Geografia Espaço e identidade Levon Boligian, Andressa Alves 2 Componente curricular Geografia



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. Acesso em: 16 jan. 2016.

Agropecuária tradicional de subsistência

A disseminação da agropecuária comercial moderna pelo mundo alterou as práticas agrícolas, os ecossistemas, os hábitos das populações nativas e, consequentemente, as paisagens geográficas. No entanto, é importante ressaltar que existem ainda grandes extensões de terra, sobretudo nos países em desenvolvimento, em que, por meio da utilização de práticas tradicionais, cultivam-se alimentos, como arroz, feijão, mandioca e batata, e criam-se bovinos, ovinos e caprinos.

De maneira geral, as atividades ligadas à chamada agropecuária tradicional de subsistência são desenvolvidas por meio de técnicas seculares de cultivo (como o terraceamento e o pousio) e de pastoreio (como a transumância). São exemplos de sistemas agrícolas tradicionais a atividade rizicultora na Ásia, a agricultura itinerante ou de roça na América do Sul e na África Subsaariana e o pastoreio nômade na África Setentrional. Nesses sistemas agrícolas, as tarefas diárias são desenvolvidas por famílias camponesas dentro de suas propriedades (mão de obra familiar) ou ainda, como no caso da atividade rizicultora asiática, por todos os integrantes da comunidade, em uma área de propriedade coletiva.

Para os camponeses, a terra é um meio de garantir a subsistência da família e da comunidade a que pertencem. Os excedentes da produção são trocados ou vendidos para que possam ser adquiridos bens não produzidos nas propriedades ou nas terras comunais. Portanto, mantêm-se nesses lugares relações de produção muito distintas daquelas vigentes na agropecuária capitalista moderna.

Vamos conhecer melhor alguns sistemas agrícolas de subsistência.
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Agricultura itinerante

A agricultura itinerante (ou de roça, como também é conhecida no Brasil) desenvolve-se plenamente em áreas pouco integradas ao sistema agrícola capitalista, principalmente nas regiões interioranas da América Latina e da África Subsaariana.

Nesse sistema agrícola, geralmente aplicado em pequenas propriedades rurais ou em áreas de posse, emprega-se mão de obra familiar e técnicas bastante rudimentares de cultivo. Uma delas consiste em derrubar a floresta ou a mata próxima ao local onde os camponeses estão sediados, aproveitando a madeira das grandes árvores. Em seguida faz-se a queimada, ou seja, ateia-se fogo à capoeira remanescente da derrubada, como forma de limpar o terreno para o preparo do solo e a semeadura.

Com a utilização continuada dessas técnicas tradicionais, em poucos anos ocorre o esgotamento da fertilidade dos solos, obrigando as famílias camponesas a buscar novas áreas para o cultivo, o que as mantém em constante deslocamento (daí a denominação agricultura itinerante para esse sistema agrícola). A área abandonada, por sua vez, entra em um período de repouso, que permite a regeneração parcial da fertilidade do solo.

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Morley Read/Alamy/Fotoarena

Área sendo preparada para o cultivo por pequeno agricultor na Comunidade de costa do Pacífico do Equador, em 2012.

Observe, no esquema abaixo, como ocorre o uso da terra por meio do sistema de roça.



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Dawidson França


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SABERES EM FOCO

Agricultura quilombola de roça

No Brasil, a agricultura itinerante ou de roça foi, durante muito tempo, criticada por especialistas, que a consideravam uma técnica danosa para a fertilidade dos solos e para o meio ambiente de maneira geral, já que destrói parte da fauna e da flora nativas. Contudo, um grupo de pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e da Universidade de São Paulo (USP) vem contestando essa ideia. Eles tomam como base a maneira como comunidades quilombolas da região do Vale do Ribeira, interior do estado de São Paulo, usam a técnica de roça.

Os estudos mais recentes desse grupo reforçaram a hipótese de que o método de plantio adotado pelos quilombolas – à primeira vista aparentemente agressivo por implicar o corte e a queima de áreas de vegetação nativa – tem baixo impacto sobre a floresta e os animais que a ocupam, como os próprios agricultores diziam há tempos. “O fogo destrói?”, indagou o biólogo Alexandre Ribeiro Filho [...] no Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP, ao apresentar os resultados de sua pesquisa de doutorado, em um debate organizado [...] sobre as formas de uso do território quilombola. “Nem sempre”, respondeu ele. Por meio de sensores enterrados no solo, Ribeiro Filho verificou que o fogo usado para abrir uma área de plantio faz a temperatura do solo subir em média 10 graus Celsius. Suas análises indicaram que as chamas, apesar do espetáculo impressionante, em geral queimam principalmente folhas e galhos finos, de modo que 85% da vegetação resiste e os nutrientes permanecem no solo. “De modo geral o fogo não altera a quantidade de matéria orgânica”, concluiu.

As roças, antes criticadas por supostamente prejudicarem a biodiversidade da floresta, podem até mesmo servir de fonte de alimento para animais da floresta, de acordo com a pesquisa de doutorado do biólogo Herbert Medeiros Prado, orientado [...] [pelo antropólogo Rui] Murrieta e concluído em 2012 no IB-USP. Em 60 áreas, usando câmeras fotográficas noturnas, Prado identificou antas, jaguatiricas, catetos (porcos selvagens), tamanduás-mirins, pacas, veados mateiros, cachorro-do-mato, gambás e um bicho raro, a irara-branca, mamífero de corpo comprido, pernas curtas e cauda peluda e longa. Os animais eram vistos tanto nas matas em regeneração ou secundárias, usadas para o plantio, quanto na floresta preservada.

FIORAVANTI, Carlos. Com os pés fincados na história. Pesquisa Fapesp, ed. 232, jun. 2015. Disponível em: . Acesso em: 16 jan. 2016.

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©DAE/Allmaps

Eduardo Cesar/Revista Fapesp

Área de cultivo, no sistema de roça, em comunidade quilombola do Vale do Ribeira, São Paulo, em fotografia de 2015.

Resolva os exercícios no caderno.

A denominação quilombola é usada no Brasil para se referir aos descendentes de africanos escravizados que, durante ou após o período de escravidão (abolida oficialmente em 1888), refugiavam-se em quilombos, comunidades agrícolas estabelecidas em terras devolutas de difícil localização. No Brasil, existiam, em 2015, cerca de 2600 comunidades quilombolas certificadas. Pesquise sobre a existência de comunidades quilombolas em seu estado ou em estados vizinhos, buscando novas informações a respeito da história, do trabalho, dos costumes e do seu dia a dia, bem como sobre a situação legal das terras que ocupam. Troque informações com os colegas.


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Rizicultura asiática

Na Ásia, continente mais populoso do mundo, há grande demanda por alimentos. Por isso, as áreas rurais são intensamente aproveitadas, sobretudo para o cultivo de arroz, base da alimentação de grande parte da população dos países asiáticos.

A escassez de áreas para cultivo levou os camponeses asiáticos a praticar a rizicultura mesmo em lugares de relevo bastante acidentado, como nas encostas das montanhas. Isso foi possível graças ao emprego da técnica de terraceamento, isto é, construção de “degraus” (terraços) em áreas de encostas íngremes (reveja a foto das páginas 60 e 61), que aumentam a área cultivável e protegem os terrenos da ação erosiva das águas pluviais. Além da rizicultura em terraços, são cultivadas áreas de planícies inundáveis (foto ao lado), por meio do sistema de jardinagem.



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Hoang Dinh Ham/AFP

Arrozal cultivado em sistema de jardinagem em Quoc Oai, nas proximidades de Hanói, capital do Vietnã. Foto de 2015.

As técnicas de terraceamento e de jardinagem são empregadas há mais de 2 mil anos e exigem o trabalho contínuo e conjunto dos camponeses em todas as etapas da produção: no plantio e no replantio de mudas, no controle de pragas e do nível da água armazenada nos terraços e na colheita dos grãos. Em geral, famílias inteiras trabalham em áreas agrícolas comunais e dividem equitativamente as safras.

No verão, ventos úmidos provenientes do Oceano Índico e do Pacífico provocam chuvas abundantes nas áreas continentais sul e sudeste da Ásia. É a chamada monção úmida, que ocorre entre os meses de maio e outubro. Com a chegada das chuvas, os agricultores iniciam o ciclo de plantio do arroz. Veja como ocorre todo o processo no esquema a seguir:

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Dawidson França


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Pastoreio nômade na África

O pastoreio nômade é uma prática tradicional de pecuária que ainda persiste em algumas partes do mundo, especialmente onde a agricultura é impraticável ou antieconômica, como as áreas desérticas e semidesérticas do planeta.

Na região do Sahel, área que margeia o sul do Deserto do Saara, na África, diversos povos praticam o pastoreio nômade. Na estação úmida, eles conduzem seus rebanhos (ovinos, bovinos, equinos e de camelos) para as áreas de pastagens na estepe, que ficam ao norte. Quando começa o período de estiagem, os pastores migram para o sul, nas áreas de campos de savanas, onde permanecem até o ciclo de chuvas seguinte.



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Pastoreio nômade de caprinos e bois no interior do Níger, África, em 2012.

Liba Taylor/Alamy/Fotoarena

Mulheres em foco

O Chapeleiro Maluco e as camponesas colhedoras de chá

Você já se imaginou tomando chá com o Chapeleiro Maluco de Alice no País das Maravilhas? O livro do autor Lewis Carroll, publicado em 1865, faz várias menções a esse típico hábito inglês.

O famoso “chá das cinco” tornou-se tradição na Inglaterra, sobretudo a partir de meados do século XIX. Inicialmente apreciado pela nobreza, tomar chá transformou-se uma mania nacional entre ingleses de todas as classes sociais a qualquer hora do dia, e não somente às cinco da tarde, como muitos imaginam.



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Walt Disney Pictures/Album/Fotoarena

Cena do filme Alice no País das Maravilhas, lançado em 2010.

O chá (Camellia sinensis) possui mais de 1500 variedades e é uma das iguarias que os britânicos importavam de suas colônias na Ásia, região de onde, até hoje, provém a maior parte do fornecimento desse produto. A planta é cultivada em grandes propriedades no sistema de plantation, com todas as etapas feitas manualmente e em péssimas condições de trabalho, sobretudo por mulheres camponesas que, em geral, ganham menos de 3 dólares por dia pela colheita de quase 30 quilogramas da folha da planta. Enquanto isso, algumas das marcas inglesas de chá mais prestigiadas cobram até 200 dólares por uma caixinha com 100 gramas do produto processado.



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Annie Owen/AFP

Camponesas colhedoras em plantação de chá no estado de Assan, Índia, em 2013.

Resolva os exercícios no caderno.

Com base na situação apresentada pelo texto, reflita com os colegas a respeito das condições de trabalho das mulheres camponesas no mundo. O que você sabe a respeito do trabalho das mulheres do campo em nosso país? E de todos os demais trabalhadores campesinos no Brasil? Anote as principais informações e ideias da turma.
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Revisitando o capítulo

Resolva os exercícios no caderno.



1. De que maneira a criação de instrumentos e o uso de novas técnicas de cultivo e de criação favoreceram o desenvolvimento das atividades agropecuárias no mundo? Como esse processo transformou as paisagens naturais do planeta?

2. Explique a influência do desenvolvimento da indústria na atividade agrícola mundial destacando o papel da tecnologia.

3. Caracterize a agropecuária comercial moderna.

4. Por que houve, nos últimos 60 anos, um declínio da participação da PEA no setor primário em todo o mundo?

5. Sobre o sistema agrícola de plantation:

a. explique sua origem histórica;

b. indique onde esse sistema ainda é amplamente utilizado;

c. cite os principais produtos agrícolas cultivados sob esse sistema.



6. Mencione dois exemplos de sistemas agropecuários tradicionais de subsistência.

7. Vimos que, atualmente, em todo o mundo são desenvolvidos diferentes sistemas agrícolas. Caracterize e compare os sistemas agrícolas tradicionais de subsistência e a agropecuária comercial moderna, destacando:

a. o nível de tecnologia aplicado;

b. o tipo de mão de obra empregado;

c. os principais impactos causados ao meio ambiente.



8. Em seu caderno, reproduza o texto a seguir, completando-o com a frase correta. Desde que a atividade fabril passou a subordinar a seus interesses econômicos as atividades agropecuárias e de mineração, • o campo passou a produzir alimentos para a crescente população urbana e matérias-primas para a indústria em desenvolvimento.

• o campo passou a receber a população urbana que buscava trabalho nas fábricas.

• o campo passou a produzir alimentos para a exportação e para a população rural.

• o campo passou a vender seus excedentes para a indústria e produzir cada vez mais para alimentar a população rural.

ANÁLISE DE IMAGEM E PRODUÇÃO DE TEXTO

O desenvolvimento de ferramentas, maquinários (como tratores e colheitadeiras) e produtos químicos (como fertilizantes e agrotóxicos) com o intuito de aumentar a produtividade no campo decorreu de estudos e tecnologias promovidas pela própria indústria.

O anúncio a seguir, publicado em 1900, divulgava um novo maquinário agrícola de uma indústria estadunidense. Com base no conteúdo do anúncio e do capítulo que acabou de estudar, componha em seu caderno um texto que explique, historicamente, a introdução desse tipo de tecnologia no campo. Para tanto, utilize as palavras-chave destacadas no quadro da próxima página.
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Boston Library, Boston

Publicidade da International Harvester Company of America, Chicago, Estados Unidos, 1900.

mão de obra – tecnologia – maquinário – solo – indústria – produtividade – propaganda – rentabilidade

INTERPRETAÇÃO DE TEXTO, PESQUISA E DEBATE

Leia o texto a seguir.



Polícia liberta 48 crianças escravizadas na Costa do Marfim

A polícia da Costa do Marfim libertou 48 crianças escravizadas durante uma operação realizada em plantações no cinturão de cacau do país africano e prendeu 22 pessoas acusadas de tráfico humano e exploração infantil, afirmou a Interpol nesta segunda-feira [22 de junho de 2015].

As crianças, de 5 a 16 anos, são do Mali, Guiné e Burkina Fasso, assim como do norte da Costa do Marfim, e foram libertadas durante uma operação entre 1º e 6 de junho [de 2015] na região produtora de cacau de San Pedro, afirmou a polícia internacional.

Algumas delas estavam trabalhando nas lavouras há um ano em condições extremas que estavam “comprometendo gravemente a sua saúde”.

Uma autoridade da Organização Internacional para as Migrações (OIM) disse que centros de cuidados foram criados na região para dar assistência médica e psicológica às crianças.

As prisões fazem parte de uma série de operações planejadas contra o tráfico e exploração de crianças na África Ocidental, disse a Interpol. “Estamos enviando uma mensagem muito clara aos proprietários de plantações e estamos enviando uma mensagem muito alta aos próprios traficantes”, disse o diretor assistente de serviços de tráfico humano e exploração infantil da Interpol, Michael Moran. “Se vocês traficarem essas crianças, haverá uma resposta da polícia.”

FARGE, Emma; BRICE, Makini. Polícia liberta 48 crianças escravizadas na Costa do Marfim. Reuters Brasil, 22 jun. 2015. Disponível em:


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