Equipe de taquigrafia e revisãO – sgp. 41 Notas taquigráficas



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O SR. MILTON AGUIRRE – Saravá, umbanda, meus irmãos. Motumbá, kolofé, mukuiu. Peço licença ao Vereador e agradeço a oportunidade de estar do seu lado, muito gratificante para mim.

Cumprimento o Secretário Netinho de Paula e a Deputada Leci Brandão, para quem lutamos a fim de que se reelegesse.

No dia de hoje, tenho a agradecer primeiramente a Deus. Em anos passados, podem ter certeza de que a polícia viria e nos tocaria para a rua. Não tínhamos essa liberdade que temos hoje. O negro não tinha cultura, não tinha direito a nada. Isso em todas as esferas. Na parte religiosa, então, muito menos.

Apesar de hoje policial militar aposentado, cheguei a fugir da polícia por ter feito uma oferenda fardado. Por tantas vezes ter sofrido discriminação, sei o que significa estarmos aqui hoje em companhia do Netinho e de todos os membros da Mesa.

Por esta noite maravilhosa, só tenho de agradecer a Deus. Que o meu querido Eduardo Brasil continue brigando por nós.

Agradeço aos nossos irmãos do Fórum Inter-Religioso e ao Unilux, que sempre luta em prol da nossa religião. Como diz o nosso irmão Basílio, estou sempre de pé e às ordens para poder enfrentar todas as dificuldades.

Ao nosso presidente do Superior Órgão de Umbanda, peço que continue lutando para que possamos conseguir tudo o que idealizei dentro da minha gestão no Superior Órgão de Umbanda. Tudo o que quero para o nosso povo é o melhor, e o melhor é a igualdade.

Esta união que estamos vendo no dia de hoje é muito importante. Não sei se amanhã os jornais de grande circulação vão publicar, mas, com certeza, os jornais da nossa religião vão publicar sobre esta maravilhosa sessão.

Agradeço, de coração, à Mãe Sandra Epega de Xangô, uma lutadora da nossa religião, e à Mãe Ada de Omolu, outra lutadora. Que tenhamos saúde para dar continuidade à nossa luta.

Saravá, umbanda! Saravá ao povo afrodescendente! Saravá ao povo do candomblé! Que continuemos lutando, pois a união faz a força.

Muito obrigado.
MESTRE DE CERIMÔNIAS – Eu quero falar algo sobre o Pai Milton. Há muitos anos, entre 1950 e 1960, quando, de fato, havia perseguição policial às religiões de matriz africana, o Pai Milton era da Guarda Civil de São Paulo. Ficava nas portas dos terreiros, de graça, para que a polícia não prendesse o povo.

Para mim, Pai Milton, isso não tem preço. O senhor é a história viva desta cidade, muito pouco lembrado e louvado por aquilo que fez lá atrás, de graça, por todo o nosso povo.

Que Iansã lhe dê vida longa e muita saúde, e que eu tenha força para contar a sua história ainda. (Palmas)

O SR. MILTON AGUIRRE – Amém. Obrigado. (Palmas)
MESTRE DE CERIMÔNIAS – Ouviremos as palavras da Mãe Sandra Epega de Xangô.
A SRA. SANDRA EPEGA – Iku joko. Que vocês não morram enquanto estão sentados. Que o orixá e o ancestral falem por minha boca. Na nossa tradição, hoje a semana tem quatro dias, e hoje é o Ojo Aiku, o dia de Obatalá, o dia em que ninguém morre. Não vamos ficar para a semente, mas o emi, ali, o ori da pessoa não morre, vai e vem. E por que vem? Por causa de axé. Alguém aqui sabe o significado de “axé”? Não é dançar na boca da garrafa - tiram tudo de nós, até nossa palavra mágica. “Axé” é realizar. Nós realizamos e é isso o que estamos fazendo aqui. Isto é um ato de realização.

Cumprimento todos os presentes. Cumprimento o meu bom amigo de 30 anos, Eduardo Matamoridê. Quero tomar a benção a Mãe Ada, a Mãe Sebastiana, àquele Pai Élcio, àqueles mais velhos que estão sempre conosco - e aos mais novos também.

Alguém me disse: “Ah, eu não vejo você”. Tive de optar por trabalhar como sempre trabalhei ou ficar viva para curtir o marido e agora os bisnetos. Então, estou lá no mesmo lugar de sempre, só não estou fazendo o que eu fazia.

Houve um esquecimento aqui - não proposital; é que a gente vai embora e as pessoas esquecem. Queria realmente que lá do fundo do coração vocês se lembrassem do Pai Francelino. (Palmas) Sem ele, não se fazia nada. Um grande homem; juntos, de braços dados, começamos esse trabalho com muitos que estão aqui, como Mãe Rita, Mãe Liliana, que nos ajudaram no Conselho, minha eterna presidente. Fui conselheira durante oito anos, imaginem uma branca azeda no meio do conselho. Eu dizia: “Ah, eu sou branca? Meu traço falciforme que o diga! Se Xangô me escolheu, quem poderá dizer que não?”

Era uma briga. Iniciei em 1965, vivi bem essa época da polícia. Agora somos perseguidos? Somos, mas sempre fomos. As guerras intestinas, na África, resultaram na escravidão, que nos trouxe para cá. Chegando aqui, encontramos o dono da plantação, da fazenda, que nos escravizava e nos perseguia.

Depois, no começo do século passado, encontramos os chefes de polícia e as pessoas que não queriam ouvir falar. Estávamos libertos, mas saímos das senzalas e fomos para as favelas, quer dizer, não estávamos libertos. A Igreja Católica - gosto muito, mas sempre nos perseguiu - dizia que não tínhamos alma, lembram? Agora, graças a Deus, temos aí o Papa Francisco. Muito interessante.

Hoje, estamos numa fase de perseguição por parte dos evangélicos. Mas, estamos numa fase de perseguição mais difícil ainda, a dos pesquisadores. Quantos livros e quanta besteira neles. Quanta coisa na internet que é só bobagem. Às vezes, algum cliente vem jogar búzios e está com seu bom laptop no colo. Estou falando e ele está olhando no aparelho e dizendo que estou errada. Então, consulte o laptop, ora!

Temos de sobreviver a isso e sobrevivemos. Sobrevivemos mesmo. Hoje, somos uma nação de candomblé, de umbanda e a tradição dos orixás. Somos uma nação unida e íntegra de sobreviventes. E é isso o que queremos, sobreviver a tudo, à perseguição policial, aos evangélicos, aos estudantes, porque nós somos nós. E o hino que nós cantamos é exatamente isso: “Meu pai me deu”. Awa o s'oro ilé wa o – o que diz? Nós podemos louvar a nossa terra. Às vezes falam “ilê”, mas é ilé, que significa terra. Podemos sobreviver, quem vai nos impedir de louvar a nossa terra e os nossos orixás? E é isso o que temos de ter conosco: a nossa terra e os nossos orixás.

Graças a Deus e graças a Xangô há muito mais pessoas novas para dar continuidade ao trabalho que os mais velhos começaram, que o Dr. João Batista e o Pai Mário Paulo começaram. O nosso amigo Varela dá continuidade a esse trabalho. É um trabalho pequenino, mas que funciona.

“Precisamos nos unir.” Unir em torno de quem? Já repararam que cada um que sugere união, sugere união em torno de si mesmo? Ninguém abre as portas para conhecer o vizinho. No caso do diálogo inter-religioso ocorre a mesma coisa. Fundamos na Assembleia Legislativa o Conpaz, onde também se prega a união entre as religiões. Mas deve ser a união de se conhecer o outro. Os senhores repararam que Deus é uma figura masculina/ feminina, que tem vários rostos e vários nomes? A mim, Ele deu o rosto de Xangô e o nome de Orixá; a outro, Ele deu o nome e o rosto de Alá; e a outro, o nome de Jesus Cristo. Ele é um só, Ele é um colo, Ele é pai e mãe.

Agora, ao conhecer a religião do vizinho, alguém chega em casa e faz antropofagia religiosa? “Ah, mas o monge tal faz meditação assim... Ah, então não vou mais dançar no templo. Vou fazer assim...” Por quê? Isso é antropofagia religiosa. Não preciso fazer igual à religião do vizinho, porque tenho a minha religião, de que me orgulho.

Hoje fiquei sabendo de um fato muito triste: o meu netinho estava indo à escola e o ônibus estava vazio. Estão fazendo reuniões para a festa do Divino Espírito Santo em Guararema, onde moro, região muito católica, muito evangélica, e nada macumbeira. Então, quase nenhuma criança foi à escola, porque o padre ia dar uma palestra e os evangélicos não deixaram seus filhos irem. Perderam a aula porque um padre católico ia dar uma palestra.

Isso não é Brasil, gente. Desculpem. Somos nós que temos de votar corretamente, que temos de nos dar ao respeito enquanto sacerdotes. O sacerdote tem o direito e o dever de encarar qualquer sacerdote de outra religião, desde o Papa até o padre mais simples. Desde o Edir Macedo até o pastor mais simples. Temos de sentar à mesa junto com os governantes. Pai Francelino dizia: “É, nos somos bonitos, enfeitados; põem a gente na mesa como se fôssemos vasos, para enfeitar”. Não pode ser assim. O poder da palavra, que Xangô nos dá, temos de exercer. A nossa boca tem que soltar fogo e tem que movimentar as pessoas.

Orgulhem-se de suas religiões, seja qual for; e saiam daqui como multiplicadores de informação, não a guardem só para vocês. Porém, não vamos sair divulgando aos vizinhos, porque não fazemos proselitismo. Mas entre nós, falem. Falem no templo, falem da beleza que a política está fazendo, e ensinem seus filhos a votar, votar certo. E, depois, cobrem quem vocês votaram. Política faz parte, sim, da religião; religião é política, sim. Quem se lembra do nosso jornal O Tambor sabe que cansamos de divulgar isso: religião é política. E o que estamos fazendo hoje? Política institucional religiosa, usando o espaço de um prédio do governo para divulgar a nossa religião.

Axé, axé, axé! (Palmas)
NÃO IDENTIFICADO – Um minuto só. Que saudade, Iyá! Há quanto tempo!

Eduardo Brasil, obrigado por esta oportunidade de rever Iyá Sandra Medeiros Epega, Iyá Ada, essas pessoas.

Queria aproveitar para cobrar aqui do Presidente Nacional da Unegro, porque ontem recebi um telefonema da Dra. Regina Makota Mulanji dizendo que o Presidente Estadual da Unegro, Sr. Julião, estaria criando obstáculos à participação dos polos tradicionais de matriz africana na Conferência Estadual de Promoção da Igualdade Racial. Estamos cansados de ser enfeites de marcha, enfeites desse movimento negro ortodoxo, que beija a nossa mão mas ao mesmo tempo diz: vá pra lá rezar que o ator político sou eu! Nós também somos atores políticos, não aceitamos esse tipo de representação que não nos representa.

Por favor, você, Presidente Nacional, dê um recado ao seu Presidente Estadual: nós assistimos a isso e cobraremos pesadamente pela não participação dos povos tradicionais na Conferência.

Fiquem atentos!
MESTRE DE CERIMÔNIAS - Gostaria de dizer que, pelo menos, no Município de São Paulo estamos organizando uma plenária. Nela convocaremos uma pré-conferência para discutirmos a nossa representação, e escolheremos quem são os nossos melhores atores para nos representarem. Esse é o caminho, essa deve ser a nossa conduta. Temos de escolher quem conhece a respeito de política pública e quem é melhor para discutir.

Profa. Elisa e Profa. Roseli, nós já tomamos providências, em anos anteriores. Todas as quartas-feiras, nós nos reunimos durante cinco anos, em um prédio público. Nós não tínhamos outro local. Tivemos vários embates, mas somos amigos calorosos até hoje.

Às vezes não estamos na mesma posição política, mas, Profa. Elisa Lucas, leve a Geraldo Alckmin, Governador do Estado de São Paulo, o nosso abraço, porque ele me garantiu: se o Projeto de lei 992/2011 passasse, ele vetaria. E tenho isso gravado.
A SRA. ELISA LUCAS RODRIGUES – Ele também me garantiu.
MESTRE DE CERIMÔNIAS – Eu não sou do PSDB, mas tenho que agradecer quando um governante faz o seu papel, o papel de um homem digno. É isso o que espero de todos os políticos. (Palmas)

Anuncio que o Poder Legislativo de São Bernardo do Campo, nos termos do Decreto Legisltivo 1346, de 21 de março de 2013, de autoria do Vereador Estevão Camolesi, tem a honra de convidar todos a participarem da sessão solene de outorga do Título de Cidadã Emérita de São Bernardo do Campo à Ialorixá Carmen de Melo Maciel, dia 28 de junho de 2013.

Anuncio também a Festa de Ogum, dia 19 de maio próximo, a partir das 11h, no Baetão, São Bernardo do Campo.
O SR. EDSON FRANÇA – Só queria que você passasse este depoimento ao Pai Paulo, de que nós, da Unegro, faremos uma plenária sobre o povo de santo para iniciarmos esse processo, e há um esforço para que a discussão seja ampla, porque não há uma pessoa que represente todos vocês. É preciso que escolham, votem, definam quem será o representante.

Contem com a presença da Unegro nesse debate. A posição da Unegro no tema é de que a maioria do pessoal participe. A Unegro não tem nenhuma ingerência nos caminhos, quem vai ou como vai. Então, podem contar conosco. A pessoa pode nos procurar, porque nosso intuito é ajudar nessa construção.

Chamaremos, pela comissão organizadora, uma plenária, que vai selecionar a política de São Paulo e também definir os nomes de São Paulo que vão caminhar. O que a comissão organizadora não vai permitir é a instrumentalização do espaço, que deve ser de todos.

Contem conosco. (Palmas)


MESTRE DE CERIMÔNIAS – Tem a palavra, para a sua manifestação, a Sra. Leci Brandão, Deputada Estadual.
A SRA. LECI BRANDÃO – Na semana passada, aconteceu um encontro na Assembleia Legislativa que abordou, entre outras coisas, a Conferência. Na oportunidade, levantei uma questão de forma até veemente: falei que não entendia como o Estado de São Paulo, com a importância que tem, foi limitado a levar apenas 63 pessoas para esta III Conferência, sendo que deveriam ir pelo menos 200 pessoas. Já estamos reclamando faz tempo sobre essa diminuição do povo de São Paulo. Isso tem de ser dito.
MESTRE DE CERIMÔNIAS – Tem a palavra, para a sua manifestação, o Secretário Netinho de Paula, da Secretaria Municipal de Promoção da Igualdade Racial.
O SR. NETINHO DE PAULA – Foi de uma coragem muito grande o nosso colega falar sobre representação política e massa de manobra. E eu gostaria de dar um exemplo em relação à busca de representantes que defendem a nossa causa.

Eu e o nobre Vereador Orlando Silva, discutindo essa questão, em vez de ficar falando que o samba só sofre, sofre muita discriminação, muito preconceito, todo mundo lamentando tudo o que tinha, concluímos que deveríamos buscar mais gente.

Com essa ideia e intenção, nós nos dirigimos à Deputada Leci Brandão, que comentou: “Mas meu Deus do céu, eu já faço a minha política cantando; eu já ajudo”. Eu falei: “Eu sei, mas é que precisamos disso lá no parlamento, que é onde vamos conseguir ter o nosso voto; precisamos de gente nossa para nos representar”. E a sua aceitação foi motivo de muito orgulho, porque vemos a reação das pessoas quando a Deputada fala, quando faz o seu trabalho na Assembleia. Sabemos como ela verdadeiramente representa o nosso povo.

Muito do que sofremos se deve ao fato de que, às vezes, não nos achamos capazes ou competentes para fazer algo, e então passamos a delegar a outros. A Deputada Leci diz que religião é política, e é verdade. Quando é que vocês se reúnem e falam o seguinte: “Daqui, quem consideramos que pode ser o nosso candidato é esse aqui”? Agora, o partido é outro assunto de que vamos tratar, para determinar o partido para o qual esse nosso representante deve ir. É assim que se faz política.

Em relação à Unegro, ela tenta representar os anseios, os pedidos, os desejos. Ela cuida do movimento social, e nós, na política, fazemos a nossa parte.

Estou dando esse alerta, até porque o pessoal do funk estava dizendo a mesma coisa: “Só nos procuram na hora do voto. Quando queremos fazer nossas coisas todo mundo nos proíbe de cantar”. Então estamos organizando o pessoal do funk para que eles também tenham os seus representantes.

Esse era o complemento que eu gostaria de fazer à fala anterior.

Muito obrigado.


MESTRE DE CERIMÔNIAS – Tem a palavra, para a sua manifestação, o nobre Vereador Orlando Silva.
O SR. ORLANDO SILVA – Eu queria encerrar com palavras de agradecimento.

Primeiramente, ao Eduardo Brasil, que batalhou muito para que fizéssemos este encontro. Agradeço ao Eduardo e a todos os companheiros que se dedicaram à realização dessa iniciativa.

Esta é uma reunião plena de êxito. Imaginem, temos na Mesa representantes dos três níveis de governo: do Governo Federal, por meio da SEPPIR; do Governo Estadual, por meio da Secretaria da Justiça; e do Governo Municipal, por meio da Secretaria Municipal de Promoção da Igualdade Racial. Temos entre nós a Silvany, a Elisa e o Netinho, representantes dos três níveis de governo. Quero agradecer, de coração, a presença do Pai Milton Aguirre, pelo valor simbólico que tem; da Mãe Sandra Epega, que descobri ser mãe de dois irmãos meus, dois amigos muito queridos.

Quero agradecer à Leci Brandão. O Netinho lembrou o começo da caminhada dela. Decidimos fazer um feijão lá em casa para conversarmos sobre política. Lembro-me de que a Leci chegou nesse seu jeito, nesse seu caminhar e se surpreendeu porque estava tocando baixinho um disco que eu trouxe lá da Bahia, “Música Sacra do Candomblé”. Ela entrou, nós nos sentamos e conversamos bastante. A Leci é um pouco inspiradora deste espaço. Acompanhando o que ela tem feito na Assembleia, procuramos criar também aqui um ambiente para o negro, para que pudéssemos refletir sobre a cooperação, a diversidade, o respeito, a tolerância que as tradições de origem africana merecem ter.

Nesta solenidade falou-se muito em Estado laico. É muito importante a palavra e a defesa do Estado laico. Acreditamos que cabe ao Estado laico a defesa e a guarda da diversidade. Não existe Estado laico sem respeito e sem guarda da diversidade.

Alguns de vocês devem ter visto o que aconteceu em Santa Catarina, uma cena que o Brasil estava acostumado a assistir há cem anos. Até liguei para a nossa Deputada Leci Brandão, para a nossa Deputada em Santa Catarina, pedi para que houvesse uma manifestação, porque aquela casa fora invadida. O sacerdote foi preso e agredido, dentro da casa dele. Alguém imagina a polícia entrar numa igreja católica e agredir o padre? Alguém aqui imagina o absurdo que seria a polícia entrar num templo evangélico e agredir o pastor? Seria um escândalo. Pois foi o que vivemos em Santa Catarina.

Isso ajudou a inspirar essa iniciativa de hoje, como ajudou a inspirar a luta da Leci Brandão na Assembleia para impedir a votação de um projeto que viola tradições do nosso povo. Por isso, queria dizer que estou muito feliz com a realização dessa iniciativa. Existe aqui uma coincidência entre, pelo menos, três membros desta Mesa: o Netinho de Paula, que é Vereador eleito, a Leci Brandão e eu somos membros do Partido Comunista. Houve tempos em que se falava do Partido Comunista como um partido que ignorava todas as religiões. Isso tem um valor absoluto para nós.

Em 1946, foi um obá de Xangô do Ilê Axé Opô Afonjá da Bahia, chamado Jorge Amado, também escritor e eleito Deputado Constituinte pelo Partido Comunista, que escreveu na Constituição o direito de liberdade religiosa, de liberdade de culto religioso. Rememoro 1946 e Jorge Amado, que era obá de Xangô, para dizer que a nossa tradição é essa. Particularmente para mim, que sou comunista, essa é uma defesa importante. É uma defesa histórica que procuramos reproduzir aqui do jeito que conseguimos, e é possível fazer algo.

Darei um exemplo de um projeto aprovado nesta Casa – não sei se todos ficaram sabendo, porque coisa boa, às vezes, não sai publicada. Foi aprovado um projeto, que pode ser sancionado pelo Prefeito, prevendo que os cemitérios da cidade de São Paulo devem ter espaços adequados para rituais fúnebres de religiões de matriz africana. Olhem que coisa boa. (Palmas) Foi votado e aprovado nesta Casa. Nossa luta será implantar essa iniciativa. É importante que isso aconteça com a constituição de novos aliados.

Aqui se falou do protagonismo político. Espero que na próxima sessão de diálogos inter-religiosos estejam presentes outros companheiros. Já temos aliados nesta Casa. Posso falar de um, o Vereador Laércio Benko, que é umbandista. E há outros companheiros que são aliados da defesa da diversidade e da tolerância.

Por isso, o nosso agradecimento e o nosso respeito a todos os que vieram a esta solenidade. Caminhei por várias casas - não cito uma por uma porque poderia esquecer alguém. Tive o privilégio de visitar muitas casas e fui muito bem acolhido em todas elas. Esse acolhimento das casas de povo de santo é significativo: é o acolhimento da diversidade, independentemente de onde venha.

Aliás, na minha terra natal, em Salvador, que é uma cidade de Oxum, tem uma canção que o povo transformou em hino da cidade - há coisas que são assim, o povo às vezes inventa e é o que vale. A canção se chama “É d’Oxum”, e tem uma parte que diz: “Seja tenente ou filho de pescador, ou importante desembargador, se der presente é tudo uma coisa só, a força que vem das águas não faz distinção de cor, e toda cidade é d’Oxum”.

Toda casa que eu visitei, seja de umbanda, seja de candomblé, sempre tivemos acolhimento. É esse acolhimento que eu espero que inspire a tantos que olham com preconceito e que não conhecem, na verdade, as nossas tradições.

Para concluir, quero dizer que tenho o privilégio de ter na minha equipe a Luciana, o Felipe, adeptos de religiões de matrizes africanas, que nos ajudam também, que somaram com o Eduardo, com a Unegro, com o Edson, para que fizéssemos esta iniciativa. E espero que façamos muitas outras.

O que é significativo, Ofanirê, é que nós faremos aqui uma homenagem às casas mais antigas. É um gesto simples, singelo, mas é um gesto seguindo a tradição da nossa matriz, da minha matriz, de respeito e valorização dos mais antigos, dos mais velhos.

Este ato também é um espaço para que possamos homenagear casas que foram responsáveis por manter a tradição que nos trouxe até aqui. Porque as religiões de matriz africana são também focos de resistência cultural, de resistência étnica, e alimentam a nossa formação social histórica que faz o Brasil ser o que é. Porque nós devemos muito à tradição que trouxemos da África.

E se, infelizmente, em Brasília, tem gente que fala que nós, filhos de Noé, africanos, negros, somos povos amaldiçoados, o que podemos dizer aqui, alto e bom som, é que nós, negros, filhos da África - e nossos outros irmãos, não negros, que somam conosco -, nós somos, na verdade, abençoados. (Palmas)

Essa é a palavra que quero dirigir a vocês neste momento.

Muito obrigado.
MESTRE DE CERIMÔNIAS – Gostaria de convidar o Secretário da Igualdade Racial, Netinho de Paula, e o Exmo. Sr. Vereador Orlando Silva para darmos início às homenagens.

Quero cumprimentar a Sra. Cátia Cristina, Secretária Setorial de Combate ao Racismo, do Partido dos Trabalhadores.

A primeira pessoa que vou chamar é um evangélico, amigo querido. Em Piracicaba, fizeram uma maldade muito grande com o povo do santo: deram a palavra para um evangélico, acreditando que ele fosse falar contra a nossa religião. E o que esse evangélico fez foi uma defesa inconteste, e nunca nós, do candomblé, pudemos aplaudi-lo por ter falado bem da nossa tradição religiosa, por ter defendido o abate. É o Presidente da Associação Brasileira de Liberdade Religiosa, meu querido amigo, Prof. Samuel Luz. (Palmas)
- Entrega da homenagem, sob aplausos.
MESTRE DE CERIMÔNIAS – Nossa próxima homenageada é uma parceira de longa data, uma mulher extremamente digna, advogada brilhante, Presidente da Comissão de Liberdade Religiosa da Ordem dos Advogados do Brasil, que tem feito pareceres sobre denúncias, uma grande parceira dentro do Fórum Inter-Religioso por Liberdade de Crença, a Profa. Dra. Damaris Moura Kuo. (Palmas)
- Entrega da homenagem, sob aplausos.
MESTRE DE CERIMÔNIAS – Vou dar dois troféus.

Pai Flávio de Yansan tem uma luta inconteste como presidente do Jornal A Gaxéta. A maior vítima de intolerância deste Município foi Pai Flávio. Sua casa existia como terreiro de umbanda desde 1955; a Prefeitura do Município de São Paulo, na gestão Kassab, a fechou; ele teve de mudar de São Paulo e sofreu um enfarte. Pelo Jornal A Gaxéta, Ilê Alaketu Ase Egbe Oya Ogun, receba a homenagem Pai Flávio de Yansan.


- Entrega da homenagem, sob aplausos.
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