Fortune, uma mulher impiedosa. Bertrice small



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— Milady, mas onde viverão Kieran e Fortune, especial­mente com toda essa intransigência com a questão religiosa? Meu irmão disse alguma coisa sobre o Novo Mundo...

— Sim. George Calvert está tentando fundar uma colônia no Novo Mundo com base nos princípios da liberdade religio­sa. Ele é católico, é benquisto e muito respeitado. O rei tem gran­de amizade por ele. Se alguém tem chance de alcançar sucesso nessa empreitada, esse homem é Sir George. Creio que há um lugar para Fortune e seu irmão na colônia. Quando voltarmos à Inglaterra, veremos que progressos ele conseguiu realizar. Enquanto isso, escreverei para meu filho Charlie, que está na corte. Ele obterá todas as informações de que necessito. Não se preocupe com Kieran, minha cara. Há um porto seguro para ele e para Fortune. Agora, porém, temos de providenciar aco­modações para você. Nossos aposentos de hóspedes são pe­quenos, mas muito confortáveis. Tenho certeza de que Adali já está providenciando tudo.

— É muito generosa, milady — comentou Colleen com sim­patia e gratidão. — Fico feliz por Kieran ter insistido em me trazer aqui. Agora sei que meu irmão está seguro e cercado de pessoas de boa índole e bom coração.

Lady Colleen passou vários dias em Erne Rock, apesar de sua intenção inicial de não prolongar a estadia. Gostava do duque e da duquesa. Fortune a encantava e divertia, apesar da franqueza excessiva. Podia entender com facilidade por que o irmão se apaixonara pela jovem. Embora fosse a mulher errada para Willy, era perfeita para Kieran. Por ter passado alguns anos fora, em contato com outras formas de convício social, Colleen constatava que Lady Jane levava uma existência isolada em Lisnaskea, e entendia que, em Dublin, Fortune seria muito apre­ciada por sua força e determinação, pela beleza e por seu inte­lecto. Seu irmão mais velho e a jovem Lady Fortune formavam um par perfeito, apesar de todos os problemas que teriam de enfrentar por causa do casamento. Sua madrasta encontraria um meio de vingar-se.

— Já marcaram a data do casamento? — perguntou ela ao casal na noite anterior à sua partida.

Kieran olhou para Fortune.

— Alguns dias depois do casamento de William — disse ela. — Quando Lady Jane souber que passaremos os próximos meses aqui em Maguire's Ford, certamente se sentirá obrigada a convidar minha família para o casamento. Excluir-nos seria uma terrível gafe social, considerando que .meus pais detêm posições elevadas e títulos de nobreza, sem mencionar que man­têm forte e ativa amizade com o rei. E nós teremos, de compare­cer à cerimônia, senão podemos causar a impressão de estar esnobando os Devers. Além disso, nossa ausência daria mar­gem a rumores sobre Will ter me rejeitado em favor de sua pri­ma, Elliot Anne. E isso seria impensável.

— Mamãe ficaria muito satisfeita com isso — comentou Colleen com sinceridade bem-humorada. — Quando informa­rão a família sobre seus planos?

— Não sei — respondeu Fortune preocupada. — Estou con­fusa quanto à melhor maneira de abordar o assunto. Não que­ro estragar o dia do casamento de seu irmão Willy e receio que essa notícia caia como uma bomba sobre a comemoração.

Colleen assentiu.

— Kieran vai ter de voltar a Mallow Court. Se ficar aqui, as fofocas serão inevitáveis, e meus pais tomarão conhecimento dos rumores assim que chegarem. Os criados de nossa família adoram Kieran. Mas agora que ele não é mais o herdeiro, são mais leais à minha madrasta e a Willy, porque precisam pen­sar na própria segurança e em seu futuro. Não posso culpá-los por isso.

— Lady Kelly está absolutamente correta — declarou o du­que de Glenkirk. — Sei que vocês se amam, minha querida, mas, até o dia do casamento, devem se manter separados. Os Devers ficarão furiosos quando souberem de tudo. Porém, Sir Shane é um homem razoável e sensato. Sei que poderei chegar a um bom termo com ele. Mas sua esposa e William ficarão mortalmente ofendidos. Não esperem perdão, minha querida. Eles não vão poupar esforços para criar dificuldades.

— Mas Lady Jane conseguiu o que sempre quis. Will vai se casar com a prima, Elliot Anne — argumentou Fortune com desespero.

— Não era vacê que minha mãe queria para Willy, Fortune — explicou Colleen. — Era a sua propriedade. Ela esperava poder sufocar a decepção de não ter a sobrinha por nora e aceitá-la nessa posição porque o enlace traria Maguire's Ford para nossa família. Mas, quando a conheceu, quando tomou conhecimento de sua beleza e de sua força interior, quando soube de sua determinação e da tradição das mulheres de sua família, todas no comando da própria vida e de suas rique­zas, decidiu que não poderia suportá-la, pois você teria tirado Willy dela, algo que a pobre Emily Anne jamais conseguirá fazer.

— Você é muito astuta — constatou a duquesa.

— Por favor, não me julgue desleal, milady. Amo minha família e só quero que todos sejam felizes. Mamãe não pode evitar essas atitudes. Ela é ambiciosa, e essa ambição se esten­de a todos os filhos. Lady Jane usou parte da herança que o pai deixou para ela para arranjar casamentos para minhas irmãs, Mary e Bessie, com pequenos senhores de terra na Inglaterra. Ela se orgulha muito dessas associações. A mãe de meu Hugh é inglesa, e só por isso ela permitiu nosso casamento. Ela não gosta de irlandeses, embora tenha se casado com um. E não é uma atitude maldosa. Sempre se empenhou para ser uma boa espo­sa para meu pai e uma boa mãe para os filhos dele. Só Kieran escapou de sua vigilância, mas, por ele não ter se oposto à sua sugestão de fazer de William o herdeiro de meu pai, ela se dis­pôs a tolerar o que chama de seu comportamento impossível. Lady Jane diz que toda família tem sua ovelha negra.

— Kieran não é uma ovelha negra — protestou Fortune, indignada. — Ele é um homem de fortes princípios.

— Infelizmente meus princípios não são os mesmos de mi­nha madrasta — Kieran Devers sorriu.

Colleen gargalhou.

— Tem razão, meu irmão, não são.

Na manhã seguinte, Lady Kelly deixou Erne Rock Castle para voltar à sua casa nos arredores de Dublin.

— Talvez ofenda minha madrasta, milady duquesa — dis­se ela a Jasmine ao se despedir — mas, se o casamento de sua filha acontecer logo depois do de meu irmão Willy, estarei aqui para assistir à cerimônia. Pode escrever informando a data es­colhida pelos noivos? Se não estiver enganada, meu pai tam­bém comparecerá. Ele não diz nada porque ama minha madras­ta. Mas também ama Kieran, embora fique muito magoado com a intransigência de meu irmão mais velho.

— Eu escreverei — prometeu Jasmine.

A carruagem de Lady Kelly deixou o pátio e atravessou a ponte. Kieran e Fortune cavalgavam ao lado do veículo, que acompanharam até a estrada para Dublin. Lá, a carruagem pa­rou por um minuto, enquanto os dois irmãos se despediam e Fortune beijava o rosto de Colleen. Depois, o coche seguiu via­gem, e Kieran e Fortune ficaram acenando até perdê-lo de vista.

A manhã de final de junho estava nublada e morna. Era óbvio que teriam chuva forte no final da tarde. Cavalgaram como sempre, porém sem conversar, buscando seu lugar favo­rito — as ruínas do salão de Black Colm Maguire. Fortune con­versara com Rory sobre aquele lugar depois de ter estado ali pela primeira vez com Kieran. Colm, o Negro, passara a ser cha­mado assim não pela cor de seus cabelos, mas por ter um cora­ção negro. Quando raptara e violentara a esposa de um chefe do clã, os parentes enfurecidos decidiram detê-lo. Eles haviam invadido o salão numa noite escura e sem luar, mas não o en­contraram, porque ele desaparecera levado por seu mestre, o diabo, como se dizia. E nunca mais voltara a ser visto. Sua infe­liz vítima fora resgatada e levada de volta para casa, mas nun­ca mais dissera uma só palavra a ninguém, para grande triste­za do marido. O salão de Black Colm fora destruído e saqueado.

"É um lugar repleto de infelicidade", havia concluído Rory. Mas Fortune não concordava com ele, pois ali ela e Kieran po­diam ficar a sós, livres de olhares intrusos. Para ela, as ruínas eram um palácio de felicidade. A chuva de verão caiu repenti­namente, embalada por violentos trovões. A água formava den­sas cortinas brancas, escondendo o rio e as colinas. Os cavalos se protegeram sob um patamar rochoso dentro das ruínas, e Kieran e Fortune se encolheram na alcova de costume, onde ficaram abraçados.

— Temos de marcar a data do nosso casamento antes de você me deixar — disse Fortune.

— Só precisa me dizer o dia, minha querida, e estarei lá.

— Outubro, então. Assim que for possível, depois do casa­mento de seu irmão William. No quinto dia de outubro?

— É uma data tão boa quanto qualquer outra, minha que­rida.

— Kieran, não suporto a idéia de nos separarmos. Sei que me comporto como uma criança mimada, mas pensar em não ver você todos os dias é muito difícil. — Ela levantou o rosto para beijá-lo.

— Não é para sempre, meu amor. — Kieran beijou seus lá­bios várias vezes, excitado por sua inocência.

— Não podemos nos encontrar aqui, onde não há ninguém para nos ver? — ela o persuadia docemente, a língua formando círculos ao redor dos lábios dele.

— Minha família retornará depois do Lammastide. Ainda temos um mês, Fortune. E, quando eles voltarem, vai ser mais difícil sair sem despertar suspeitas. Quando minha madrasta organiza uma celebração em família, somos todos pressiona­dos a colaborar, e ela espera resposta imediata para seus cha­mados. O casamento de Willy será o grande triunfo de sua vida até agora, porque ele é o herdeiro de Mallow Court. Se a pobre Emily Anne espera que esse seja seu dia por ser a noiva, vai ficar muito desapontada, pois a sogra certamente aparecerá mais do que ela. — Kieran riu. — Podemos nos encontrar aqui vá­rias vezes por semana até o início dos preparativos. Depois, não há como prever quando nos veremos, minha querida.

Por alguns momentos, Fortune foi dominada por forte sen­timento de decepção, mas depois riu:

— Suponho que estarei tão ocupada preparando nosso ca­samento que nem sentirei sua falta. Quero dizer... quase nada — consertou ela. — Não vai ser uma surpresa para todos quan­do nos casarmos apenas uma semana depois de Will e sua Emily?

— Acho que choque é uma palavra mais adequada — res­pondeu ele, rindo. — Tem certeza de que não quer preveni-los?

— Não, Kieran! Não temos tempo para informar sua famí­lia. Acabaríamos arruinando o casamento de Will e causaría­mos tamanha comoção que seríamos o foco de todas as aten­ções. Isso não agradaria Lady Jane. Além do mais, por mais que não simpatize com sua madrasta, gosto de Will e não quero causar a ele nenhuma infelicidade.

— Nosso casamento não vai agradar minha madrasta.

— Absolutamente não, mas, francamente, esse não é um problema dela, é? Você não é filho dela. Além disso, por pura inveja e ganância, ela prestou a você grande desserviço, rou-bando-lhe a herança que agora será transmitida ao filho dela. Não tenho nenhuma simpatia por Lady Jane.

— Você é tão forte e determinada... — Kieran tomou-a nos braços para um beijo prolongado.

— Faça amor comigo, Kieran... — sussurrou ela em seu ouvi­do, usando a ponta da língua para umedecer sua orelha antes de beijá-la suavemente, movendo o corpo contra o dele de ma­neira sinuosa e provocante. — Você me deseja, Kieran. Eu sei que me quer!

— Quanta maldade — respondeu ele por entre os dentes. Podia sentir seu membro despertando com sério interesse.

Em resposta, Fortune soltou os botões de seu colete e as fi­tas que mantinham fechada sua blusa. Sorriu quando, incapaz de conter-se, Kieran introduziu a mão pela abertura para acari­ciar um seio, apertando o mamilo entre os dedos.

— Ohhh... — gemeu Fortune.

Ele a pressionou contra a parede de pedra da alcova.

— Não devia me provocar assim, Fortune. Não sabe o que está fazendo!

— Sim, eu sei exatamente o que estou fazendo, Kieran. Es­tou farta de ser virgem! Faça amor comigo!

— Não. Em nossa noite de núpcias você será virgem, Fortune. Mas, como está curiosa, vou lhe dar uma pequena amostra do que pode ser a paixão. Veremos se é corajosa o bas­tante para enfrentá-la até o final. Antes que ela pudesse protes­tar, Kieran a despiu da cintura para cima. — Ahhhh... — suspi­rou ele, acomodando-a sobre o banco de pedra para melhor apreciá-la.

Fortune estava surpresa, mas sorria com ar sedutor enquan­to soltava o cinturão e baixava a calça de montaria, deixando-a cair em torno dos canos das botas.

— E você, Kieran? Até onde vai sua coragem?

— Jesus... — Fortune estava nua e ao alcance de suas mãos. Sua pele era alva, suave e acetinada. Não havia pêlos sobre seu monte de Vênus. Ouvira dizer que as damas se depila-vam daquela maneira, mas nunca tivera aquela visão antes. Suas amantes no campo exibiam orgulhosas, os pêlos púbicos sobre a área rosada e macia. Mas Fortune exibia apenas uma fenda estreita que parecia convidá-lo a um mergulho na insa­nidade. — Cubra-se — implorou ele. — É linda demais para que eu possa resistir, Fortune. — As mãos já acariciavam seu corpo tentador.

Com um profundo suspiro de prazer, Fortune fechou os olhos, sentindo o hálito úmido e morno em seu ventre. Ela se espantou ao sentir os beijos naquela região tão íntima. As mãos acariciavam seus seios. Todo seu corpo clamava pelo dele, buscando-o instintivamente.

Kieran Devers estava abalado, dominado pelo desejo. A sim­plicidade com que Fortune se oferecia e a confiança implícita no gesto de despir-se para ele eram, ao mesmo tempo, como­ventes e perigosas. Tinha uma ereção que era como ferro indes­trutível. Por que não? Onde estava o mal em possuí-la? Logo estariam casados.

Sim, seriam casados, mas sentia por Fortune uma mistura densa de amor e respeito. E se a engravidasse? E se, Deus o pro­tegesse, sofresse algum acidente fatal e morresse antes do casa­mento? Ela teria um filho bastardo! E não era como a mãe dela, uma princesa real Mugal, nem teria em seu ventre um bastardo de um príncipe Stuart, uma criança que seria bem-vinda, em­bora ilegítima. Estava à beira de perder a sanidade. Gemendo, ele a vestiu depressa e exigiu, irritado:

— Cubra-se!

— Qual é o problema? O que foi que eu fiz? Por que não me quer, Kieran?

— Termine de vestir-se e então conversaremos — respon­deu ele, virando-se ao ver as lágrimas nos olhos dela.

Confusa, tomada por sentimentos que nunca experimen­tara antes, coisas que certamente não entendia, Fortune vestiu a camisa e a amarrou. Depois foi a vez da calça.

— Estou vestida — anunciou ela finalmente, sentando-se outra vez no banco.

Ele se virou. Sem dizer nada, abraçou-a.

— Amo você — disse ele. — Quando tirar sua virgindade, quero que seja em nosso leito nupcial. Quero ter tempo para acariciá-la e admirar sua beleza. Quero cobri-la de beijos lon­gos e doces, não só em seus lábios, mas em todo seu corpo. Se alguma coisa acontecer comigo antes de trocarmos nossos vo­tos de casamento, e se você estiver grávida, se estiver esperan­do um filho nosso, uma criança feita com amor, nosso inocente herdeiro será considerado bastardo, e por isso será discrimina­do. Não posso permitir que isso aconteça, Fortune. Não farei isso com você e com nosso filho. Entendeu?

Ela assentiu, apoiou a cabeça em seu peito e disse:

— Mas eu o quero tanto, Kieran! Meu corpo dói com essa necessidade pelo desconhecido.

— Como o meu arde por você e pelo prazer que descobrire­mos quando finalmente estivermos juntos por inteiro, meu amor. Agora compreendo que é melhor nos separarmos por um tempo antes de sermos dominados pela paixão.

— Mas vamos continuar nos encontrando aqui? — pediu ela. — Pelo menos até o Lammastide?

— Nós, os celtas, na Irlanda, chamamos a data de Lugnasadh. É um festival relacionado à colheita, mas, em tempos antigos, era a celebração anual do deus de muitas habilidades, Lugh.

— Conhece as histórias antigas, não é? Embora diga não ter lugar aqui na Irlanda. Tem certeza disso, Kieran?

Ele sorriu.

— Gosto das velhas histórias, das lendas sobre nossos an­cestrais, mas isso não significa que me sinta em casa aqui. Não minha doce Fortune, nosso futuro está em outro lugar. Talvez nessa nova colônia que almeja fundar o conhecido de sua mãe, Lorde Baltimore. Gosto da idéia de recomeçar a vida em um local novo, onde seremos aceitos pelo que somos, sem sermos julgados.

— Sempre haverá os que julgarão. Ele riu.

— É tão inocente em alguns aspectos e tão madura em outros!

— Tive uma criação muito eclética. Sempre que minha mãe ia para a corte, ficávamos em Queen's Malvern com os avós dela. Era meu lugar favorito, porque Madame Skye era muito interessante. Ela transbordava conhecimento. Éramos muito pequenos naquela época. Eu tinha apenas 4 anos quando meu bisavô de Marisco morreu. Depois disso, Madame Skye nunca mais foi a mesma, embora nunca tenha deixado de nos amar ou de participar de nossa vida. Vivi na França e na Escócia. As­sisti ao casamento por procuração do Rei Charles em Paris. Nunca conheci o tédio, Kieran. Estou ansiosa para conhecer esse novo lugar com você. Nunca fui aventureira, tudo que quero é um bom casamento, mas algo em mim deseja deixar esse velho mundo e conhecer o novo. Sempre fui considerada prática. Porém, ultimamente, tenho percebido que talvez seja mais parecida com as mulheres da minha família do que acre­ditava no passado. E nunca quis ser como elas. São todas im­possíveis, desastrosamente passionais. Ele riu.

— E acha que se desnudar diante de um homem num salão em ruínas sob uma violenta tempestade não é passional, de­sastroso ou aventureiro?

— Mas eu só queria que fizesse amor comigo! Não sei real­mente o que é fazer amor, mas sei que preciso disso, ou morre­rei vítima dessa dolorosa necessidade que me dominou.

— Adoro você, Fortune Lindley. Por que é louca e maravi­lhosa. Nunca esperei encontrar uma mulher como você, mas, agora que a tenho, nunca mais a deixarei escapar de mim.

Fortune suspirou feliz.

— Não me importa para onde vamos, Kieran, desde que estejamos juntos.

— Vá para casa, minha adorável tentação. Estarei aqui nes­se mesmo horário dentro de três dias. Se minha família planeja chegar em casa no início de agosto, em breve haverá uma men­sagem da Inglaterra para mim. Minha madrasta é extremamente organizada. Se Willy vai se casar no dia 29 de setembro, certa­mente terá instruções para transmitir aos criados; e ela vai que­rer que eu seja o elo entre os Devers e os Elliot antes de seu retorno. Pobre Willy! Agora tem sua vida inteiramente mapeada.

— Seu irmão vai ser feliz assim. Ele não é um homem de muita iniciativa nem espírito aventureiro. Por isso cheguei a pensar que ele seria um bom marido para mim. Depois, desco­bri que não sou tão pacata e caseira quanto imaginava.

Ele riu.


— Pacata é uma palavra que eu jamais usaria para descre­ver você, minha adorada. Indomável e voluntariosa são mais indicadas. Agora, pegue seu cavalo e volte para casa. Tenho uma longa cavalgada até chegar à casa de meu pai.

— Vou ficar muito feliz quando nós dois pudermos voltar para a mesma casa — confessou ela com tom suave. Quase con­seguira seduzi-lo. Pretendia tentar novamente. Sabia que a mãe tomava uma poção que era transmitida a todas as mulheres de sua família de geração em geração, uma mistura que impedia a concepção. Não queria esperar até outubro para sentir aquele corpo másculo e rijo no dela, amando-a como jamais fora ama­da antes. Queria Kieran agora!

— Daqui a três dias, meu amor — repetiu ele, tentando ima­ginar o significado da luz que cintilava em seus olhos. Ele se­gurou a mão dela e beijou-a.

Fortune montou e partiu num galope frenético que refletia sua frustração, sua determinação e sua revolta. Kieran a obser­vava sorrindo. Ela o tentara cruelmente, levando-o quase além do limite da perdição, mas não permitiria que isso acontecesse novamente. Era mais velho, e a responsabilidade pela reputação dela estava em suas mãos. Amava-a demais para desampará-la.

Capítulo 8
— O que minha mãe usava para impedir a concepção de um filho? — perguntou Fortune a Rohana. Depois riu. — É eviden­te que ela não tem feito uso do artifício ultimamente, ou não estaria grávida outra vez.

Os olhos escuros de Rohana eram inexpressivos, e ela con­tinuou dobrando cuidadosamente as camisas limpas de sua senhora.

— Sua mãe acreditava ter passado do tempo de ter mais filhos, criança. Quanto à pergunta que fez, não cabe a mim res­ponder. Pergunte à sua mãe; tenho certeza de que ela explicará tudo antes de você se casar com Mestre Kieran.

Fortune bateu o pé.

— Rohana, você sabe! Por que não me conta?

— Pelo mesmo motivo que a fez vir a mim, em vez de ir fazer essa pergunta à sua mãe. Você é neta do Mugal, seu sangue corre quente nas veias, Fortune. Quer seduzir seu amado e evitar as conseqüências do mau ato. Não conte com minha ajuda.

Fortune encolheu os ombros.

— Não tem importância. Eu o terei quando quiser, de qual­quer maneira.

— Qual é o problema com você? Sempre foi a filha com quem minha senhora não teve de se preocupar. O que a transformou nessa criatura tão obstinada e incauta?

Fortune suspirou.

— Eu sei, eu sei — disse. — Nem eu entendo, Rohana. Sou a filha prática e sensata, ou sempre fui, mas não quero mais ser assim. Tudo que quero é estar com Kieran. O que aconteceu comigo?

— Amor — respondeu Rohana sem rodeios, os olhos cheios de compreensão. — Está apaixonada, criança. Isso torna as mulheres incautas, especialmente as de sua família. Porém, não há motivo para aflição. Estamos agora em julho, e você vai se casar dentro de três meses. Seja paciente.

— Mas e se o que eu quero for uma grande decepção? Rohana riu.

— Não vai ser. Não com aquele celta tão forte e vigoroso. Ele roubou seu coração, criança. Além do mais... Bem, se uma vaca dá leite a um possível comprador e ele não aprecia o sabor, talvez desista de comprá-la. Entendeu? Mestre Kieran é um homem em todos os sentidos, como podem atestar as jovens desse vilarejo. Você, Fortune, é uma virgem inexperiente. Guar­de-se até ter a aliança no dedo, ou ele perderá o interesse.

— Não havia pensado nisso. Deixei a paixão dominar a ra­zão e estou me comportando de maneira tola. Você tem razão, Rohana. Melhor ter um anel no meu dedo e pôr uma coleira no pescoço de Kieran Devers antes de me entregar a ele.

Rohana riu.

— Agora você entendeu. Provoque-o, se quiser, para ali­mentar seu interesse e mantê-lo ansioso, mas espere até a noite de núpcias para aceitá-lo entre suas pernas, minha menina.

— Como pode saber tanto, sendo ainda considerada donzela?

— Donzela? Na minha idade? — Rohana bufou. — Sei tudo isso porque tive minhas aventuras na juventude. Sei, porque tenho uma irmã casada. Sei, porque sirvo sua mãe desde que ela nasceu. Eu sei.

— Por que nunca se casou?

— Porque nunca desejei me casar. Gosto da liberdade de ser uma donzela. Gosto de servir sua mãe. Isso me faz feliz, Fortune, e toda mulher tem o direito de ser feliz. Agora, criança — ela passou um braço sobre os ombros de Fortune — chega de perguntas, e prometa-me que vai cultivar a paciência. E que vai se comportar.

Fortune assentiu.

— Vai contar à minha mãe?

— Não. Sei que posso confiar em você e que essa conversa foi só entre nós. Não me desaponte, criança.

— Não vai ser fácil — Fortune admitiu.

— Eu sei.

As semanas seguintes transcorreram aparentemente de­pressa. Fortune passava boa parte do tempo ao ar livre, caval­gando, e via Kieran brevemente e de vez em quando. O apetite dela desaparecera. Ficava agitada à noite, e seu sono, quando vinha, era instável, cheio de sonhos confusos que só conseguia lembrar vagamente com a chegada da manhã, sem nunca apreender realmente seu conteúdo. Perto do final de julho, ela e Kieran se encontraram em Black Colm's Hall.

— Este será nosso último encontro por um bom tempo — disse ele. — Meu irmão estará em casa no dia primeiro. Minha querida madrasta se mostra prestativa e eficiente, como sem­pre. Os Elliot chegarão de Londonderry no dia cinco para fina­lizar o acordo de casamento e planejar a cerimônia. Não terei como me ausentar, minha adorada. Todos os momentos do meu dia serão ocupados por meu pai e sua esposa nessa cruzada pelo casamento perfeito de Willy e sua prima. Vou tentar esca­par, se puder, mas não terei como mandar notícias. Se você não estiver aqui, deixarei uma mensagem para você sob o nosso banco, escondida por uma grande pedra. E você deve fazer o mesmo.


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