. Acesso em: 19 mar. 2016.
Arquivo EM/D.A Press
Os reflexos da explosão demográfica brasileira podiam ser observados por meio das multidões que lotavam as partidas de futebol, já na década de 1960. Passaram a ser construídos estádios cada vez maiores para abrigar as crescentes torcidas. Na fotografia, partida entre Atlético Mineiro e Cruzeiro, no estádio do Mineirão, em Belo Horizonte (MG), no ano de 1967.
A queda do crescimento vegetativo brasileiro
O comportamento demográfico caracterizado por um alto índice de crescimento natural perdurou no Brasil até a década de 1970, quando as taxas de natalidade começaram a declinar (reveja o gráfico da página 44). Entre as principais causas dessa diminuição do número de nascimentos está a intensificação do processo de industrialização do país, o qual estudaremos na Unidade 3, que passou a atrair a mão de obra feminina para o mercado de trabalho. As empresas, sobretudo as de grande porte, começaram a oferecer um número maior de vagas para mulheres, já que contratá-las representava a oportunidade de obter mais lucros. Até hoje, os salários pagos às profissionais femininas são, em média, 26% menores do que os pagos aos homens que desempenham as mesmas funções.
Assim, uma parcela significativa da mão de obra masculina foi dispensada, fazendo aumentar as taxas de desemprego e crescer a proporção de mulheres obrigadas a assumir a posição de chefe de família, fato que influenciou diretamente nas taxas de fecundidade no país. Veja os gráficos da próxima página.
Página 47
Gráfico: ©DAE
Fontes: IBGE. Censo demográfico 2000: fecundidade e mortalidade infantil, resultados preliminares da amostra. Rio de Janeiro, 2002; (anos de 2000, 2010 e 2015) IBGE. Anuário estatístico do Brasil 2014. Disponível em: . Acesso em: 7 mar. 2016.
Gráfico: ©DAE
Fontes: IBGE. Anuário estatístico do Brasil. Rio de Janeiro, 1995. Disponível em: ; (ano 2013) IBGE. Sidra. Banco de dados agregados. Disponível em: . Acessos em: 19 mar. 2016.
Alex Tauber/Pulsar Imagens
Atualmente, as mulheres exercem as mesmas funções dos homens, mas os ganhos salariais são menores, em média. Na imagem, mulheres trabalhando na linha de montagem de uma fábrica de máquinas de lavar e fogões em Rio Claro (SP), 2013.
Há cerca de cinquenta anos, apenas 15% dos postos de trabalho no Brasil eram ocupados por mulheres. Atualmente, elas representam aproximadamente 47% da População Economicamente Ativa (PEA). Esse dado mostra que o contingente de mulheres responsáveis pela renda familiar aumentou significativamente nas últimas décadas. A redução do tempo de convivência familiar em razão da permanência no trabalho, além dos altos custos com alimentação, saúde, lazer e educação, levou as mulheres a optar por um número menor de filhos. Também colaboraram para esse comportamento demográfico os programas de planejamento familiar desenvolvidos pelo Estado por meio do Ministério da Saúde e a difusão de métodos contraceptivos, como preservativos e pílulas anticoncepcionais. Assim, o que se verifica nas últimas décadas é a queda gradual da taxa de natalidade.
O índice de crescimento natural da população brasileira calculado pelos especialistas para a década de 2010 é de 0,8% ao ano, quatro vezes e meia menor que o índice registrado na década de 1950, que era de 3,6%.
Página 48
• A estrutura etária da população brasileira
Nas últimas décadas, as mudanças ocorridas no Brasil, relacionadas à transição demográfica, têm alterado também as características da estrutura etária da população. Observe os gráficos a seguir, nos quais é representada a evolução da estrutura etária da população brasileira:
Gráficos: ©DAE
Fontes: IBGE. Anuário estatístico do Brasil. Rio de Janeiro, 1998; IBGE. Censo 2010: sinopse dos resultados. Disponível em: ; IBGE. Anuário estatístico do Brasil 2014. Disponível em: . Acessos em: 19 mar. 2016.
Até a década de 1980, o Brasil era caracterizado como um país de população jovem, faixa representada na pirâmide etária por uma base larga, e uma proporção reduzida de idosos, o que se verificava por meio do estreito ápice do gráfico. Desde então, devido à brusca queda na taxa de fecundidade iniciada na década de 1970, a parcela de jovens vem diminuindo gradativamente e a de idosos crescendo cada vez mais.
Os motivos dessa transformação, que os especialistas chamam de envelhecimento da população, estão ligados principalmente aos avanços nas áreas da medicina e da tecnologia farmacêutica. Para ter uma ideia da velocidade dessa mudança, basta observar que na década de 1940 a expectativa de vida do brasileiro não ultrapassava os 46 anos. Na década de 1960, tinha alcançado os 52 anos. Já por volta de 2015, a expectativa atingiu 75 anos. Essa evolução mostra que um número cada vez maior de brasileiros atinge a idade adulta – gerando o chamado bônus demográfico (visto na página 39, do capítulo anterior) – e a velhice, fato que, como vimos por meio dos gráficos, está mudando o perfil demográfico de nosso país, originando transformações de ordem socioeconômica e cultural. A respeito disso, leia o texto a seguir.
Página 49
Bônus demográfico e previdência social no Brasil
O Brasil está envelhecendo como país afluente, mas sem ter ficado rico. Em 1960 a taxa de fecundidade brasileira era de 6,0 filhos por mulher; em 2010 caiu para 1,9. A população crescia 3,2% por ano, mas em 2010 a taxa caiu para 1,17%. Muitas décadas de turbulência econômica induziram os 190,8 milhões de brasileiros do Censo de 2010 à opção por famílias menores. A continuação dessa redução voluntária deverá levar ao crescimento zero em 2039, num país de 219 milhões de pessoas, e a partir daí a população entrará em decréscimo.
Comparado a outros países, o Brasil chegará ao futuro com um território rico de recursos, terra agriculturável, água e florestas, e com uma população altamente urbanizada (84% já vivem em cidades). Além disso, desfrutamos de um “bônus demográfico”: o número de pessoas em idade de trabalhar ainda cresce mais rápido do que o número de dependentes (crianças até 15 anos e idosos de 60 anos ou mais), o que aumenta a força de trabalho e turbina o crescimento econômico. [...]
A partir de 2020, o envelhecimento da sociedade pesará muito. Um estudo do Banco Mundial, Envelhecendo em um Brasil Mais Velho, mostra que os atuais 19,6 milhões de brasileiros idosos (10,2% da população) poderão ser 64 milhões em 2050 (29,7%) – “números similares aos do Japão”, segundo o diretor do Banco Mundial no Brasil, o senegalês Makhtar Diop. Portanto, temos 20 anos para consertar o país e preparar a transição para uma sociedade envelhecida, na qual os gastos de saúde com idosos serão oito vezes maiores do que com crianças.
O desafio é tremendo, sobretudo diante do atual déficit da Previdência Social, de quase R$ 100 bilhões por ano. Com a demanda crescente por aposentadorias, o sistema gasta mais do que arrecada e o rombo aumenta. Há graves distorções entre as aposentadorias dos servidores públicos e as dos trabalhadores privados: os 24 milhões de aposentados do INSS (em geral 1 salário mínimo) geram R$ 42 bilhões de déficit, enquanto apenas 1 milhão de servidores aposentados (juízes, políticos, militares e funcionários aposentados com salário integral) geram R$ 52 bilhões.
Os impostos criados pela Constituição para sustentar a Previdência são desviados para outros fins, como é o caso da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) e da extinta Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF). Além disso, a sonegação é gigantesca: uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário mostra que a contribuição previdenciária é o imposto mais sonegado do país, à frente do Imposto sobre Circulação de Mercadorias (ICMS) e do Imposto de Renda. [...] Se estivesse nos eixos, o sistema poderia ser superavitário e não deficitário.
A precariedade do sistema público empurra os brasileiros aos fundos de aposentadoria privada[...]. Mas é óbvio que nem todos podem pagar por planos privados.
“É importante defender a reforma e o saneamento da Previdência Social, sem calote nem perda de direitos, em vez de empurrar a população para transferir recursos para fundos de capitalização privada”, diz o economista Jorge Felix, do Núcleo de Pesquisas Políticas para o Desenvolvimento Humano da PUC de São Paulo, autor do livro Viver Muito.
Página 50
O conserto da previdência caminha na direção contrária dos interesses do mercado financeiro, mas é evidente que pode ser solucionado – como a hiperinflação foi no passado. “Com políticas adequadas é possível envelhecer e se tornar desenvolvido ao mesmo tempo”, diz Makhtar Diop.
ARNT, Ricardo. 7 bilhões: expresso Terra lotado. Planeta, São Paulo, n. 465. 1º jun. 2011. Disponível em: . Acesso em: 7 mar. 2016.
Delfim Martins/Pulsar Imagens
Mulher idosa vende roupas usadas na calçada do Bairro Pirajá, em Juazeiro do Norte (CE), 2015.
Competência de área 2: Compreender as transformações dos espaços geográficos como produto das relações socioeconômicas e culturais de poder.
Habilidade 6: Interpretar diferentes representações gráficas e cartográficas dos espaços geográficos.
De olho no Enem – 2013
©DAE
IBGE. Censo demográfico 2010: resultados gerais de amostra. Disponível em:
Dostları ilə paylaş: