Fortune, uma mulher impiedosa. Bertrice small



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— Ele levou dois anos para nos encontrar, porque ninguém delatava nosso paradeiro — Índia riu.

— Até Madame Skye acusá-lo de ser cego por não ter nos encontrado ainda — recordou Charlie.

— Ele só nos achou porque seguiu nossa bisavó até a Fran­ça quando ela foi informar mamãe da morte de nosso bisavô — rememorou Fortune. — E papai foi mesmo o marido ideal para nossa mãe, o melhor padrasto que poderíamos ter!

— Exceto quando era mais teimoso que todos nós juntos — disse Índia.

— Índia, ainda está ressentida contra o pobre Glenkirk? — Henry Lindley perguntou, surpreso. — Pensei que o houvesse perdoado há anos! Ele fez o que pensou ser certo.

— Oh, mas eu o perdoei! Estava apenas lembrando como, por causa dele, Dev e eu quase ficamos sem nosso primogênito.

— Prefiro lembrar nossa infância — confessou Fortune. — Como vivemos tempos divertidos na corte com mamãe e como íamos sempre passar um tempo com Madame Skye e vovô Adam. Lembra-se do pônei preto que ganhou dele, Índia?

Ela riu.

— Eu implorava por aquele pônei desde que você nasceu. Cheguei a dizer que preferia um pônei a uma irmã. Lembra-se de quando tinha 3 anos e conseguiu, até hoje não sabemos como, montar meu pônei? Você o tirou da baia e entrou no pátio do estábulo cheia de orgulho, esperando pelos elogios!

— E você ficou furiosa por eu ter ousado montar seu pônei. No dia seguinte, vovô Adam me deu um cinza com manchas pretas nas costas. O nome dele era Fleckles.

— Como conseguiu montar, Fortune? — Índia quis saber.

— Henry me ajudou.

— Henry? — Índia olhou para o irmão. O marquês de Westleigh riu.

— Não podia imaginar que Fortune iria até o pátio. Ela só queria subir no pônei, mais nada. Quase morri de pavor pensan­do no que mamãe faria se descobrisse. Por isso fugi do estábulo pela porta dos fundos e fingi estar tão surpreso quanto todos os outros quando ela apareceu no pátio. Fortune nunca me dela­tou. A propósito, sou grato por sua discrição, irmãzinha.

A mãe deles riu.

— Vocês tiveram sorte por terem nascido todos na mesma família. Minha pobre Autumn vai crescer como filha única. O mais novo de seus irmãos Leslie é 12 anos mais velho que ela. Não há mais ninguém em Glenkirk, exceto o jovem Patrick que, aos 16 anos, está mais interessado em moças com quem possa se deitar do que em ficar de babá.

Todos riram.

No dia seguinte, Henry voltou para sua casa, Cadby, e Ín­dia e o marido partiram para Oxton. Charlie seguiu para a cor­te. À noite, Jasmine, suas duas filhas e Kieran eram os únicos em Queen's Malvern. Havia uma certa melancolia na antiga e sólida mansão de tijolos. Fortune e Kieran preferiam ficar a sós, e Jasmine os entendia. Logo teriam de se separar. A expedição para Mary's Land partiria de Gravesend no meio de outubro.

— É ridículo ir até Londres quando o Cardiff Rose está anco­rado em Liverpool. Pode zarpar de lá, Kieran — opinou Fortune. — O navio vai buscar os colonizadores em Dundalk, e você poderá encontrar o navio de Leonard Calvert em... onde, ma­mãe?

— Cape Clear, na costa da Irlanda — disse Jasmine calma­mente. — A expedição para Mary's Land vai passar por lá quan­do atravessar o Canal de Saint George a caminho do mar aberto.

— Amanhã cedo enviaremos um mensageiro com nossa decisão. Lorde Baltimore não se oporá — disse Fortune. — Con­firmaremos todos os arranjos, e outro homem seguirá para Maguire's Ford para informar nossos homens de que deverão estar em Dundalk no horário determinado. E o mensageiro terá de voltar depois de entregar nossa decisão a Lorde Baltimore, pois assim você terá tempo para cavalgar até Liverpool. E eu vou com você.

— Não — interferiu Jasmine com firmeza. — Eu irei. Você se despedirá de Kieran aqui. Não podemos deslocar uma car­ruagem para transportá-la, e você não pode fazer viagem tão longa a cavalo. É perigoso, Fortune, e sei que deseja ter um fi­lho saudável que possa fazer a longa e perigosa travessia para Mary's Land no próximo verão.

— De acordo, senhora — opinou Kieran Devers sério, olhan­do para a esposa. — Fortune?

Era impossível discordar da sabedoria da decisão de sua mãe. Fortune assentiu relutante.

— Não posso discordar de nenhum de vocês, mas... Oh, como gostaria de acompanhá-lo, Kieran!

No dia seguinte, todos os mensageiros foram despachados, e nas semanas seguintes os portadores iam e vinham numa tro­ca incessante de informações. Rory Maguire mandou avisar que os colonizadores irlandeses estariam em Dundalk na hora e no dia marcados. Aproximava-se a hora de Kieran Devers deixar sua esposa, e Fortune começava a sentir um pavor como jamais havia experimentado antes.

— Ficamos malucos? — perguntou ela ao marido. — Essa jornada pelo oceano é longa e perigosa! E se o navio encontrar uma tempestade? Se naufragar? Nunca mais o verei! — ela cho­rava copiosamente e se agarrava ao marido como se temesse perdê-lo naquele instante.

— Que opção temos? Já falamos sobre isso centenas de ve­zes, Fortune. O Novo Mundo é nosso destino. Não há nada para nós aqui, querida.

— Posso adotar o catolicismo. Fui batizada católica. Então, poderemos ir para a França, ou para a Espanha. Podemos mo­rar em Belle Fleurs, o chateou de minha mãe. Meu avô Adam deixou familiares perto, em Archambault. Seríamos felizes lá! — Ela o fitou esperançosa. Kieran suspirou.

— Talvez você pudesse ser feliz, Fortune, mas eu não seria. Tenho meu orgulho, e tem sido mais do que difícil ignorá-lo nesses últimos meses. Sei que existem pessoas que pensam que me casei com você porque é uma grande herdeira, e não porque a amo. Sim, tenho uma pequena herança graças ao meu pai, mas minha riqueza nem se aproxima da sua. No Novo Mundo cons­truirei uma vida para nós, uma grande propriedade. Talvez não tão grande quanto aquela de que abriu mão por mim, mas eu mesmo terei construído tudo, e ninguém vai me olhar de sos­laio ou com desconfiança. Nunca antes me incomodei com o que as pessoas pensam sobre mim, mas agora somos casados, meu amor, e não quero que digam que vivo da riqueza de mi­nha esposa! Vamos construir nosso caminho juntos, Fortune, e isso só será possível no Novo Mundo. Não aqui. Não na Inglater­ra. Não na Irlanda. Nem na Espanha ou na França. Só em Mary's Land. Entende agora, meu amor, que preciso partir?

— Nunca soube que se sentia tão incomodado, Kieran. O que tenho é seu. E que ninguém ouse dizer o contrário. Se acha que pode ser mais feliz, comprometo-me a transferir todos os bens para o seu nome.

Ele riu.

— Não, minha adorada. Não quero sua riqueza. Sua famí­lia está correta em assegurar bens para as mulheres. Além dis­so, não é esse o ponto. Você tem seu orgulho, eu tenho o meu. Um homem precisa abrir seu próprio caminho no mundo. O que aconteceu com minha esposa tão prática e sensata?

— Não quero que me deixe! Prefiro estar com você, parti­lhando seu destino, a ser deixada aqui na Inglaterra para ter nosso filho sozinha!

— Não estará sozinha, Fortune. Sua mãe estará com você.

— Não quero minha mãe! Quero você!

Jasmine o prevenira para essa possibilidade. Ela o avisara de que a condição de Fortune a tornaria intransigente, às vezes até irracional. Ali estava ela, a bela esposa que o orientara a ir a Mary's Land e obter as melhores terras com o primeiro grupo de colonizadores, chorando e suplicando para que desistisse de todos os planos. Não sabia o que poderia dizer naquelas cir­cunstâncias, por isso decidiu adotar uma atitude que nunca antes havia empregado com ela.

— Não pode me ter, a menos que queira destruir todas as suas chances de sucesso, Fortune. As nossas chances! — res­pondeu ele com tom severo. — Você mesma disse que tudo de­pende de conquistarmos as terras mais propícias para os nos­sos cavalos. Se eu não for agora, como poderei escolher as melhores terras? Você conseguirá sobreviver sem minha mão segurando a sua. Índia não teve o primeiro filho em uma cabana na montanha, tendo apenas duas criadas para ajudá-la? Ter um bebê é um evento natural na vida de uma mulher. Agora, comporte-se como a adulta que é, Fortune.

Ela se surpreendeu com a reprimenda.

— Como pode falar assim comigo?

— E de que outra maneira espera que eu fale, se insiste em se portar como uma criança mimada?

— Jamais o perdoarei por me deixar.

— Quando chegar em Mary's Land no próximo verão e en­contrar uma bela casa esperando por você, grãos plantados e pastos verdejantes para os nossos cavalos, certamente me per­doará. Estou indo por você, Fortune, e por nosso filho. Vai mes­mo se zangar comigo por isso?

— Sim!

— De verdade? — ele a beijou nos lábios.



— Sim!

Kieran insistiu no beijo.

— Mesmo? — Ele a beijou com ardor, inserindo a língua em sua boca e acendendo o desejo. — Tem idéia, Fortune, de como sentirei sua falta? Ouvi dizer que uma mulher perde o desejo quando espera um filho, mas um homem não dispõe desse luxo. Sinceramente, acho que a desejo ainda mais do que antes.

Nesse caso, devemos aproveitar ao máximo os dias que ainda nos restam, meu marido. Porque sei que não me será in­fiel... certo? — Fortune o puxou de volta para seus braços, mor­dendo levemente a orelha do marido.

— Pode estar certa disso, Fortune. Jamais serei infiel a você, porque a amo.

Ela suspirou. Kieran e Fortune fizeram amor com grande ternura, e ela decidiu que essa história sobre uma mulher per­der o desejo durante a gravidez era tolice. Talvez mais tarde, quando estivesse gorda e pesada, mas não agora.

O dia da partida de Kieran para Liverpool havia chegado. Fortune conseguiu superar a agitação inicial, estava parada no topo da escada da frente da casa oferecendo ao marido uma caneca de viagem. Ele bebeu, devolvendo o cálice de prata com ar solene. Depois, sério, abraçou-a e beijou-a mais uma vez.

— O que faço é por você e pelo bebê — disse. — Porque a amo, Fortune. Reze por nosso sucesso, minha adorada. Se Deus permitir, nos veremos no próximo verão em Mary's Land. — Sem dizer mais nada, montou e partiu, seguido por Kevin.

— Mamãe! — chamou Fortune, e Jasmine virou-se. — Vol­te para casa o mais depressa possível, mas antes dê a ele toda a sabedoria que é capaz de transmitir.

Jasmine assentiu e partiu atrás do genro.

Fortune entrou apressada, incapaz de esperar para vê-los desaparecer além da primeira curva. Sua mãe estaria de volta em uma semana, talvez um pouco mais. Estava praticamente sozinha, com exceção da boa Róis.

— Odeio isso — resmungou ela para si mesma. Depois cha­mou sua criada para ter alguma companhia. Esperava que Róis não estivesse muito mais feliz com a situação. A jovem entrou com os olhos inchados e vermelhos. — Não chore, ou vou cho­rar também. Estou tão triste quanto você, Róis.

— Sei que eles precisavam ir. Kevin diz que, para construir­mos um futuro, precisamos de terras, e em Ulster isso jamais teria sido possível. Mas por que agora? Agora, quando espera­mos as duas o primeiro filho!

— Também vai ter um bebê? — perguntou-se Fortune por que estava tão surpresa. — Quando?

— Pouco depois do seu filho, minha senhora.

— Kevin sabe disso?

— Não. Tive medo de dizer e ele se recusar a partir. Não quis arruinar nossas chances de um futuro melhor.

Fortune começou a rir. Era tudo tão absurdo! Casara-se com o irmão errado porque o amava, perdera seu dote por isso e agora era deixada para trás, grávida, e com uma criada grávi­da, enquanto seu marido e o dela partiam em busca do destino. Se esse cenário houvesse sido pintado há dois anos, ela teria debochado desse destino. Nunca! A prática e sensata Lady Fortune Mary Lindley? Não.

— Bem, Róis, creio que não temos escolha senão esperar e torcer pelo sucesso de nossos escolhidos em suas empreitadas. Faremos companhia uma à outra enquanto esperamos pela che­gada dos bebês. Sabe tricotar? Nunca consegui aprender essa arte, mas sei costurar. Vamos fazer roupas para nossos filhos. É uma maneira de nos mantermos ocupadas e passar o tempo.

A jovem Senhora Bramwell, que ajudava na administração da casa, foi buscar cambraia e todo o material necessário à con­fecção das roupinhas no depósito da mansão. Havia até velhos moldes de papel para facilitar o corte das peças. Rohana, que não acompanhara sua senhora, ofereceu-se para ajudá-las, e as três passaram a semana seguinte cortando e costurando. Autumn engatinhava entre as pernas delas, brincando com retalhos que caíam no chão.

Jasmine retornou a Queen's Malvern oito dias depois da par­tida com sua escolta armada formada por homens de Glenkirk.

— Eles zarparam para a Irlanda — anunciou ela. — O ven­to era excelente, e o mar estava calmo. Não fique tão preocupa­da, minha filha. Levei seis meses para concluir minha viagem desde a Índia e cheguei sã e salva.

— Ele já deve ter aportado em Ulster para recolher os colo­nizadores — respondeu Fortune. — Neste exato momento de­vem estar a caminho do local onde encontrarão Leonard Calvert. Ele certamente já embarcou a esta altura.

De fato, a expedição de Lorde Baltimore deixara Gravesend, mas não fora muito longe. Cecil Calvert tomara a sensata deci­são de permanecer na Inglaterra. Seus inimigos espalhavam rumores de que os dois navios de sua propriedade, o Ark e o Dove, estavam, na verdade, levando freiras e soldados para a Espanha. Lorde Baltimore teve de ir à corte para se defender e proteger sua expedição. Suas naus foram interceptadas por uma embarcação real, forçadas a lançar âncoras em Isle of Wight. Lá ficaram por quase um mês antes de obterem permissão para seguir viagem. O capitão do Ark, sabendo que o Cardiff Rose os aguardava em Cape Clear, mandou informar Kieran Devers, enviando sua mensagem por um navio que rumava para o ex­terior. Ele explicava a demora, sugerindo que o Cardiff Rose pros­seguisse até Barbados, onde deveriam esperar pela expedição de Lorde Baltimore, que logo os encontraria.

No dia 22 de novembro, os colonizadores finalmente parti­ram para Mary's Land. A Inglaterra mal havia desaparecido no horizonte quando foram atingidos por uma violenta tempesta­de, mas logo ela se abateu e o tempo se manteve tão perfeito até chegarem em Barbados que o capitão do Ark comentou o fato. Nunca fizera uma travessia tão tranqüila. A única tempestade violenta que tiveram de enfrentar, porém, os separara dos com­panheiros, todos passageiros da nau menor Dove. Esperavam que estivessem vivos e que se encontrassem em Barbados, onde também estaria o Cardiff Rose.

Kieran Devers e seus companheiros atravessavam o mar sob o céu sem nuvens rumo ao desconhecido. Dia após dia, o sol brilhava forte e, quanto mais se afastavam da Irlanda, maior era o calor. O clima era tão propício, e a viagem era tão suave, que a Senhora Jones e Taffy levaram suas plantas para o con­vés, criando para elas um pequeno cercado na área da proa.

Após seis semanas, o Cardiff Rose aportou em Barbados, onde ficaria esperando pelo restante da expedição.

O governador da ilha, Sir Thomas Warner, foi cauteloso em sua recepção. O Cardiff Rose integrava a frota da companhia de comércio 0'Malley-Small, tendo assim alguma importância. No entanto, estava repleto de católicos irlandeses. Não eram tan­tos que pudessem causar dificuldades, mas a situação o deixa­va apreensivo. Ele convidou Kieran e o capitão da embarcação para jantar, pois assim teria chance de saber mais coisas sobre a chegada do inusitado grupo. Kieran deu aos colonizadores per­missão para visitar a ilha, mas os preveniu sobre manterem con­duta impecável, ou seriam devolvidos ao navio e retidos nele.

— Devemos esperar Lorde Calvert. Eu me sentiria muito mais confortável esperando em terra firme, em vez de perma­necer no navio. Ainda temos um longo caminho a percorrer. Qualquer homem que for encontrado embriagado não terá per­missão para desembarcar novamente até chegarmos em Mary's Land.

Depois de dar as instruções, Kieran Devers se retirou com o Capitão OTlaherty para jantar na casa do governador.

Foram recebidos com cordialidade, e logo todos se sentaram à mesa. Kieran ficou imediatamente fascinado com os longos frutos amarelos que pendiam das árvores além da janela.

Notando a direção de seu olhar, o governador riu.

— São bananas — disse. — É preciso remover a casca ama­rela, e dentro você encontrará um fruto doce cujo sabor não é muito diferente do da marmelada. Pode levar alguns cachos para o navio, se quiser.

— Vamos permanecer na ilha enquanto esperamos pela chegada da expedição de lorde Baltimore, milorde. Se tivermos sua permissão, é claro. Passamos semanas no mar e não somos marinheiros habituados à água. Meus homens são agricultores em sua maioria.

— Qual é o seu destino, se posso saber?

— A nova colônia de Lorde Baltimore, senhor. Mary's Land.

— Soube que esse lugar é só para católicos — comentou Sir Thomas.

— Não, senhor, Mary's Land é para todos os homens de boa vontade, sejam católicos ou protestantes. Ninguém sofrerá perseguição. Por isso vamos para lá, milorde. Muitos passagei­ros de Lorde Calvert são protestantes.

— Não gosto da idéia de uma colônia católica — resmungou o governador. — Já temos problemas demais com a Espanha.

— Mary's Land não é uma colônia espanhola, milorde. É uma colônia inglesa. Somos todos leais súditos de Sua Majes­tade. O meio-irmão de minha esposa é sobrinho de nosso hon­rado rei.

— De fato? — o governador se mostrava um tanto cético.

— Lorde Charles Frederick Stuart, o duque de Lundy. Eles o chamam de "Stuart não tão régio".

— Ah, sim, lembro alguma coisa sobre o Príncipe Henry ter tido um bastardo. Todos elogiavam a beleza da mulher que ge­rou essa criança. Cabelos escuros e olhos azuis como o mar...

— Está falando sobre minha sogra, a duquesa de Glenkirk. Ela ainda não era casada com o duque de Glenkirk quando manteve esse relacionamento com o príncipe, que a amou de verdade.

— Pode permanecer em nossa ilha por quanto tempo for necessário, e seu povo também é bem-vindo, desde que não causem dificuldades — disse o governador a Kieran.

— Obrigado, milorde.

— Excelente — murmurou o Capitão OTlaherty ao seu lado. — A família ficaria orgulhosa de você.

Kieran olhou para o capitão, e os olhos cintilantes que o fitavam pareciam familiares.

— Por Deus! — exclamou ele. — É um deles, então!

— Ualtar OTlaherty, filho de Ewan, neto da grande Skye, bisneto de Dubhdara. Sua esposa e eu somos primos, embora eu nunca tenha tido o prazer de encontrá-la pessoalmente ou de conhecer seus filhos. Conheci apenas minha avó, Skye, e só a vi duas vezes em minha vida. Meu pai é o Senhor de Ballyhenessey, na Irlanda. Sou o único de seus filhos que atendeu ao chamado do mar. Minha avó cuidou para que eu reali­zasse meu desejo, como fez com vários de meus primos. Mui­tos de nós fomos capitães do Cardiff Rose, uma embarcação sólida e segura. Tenho estado basicamente na rota do Mediterrâneo. Paramos várias vezes nos portos de Algiers, San Lorenzo, Mar­selha, Nápoles, Veneza, Atenas, Alexandria, Istambul.

— Por que ninguém me informou sobre quem você é?

— Teria sido importante, senhor? Kieran riu.

— Essa família em que ingressei pelo casamento é mesmo muito estranha, Ualtar OTlaherty.

— Sim, senhor, essa é uma grande verdade.

Dezembro estava no início quando chegaram a Barbados. Lá, passaram o Natal. Não havia sacerdote para celebrar a mis­sa, por isso cantaram canções propícias e fizeram suas preces em silêncio. Um banquete foi arranjado para os homens na praia, onde foi cavado um poço, e um grande porco foi comprado no mercado para ser assado. Um prato com bananas, melão, aba­caxi e melancia foi servido, acompanhado por batatas-doces. Com exceção do porco, os outros alimentos eram desconheci­dos pelos colonizadores. Eles experimentaram tudo com relu­tância, mas, ao constatar que todos os pratos tinham sabor agra­dável, comeram com entusiasmo.

No início de janeiro, o Ark chegou a Barbados e foi recebido com alegria pelos homens que viajavam no Cardiff Rose. Como Kieran Devers e seus homens, tripulantes e passageiros do Ark ficaram fascinados e encantados com o brilhante colorido das flores e das árvores que cresciam na ilha. As aves ruidosas e exóticas também eram maravilhosas. Uma missa de ação de graças foi realizada a bordo do Ark e prestigiada por todos os católicos. Os colonizadores protestantes desembarcaram para ir à igreja do governador.

Ao longo das semanas seguintes, carregaram os navios com milho, batatas e todos os outros alimentos para os quais conse­guiram encontrar espaço, guardando-os em todos os recantos disponíveis. Todos os barris de água foram enchidos nova­mente. Para deleite de todos, o Dove chegou ao porto com um grande navio mercante, o Dragon. Quando a tempestade os atingira, haviam retornado a um porto seguro na Inglaterra, onde esperaram por tempo bom para retomar a travessia. To­dos os que haviam começado a expedição de Lorde Calvert agora estavam reunidos, prontos para seguir para o norte, para Mary's Land. O governador de Barbados não escondeu o alí­vio causado pela partida. Ele, como tantos outros, não conse­guia deixar de acreditar que católicos ingleses e irlandeses eram leais a seus correligionários na Espanha, e não ao rei da Inglaterra Protestante.

Chegaram à Virgínia em março. Lorde Baltimore os acon­selhara a evitar qualquer tipo de contato com os homens dali, gente cujos representantes na corte faziam tudo que estava ao seu alcance para impedir a colônia em Mary's Land. Porém, Leonard Calvert era portador de uma carta do rei para o gover­nador da Virgínia e tinha ordens para entregar pessoalmente a mensagem e os presentes que levava. Os colonizadores passa­ram nove dias na Virgínia, e os locais foram extremamente cor­diais, para surpresa do Governador Calvert. Quando partiram, levaram um mercador local de peles, o Capitão Fleet, para ser­vir de intérprete com os nativos. Ele conhecia bem o território de Chesapeake, e por isso seria também o guia da expedição.

Quando os navios atravessaram a baía de Chesapeake, os colo­nizadores se debruçaram sobre a balaustrada para olhar seu novo lar pela primeira vez. As florestas eram magníficas, reple­tas de madeira de espécies variadas. Kieran Devers sentia que finalmente encontrava seu lugar e estava espantado com a cer­teza daquela sensação. Como gostaria de ter Fortune a seu lado nesse momento! Teria sido esplêndido ver seu novo lar pela primeira vez na companhia da mulher amada. Mas, quando ela chegasse, teria uma casa pronta esperando por ela. Sabia que ela a amaria tanto quanto ele já amava aquela terra. Kieran correu à sua cabine para escrever uma carta para a esposa. As­sim que se instalassem, o Cardiff Rose retornaria à Inglaterra, e queria que a nau que o levara ao novo lar transportasse tam­bém seus pensamentos para Fortune. Escrevera-os diariamen­te para poder dividir com Fortune tudo o que ela deveria estar vivendo. Não sabia nem se seu filho já havia nascido.

Eles aportaram em uma ilha desabitada que chamaram de St. Clement. Os índios que tinham visto nas praias a leste e oes­te nos últimos dias não estavam ali. Uma cruz feita de troncos recém-cortados foi plantada no solo. O sacerdote do Governa­dor Calvert, Padre White, rezou uma missa solene. Posterior­mente, Leonard Calvert tomou posse de Mary's Land em nome de Deus, do Rei Charles I e de seu irmão, Lorde Cecil Baltimore. Era dia 25 de março do ano de 1634.

Nesse mesmo dia, em Queen's Malvern, Fortune entrava em trabalho de parto. Era pouco mais de meia-noite. De acordo com seus cálculos, o bebê devia ter nascido uma semana atrás. Fortune estava agradecida por poder contar com a presença materna, pois Róis, prestes a ter seu próprio filho, não era de grande utilidade.

Jasmine notou a expressão da jovem criada ao entrar no quarto de Fortune e disse:

— Saia. Mande Rohana e Toramalli imediatamente.

Róis lançou um olhar de gratidão para a duquesa e saiu apressada, ou tão apressada quanto era possível, consideran­do seu adiantado estado de gestação.

— Sinto dor, mamãe! — queixou-se Fortune. — Nunca ima­ginei que a dor fosse tão forte! Quando Índia entrou em traba­lho de parto, tive de sair para buscar você e papai. Ai! Quanto tempo vai demorar, mamãe?


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