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Inúmeras vezes temos presenciado as tentativas desesperadas que esses espíritos algemados pelo ódio secular fazem para poder sobreviver fisicamente nos lares que ainda lhes são antipáticos e hostís. A Técnica Sideral envida todos os esforços possíveis para concretizar tais experimentos retificadores de culpas recíprocas; no entanto, em face de a humanidade não compreender a impor­tância desse acontecimento incomum mas útil aos espíritos adver­sos, raramente não passa de um breve ensaio, já fracassado de início pela hostilização da família terrena. Quando não é a própria armadura física que cede aos impactos mentais belicosos dos pro­genitores desejosos de se verem livres dos filhos anormais, há que contar, ainda, com os espíritos das sombras, que operam decidida­mente para destruir a oportunidade que foi doada para os seus desafetos buscarem na carne a prova de sua redenção espiritual.
PERGUNTA: — Em face dessa dificuldade de sobrevivência por parte da maioria dos xifópagos e de, portanto, reduzir-se a oportunidade do reajustamento espiritual entre velhos adversá­rios separados pelo ódio implacável, quais são os recursos que os técnicos do mundo espiritual adotam para a solução de tão cru­ciante problema?
RAMATIS: — Certamente, não duvidais de que a Terra não passa de um grão de areia solto no espaço, classificado nas tabelas siderais como um mundo de aprendizado espiritual primário. Mas o planeta terráqueo não é o único mundo destinado a se resolve­rem nele as situações odiosas dos espíritos rebeldes. A ascensão espiritual se processa através de vários orbes semelhantes, afins ou divergentes, que representam outros tantos estágios evolutivos e preparatórios para planos mais aperfeiçoados. Aquilo que não é possível concretizar num orbe físico pode muito bem lograr suces­so noutro mundo semelhante ou mesmo inferior.
Existe incontável número de mundos tanto acima como abai­xo do vosso orbe de educação primária, e que atualmente também servem para a depuração dos espíritos que ainda não se ajustam às lições de afeto e tolerância. Os espíritos que ainda se odeiam, sem esperanças de acordo fraterno, são então enviados para mundos inferiores à Terra, e, através de nascimentos xifópagos ou deforma­ções físicas, aprendem a suportar-se pela mútua presença e obriga­toriedade.
PERGUNTA: — Esse desterro de espíritos delinqüentes para outros orbes inferiores não poderia ser levado mais à conta de um castigo divino do que mesmo à de um ensejo de aproximação fraterna?
RAMATIS: — As autoridades policiais não se vêem às vezes obrigadas a isolar da sociedade os delinqüentes que se tornam refratários a todos os processos de reajustamento social, e que desafiam todos os esforços razoáveis empreendidos para regenerá­-los? Assim como a sociedade primeiramente aguarda-lhes a rege­neração, para depois aceitá-los em seu meio, também os espíritos rebeldes, quando exilados da Terra para outros mundos inferiores, devem abrandar a sua crueldade e despotismo, para depois terem o direito de retornar ao seu velho lar terráqueo.
PERGUNTA: — Qual o significado exato da expressão “quei­mar o Carma" que se encontra muito comumente nas obras ocultistas?
RAMATIS: — E uma definição pitoresca, muito usada no Oriente, do que acontece ao espírito que, através do sofrimento e das vicissitudes humanas, consegue reduzir o fardo de suas obrigações cármicas do passado. Quando a dor, a humilhação e as decepções pungem os vossos espíritos através da carne sofre­dora, é certo que isso promove a queima imponderável do visco pernicioso que ainda está aderido ao perispírito como produto gerado pelo psiquismo invigilante. O sofrimento acerbo é como o fogo purificador a queimar os resíduos cármicos do perispírito.
Muitos espíritos que, em seguida à sua desencarnação, caem especificamente nos charcos de purgação do astral inferior, chegam muitas vezes a se convencer de que estão envolvidos pelas chamas avassaladoras do inferno! Ante a natureza absorvente e cáusti­ca dos fluidos desses charcos, eles funcionam como implacáveis desintegradores dos miasmas e viscos deletérios incrustados na vestimenta perispiritual.
Desde muito cedo o espírito do homem é condicionado gradativamente para o sofrimento, que vai purgando as impurezas do seu perispírito, e a isso a tradição oriental chama “queimar” o Carma, isto é, pagar uma ou mais prestações de uma grande dívida que contraiu. Quando o espírito se resigna à ação cármi­ca retificadora, ajusta-se à Lei e esta desenvolve-lhe a vontade e orienta-lhe o sentimento para a futura configuração angélica. E como acontece à criança que, sob a orientação dos adultos e adquirindo confiança em suas pernas, ergue-se e caminha, para explorar melhor o mundo ao seu redor. Mesmo Jesus, quando curava os enfermos, recomendava-lhes que queimassem o Carma, dizendo-lhes: “Não peques mais, para que não te aconteça coisa pior”. E dizia assim porque, enquanto os pecados “engendram” mais Carma doloroso para o futuro, as virtudes o queimam, por­que libertam a alma do jugo da matéria e evitam que ela cometa novos desatinos. A recomendação de que a alma deve substituir continuamente o que é péssimo pelo que é bom, o falso pelo verda­deiro ou a violência pela paz, tem por principal objetivo modificar carmicamente o teor futuro de vossa vida, como procede o homem prudente e cuidadoso, em sua mocidade, para usufruir de uma velhice saudável e calma.
PERGUNTA: — Mas não podem existir situações, na vida humana, que nos impeçam de reduzir o fardo cármico?
RAMATIS: — De qualquer condição da vida humana sempre resultam benefícios para o vosso espírito! Não há retrogradação do grau já consolidado pelo espírito em sua trajetória evolutiva; o que pode ocorrer é a sua estagnação por teimosia ou rebeldia se se deixar prender por sentimentos de ódio, orgulho ou crueldade, em lugar de se inclinar ao perdão fraterno àqueles que o hostilizam. Por mais celerado ou indigno que tenha sido o espírito quando encarnado, em última hipótese ele há de retornar para o plano que lhe é comum, no mundo astral, com as qualidades com que partiu dali para se reencarnar.
O espírito só poderá revelar-se na matéria exatamente na conformidade do que já consolidou consciencialmente; poderá ser melhor, mas nunca pior. Há de manifestar na carne aquilo que já possuía potencialmente em sua intimidade como natureza exata do seu grau espiritual, mas nunca inferior à que já havia atingido na sua escalonada sideral. No entanto, sob qualquer hipótese, o espírito sempre sai beneficiado da vida física, mesmo sendo de natureza rebelde ou má, pois cada encarnação termina por deixar sempre a sua marca corretiva na contextura perispiritual.
PERGUNTA: — E no caso de o espírito encarnar como idiota ou retardado mental, como poderá ele beneficiar-se dessa encar­nação?
RAMATÍS: — O corpo de um idiota ou imbecilizado, que, na realidade, é o efeito das próprias condições enfermas do espírito, funciona como um cárcere provisório, capaz de represar e disci­plinar os impulsos perigosos que descontrolaram o perispírito no passado, quando se deixou dominar pelas paixões violentas. Esse espírito, à semelhança de um cavalo selvagem, arrastou o seu cava­leiro aos maiores desatinos e desequilíbrios nas suas relações com o meio físico e os seres. Assim, no caso do idiota ou do retardado mental, dir-se-ia que o perispírito excessivamente desenfreado pelas forças do instinto inferior, queda-se completamente reprimi­do na carne, reajustando os seus impulsos desatinados.
Quando por culpa da alma o perispírito superexcita-se em demasia no trato do mundo inferior, o recurso aconselhado é a sua reencarnação compulsória e sua submissão a um freio carnal com atrofia do sistema endocrinico do corpo físico e desvio do timo-tiróide, o que, então, lhe retarda no tempo justo o progresso do desenvolvimento natural na matéria, demorando-lhe o reajustamento da memória etérica ao raciocínio comum da nova existência.
O organismo carnal funciona, então, como um biombo ou filtro poderoso, que tanto reduz a excitação selvagem do perispíri­to, como ainda o força a acomodar-se dentro do campo de forças ordenadas, das quais ele abusou no passado. Toda a excitação pré­-reencarnatória que, por excessiva paixão na vida anterior, descom­passava o ritmo da consciência espiritual, termina por ser frenada vigorosamente pela constituição biológica do imbecilizado. O cérebro letárgico do imbecil ou retardado mental não corresponde prontamente aos impactos violentos de um perispírito desorienta­do pelas suas tropelias anteriores, pois que em sua atrofia nervosa demora-se em atender às solicitações desatinadas.
A glândula pineal, delicadíssima antena do sistema psico­nervoso, central elétrica ou usina piloto do organismo humano, funciona nesse caso com certa dificuldade, oprimida como está em sua atuação, tornando-se incapaz de transmitir com clareza a mensagem racional dirigida pelos neurônios e que constituem o aparelho receptor e transmissor do espírito para a matéria.
O corpo retardado, e com um sistema nervoso letárgico, reduz a superexcitação trepidante e perniciosa do perispírito vítima dos seus próprios descalabros pretéritos e habitua-o, pouco a pouco, a pulsação normal, efetuando-lhe as correções vibratórias que o tornam acessível ao controle da consciência do espírito.
PERGUNTA: — Dai-nos um exemplo mais objetivo, com o qual possamos assimilar melhor as vossas considerações anterio­res Podeis fazê-lo?
RAMATIS: — Como já o temos feito várias vezes, recordamos, novamente, o interessante e velho exemplo usado em magia, em que se figura o cocheiro, o cavalo e o carro. O cocheiro, como o principal dirigente da carruagem, enfim, a inteligência, significa o espírito; o veículo representa a matéria, que é o corpo humano; o cavalo, como a força intermediária entre o cocheiro e o carro, significa o perispírito, que igualmente é o campo energético a funcionar entre o espírito e o seu organismo físico. O cocheiro só pode movimentar a carruagem agindo sobre os cavalos que a puxam, assim como o espírito também só pode mover o corpo físico quando atua sobre o seu intermediário, que é o perispírito.
Neste exemplo tradicional, de magia, podeis notar que o cavalo responsável pela tração do carro, embora seja uma força inferior e rude, é, no entanto, mais vigoroso do que o cocheiro, apesar deste ser a inteligência que dirige o veículo. Mas é o cocheiro quem, pelo pulso firme, controla as rédeas e estimula com o chicote os movimentos do cavalo. Da mesma forma, o perispírito também é um campo de forças mais violento e vigoroso do que o espírito e o corpo carnal, porque é constituído pelas mais vigorosas energias que pulsam entre o mundo astral e o físico. Ele opera exatamente no limiar desses dois mundos de causa e efeito; é organismo dotado de vigorosa energia vital e magnetismo telúrico, que despendeu incontáveis milênios para a sua contextura atual.
Quando o perispírito é demasiadamente excitado pelas pai­xões humanas, pode dominar completamente o espírito que o dirige, assim como o cavalo, sob as mãos de um condutor bisonho ou sem energia, pode tomar o freio nos dentes e causar enormes prejuízos ao veículo. Os exageros viciosos, as paixões violentas e os descalabros das criaturas são como o chicote que açoita o peris­pírito e depois fá-lo fugir ao controle e à direção do seu próprio dono. Depois dç aglomerar as forças do mundo inferior, o perispí­rito superexcitado impõe-se vigorosamente ao seu espírito diretor e, assim como o cavalo em disparada depreda a sua carruagem, ele também causa toda sorte de prejuízos ao corpo físico. Daí, pois, tanto a saúde corporal como psíquica depender da perfeita equanimidade entre esses três elementos básicos do ser: espírito, perispírito e corpo físico, ou seja, comparativamente, o cocheiro, o cavalo e a carruagem.
PERGUNTA: — E de que modo o corpo letárgico, ou de uma criatura retardada, pode conseguir o domínio desse perispírito superexcitado?
RAMATIS: — Como o perispírito é constituído, em parte, da substância astralina de grande força magnética, que serve para compor o veículo das emoções do espírito, as paixões descontro­ladas produzem-lhe superexcitações, assim como as chibatadas violentas sobre o cavalo podem lançá-lo em louca disparada, sem o controle do seu dono. Inúmeros individuos hipertireóidicos são apenas resultantes da excessiva excitação perispiritual que ainda os domina desde o passado, e que atua-lhes fortemente no campo psíquico do sistema glandular, perturbando a harmonia da hipófi­se e da tíreóide.
O perispírito muito excitado requer a terapêutica da reencar­nação num corpo letárgico, tardo em seu metabolismo motor e nervoso que, na forma de um freio, represa na carne o seu excesso perturbador, assim como o cavalo indócil, preso a pesado veículo, fica impedido de agir desatinadamente. Em sentido oposto, o peris­pírito indolente e acostumado às existências animalescas, que lhe foram essencialmente vegetativas e sem estímulos à dinâmica psí­quica, deve ser ajustado a um organismo carnal cujos ascendentes biológicos e tendências hereditárias propendam para o aceleramen­to da tireóide, capaz de excitar o espírito lerdo e comodista, assim como o chicote acicata o animal lerdo. Então, mais se sensibiliza a contextura perispiritual, ao mesmo tempo que despertam as forças magnéticas que, embora latentes, hão ficado adormecidas nas vidas letárgicas do pretérito.
Servindo-nos do exemplo anterior, queremos dizer-vos ainda que o perispírito superexcitado perturba a manifestação normal da consciência do espírito, assim como o cavalo em disparada também vence o controle e o comando do cocheiro que é o res­ponsável pela viatura atrelada. Em conseqüência, só existe um recurso aconselhável para ambos; no caso do espírito, deve ele ser encarnado em um corpo letárgico que restrinja a dinâmica muita acelerada do seu perispírito e, no caso do cavalo, precisa ser ele atrelado a uma carruagem tão sobrecarregada que o impeça de qualquer desatino.
Da mesma forma, o perispírito descontrolado, que escapa à ação diretora da consciência do espírito e prejudica o corpo pela violência das paixões e hábitos indisciplinados, também há de corrigir-se de sua excitação nociva por meio da prisão obrigatória em um corpo letárgico, retardado ou imbecil. Os desatinos e as paixões do pretérito podem ter levado o perispírito a excitação tão violenta, que o obrigue a arrastar pesadas viaturas de carne pelas estradas da vida física, a fim de poder reajustar-se à sua dinâmica natural.
PERGUNTA: — Se é como dizeis, cessa então completamente o “livre arbítrio”, para só prevalecer o Carma, como um destino implacável! Que nos dizeis?
RAMATIS: — O destino — já o frisamos alhures — é resultante das ações e das forças que a criatura mobiliza continuamente sob a sua própria vontade; e através desta, o homem tanto pode produzir situações futuras para melhor como para pior. A vontade esclarecida dirige a mente para a consecução de um destino supe­rior, pois ela é que realmente delibera quanto à movimentação e o rumo das causas que posteriormente se transformam nos efeitos correspondentes.
Justamente devido ao seu livre-espírito é que o homem usa e abusa das energias componentes do seu perispírito, as quais, por serem forças latentes evolvidas da animalidade inferior nos milênios findos, quando acicatadas podem lançá-lo aos mais incontroláveis desatinos! Então a Lei de Causa e Efeito deve intervir no tempo justo para recuperar o espírito conturbado e ajustá-lo novamente à marcha ascensional de sua verdadeira vida, ao mesmo tempo que a Lei do Carma ajusta o espírito, conduzindo-o à situação que mere­ce diante do balanço de suas culpas e de suas boas obras.
Bem usar do livre arbítrio não é praticar o mal à vontade e calcar-se nas ilusões e interesses do mundo físico, mas exatamente valer-se dessa regalia para se libertar dos ciclos reencarnatórios da vida material, o que então imuniza o homem, cada vez mais, do Carma do próprio planeta que habita.
Francisco de Assis, Buda, Jesus e outros espíritos excelsos que desistiram de competir com os valores ilusórios do mundo material e renunciaram à personalidade humana, desenvolveram poderes incalculáveis do mundo espiritual, porque os seus atos estavam acima do poder cármico terráqueo. No entanto, homens como Napoleão, Aníbal, César, e outros conquistadores de coroas e penduricalhos do mundo transitório material, ainda colhem os efeitos de sua precipitação ao usarem maquiavelicamente do seu livre arbítrio fora de suas necessidades espirituais. O homem, pela sua própria vontade, pode modificar ou atenuar o seu Carma futuro, mas é óbvio que não pode intervir extemporaneamente no Carma da Terra que habita, o qual depende diretamente do Carma da Constelação Solar. O planeta terráqueo não pode fugir à sua lei cármica nem modificar pela sua vontade as etapas evolutivas, que lhe são decorrentes dos movimentos e dos reajustamentos de outros orbes filiados à mesma ronda planetária.
O homem vale-se melhor do seu livre arbítrio à medida que acelera o seu progresso espiritual e se liberta dos ciclos reencarna­tórios na matéria física, onde o Carma planetário, demasiadamen­te severo e restritivo, reduz a ação da vontade humana.
PERGUNTA: — Quando, durante a gestação, uma mulher atravessa essa fase delicada de modo tranqüilo, ao passo que outra sofre tormentos e perturbações fisiológicas angustiosas, devemos crer que em ambos os casos predomina sempre a colheita cármica? Será devi­do a um Carma suave que a primeira é aliviada no período gestativo, enquanto a outra sofre os efeitos aflitivos das causas perniciosas do passado?
RAMATIS: — O acontecimento depende muitíssimo do tipo de espírito que se deve encarnar e que passa a operar no casulo materno; secundariamente, há que se considerar o tipo biológico da futura mãe, a qual, por hereditariedade anatômica ou fisiológi­ca, pode não oferecer um vaso físico completamente apropriado a uma gestação calma e “délivrance” fácil. Se o espírito encarnante é portador de fluidos opressivos, tóxicos e contundentes, é fora de dúvida que a mãe terá que sofrer-lhe a ação venenosa no seu corpo etéreo-astral, ocorrendo então as angústias e as náuseas muito acentuadas, ante o esforço heróico do organismo físico para expelir na forma de líquidos as emanações psíquicas que absorve, como se fora um mataborrão vivo.
Portanto, tanto tem relação com o Carma o fato de uma mãe precisar gestar um corpo físico para um espírito enfermo, como o tem o daquela que não possui o corpo suficientemente adequado para se desempenhar da função gestativa. No primeiro caso, entra em jogo a afinidade espiritual da mãe para com o espírito sofredor ou a sua dívida cármica do pretérito, que a obriga a conceder-lhe um corpo para o renascimento no mundo carnal; no segundo, pode-se tratar de criatura que, no passado embora possuísse um organismo favorável para o êxito da procriação, negou-se a tal mister. Então a Lei do Carma impõe-lhe um corpo deficiente para o cumprimento da maternidade na vida futura.
Há a considerar, também, que, se os venenos de um espírito encarnante podem causar terríveis distúrbios e lesões ao organismo físico de sua genitora, muito maiores inconvenientes podem produ­zir as toxinas psíquicas que o espírito faz verter em seu próprio corpo, originando as enfermidades produtos dos seus desequilíbrios emotivos e mentais.
PERGUNTA: — No caso de reencarnação de espíritos que foram suicidas ou que trazem deformidades acentuadas nos seus perispíritos, a genitora poderá sentir suas deficiências e aflições?
RAMATIS: — Assim como Maria, durante a encarnação de Jesus, foi envolvida pelos mais sublimes fluidos e atravessou a sua fase gestativa sob a maior tranqüilidade e bem-estar, há mães que, durante essa fase delicada, sofrem toda sorte de fenômenos pungentes e opressões angustiosas, que lhes atingem até o coração ou sistema nervoso. Há casos, mesmo, em que devido à excessivi­dade tóxica imanente no perispírito do encarnante — que muitas vezes lhe causam no futuro ataques de epilepsia — a mãe passa a sua temporada gestativa guardando o leito, constantemente enferma, pelas toxinas circulantes em sua organização materna. No entanto, algumas vezes é a própria gestante que possui uma organização deficitária e insuficiente para drenar as toxinas que são produzidas pelo quimismo do seu próprio sistema gestativo, pelas vias emunctórias naturais.
PERGUNTA: — Em lugar de um espírito irascível, déspota e orgulhoso encarnar-se num corpo robusto e saudável, não seria preferível que ele fosse renascer num organismo débil, doente ou atrofiado?
RAMATIS: — Se tal espírito nascesse num corpo débil e enfermo, isso apenas serviria para contemporizar os seus impulsos de vio­lência e irascibilidade, mas tal se daria por força das circunstâncias geradas pelo impedimento físico e não pela influência de raciocínios ou reflexões superiores. A atitude pacífica ou tolerante representaria apenas uma conseqüência transitória da situação física coerciva e não renovação interior. No entanto, o corpo estropiado, num leito de dor, substituindo o antigo corpo robusto e imponente, cujas mãos, antes vigorosas, são agora fracas e nem ao menos podem levantar uma xícara de chá, quanto mais bater no próximo, serve para o espírito rebelde e irascível extrair certas fiações psicológicas de sua impotência no trato da vida humana.

15. A Ação dos Guias Espirituais e o Carma



PERGUNTA: — No caso de os encarnados se afastarem de seus deveres e da disciplina espiritual na Terra, os guias podem intervir do Espaço, e sustar os desmandos dos seus pupilos?
RAMATIS: — O trabalho principal do “guia”, em relação ao seu protegido encarnado, é o de livrá-lo, tanto quanto possível, das imprudências, das ilusões, dos atrativos do vício e das paixões perigosas do mundo material. Do “lado de cá”, a nossa maior preocupação é a de impedir que o amigo ou o discípulo encarnado termine escravizado às paixões animais que o cercearão em sua ascensão espiritual. Quanto ao êxito desejado, nem sempre pode­mos consegui-lo a contento pois, em geral, a criatura encarnada foge à receptividade vibratória ao seu mentor e torna-se imune às suas inspirações superiores. Em geral, escuta apenas a voz da “sereia das sombras”, que termina conduzindo-a aos maiores ridí­culos e disparates! Quando tal acontece, o seu guia ou protetor lança mão de recursos extraordinários e intervém tanto quanto possível a favor do seu pupilo, a fim de frenar-lhe os desatinos e evitar em tempo os desvios perigosos que o conduzam à escravi­dão às entidades malfeitores.
PERGUNTA: — Quais são os métodos empregados pelos guias nessa intervenção espiritual para o bem dos seus pupilos encar­nados?
RAMATÍS: — Quando falham todos os recursos no campo mental da inspiração superior, e o pupilo periclita na sua integri­dade espiritual, em geral os seus guias se socorrem do recurso eficiente da enfermidade ou mesmo de vicissitudes morais ou econômicas, através das quais possam neutralizar em tempo as causas principais dos desatinos e imprudências. Quase todos os seres humanos são portadores de verdadeiras válvulas de seguran­ça psíquica, embora se trate de deficiências cármicas provenientes das mazelas passadas, e servindo-se das quais os guias intervêm para cercear os desvios perigosos.
Bem sabeis que o corpo carnal é o reflexo exato do tempera­mento psíquico de cada alma, pois entre dois irmãos gêmeos, e per­feitamente parecidos, mesmo que sejam xifópagos, podeis notar considerável diferença na sua contextura moral e intelectual, comprovando-se que, embora sob o mesmo padrão consangüíneo, sob iguais ascendentes biológicos ou tendências hereditárias, essas duas almas diferem profundamente quanto à sua ascendência psí­quica. Assim sendo, o organismo físico de cada criatura conserva também em sua intimidade etéreo-astral uma zona vulnerável do seu próprio psiquismo ancestral, que pode servir de recurso excep­cional para à última hora o guia intervir e aplicar a disciplina com­pulsoriamente, quando o seu protegido lhe faz ouvidos moucos.
PERGUNTA: — Podeis oferecer-nos qualquer exemplo mais concreto do assunto?
RAMATIS: — Há casos em que determinado protegido, até então regrado e amigo do lar, deixa-se fascinar por qualquer pai­xão mundana perigosa, que pouco a pouco o vai absorvendo e ameaçando de causar perturbação grave no seio amigo da família. Por vezes ele se torna refratário a qualquer intuição espiritual superior ou nega-se a cumprir as promessas feitas durante o sono, quando deixa o corpo físico no leito, preferindo obsidiar-se comple­tamente pela mulher extravagante, parasita ou fescenina, ou então pelo álcool ou pelo jogo insidioso.

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