Guia para um seqüestro



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A segunda mensagem

Como vocês estão vendo eu estou bem e continuo com muita disposição de voltar logo para casa. Obrigado pelo anúncio no jornal e vamos continuar o plano já combinado. No próximo sábado, dia 1º de novembro, vocês entregarão a primeira parcela de 5 milhões de dólares.


A ordem é a seguinte:
Dois de vocês, Dr. Moisés e Sr. Júlio terão que conseguir um automóvel Gol 2003, cor branca, modelo popular, sem alarmes e ou quaisquer outros dispositivos contra roubo.
Coloquem o dinheiro no porta malas preparado da seguinte maneira:
Cada maço de dinheiro deverá ter 10.000 dólares enrolados com elásticos. Fazer cinco pacotes de 1 milhão cada um. Os pacotes deverão ser enrolados em plástico branco transparente e colado com fita adesiva branca transparente.
Isso feito colocar os pacotes, totalizando os 5 milhões dentro de uma sacola de nylon preta. Nada mais além dos pacotes com o dinheiro deverá estar na sacola, não importa o volume.
No dia 1º de novembro, vocês dois terão que vestir calça e camisa branca, tipo médico. Os sapatos também deverão ser brancos. Não usem óculos escuros ou nenhum tipo de chapéu. Não levem com vocês ou no carro nenhum tipo de celular, page, escuta ou rádio.
Às 11:30h da manhã, vocês dois deverão entrar no estacionamento da lanchonete situada na Av. Rebouças, esquina com Henrique Shaumann. Estacionem o carro e levem as chaves com vocês para dentro da lanchonete. Peçam um lanche, procurem uma mesa e aguardem.
Boa sorte, até breve e beijos. Eu estou bem por aqui.
A Doutora Irene ficou sorrindo para a câmara por uns segundos e pegou um jornal que estava em uma mesinha ao lado de sua cadeira e começou a ler. O jornal é um dos maiores em circulação no Brasil. A imagem foi mostrada de diversos ângulos e, descontraída, sem se incomodar com a filmagem, Doutora Irene continuou a leitura até o momento que a câmara deu um close-up na primeira página onde, claramente, se via impresso a data de impressão da circulação do jornal.
Quarta feira 29 de outubro de 2003.
Os três executivos reviram o filme pelo menos três vezes antes de decidirem que este era autêntico e que realmente a pessoa que mandara a mensagem era mesmo a Doutora Irene. Acharam aquilo tudo muito complicado e arriscado e gostariam de terem outras opiniões.
Dr. Moisés lembrou que estavam proibidos de discutir o assunto com outras pessoas e desde a primeira mensagem recebida já tinham se comprometido, entre si, de ir adiante com as exigências dos seqüestradores e, por força das mensagens do filme, acatar as ordens da Doutora Irene.
Decidiram que a melhor saída era mesmo seguir as novas instruções.
Antônio disse aos outros dois executivos que com certeza ele fora poupado dessa tarefa porque era o Vice-Presidente do grupo e filho da seqüestrada e, se por ventura saísse algo errado, ele teria que reparar os erros.
Na sexta-feira, no fim da tarde, Antônio preparou o dinheiro tal como as instruções recebidas de sua mãe e levou os 5 milhões de dólares para o seu apartamento. Requisitou três seguranças e pediu a um deles que dormisse na sala, sem contar-lhe qual era o conteúdo da sacola ou por que ele teria que dar plantão a noite toda.
No sábado de manhã, antes do Sr. Júlio e Dr. Moisés chegarem ao apartamento, Antônio já havia dispensado o segurança.
Os executivos chegaram vestidos de branco.
Antônio não se conteve e para descontrair o nervosismo dos três, brincando, perguntou o que eles eram, médicos ou enfermeiros?
Dr. Moisés respondeu antes de Júlio e disse que não eram nem uma coisa nem outra. Possivelmente alvos de terroristas acostumados a atirarem em coisas brancas.
Antônio tentou tranqüilizar os dois e lhes assegurou que tudo sairia bem se as instruções de sua mãe fossem seguidas corretamente. Ficou com os celulares dos dois e lhes desejou boa sorte. Se algo desse errado, era para um deles lhe telefonar imediatamente de um lugar qualquer para o seu novo celular.
Como o apartamento de Antônio era próximo da Av. Rebouças, os dois executivos saíram para o rendez-vous dez minutos antes da hora pré-marcada.
Enquanto o Sr. Júlio e Dr. Moisés seguiam para o encontro, Antônio permaneceu fechado no seu apartamento à espera das notícias. O que mais o preocupava eram os pensamentos negativos e até preocupantes que passavam pela sua mente, tais como:
Por um azar incrível serem roubados enquanto transportavam o dinheiro. Ou em caso de congestionamento no trânsito chegarem atrasados ao encontro. Ou um acidente envolvendo o carro deles ou até mesmo a polícia fazendo comando nas ruas e eles terem que abrir a sacola, se identificarem, explicarem o que estavam fazendo com uma sacola contendo cinco milhões de dólares. Essas possibilidades em sua imaginação o deixavam mais nervoso do que a própria demanda dos seqüestradores.

Às 11:30h, em ponto, entraram no estacionamento da lanchonete e encontraram, facilmente, um espaço para estacionar. A lanchonete ainda não estava recebendo o grande fluxo de clientes que começa a chegar após o meio dia. Um pouco nervosos e desajeitados com o novo uniforme, foram direto para o balcão da lanchonete e pediram dois hambúrgueres, fritas amigas e Coca-cola.
Não esperaram muito e já havia outros clientes atrás deles na fila do caixa, na maioria jovens e mulheres com crianças, todos decidindo o que iriam lanchar.
Após pagarem, em dinheiro, pelo lanche pedido sentaram-se em uma mesa no piso térreo.
Dr. Moisés e Júlio não conseguiram comer seus lanches acompanhados das amigas fritas. Conversavam em voz baixa e para não atraírem muita atenção, apesar do nervosismo, não ficaram olhando para todos os lados como se estivessem esperando alguém. Restringiram-se a tomar suas Coca Colas geladas enquanto aguardavam por algum acontecimento.
Uma senhora, com uma criança de colo, que aparentemente acabara de tomar um lanche, ao passar ao lado deles derrubou sua bolsa e Júlio mais que depressa tentou ajudá-la. Esta muito sorridente reclamou que quando está com o filho no colo é difícil prestar atenção em tudo. Agradeceu-o e disse com uma voz calma e suficientemente baixa para que outras pessoas de outras mesas não a ouvissem.
A Doutora Irene lhes enviou um envelope, que foi colocado no pára-brisa de seu Gol branco no estacionamento. Por favor, esperem cinco minutos após minha saída e dirijam-se para o seu carro.
Agradeceu a gentileza, disse até logo, e saiu pela porta da frente sem se voltar para trás, entrando em um taxi especial que a esperava um pouco à frente da lanchonete.

Os dois terminaram seus refrigerantes, sempre olhando para os relógios, e saíram em direção ao estacionamento assim que os cinco minutos se passaram.
Lá chegando, notaram que havia um panfleto de imobiliária no pára-brisa do Gol e, no meio deste, um envelope. Entraram no carro, e Júlio abriu o envelope onde havia um bilhete escrito à mão com letra e assinatura da Doutora Irene.
Júlio começou a ler o bilhete, em voz alta, com as mãos trêmulas.

O primeiro bilhete
Por favor, saiam da lanchonete agora e dirijam-se para o Motel Gay’s Haven na Rodovia Raposo Tavares KM 17, sentido capital interior. Após se identificarem na portaria, digam que estão com a suíte 24 reservada em nome do Dr. Moisés Farias. A suíte já esta paga. Ao entrarem na garagem da suíte, deixem a chave no contato e sacola com o dinheiro no porta malas, abaixem o toldo da garagem. Dirijam-se para a suíte, fiquem lá dentro, tranquem a porta e esperem novas instruções minhas. Creio que não é necessário dizer que tudo isso aqui combinado continua no mais absoluto sigilo como anteriormente.
Até breve.
Assinado: Irene Fontoura

Quando Júlio terminou de ler a mensagem, Dr. Moisés já dava partida no Gol perguntando que horas eram.


São doze e dez, respondeu Júlio que começara a ler novamente o bilhete para se certificar do nome e endereço do Motel.
Dr. Moisés colocara o carro em marcha e se dirigia para a saída da lanchonete, em direção à Rodovia Raposo Tavares. Nervoso, olhava no retrovisor do carro para ver se estavam sendo seguidos por alguém.
O caminho lhe era familiar, uma vez que mensalmente ia até o seu sítio em Ibiúna pela mesma rodovia.
A assinatura, sem dúvida, é a dela, disse Júlio, e espero que a entrega desse dinheiro seja resolvida no Motel, pois se tivermos de sair de lá para outro encontro vou ter um infarto.

$ 5.000.000,00 de dólares

Ao chegarem no Motel, Dr. Moisés deu seu nome e sobrenome dizendo à recepcionista que tinha a suíte número 24 reservada.


A recepcionista, com um olhar malicioso, pediu um documento de identidade e lhes passou a chave da suíte dizendo que a reserva estava paga até às 18 horas com direito a almoço. Caso eles ficassem após às dezoito horas teriam que pagar outra diária. Deu-lhes informações para chegarem até a suite, a chave e instruções de como o serviço de bar e restaurante funcionava.
Os dois executivos agradeceram e dirigiram-se para suíte.
Dr. Moisés estacionou o Gol dentro da garagem da suíte, deixando a chave no contato e a sacola com o dinheiro dentro do porta-malas, seguindo as instruções dadas. Após se certificarem que ninguém os via, baixaram o toldo da garagem e imediatamente subiram uma pequena escada até a suíte. Entraram e fecharam a porta com a chave.
Na suíte, entreolhavam-se em silêncio sem saber sobre o que falar, o que iria acontecer e como iria terminar o desfecho da primeira parcela da entrega do dinheiro.
Será que ficaremos, também, sem o carro, além do dinheiro? especulou Júlio.
Tudo é possível, confesso que não tinha pensado nessa possibilidade, respondeu Dr. Moisés. Vamos esperar e ver o que acontece.
Após cinco minutos de espera, que pareceram uma eternidade, a campainha da janela giratória de serviços tocou.
Júlio que estava mais próximo do telefone atendeu pensando que era o interfone ao lado da cama. Foi quando notou que a luz da janela giratória de serviços acendeu-se e que som da campainha viera de lá.
A janela tinha acabado de girar, ficando com o lado aberto exposto para dentro da suíte. Na pequena bandeja fixa da janela estava outro envelope com um bilhete em nome de Dr. Moisés e Júlio.
O envelope era subscrito à mão e a letra parecia muito a da Doutora Irene.


O segundo bilhete

Escrevam no verso desse bilhete, agora, os números dos três celulares novos que vocês adquiriram recentemente. Coloquem o bilhete dentro do envelope novamente e coloquem-no de volta na bandeja da janela giratória. Isso feito, liguem a TV em um volume bem alto e escolham algo do cardápio para duas pessoas. Peça ao restaurante para servirem os dois almoços às 14:30h.
Só saiam da suíte após terminarem as refeições.
Assinado: Irene Fontoura

Júlio e Dr. Moisés rapidamente seguiram as instruções e concordaram que a melhor coisa a fazer, no momento, era mesmo chamar o serviço de restaurante apesar de nenhum deles estar com fome.
Dr. Moisés pediu que Júlio lhe passasse o cardápio e depois de lê-lo rapidamente comentou que o menu da Gaiola dos Gays pelo menos tinha boas opções culinárias.
Eu vou pedir um filé mignon ao ponto com salada de palmito de pupunha e água mineral com gás disse passando o menu para Júlio. Veja o que você quer pedir.
Júlio achou graça do comentário e após analisar o menu rapidamente disse que queria um filé de badejo com legumes e suco de acerola.
Ligou pelo interfone no ramal de serviços e fez o pedido para as duas refeições, dizendo que queriam ser servidos às 14:30h. Não se contendo, perguntou se ele podia ligar da suíte para fora do Motel e se alguém tinha deixado algum recado para eles.
A garçonete após anotar o pedido para os dois almoços lhes respondeu que era só discar o número nove, aguardar sinal de linha e depois o número desejado e que não havia nenhum recado para eles.

Júlio agradeceu e desligou o telefone. Logo a seguir perguntou ao Dr. Moisés se era uma boa idéia ligar para o Antônio no telefone do Motel e lhe dizer o que estava ocorrendo.
Dr. Moisés respondeu, mais do que depressa, que era uma péssima idéia, pois os seqüestradores poderiam estar ouvindo na extensão, além do quê as instruções da Doutora Irene eram de comentar sobre o assunto só pessoalmente ou pelos novos celulares que no momento não estavam com eles.
É melhor falar com o Antônio mais tarde em seu apartamento. Você já fez a bobagem de perguntar se tinha algum recado com a recepcionista. Isso não estava nos planos e é melhor daqui para frente pensar duas vezes antes de tomar qualquer decisão não combinada previamente.
Você tem razão, desculpou-se Júlio, ao mesmo tempo que ligava a TV para passar o tempo e descontrair-se.
Os dois estavam ainda muito nervosos com todo o desenrolar dos acontecimentos dramáticos dos últimos dias.

Após uma longa espera, vieram as refeições.
Eles foram alertados, novamente, pela campainha da janela giratória. Dessa janela não dava para ver quem estava do lado de fora e nem a pessoa de fora podia ver quem estava dentro da suíte. Esse era um sistema seguro que dava privacidade aos clientes do Motel. Para acessar a janela o garçom teria que vir pela garagem e a única coisa que via era o carro estacionado.
Pela janela giratória, passavam as refeições, serviços de bar e agora bilhetes.
Alguns laboratórios de análises clinicas também usam o mesmo sistema de privacidade, disse Júlio ao Dr. Moisés enquanto se sentava em uma pequena mesa redonda de vidro para almoçar.
Com nós dois aqui dentro vestidos de médicos, parece mesmo que estamos em uma clínica, comentou Dr. Moisés que também se sentou e começou a cortar o seu filé mignon.
Não pediram sobremesa e de comum acordo resolveram ir ao encontro de Antônio já que tudo tinha corrido bem e já passava das 15:30h.
Desceram a escada da suíte e se dirigiram ao Gol que permanecia no mesmo lugar onde tinham estacionado.
Dr. Moisés abriu o porta-malas do Gol para certificar-se que a sacola com o dinheiro tinha sido levada.
O dinheiro se foi, mas deixaram a sacola, comentou Dr. Moisés um tanto aliviado. Fechou-o e pediu a Júlio para levantar o toldo da garagem e entrar no carro.
Ao saírem, entregaram a chave da suíte à recepcionista. Dr. Moisés, por força de costume e com um rápido raciocínio de advogado, pediu um recibo. – Poderei vir a precisar dele mais tarde, pensara.
A recepcionista disse que o recibo já tinha sido entregue aos seus colegas médicos do Hospital que saíram uma meia hora antes. Eles já tinham pago a conta antecipada, ontem à tarde, quando chegaram para a noite de núpcias. – Disseram-me que hoje iriam para Porto Alegre em lua de mel. Voltem sempre disse a recepcionista, sorrindo aos dois médicos.
Júlio não se conteve e disse ao Dr. Moisés:
Agora todos vão pensar que além de sermos médicos somos também gays.
Isso não importa, respondeu Dr. Moisés, pelo menos tudo correu bem e terminamos o primeiro round. Vamos relatar ao Antônio tudo o que ocorreu no Mac Donalds e no Motel.
Depois é só aguardarmos o próximo round. O importante é que a Doutora Irene continua viva.
Saíram do Motel e entraram na Rodovia Raposo Tavares rumo a São Paulo. O fluxo do trânsito na rodovia não estava carregado como de costume e logo chegaram ao Butantã, em seguida atravessando a ponte Eusébio Matoso e de lá dirigiram-se, então, para os Jardins onde morava Antônio.

Esse os recebeu com um forte e tremido abraço, não conseguindo esconder seu nervosismo. Assim que fechou a porta da sala, foi logo perguntando os detalhes do encontro na lanchonete.
Dr. Moisés perguntou a Júlio se ele queria relatar os fatos.
Júlio agradeceu e sugeriu que seria melhor o advogado falar, pois tinha o melhor domínio da palavra e poderia descrever os fatos ocorridos na lanchonete e no motel com mais detalhes.
Que história é essa de Motel? perguntou Antônio.
Sente-se, por favor, disse Dr. Moisés, delicadamente, a Antônio.
Pediu a Júlio que servisse algo para os três beberem. Para ele poderia ser um Buchanan’s dezoito anos com gelo.
Acho que vou precisar de um, também, disse Antônio.
Enquanto Júlio preparava os drinks, Dr. Moisés começou a relatar, calmamente, os fatos ocorridos desde o momento que entraram na lanchonete até o momento em que saíram do Gay’s Haven Motel.

Dúvidas

Após ouvir o relato completo que durou mais de meia hora, Antônio ficou calado, pensativo por uns segundos, e olhando bem nos olhos do Dr. Moisés, perguntou:
Você acha que o que estamos fazendo é a decisão certa?
Como assim? perguntou Dr. Moisés.
Antônio tentou ser mais específico e adicionou.
Nós fizemos a nossa parte. O dinheiro está pronto e não foi marcado com nenhum dispositivo de identificação. A mudança do local da entrega da primeira parcela foi opção deles. Por enquanto, tiramos os negociadores e conseqüentemente a polícia do caso. Mesmo que os nossos telefones estejam grampeados, pela polícia, já paramos de falar sobre o seqüestro nesses números. A polícia não sabe dos novos celulares em nome de terceiros que estamos usando, no momento, portanto não há muito que eles possam fazer e isso, hoje, nos dá mais liberdade de ação sem a interferência dos negociadores e da polícia.
Sinceramente, com esses procedimentos, acredito que minha mãe corre menos risco de vida.
Ontem e hoje recebi vários telefonemas, no meu celular, dos negociadores da Inglaterra e Israel. É a RELEASE pedindo para entrarmos em contato com urgência. Não sei se eles têm alguma informação para nós ou se é pressão contratual.

Mandei um e-mail dizendo que você iria contatá-los na segunda feira.
Quando da assinatura do nosso contrato com a RELEASE, logo após o seqüestro, eles comentaram e, depois disso, aprendi a respeito, com outras fontes, que na maioria dos casos de seqüestro de pessoas milionárias ou de super executivos de grandes empresas a polícia começa a investigar o caso, para valer, após o pagamento do resgate e a libertação da pessoa seqüestrada.
Isso porque, se a polícia começar a se envolver e dar palpites durante as negociações com o seqüestro em andamento e os seqüestradores ficarem sabendo o que poderão ser presos antes de receberem o valor do resgate ou até mesmo no momento do pagamento, eles não tem outra opção a não ser descartar a vítima ou até mesmo a executá-la.
A polícia sabe desse risco, mas só param as investigações se a família ou os negociadores da família exigirem que saiam do caso.
Por outro lado, existem casos em que a polícia não é sequer comunicada. Não é feita nenhuma ocorrência e mesmo após a vítima ser libertada, depois do pagamento de resgate, a família, a própria vítima ou a empresa que emprega a pessoa seqüestrada ainda optam por não envolver a polícia.
Pelo que tudo indica estamos, por enquanto, indo nessa direção.
Estudos e estatísticas mostram que esse tipo de comportamento, no Brasil, é resultado de comprovada corrupção na polícia e, principalmente, envolvimento, no passado, de policiais da polícia. No Mato Grosso do Sul, houve um caso em que policiais eram os próprios seqüestradores. A vítima foi executada, conhecia seus seqüestradores. Recentemente, aqui em São Paulo, houve um caso em Campinas que a segurança dos seqüestradores era feita por um policial.
No nosso caso, os seqüestradores podem terem dúvidas ou não qu`nto ao envolvimento da polícia nas negociações e entrega do dinheiro. Hoje tiveram uma prova de que a polícia está fora, já que tudo correu bem, ou seja, as instruções de minha mãe foram obedecidas, levaram o dinheiro e a polícia não apareceu.
Dr. Moisés respondeu:
OK! Antônio, entendi o escopo de suas preocupações. Vou lhe dizer o que penso de toda essa situação, das nossas decisões e inclusive o que acho dos negociadores, principalmente, depois da entrega da primeira parcela do dinheiro.
Desde o começo deste drama e, principalmente, após termos recebido a primeira mensagem da Doutora Irene, optamos por um lado que daria aos seqüestradores quase todas as vantagens possíveis.
Isso porque o nosso único objetivo é a liberdade da Doutora Irene. E respondendo a sua pergunta inicial, a resposta é sim. Acredito que tomamos a decisão certa.
Desconsidere quaisquer opções que poderiam ser, também, certas. Vamos nos concentrar que, agindo da maneira em que os seqüestradores nos ordenarem, teremos mais agilidade para terminar o quanto antes esse seqüestro.
Eles não querem ficar com ela indefinidamente, e nós também não queremos isto.

A cartada máxima


Vou relacionar três exemplos de detalhes diferentes que pude observar a respeito dos seqüestradores.
Não vou incluir nesses exemplos a ação cinematográfica dos seqüestradores no dia do seqüestro simulando uma pane espetacular no avião deles que enganou a todos, principalmente nossos pilotos e o Careca. Os seqüestradores se comunicando entre eles, inclusive, em espanhol. O casal inglês convidado de sua mãe jura que o líder do grupo, apesar de falar com eles em inglês, era de fato francês. Ainda não calculei o investimento em dinheiro deles na ação. Nós já falamos muito sobre isso, logo após o ocorrido, mas é bom não esquecer a audácia e o profissionalismo dessas pessoas, sejam lá quem forem.
Primeiro:
Vocês se recordam do envelope com as exigências deixadas no local do seqüestro, no bolso do Careca e endereçado para nós? Pois é! Na lista das exigências só haviam dois itens. Lembram-se?
1 – Não avisem a polícia em hipótese alguma.
2 – A Doutora Irene Fontoura estará bem conosco, tratando de alguns negócios. Para segurança dela, é melhor vocês dizerem a todos que ela viajou para se tratar no exterior. Entraremos em contato brevemente.
O papel que estava escrito as exigências tem uma espécie de marca d’água de um baralho com uma jogada de pôquer. A jogada é um Royal Straight Flush de ouro. Pelo que sei sobre pôquer, observei que era a jogada máxima do jogo.
Será que foi somente uma casualidade que o papel carta usado pelos seqüestradores tinha essa marca d’água, ou foi um recado que somente agora percebemos ?
Meu Deus! Interrompeu Júlio, quase aos gritos dirigindo-se ao Dr. Moisés, tirando, ao mesmo tempo, do bolso o bilhete com as instruções para saírem da lanchonete e dirigirem-se para o Gay’s Haven Motel.
Olha aqui! disse Júlio a Antônio e ao Dr. Moisés. Olha aqui! É a marca d’água do Royal Straight Flush.
Antônio e Dr. Moisés se levantaram para ver o bilhete com a marca d’água nas mãos de Júlio.
Agora está confirmado o que eu estou tentando explicar para vocês, falou Dr. Moisés.
Hoje no carro, enquanto dirigia e procurava o melhor caminho para chegar o mais rápido possível ao Motel, não prestei atenção no bilhete, muito menos vi a marca d’água, pois foi o Júlio quem abriu o envelope e o leu, em voz alta, para nós dois.
Agora quem diz meu Deus! sou eu. Esse bilhete confirma minha teoria. Acho que é justamente isso que os seqüestradores estão fazendo conosco, falou Dr. Moisés a Antônio e Júlio.

Eles não mencionaram nada sobre a marca d’água, ou jogo de pôquer. É justamente essa a conclusão que eu estava chegando, hoje, após a entrega da primeira parcela do dinheiro e observar como eles operam.


Agora com este bilhete aqui está tudo confirmado. Os seqüestradores têm a jogada máxima em mãos.
É a Doutora Irene, e nós não temos outra escolha a não ser pagar. Não existe mais espaço para blefar ou desistir do jogo. As cartas já estão na mesa.
Se por acaso um dia, em um jogo de pôquer, vocês tiverem uma jogada dessa na mão, podem apostar até a mãe que com certeza irão ganhar. É óbvio que não quero ofender você, Antônio, mas essa é a expressão que jogadores usam numa mesa de pôquer quando se tem o Royal Straight Flush. Pelo menos era, nos meus tempos de faculdade, complementou Dr. Moisés.
Ainda bem que concordamos em pagar o resgate à maneira deles.

Segundo:
A percepção, determinação e organização dos seqüestradores, no que diz respeito à data em que foram gravadas as mensagens da Doutora Irene é tanta que eles se anteciparam e forneceram uma prova de vida que eventualmente iríamos pedir. Por exemplo:
Na primeira mensagem que a Doutora Irene enviou dando suas instruções, ela aparece como o foco principal do filme. Agora se olharmos bem o filme vamos notar a TV, no fundo do quarto, ligada no noticiário nacional, ao vivo do meio dia, com o som baixinho. Eu já pedi uma cópia do noticiário para o canal 5 para termos a certeza. Na Segunda-feira, estará na VÊNUS.
Na segunda mensagem, o filme mostra a leitura da primeira página de um jornal com close-ups da sua data de publicação.
Terceiro:
Até hoje temos dúvidas se a Doutora Irene leu a mensagem, se ela a memorizou ou se falou de livre e espontânea vontade.
Esses três detalhes isolados, por si, provam que não estamos lidando com amadores iguais àquele que raptou a filha de um dos donos de uma rede de TV em São Paulo.
O Júlio e eu, hoje, sentimos na pele a pressão das ordens dos seqüestradores, algumas delas achei até mesmo simplórias, como a do encontro na lanchonete. Um espaço quase que todo aberto onde se deu o primeiro encontro.
Mas se analisarmos bem, a lanchonete vive cheia de crianças. A mulher que nos passou o bilhete tinha uma criança no colo e em caso de um desfecho dramático, com a polícia, todos teriam que pensar três vezes antes de puxar uma arma e tentar prender alguém em um ambiente que na sua maioria são crianças.
No Motel, havia um espaço enorme, mas com diversos apartamentos privados, menos simplório diria eu. Agora só Deus sabe quantos deles estavam espalhados pelas diferentes suítes e desde quando. Se na Limoeiro eles eram mais de 20, imagine quantos viriam para o local onde seriam pagos em dólar.
Entendo a sua preocupação com os negociadores e pensei muito após dispensarmos o pessoal da RELEASE. Nós os contratamos justamente por ser a melhor empresa do planeta na área de negociar e resolver situações de seqüestros. A sua lista de sucesso é enorme, principalmente na Colômbia e México. O que o Júlio e eu fizemos hoje seria, entre outros, um trabalho para eles.
Vejam bem! Até nisso, os seqüestradores se anteciparam e pediram que os tirássemos fora das negociações. Não disseram o nome da RELEASE, especificamente, mas sabiam que teríamos negociadores ao nosso lado.
Do ponto de vista comercial para a VÊNUS o contrato com a RELEASE poderá ser cancelado a qualquer momento. Ainda não fizemos isso. Só pedimos a eles para se retirarem, por enquanto, das negociações. Essa atitude não está prevista em nenhuma das cláusulas do nosso contrato, mas não vejo aí grandes problemas jurídicos e ou financeiros.
A RELEASE, por outro lado, está fazendo um pouco de pressão, mas isso é compreensível. Esse é o métier deles e é da industria do seqüestro que ganham seu dinheiro.
Como qualquer outro tipo de negócio existem fórmulas protetoras para o mercado internacional de seguradoras que cobrem seqüestro.
Para economizarem o máximo possível em caso de terem um de seus segurados seqüestrados, foram criadas algumas fórmulas protetoras.
Uma delas é contratarem empresas como a RELEASE cujo objetivo principal é negociar o valor inicial do resgate para o nível mais baixo possível aceito pelos seqüestradores.
Empresas como a RELEASE cobram uma porcentagem das seguradoras baseada entre o valor total da apólice do segurado, quando estipulado, e o valor de fato pago pelo resgate aos seqüestradores. Quanto mais a RELEASE diminuir o valor do resgate, mais ela ganha, e a seguradora, obviamente, mais economiza.
Dessa maneira, se tudo correr bem, a RELEASE tenta garantir que a pessoa seqüestrada seja entregue sã e salva e no desenrolar dos acontecimentos, às vezes, adquirem evidências e provas contra os seqüestradores que mais tarde são repassadas para a polícia e usadas contra os seqüestradores na justiça.
O nosso caso é um pouco diferenciado no que tange o valor do resgate e da pessoa seqüestrada.
No que se refere ao valor desse resgate, o mesmo já foi negociado e, como disse a própria Doutora Irene, felizmente temos muito dinheiro. Não estamos preocupados em rebaixar o valor do resgate ou com a seguradora, tanto porque a seguradora é uma das empresas controlada pela VÊNUS. Não ficaremos devendo nada a ninguém.

O Júlio se encarregará de como lançar este gasto inesperado.


Só nos resta, então, pagar o resto das prestações e aguardar a libertação da Doutora Irene.
Quanto ao perfil da pessoa que foi seqüestrada, Doutora Irene, cada dia que passa fica mais claro em minha mente que os seqüestradores a seqüestraram com plena convicção que ela era a pessoa certa para negociar seu próprio resgate, ou seja, ela sabe exatamente o que tem e quanto vale.
Caso fosse o Júlio ou até mesmo eu os seqüestrados, as negociações seriam completamente diferentes das que estamos agora engajados e aí sim a RELEASE estaria aqui no nosso lugar negociando.
Estou convicto que os seqüestradores a escolheram, de propósito, e essa maneira pode ser uma nova estratégia de eles agirem e quem sabe com ramificações colombianas, chilenas, argentinas ou até mesmo alguma organização terrorista árabe levantando fundos para suas causas políticas.
Em outras palavras. Os seqüestradores escolhem uma pessoa, que, além de ser milionária, tem que ser também a que tenha mais poder de decisão dentro da família ou na empresa. Descartam, de propósito, os filhos, netos, esposas ou os executivos de um grupo empresarial que tenham menos poder, apesar de terem algum dinheiro.
Fracamente acredito que se cumprirmos todas as instruções dos seqüestradores, estes não terão outra opção a não ser soltá-la.
É a lógica do jogo.
Se eles executarem a Doutora Irene ou qualquer outra pessoa seqüestrada, após os pagamentos do resgate, a notícia vai se espalhar e eles não poderão mais jogar com a vidas de outras pessoas que eventualmente planejam seqüestrar. Se isso acontecer ninguém mais paga e eles fecham a banca.

Concordo plenamente com os seqüestradores que estamos no meio de um jogo de pôquer e que alguém tem na mão um Royal Straight Flush e por cima, o naipe, é de ouro.


É evidente que esse alguém não somos nós.
– Vamos pagar o resto das prestações e sair do jogo.


Célula C


Fernando arquitetava os planos para que a Célula C executasse o recebimento da segunda prestação de cinco milhões de dólares da VÊNUS.
Estava satisfeito com o desenrolar da primeira fase do plano quando receberam no motel Gay’s Haven Motel a primeira parcela de um total de vinte milhões de dólares negociados com a presidente do grupo VÊNUS.
A Célula C se comportara com perfeição na execução do recebimento indireto da primeira prestação.
A VÊNUS, também, colaborou obedecendo as ordens de Irene, mantendo os negociadores e a polícia afastados do caso, continuou recapitulando Fernando.
Na lanchonete da Av. Henrique Schaumann, fizeram apenas um teste para ver se os dois executivos estavam sendo seguidos pelos seus seguranças ou se, previamente, esses tinham delatado o local da entrega para seus negociadores ou a polícia.
Desde as 9 horas da manhã, dois soldados homens e duas soldados mulheres, uniformizados, com camisetas brancas, calças azuis e bonés com a logomarca da Pinheiros Investimentos Imobiliários, estavam na esquina da Av. Rebouças entregando panfletos imobiliários para os motoristas obrigados a pararem quando do sinal vermelho nos semáforos da esquina. Dali tudo viam e observavam. Estavam armados somente com seus celulares clonados.

Às onze horas, um par de soldados entrou com um Gol branco no estacionamento da lanchonete. Fecharam o carro, ligaram o alarme e se dirigiram para dentro da lanchonete. Os soldados estavam vestidos com roupa de médicos. Dr. Beto e Dr. Nagib pediram o lanche de frango com fritas e Coca-cola e sentaram-se no piso térreo em um canto, envidraçado, no fundo da lanchonete, ao lado da porta que dá para um terraço e para a avenida Henrique Schaumann. O local privilegiado servia para observarem o estacionamento, os carros que iam para o Drive Thru e a entrada de pedestres para a lanchonete.
Às onze e trinta, Dr. Beto, que ainda não acabara seu lanche, recebera uma ligação no seu celular. A voz lhe era conhecida e falou:
O casal de brancos estacionou no segundo lote e está se dirigindo para dentro. Aparentemente sem sombra alguma ...
Dr. Beto desligou o telefone e fez um sinal positivo ao Dr. Nagib que inspecionava todas as outras pessoas dentro da lanchonete. Procurava alguém com rádios, nos ouvidos, ou rádios disfarçados nos celulares. Não notara nada de anormal com a entrada dos dois médicos executivos se dirigindo para o balcão de pedidos da lanchonete. Dr. Nagib checou também os funcionários da lanchonete.
Naquele momento a lanchonete tinha um movimento abaixo do normal e era composta por clientes, na sua maioria, adolescentes e mulheres com crianças.
Dr. Beto tinha a tarefa de identificar se algum sombra seguia do lado de fora, particularmente no estacionamento, os dois médicos executivos enquanto o Dr. Nagib levantava as mesmas possibilidades dentro da lanchonete.
Quando os dois médicos executivos se encaminharam para o balcão de pedidos, Dr. Nagib se levantou e em outra fila resolveu pedir uma torta de maçã.
Quando se certificaram que a situação, dentro da lanchonete, estava sob controle e que os dois médicos executivos já estavam sentados tomando seus refrigerantes, Dr. Beto chamou, pelo celular, um de seus corretores imobiliários de semáforo para saber como estava o panorama no estacionamento e nas imediações.
A resposta foi firme e clara:
O dia está limpo e sem sombra. Vamos oferecer um imóvel para os médicos e pegar a estrada.
Dr. Beto desligou seu celular e, imediatamente, fez outra chamada para uma amiga, contratada, que se encontrava há poucos metros dele, terminando seu lanche. Quando a amiga atendeu o telefone celular, Dr. Beto falou em voz baixa:
Marilene, faça o contato agora, o taxi já está na porta.
Da lanchonete para o Motel, os médicos foram seguidos de duas maneiras pelos soldados da Célula C.
Uma Van branca recolheu os corretores de semáforos e seguiu na frente do Gol pagador dos médicos executivos. Uma outra Van Sprinter da Lavanderia e Tinturaria Butantã, saiu do estacionamento, após a saída do Gol pagador e o seguiu a uma distância segura e discreta.
Logo atrás da Van, vinha o Gol branco dos soldados médicos Beto e Nagib.
Os soldados da Van Lavanderia estavam armados com pistolas Glok 23 com supressores atarraxados e em um baú de roupas sujas, levavam as armas automáticas AK 47 calibre 7.62 com cinco pentes de 30 tiros. Vestiam coletes à prova de balas, Espectra Shield nível II, debaixo de suas camisas. Se algo desse errado com a entrega da primeira prestação, eles estariam preparados para revidar qualquer tentativa de interceptação.
Pelos rádios controlavam a velocidade e as distâncias entre eles e o Gol pagador, enquanto verificavam se estavam sendo seguidos ou não por terceiros. No percurso, para se protegerem e despistarem, revezavam-se no fluxo do trânsito.
A Van que seguia na frente estacionou a mais ou menos 50 metros passando o portão do Gay’s Haven Motel e esperou pela entrada do Gol pagador.
Minutos depois entrou o Gol pagador no motel. Três minutos mais tarde, apareceu a Van da Lavanderia que de propósito simulou um problema mecânico na entrada da rua lateral que levava ao motel, retardando o tráfico, para se certificarem que ninguém os seguia ou aos dois médicos executivos.
A Van da Lavanderia, para alívio dos poucos carros que aguardavam, conseguiu dar partida e estacionou a 30 metros antes da entrada do portão do motel.

Logo atrás, o Gol branco, que fazia cobertura durante o trajeto, com os soldados médicos Beto e Nagib entrou direto no motel e foi para a suíte de número 25, também reservada antes.
Na noite anterior, os soldados Sylvio e Cláudio se apresentaram no motel como recém-casados e se hospedaram na suíte de número 23, reservada antes pelos inteligentes de Fernando. Lá se instalaram e passaram parte do tempo investigando a suíte ao lado, a de número 24, onde no próximo dia se hospedariam os dois médicos executivos. Durante a noite e parte da manhã, levantaram os funcionários e alguns clientes que entravam e saiam dos apartamentos, calcularam o tempo real que levariam para levar o bilhete da suíte 23 para a 24 e tirar o dinheiro de uma sacola e passar para outra. A operação toda não demoraria mais do que dois minutos.
Assim que os médicos executivos entraram na suíte, o soldado Sylvio chamou pelo celular a Van da Lavanderia e comunicou a Fernando que o casal já estava no ninho.
Fernando, então, dera a ordem aos soldados Sylvio e Claudio para procederem com a missão como planejado.
Sylvio e Claudio desceram da suíte 23, ligaram o Gol branco, abriram o porta-malas e, apenas dando um passo, entraram na garagem da suíte 24, levando uma sacola preta na mão. Enquanto Sylvio subia a pequena escada para entregar o bilhete de Irene aos médicos executivos, Claudio abrira o porta-malas do Gol, retirou o dinheiro da sacola e transferiu para sua sacola.

Os soldados Sylvio e Claudio voltaram para a garagem da suíte 23, colocaram a sacola com o dinheiro no porta-malas de seu carro, levantaram o toldo da garagem e partiram com os cinco milhões de dólares.
Na garagem da suíte 25, os soldados Beto e Nagib lhe deram cobertura sem aparecerem no corredor das garagens. Aguardavam o Gol de Sylvio e Cláudio sair para chamarem Fernando no rádio e avisar que a encomenda já estava a caminho.
O soldado Nagib subiu pela escada da suíte 24, pegou o envelope com os novos telefones dos executivos da VÊNUS que estava na bandeja da janela giratória, desceu e entrou no Gol branco que já estava à espera no corredor e sairam do motel em direção à Rodovia Raposo Tavares.
Após rememorar e analisar a entrega da primeira parcela pelos executivos da VÊNUS, Fernando tinha a convicção que eles iriam pagar todas as prestações sem envolver a polícia ou seus negociadores. As cópias que obteve com Estevão das mensagens de Irene eram perfeitas e convincentes. Mesmo assim teria que planejar uma estratégia segura para seus soldados receberem as próximas prestações.
Pelo desenrolar dos fatos e pela facilidade em receber a primeira prestação, sem resistência por parte da VÊNUS, o plano de Fernando ia pouco a pouco se concretizando, ficando claro que os diretores da VÊNUS já realizaram que o MBN tinha um Royal Straight Flush na mão.
Estevão já havia enviado a mensagem gravada por Irene aos três executivos da VÊNUS, agradecendo a Antônio, Dr. Moisés e Júlio pela entrega da primeira parcela e ao mesmo tempo dando as instruções para a entrega da segunda parcela de 5.000.000 de dólares.
Na segunda-feira tinham se reunido com o pessoal da RELEASE e colocaram os especialistas em seqüestro na espera, indefinidamente.
Antônio recebera o envelope na sede da VÊNUS, enviado da Capital, via motoqueiro às 11:37h da sexta-feira dia 7, já nos limites de seus nervos, achando que os seqüestradores estavam demorando muito para entrarem em contato novamente. Imediatamente, reuniu-se em sua sala com Dr. Moisés e Júlio para ver o DVD que acabara de receber.
Antônio comanda o DVD pelo controle remoto e aguarda ansiosamente para ver sua mãe na TV.

A terceira mensagem

Boa tarde meu filho Dr. Moisés e Júlio.
Obrigado pela entrega da primeira parcela.
Sinto muito, se, no processo, causou algum constrangimento ao Doutor Moisés e Júlio, mas como já falamos antes, se as instruções forem seguidas, corretamente, logo logo estaremos todos juntos.
Neste sábado, dia 8, Dr. Moisés e Júlio levarão a próxima parcela de cinco milhões de dólares para a Rodovia dos Imigrantes. É para vocês dois usarem o mesmo procedimento quanto ao empacotamento do dinheiro. Usem o mesmo Gol branco usado na semana passada e também os uniformes de médicos completos. Após passarem por São Bernardo e Diadema, logo adiante tem uma lanchonete na Rodovia dos Imigrantes à sua direita. Parem no estacionamento da lanchonete, entrem e peçam um lanche. O horário para vocês estarem lá é onze horas da manhã. Levem seus celulares novos com vocês. Não esqueçam de carregar as baterias, OK? Lá vocês dois receberão novas instruções.
Dr. Moisés, quero que o senhor chame o RH e mande, imediatamente, os três diretores que coordenam nossa segurança para a rua. O Coronel Fonseca, Sr. Artur e o Dr. Messias estão demitidos. Pague seus direitos, mas não dê a eles nenhuma carta de recomendação.
Antônio, meu filho querido, aqui estou bem e se Deus quiser passaremos o melhor Natal dos últimos tempos juntos. Eu estou com muitas saudades. Continue calmo e administrando os nossos negócios, que logo estarei com você.
Te amo muito muitas vezes e, muitas, é muito pouco para ficar sem você...
Um beijo para você Antônio, Dr. Moisés e Júlio.

Irene ficou sorrindo, para a câmara, pegou um jornal de uma mesa, em uma varanda colorida, com flores onde se via uma piscina ao fundo. A câmara deu um zoom na capa do jornal e mostrou nitidamente a data de circulação, de um dos maiores jornais do Brasil. Quinta-feira, 6 de novembro de 2003.
Antônio perguntou aos dois executivos se queriam ver novamente o DVD.
Mais uma vez seria o suficiente, responde Dr. Moisés.
Após reverem a mensagem da Doutora Irene, Dr. Moisés foi o primeiro a comentar que as técnicas usadas para elaborar o DVD foram as mesmas, mas com um cenário diferente.
Antônio interrompeu Dr. Moisés para comentar que sua mãe estava aparentemente bem, bonita, disposta e pelo que acabara de presenciar, estava em pleno controle, mandando seus subordinados para o olho da rua.
Com certeza onde ela está não é um cativeiro tipo chiqueiro... argumentou Júlio.

É isso mesmo, concordou Dr. Moisés. Esses seqüestradores são sofisticados e é evidente que estão tratando a Doutora Irene muito bem, caso contrário não iriam conseguir o que desejam e uma desgraça, pior, poderia ocorrer.


Antônio levantou-se, comentando com Dr. Moisés e Júlio que achou estranho sua mãe, do cativeiro, comandar a despedida de três executivos que coordenavam a segurança do grupo VÊNUS.
Ela é a presidente do Grupo e sabe o que faz. Pelo que tudo indica ela está sabendo de coisas que não sabemos. O que me chocou foi ter despedido o Messias, pois ele só cuida da parte de segurança institucional da empresa. O negócio dele é assegurar o sigilo de nossos contratos, parcerias, é ele quem acerta algum tipo de fiscalização por parte do governo, também cuida da área da espionagem industrial das subsidiárias da VÊNUS, comentou Dr. Moisés.
Antônio argumentou que a ordem de sua mãe podia ter sido resultado das negociações com os seqüestradores, que lhes contaram onde estavam as falhas, na sua segurança, no dia do seqüestro.
O Careca está na nossa lista de decepados, mas o coitado é somente um empregado de extrema confiança que cumpre ordens. Ele não tem a visão de coordenação que deveriam ter os três despedidos aqui de cima. Minha mãe não incluiu seu nome na lista por alguma razão que depois de seu regresso saberemos.

A segunda prestação


No sábado às 10 horas da manhã, Dr. Moisés e Júlio tomaram o elevador e subiram até o duplex de Antônio que já os aguardava com três copos de água de coco geladas.
Antônio dispensara, antes, os dois seguranças que estavam no lobby do edifício e preparava a sacola com os cinco milhões de dólares quando a campainha da porta tocou.
Os médicos entraram um pouco desanimados com a chuva de última hora não prevista na meteorologia televisada. Júlio comentou que se chovesse na serra de Santos poderiam demorar para ir para outro local, caso fossem essas as instruções dos seqüestradores.
Os médicos executivos carregaram a sacola e se despediram de Antônio como se fossem realmente para uma longa viagem. Na garagem do prédio discutiram qual seria a melhor rota para chegar até a Rodovia dos Imigrantes. Optaram pela Bandeirantes e se colocaram a caminho.
Apesar de ser sábado, mas com a chuva forte que caía, encontraram a Bandeirantes entupida de carros por todos os lados. Com muitas manobras e buzinadas chegaram até o aeroporto de Congonhas. Depois disso o trânsito fluiu melhor e em seguida entraram na Imigrantes.
Chegaram dez minutos atrasados ao encontro e Júlio estava preocupado com o horário.
Dr. Moisés tentava acalmá-lo enquanto procurava uma vaga para estacionar. Quase deixou o carro em outro estacionamento, em um posto de gasolina, ao lado da lanchonete.
Os dois médicos executivos, encharcados, entraram na lanchonete e, primeiro, foram até o banheiro para se secar. Minutos depois, dirigiram-se para o balcão e pediram dois hambúrgueres com Coca-cola light e fritas amigas.
A lanchonete estava praticamente vazia, pois a chuva espantara os fregueses de auto-pista. Um casal que terminava o lanche saiu logo após a entrada dos dois médicos executivos.
Meia hora se passou e os médicos executivos começaram a ficar nervosos com a demora do contato.
Dr. Moisés que era mais calmo e calculista estava colocando a culpa da demora na chuva. Talvez os seqüestradores estivessem, também, encrencados com o trânsito lá em São Paulo, por isso estavam atrasados.
Bebiam as Coca-colas geladas, mas não conseguiam abrir as caixinhas dos lanches. Júlio olhava a cada minuto para o relógio que já marcava 12:20h. Com seus nervos passando do aceitável, Júlio estava discutindo com Dr. Moisés se deveriam ou não chamar Antônio para lhe dizer que ninguém aparecera para contatá-los, quando, de repente, o telefone celular do Dr. Moisés tocou.
Era o Antônio chamando de São Paulo.
Pediu para eles voltarem para o apartamento, pois tinha recebido outro bilhete de sua mãe avisando que estava tudo sob controle.
Júlio quis saber, imediatamente, o que estava acontecendo. Dr. Moisés respondeu que Antônio tinha chamado e que era para eles voltarem para São Paulo, que tudo estava sob controle. Seja lá o que fosse que a Doutora mandou dizer em um bilhete que ele recebera agora pouco.
Os médicos executivos se dirigiram para o estacionamento, mas não encontraram o Gol estacionado onde deixaram.
Júlio pediu a Deus, olhando para a chuva que descia, que por favor somente os seqüestradores estavam liberados para roubarem o seu Gol.
Os dois voltaram para dentro da lanchonete e Dr. Moisés perguntou ao gerente da lanchonete se ele teria um número de um ponto de taxi próximo.
Júlio anotou o número e chamou o taxi especial em seu celular.
Teriam que aguardar 30 minutos. Voltaram para a mesa e resolveram comer o lanche
Ao chegarem ao apartamento de Antônio, Dr. Moisés e Júlio relataram suas aventuras na chuva e o roubo do Gol.
Antônio lhes passou o bilhete de sua mãe que fora entregue na portaria do prédio às doze horas.

Dr. Moisés notou que o papel do bilhete tinha a mesma marca d’água, de um Royal Straight Flush, dos bilhetes anteriores. Leu em voz alta para Júlio ouvir.

O terceiro bilhete


Alô, meu filho.
Ligue de seu celular novo para o Júlio e Dr.Moisés e diga a eles para voltarem, imediatamente, para o apartamento. Diga a eles que tudo está sob controle.

Obrigado. Te amo.
Beijos
Assinado: Irene Fontoura


Júlio foi o primeiro a reclamar que os seqüestradores poderiam pelos menos avisá-los que iriam ficar a pé no meio da Imigrantes, ou melhor ainda, que lhe entregassem as chaves do carro na lanchonete.
Dr. Moisés cortou Júlio e lembrou que a tarefa deles era de obedecer as mensagens e nada mais. Enfatizou que os seqüestradores ainda tinham da Doutora Irene em poder deles. Não importa se a vista na filmagem era bonita ou não.
Ela ainda é uma seqüestrada que continua no cativeiro, e nós só vamos tirá-la de lá obedecendo as ordens.
Mas é o que estamos fazendo! reclamou Júlio.
Está bem! disse Antônio. É melhor assim. Rápido e objetivo chega de cenas duplas. Se os seqüestradores quiserem tudo hoje é só telefonarem que eu entrego todo o dinheiro. Não sei por que criaram esse esquema de parcelas, Dr. Moisés complementou.
Deve ser por motivo de segurança ou desconfiança. Hoje notei que está havendo um comportamento padrão para a entrega, por parte deles.
Primeiro, a entrega é nos sábados. Segundo, o local escolhido é uma lanchonete, ou pelo menos nós passamos por lá. Terceiro, nós vamos vestidos de médicos e o bilhete aqui continua mostrando o Royal Straight Flush na marca d’água.
Tudo isso tem a ver com a estratégia de segurança deles. Acontece que nós já concordamos com os termos impostos por eles e pelo jeito vamos continuar assim.
Se minhas previsões forem corretas teremos mais dois sábados para entregar as outras parcelas. Isso feito a Doutora Irene estará conosco daqui há duas semanas. Ela mesmo disse que estaria em casa para o Natal.
Portanto, a notícia é boa e o jogo continua.

Fernando ganha uma aposta e perde outra

Estevão chama Fernando em um de seus celulares para marcar um encontro. Assim que este atende, Estevão lhe fala.
Temos um jogo de pôquer hoje. Você quer jogar?
Fernando que estava em Brasília, respondeu.
Hoje estou viajando, mas amanhã estarei com o bolso cheio. A que horas e onde é o jogo ?


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