Geografia Espaço e identidade Levon Boligian, Andressa Alves 2 Componente curricular Geografia



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. Acesso em: 16 jan. 2016.

Boa parte dos alimentos que consumimos no dia a dia, ou da matéria-prima utilizada para fabricá-los, é produzida em regiões distantes de onde moramos, em outros estados ou mesmo em outros países, como mostra a manchete acima. Você sabe quais são as principais regiões produtoras de alimentos no mundo? Por que determinados tipos de produto são mais valorizados do que outros? Como chegam até o supermercado e à feira livre mais próxima? Neste capítulo, vamos entender como isso acontece.



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justyle/Shutterstock.com

Diversos tipos de pão, típicos de diferentes países. Feito em toda parte à base de farinha de trigo e fermento, é há milhares de anos o alimento mais consumido no mundo.

Principais regiões agrícolas do mundo

Observe o planisfério.

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Mapa: ©DAE/Allmaps

Fonte: Millennium Ecosystem Assessment. Disponível em: . Acesso em: 16 jan. 2016.
Página 79

O mapa mostra as áreas do planeta ocupadas de maneira mais significativa por cultivos e criações. Podemos delimitar a existência de cinco regiões agropecuárias de destaque no mundo, definidas também pela variedade de produtos, de sistemas agrícolas e por sua importância para a produção de alimentos e matérias-primas. Assim, destacam-se entre os países desenvolvidos as regiões agrárias que se estendem por Estados Unidos, Canadá e Europa; já entre os países subdesenvolvidos, destacam-se as regiões que se estendem pela América Latina, África Subsaariana e pelo Sul, Sudeste e Leste Asiático. Vamos conhecer melhor cada uma delas.



Agropecuária nos Estados Unidos e no Canadá

Os estadunidenses são os principais representantes da agropecuária comercial no mundo, com cultivos e criações nas quais se emprega alta tecnologia. O espaço agrário do país é dominado por latifúndios administrados por grandes empresas do setor alimentício. A paisagem agrária é dividida em cinturões agrícolas, ou belts, extensas regiões especializadas no cultivo de determinados produtos, como algodão, frutas tropicais, milho e trigo, além da criação de gado. Nos belts, as atividades rurais são caracterizadas por alto nível de especialização na produção, com monoculturas, agricultura intensiva e grandes rebanhos.

Parcela significativa das terras canadenses é imprópria para o uso agrícola em virtude do rigoroso e extenso inverno anual. Ainda assim o país tem participação importante na produção mundial de trigo, cultivado nos domínios das pradarias, ao sul do território, para exportação.

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Mapa: ©DAE/Allmaps

Fonte: BOCHICCHIO, Vicenzo Raffaele. Atlas Mundo Atual. São Paulo: Atual, 2009. p. 57.

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Bill Brooks/Alamy/Fotoarena

Plantação de trigo em Ontário, Canadá, verão de 2015.
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Agropecuária na Europa

Uma das principais características da atividade agrária no continente europeu é o intenso aproveitamento dos solos e das pastagens pela policultura intensiva, em geral desenvolvida em pequenas e médias propriedades rurais. A produção desses estabelecimentos é voltada quase exclusivamente para o mercado interno dos países ou para ser comercializada entre os membros da União Europeia.



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Philipe Roy/AFP

Colheita de uvas na região de Aquitânia, França, no verão de 2015.

Destacam-se as produções de cereais, como trigo, aveia, cevada e linhaça, sobretudo nas áreas de planície e de clima temperado. Também são importantes a produção de legumes (batata e beterraba) e a criação de aves e de gado leiteiro (vacas e cabras). Ao sul, nas áreas de clima mediterrâneo, destacam-se as produções de girassol e de oliva (para a fabricação de azeite), de uva (em sua maior parte para a produção de vinho), além de ameixa e pêssego.



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Mapa: ©DAE/Allmaps

Fonte: BOCHICCHIO, Vicenzo Raffaele. Atlas Mundo Atual. São Paulo: Atual, 2009. p. 63.

Agropecuária na América Latina

Entre as características de destaque da produção agrária latino-americana está o contraste entre as pequenas e as médias propriedades rurais e as grandes propriedades monocultoras. Estas produzem itens destinados à exportação, como cana-de-açúcar, café, soja, cacau e frutas tropicais, seja nos moldes da agricultura comercial, seja na forma de plantation. Aquelas utilizam mão de obra familiar, responsável por parcela significativa da produção de alimentos básicos destinados à população, como milho, mandioca, batata e feijão.


Página 81

Alguns dos principais produtos agropecuários no continente são: o trigo na Argentina, um dos maiores produtores mundiais desse cereal; as frutas de clima mediterrâneo (ameixas, pêssegos etc.), em especial a uva para a produção de vinho no Chile; a laranja e a cana-de-açúcar no Brasil, maior produtor e exportador mundial, além de gigantesco rebanho bovino, o mais numeroso do mundo, criado, em geral, no sistema extensivo.



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Ernesto Benavides/AFP

Povos que habitam os Andes colhendo batata em Pomacochas, distrito de Apurimac, 900 km distante de Lima. 2014.

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Mapa: ©DAE/Allmaps

Fonte: BOCHICCHIO, Vicenzo Raffaele. Atlas Mundo Atual. São Paulo: Atual, 2009. p. 47.

Agropecuária na África Subsaariana

A palavra subsaariana surgiu e se firmou devido à convenção geográfica eurocentrista, segundo a qual o Norte estaria acima e o Sul abaixo da Europa (daí o prefixo latino sub). Assim como as demais regiões agrícolas do mundo em desenvolvimento, a África Subsaariana é marcada pela presença das plantations, com lavouras tropicais cultivadas em grandes propriedades rurais. Nessa parte do continente africano, destaca-se a produção de cana-de-açúcar, algodão, amendoim, chá e frutas tropicais, como cacau, abacaxi e banana. Também é notória a produção de culturas alimentares, como a do inhame, da mandioca, do sorgo e do milhete, por meio de uma agricultura de subsistência, desenvolvida em pequenas propriedades ou em áreas comunais, nas aldeias do interior.



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Florian Kopp/Imagebroker/Glow Images

Homens e mulheres trabalhando nos campos irrigados em Cata-Village, Eastern Cape, África do Sul, 2012.

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Mapa: ©DAE/Allmaps

Fonte: BOCHICCHIO, Vincenzo Raffaele. Atlas Mundo Atual. São Paulo: Atual, 2009. p. 75.
Página 82

Competência de área 6: Compreender a sociedade e a natureza, reconhecendo suas interações no espaço em diferentes contextos históricos e geográficos.

Habilidade 27: Analisar de maneira crítica as interações da sociedade com o meio físico, levando em consideração aspectos históricos e(ou) geográficos.

De olho no Enem – 2012

A singularidade da questão da terra na África Colonial é a expropriação por parte do colonizador e as desigualdades raciais no acesso à terra. Após a independência, as populações de colonos brancos tenderam a diminuir, apesar de a proporção de terra em posse da minoria branca não ter diminuído proporcionalmente.

MOYO, S. A terra africana e as questões agrárias: o caso das lutas pela terra no Zimbábue. In: FERNANDES, B. M.; MARQUES, M. I. M.; SUZUKI, J. C. (Org.). Geografia agrária: teoria e poder. São Paulo: Expressão Popular, 2007.

Com base no texto, uma característica socioespacial e um consequente desdobramento que marcou o processo de ocupação do espaço rural na África Subsaariana foram:

a. exploração do campesinato pela elite proprietária – domínio das instituições fundiárias pelo poder público.

b. adoção de práticas discriminatórias de acesso à terra – controle do uso especulativo da propriedade fundiária.

c. desorganização da economia rural de subsistência – crescimento do consumo interno de alimentos pelas famílias camponesas.

d. crescimento dos assentamentos rurais com mão de obra familiar – avanço crescente das áreas rurais sobre as regiões urbanas.

e. concentração das áreas cultiváveis no setor agroexportador – aumento da ocupação da população pobre em territórios agrícolas marginais.



Gabarito: E

Justificativa: Questão complexa, que envolve conceituação sobre os movimentos sociais, além de conhecimentos gerais de Geografia Agrária e História, aplicados à realidade africana. A alternativa a está incorreta inicialmente pela aplicação inadequada do conceito de “campesinato”, que por indicar a exploração da terra por camponeses e seus familiares, não poderia ser utilizado como mero sinônimo do termo “camponeses”, como foi. Além disso, o texto apresentado como suporte foca na questão da propriedade das terras africanas pelos brancos e não de instituições fundiárias pelo poder público. No caso da alternativa b, embora tenham de fato ocorrido práticas discriminatórias de acesso à terra, privilegiando os brancos colonizadores, o que predominou nesse caso foi o uso real das terras por tais elites, e não especulativo, como sugerido. O distrator apresentado na alternativa ctambém é bem elaborado, pois, embora de fato tenha ocorrido a desorganização da economia de subsistência, isso levou ao menor, e não maior acesso por parte das famílias camponesas, ao consumo de alimentos. A alternativa d está incorreta em ambas as informações apresentadas, já que o que se verificou na África Subsaariana, de acordo com o texto, foi o aumento da concentração fundiária, reduzindo o número de assentamentos rurais com mão de obra familiar; além disso, também não houve o mencionado avanço de áreas rurais sobre as urbanas. A alternativa correta está na letra e., por tratar de fenômenos típicos associados à instalação de latifúndios, conforme ocorreu na região e foi destacado no texto apresentado como suporte.

Agropecuária no Sul, Sudeste e Leste Asiático

Essas regiões da Ásia têm papel marcante na produção mundial de alimentos, já que grande parte de sua população vive no campo, trabalhando diretamente na produção agrícola. Como vimos, no Sul, Sudeste e Leste Asiático destaca-se a rizicultura, base alimentar da maior parte da população do continente. A Índia, a China, o Japão e o Sudeste Asiático respondem por cerca de 80% da produção mundial desse gênero agrícola, cultivado, geralmente, por meio da agricultura intensiva familiar, em pequenas propriedades ou em áreas comunais.

Nessas regiões é notória também a presença de extensas plantations de algodão, juta, chá, cana-de-açúcar, fumo, látex e frutas tropicais, como cacau, coco, abacaxi e banana. A Índia e a China têm, ainda, papel fundamental na produção mundial de soja, milho e trigo, gêneros agrícolas que, nas últimas décadas, vêm sendo cultivados na forma de grandes monoculturas no sistema da agricultura comercial moderna.

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Pavel Gospodinov/Getty Images

Plantação de abacaxis em Bangladesh, próximo a Srimangal, Índia, 2013.
Página 83

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Mapa: ©DAE/Allmaps

Fonte: BOCHICCHIO, Vicenzo Raffaele. Atlas Mundo Atual. São Paulo: Atual, 2009. p. 69.

Fome e mercado mundial de produtos agrícolas

Observe as fotografias.

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Matthew Abbott/AP/Glow Images

Multidão espera por água em campo de refugiados da ONU que abriga 45000 pessoas em Bentiu, no Sudão do Sul, 2014.

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Mou Yu/AFP

Colheitadeira adentra plantação de milho em Wumaying, província de Hebei, norte da China, em 2015.

Resolva os exercícios no caderno.

Se existem vastas áreas do planeta destinadas ao cultivo e à criação, e safras cada vez maiores são colhidas a cada ano, por que há parcela significativa da população mundial em estado de desnutrição crônica? Converse com os colegas a respeito e anote as principais ideias da turma.

Ao contrário do que anunciava Thomas Malthus (1776-1834), no final do século XVIII, o ritmo de crescimento da população mundial não ultrapassou o da produção de alimentos (reveja o texto e o gráfico das páginas 29 e 30). Além disso, nas últimas décadas as safras têm batido sucessivos recordes por causa, principalmente, do uso e do aprimoramento de tecnologias ligadas ao setor agrícola e da ocupação de novas áreas para o cultivo, que deram origem às zonas de fronteira agrícola no interior dos continentes.


Página 84

Ainda que a produção de alimentos tenha crescido em proporções maiores que a da população mundial, verifica-se que a fome (leia o texto complementar a seguir) ainda é uma realidade em diversas partes do planeta. A quantidade de pessoas em estado de desnutrição crônica não declinou como almejava a Cúpula do Milênio, evento promovido pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2000, em que dezenas de chefes de Estado se comprometeram a reduzir pela metade o número de desnutridos em todo o mundo até 2015. De acordo com a própria ONU, existe atualmente cerca de 1 bilhão de pessoas em todo o mundo que vive em estado de desnutrição, ou seja, que não consegue consumir alimentos suficientes para suprir suas necessidades básicas diárias de energia (calorias).

Definindo pobreza, desnutrição e fome

Dos três problemas, a pobreza talvez seja o mais fácil de definir. De modo bastante simples, pode-se dizer que pobreza corresponde à condição de não satisfação de necessidades humanas elementares como comida, abrigo, vestuário, educação, assistência à saúde, entre várias outras. A desnutrição ou, mais corretamente, as deficiências nutricionais – porque são várias as modalidades de desnutrição – são doenças que decorrem do aporte alimentar insuficiente em energia e nutrientes ou, ainda, com alguma frequência, do inadequado aproveitamento biológico dos alimentos ingeridos – geralmente motivado pela presença de doenças, em particular doenças infecciosas. A fome é certamente o problema cuja definição se mostra mais controversa.

Haveria inicialmente que se distinguir a fome aguda, momentânea, da fome crônica. A fome aguda equivale à urgência de se alimentar, a um grande apetite, e não é relevante para nossa discussão. A fome crônica, permanente, a que nos interessa aqui, ocorre quando a alimentação diária, habitual, não propicia ao indivíduo energia suficiente para a manutenção do seu organismo e para o desempenho de suas atividades cotidianas. Nesse sentido, a fome crônica resulta em uma das modalidades de desnutrição: a deficiência energética crônica.

MONTEIRO, Carlos Augusto. A dimensão da pobreza, da desnutrição e da fome no Brasil. Estudos Avançados, São Paulo, v. 17, n. 48, maio/ago. 2003. Disponível em: . Acesso em: 16 jan. 2016.



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Mapa: ©DAE/Allmaps

Fonte: SCIENCESPO. Atelier de cartographie pour le Sénat, 2013. Disponível em:


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