abriu a porta. - Claro. Perdão, entrem.

Andi e Gabe seguiram-na pela sala. Ela pegou um controle remoto e desligou a televisão, apontan­do para o sofá.

- Vocês são do Texas? - perguntou ela, enquanto sentava-se de frente para eles.

Andi balançou a cabeça.

- Sim, senhora. O policial Thunderhawk e eu es­tamos trabalhando em um caso e esperamos que vo­cê possa nos responder a algumas perguntas.

- Chad se meteu em alguma encrenca?

- Não que estejamos sabendo respondeu Andi de forma dissimulada, limpando a garganta. - Quanto tempo faz que o seu marido está de­saparecido?

As lágrimas encheram os olhos de Elizabeth, que esticou a mão para pegar um lenço de papel, numa caixa em cima da mesa.

- Quase quatro meses.

- Por que demorou tanto a registrar o desaparecimento?

A sra. DuBois desviou a cabeça, encabulada.

- Esta não é a primeira vez que ele faz isso ­admitiu ela. - Que ele me deixa, quero dizer. - Ela enxugou os olhos. - Chad tem... problemas. Eu não sabia disso quando nos casamos. Ele os esconde bem. Demorou um pouco para que eu suspeitasse que algo estava errado.

Ela respirou fundo e continuou.

- O trabalho dele requer que ele viaje, mas suas viagens para fora da cidade pareciam aumentar. Então, descobri dinheiro faltando em nossa conta. Perguntei a ele sobre isso e ele foi evasivo. Quando eu insistia, ele ficava bravo. Até mesmo violento. Primeiro, pensei que ele tivesse um caso, então contratei um detetive particular. O rapaz obviamente não era bom, pois Chad descobriu logo que estava sendo seguido. Ele me confrontou e ameaçou se divorciar se eu fizesse algo parecido de novo, não havia como bancar meus filhos e eu. Eu não tenho profissão ou educação superior. - Ela abaixou a cabeça. - Então fiquei.

- Disse que pensou que ele estava tendo um caso - disse Andi. - Nunca pôde provar isso?

Ela balançou a cabeça.

- Não. Mas acho que é mais que isso. Acho que Chad está envolvido com drogas de alguma maneira. Talvez um traficante. Nos meses antes de ele desaparecer, recebeu vários telefonemas tarde da noite. Ele se levantava, trocava de roupa e saía. Dizia que era alguém da firma que havia ligado com um problema que só ele podia re­solver.

Ela balançou a cabeça de novo.

- Mas não acreditava nele. Numa noite, depois de retornar da rua e voltar para a cama, fui até a garagem e vasculhei o carro dele. Encontrei uma arma no porta-luvas e uma mala cheia de dinheiro no bagageiro.

Quanto mais a mulher falava, mais plausível parecia para Andi que Chad poderia ter terminado como isca de peixe no Lago Mondo. No intuito de verificar a conexão que identificava Chad como o cadáver, ela puxou a cópia do artigo no jornal.

- Disse que o seu marido tinha uma marca em forma de coroa na cintura.

Ela tremeu.

- Sim, e era nojenta. O apelido de Chad é Rei ­continuou ela. - Os seus colegas da república, nos tempos da faculdade, puseram o apelido, e até hoje o chamam assim. Alguns anos atrás, dois desses colegas estavam aqui na cidade para o carnaval e convidaram Chad para se encontrar com eles no French Quarter para umas cervejas. Na verdade, foram bem mais que umas cervejas - completou da, com amargura. - Chad estava um trapo quando chegou em casa. Estavam andando pela rua e um dos rapazes - Bill, eu acho - viu um estúdio de tatuagens. Uma coisa levou à outra e os três terminaram lá dentro. Chad sabia o que eu pensava sobre tatuagens. Elas são tão bregas, tão pobres. Ele também não gostava muito.

- Não acho que ele queria ter feito uma, mas com os seus colegas lá insistindo, tenho certeza de que ele não queria parecer um covarde. Bill e Justin tatuaram uma águia em seus braços. Graças a deus, Chad pediu para o tatuador fazer a dele atrás, na cintura, uma coroa - ela completou. - Os amigos dele foram quem escolheram o desenho. Eles dis­seram que todo Rei tinha que ter sua própria coroa.

Andi sentiu o coração afundar.

- Então, a coroa na cintura do seu marido era uma tatuagem, não uma marca de nascença?

A sra. DuBois olhou-a curiosa. - Claro. Por quê?

Andi tentou esconder o desapontamento da melhor forma possível, enquanto se levantava.

- Sinto muito, sra. DuBois. Mas o homem que estamos procurando tem uma marca de nascença em forma de coroa, e não uma tatuagem.

A sra. DuBois se levantou devagar, com os olhos cheios de lágrimas.

- Então você não sabe onde ele está? Andi balançou a cabeça.

- Não, senhora. Sinto muito.



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