Fortune, uma mulher impiedosa. Bertrice small



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— As crianças — propôs Jasmine, erguendo sua taça. — Vamos torcer para que essa união seja perfeita e frutífera.

— Aos nossos filhos — concordou Sir Shane. O duque de Glenkirk apenas ergueu a taça.

Jane Devers esboçou um gesto para erguer o cálice, mas sen­tia-se fraca. De repente, não sabia mais se Lady Fortune Lindley era mesmo a nora que queria ter. Seu irmão tinha uma filha adorável, Emily Anne Elliot, que seria simplesmente perfeita para William. Felizmente, ainda não haviam assinado nada! Havia tempo para prevenir seu querido menino, salvá-lo des­sa malfadada aliança. Nem todo o dinheiro do mundo poderia compensar a presença de uma nora cuja mãe se vangloriava abertamente de ter um bastardo. Como se não bastasse o cho­que anterior, um sacerdote entrava no salão na companhia do Reverendo Samuel Steen. Lady Jane levou a mão ao peito.

— Meu primo! — cumprimentou Jasmine com alegria. — Venha, tome uma taça de vinho conosco. E você também, Samuel Steen. Adali, mais duas taças.

— Primo? Shane! Ela chamou o sacerdote de primo! — mur­murou Lady Jane aflita para o marido. — Se ela é protestante, como pode ter um primo que é padre da Igreja católica?

— Eu era católico antes de me casar com você, minha que­rida. Muitas dessas famílias anglo-irlandesas são compostas por católicos e protestantes. Não se precipite, Jane. Tudo que vejo me faz crer que esse é o casamento ideal para nosso William. Veja, ele e a moça estão se entendendo bem. Em pouco tempo ele a terá conquistado, meu bem.

— Não tenho mais tanta certeza com relação a essa jovem. A mãe dela tem um padrão moral muito... flexível. Isso não me agrada. Talvez Emily Anne seja melhor esposa para William. E se essa Fortune Lindley for como a mãe dela? Tremo em pensar na infelicidade que ela pode causar a nosso filho.

— A moça parece ser vibrante, é verdade, mas nada há de errado em um pouco de vida entre os jovens, Jane.

— Por que ela não conseguiu encontrar um marido na Es­cócia, ou na Inglaterra, Shane? Responda! Talvez já tenha uma reputação arruinada sobre a qual nada sabemos, porque vive­mos aqui nesse fim de mundo. E, quando soubermos, será tar­de demais! — esvaziou o copo com evidente nervosismo.

— Adali, mais vinho para Lady Jane — instruiu Jasmine.

— Tenha um pouco de misericórdia, mulher — murmurou James Leslie para a esposa. — A pobre coitada já está de joelhos!

— Isso tudo é um engano — respondeu Jasmine no mesmo tom. — Não quero minha filha casada com o filho daquela mu­lher. Não sabe o que descobri há pouco.

— Mas tenho certeza de que vai me contar — riu o duque. — Esqueça Lady Jane, querida Jasmine, e olhe para sua filha. Ela e o jovem William estão se entendendo muito bem. Além do mais, a decisão não é sua, mas de Fortune. Em poucos meses ela completará 20 anos, e já recusou meia dúzia de respeitáveis pretendentes na Inglaterra e na Escócia. Todos tinham títulos de nobreza! Se é esse o homem que ela vai escolher, espero que seja feliz!

— Veremos — respondeu Jasmine, olhando atentamente para William. O rapaz não era parecido com a mãe, exceto pe­los olhos azuis. Era um bom começo, Jasmine concluiu. Ele ti­nha charme, era evidente, mas Fortune nunca se deixara en­volver por esse tipo de artifício. Porém, William parecia sincero em seu interesse pela jovem, e Jemmie estava certo. Fortune havia sido muito seletiva na escolha de um marido. Compraria para eles uma casa na Inglaterra, decidiu Jasmine. Nada os obri­ga a permanecer em Erne Rock. O jovem Mestre William iria gostar de morar na Inglaterra. Talvez em algum lugar próximo de Queen's Malvern, ou de Cadby, onde Henry se instalara. Assim poderia vê-los todos os anos e ainda teria a chance de participar dos períodos de reclusão pós-parto de Fortune, como fizera com índia! Sim, era isso! Daria a eles uma bela casa na Inglaterra como presente de casamento e faria de Fortune her­deira de Maguire's Ford.

— Conheço esse olhar — observou seu marido. — Em que está pensando, querida Jasmine?

— Não é nada. Estou apenas pensando que posso tornar a situação muito melhor para todos.

— Deus nos ajude...

Jasmine retomou o papel de anfitriã atenciosa.

— Querida Lady Jane — disse —, deve conhecer, é claro, nosso Samuel Steen. E este é meu primo, Padre Cullen Butler.

— Milady — cumprimentou o sacerdote com cortesia. Ela respondeu com um aceno de cabeça breve e seco, de­pois olhou em outra direção.

— É bom vê-lo novamente, Shane Devers — comentou Cullen como se não houvesse sido insultado, ignorando a gros­seria da mulher. Conhecia sua reputação e não estava ofendido com o tratamento indelicado. Devia ser doloroso para ela ter de ficar no mesmo salão com um padre católico.

— Padre — cumprimentou Shane com simpatia sincera. — Suponho que tenha visto Kieran recentemente.

— Eu o vejo, sim. — Não havia a necessidade de mexer na ferida. Nem ele nem a Igreja tinham sido responsáveis pelas decisões de Kieran.

— Os jovens parecem se dar muito bem — comentou o Re­verendo Steen.

— Sim — responderam os que o cercavam.

— Formam um belo casal, não?

Mais respostas afirmativas seguiram sua observação.

— Deve haver mais em uma boa união do que apenas dois rostos sorridentes — opinou Lady Jane com rispidez.

— Sou obrigada a concordar com nossa querida Lady Jane — disse Jasmine.

—Talvez — sugeriu o padre — Lady Fortune aprecie a idéia de levar Mestre William para conhecer a propriedade.

— Ótima idéia! — aprovou Fortune.

Sir Shane parecia ser um homem agradável, mas Fortune não havia gostado de Lady Jane, apesar de seu discurso melo­so e dos sorrisos largos. Queria uma chance de conversar mais com o belo William Devers, descobrir se ele a agradava, se ha­via a possibilidade de surgir algum interesse entre eles.

— Gosta de cavalgar? — perguntou ela ao rapaz.

— Não tenho um cavalo. Viemos na carruagem.

— Temos muitos cavalos aqui — respondeu Fortune, rin­do. — Adali, diga aos criados de um dos estábulos que precisa­mos de dois cavalos. Enquanto isso, vou vestir algo mais apro­priado. Contamos com sua permissão, mamãe?

— É claro que sim — concordou Jasmine. Entendia o que a filha estava fazendo e aprovava sua atitude.

Fortune retirou-se para retornar minutos depois.

— Vamos, William!

Ele a seguiu rindo, fingindo não notar a reação chocada de sua mãe diante do traje ousado da jovem dama.

— Sua filha monta de verdade? E usa calça?

William não ouviu a resposta da duquesa, mas podia ima­giná-la. Em sua opinião, a calça de Fortune era mais do que encantadora. Justa, revelava pernas bem-feitas e um traseiro arredondado e firme. Ela também vestia colete sem mangas fe­chado por botões dourados sobre camisa branca com mangas largas. Tudo nela ficava perfeito.

Fortune montou o garanhão cinza, deixando-o com o ani­mal negro e de boa musculatura. William montou sem dificul­dade.

— O nome dele é Oberon — informou Fortune. — Venha, siga-me!

Os jovens deixaram o pátio do castelo, passaram pela pon­te elevadiça e atravessaram o vilarejo cavalgando lado a lado, porque queriam desfrutar do ar puro e do dia agradável, mas também pretendiam conversar.

— Não monta uma égua?

— Não. Rory Maguire, o administrador da nossa proprie­dade, acredita que Thunder e eu fomos feitos um para o outro. Gosto de um cavalo com mais fibra, mais espírito, e Thunder tem uma natureza vibrante. Gosta de cavalgar?

— Sim, gosto muito. Ficar sentado examinando contas, como faz meu pai, não é nada divertido.

— Por isso temos um administrador para a propriedade.

— Não temem que ele roube seus bens? Afinal, o homem é um irlandês.

— Você também é. Pelo menos por parte de pai.

— Sempre me considerei britânico.

— Você nasceu na Irlanda. Vive na Irlanda. Seu pai é irlan­dês. Você é irlandês. Eu, por outro lado, tenho uma linhagem um pouco mais complicada. Meu pai era inglês. Meu padrasto é escocês. Minha mãe é filha de pai indiano e mãe descendente de ingleses, franceses e irlandeses. Sou sobrinha de um Gran­de Mugal, e meus meio-irmãos Leslie são parentes de um sul­tão otomano. Formamos uma família muito complexa, um ver­dadeiro labirinto de raízes.

— Você é fascinante. Jamais conheci mulher como você. Por que quer se casar comigo?

— Eu não sei se quero. Ainda não encontrei um homem para amar, e não me casarei se não for por amor. Suponho que tudo isso soe tolo e romântico, mas é como me sinto, William Devers.

— Meus amigos me chamam de Will. E espero que aprenda a me amar, Fortune, porque acho que já estou me apaixonando por você. É tão viva, tão vibrante!

— Que coisa encantadora para dizer, Will! Oh, veja, aquela é a árvore em que minha mãe enforcou o assassino de meu pai. Naquele galho, exatamente. — Ela apontou. — Dizem que mi­nha mãe nem piscou quando ordenou que ele fosse enforcado com o cinturão de meu pai, e que ela ficou parada assistindo a tudo até vê-lo morto. Na verdade, ele pretendia matar minha mãe. Ela e meu pai cavalgavam, e haviam parado para falar com minha irmã índia, que era muito pequena. Ela queria acom­panhá-los e pedia para montar com minha mãe, e quando mi­nha mãe se abaixou para pegá-la, o assassino disparou. Meu pai morreu no lugar dela. Os homens que voltavam dos cam­pos viram o brilho de um mosquete no alto da colina. Eles cor­reram e capturaram o culpado. Era o mesmo homem que mi­nha mãe havia mandado embora de nossa propriedade, o antigo administrador, e ele ousou reconhecer que sua intenção era matá-la.

— Por que ela o havia mandado embora?

— Ele era cruel, preconceituoso e insolente. Havia expul­sado de Maguire's Ford todos os moradores católicos e plane­java povoar o lugar somente com protestantes. Ele julgava mi­nha mãe atrevida demais para uma mulher e vivia dizendo que meu pai havia sido enfeitiçado por ela.

— Não aprova essa atitude de expulsar os católicos — de­duziu William.

— Não. Por que expulsar pessoas decentes e trabalhadores de suas casas? Por diferenças religiosas?

— Eles nos matariam, se tivessem uma chance.

— Sim, eu sei. E vocês fariam o mesmo. Há ódio e ressenti­mento dos dois lados, Will Devers. Entendo a situação, mas penso que os ingleses fariam melhor se viessem para a Irlanda simplesmente para governar, mas não... Os ingleses têm de pro­ferir a última palavra em todas as situações, e os irlandeses re­sistem com todas as forças. Isso é loucura!

— Você pensa demais para uma garota.

— Está sugerindo que não aprova uma mulher educada e instruída?

— Aprendi que o lugar de uma mulher é em casa, supervisi­onando seus criados e educando os filhos. Ela é responsável pelo bem-estar temporal e espiritual da família e deve agradar o ma­rido de todas as formas, fazendo de seu lar um lugar de paz.

— E uma mulher deve ser ignorante para fazer tudo isso?

— Minha mãe ensinou a minhas irmãs todas as formas de tarefas domésticas.

— E elas sabem ler? Ou sabem fazer contas? Falam outras línguas, além da materna? Conhecem a história de seu país ou sabem apontar no mapa onde fica o Novo Mundo? Elas po­dem olhar para o céu em uma noite clara e recitar os nomes das estrelas?

— Por que deveriam saber todas essas coisas?

— Como uma mulher que não sabe ler ou escrever pode administrar as contas domésticas? Se não sabe matemática, como pode ter certeza de que o administrador de seus bens não está roubando? Saber outros idiomas possibilita a comunicação com ingleses, franceses e alemães. Quanto ao resto, é divertido aprender, Will. O conhecimento dá poder àquele que o detém. Todas as mulheres em minha família são educadas. Pretendo educar meus filhos e filhas também. Você sabe ler e escrever, não sabe?

— Sim, é claro! Mas minhas irmãs não sabem. Mary, Colleen e Lizzie são casadas. Não precisam de uma educação como a que você descreve. Minha mãe nunca precisou. Ela foi a única filha de meu avô Elliot, sua herdeira. Meu pai quis se casar com uma herdeira porque era pobre em moeda, embora tivesse muitas terras. Meu avô queria para sua filha um homem com muitas terras e animais. É assim que os casamentos são decidi­dos, Fortune. Não importa se a noiva é educada ou não. O que conquista um marido é, antes de tudo, propriedades. Depois, um pouco de charme.

— Mesmo assim, prefiro ser uma mulher educada. As mu­lheres de minha família não são traídas pelos maridos, pois são interessantes na alcova e fora dela. Ouvi dizer que seu pai tem uma amante.

Ele corou.

— Jovens damas não devem discutir esses assuntos. Não devem nem saber que eles existem, para ser mais preciso. — Ele riu. — Você é muito atrevida, não é?

— Prefere as dissimuladas? Ou as recatadas, que riem bai­xinho e saem pelos salões caçando maridos?

— Não — disse ele, surpreendendo-se. Na verdade, gosta­va da franqueza dela. Sua mãe condenaria essa escolha, mas não cabia a ela decidir seu futuro. Jamais conhecera uma mu­lher como Fortune Mary Lindley e estava completamente intri­gado por ela. — Quantos anos tem?

— 19. E você?

— 23.

— Vê aquela colina? Vamos apostar uma corrida! — ela par­tiu num galope frenético sem esperar por uma resposta. Os ca­belos se desprenderam do coque, dançando ao vento como um véu de fogo.



William partiu atrás dela. Não estava apenas intrigado, mas excitado com a beleza flamejante e o discurso arrojado da jo­vem herdeira. Mal podia esperar para possuí-la na noite de núpcias, pois já havia decidido que ela seria sua esposa. Mes­mo que fosse miserável, ainda assim a desejaria. Talvez não como esposa, fossem essas as circunstâncias, mas a desejaria.

Fortune não fingiria ser mais frágil para deixá-lo vencer. Não era esse o seu jeito. Ela corria de verdade, mas podia ouvir o garanhão negro se aproximando. O dia começava a mudar de cor. O vento era frio, úmido. Logo a chuva começaria a cair. Fortune chegava ao topo da colina quando se deparou com um cavaleiro vindo em direção oposta. William parou ao seu lado.

— Kieran! — exclamou ele. — Esta é Lady Fortune Lindley. Fortune, este é meu irmão mais velho, Kieran Devers.

O cavaleiro alto e forte a olhou com atrevimento irritante.

— Vejo que é assanhada como poucas — disse.

— E você é o idiota de que ouvi falar — respondeu ela, furiosa.

Kieran riu. Depois, dirigiu-se ao irmão.

— Sua mãe a aprova, Willy?

— Ela aprova meu dote — respondeu Fortune pelo rapaz. — Mas está se precipitando, Mestre Devers, porque não há nada entre nós, e nem haverá, a menos que todos estejam de acordo quanto a um eventual noivado.

— Não se case com ela, Willy. Essa mulher é demais para você. Sua prima Emily Anne Elliot seria uma escolha mais apro­priada.

— Kieran! — William estava mortificado. Ele olhou para Fortune com o rosto corado pelo constrangimento. — Meu ir­mão está só brincando, Fortune. Ele tem um senso de humor bas­tante estranho. Por favor, perdoe-o. Ele não tem más intenções.

— Nenhuma — concordou Kieran, rindo. — Nenhuma má intenção, milady Fortune.

Ela o encarou com os olhos tomados pela fúria. Os olhos de Kieran eram verdes e profundos. Sua beleza era ultrajante. Sim, ele era ainda mais belo que o irmão. Havia nele uma aura de inquietação que contrastava com as maneiras civilizadas de William. Jamais teria adivinhado que os dois eram irmãos. Meio-irmãos. William Devers era parecido com o pai. Alto, forte e sólido, com os olhos azuis da mãe e cabelos castanhos com re­flexos dourados. O nariz era elegante, a boca, pequena, e os olhos eram espaçados no rosto redondo. Mas Kieran era ainda mais alto, com um rosto alongado e queixo quadrado, boca lar­ga e um nariz que parecia ter sido esculpido em granito. Ele era imponente e altivo, enquanto o irmão era a personificação do cavaleiro civilizado. Um homem como Kieran era perigoso. In­tolerável.

— O que veio fazer aqui, afinal? — perguntou William ao irmão.

— Achei que poderia contribuir para a causa unindo-me à família feliz. Assim o duque de Glenkirk teria certeza de que não estou interessado nas terras de meu pai. São suas com mi­nha bênção, irmãozinho. Como vê, milady, William Devers não chegará destituído ao leito de sua noiva herdeira. Satisfeita?

— Sua riqueza nada significa para mim. O que tenho é sufi­ciente para comprar meia dúzia de Devers de Lisnaskea várias vezes. Procuro um homem que possa amar, mais nada. E ago­ra, se me dão licença...

Fortune desceu a colina para voltar ao castelo.

— Uau! Que fogo — exclamou Kieran Devers, admirado. — Será um homem de sorte se puder conquistá-la, Willy. As ruivas são temperamentais, como deve saber! Ela será uma ti­gresa na cama, diabinho! Não sei se merece tudo isso. Sua mãe não vai gostar dela. Ela prefere Emily Anne, eu sei, mas a pobre Emily Anne não é uma herdeira com bens suficientes.

— Fortune é a mais bela jovem que jamais vi; e é interessan­te também. Ela diz tudo o que pensa.

— Eu percebi.

Os dois irmãos voltaram juntos ao vilarejo. Enquanto per­corriam a rua principal de Maguire's Ford, vários homens cum­primentaram Kieran, que respondeu a todos com uma piada bem-humorada, um aceno simpático e chamando-os pelo nome. William estranhou a atitude do irmão. Não sabia que as esca­padas de Kieran, como sua mãe se referia às atividades do en­teado, se estendiam até Maguire's Ford. No pátio do castelo, Kieran foi saudado por um homem ruivo e encorpado.

— Kieran, homem, como vai? — perguntou Rory Maguire. —Esse deve ser seu irmão. Como vai, Mestre William? Sou Rory Maguire, administrador da propriedade de minha senhora, a duquesa.

— Rory, você parece estar muito bem, como sempre. Sim, este é Willy, meu irmão — respondeu Kieran, desmontando.

— Não o vi no salão antes — comentou William.

— Não, senhor, porque não estive lá. Achei que devia res­peitar os sentimentos de sua mãe, porque todos sabemos como ela se sente. Acho que o primo de Lady Jasmine, o padre Cullen, é mais do que ela pode suportar.

William Devers riu.

— Sim, tem razão — concordou. Gostava desse Maguire. Sim, sabia que sua mãe havia decidido que, quando ele se ca­sasse e se apoderasse de Maguire's Ford, seu primo James Douglas seria um melhor administrador para Erne Rock, e James era um bom protestante. Porém, Fortune o fizera refletir quan­do perguntou por que alguém decente e trabalhador deve ser expulso de sua casa por ter uma opção religiosa diferente da de seu senhor. Além do mais, James Douglas nada sabia sobre ca­valos. De fato, ele os temia. Seria um péssimo administrador para uma propriedade que criava cavalos. William desmon­tou, dizendo:

— Vamos, Kieran, mamãe vai se surpreender.

Jane Anne Devers realmente manifestou surpresa por ver o enteado entrar no Grande Salão na companhia do meio-irmão. Porém, ele se vestia de maneira respeitável e parecia estar de bom humor. Esperava que ele não estivesse ali com a intenção de causar turbulência ou mal-estar.

— Kieran, querido — sorriu ela.

— Madame, adorável como sempre — cumprimentou-a Kieran, inclinando-se e beijando sua mão. Em seguida, ele se virou e se curvou diante da duquesa de Glenkirk, que estava sentada ao lado de sua madrasta.

— Sua graça, sou Kieran Devers. Espero não ser inconve­niente, mas, como sempre, fui vencido pela curiosidade. Vim apoiar meu irmão William na empreitada de tentar conquistar a mão de sua bela filha, que conheci há pouco. — Ele também beijou a mão de Jasmine.

— É muito bem-vindo em Erne Rock, Kieran Devers. Adali, traga uma taça de vinho para Mestre Devers. Junta-se a nós, senhor? — Ela acenou indicando uma cadeira ao lado da larei­ra. O homem tinha uma beleza rara e uma personalidade que saltava aos olhos. Pretenderia ele algum mal ou estava mesmo apenas curioso? Ela sorriu para Kieran Devers. — Já esteve em Erne Rock antes? Soube que sua mãe era uma Maguire antes de se casar com seu pai.

— É a primeira vez que visito a propriedade, sua graça. Obrigado — disse ele a Adali, que trazia o vinho.

— Encontramos Kieran quando cavalgamos há pouco — explicou William.

— Sim, ele já nos contou, querido — respondeu Lady Jane, paciente. Por Deus! William tinha de se portar como um pateta diante da duquesa? — Mas tenho certeza de que não poderá ficar, especialmente agora, que já saciou sua curiosidade. Onde está Fortune?

— Tolice! Seu enteado deve ficar conosco pelo menos por esta noite — anunciou Jasmine, determinada. — Sempre fui famosa por minha hospitalidade, minha cara Lady Jane. Fare­mos uma festa familiar. Espero poder conhecer suas filhas pos­teriormente.

— Apenas Colleen permanece na Irlanda. Mary e minha Bessie estão na Inglaterra, onde residem seus maridos. Colleen reside em Pale, perto de Dublin. Seu marido tem uma pequena propriedade lá. Ela é a única que poderá vir para o casamento.

— Se houver um casamento — lembrou Jasmine. Kieran Devers viu a madrasta empalidecer. Então, nada era certo como Jane Anne Devers apregoara. Interessante. De qual­quer maneira, a jovem era extremamente desejável por sua ri­queza, sem mencionar sua beleza; mas Jane Anne tinha certeza de que os Leslie não teriam ido até a Irlanda procurar um mari­do para a filha se não fosse impossível casá-la na Inglaterra por alguma razão. Afinal, de acordo com sua madrasta, um mari­do inglês era tudo que uma jovem podia querer. Ela conseguira casar na Inglaterra sua irmã mais velha, Moire, que passou a chamar de Mary desde o dia em que se casou com seu pai, e a própria filha, Bessie. Colleen, porém, a superara, apaixonando-se por Sir Hugh Kelly. Hugh, embora fosse filho de uma inglesa, era protestante, razão pela qual Jane Anne permitira com alegria o casamento irlandês.

— É claro que haverá um casamento — afirmou William, sorrindo. — Estou decidido a me casar com Lady Fortune. Ela é maravilhosa, e já estou encantado por ela!

— Por ela quem? — Fortune perguntou, que retornava ao hall depois de vestir-se novamente como cabia a uma dama. Com os cabelos presos como antes e usando o mesmo vestido verde, estava ainda mais linda depois da cavalgada que a dei­xara com as faces coradas.

— Por você, naturalmente — respondeu William com in­genuidade.

Fortune sorriu.

— Você é um tolo, Will Devers — ela o censurou, embora com tom suave.

"Isso mesmo, irmãozinho, use todo o seu charme com ela", Kieran pensou. Mas ainda achava que Fortune Lindley era de­mais para William. O casamento com ela o poria em situação insustentável. Estaria para sempre encurralado entre a mãe dominadora, que durante toda a vida havia dito ao filho o que fazer e como agir, e a esposa determinada que, evidentemente, comandava a própria vida e esperaria comandar também a dele. A guerra iminente e inevitável entre essas duas mulheres aca­baria por destruir seu irmão, uma criatura doce e de natureza sensível.

"Ah", disse a voz dentro dele, "então esse será seu argu­mento. Admita, Kieran Devers, está intrigado com a megera. Quer tê-la você mesmo. E ainda a desejaria se ela nada possuís­se?". Bem, mas ela era uma herdeira. E certamente se conside­rava boa demais para homens como ele. Fortune Lindley é or­gulhosa, mas também é romântica. Ela mesma dissera que só se casaria por amor, e por nenhuma outra razão. Ele, que nada possuía, não poderia desposar uma herdeira. Outros homens a teriam. Mas, se Lady Fortune Lindley era orgulhosa, Kieran Devers era ainda mais.

— O irmão de William passará a noite conosco — contou Jasmine à filha. — Não é maravilhoso, meu bem?

Fortune limitou-se a sorrir. O brilho em seus olhos dizia que a idéia não a agradava em nada. Como esse intruso ousava impor sua presença quando ela tentava saber mais sobre Will? Fortune não estava feliz. William Devers parecia ser um bom rapaz, mas tinha idéias muito antiquadas, uma mãe intragável e um irmão patife. Não sentia o coração bater mais depressa como esperava que acontecesse quando encontrasse o amor. O irmão mais velho despertava sentimentos mais intensos em seu peito.

Fortune conteve uma exclamação horrorizada. Por Deus! Ela olhou para Kieran e, para aumentar seu constrangimento, ele a encarou e piscou. Vermelha, ela abaixou a cabeça. Isso era impossível! Kieran Devers era totalmente inadequado e, pior, era católico praticante. Will Devers era muito mais apropriado para ser seu marido. Um dia ele herdaria as terras e o rebanho do pai; e, se era um pouco antiquado, saberia influenciá-lo para fazê-lo mudar. Não havia ninguém por quem se interessasse na Escócia ou na Inglaterra. Em poucos meses completaria 20 anos. Se não fosse William Devers, quem seria? Não o diabo de olhos escuros e sorriso largo.


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