Esses estranhos Homens deveriam ficar muito satisfeitos por serem julgados mais maldosos dó que realmente são



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“Favor perdoar a aparência repentina de um desconhecido ao portão de uma dama”, disse o homem.

“Perdoado, é claro”, ela disse impacientemente. “Venha para cá onde eu possa vê-lo melhor ― venha, venha!”

Elphaba vira tão poucas outras pessoas em sua vida que escondeu um olho atrás da colher e ficou espiando com o outro.

O homem se aproximou. Seus movimentos revelavam a falta de jeito de quem está exausto. Ele era largo de tornozelos e tinha pés grossos, esbelto de cintura e ombros, e o pescoço também era grosso ― como se tivesse sido fabricado num torno mecânico e trabalhado depressa demais nas extremidades. Suas mãos, depositando as sacolas no chão, pareciam animais com opiniões próprias. Eram descomunais e esplêndidas.

“Viajante não sabe onde está”, disse o homem. “Duas noites para cruzar as colinas de Milharais da Baixada. Para procurar a taberna em Três Árvores Mortas. Para descansar.”

“Você está perdido, você errou o caminho”, disse Melena, decidindo não ficar espantada com suas palavras desordenadas. “Não tem importância. Deixa eu lhe fazer uma comida e me conte a sua história.” Ela passava as mãos pelos cabelos, que uma vez tinham sido considerados tão preciosos quanto bronze esculpido. Limpos ao menos eles estavam.

O homem era polido e bem apanhado. Quando tirou seu boné, seus cabelos caíram em meadas oleosas, rubras como a aurora. Ele se lavou na bomba de água, despindo-se da camisa, e Melena percebeu que era bom ver de novo os quadris de um homem (Frex, louvado fosse, dera para ficar roliço nesse ano e pouco que transcorrera desde o nascimento de Elphaba). Será que todos de Quadling tinham esse delicioso cor-de-rosa sombreado? O nome do homem, Melena ficou sabendo, era Coração de Tartaruga, e ele era um soprador de vidro de Ovvels, no pouco conhecido Estado de Qua-dling.

Ela finalmente guardou seus seios, embora com relutância. Elphaba emitiu um grito prolongado para que ela a soltasse, e, sem hesitar, o visitante desafivelou-a e jogou-a para o alto e pegou-a novamente. A criança cacarejava de surpresa, de prazer até, e Coração de Tartaruga repetiu o truque. Melena tirou proveito da concentração do homem na pirralha para pegar os peixinhos não comidos da sujeira do chão e limpá-los. Ela os deixou cair no meio dos ovos e da raiz de alcatrão amassada, esperando que Elphaba não aprendesse a falar de repente e a deixasse embaraçada. Ela era bem o tipo de criança que faria isso.

Mas Elphaba estava por demais encantada com esse homem para bagunçar ou fazer birra. Ela nem mesmo se queixou quando Coração de Tartaruga finalmente foi até o banco e sentou-se para comer. Ela engatinhava entre suas macias panturrilhas desprovidas de pêlos (porque ele tirara as suas meias) e murmurava alguma musiquinha de sua própria lavra com um sorriso afetado e satisfeito no rosto. Melena se descobriu com ciúme de uma fêmea que não contava ainda com dois anos de idade. Ela não teria achado nada ruim sentar-se no chão entre as pernas de Coração de Tartaruga.

“Nunca conheci ninguém de Quadling”, ela disse, num tom alto demais, brilhante demais. Os meses de solidão tinham-na feito esquecer suas boas maneiras. “Minha família nunca recebeu um morador de Quadling para jantar em casa ― não que houvesse muitos, ou nenhum, que eu soubesse, nas chácaras vizinhas à nossa propriedade. Havia histórias que pintavam os de Quadling como dissimulados e incapazes de dizer a verdade.”

“Como pode um quadling responder a uma tal acusação se um quadling é sempre dado à mentira?” Ele sorriu para ela.

Ela se derreteu como manteiga em pão quente. “Acreditarei em qualquer coisa que você diga.”

Ele lhe contou de sua vida nos asilos de Ovvels, as casas apodrecendo suavemente no pântano, a colheita de caracóis e escuras ervas daninhas, os costumes da vida comunitária e da veneração dos ancestrais. “Então, vocês acreditam que seus ancestrais vivem com vocês?” ela alfinetou. “Não quero ser intrometida, mas é que fiquei interessada em religião a despeito de mim mesma.”

“A dama não acredita que seus ancestrais estejam ao seu lado?”

Ela mal podia se concentrar na questão, tão claros eram os olhos do homem, e tão maravilhoso era ser chamada de dama.

Seus ombros se endireitaram. “Meus ancestrais mais próximos não poderiam estar mais distantes”, ela admitiu. “Quero dizer, meus pais ainda estão vivos, mas tão desinteressantes para mim que não faria diferença se estivessem mortos.”

“Quando mortos poderão visitar a dama com freqüência.”

“Não serão bem-vindos. Caiam fora.” Ela riu, enxotando. “Você quer dizer fantasmas? Melhor que não apareçam. Isso é o que eu chamo o pior dos dois mundos ― se é que há Outro Mundo.”

“Há um outro mundo”, ele disse com toda convicção.

Ela ficou arrepiada. Ergueu Elphaba e apertou-a firmemente entre os braços. Elphaba vergou como um invertebrado em seus braços, nem reagindo nem retribuindo ao abraço, só se esquivando da novidade de estar sendo tocada. “Você é um vidente?”, disse Melena.

“Coração de Tartaruga sopra vidro”, ele disse. Ele parecia querer dizer que aquela era a resposta.

Melena repentinamente lembrou-se dos sonhos que tinha, de lugares exóticos que sabia que era limitada demais para inventar. “Casada com um pastor, e não sei se acredito em outro mundo”, ela admitiu. Ela não quisera dizer que era casada, embora achasse que estava implícito, devido à criança.

Mas Coração de Tartaruga havia parado de falar. Ele baixara o prato (tinha posto os peixinhos à parte) e tirou de suas sacolas um potinho, um cachimbo, e alguns sacos de areia, bicarbonato de sódio, cal e outros minerais. “Pode Coração de Tartaruga agradecer à dama por sua boa acolhida?” ele perguntou; ela concordou.

Ele acendeu o fogo da cozinha, escolheu e misturou seus ingredientes, e arrumou os utensílios, e limpou o fornilho de seu cachimbo com um paninho especial dobrado em sua própria bolsa de tabaco. Elphaba, imóvel como uma moita, com as mãos verdes nos verdes dedos do pé, ficava observando com curiosidade em seu rosto contorcido.

Melena nunca tinha visto o vidro ser soprado, e também nunca vira papel sendo feito, nem roupa sendo tecida, nem toras sendo arrancadas a machados dos troncos das árvores. Parecia-lhe tão maravilhoso quanto as histórias locais do relógio itinerante que tinha enfeitiçado seu marido, levando-o àquela paralisia profissional da qual ele não tinha ainda escapado completamente ― embora vivesse tentando.

Coração de Tartaruga murmurava uma nota musical através do nariz ou do cachimbo enquanto soprava um bulbo irregular de um gelo esverdeado. A coisa fumegava e sibilava no ar. Ele sabia o que fazer; era um feiticeiro na arte do vidro; Melena teve de colocar Elphaba para trás para protegê-la de queimar suas mãos enquanto tentava pegá-la.

Num tempo que pareceu nem ter passado, no que parecia mágica, o vidro passou de semilíquido e abstrato para uma realidade concreta e fria.

Era um círculo liso e impuro, como um prato ligeiramente oblongo. Ao longo do tempo todo em que Coração de Tartaruga trabalhou nele, Melena pensou em sua própria personalidade, indo do éter da juventude à casca endurecida da maturidade, transparentemente vazia. Vulnerável, também. Mas antes que se perdesse em remorsos, Coração de Tartaruga tomou suas duas mãos e passou-as bem perto, sem tocar, na superfície lisa do vidro.

“Dama conversar com seus ancestrais”, ele disse. Mas ela não queria lutar para se comunicar com gente velha mortalmente aborrecida no Outro Mundo, não enquanto aquelas mãos enormes cobriam as suas. Ela respirava pelo nariz para suprimir o cheiro do desjejum em sua boca não lavada (fruta e um copo ― ou dois de vinho?). Ela achava que ia desmaiar.

“Olhe para o vidro”, ele a pressionou. Ela conseguia olhar apenas para seu pescoço e seu queixo cor de mel de framboesa. Ele olhava para ela. Elphaba se aproximou, firmou-se com uma mão pequena em seu joelho e observou também.

“Marido está chegando”, disse Coração de Tartaruga. Era uma profecia feita através do prato de vidro ou ele estava lhe fazendo uma pergunta? Mas ele continuou: “Marido está viajando de burro para trazer mulher velha visitar você. Espera visita de ancestral?”

“É velha ama-de-leite, provavelmente”, Melena disse. Ela estava caindo em sua sintaxe deformada com desavergonhada simpatia. “Você vê isso aí?”

Ele concordou. Elphaba concordou também, mas com o quê?

“Quanto tempo teremos até que ele chegue aqui?”, ela perguntou.

“Até a noite.”

Não trocaram mais uma só palavra até o pôr-do-sol. Abafaram o fogo e carregaram Elphaba para o arnês, e sentaram-na diante do vidro esfriado, que penduraram num fio como uma lente ou um espelho. A coisa parecia hipnotizá-la e acalmá-la; ela nem mesmo ficava roendo, alheia, seus pulsos e dedos do pé. Eles deixaram a porta da casa aberta para que, de quando em quando, pudessem olhar da cama para vigiar a criança que, na claridade de um dia de sol, não seria capaz de focalizar seus olhos para ver nas sombras da casa, e que, de qualquer modo, nunca fora de se virar para ver. Co-ração de Tartaruga estava insuportavelmente belo. Melena enroscou-se como cobra-dragão, cobriu-o com sua boca, derramou-o em suas mãos, aqueceu e esfriou e deu forma à sua luminosidade. Ele preenchia o seu vazio.

Estavam banhados, vestidos, com a ceia quase toda feita, quando o burro soltou um zurro a uma milha na descida do lago. Melena ficou corada. Coração de Tartaruga voltou para seu cachimbo, soprando novamente. Elphaba se virou e olhou para a direção do agudo anúncio do burro. Seus lábios, que sempre pareciam quase negros contra a cor de maçã nova de sua pele, torceram-se num aperto, mascando-se. Ela mordeu o lábio de baixo como se fizesse isso para pensar, mas não sangrou; tinha aprendido a usar os dentes de algum modo, através de tentativa e erro. Pôs sua mão no disco brilhante. O círculo de vidro captou o derradeiro azul do céu, até ficar parecido com um espelho mágico tendo por dentro nada além de água de um frio prateado.





GEOGRAFIAS DO VISTO E

DO NÃO-VISTO



Ao longo do caminho, desde Ponta de Espato, onde Frex fora ao encontro da sua carruagem, a Babá se queixou. Lumbago, rins fracos, espinhelas caídas, gengivas doloridas, dor de cadeiras. Frex queria dizer: E que dizer de seu ego inchado? Embora houvesse ficado fora de circulação por um tempo, sabia que a observação seria rude. A Babá dava uma de impaciente e se paparicava, firmando-se com determinação em seu assento até que chegaram à pequena casa perto de Margens Agitadas.

Melena cumprimentou Frex com afetada timidez. “Meu escudo, minha espinha dorsal”, murmurou. Ela estava delgada depois de um inverno duro, as maçãs de seu rosto mais proeminentes. Sua pele parecia purificada pela pincelada de um artista ― mas ela sempre tivera a aparência de uma água-forte em carne humana. Era habitualmente expansiva em seus beijos e ele achou sua reserva alarmante, até que notou que havia um desconhecido nas sombras. Então, apresentações feitas, a Babá e Melena se agitaram para colocar uma refeição na mesa, e Frex pôs lá fora um pouco de aveia para o pobre cavalo que tivera de puxar a carroça. Quando terminou, foi sentar-se junto à filha à luz do anoitecer de primavera.

Elphaba ficou cautelosa ao lado do pai. Ele tirou de sua bolsa um presentinho que tinha entalhado para ela, um pequeno pardal com um bico gracioso e asas erguidas. “Olhe, Fabala”, ele sussurrou (Melena detestava o derivativo, por isso ele o usava: era seu laço particular com Elphaba, o pacto pai-filha contra o mundo.) “Olhe o que eu achei na floresta. Um passarinho de madeira de bordo.”

A criança pegou a coisa em suas mãos. Tocou-a suavemente, e pôs sua cabeça na boca. Frex se enrijeceu para ouvir o inevitável estilhaçar da madeira, e para conter seu suspiro de desapontamento. Mas Elphaba não mordeu. Ela chupou a cabeça e tornou a olhá-la. Molhada, parecia ter mais vida.

“Você gostou”, disse Frex.

Ela concordou, e começou a apalpar as asas. Agora que estava distraída, Frex podia colocá-la em seus joelhos. Ele enfiou seu queixo de barba ondulada carinhosamente no cabelo da menina ― cheirava a sabão, a fumaça de lenha e a torrada fresca, cheiro bom e saudável ― e fechou os olhos. Era bom estar em casa.

Ele passara o inverno numa cabana de pastor de ovelhas abandonada na direção do vento em Cabeça de Grifo. Orando e jejuando, movendo-se para o fundo e para longe de si. E por que não? Em sua terra natal, sentira o desprezo do povo de todo o claustrofóbico vale de Água Mortiça; eles haviam associado a história escandalosa do pastor corrupto ao nascimento da criança deformada. Tinham tirado suas próprias conclusões. Evitavam seus ofícios na capela. Portanto, a escolha de uma vida de ermitão, ao menos a pequenos intervalos, lhe parecera a um só tempo penitência e preparo para uma outra coisa, algo que logo viria ― mas, o quê?

Ele sabia que essa vida não era a que Melena havia esperado ao casar-se com ele. Como seus antepassados, Frex parecia talhado para uma posição de examinador ou mesmo, eventualmente, de bispo. Ele havia imaginado a felicidade que Melena teria como uma dama de sociedade, presidindo jantares festivos, bailes de caridade e chás episcopais. Em vez disso, ele a via à luz da lareira, raspando uma última, mole cenoura de inverno, dentro de uma panela de peixe ― e aí ela se exauria, como a cônjuge de um casamento difícil numa fria e sombria zona lacustre. Frex percebia que ela não lamentava que ele se retirasse de tempos em tempos para que ela pudesse se alegrar ao vê-lo de volta.

Enquanto ruminava esses pensamentos, sua barba fazia cócegas no pescoço de Elphaba, e ela abocanhava as asas de seu pardal de madeira. Chupava nelas como se assobiasse. Desviando-se dele, ela correu para uma lente de vidro pendurada no beiral que se projetava, e deu um tapa nela.

“Não, você vai quebrar!” disse-lhe o pai.

“Não conseguir quebrar aquilo.” O viajante, o visitante de Quadling, vinha da bacia, onde estivera se lavando.

“Ela acabou de aleijar o seu brinquedo”, Frex disse, apontando para a imitação de pássaro danificada.

“Ela se satisfaz com coisas despedaçadas”, Coração de Tartaruga disse. “Eu acho. A menininha brincar melhor com pedaços quebrados.

Frex não entendeu lá muito bem, mas concordou. Ele sabia que os meses que permanecera distante da voz humana deixavam-no a princípio desajeitado. O menino da taberna, que subira a Cabeça de Grifo para entregar o pedido da Babá para ser apanhada em Ponta de Espato, tinha obviamente julgado que Frex fosse um selvagem, um ser gutural e descabelado. Frex teve de citar um pouco do Ozíada para provar alguma humanidade: “Terra do verde abandono, terra da infindável relva" - foi tudo que lhe veio à lembrança.

“Por que ela não conseguiria quebrá-la?”, perguntou Frex.

“Porque não a fiz para ser quebrada”, respondeu Coração de Tartaruga. Mas ele sorria para Frex, sem agressividade. E Elphaba vagava ao redor com o vidro brilhante como se fosse um brinquedo, captando sombras, reflexos, luzes em sua superfície imperfeita, como se estivesse brincando.

“Aonde você vai?”, perguntou Frex, bem quando Coração de Tartaruga lhe dizia, “De onde você é?”

“Sou da Terra de Munchkin”, disse Frex.

“Eu pensar que todos os de Munchkin ser mais baixos que eu e você.”

“Os camponeses, os fazendeiros, sim”, Frex disse, “mas qualquer um com antepassados dignos de nota casou-se com gente mais alta em alguma parte. E você? Você é do Estado de Quadling.”

“Sim”, disse o quadling. Seu cabelo avermelhado tinha sido lavado e secava como um nimbo aéreo. Frex estava contente por ver Melena tão generosa a ponto de oferecer a um andarilho água para se banhar. Talvez ela estivesse, afinal, se adaptando à vida do lugar. Porque, por Deus, um quadling figurava no escalão social tão baixo quanto era possível para alguém que ainda fosse humano.

“Mas eu entender”, disse o quadling. “Ovvels é um mundo pequeno. Até eu partir, eu não saber das colinas, uma atrás da outra e dos espinhaços circulares em torno de um mundo tão amplo. As manchas muito distantes ferir meus olhos, por isso eu não via. Favor o senhor me descrever o mundo que conhece.”

Frex pegou uma varinha. No solo, desenhou um ovo a seu lado. “O que me ensinaram nas lições”, ele disse. “Dentro do círculo fica Oz. Faça um X” ― ele fez, dentro do oval ― “e, grosso modo, você tem uma torta dividida em quatro partes. O topo é Gillikin. Cheia de cidades e universidades e teatros, a vida civilizada, como dizem. E as indústrias.” Ele se moveu no sentido horário. “Ao leste fica a Terra de Munchkin, onde estamos no momento. Terra agrícola, a cesta básica de Oz, exceto quando se desce para o sul montanhoso ― esses traços, no distrito de Pedras do Caminho, são as colinas que você está escalando.” Ele batia com a varinha e designava. “Direto ao sul do centro de Oz está o Estado de Quadling. Terras ruins, me disseram ― pantanosas, inúteis, infestadas de insetos e ares febris.” Coração de Tartaruga ficou espantado ao ouvir isso, mas concordou. “Depois, o Oeste, o que chamam de Estado de Winkie. Não sei muito a respeito, exceto que é seco e desabitado.”

“E ao redor?”

“Desertos de arenito a norte e oeste, desertos de pedras manchadas a leste e sul. Dizia-se que as areias do deserto eram mortalmente venenosas; é apenas propaganda rotineira. Mantém os invasores de Ev e Quox receosos de entrar.

A Terra de Munchkin é um rico e desejável território agrícola, e Gilli-kin também não é má. No Glikkus, aqui em cima,” ― ele esboçou linhas no noroeste, na fronteira entre Gillikin e a Terra Munchkin ― “ficam as minas de esmeralda e os famosos canais de Glikkus. Eu sei que há uma disputa para saber se o Glikkus pertence a Munchkin ou a Gillikin, mas não tenho uma opinião a respeito.”

Coração de Tartaruga movia suas mãos sobre o desenho no chão, flexionando suas palmas, como se estivesse lendo o mapa mais acima. “Mas, aqui?” ele disse. “O que fica aqui?”

Frex pensou que ele se referisse ao céu sobre Oz. “O reino do Deus Inominável?”, ele disse. “O Outro Mundo? Você pertence à união?”

“Coração de Tartaruga é soprador de vidro”, ele disse.

“Eu quero dizer, em termos de religião.”

Coração de Tartaruga baixou sua cabeça e evitou o olhar de Frex. “Coração de Tartaruga não saber de que nome chamar isso.”

“Eu não conheço os quadlings” disse Frex, animando-se com uma possível conversão. “Mas os de Gillikin e Munchkin são amplamente unionistas. Desde que o paganismo Lurlinista acabou. Por séculos, santuários e capelas unionistas têm-se espalhado por Oz. Não há nenhum no Estado de Quadling?”

“Coração de Tartaruga não reconhecer o que é isso”, ele disse.

“E agora respeitáveis unionistas estão convertendo-se aos montes à fé no prazer”, disse Frex, rindo, desdenhoso, “ou mesmo ao tiktokismo, que é difícil até de qualificar como religião. Para os ignorantes, tudo é espetáculo, hoje em dia. Os antigos monges e monjas sabiam seus lugares no universo reconhecendo a fonte da vida como sublime demais para ser nomeada ―, e agora nós suspiramos nas barras do manto de qualquer mago mofado que apareça. Hedonistas, anarquistas, solipisistas! A liberdade individual e o entretenimento são tudo! Como se a feitiçaria tivesse algum componente moral! Feitiços, mágica vagabunda de rua, dispositivos de som e luz com propulsão industrial, falsos ilusionistas! Charlatões, nababos da necromancia, das sabedorias químicas e herbáceas, hedonistas impostores! Vendendo suas receitas de pântano e aforismos de velhas e seus encantamentos de ginasianos! Isso me deixa doente.”

Coração de Tartaruga disse: “Coração de Tartaruga pode lhe trazer um pouco de água, Coração de Tartaruga pode lhe fazer repousar?”. Ele punha os dedos macios como pele de bezerro sobre o pescoço de Frex. Frex tremia e percebia que estivera gritando. A Babá e Melena observavam lá da porta com uma panela de peixe, silenciosas.

“É uma figura de retórica, eu não estou doente”, ele disse, mas estava comovido pela preocupação demonstrada pelo estrangeiro. “Acho que agora vamos comer.”

E foi o que fizeram. Elphaba ignorou sua comida, exceto para espetar os olhos do peixe cozido, arrancá-los e tentar enfiá-los no seu passarinho já sem asas. A Babá resmungava jovialmente sobre o vento que vinha do lago, seus arrepios, sua espinhela, sua digestão. Seus gases pareciam estar só um pouquinho além e Frex se moveu, tão discretamente quanto possível, para ficar contra o vento. Acabou por sentar-se perto do quadling no banco.

“Então, tudo ficou claro para você?” Frex apontou um garfo para o mapa de Oz.

“Onde ficará a Cidade Esmeralda?” disse o quadling, ossos de peixe escapando por entre seus lábios.

“Bem no centro”, Frex disse.

“E lá está Ozma”, disse Coração de Tartaruga.

“Ozma, a imperatriz consagrada de Oz, ou algo assim”, disse Frex, “embora o Deus Inominável deva ser o rei de tudo, em nossos corações.”

“Como pode uma criatura sem nome reinar...” começou Coração de Tartaruga.

“Nada de teologia na hora do jantar”, interrompeu Melena, “é uma regra da casa que data do começo de nosso casamento, Coração de Tartaruga, e nós a obedecemos.”

“Além disso, eu guardo certa devoção a Lurline.” A Babá lançou o rosto na direção de Frex. “Gente velha como eu está autorizada a isso. Você conhece algo sobre Lurline, estrangeiro?”

Coração de Tartaruga balançou a cabeça.

“Se não pudermos conversar sobre teologia, tampouco conversaremos sobre essa porcaria de besteira pagã...” começou Frex, mas a Babá, sendo uma visita e invocando um toque de surdez quando lhe era conveniente, fez que não ouviu.

“Lurline é a Rainha das Fadas que voava sobre os secos desertos e pintalgava sobre eles a verde Terra de Oz. Ela deixou sua filha Ozma à frente do reino em sua ausência e prometeu retornar quando este vivesse sua hora mais difícil.”

“Hah!”, disse Frex.

“Sem essa de fazer hahs para mim.” A Babá fungou. “Tenho tanto direito às minhas crenças quanto você, Frexpar, o Santo, às suas. Pelo menos elas não me metem em confusão como as suas.”

“Bá, controle seu temperamento”, disse Melena, gostando da coisa.

“É disparate”, disse Frex. “Ozma reina na Cidade Esmeralda, e qualquer um que a tenha visto, ou visto pinturas dela, sabe que ela é de origem gillikinesa. Ela tem a mesma testa bem ampla, os dentes frontais ligeira-mente separados, o frisado de cabelo loiro crespo, as rápidas mudanças de humor ― geralmente para raiva. Tudo característico do povo de Gillikin. Você a viu, Melena, diga a ele.”

“Oh, ela é elegante a seu modo”, Melena admitiu.

“A filha de uma Rainha das Fadas?”, disse Coração de Tartaruga.

“Mais besteira”, disse Frex.

“Não é besteira!”, explodiu a Babá.

“Acham que ela renasce de si mesma indefinidamente, como uma fênix”, disse Frex. “Hah, hah e duplo hah. Decorreram trezentos anos de Ozmas muito diferentes. Ozma, a Mentirosa, era uma monja dedicada, que ditava regras, fazendo-as descer por um balde da câmara mais alta do quarto de um mosteiro. Ela era tão desvairada quanto um besouro jogado no chão. Ozma, a Guerreira, conquistou o Glikkus ao menos uma vez, e confiscou as esmeraldas com as quais decoraria a Cidade Esmeralda. Ozma, a Bibliotecária, nada fez senão ler genealogias pela vida toda. Então veio Ozma, a Pouco Adorada, que mantinha arminhos domesticados. Ela sobretaxou os fazendeiros para começar o sistema rodoviário dos tijolos amarelos que eles ainda lutam para completar, e boa sorte, é o que lhes digo.”

“Quem é Ozma agora?”, perguntou Coração de Tartaruga.

“Na verdade”, disse Melena, “eu tive o prazer de conhecer a Ozma mais recente numa temporada social na Cidade Esmeralda ― meu avô, o Eminente Thropp, tinha uma casa na cidade. No inverno em que completei quinze anos, eu debutei na sociedade de lá. Ela era Ozma, a Biliosa, por causa de um estômago doente. Ela era do tamanho de uma baleia branca de lago, mas se vestia belamente. Eu a vi com seu marido, Pastorius, no Festival de Canção e Sentimento de Oz.”


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