Guia para um seqüestro


– Às 13 horas no Restaurante Canto, na Granja Viana, respondeu Estevão



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Às 13 horas no Restaurante Canto, na Granja Viana, respondeu Estevão.

Ok! estarei lá, falou Fernando e desligou o celular.


Estevão, por telefone, chamou o Restaurante Canto, na Granja Viana, em Cotia, e fez a reserva para o próximo dia, dando o nome de Hugo.
Em seguida, ligou para Gilda e lhe pediu para preparar outra suíte pois logo teriam outro hóspede no Clube. Desta vez um cavalheiro. Aproveitou e pediu para preparar Irene, pois iriam rodar as duas últimas cenas no meio da semana.
Gilda confirmou e antes de desligar comentou que a atriz andava super animada ultimamente e muito feliz com o seu amigo Copper. À noite, jantou só no terraço toda cheirosa e depois foi contar as estrelas com minha luneta Tasco.
Estevão desligou o celular e ligou de outro telefone internacional para Barroso.

Barroso, todo contente com a chamada de Estevão, já presentia que outra missão estava no ar.


Estevão convocou Barroso e o resto dos soldados da Célula A para virem, imediatamente, para São Paulo. Pediu a Barroso para reunir todos os soldados e prepará-los para um cenário urbano de cidade grande.
Estevão mencionou que Rubio e Rambo já estavam aclimatados e morando ao lado do cenário. Os soldados iam precisar de ternos, gravatas, vestidos chiques, uniformes de enfermeiros, médicos e de cozinheiros profissionais. Quando ele chegasse, discutiriam o cenário completo.
Fernando chegou ao restaurante de taxi especial. Estava pontualmente no horário e logo localizou Estevão sentado em baixo de uma ramada verde, do lado de fora do restaurante, tomando um suco de laranja.
Os dois se saudaram, de longe. Fernando colocou sua bengala e duas sacolas de compras, enormes, em uma cadeira vazia ao seu lado.
Antes de Fernando perguntar no que apostariam, Estevão tirou do bolso mil dólares em um envelope e passou para Fernando.
Fernando, sem demonstrar surpresa, o agradeceu e guardou os mil em sua pasta.
Pelo que tudo indica eu acertei uma aposta. Não foi? Perguntou Fernando.
– É! respondeu Estevão, desanimado.

– A abordada, de fato, precisou de uma carona em meus ombros. Eu deveria descontar a metade desses mil porque você não me preveniu que ela mordia, dava murros e coices.


Fernando, rindo à vontade, falou que a aposta era Somente à respeito de carregá-la ou não no ombro. Complementou dizendo que ele não apostara nada sobre os dotes instintivos de defesa da abordada. Isso era problema do estivador.
OK! OK! Já está pago. Quer apostar hoje? perguntou Estevão.
Eu sempre aposto! Manda, respondeu Fernando.
OK! Vamos lá! O que tem em frente do restaurante e de onde é o recepcionista do portão?
Fernando respondeu.
Você não consegue mesmo ficar com dinheiro no bolso, não? Hoje, pelo que parece, você está armando alguma cilada.
Com respeito à primeira pergunta, não tem nada em frente ao restaurante. Isto é. Existe um terreno vazio cheio de mato, mas na rua perpendicular aqui ao lado do Canto, Rua José Felix, se não me engano, tem uma clínica veterinária para cães e gatos. Antes da clínica, uma escola de artes e do outro lado da clínica, um salão de cabeleireiro.
Antes de eu responder sobre o seu hombre de Cochabamba vou lhe dizer o que me ocorreu neste momento.
Você sabe que é um perigo dois negócios desses, a clínica veterinária e o cabeleireiro, em particular, estarem lado a lado um do outro!
Imagine se uma madame aqui da Granja alcoolizada, ou drogada, por engano, entrar no salão de beleza acompanhada de seu Bichon Frise e pedir uma vacina contra raiva, um vermífugo da Bayer, uma tosa, banho com xampu anti-pulgas, secagem morna e corte de unhas.
Raiva, mas raiva mesmo, vai dar no cabeleireiro das madames da Granja que além de ficar todo insultado terá que explicar ao Lulu que errou de porta e que o salão dele é o outro, ao lado.
Estevão caiu na risada, comentando que ele estava tentando ganhar tempo, pois não tinha a certeza sobre a segunda resposta da aposta.
Está bem! Fernando respondeu.
O seu recepcionista me parece, com certeza, que é boliviano.
OK! OK! Até agora você acertou só a metade. Poderia até ser gerente de imobiliária. Nota dez para o terreno vazio, a escola, clínica veterinária e o cãobeleireiro.
Mas, com respeito ao recepcionista. Quer dobrar a aposta? ou trocar pelos mil da pasta? perguntou Estevão, com um largo sorriso no rosto.
Manda os mil da pasta, retrucou Fernando.
Parece que o seu hombre, de fato, é peruano de Arequipa, falou rindo muito Estevão.
Como é que você sabe? perguntou Fernando.
Cheguei meia hora antes de você e estava contabilizando o pessoal quando escutei o recepcionista falando em um dialeto com um dos garçons. Perguntei, em espanhol, se ele era boliviano. Respondeu que não. O resto da história você já pode deduzir. Não é? Se você quiser conferir na saída. É só falar com o ex-Sendero...
Fernando devolveu os mil dólares e chamou o garçom para trazer o menu.
Pelo menos você escolhe uma das melhores carnes de São Paulo para me tirar mil dólares que já estavam quentinhos na minha pasta, reclamou Fernando, enquanto escolhia uma das especialidades do Canto.
Pediram duas picanhas à moda Canto, com arroz branco e salada de pupunha. Para beber pediram um suco de acerola e outro de laranja.
Fernando começou, primeiro, a relatar sôbre o recebimento da primeira prestação. Descrevendo que tudo saíra de acordo com o plano. Não tiveram nenhum tipo de inconveniente.
Já, na segunda prestação, uma chuva fortíssima que causou um acidente no cenário escolhido para o recebimento da segunda prestação atrapalhou um pouco os planos. Teve que usar o plano de emergência, preparado com antecedência para outro tipo de situação.
Agradeceu Estevão pelos DVDs convincentes, pelos bilhetes de comando e os bilhetes reservas assinados por Irene.
Continuou relatando que a segunda prestação estava programada para ser entregue pelos médicos executivos na Rodovia dos Imigrantes na parte em que a pista passa por cima da Represa Billings. Seis dos seus soldados estavam em dois carros na auto-pista e mais dois em uma lancha, na água, prontos para receberem a segunda prestação que seria transportada pela lancha, veloz, até o outro lado da represa.
Às dez e quarenta e cinco, dois carros de domingueiros, indo para Santos, se chocaram, devido à forte chuva, no local exato da entrega.

O cenário ferveu de rodoviários e ambulâncias. Não tivemos outra escolha, a não ser abortar aquele cenário micado.
Decidimos, então, roubar o Gol dos médicos executivos no estacionamento da lanchonete e mandar um dos bilhetes reserva da Irene para o Antônio. No fim deu tudo certo.
O garçom serviu a picanha Canto e os dois se concentraram na carne.
Estevão, terminou seu almoço primeiro e comentou que no Clube Merlin ia tudo bem, comentando que a hóspede, finalmente, amolecera e resolvera cooperar com o MBN. Com essa nova atitude, tudo se tornara mais fácil.
– Você deve ter notado pelos filmes do DVD que realmente ela está dando o máximo de si.

Fernando, sorrindo maliciosamente, interrompeu Estevão perguntando se as mordidas e os coices não foram uma declaração de amor ao bonitão da FAB.


Estevão, mais do que depressa, desviou o assunto e continuou relatando que no domingo faria as duas últimas tomadas com as novas mensagens. Primeiro, a mensagem da terceira prestação e logo a das doações para as ONGs e o MBN.
A VÊNUS, a mando de Irene, fará a primeira doação, oficial ao partido do futuro e, possivelmente, já, que nosso relacionamento está em boa fase, antes de libertá-la estou pensando em pedir sua colaboração para minar a resistência do nosso futuro hóspede. Os dois se conhecem, comercialmente, e estou apostando que ela nos ajudará a convencê-lo a colaborar logo com o MBN.
Ela já leu os Estatutos do MBN e até fez algumas críticas jurídicas com respeito à afiliação dos futuros membros.
Estevão pediu uma salada de frutas e Fernando um sorvete de manga para sobremesa.
Continuou relatando que o plano para o segundo abordado da lista do Estudo estava pronto. O cenário seria em São Paulo, em um dos locais que o Estudo recomendara.
O plano consistia em surpreender todos os clientes dentro do restaurante favorito do abordado. O pessoal da Célula A, já, alugara fazia um tempo, a peso de ouro, uma casa nos Jardins que dá para o fundo do restaurante.
No dia da abordagem, vamos reativar um portão velho e desativado que conecta as duas residências.
Os quatros seguranças do abordado vão ficar esperando pelo patrão por muito tempo na rua.
Parte dos meus soldados estarão chiques todos, vestidos em ternos de grife e as soldados com vestidos ou conjuntos da nova moda de verão.
Eles almoçarão ao lado do abordado com suas pastas de executivos recheadas com as Gloks 23. Outros soldados virão da casa alugada pelo portão reativado. A porta da frente do restaurante se fechará por dentro. Daí, então, a lei será a do mais forte. Quem está fora não entra, quem está dentro não sai. A não ser nós, que sairemos pelo portão dos fundos via casa alugada.
O famoso e imponente Jardins vai virar um caos na hora da abordagem. Caminhões de lixo bloquearão algumas ruas e o Corpo de Bombeiros terá um fogo fácil, mas com muita fumaça de trapos embebidos em óleo, diesel queimado, para apagar na residência alugada.
Parece-me que, outra vez, não daremos um tiro sequer.
O nosso abordado será levado, primeiro, em um carro rápido, blindado, com placas frias e depois transferido para uma ambulância. Desde o momento que sairmos da casa alugada até chegar ao Clube o abordado vai usar uma carapuça negra na cabeça, principalmente para não reconhecer o médico que irá operá-lo.
Na própria ambulância, um médico contratado removerá o chip anti-seqüestro que ele tem implantado no subcutâneo da perna esquerda. Uma soldada enfermeira ajudará o médico que fará uma anestesia local e com um corte simples e rápido removerá o chip.

Vamos usar o chip-antiseqüestro em nosso favor. Ganharemos um bom tempo e despistaremos, definitivamente, os negociadores e a própria polícia, caso estes comecem a investigar o desaparecimento do milionário.
Depois de operar o abordado, vamos mandar o chip para a favela do Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, e grudá-lo em um carrinho de catador de papéis.
Todo e qualquer trajeto percorrido pelo chip removido será seguido pelo satélite da Intelsecurity Chip Systems que vai concentrar a busca pelo seu cliente em um cativeiro móvel perambulando morro acima e cidade abaixo, na cidade maravilhosa.
Enquanto isso o nosso hóspede, desprovido de seu bug protetor, estará se recuperando da cirurgia no bom clima do Clube Merlin.
Fernando achou que o plano era bom e recomendou atenção redobrada com os seguranças do abordado, comentando que um deles, uma vez ou outra, enquanto o abordado almoçava, ficava dentro do restaurante conversando com os vigias da casa, também, vestidos de ternos e óculos escuros.
Estevão respondeu que essa informação também constava no Estudo e que, se por acaso um dos seguranças do abordado fosse para dentro do cenário, seus soldados degustadores da boa culinária do Chateaubriand Grill dariam um jeito nele no momento da ação.
Fernando perguntou a Estevão se ele tinha terceirizado algum serviço.
Na semana que vem, um médico recém-formado irá operar o nosso segundo abordado. Ele será um dos nossos primeiros terceirizados. Vai ganhar dez mil dólares para trabalhar dez minutos. Os outros três vão dirigir caminhões, ônibus sucatas, bloqueando ruas-chave, no momento da abordagem, em locais pré-levantados por Rambo e Rubio. Os motoristas ganharão três mil dólares cada um.
E você Fernando anda terceirizando ou somente está usado os soldados da I e C? perguntou Estevão.
Quanto à terceirização, só usamos, por enquanto, uma mãe solteira que precisava fazer urgentemente uma operação, em uma das vistas, de seu filho de um ano e meio. A mãe não tinha condições, financeiras, para pagar uma clínica de oftalmologia especializada.
Ela trabalhou um minuto, entregando um de nossos bilhetes. Ganhou um celular novo, dois mil dólares, dois hambúrgueres com fritas e Coca-cola e mais uma corrida de taxi. Deve estar rindo de mim até hoje.
Já depositei a parte dos soldados, paguei todas as contas pendentes. Aqui está o seu recibo do depósito do Baers Bank, nas Ilhas Cayman. A sua parte, em espécie, combinada previamente, está aqui nas sacolas da Tommy Hilfiger.
Fernando passou as sacolas com os dólares para Estevão e recomendou muito cuidado com os trombadinhas.
Ao se levantar, com sua bengala na mão, disse que seus soldados estavam prontos, novamente, para receber a última prestação de Irene.
Depois disso nos encontraremos, para outra aposta, e até lá falaremos, em código, por vias eletrônicas e pelo internacional.
Fernando pediu para Estevão pagar o almoço, alegando que acabara de perder “milão” e teria que pagar o taxi que estava à sua espera.
Levantou-se, pegou sua bengala e saiu em direção ao portão do Canto.


Irene grava suas últimas mensagens

Estevão chegou na terça-feira, às dez da manhã. Irene estava em um dos piquetes, acompanhada por três soldados, montando seu melhor amigo no momento, Copper.


Gilda o colocou a par dos trabalhos da Célula e o levou para ver a nova suíte, recém-mobiliada, para esperar o novo hóspede.
Estevão aprovou os móveis e a segurança, entregando a Gilda mais três mini-câmeras para serem instaladas no apartamento. Passou a nova lista de normas às quais o abordado teria que se adaptar e os remédios que ele iria precisar tomar, duas vezes ao dia, para suas hemorróidas. Em uma embalagem separada, estava um anti-inflamatório que o abordado deveria tomar a cada doze horas, durante sete dias, e outros itens farmacêuticos para limpeza e curativos da inesperada cirurgia que o abordado sofreria a caminho do Clube.
Conversou com os demais soldados que estavam no Clube, deu a boa notícia dos depósitos em dinheiro em suas contas e disse que no QG as coisas iam de vento em popa.
Irene viu Estevão de longe, mas preferiu ir direto para sua suíte.
Estevão, também, a viu à distância, passando de perfil, mas estava ocupado instruindo seus soldados para se prepararem e receber o novo hóspede.
A soldado, garçonete, servia Estevão o secundo suco quando Irene chegou para almoçar na varanda do Clube.
A primeira sensação que Estevão sentiu, antes de poder apreciar, de perto, a beleza feminina que se aproximava, foi a fragrância do Caraná-AM, invadindo um de seus sentidos que, imediatamente, aceitou aquela duração.
Irene toda feliz, pela primeira vez, apertou sua mão dizendo um bom dia e lhe deu dois leves beijos no rosto.
Estevão, infantilmente surpreso, aproveitou a deixa e lhe deu mais um, dizendo que o beijo extra era para lhe desejar boa sorte.
Irene enrubesceu, mas não perdeu o controle. Agradeceu a Estevão por ajudá-la com a cadeira e sentá-la primeiro na mesa.
Quebrada a barreira física, entre eles, Estevão lhe falou que iria filmá-la duas vezes no mesmo dia e que essas seriam suas últimas mensagens para seu filho e para os dois executivos da VÊNUS. Perguntou a ela se já tinha memorizado a terceira mensagem.
Irene respondeu que estava pronta para o estúdio, mas que não tinha recebido, ainda, o script da quarta mensagem.
Estevão respondeu que após o almoço lhe daria o script da última cena. Comentou que era também uma cena de curta duração e que ela teria que decorar o nome de algumas ONGs que se dedicavam a projetos sociais de extrema importância, mas que ao mesmo tempo tinham muitas dificuldades em levantar recursos para atingir seus objetivos sociais.
– Tudo bem! respondeu Irene.
Estevão, ainda envolvido com os efeitos do Caraná-AM, adicionado à presença de Irene a dois metros na sua frente queria prolongar o máximo possível aquele momento de exclusividade.
Perguntou a Irene se ela gostou de Copper por estar sozinha e prisioneira ou se, realmente, o cavalo tinha algo especial.
Irene, olhando para o lado das baias, onde estava Copper, respondeu que talvez a resposta apropriada seria conhecida somente mais tarde. No momento, ela achava que era uma combinação das duas coisas.
Agora é a minha vez ! Embora seja proibida pelas regras do Clube, gostaria de lhe fazer uma pergunta pessoal, falou Irene.
OK! OK! respondeu Estevão. Se eu puder responder, você terá a resposta.
Irene perguntou:
Você é casado? Tem filhos?
Bom! Como você já está de saída e está colaborando de uma forma satisfatória com o nosso Movimento, eu vou responder a sua pergunta e adicionar algum extra.
Não, nunca me casei e não tenho filhos. Estou com 50 anos. A minha carreira militar foi bastante viajada e não tive a coragem de levar comigo algumas das namoradas que tive ao altar e depois de casar, com uma delas, dragá-la de um lado para o outro, ou deixá-la sempre à minha espera e apreensiva.
Quando uma pessoa é militar, está sujeita a ordens superiores, e quando estas chegam você não discute. Larga tudo e muda-se para um novo lugar, que pode ser bom ou lastimável.
Saí de minha casa, com quinze anos, para estudar e depois segui a carreira militar. Desde, então, estou acostumado a ir e vir para diferentes lugares. Hoje, estou aqui e amanhã não. Por isso não me casei. Quem sabe, no futuro, eu me fixe em algum lugar e aí, sim, se tiver sorte encontrarei o meu par.

Irene, curiosa e surpresa com o que acabara de ouvir arriscou fazer mais uma pergunta.


Aquele dia, antes de saltarmos, da Brasília EMB 120, você me disse que tinha ensinado pára-quedismo no Campo dos Afonsos, no Rio de Janeiro. E agora você me diz que é militar. Isso me leva a deduzir que você é da Força Aérea Brasileira. Você é da FAB?
Era! respondeu Estevão.
Cumprimentou Irene pela sua boa memória e disse que, eventualmente, iria lhe contar mais sobre ele. Mas hoje a missão era outra.
Estevão aponta para a mesa e disse a Irene que a lasanha estava esfriando.
Gilda iluminou o ambiente da filmagem. Estevão, usando o tripé da Sony, filmou Irene que representou, outra vez, com perfeição o script da entrega da terceira parcela de cinco milhões de dólares.
Irene não demorou mais do que três minutos para a interpretação. Não foi preciso refazer a cena.
Curiosa, perguntou a Estevão onde estava o script da última cena.
Estevão abriu sua pasta de mão e lhe passou duas páginas impressas com fonte número 20 para facilitar a leitura.
Irene leu, rapidamente, o script e começou a rir, mas desviou o olhar de Estevão. Deu as costas a ele, caminhou até a janela da suíte, respirou fundo, olhou o por do sol que descia na direção da sua fazenda e voltou-se, novamente, para onde estava Estevão e ironicamente comentou que era fácil ser o novo Robin Hood, do terceiro milênio, com o dinheiro alheio.
Estevão contra-argumentou dizendo que a VÊNUS é que seria o Robin Hood e pelas informações que ele tinha, em mãos, o dinheiro era todo dela.
Continuou argumentando que, no fim desse negócio, ela não perderia um centavo sequer. O Sr. Júlio, seu diretor financeiro, deduziria os cinco milhões que seriam doados para as ONGs e o MBN do imposto de renda, devido ou a pagar, da VÊNUS.
E digo mais. Com essa doação milionária e uma boa assessoria de imprensa, a VÊNUS criará um visual, novo, politicamente correto para melhorar a sua imagem institucional e é bom você incluir aí todas as empresas que constituem a sua Holding.
Não é todos os dias que se faz o bem! Portanto o papel do Robin Hood do terceiro milênio, como você bem definiu, ficará com a VÊNUS.
Nós somos, apenas, o fator que fará isso acontecer e um dos beneficiários que vai entrar no vácuo das ONGs que lutam por causas justas e nobres dentro de uma sociedade em que as diferenças entre as classes sociais aumentam cada vez mais entre si. Ou seja, o rico cada vez mais poderoso e o pobre cada vez mais dominado.
O MBN será uma alternativa para tentar fazer com que a fertilidade dos poucos poderosos se derrame pirâmide abaixo fortalecendo todos os seus andares, principalmente o dos milhões de dominados separados por esse abismo social.
Esse será nosso discurso no baile de debutante social-político do Brasil. Mas como seremos apenas principiantes, desconhecidos da mídia e dos concorrentes, aposto que ninguém se interessará por mais um movimento estreante.
É, justamente, isso que queremos no momento. Legitimidade sem publicidade. Apenas os órgãos governamentais competentes é que saberão que um tal de MBN fez os seus devidos registros legais.
Você será a primeira a nos financiar... legalmente, diria eu.
Está bem! disse Irene. Não vamos mais polemizar por uma causa mais do que justa, se é que você, realmente, seguirá os objetivos sociais e estatutos do MBN.
Dê-me duas horas e depois poderá rolar o seu filme.

A terceira prestação

Dr. Moisés recebeu o envelope postado, via SEDEX, em Brasília no dia anterior e, imediatamente, chamou Júlio em sua sala. Enquanto Júlio não chegava, chamou por celular o vice-presidente da VÊNUS, Antônio, que estava a negócios no Rio de Janeiro.


Antônio recebeu a ligação com um certo nervosismo, pois o telefone que tocava era o número especial que só o Dr. Moisés, Júlio e os seqüestradores tinham. A voz do outro lado lhe era conhecida e comunicou que receberam outro DVD e sugeriu que ele voltasse imediatamente para São Paulo.
Antônio perguntou se ele já havia aberto o envelope. Dr. Moisés respondeu que gostaria de abrir quando ele estivesse presente. Antônio pediu a ele ordenar sua secretária para cancelar o resto dos compromissos na cidade maravilhosa e que já estava indo para o aeroporto pegar o Beechjet da VÊNUS. Deveria estar em seu escritório por volta das quatorze horas.

A quarta mensagem


Bom dia meu Filho. Bom dia Dr. Moisés e Júlio.
Mais uma vez muito obrigado pela execução das minhas ordens na semana passada. Um obrigado extra por terem saído na chuva por minha causa. Como vocês podem ver eu estou bem e na próxima semana estaremos juntos novamente.
A próxima entrega da terceira parcela obedecerá o mesmo padrão quanto ao dinheiro e os uniformes de médicos.
A ordem é a seguinte:
No sábado, dia 15, Dr. Moisés e Júlio embarcarão em um ônibus-leito, da Viação Motta, com destino a Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul. Levem o dinheiro em uma sacola de cor preta, com um fita amarela atada na alça, e façam a checagem da bagagem na plataforma 27 da estação rodoviária, no terminal do metrô da Barra Funda. Embarquem no ônibus que parte às 20:00h. Os tiquetes já estão comprados em seus nomes, é só retirá-los. Não esqueçam de levarem os RGs. É bom vocês levarem uma muda de roupa para trocarem na sua volta. Tomem muito cuidado na estação, pois os trombadinhas estão sempre à procura dos incautos. No percurso, vocês receberão novas instruções. Levem os seus celulares novos.
Antônio quero que você convoque para do dia 22, às 14 horas, no Auditório, na sede da VÊNUS, os presidentes e diretores das ONGs que mais se destacam no Brasil, com projetos sociais nas áreas de saúde, amparo ao menor, educação, meio ambiente, ajuda ao desemprego e pesquisas nas áreas da agricultura, tecnologia de ponta e política.
Comunique, oficialmente, aos convocados que suas ONGs receberão, no dia 22, uma doação em reais equivalente a meio milhão de dólares, cada uma, do Grupo VÊNUS, por terem se destacado profissionalmente em suas respectivas áreas de atuação. É de extrema importância que todos os presidentes das ONGs venham acompanhados de sua diretoria e, principalmente, de suas assessorias de imprensa para divulgarem na mídia o recebimento das doações.
Você deverá receber, ainda hoje, a lista das ONGs eleitas a receberem o prêmio VÊNUS. O último nome da lista receberá o resto que sobrar dos cinco milhões que vocês separaram em dinheiro vivo.
Na cerimônia da doação, nossa assessoria de imprensa, deverá tirar o máximo proveito do evento, para futuramente usarmos na melhoria da imagem Institucional das empresas que constituem o grupo VÊNUS.
Mandarei outra e a última mensagem na semana que vem.
Até Lá...
Irene se despediu com um beijo para Antônio, enquanto a câmara focalizava uma imagem na TV, captada ao vivo, via satélite, mostrando um programa em São Paulo falando sobre culinária e dando uma receita de pato assado.

Antônio, sem perguntar aos demais diretores presentes, se queriam rever o DVD ou não, pressionou o botão de Play novamente, para rever sua mãe toda elegante dando instruções inéditas de como distribuir seu dinheiro.


Os três, mudos, permaneceram imóveis até que o chuvisco de fim de filme apareceu na TV novamente.
Muito bem! exclamou Dr. Moisés, encaminhando-se para a janela panorâmica de vidro, cor de esmeralda, tentando raciocinar com clareza, no último andar do edifício sede da VÊNUS. Lá de cima, apreciou por um segundo, as águas negras do rio Pinheiros que brilhavam com o sol da tarde, confundindo-se com o reflexo nos pára-brisas de milhares de carros engarrafados em frente a sua praia, na Marginal Pinheiros.
Parece-me que as negociações vão terminar com um cunho social no qual nós pagaremos a conta e entregamos o Nobel. Até a ecologia vai ganhar um!
Na Argentina, nos anos oitenta, se não me engano, aconteceu um caso semelhante onde a família de um seqüestrado bilionário teve que distribuir alimentos aos pobres. Aqui, pelo jeito, a situação é um pouquinho diferente. É dinheiro mesmo. Muito dinheiro...
O que vocês acharam da mensagem? perguntou Dr. Moisés a Antônio e Júlio.
Júlio respondeu que, do ponto de vista fiscal, ficaria até mais fácil deduzir os cinco milhões doados às ONGs do que os outros quinze milhões pagos aos seqüestradores.

Antônio demonstrou sua preocupação com a imprensa na sede da VÊNUS na próxima semana, sem a presença de sua mãe, para falar e doar montanhas de dinheiro em nome do Grupo.


Dr. Moisés sugeriu: para aqueles que perguntassem, confirmar que a Doutora Irene continuava no exterior se recuperando de uma cirurgia. Seu tratamento clínico fora um sucesso e que ela estaria de volta em, no máximo, duas semanas. Nada mais.
Júlio comentou que agora as viagens, pelo jeito, seriam para outros Estados. Perguntou ao Dr. Moisés se Ponta Porã não era aquela cidade que fazia fronteira com o Paraguai.
Claro! respondeu Dr. Moisés, é lá mesmo, a terra das guarânias, polcas paraguaias e do contrabando.
Eu, já, estive lá uma vez. Foi quando fomos convidados para uma festa na fazenda de um empresário aqui de São Paulo, cliente do Banco.
Ele tinha uma fazenda, na estrada, antes da chegada na cidade de Ponta Porã. Descemos de avião, na pista da fazenda, e foram dois dias de muito churrasco, polcas, guarânias e chamamés.
Eu já estava preparado para o que viesse, mas confesso que cada dia que passa esses seqüestradores voltam a me surpreender. Agora com o prêmio VÊNUS, social, nós vamos ser matérias em todos os jornais e TV do Brasil, por isso vamos nos concentrar em preparar a casa para o evento.
Júlio demonstrou sua preocupação com o efeito dos: Eu também quero...., ou, Eu também mereço..., que poderia acontecer logo depois que a mídia divulgasse sobre as milionárias doações da VÊNUS. Com certeza, no outro dia, após descobrirem onde se escondia o fim do arco-íris, isso aqui se tornaria uma Babilônia de pedinchões.
Antônio perguntou aos dois se dava para estimar a data da libertação de sua mãe.
Parece que os seqüestradores vão libertá-la a qualquer momento após a entrega dos prêmios VÊNUS. Até lá seguiremos à risca suas ordens.

Os executivos viajam de ônibus

Dr. Moisés e Júlio chegaram à Estação do Metrô da Barra Funda, acompanhados por três seguranças, vestidos casualmente. O Júlio carregava uma sacola preta com uma fita amarela na alça. Os cinco se encaminharam para a plataforma de embarque do ônibus-leito com destino a Ponta Porã.


Depois de apresentarem suas passagens de viagem e RG ao motorista noturno, no portão de embarque da plataforma 27, Júlio foi até o encarregado de conferir as malas e despachar sua sacola preta, enquanto os três seguranças ficaram por perto dos dois médicos executivos.
O encarregado das bagagens trocou a sacola de Júlio, com cinco milhões de dólares, por um boleto-recibo minúsculo, e os dois médicos executivos embarcam rumo à fronteira do Paraguai.
Os três seguranças esperaram o ônibus partir para saírem em direção ao estacionamento onde deixaram seus dois automóveis blindados.
Nenhum deles tinha a menor idéia do que o Sr. Júlio levava na sacola, muito menos porque estavam viajando de ônibus, sendo que a VÊNUS tinha mais de quatro aviões, dois helicópteros e uma dúzia de carros blindados com motoristas à disposição de dois dos mais importantes diretores do grupo.
Acharam muito estranho aquela viagem repentina dos dois diretores, principalmente quando desceram do apartamento do Antônio vestidos como médicos. O novo diretor da segurança da Holding, Sr. Francisco do Nascimento, não permitia seus subordinados fazerem perguntas indevidas, muito menos especularem sobre o comportamento da diretoria do Grupo. A nova ordem era para serem discretos e ficarem atentos a algum perigo que ameaçasse fisicamente qualquer um dos diretores, principalmente a Doutora Irene, que estava no exterior, e o seu filho, Antônio.
Os dois médicos executivos sentaram-se em seus lugares reservados e começaram a trabalhar no discurso que o Dr. Moisés faria no dia 22, quando da entrega do prêmio milionário às ONGs selecionadas pela Doutora Irene.
Na lista das ONGs qualificadas, notou que a última da lista levaria um quinhão a mais do que as outras. Desconhecia a MOVIMENTO BRASILEIRO NACIONALISTA – MBN, com sede na Vila Mariana, São Paulo – Capital.
Seus objetivos sociais, conforme site próprio na internet, eram mais ou menos iguais a outras ONGs ou dos profetas políticos que apregoam mais ética na política, sugerindo alternativas para o fortalecimento das classes sociais menos privilegiadas, alertando, também, os governantes e os empresários que o abismo social entre ricos e pobres, no Brasil, estava aumentando de uma maneira alarmante e que, se esse processo não fosse revertido logo, poderia causar até uma revolução civil.
Os números das estatísticas apresentadas pelo MBN eram assustadores, tais como: o número de pessoas assassinadas diariamente no País, particularmente nas grandes capitais, como São Paulo, Rio de Janeiro e outras do sudeste, índice de desemprego juros altíssimos, divida externa e interna, a baixa renda per capita da população, analfabetismo, seqüestros, roubos, corrupção, volta da inflação, o custo real para manter o Real, CPIs intermináveis sem resultados, entre outros...
Na última imagem do site, via-se o endereço da sede, o número do CPMF, e demais registros governamentais.
Dr. Moisés perguntou a Júlio se ele já ouvira falar do MBN.
Júlio respondeu dizendo que o MBN devia ser um dos muitos movimentos a favor de alguma coisa para tirar tanto dinheiro quanto pudessem de alguém. Nada mais.
Após duas horas e meia de viagem, o ônibus-leito da Viação Motta que seguia pela Rodovia Castelo Branco, rumo ao Mato Grosso do Sul, parou por 15 minutos, para café e banheiros no Posto Rodoserve, às margens direita da rodovia.
Júlio e Dr. Moisés ficaram alertas, com seus celulares nos bolsos, desceram com os demais passageiros para tomarem um café com pão de queijo.
Nada de anormal aconteceu enquanto desceram para o cafezinho.
Após 15 minutos de parada, voltaram aos seus lugares e o ônibus continuou a viagem. Júlio ia pensando quantos dos passageiros seriam os seqüestradores, mas não se atrevia a encarar nenhum de seus vizinhos de poltrona.

De madrugada, o motorista do ônibus anunciou outra parada em Presidente Prudente.


Dr. Moisés e Júlio se preparavam para descer e tomarem outro cafezinho, quando o telefone celular de Júlio tocou e uma voz desconhecida falou em nome da Doutora Irene ordenando para que os dois falassem com o motorista, explicando-lhe que eles iam descontinuar a viagem e ficar em Presidente Prudente. Precisariam tirar a sacola do bagageiro e após pegarem a sacola era para se dirigirem ao outro lado da rua onde estava um taxi branco, estacionado com um motorista de boné azul e bigode. Ele iria levá-los para um lugar seguro.
Júlio respondeu que estava de acordo e desligou o telefone.
Relatou ao Dr. Moisés o assunto do telefonema, pegaram suas maletas de mão e foram procurar o motorista que queria saber o motivo da desistência da viagem.
Dr. Moisés interrompeu suas perguntas lhe dizendo que havia uma emergência no Hospital das Clínicas e eles teriam que voltar para São Paulo.
O homem das bagagens trocou, de volta, o boleto-recibo pela sacola com os cinco milhões de dólares e os dois médicos executivos se encaminharam para o taxi branco que os aguardava.
Quando os dois se aproximaram, o taxista abriu a porta de trás do Vectra e pediu a sacola que Júlio levava nas mãos, colocando-a no porta-malas.
Ninguém falou com ninguém, e Júlio e o Dr. Moisés discretamente tentavam ver no retrovisor a face escondida do taxista atrás do seu vasto bigode e o boné azul do time de Ronaldinho na Espanha, o Real Madrid.
Após uns 10 minutos de voltas pela cidade de Presidente Prudente, o taxi encostou em frente a uma lanchonete, ao lado de um outro taxi com placas de São Paulo e o motorista bigodudo mandou os dois médicos executivos passarem para o outro taxi que os levaria de volta para a Capital. Comentando que essa foi a última entrega deles e que a Doutora Irene agradecia muito, lembrou, ainda, que o taxi de volta para a capital já estava pago.
Os dois médicos executivos obedeceram a ordem e, rapidamente, passaram para o banco traseiro do outro taxi. Enquanto se levantava para mudar de taxi, Dr. Moisés notou uma bengala com cabo de prata, ao lado do assento do taxista bigodudo e se perguntou, se o taxista tinha algum problema com a perna.
Júlio também notou, quase com certeza, que o taxi do bigodudo era seguido por dois outros Vectras pretos com filmes escuros em todos os vidros, tornando impossível ver quem e quantas pessoas estavam no interior dos veículos.
O taxista paulista começou a viagem se apresentando com o nome de Richard e mostrou sua licença de taxista da Capital. Perguntou aos dois médicos como foi o seminário de que eles participaram em Prudente.
Antes de Júlio responder com uma resposta indevida, Dr. Moisés se adiantou e disse que tudo fora bem e o único problema foi que o seminário terminara muito tarde.
O taxista Richard continuava insistindo em puxar conversa com os dois médicos dizendo que se fosse por ele todos dormiriam no hotel e seguiriam viagem amanhã, mas os seus outros colegas médicos insistiram, primeiro, para esperar vocês em frente daquela lanchonete barulhenta e depois levá-los, hoje mesmo, direto para São Paulo.
Juro que não entendi direito esse seminário. Dois chegam. Dois voltam, mas negócio é negócio...
Dr. Moisés perguntou quanto que seus colegas pagaram pela corrida e que horas eles chegaram?
Richard respondeu que a corrida havia sido combinada ontem, ida e volta, e ele havia cobrado quatro mil reais em dinheiro.
Só quando chegamos aqui à meia noite foi que eles me disseram que quem voltaria seriam seus colegas de seminário.

Júlio agradeceu ao motorista e perguntou se ele estava em condições de dirigir outras seis horas

– Claro, respondeu o Richard. Já tomei mais do que um litro de café e estou 100% acordado e, pensando bem, é melhor ir direto só assim trabalho amanhã à tarde. O Vectra é zerinho e tenho que pagar minhas prestações em dia, se não o banco me toma o carro.
A última cena
No dia 20, às onze horas, um moto-boy da Fast-Dellivery entregou um envelope na sede do edifício da VÊNUS, na Marginal Pinheiros. O envelope estava endereçado aos cuidados de Antônio Lafayete Fontoura.
Antônio, Dr. Moisés e o Sr. Júlio estavam reunidos com a assessoria de imprensa do Grupo, discutindo as estratégias para o grande prêmio VÊNUS que seria distribuído no Sábado, quando a secretária de Antônio lhe comunicou que acabara de chegar outro envelope marrom.
Os três diretores dispensaram os assessores temporariamente e foram para a sala de Antônio verificar o conteúdo do envelope.
Antônio mencionou aos demais que, sem dúvida, deveriam ser as últimas ordens de sua mãe. Ficou surpreso quando abriu o envelope e encontrou dois DVDs, com indicações anexadas, sobre qual DVD eles deveriam ver primeiro.
Comandou o controle remoto para iniciar o DVD nº 1 e sentou-se para ver, novamente, sua mãe na TVA.

A quinta mensagem

Bom dia Antônio, meu filho. Bom dia Moisés e Júlio.
Obrigada mais uma vez por toda a colaboração de vocês três. Espero que a viagem ao interior de ida e volta não tenha sido muito cansativa para o Dr. Moisés e Júlio.
Como vocês estão vendo eu estou muito bem, com boa saúde, muita disposição e super animada para, a semana próxima, voltar às minhas atividades e, principalmente, estar com você Antônio.
O DVD número dois é para vocês mostrarem no dia 22, durante a entrega do prêmio VÊNUS. Tirem uma cópia do DVD e entreguem para cada uma das ONGs que receberem o prêmio. Esse gesto facilitará seus assessores de imprensa.
Um beijo para você Antônio e um abraço para Moisés e Júlio.
Até breve.

A câmara deu um zoom no rosto sorridente de Irene e desviou para a TV, ligada no fundo de uma sala, onde, naquele momento, mostrava ao vivo uma reportagem sobre a libertação de um empresário seqüestrado há mais de sessenta dias. O Repórter entrevistava os familiares da vítima, já que o empresário, seqüestrado, se negava a falar com a imprensa alegando estar muito emocionado e abatido.

A filha deste relatava à imprensa que seu pai fora torturado, maltratado e perdera uns vinte quilos. Ela ainda contou aos repórteres que, após quarenta dias de muitas negociações, acabaram pagando a metade do valor do resgate originalmente pedido pelos seqüestradores. Não quis revelar quanto foi o bote dos seqüestradores.
Antônio perguntou se os dois diretores queriam ver mais uma vez o DVD de número um, ou passar para o de número dois.
Júlio respondeu, primeiro, para passarem para o segundo DVD e que depois poderiam rever o de número um.
Como queiram! falou Dr. Moisés.
Antônio retirou o DVD de número um e colocou o de número dois em play.

A boa samaritana

Eu gostaria de agradecer a todos os representantes das entidades ganhadoras do prêmio VÊNUS pelo trabalho, de extrema importância, que os Senhores e Senhoras, com suas equipes, desenvolveram visando uma melhoria de vida para o povo brasileiro.
No momento atual, vossas entidades e muitas outras, bem intencionadas, estão sofrendo sérias dificuldades para conseguir recursos para a execução dos indispensáveis e necessários projetos sociais, científicos, ecológicos, políticos, entre muitos outros, já desenhados. Mas enquanto a economia de nosso país continuar patinando nessa lama de incerteza, com dificuldades de encontrar uma bússola adequada para norteá-la, projetos iguais aos seus ficarão esquecidos nas prateleiras à mercê dos ácaros.
Nós, da VÊNUS, tomamos a iniciativa de lançar, hoje, um desafio a outros grupos empresariais que atuam no Brasil, brasileiros ou estrangeiros, e até mesmo aos cidadãos preocupados com o bem-estar de suas famílias, a contribuírem financeiramente ou até mesmo colaborarem fisicamente para que projetos iguais aos das entidades aqui presentes sejam executados para o bem de todos aqueles que compõem os diversos andares de nossa sociedade.
Na seqüência, meu filho e vice-presidente do Grupo VÊNUS, entregará aos Senhores e Senhoras o prêmio em dinheiro, equivalente a quinhentos mil dólares, em nossa moeda nacional.
Peço mil desculpas aos Senhores e Senhoras por não estar presente nesse dia histórico. Como vocês bem sabem eu estou aqui, bem distante, recuperando-me de uma intervenção cirúrgica que, graças a Deus, correu bem. Assim que o meu médico me liberar, no mesmo dia, estarei a caminho da minha amada São Paulo.
Para terminar, gostaria de acrescentar que por trás de uma ação sempre existe uma razão.
A razão da VÊNUS é para mostrar aos brasileiros que nós não mediremos esforços para contribuir com projetos e idéias que assegurem um destino promissor às nossas futuras gerações.
Muito obrigada.

Vestida com um conjunto de linho bege, sapatos de salto altos, combinando com a bolsa marrom clara, usando um colar de esmeraldas colombianas trabalhado com ouro branco. O relógio Cartier, de ouro, no pulso, mostrava que o horário da filmagem ocorreu à tarde ou de madrugada. Irene, linda, usava uma maquiagem suave, batom branqueado, combinando com a sombra. O cabelo era escovado tipo Channel. Irene continuava sorrindo para a câmara, esbanjando uma beleza de dar inveja em muitas misses de 20 anos, até que a imagem, na TV, se transformou em um chuvisco eletrônico.


Os três mudos se entreolharam, e finalmente Dr. Moisés quebrou novamente o silêncio e pediu para ver mais uma vez o discurso milionário, politicamente correto, da Doutora Irene.
Após verem pela segunda vez o discurso generoso de sua mãe, Antônio perguntou aos dois diretores suas opiniões.
Dr. Moisés respondeu que, honestamente, ele era da opinião que a situação poderia, no final, favorecer a VÊNUS e suas empresas. O Júlio repitiu que, do ponto de vista fiscal, seria muito mais fácil deduzir os cinco milhões doados às ONGs do que abater da apólice de seguro ou de despesas do próprio Grupo.
A própria Doutora Irene já se antecipou para tirarmos o máximo de proveito possível no que se refere em ajudar financeiramente essas ONGs, trocando essa ajuda pela reestruturação da imagem institucional da VÊNUS e das nossas empresas associadas.
Contrataremos uma nova agência, dinâmica, de publicidade para melhorar nossa imagem perante aqueles brasileiros que de uma maneira ou outra usam ou compram os nossos produtos. Enquanto isso a concorrência vai ficando para trás...
Antônio concordou com Dr. Moisés e esperou uma reação de Júlio.
Júlio também concordou que, comercialmente e institucionalmente, apesar dos custos bastantes elevados e não planejados, a VÊNUS sairia na frente no fim dessa inesperada aventura.

O segundo da lista

Estevão recebeu Barroso e os soldados em um sítio alugado anteriormente na cidade de Atibaia, ao norte da Capital. O sítio era daqueles que se aluga em beira de estradas para festas e convenções.


Já estavam reunidos há mais de três horas discutindo o plano de ação que fora denominado OPERAÇÃO CULINÁRIA.
Estevão relatou aos soldados que o Rambo e Rubio deveriam chegar a qualquer instante. Os dois já estava trabalhando nas imediações do cenário nas últimas quatro semanas. Tinham colocado uma escuta no telefone que recebia as reservas no restaurante preferido do abordado. Ele almoçava no Chateaubriand Grill uma ou duas vezes por semana. O imóvel onde ficava o restaurante era um dos milhares que o abordado alugava na capital. Possivelmente tinha um bom desconto quando lá ia, ou quem sabe lhe davam a comida de graça.
Os dois soldados, também, elaboraram três rotas de fugas, alternativas, a partir da casa alugada.
Estevão alfinetou, na parede, a foto do abordado e de mais quatro seguranças que sempre o acompanhavam, enquanto detalhava o cenário completo da missão.
No cenário da ação, uma vez ou outra, principalmente quando o seqüestrável se sente perseguido, seus seguranças, um ou dois, entram dentro do restaurante e ficam conversando com os seguranças do Chateaubriand Grill.
As soldados Marisa e Júlia carregarão suas Gloks 23 compact ponto 40, na revolvera de coxas, com dois carregadores extras em suas bolsas. Este é o motivo das saias longas e rodadas com a blusas bem decotadas. Os outros clientes soldados, usando ternos Giorgio Armani, levarão suas Gloks 22, calibre ponto 40 em duas maletas executivas, super na moda, costuradas com couros de jacaré ecológicos (criados em cativeiros), também, com dois carregadores extras. Já o Rambo e Rúbio e mais quatro soldados, quando entrarem pela cozinha, vestidos de cozinheiros e garçons, estarão armados com as HK-MP5 9 mm, com quatro carregadores extras em seus largos bolsos dos uniformes de cozinheiros e chefe.
Barroso e eu chegaremos, também, com nossas Gloks escondidas. Vamos entrar 30 minutos antes do abordado. Os clientes soldados, com suas namoradas chegarão 10 minutos após o abordado. Não usaremos rádios e sim os celulares clonados, especificamente para essa missão. Os rádios serão usados a partir do momento que sairmos da casa alugada atrás do cenário. Todos sairemos por lá em dois automóveis e dois furgões. Rambo e Rúbio serão os últimos a saírem e já sabem o que fazer para despistar algum aventureiro que queira nos seguir.
A ação não deverá demorar mais do que cinco minutos, no máximo.
Marisa, Júlia e Barroso estão escalados para atender os seguranças dentro do restaurante. Elas irão na frente com seus decotes sensuais. Eu atendo o abordado, auxiliado por Rambo. Se os seguranças do abordado acompanharem o patrão, ficarão ao lado do caixa também. Portanto, serão três ou quatro. Rúbio, Ernesto e Arine fecham a porta do restaurante por dentro e seguram o local até sairmos. O restante dos soldados controlarão os clientes e demais empregados.
Quando o Rambo e Rubio entrarem pelo quintal, receberemos o telefonema codificado. Ao passarem pela cozinha e copa, ordenarão a todos para se deitarem no chão, enquanto dois dos soldados amarram as mãos com as algemas de plástico. Um soldado cuida a retaguarda. Oito pessoas deverão estar na cozinha, entre o chefe, cozinheiros e lavadores de pratos.
Quero atenção redobrada com algum cliente, que, como nós, poderá estar armado ou, na hora H, dar uma de herói e tentar chamar ajuda.
O Rubio, na sua saída, retirará o vídeo do monitor de segurança que registra somente a entrada e a saída de clientes
Hoje, Barroso, Marisa, Júlia e eu vamos degustar a melhor carne dos Jardins para, mais uma vez, levantar o local por dentro e certificarmo-nos de que nada mudou com respeito à segurança.


O Rei dos imóveis

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