(começa a castigar Gayus,fazendo-o gritar)
GAYUS-(berros de dor)
( o lamento de Gayus retumba no palco;Dora prossegue a tortura)
VOZ-Fazeis oque não deve,Dora.
DORA-Ãhn?quem?
VOZ-Largue o homem.Faça oque eu lhe disse Dora.
DORA-Quem é?Quem é que me chama pelo meu nome?
(do alto desce suspenso um homem de vestimenta prateada com uma grande capa.Ele abana-a,simulando o vôo de um pássaro.É Áquila,o ser alado)
DORA-Ah,não!Outra vez aquele emplumado enxerido!
(Gayus rasteja para junto de Áquila,para ver o recém-chegado,mas Dora assenta-lhe uma ferroada nos flancos sem piedade e arranca um urro do rapaz.Com o ferrão ela conduz Gayus pra trás de sí,ficando entre ele e Áquila)
DORA-Fica aí atrás.Esse que chegou agora é um dos que joga no time dos barra-pesada,dos que jogam sujo,tá me entendendo?Ele veio pra te pegar e sabe-se lá oque ele vai fazer contigo.Eu sou a única que pode te defender,portanto você deve ficar atrás de mim e não ouvir nada do que o dito-cujo falar.
GAYUS-Mas porque ele mandou me soltar?Ele só pode...
DORA-Ele tá chegando perto!Vá pra lá,vamos,vamos;vá pra lá e se esconda.Fique escondido até eu chama-lo de volta.
GAYUS-Não!
ÁQUILA-Fique.
DORA-Vamos de uma vez.Vá!Vá!Suma daqui!
(Gayus ouve Áquila e rasteja pra junto dele.Dora tenta ferroa-lo,mas sem sucesso)
ÁQUILA-Gayus,para seres escravo de Dora é preciso que acredites numa destas duas razões:
DORA-Não ouça oque ele diz!
ÁQUILA-Afeição ao sofrimento,a primeira delas,e simples ignorância é a segunda.A segunda opção parece ser a que melhor descreve a relação que você mantém com Dora.Para combate-la é preciso informação,conhecimento.Conhecimento que diz:aquele que não deseja mais sofrer,precisa antes conhecer o...
DORA-Maldita hora em que o infeliz desse galináceo resolveu passar por aqui!Oque foi que te deu?Foi dar uma voada depois do jantar pra auxiliar na digestão e resolveu passar pra uma visitinha?Não tinha mais nada pra fazer,ô monte de pena?
ÁQUILA-Momento de partir,Dora.
DORA-De jeito nenhum!Eu vou ficar aqui e daqui ninguém vai me tirar!
(Áquila se vira para Gayus)
ÁQUILA-Ela não pode se proclamar sra. de alguém,tampouco restringir sua autonomia.Ela mente quando diz ter poderes especiais para mudar o destino das pessoas.Apenas um blefe para impressionar os incautos com a falsa ilusão de poder e mante-los sob seu domínio.
DORA-Ô monte de pena!Chega aqui emplumado!Ó,olha pra cá!Vem aqui,ô galináceo,olha só:
(batendo os braços curvados no tórax,Dora imita uma galinha)
DORA-Póc!Póc!Póc!Póc!Póc!Galinha!Galinha!
ÁQUILA-Retira-te de minha presença.Nada posso contra você,mas sabeis muito bem que conheço certas pessoas.Pessoas que podem permitir que até mesmo Dora sinta a dor do sofrimento. (Dora pára e fica visivelmente impressioada)
DORA-Ora,oque é isso querido?Você sabe que é um grande amigo meu e que sempre irá aturar as brincadeirinhas que eu fizer,não é mesmo?Eu juro que foi sem querer,amigão.Eu não quis mesmo,foi sem querer,eu juro.
ÁQUILA-Dora também pode sentir dor e a simples menção do sofrimento lhe faz recuar de medo.Agora,pode sair Dora.
(ela sai,mas fica na orla do palco,espreitando os dois)
ÁQUILA-Ela não voltará a ferir-te em vão.Antes de deixar-lhe,queria apenas reafirmar que Dora não tem nenhuma espécie de ascendência sobre as pessoas e que ela só pode ferir,se a vitima,por meio de seus erros assim o permitir.
GAYUS-Por favor,não se vá ser alado.
ÁQUILA-Tenho de seguir o meu caminho.Grandes distâncias eu percorro em pouco tempo e não devo procurar me deter.
(ele se vira e sai.Gayus,entrementes,principia a falar e chama a atenção de Áquila)
GAYUS Olhei pra cima,exigindo respostas.
Olhei pra baixo,implorando alívio.
No entanto,só o silêncio;
deixando-me apenas a dúvida
cruel,terrivelmente ambígua.
Então,alguém ouviu minhas queixas
e resolveu se fazer presente.
Antes,
não tivesse me escutado,
então não me alcançaria.
Antes não tivesse conhecido
a perversa criatura do
subterrâneo.
Mas ela veio,não adianta chorar,
mais um peso na carga da vida.
Porém,agora tudo mudou.
Não estou mais sob seu domínio,
um ser alado me libertou
apenas com sua palavra.
Diga-me,homem que vem do alto:
Qual o seu nome?
ÁQUILA-Eu sou Áquila,aquele que voa nas alturas;que conhece tanto as terras baixas como as terras altas,ao vento sobre as asas sempre vou.Sou aquele que de cima da montanha vê o viandante,o local de sua partida e aonde ele quer chegar.
GAYUS-Meu libertador já tem nome e a este não esquecerei.Áquila,não tenho como agradecer-te por se compadecer do meu sofrimento e me libertar das garras de Dora.
ÁQUILA-Não pense que aqui estou apenas para liberta-lo de Dora.Não venho de longas distâncias para livrar sofredores de seus próprios erros.Dê-se com sorte,porque ao cruzar por este caminho percebi-te como vitima e vê-lo enredado na teia fina que Dora teceu para te imobilizar me causou pena.Apenas por comiseração eu resolvi descer aqui e lhe ajudar.
GAYUS-E por isso lhe serei eternamente grato.
ÁQUILA-Procure menos palavras para agradecer e mais motivos para aprender.É disso que precisas.
GAYUS-Tens-me como aluno,mestre.
ÁQUILA-Áquila não é um professor;meu único dever é viajar nas alturas e alertar os viajantes sobre os perigos do caminho.
GAYUS-Não entendi.Que viajantes são esses,que precissam ser avisados?
ÁQUILA-Um exemplo:sem aviso,uma pessoa escorrega e cai dentro de um buraco no caminho e fica se debatendo lá dentro até alguém ir lá resgata-la.Se a pessoa é avisada com antecedência,ela só irá cair no buraco por negligência.Saiba que há pessoas que caem em buracos rasos,mas mesmo assim não conseguem sairem por meio de seus próprios esforços.
GAYUS-Mas essas pessoas devem ser realmente incapazes!Vê isso acontecer com frequência?
ÁQUILA-Frequentemente.Hoje mesmo ao passar por sobre uma pequena fossa que alguém insiste em chamar de "Rainha da Dor",eu vi um ser se debatendo desesperadamente em seu interior,e tive de descer para ajudar,pois a criatura parecia não ter forças para se livrar do buraco sozinha.Isso acontece com muita frequência por aqui.
GAYUS-Me perdoe.É presunção minha achar que já sei o bastante para ter alguma noção da verdade,muito ainda tenho de aprender.
ÁQUILA-Tudo bem.
GAYUS-Áquila,oque devo fazer para descobrir a verdade?Que caminho devo tomar,que pessoas devo conhecer para alcançar as respostas que desejo saber?
ÁQUILA-Elimina o fluído negativo que o cerca e siga os ensinamentos dos mestres da humanidade.
GAYUS-Como assim?
ÁQUILA Purgai as tristezas do coração.
Expulsai da mente os malefícios
que atormentam vosso viver.
Não entendes que tua visão é restrita
que não vês como eu vejo?
Das alturas onde vou
vejo aquilo que lhe é encoberto
porque circunscritos estão
teus sentidos,teus olhares.
Não vês oque se esconde
detrás da montanha que se chama:
Ignorância,humana miséria.
É inútil vos debater
contra a agonia invasora
porque num circulo preso estás
e quanto mais lutares
mais prisioneiro há de ficar.
Levante ambas as mãos.
As algemas são ilusórias.
Somente tu as vê.
Olhai para baixo.
O peso que traze atado ao pé
não existe de verdade.
O verdadeiro peso
trazes dentro do peito.
Caminheis!
Não em voltas intermitentes,
nem para os lados
e tampouco para trás.
Levante os olhos do chão
e para frente caminhe destemido.
Sacudís os grilhões e eles cairão;
junto com eles,o medo
a falta de coragem e também
o manto da ilusão
Se caminhares verás
que detrás daquele monte
há belezas que não imaginas.
GAYUS-Mas qual é a certeza que tenho,que realmente encontrarei uma recompensa.Está fora de minhas vistas,talvez nem exista.
ÁQUILA Crede em mim,tolo descrente!
Já não vos disse
que vejo oque não vês
que tanto vejo os percalços
do caminho que encontrarás
como vejo as recompensas
que esperam por tua chegada.
GAYUS-Mas de que adianta sair do lugar,se sei que mais adiante irei sofrer da mesma maneira?Vou sofrer se sair á caminhar,irei sofrer se ficar parado,porque não ficar?Não vai mudar nada.
ÁQUILA Como podes dizer tal cousa,
não conheces o mundo onde vives?
É claro que irás sofrer!
Das armadilhas do caminho
não há como se furtar.
Porém,se aqui ficares
insensato sereis,
pois um sofrimento maior
há de sobrevir
e então chorareis o pranto
dos infelizes que não se movem
e esperam oque não virá.
GAYUS-Então não me resta alternativa?Devo caminhar e enfrentar oque virá?
ÁQUILA Avante!
Se compreenderes o ciclo da vida
Já não serás tão cego
e irás poupar-te de cair
em todos os buracos e antros
do traiçoeiro e pernicioso erro.
Se caires,levanta e anda
não adianta se lamentar
nem murmurar contra o céu
pois outro erro estará cometendo.
GAYUS-Compreender o ciclo da vida?Não consegui entender.
ÁQUILA-Tudo remonta ao seu princípio.Assim o é na natureza,tanto na natureza deste mundo,como na natureza dos homens.
Vede este exemplo:
A terra gira em torno
de sí com a lua ao lado,
e unidas ambas perfazem
um circulo em torno do sol.
E esse trio rodopiante
dentro da galáxia de origem
outra volta irão dar;
sendo que esta última
volteia incessantemente
no espaço infinito
e acaba por retornar
ao seu ponto de partida.
GAYUS-Ainda não consegui apanhar o sentido de tuas palavras.
ÁQUILA Compreendereis agora.
Pegarei uma gota d'água do oceano
e em forma de vapor
a farei ascender ao céu.
Nas alturas,
em meio as suas irmãs
ela irá cruzar as distâncias
e no alto de uma montanha
irá precipitar-se ao solo
como alvo floco de neve.
Permanecendo assim,o tempo necessário
até que o calor do astro-rei
venha lhe dissolver.
E de volta á forma liquida
descer montanha abaixo
numa torrente desenfreada
procurando o regato,
depois o riacho
em seguida,o caudaloso rio.
Na planície irá se deter
pois será bebida
irá embeber o solo
trará vida á terra
e depois voltará ao rio,
para que após longo percurso
pelas terras que lhe eram estranhas
retorne ao seio querido
do oceano que lhe gerou.
GAYUS-Isso parece até uma parábola.Explica-me oque quer dizer,e como tais palavras encontram analogia com minha vida.
ÁQUILA Essa gota é você,Gayus
Nasceste ignorante
tão ignorante como teus irmãos.
Foste levado á uma terra estranha
e lá deixado para crescer.
Quando já estava apto
para caminhar com as próprias pernas
saíste para conhecer o mundo
e tudo sobre oque nele há.
Primeiro quis conhecer as terras
depois os seus iguais.
Viu,ouviu,sentiu.
Aprendeu.
Mas não tudo.
Porque somente,e somente quando
souberes tudo oque há para saberes
retornarás para tua casa
para o teu verdadeiro lar
junto do Criador.
GAYUS-Quer dizer que eu,nós,todos nós passamos pelas mesmas situações de sofrimento,porque viemos de uma ignorância original,por isso errarmos todos os mesmos erros?Dizeis de uma forma como se o ciclo da vida fosse algo simples ao entendimento.Fala que devemos trilhar uma estrada que é comum á todos e que somente após havermos chegado ao fim da mesma é que entenderemos a razão de tudo.Creio ser isso.
ÁQUILA Entende agora quando digo
que o sofrimento é passageiro
a tristeza não dura para sempre?
As vicissitudes são parte
do caminho que agora trilhas.
Por isso,chorar e se lamentar
quando porventura caís
só lhe trará mais dor
além daquela que é necessária
para impulsionar á frente,
retardando tua chegada
ao lugar que desconheces
mas fica feliz só de nele pensar.
GAYUS-Tuas palavras são deveras convincentes.Elas entram em meus ouvidos e ocupam lugares,ao que me parece,á elas reservadas.Não consigo encontrar nenhum pretexto para afirmar a inveracidade do que disseste.A idéia de um caminho á ser trilhado é simples e em teoria fácil de conseguir,mas se transportado para a realidade,aí a situação se complica.
ÁQUILA-É verdade.Entretanto,com a eternidade a esperar,ninguém precisa sair correndo para chegar a linha final e receber o trófeu.Como na fábula da lebre e a tartaruga,quem anda devagar e sereno,mais cedo ou mais tarde chegará ao fim da corrida.E será vitorioso.
GAYUS-Eu também desejo chegar ao final dessa estrada e encontrar oque me aguarda...
A recompensa no final do caminho
o pote d'ouro no fim do arco-íris
o prêmio,a coroa de louros.
Desejo da vitória
razão que faz com que tanto gente
busque os limites dos seus corpos
os extremos de sua almas
para alcançar algo que é inatingível
áqueles que não querem caminhar.
É oque me faz seguir adiante
com vontade de ver&achar
alí em frente ou na curva adiante
[logo em seguida]
Não importa!
A noite geral prossegue
eu também devo seguir e andar
sem procurar me deter
embora quisesse saber
aonde essa estrada vai dar.
Tudo bem.
Depois da tempestade,
sempre advém a bonança.
No final da noite escura,
as lindas cores da aurora.
Pressinto a glória da mudança
sinto no ar a vibração do novo.
Mescla do momento presente
com réstias do que está porvir.
Ainda não sei,é pura intuição
mas há um rumor no ar
é quase palpável,eu posso sentir.
Estarei errado em assim pensar?
Dizei-me ser alado
Quem ou quê está por chegar?
ÁQUILA-Tão alto onde Áquila não pode alcançar,ou tão baixo que Dora não consegue se aproximar;assim é o espaço para quem a distância não existe.Tão velho que não se pode contar,ou tão novo que acabou de chegar;assim é o tempo para que a idade não existe.
Não tem nenhum nome,ao mesmo tempo tem centenas deles.
Vive junto do Maior,mas está sempre perto do menor.Você nunca viu,mas vê a todo instante.Procurou-a treva,mas só achou na luz.
GAYUS-Eu a encontrei?Onde?Mostre-me Áquila,por favor.
ÁQUILA-Deseje,apenas deseje e ela iniciará um caminho até você.Quanto mais puro o sentimento,mais rápido ela virá.
GAYUS-Sim,eu desejo.Eu peço que venha até mim e se digne trazer um pouco de luz aos meus pensamentos desordenados.
Vinde à mim,luz benfazeja que brota do seio da escuridão para anunciar a chegada de um lindo dia.Venha,venha para iluminar...
CANCIONEIRO-Luz que alumia o mais escuro breu.Vence a treva e mostra o caminho meu.E a chama dessa luz.
ÁQUILA-A chama dessa luz aviva a chama interior daqueles que trazem o coração aceso.Seu fulgor dispersa a escuridão,em sua volta ninguém precisa ser cego,todos podem ver com clareza e nitidez.Ela é a estrela da manhã.É a estrela d'alva,anunciando o fim da noite e o dia que se aproxima.Anjo da alvorada,pintando os céus com as tintas da aurora.Tua visão nos enche de alegria,tua luz resplandecente clareia o caminho que leva ao uno.
(enquanto Áquila fala,do alto desce suspensa em uma corda de balanço uma mulher vestida de branco luminous[holofote nela] e uma coroa tipo estrela)
Pois tu és Stella.
STELLA-Áquila,você e o seu grande coração...
Apresentando-me dessa maneira,Gayus irá supor que se trata de uma divindade majestosa e não uma simples serva que está por chegar.Não vos enganei meu jovem,Áquila costuma enobrecer minha atividade,no entanto,não sou mais que mera coadjuvante no cenário do palco das peripécias humanas.
(Gayus vai até Stella, ajoelha-se ao seu lado e ela lhe beija a fronte)
STELLA-E você criança?Traz a tristeza no olhar e a dor espelhada no fundo dos olhos.Sofreste bastante,não é mesmo?
GAYUS-Sim,permiti que Dora se apoderasse de minha vida,mergulhei num poço profundo e clamei pela morte para não ter mais que sofrer e continuar vendo oque vejo.
(Stella aninha a cabeça do jovem em seu colo e alisa seus cabelos)
STELLA-Já passou,já passou.ela faz isso com todos.Primeiro,os faz desesperar e depois,com calma joga o seu laço.É assim que faz para ganhar novos adeptos á sua doutrina,ao seu estilo de vida.Sabia que ela fala em respeito e ética no trabalho?Logo ela,que ironia não?
GAYUS-Eu sabia que ela é muito má;não imagino-a porém sabendo oque é respeito.Stella,eu quero perguntar uma coisa.
STELLA-Pergunte.
GAYUS-Lutei com todas as minhas forças para me livrar das garras de Dora,mas fui fraco e ela conseguiu me subjugar.Então,chegou Áquila e a fez recuar apenas com o poder de sua palavra,momento em que o ví como um ser superior.Agora chega você e Áquila faz reverências em sua homenagem,garantindo-me a razão de acreditar que o ser de quem falei na verdade é você.Estou certo em pensar assim?Que és um anjo?
STELLA-Durante a história da humanidade,eu e os outros recebemos várias designações e várias utilidades,conforme a cultura de cada nação.Mas não dê importância aos nomes,prefira antes me ver como uma irmã mais velha.
GAYUS-Eu acredito.Acredito em todas tuas palavras.
ÁQUILA-Stella,você falou que exerce uma função auxiliar,a de uma ferramenta,de uma extensão do braço que constrói.Isso me lembrou de uma história que contaste certa vez,acerca do astro que espelha a luz solar.Contaria uma vez mais?
STELLA-Sim,eu contarei.Assim Gayus poderá entender oque queremos dizer quando nos referimos a luz celeste que vem do alto e ilumina a noite escura que paira os seres humanos.
ÁQUILA-Prestai atenção ao que dirá Stella,jovem.
(Gayus senta-se no chão.Stella se levanta,caminha alguns passos vagarosamente,olha para os lados e principia falar)
STELLA-Aconteceu numa terra rica e fértil,um acontecimento que marcou a história do lugar e a vida de todos que alí moravam.Eles viviam tranquilos sob a luz do sol,porém um dia,uma terrível escuridão vinda do norte irrompeu no céu acima das cabeças atônitas e mergulhou-as na mais profunda obscuridade.Houve gritaria,o caos tomou conta de tudo e muitas pessoas começaram a correr apavoradas,chocando-se com as árvores,as casas e com as outras pessoas,que só viam aumentar o seu pavor diante daquele quadro sombrio,onde nada era possível distinguir diante dos olhos.Elas caíam nas escadas,tropeçavam nos objetos,chocavam-se entre sí e brigavam por causa disso,xingando e flagelando-se mutuamente,sem se importarem com quem brigavam,um amigo,um pai ou um irmão.Muitos caíam em buracos abertos e ficavam a gemer lá dentro até alguém ir lhes resgatar.Outras,com medo de tropeçar,de cair ou se encontrar com pessoas pouco amistosas,se sentavam sobre uma pedra e alí ficavam,esperando algo acontecer para saberem oque fazer.E outros ainda,aproveitando o manto da escuridão extravasavam em seus maus desejos e em tudo aquilo que não podiam fazer na claridade de um dia ensolarado.A maioria,não sabia oque fazer e ficava caminhando de um lado para o outro,cegos,alheios ao que se passava no mundo a sua volta.
A noite perene avançava,e então,algo aconteceu:uma grande e brilhante lua surgiu na linha do horizonte.Ela crescia no céu e o seu brilho permitia as pessoas se reconhecerem e evitarem de se machucar nos obstáculos do caminho.
Ainda assim havia aqueles que preferiam viver encobertos pelo véu da obscuridade e mantinham-se cegos por escolha própria.Outras adoravam a lua,dizendo que o astro-rei havia retornado,ignorando o fato que do astro-rei a lua é apenas um refletor.
Surgiu no céu a estrela d'alva anunciando a volta do luminar maior;as pessoas,entretanto,estavam ás voltas com sua cegueira e quando o sol rompeu a linha do horizonte,cegou-as com sua luz iridescente.Aqueles que aproveitaram o brilho da lua,acostumando seus olhos com a claridade,puderam ver o retorno triunfante do astro-rei em toda sua plenitude.Assim aconteceu,que muitos imploraram pelo retorno do sol,mas se acostumaram de tal modo com a escuridão,que quando ele voltou acabou cegando os que estavam despreparados.
GAYUS-É uma história bonita,embora um tanto triste.Certamente,viver em uma noite eterna deve ter sido um castigo bastante cruel para essas pessoas.Essa história aconteceu de verdade?
STELLA-Acontece todos os dias,mas você não a vê sob o disfarce da metáfora e sim sob a óptica nua e crua da realidade.É a este mundo que me refiro.Entenda jovem Gayus,não deve te prender ao sentido exato da palavra e sim tentar compreender a mensagem que o relato traz,tens de achar a sua essência,como fazes ao procurar entender a moral de uma fábula.
GAYUS-Bom,mas...Oque devo entender?
STELLA-Ouça:o sol simboliza o Criador,a lua simboliza os anjos e o periodo de escuridão quer mostrar que os seres humanos ainda vivem no tempo das trevas e apenas estão começando a conhecer a luz.
CANCIONEIRO-O astro vivificador,faz vida brotar deste chão.Os anjos do Criador,ensinam a luz da razão.
ÁQUILA-Também na música encontra-se um belo exemplo,mas esta ainda conserva a metáfora e oculta o significado.É preciso que eu seja claro.Lembra-te quando disse que após o nascimento de tua alma foste deixado em uma terra estranha para que alí crescesse e se desenvolvesse?Pois bem,após a concepção foste deixado livre para que fizeste uso do livre-arbítrio que lhe era concedido e escolher os caminhos que lhe conviessem.Foi te mostrado uma meta e a liberdade de demorar o tempo que quisesse para alcança-la,conquanto que lá chegasse.É o momento em que o sol,ou seja o Criador,deixa de espalhar seus raios sobre os homens e retira-se para fora de suas vistas.No entanto,mesmo que fora de visão ele ainda ilumina a noite e penetra no manto obscuro que cega as pessoas,através de seus braços luminosos que atravessam o espaço da ignorância humana e são refletidos á terra pela superfície refletora da lua.
O astro lunar representa os anjos do Criador que velam pelos passos da humanidade,e também os homens que em todos os tempos vem á terra,para que com o seu exemplo de vida possam esclarecer e apontar a direção correta dos caminhos á serem trilhados.
Porém,muitos não os ouvem e continuam fazendo tudo aquilo que lhes entrava o caminho para a frente.Continuarão tomando atalhos sem saída,adiando o máximo possível a hora da mudança,mas serão arrastados irresistivelmente até aquele que os espera ver vencer todas as provas com seus próprios esforços.Conseguiste entender agora,meu amigo?
GAYUS-Sim,com certeza..E a história se tornou bela ao ser adornada com significado tão manífico.Quer dizer que a Deusa-Mãe cuida de seus filhos enviando anjos e homens especiais para esclarecer e ajudar em suas necessidades.Mas como se mostram ás pessoas?Como se apresentam para que sejam corretamente compreendidos quanto ao que desejam dizer?
ÁQUILA-Não se pode ver os anjos,mas eles podem inspirar o homem com seus bons conselhos,desde que se queira ouvi-los.Homens&mulheres destinados á missões especiais,são parte do cotidiano das pessoas e as ensinam com o exemplo de suas vidas,de suas palavras ditas&escritas,e com ensinamentos que ficam gravados na memória da humanidade.
GAYUS-Quem são eles?Diga-me por favor os seus nomes para que também eu possa usufruir dessa sabedoria tão necessária.Diga-me onde posso encontrar tais escritos?
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