Filha e Rival henri ardel



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TERCEIRA PARTE
CAPÍTULO XII
Querida vovó,
Como lhe comuniquei em minha carta, faz três dias que estamos instaladas em Bex-les-Bains. Insaciável, aspiro avida­mente o incomparável ar das montanhas. Como sei que minhas frequentes cartas levam um pouco de sol à sua solidão, é com a maior alegria e com toda a ternura que as rabisco. Pede-me minúcias, e de boa vontade lhe envio uma carta muito deta­lhada. Aliás, é a senhora a única pessoa que me faz tal pedido. As distrações de Paramé absorvem mamãe e Marta não se tem mostrado curiosa até agora. Em compensação, eu o sou por to­da família!

Do nosso apartamento, a senhora já conheceu um pouco o aspecto, pela primeira carta que lhe mandei. As cruzes indicam nossos quartos e a pequena sala particular da madrinha, no Palace Royal. A madrinha é como mamãe -— gosta de conforto. Por muito simples que ela seja, e inimiga do esnobismo, sente impe­riosa necessidade de estar rodeada de pessoas cuja educação e costumes estejam em harmonia com os seus, aliás muito apurados.

A frente um jardim encantador, cheio de rosas, é a bele­za da cidade, muito atraente com suas velhas e pitorescas casas de telhas vermelhas e suas árvores que ouriçam a linha ondu­lada das montanhas próximas. Perto, a ponta aguçada do cam­panário alteia-se, com ar importante, acima da vetustez ponte lançada sobre o rio que lhe umedece os alicerces, com sua água rasa e lenta que banha as raízes das "rainhas dos prados". A senhora imagina este quadro, não vovó?

E para continuar a acompanhar sua neta, a senhora pene­tra junto com ela no parque que rodeia o hotel, suntuoso entre os demais, na sua hierarquia respeitada pelos entendidos.

As árvores ondulam em maciços floridos como que por mi­lagre; e nas áleas de areia avermelhada que serpenteiam em vol­ta dos canteiros junto ao terraço, no qual, à hora do chá, arru­mam pequenas mesas cobertas de toalhas floridas. Em volta destas mesas, reunem-se numerosas pessoas dos dois sexos e de todas as idades; lindas senhoras cujos dedos pesado de anéis remexem na prataria reluzente. . . Senhores de idade — chefes de família ou amadurecidos solteirões, um pouco ou já bastante atingidos pela idade e que nos transatlânticos em que vieram cochilavam com os seus jornais — discutem os efeitos do trata­mento ou as qualidades dos respectivos médicos. Estes se obser­vam atentamente, com uma rivalidade cortês, discreta e sorridente. Estou certa, minha querida vovó, de que a senhora se per­gunta que papel representam no meio dessas pessoas de idade as moças de minha geração, que não têm necessidade de tratar da saúde... Muitas se mostram sem o menor entusiasmo, contra­riadas, resignadas.

A senhora me conhece muito bem para não me colocar entre estas últimas; sabe que adoro os campos, as flores, as fo­lhas, a relva e tudo o mais, com a sofreguidão de pequeno ani­mal selvagem, de ruminante, de inseto.... Quando estou a passeio e bate o meio-dia — a hora do almoço, tenho um desejo de me revoltar contra este hábito desagradável, sinto vontade de ficar, banhada de ar e de luz, caminhando por entre os canteiros inun­dados de sombras e claridades, no meio das flores junto das quais adejam borboletas, solitárias ou em pares, como noivos em passeio, penetrando nos cheirosos cálices banhados de luz, cobiçados também pelos grandes zangãos aveludados.

Este verão resplandecente, é para mim como uma aurora de sonhos. Desejaria, porém, passá-lo em companhia, da senhora, vovó. Faz-me desejar uma porção de coisas um tanto vagas, desconhecidas, deliciosas, coisas que eu poderia gozar em com­panhia de outra pessoa, uma pessoa que me é mais cara do que qualquer outra. É o meu caso, no que lhe diz respeito, minha querida avó.

Aqui não passo de uma exploradora que penetra curiosa, numa restrita sociedade cheia de desconhecidos. “Não sei se os Daubert virão visitar-nos mas, pelo menos até o presente, não tivemos nenhuma visita de Noel, que devia vir certifícar-se do conforto dos aposentos em que se instalou sua mãe.”

Vovó querida, a senhora conhece bem este quadro mas reclama a apre­sentação dos pássaros de formas humanas que chilreiam no viveiro. Nosso grupo é tão variado quanto se poderia desejar como à senhora vai ver. Ei-lo a começar pelos mais graduados: um muito inteligente Monsenhor de barbas brancas, olhar penetrante e bondoso, acompanhado do secretário, de palavra fácil, e sem­pre docemente obediente ao que lhe insinua o sorriso indulgente de Monsenhor.

Este secretário é a vítima — vítima, aliás, que sabe de­fender-se inteligentemente — duma das mais velhas freqüenta­doras de Bex — a Sra. Charret, mulher magra e que se veste muito bem. Francesa de nascimento, cosmopolita por gosto, filantropa, a julgar pelo número de conferências que generosamen­te realiza para o bem da humanidade e satisfação do seu espí­rito muito vivo e original. Quase tão desembaraçada, porém mais dogmática no expressar as idéias, é a elegante Sra. de Brolles, cujo marido não se diverte em Bex como o desejaria, mas que parece gostar de todas as distrações que se lhe oferecem. Em companhia deles, vieram às duas filhas gêmeas, de dezesseis anos, além do pequeno Gui que faz o que pode para irritar sua preceptora inglesa, mau grado os louváveis esforços das gêmeas pa­ra evitar seus atritos com ela. As gêmeas se mostram tão bem educadas que sou forçada, comparando-as comigo, a admirá-las pela sua humildade e méritos. Creio vovó, que elas nunca se abor­recem, nunca — ouviu, vovó? apesar da chuva de observações que a mãe lhes faz, para o bem delas.

E, neste regime — coisa de espantar! — elas não se tor­nam impacientes nem insuportáveis. São pequenas maravilhas de docilidade, de suave amabilidade, e de gênio sempre igual. Pa­ra resumir — duas anjas (feminino de anjo, criado para meu uso). Com uma graça condescendente fazem as mil e uma vonta­des do pequeno Gui. Sua mãe, sem dúvida nenhuma, empregou na educação das filhas toda a sua ciência pedagógica, da qual nada restou para o filho que faz o que bem entende. Desta maneira, ela o prejudica. Devia vigiá-lo mais do que o marido, sempre pronto a entregar-se aos caprichos do vento.

Sob o olhar atento desta linda mulher, de perfil de camafeu, puro como o de uma medalha imperial, em companhia das filhas e de outras moças o Sr. Brolles joga tênis à vontade, com muito prazer, sobretudo quando uma jovem — que no en­tanto não é das mais entusiastas — se resolve a tomar parte no jogo. É a linda Marise, verdadeira novata quanto à ciência e habilidade do tênis, uma linda moça que flerta com arte, sem pa­recer fazê-lo. Em comparação com ela, lolanda é uma simples aprendiz. Como jamais vi esta fazer tão bem, sabe servir-se do poder de seus lindos olhos aveludados, feitos para perturbar o cérebro dos homens. Usa deles sem jamais abandonar a linha de decência de moça da boa sociedade, sob o benévolo olhar da mãe, célebre beleza de outros tempos, viúva de não sei que per­sonagem político importante — talvez um ministro! — mas que hoje poderia ser — e eu me atrevo a esta irreverência — quali­ficada de Levantine Affalé como o foi outrora a mãe de André Chénier por um atrevido homem de letras do seu tempo.

Marise é esbelta como o exige a moda, elegantíssima com seus vestidos simples que a desvestem a ponto de torná-la encantadora, mas sem serem inconvenientes. É uma maravilha de tato, principalmente quando se sente observada. E Deus sa­be quanto ela o é aqui, com uma benevolência muito proble­mática ...

A madrinha acha graça em sua facilidade de aceitar con­vites para lanches, passeios, excursões a pé ou de auto que lhe oferecem à porfia seus admiradores, entre os quais o Sr. Bllores figuraria de bom grado entre os primeiros, se sua linda mulher não o contivesse. Por esse motivo foi obrigado a ceder um lugar a um celibatário já longe da casa dos trinta anos, mas que ainda tem uma bela aparência — Hugo de Pradon, que é o mais de­dicado cavaleiro de Marise Momay-AIbrand.

É claro, vovó, que lhe faço estas confidencias bem junto do ouvido. Nada tenho de melhor a fazer nestes dias em Bex, olho à minha volta e me distraio a decifrar as novas fisionomias que chegam quase que diariamente. Minha madrinha não tem razão, na sua solicitude maternal, em recear que eu me aborreça, pois o aborrecimento é pa­ra mim uma coisa desconhecida. Ainda mais agora que tenho muita coisa para olhar, pensar, ler, pois a madrinha pôs à mi­nha disposição suas revistas, suas músicas. . . Apenas, é verda­de — e eu confesso — ter-me-ia divertido muito mais se tivesse, como em Paris, a companhia do esquivo Noel. Mais um se­gredo que lhe confio, vovó. Aguardo os acontecimentos, mas infelizmente... não gosto de esperar!

Enquanto isso, jogo tênis com os "menores de vinte anos", entre os quais um jovem sábio em ciências políticas mas muito maçante e um encantador químico, Bob André, ainda na feliz idade em que os homens não entram em linha de conta. Toda­via é um precioso camarada para mim, em nada semelhante ao jovem sábio; pelo contrário, é alegre, espirituoso, simples e fértil em idéias humorísticas que combinam perfeitamente com as mi­nhas, o que diverte imensamente a ambos.

Afinal, para encerrar minha série de perfis, chegaram, há alguns dias, duas mulheres que eu pensava fossem irmãs. Mas não. São mãe e filha! A mãe parece uma encantadora moça. Esbelta, de sorriso claro, mas com expressão de mulher muito inteligente, de espírito alerta; alegre, cerca a filha de infinita ter­nura. Esta, por sua vez, parece ter adoração pela mãe. Sem cessar, apesar de doente, acompanha-a com os olhos, ficando mui­to nervosa assim que a Sra. Albert se deixa por momento interes­sar-se por alguém. Então a boca de Jocelina (é o nome da filha) se contrai num riso amargo e seus olhos se tornam brilhantes no rosto magro.

Penso que Jocelina, de saúde delicada, se habituou desde a infância a ver a mãe inteiramente devotada a ela, não viven­do senão para ela. Eis porque não suporta que a mãe, que con­serva uma incrível mocidade, se atreva a viver um pouco para si mesma, ao ver fortalecer-se a saúde da filha.

Novidade, vovó! Novidade! Ainda há pouco, voltava do parque, onde tinha ido para por no correio a correspondência da madrinha. Atrasada já para o jantar penetrava como um turbi­lhão pelo vestíbulo adentro quando dei de frente. . . Adivinhe com quem?. . . com um jovem viajante que acabava de descer de um auto, moço de andar muito elegante, que me fitou atentamen­te. Ao reconhecer-me, soltou uma exclamação de surpresa, e pa­rece-me que também de prazer, a julgar pelo brilho dos seus olhos... A senhora adivinhou muito bem, vovó, era ele, era Noel. Ao ver-me deixou de fitar, com olhos admirativos, a linda Marise, já vestida para o jantar e que, como sempre, estava o mais encantadora possível. Então, sumariamente renovamos conhecimento."
CAPÍTULO XIII
O acolhimento da Sra. Contal a Noel, quando o viu aparecer na sala de refeições à hora do jantar, foi certamente afável. Seu tom de voz, porém, tinha uma leve ponta de malícia, de ironia e de alguma coisa que se assemelhava a arrependimento, quando lhe estendeu a mãe que o rapaz beijou delicadamente.

— Viva! Ei-lo aqui!

— A senhora não parece encantada por me ver. — Respondeu Noel dardejando para a flama de suas pu­pilas brilhantes nas quais luzia um imperceptível bri­lho de triunfo.

A Sra. Contal ergueu os ombros, sorriu um pouco pensativamente e replicou em tom de brincadeira:

— Você prometeu não me fazer lastimar sua vin­da. E conto com a sua palavra. . . para sempre! É certa disto que lhe dou as boas vindas com toda a sinceridade. Espero que você se distraia à vontade em Bex. Espera breve sua mãe?

— Deve chegar de um dia para outro. Vim adian­te para providenciar sobre a instalação de mamãe, para que seja segundo seu gosto e as ordens dadas a respeito. Parece-me haver muita gente aqui.

— Na verdade, há muita gente e você poderá, penso eu, achar aqui algumas distrações apreciadas pela mocidade. Temos lindas mulheres, com as quais poderá flertar à vontade.

— Sei disso perfeitamente. Ao chegar, tive o prazer de encontrar a Srta. Sílvia. E, além dela, avis­tei, no vestíbulo, uma moça muito linda que me pare­ceu ser também hóspede do Palace-Royal, o que pro­va, felizmente para mim, que não vim para um con­vento.

Novamente o olhar da Sra. Contal teve uma ex­pressão indefinível, mas ela não encorajou o rapaz a falar mais. Apenas disse:

— Até já! Ver-nos-emos logo mais. A sineta do jantar tocou outra vez e minha “filha” me espera. . .

Discretamente, e sem mais insistir, Noel se afas­tou dirigindo-se para os seus aposentos, satisfeito com o resultado do seu primeiro relancear de olhos sobre os hóspedes do hotel, entre os quais contemplava com satisfação o delicado e deslumbrante rosto de Sílvia, com algumas rosas à cintura. Mas também reconheceu a outra moça, que encon­trara no vestíbulo. Disse intimamente:

— Meus Deus, que linda criatura! Junto dela não é possível alguém se aborrecer. E não me parece ina­cessível... Na falta de Sílvia, a quem estou proibido de namorar... Promessa estúpida, a que deixei a Sra. Contal arrancar de mim em Paris! Não muito seria, felizmente.

Poucos instantes depois, graças à sua qualidade de recém-chegado e à sua perfeita elegância, Noel despertava uma curiosidade simpática. Marise, an­tes de qualquer outra, lhe manifestou a sua, limitada de resto por uma reserva de jovem bem educada. Lentamente, mas com perfeita graça de gestos, ti­nha-se ela sentado junto de sua mãe e passeava pela multidão de hóspedes a carícia aveludada de seus olhos e o sorriso de seus lábios, úmidos, que deixa­vam entrever seus pequeninos dentes de gatinha.

Por um rápido instante, honrou com atenção sor­ridente a Hugo de Pradon que a contemplava encan­tado como, aliás, todo o elemento masculino ali presen­te, sem, contudo deixar de observar o recém-chegado. Este tanto sobressaía entre os demais que Marise, sem parecer demonstrá-lo, logo se pos a assestar suas baterias contra ele, movendo com habilidade a cadeira, de maneira a lhe oferecer o encantador espetáculo de suas espáduas nacaradas, meio veladas pelo róseo suave de seu vestido.

Terminado o jantar, Marise levantou-se juntamen­te com a mãe, dirigindo-se para o lado de Sílvia a quem distinguia com sua simpatia, pois tinha verifi­cado que esta encantadora jovem lhe deixava o cam­po livre para as evoluções de sua coqueteira. Sem procurar evitar as tentativas de aproximação de Hugo de Pradon, perguntou:

— Srta. Sílvia, como está um tempo magnífico, quer dar um passeio pelo parque em minha com­panhia?

Um pouco surpresa, Sílvia respondeu que sim, pois se divertia imenso a observar as conseqüências da ciência feminina de Marise. Esta, que tinha posto sobre os ombros um delicado chalé de lã rósea, ornado com uma guarnição de fofos, afastou-se, levando Sílvia para longe dos olhares dos seus admiradores decep­cionados.

Sem o menor embaraço Marise perguntou:

— O elegante rapaz que chegou esta tarde à hora do jantar não é João Daubert, o compositor?

— Sim, ele mesmo.

Sílvia percebeu de que lado soprava o vento.

— Você o conhece muito bem, não?

— Pelo contrário. Apenas ligeiramente e isso mesmo pelo fato de ser muito amigo da madrinha que aprecia imensamente suas composições.

— Você também?

— Sim, eu também, pois elas bem o merecem.

— Mas, pondo de parte as composições dele, vo­cê não se interessa particularmente por Noel? Não flerta com ele?

— Eu, flertar com ele? Oh, não tenho flerte nenhum!

— E isso não a tenta? Como você é uma jovem virtuosa e arisca! Mas, é verdade, ainda é muito mo­ça para poder viver segundo a sua fantasia!

E, repentinamente, com uma franqueza inesperada, Marise confessou:

— Quanto a mim, infelizmente, é necessário que pense em coisas sérias; sou de mais idade, e não posso esperar mais tempo por um marido. Devo eu mesma procurá-lo. Completei a pouco vinte e quatro anos. Meu dote é mínimo, pois nossos principais rendimentos provêm da pensão dada à mamãe como viúva de mi­nistro. Ter figurado outrora no mundo político é ho­je em dia justamente o contrário de uma recomen­dação ...

Marise interrompeu o que dizia com um pequeno sorriso de ironia. Sílvia a escutava com curiosidade, apesar de sentir-se intimamente abalada. A voz de Marise soou novamente, na sombra tranqüila da álea:

— Sei muito bem que não devo esperar que ma­mãe seja para mim mais do que uma útil chaperon3, assim como sei também que devo eu mesma agir caso pretenda assegurar-me um futuro seguro e confortável, do qual tenho absoluta necessidade. Eis porque pen­sei que foi o destino que pôs o rico João Noel Daubert no meu caminho. Como, no vestíbulo do hotel, o vi diri­gir-se ao seu encontro com muito evidente interesse.

Esquisita impressão de prazer invadiu o coração de Sílvia, mas ela não o demonstrou,

— Pensei logo que talvez fosse imprudência de minha parte intrometer-me entre ambos. — Acrescentou Marise. Você é bastante bonita, mesmo sem se pin­tar; além disso, é ótima pianista e possui uma voz digna do teatro, a julgar pelo que dizem a seu res­peito. Também toco piano, mas como aluna de últi­ma categoria, e apenas sou capaz de cantar estribilhos de operetas ou canções de café-concerto. Por esse motivo, se você não me disser com toda sinceridade que o caminho está livre, não tentarei minha opor­tunidade.

— Sua oportunidade? Quer dizer... — Marise explicou-se com a maior tranquilidade:

— Sim, usarei de minha oportunidade no senti­do de tentar seduzir Noel a ponto de ele me pedir em casamento. É muito simples.

—- E isso lhe será agradável?

— Como você há instantes, apenas responderei: Conheço-o ligeiramente.

E Marise riu-se de novo e seu riso vibrou no es­paço com sonoridade de cristal.

— Noel é jovem, suficientemente bonito, e, além disso, possui a fortuna de que preciso. Por isso, se você não tem nenhum projeto a respeito dele e se não vou causar-lhe pesar, porei em prática meus planos. É necessário, na vida, quando se tratar de conquistas que valem à pena, não se ter escrúpulos quanto aos meios de atingir o fim almejado...

Sílvia nada respondeu. Por mais desejosa que fosse de conhecer as almas dos outros, sentiu forte impulso de abandonar Marise e seus planos matrimo­niais, que muito a aborreciam, e ir procurar a encantadora candura das “anjos”, como chamava às duas gêmeas.

Teria Marise adivinhado à impressão que lhe cau­sara? Num singelo movimento, enfiou o braço sob o de Sílvia e lhe disse alegremente, mas com entoação na qual se percebia leve ponta de uma súplica me­lancólica:

— Peço-lhe que não seja a meu respeito severa nem desdenhosa, ó criatura feliz que ignora as misé­rias da caça ao marido!

— Tem razão. Penso que coisa alguma neste mundo poderia levar-me a tentar isso.

— É natural que pense desse modo, pois tem a seu lado pessoas que a protegem, que cuidam do seu futuro. Quanto a mim, devo seguir sozinha por um caminho cheio de dificuldades, de perigos e de outras coisas semelhantes... Mamãe, sem dúvida nenhuma, me estima bastante, à sua maneira, mas me acha com idade suficiente para me conduzir por mim mes­ma. Antes de tudo, mamãe está preocupada com a saúde dela, razão por que viemos passar o verão em Bex. Se nossa situação financeira o permitir, no pró­ximo inverno tentarei minha oportunidade em Nice ou Monte Cario. Em Paris mamãe vive com o temor de ser assassinada, como se isso fosse coisa comum. Se eu a ouvisse, não sairíamos nunca à noite com o receio de encontrar, ao voltarmos, algum bandido es­condido em nosso apartamento. Além disso — prosseguiu a jovem — mamãe é contra o costume, hoje naturalismo, de as moças saírem em companhia de rapazes. A princípio, revoltava-se; depois se conformou, o que muito me alegrou, por tornar-me mais fácil o trabalho. Eu sei como devo comportar-me para que as coisas caminhem até ao ponto desejado. Talvez seja mesmo pelo fato de ser muito prudente, muito sensata — como você achar melhor -— que até agora não atingi o fim planejado. Será acaso porque hesito ainda em dar algum passo decisivo quando volto à noite, em companhia de al­gum rapaz, com a cabeça ainda perturbada pelas musicas do jazz?

Sílvia nada respondeu. Deram alguns passos em silêncio, ambas a refletir. Notaram então que seus passos lentos as tinham conduzido para o hotel, onde, no salão de danças, a orquestra tocava frenèticamente.

— Precisamos entrar — declarou Sílvia. — Já faz bas­tante tempo que saímos. . .

— Sim, entremos, concordou Marise, que fitava o salão iluminado onde os pares revoluteavam ao compasso da orquestra. Agradecida, querida Sílvia, por ter-me escutado.

A Sílvia muito aborreceu o modo familiar com que Marise a tratava, mas não o deu a perceber, dei­xando que a outra acabasse de falar.

— Não conceba muito mau juízo a meu respeito. Afirmo-lhe que faço o humanamente possível por con­tinuar no número das mulheres honestas. Seja ge­nerosa e ajude-me a conquistar Noel. Seria para mim a salvação!

Marise se inclinou e seus doces e perfumados lábios tocaram de leve o rosto de Sílvia, que estre­meceu a esse contato. Afinal, chegaram ao salão. No grupo das mamães, Noel conversava, um pouco afastado dos demais, com a Sra. Contal. Ao ver Síl­via, dirigiu-se para ela. Esta, porém, não pareceu notá-lo e sorriu para Bob que vinha buscá-la para um tango que ela lhe havia prometido. Terminado o número, Sílvia se apressou a acompanhar a Sra. Contal que se dirigia para os seus aposentos.

Ao se retirar do salão, dirigiu o olhar para os pares que estavam dançando. No meio deles, avistou Noel que dançava com Marise, que já conseguira ser-lhe apresentada.

Sílvia certamente não era dessas jovens que se impressionam imediatamente, sem motivo algum, com os rapazes que por acaso encontram, ou que sonham ao luar. Sua natureza, educação e inteligência, esta bastante desenvolvida por acurados estudos, ha­viam-na tornado, ao contrário, de uma decisão auda­ciosa, que a fazia olhar para a frente, com os olhos bem abertos.

No entanto, quando chegou ao quarto e abriu as venezianas, o que avistou fê-la estremecer. Sob o disco prateado da lua que fulgia plenamente no céu, divi­sou através do rendilhado das folhagens das árvores do parque, dois vultos que conhecia muito bem: uma jovem e um rapaz. A primeira trazia um vestido róseo; o rapaz não tinha, como nas noites precedentes, a elevada estatura de Hugo de Pradon...

Quão depressa tinha Marise começado — e com que bom êxito! — e seus trabalhos de aproximação!. . . E como Noel facilmente se tinha deixado apanhar nos laços dela! No mais íntimo de si mesma, Sílvia sentiu fremir não propriamente um desgosto, mas sim uma surda e ridícula decepção. Pelos seus lábios passou um sorriso de desprezo dirigido contra si mesma. Muito tola havia sido em se deixar seduzir por instantes pelo encanto e talento de Noel! Ele era per­feitamente igual aos outros...
CAPITULO XIV
Decorrera uma semana.

Da chaise-longue em que repousava, depois de feito o tratamento daquela manhã, a Sra. Contal ouvia, na sala vizinha à em que se achava, os passos ligeiros de Sílvia. Ficou admirada.

— Como, você ainda está aí, Sílvia? Pensei que estivesse jogando tênis com Marise e as de Brolles.

— Marise não aprecia de modo algum o tênis! Penso que prefere ir passear em companhia de Noel, que a estas horas da manhã não deve estar ainda em companhia da mãe. Bob veio convidar-me para uma partida com as de Brolles, mas como eu devia escrever à vovó, tão sozinha agora em N., recusei. Não desejo de maneira alguma decepcioná-la com um atraso.

— Sim, você tem toda a razão, Sílvia, e eu a compreendo, concordou brandamente a Sra. Contal. Recebeu notícias de Paramé esta manhã?

— Sim, madrinha; uma carta de Marta.

— Todos bem, lá?

— Muito bem.

Se a Sra. Contal não estivesse tão absorta na lei­tura da própria correspondência, teria notado a entoação um tanto esquisita de Sílvia. E como a afilhada tivesse voltado para seu quarto, não viu a sombra que imediatamente lhe cobriu o rosto, sempre radian­te, à simples evocação da ingênua carta de Marta recebida nessa manhã e escrita com a maior candura:
"Minha querida Silvia

Se você estivesse em nossa companhia, Paramé me pa­receria o próprio paraíso. A casa do Sr. tesoureiro — Os Gerânios, nos encanta, a mim e Cláudio, bem como à mamãe. O Sr. tesoureiro parece contente por ver-nos tão satisfeitos em casa dele. Está hospedado num hotel, mas, quase sempre, nos faz companhia. Creio que, como eu, ele acha mamãe muito bonita.

A verdade é que mamãe jamais teve vestidos que lhe fi­cassem tão bem! E ele parece orgulhoso dela, tanto quanto papai o era. É de espantar... Mamãe o convidou ontem para jantar, antes de irem ao espetáculo de gala do Cassino; quando entrou no salão em que o Sr. tesoureiro a esperava (chega sem­pre adiantado, quando deve vir), ele tinha o ar de estar en­cantado. Ao se dirigirem para o Cassino, depois de envolvê-lo no lindo agasalho que mamãe mandara fazer especialmente para o espetáculo — ao qual o Sr. tesoureiro tato insistia em le­vá-la — ele parecia sentir-se mais lisonjeado do que se tives­se a honra de acompanhar a uma rainha.

Repetia-lhe que mamãe era muito moça e muito bonita para levar uma vida de reclusão, uma existência humilde. . . Acho, com efeito, que é muito agradável ser-se tratada como mulher encantadora, que se deixa amimar e divertir como uma jovem! Para nós — os mais novos, ele é muito gentil. Leva-nos a passear por toda a parte, de automóvel. Levou-nos a pé, juntamente com mamãe, ao Monte São Miguel, apesar de ma­mãe, qualquer coisa que não entendi, ela não falou mais em levar-nos em sua companhia. . . No entanto, nós andamos sozinhos, não somos mais crianças!

Felizmente, resolveu levar-nos. Depois de sussurar a ma­mãe qualquer coisa que não entendi, ela não falou mais em deixar-nos em companhia de Melânia, a brincar totalmente na praia. . ."
De seu quarto, a Sra. Contal chamava nova­mente:

— Sílvia, já que você vai sair, quer trazer a mi­nha água do Estabelecimento? A garrafa termal está aí em cima da mesa. Seria gentileza de sua parte...

Sílvia apareceu, pronta para sair. A sombra que lhe anuviara um pouco antes o rosto tinha desapare­cido por efeito de um esforço de vontade. No entanto, a perspicácia da madrinha logo notou que seus olhos não tinham o fulgor de sempre. Entretanto, sem nada perguntar, disse-lhe afetuosamente:

— Venha abraçar-me, querida, e saia logo para aproveitar tão linda manhã. Mais tarde poderemos to­car e cantar um pouco. É verdade, ia-me esquecendo: a Sra. Daubert ouviu-a cantar ontem, do jardim, e me disse que teria imenso prazer em escutá-la, mas não de longe, da janela do apartamento. E eu tomei a liberdade de aceitar, por você... A Sra. Daubert me parece mulher a quem não se pode deixar de agradar.

— A senhora ficou cativada muito depressa! E logo franqueou, para ela, seu jardim particular, que geralmente conserva tão ciosamente interdito aos outros! Confesse-o, madrinha — acrescentou Sílvia com um pouco de ironia. — Sem dúvida cantarei para a Sra. Daubert, e tantas vezes quantas ela o desejar.

— Espero, minha flor, que isso não lhe seja uma maçada!

A moça teve vontade de rir. Uma maçada! As palavras da Sra. Contal lhe tinham causado o efeito da promessa de um prazer. Também ela havia sido cativada à primeira vista. Na sua memória, evocou a lembrança da mulher encantadora — de nenhum modo uma senhora de idade! — que se parecia com o filho e que atraía as simpatias como por efeito de um encanto.

Tinha o mesmo andar elegante, os mesmos olhos cinzentos aveludados, o mesmo olhar irrequieto e vivo, porém mais indulgente, assim como a expressão da boca, que não tinha o vinco de uma vontade impe­riosa, tão característica em Noel. A Sra. Daubert parecia um conjunto de graça e bondade. Sua vida opu­lenta e feliz não a tinha tornado indiferente às difi­culdades e pesares dos outros.

Sílvia logo compreendeu a razão da ternura re­conhecida que lhe dedicava o filho único, a quem apoiara com tanta dedicação na carreira que esco­lhera e contra a qual se opunha a vontade do pai. A Sra. Daubert devia possuir o dom inapreciável de saber agradar, de acalmar suscetibilidades, evitar de­sentendimentos entre as pessoas que lhe eram caras. Desta maneira pudera agir aos poucos sobre vonta­des obstinadas e contrárias, fazendo-as reconciliar-se.

Oh, sim! Sílvia, que no íntimo do coração sofria por não ter o carinho materno, muito bem compreen­dia os fortes laços que uniam mãe e filho, assim como também compreendia a alegre boa vontade que tor­nava Noel capaz de sentir-se contente numa sossega­da estação de águas.

Era verdade que Noel havia encontrado Marise e que esta de boa vontade se tinha encarregado de diverti-lo... E os dois se entendiam muito bem! Mesmo assim, Sílvia jamais pensou que ele tão depressa se deixasse monopolizar por ela. Que era feito da solicitude com que, em Paris, Noel a procura­va? E de suas intermináveis palestras a todo momen­to, e do prazer evidente que o rapaz sentia em faze­rem música juntos? Dir-se-ia haver agora uma reser­va nas suas relações com ela. Esta, porém, era uma impressão que Sílvia jamais deixaria transparecer.

Por essa razão, a jovem despediu-se da Sra. Contal muito alegre, com o coração de súbito aliviado pela perspectiva da sessão musical que devia reali­zar para a Sra. Daubert e que sua madrinha recea­ra que lhe fosse uma maçada.

No terraço, avistou Jocelina, com um livro caído sobre os joelhos. A doente olhava os viajantes que haviam chegado pelo trem da manhã. Viu-a estre­mecer de repente à vista dum robusto rapaz, de es­tatura elevada, que descia então de um ônibus. Ti­nha traços enérgicos, forte expressão de franqueza e força de vontade. No primeiro instante Sílvia o qua­lificou de simpático. Inesperadamente Jocelina soltou uma exclamação de surpresa:

— Estevão! É você, Estevão?

— Sim eu mesmo. De passagem por Bex e ten­do oportunidade para deter-me aqui, aproveitei a li­cença de sua mãe para visitá-la. Ela não a avisou?

— Não, não me avisou.

Seu tom era breve, e isto mais se notava por­que o moço se dirigira para ela com a mão estendi­da, e a voz jovial, assim como também o era seu olhar inteligente. Jocelina havia falado com as so­brancelhas enrugadas, os lábios crispados, como sem­pre que alguém procurava afastar a mãe de junto dela. Repetiu, entretanto:

— Não, mamãe nada me avisou e como deve es­tar à sua espera, mande avisá-la de sua chegada. Eis justamente um criado. Mande-o preveni-la.

Talvez o ruído de vozes tivesse chamado a aten­ção da Sra. Albert, pois ela apareceu nesse momen­to na sacada de seu quarto. Sílvia, que se tinha conservado a distância, surpreendeu-se ao ver o ros­to sempre juvenil da Sra. Albret tornar-se radiante de alegria.

— Oh, Estevão, ótima idéia a sua em vir visi­tar-nos em Bex! Vou descer imediatamente para o salão. Quer esperar-me lá?

No ardor com que o rapaz se apressou em aten­der ao convite da Sra. Albert havia um contentamen­to que surpreendeu Sílvia enquanto uma expressão rancorosa e violenta se notava no rosto de Jocelina, que se conservara imóvel.

Discretamente Sílvia procurava atravessar o ter­raço quando, traída pelos seus passos, Jocelina a cha­mou e lhe disse:

— Você está pensando que sou pouco hospitalei­ra para com os meus amigos, não é assim, Sílvia? A visita de Estevão Rimbault me causou tal surpre­sa. . .

“Uma surpresa desagradável” completou Sílvia intimamente. No entanto sua boa educação a impe­diu de dizer o que pensara.

Com evidente esforço para aparentar calma, Jo­celina explicou:

— Desculpe-me não lhe apresentar este amigo a quem na minha meninice considerava como irmão. Mamãe se interessa por ele como se fora uma irmã mais velha, para dirigi-lo, escutar-lhe as confidências e seus aborrecimentos de rapaz órfão e sem parentes. Por esse motivo, como é natural, tem por mamãe gran­de reconhecimento e tudo ia muito bem...

Neste ponto, Jocelina interrompeu-se mas, quase imediatamente, continuou com arrebatamento, como se imperiosa necessidade de desabafar-se a dominas­se de súbito:

— Até que, depois de algum tempo a amizade de Estevão por mamãe tomou uma forma monopolizadora que muito me desagrada... Sim, desagra­da-me muito, por causa da harmonia de nossas rela­ções. Parecem ambos ter se esquecido de que ma­mãe é muito mais velha do que ele!

— Quase que não parece — observou Sílvia.

— Mas é! — replicou Jocelina rispidamente. — Não posso tolerar que ele a admire e procure assim! E ma­mãe não o faz compreender claramente que não deve penetrar dessa maneira na nossa intimidade. Entre mim e mamãe não há lugar para um terceiro!

— Mas se sua mãe não se queixa do procedi­mento dele é porque não o julga indiscreto. Por isso, você não devia interpor-se entre ambos — observou Síl­via sinceramente. — Sua mãe lhe é de tal maneira de­dicada que você não devia de modo algum insurgir-se contra o que ela acha conveniente aceitar. Ela a jul­garia uma egoísta!

Jocelina esfregou as mãos nervosamente.

— Egoísta! É verdade. . . Agora eu me torno egoísta! Se você amasse e adorasse sua mãe como eu à minha, não se espantaria com o meu modo de ver, compreender-me-ia e não toleraria ver um homem apaixonado andar a volta de sua mãe. Sim, você não o toleraria! Ser-lhe-ia impossível!

Estas palavras escaparam dos lábios de Jocelina semelhantes a um grito de angústia. Lembrando-se da impressão que tivera ao ler a ingênua carta de Marta, Sílvia tornou-se indulgente para com a amiga, que continuava a falar:

— Talvez você tenha razão. Sinto-me tornar má por causa do Estevão. O que ele pode dar à mamãe é mil vezes menos do que dou, juro-lhe. Se ao menos continuasse a estimá-lo maternalmente, como antiga­mente... De outro modo, porém, não o suportarei. Estaria acima de minhas forças! Prefiro ir-me embora, ou morrer. Mamãe e eu somos um só ser, e ninguém tem o direito de nos separar. Eu não o permitirei Mamãe sabe disso, e ele também... Foi por isso que ela não me avisou da visita de Estevão.

Tomada de piedade, Sílvia procurou dizer conciliadoramente, sem que ela mesma soubesse por que, pois sua própria sinceridade lhe parecia vacilante:

— Afirmo-lhe, Jocelina, que a imensa afeição de sua mãe por você não corre o menor risco! Se o sen­timento que Estevão mostra por sua mãe a torna fe­liz, você o devia compreender e procurar não im­pedi-lo.

— Diz isso porque não se trata de você — replicou a doente, quase violentamente, com voz baixa, repri­mida. — Nestes últimos tempos, tenho visto a mudança de mamãe, dia a dia. Aqui em Bex, durante a ausên­cia de Estevão, eu estava tranqüila. Mas ei-lo que chega. . . Você bem viu como mamãe tinha um ar radiante à simples vista dele. E, agora, não saem mais daquele salão... Vou para lá, não posso mais es­perá-los!

— Oh, Jocelina, você não fará isso... Seria mui­ta indiscrição. Toda a pessoa tem o direito, como você também, de dispor de si mesma como bem lhe parece.

— Não as mães! Não têm absolutamente o di­reito de retomar aos filhos a adoração, a alegria, a dedicação que lhes deram, aceitando em troca tudo quanto eles tinham. São como que prisioneiras...

Sílvia ia responder, mas viu que a outra conse­guira dominar-se. A porta do salão acabava de abrir-se. A clara silhueta da Sra. Albert se destacava, banhada de luz. Sem o menor embaraço, encami­nhou-se para a filha o mais naturalmente possível e lhe disse com muita ternura:

— Abandonei-a por momentos, minha querida, mas agora sou toda sua.

Sílvia afastou-se depressa.


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