Alvaro Djalma Filho não nasceu em berço de ouro. Ao contrário, veio de uma família de classe média. Seu pai era dono de duas imobiliárias, no tempo em que a Avenida São João era cobiçada pelos comerciantes paulistas.
O Sr. D. Filho, como era conhecido, abandonou os estudos no segundo ano do Científico, no Colégio Piratininga, aos 19 anos e, convocado pelo pai, começou a trabalhar em período integral na imobiliária, adicionado com os fins de semana onde dava plantão nos casarões de dois e três andares dos anos 40 e 50 que seriam logo borrados dos bastidores históricos, para dar espaço aos prédios, modernos, de apartamentos e de escritórios comerciais que mudaria para sempre o antigo visual romântico e histórico da cidade de São Paulo.
Trabalhando vorazmente e conhecedor dos melhores lotes e imóveis de São Paulo, D. Filho construiu um império incorporador, construtor e imobiliário na Capital, Santos e Guarujá.
Discreto e tímido não era conhecido da mídia modista, que sobrevive graças aos novos ricos, apesar de a logomarca de sua empresa estar espalhada em todos os bairros da Capital e da baixada santista. Há pouco tempo, ameaçou processar uma revista que o colocou entre as cem fortunas do Brasil.
O seu relacionamento comercial sempre foi tramado com lobistas especializados em zoneamento, autoridades judiciais, banqueiros, e diretores das caixas estaduais e federais.
D. Filho era também conhecido pelos familiares como Sr. Alvarento. Seu ex-genro o batizou com a nova alcunha por ser um tremendo sovina. D. Filho o expulsou da incorporadora após três meses de estágio.
Para tomar a decisão de comprar um carro blindado e andar com quatro seguranças, foi preciso uma tentativa de seqüestro mal sucedida que o ajudou mais tarde, talvez por medo, a se cuidar melhor. No embalo, um amigo, seqüestrável, o convenceu a colocar um chip anti-seqüestro no corpo.
Dizem as más línguas que a filha e o marido, na época, estavam por trás do falido seqüestro.
Maria, filha única com dois filhos, divorciada do caçador de dotes que perdeu a batalha para o Sr. Alvarento, não se conforma com a maneira simples de vida do pai, que a proíbe de se meter em seus negócios e rejeita a idéia de comprar mais do que um terno há cada cinco anos. O sovina lhe dá uma mesada de pai de classe média todos os meses, além de pagar a escola dos netos.
Quando chega a época de Natal, D. Filho sempre chora nos braços da amante, reclamando de não ser amado pela filha e os netos e acaba confessando que ele, realmente, não sabe gastar o que ganha com a família ou com quem quer que seja, mas aposta qualquer quantia que ninguém sabe fazer o dinheiro crescer como ele.
– Tenho fermento nas mãos! Gaba-se à Glorinha.
A amante, Glorinha, ex-secretária e recentemente promovida a Vice-Presidente, com muitos beijos, abraços e pouco dinheiro, é a espiã do Rei. É a única que sabe onde o rico amado guarda a chave e o segredo do cofre particular. O enorme cofre fica escondido em um fundo falso, do banheiro privativo, no fundo do escritório. Na fortaleza, os dólares, empilhados, se embolaram, deformando as milhares faces de Benjamim Franklin. Lá se encontram os documentos valiosos de caixa dois e lista de propinas pagas a políticos e fiscais que dariam uma CPI tão longa como Os Lusíadas de Camões.
Glorinha não está amparada, legalmente, como Maria que é filha legítima de D. Filho, juntamente com a mãe, inválida, e os dois netos.
Vive de seu salário e ganha por ano um ou dois presentes do amante, além de viajar de vez em quando para o Guarujá acompanhando o D. Filho em alguns negócios e lazer.
D. Filho já passava dos sessenta e oito. Glorinha preocupada com sua vida futura, uma vez que era vinte anos mais nova que seu amado, consultara vários advogados, secretamente, sobre a possibilidade de vir a ter direito, ou não, na fortuna do amado, caso algo repentinamente acontecesse a D. Filho.
Todos os advogados consultados foram da mesma opinião, ou seja, opinaram que ela era apenas a amante de um homem rico e como não conviviam maritalmente, pois não moravam juntos. Ela não teria uma boa notícia nos tribunais, caso o amado viesse a falecer e ela reclamar de algum direito.
Os advogados consultados a alertaram que o amante era casado e domiciliado com a esposa. Pela lei brasileira, a esposa, filha e os netos eram os legítimos herdeiros legais.
Nenhum advogado soube dizer se D. Filho tinha um testamento ou não. Um dos advogados consultados lhe sugeriu mover uma ação, por assédio sexual, antes de um desfecho mais dramático na relação trabalhista e amorosa entre os dois.
Glorinha sofreu várias tentações para abrir o cofre grande e secreto de D. Filho, mas ao mesmo tempo sentia um medo mortal cada vez que se aproximava do patrimônio não declarado do amante, principalmente, quando ele não estava por perto. Algum pressentimento catastrófico a afastava do local.
D. Filho é o novo hóspede
Sábado, dia 22 de novembro, às seis da manhã, Estevão chega no Clube Merlin de ambulância.
Seu paciente, anestesiado, dormia profundamente e não sentiu quando os quatro soldados o transportaram, em uma maca, para sua nova moradia.
Logo depois, Estevão e Gilda saboreavam o café da manhã, juntos, enquanto conferenciavam sobre o perfil do novo hóspede do Clube.
Estevão reportou a Gilda que dois dos sombras do abordado que estavam de plantão, dentro do cenário, reagiram quando o patrão fora abordado. Um levou dois tiros na mão esquerda e o outro levou um tiro no ombro direito. Ambos devem estar bem, mas com muita dor e com falta de alguns pedaços de ossos causado pelos projéteis ponto 40 das Glocks de Barroso e Marisa.
Foi uma cena cinematográfica de heróis teimosos.
Os dois sombras, mesmo tendo armas apontadas para eles, de todos os lados, tentaram sacar seus revolveres 38, Smith & Wesson, canos curtos. Barroso derrubou um, e Marisa, o outro. Júlia desencorajou outros dois seguranças que trabalhavam no cenário, mas não eram empregados pelo abordado.
Depois disso, tudo correu bem, foi como faca quente na manteiga. Todos os presentes se comportaram como anjinhos, receando a mão do mais forte.
Não houve nenhum contratempo depois do tiroteio ou durante a escapada pelos Jardins. O abordado, antes de vir para a direção oeste, foi estripado de seu bug eletrônico, viajando de ambulância na Via Dutra, sentido Rio de Janeiro.
– Após a cirurgia fizemos o retorno e voltamos em direção a São Paulo. A Rodovia Castelo Branco estava um tapete e completamente deserta. O cirurgião clandestino deu um sedativo ao abordado, e ele deverá dormir, sonhando com seus milhões, até o meio dia.
Yves perguntou como estava se comportando o resto dos soldados. Antes de levantar-se da mesa perguntou por Irene.
Gilda olhou para cima, maliciosamente, e respondeu que ela estava muito bem! Reportou a Yves que tudo ia cem por cento com os soldados, já adaptados à rotina do Clube. Irene estava sob controle e andava muito feliz consigo mesma. Não deu mais trabalho a ninguém. Montava o Copper todos os dias, fazia ginástica, lia tudo que encontrava pela frente e não queria devolver um DVD que haviam alugado para ela em Avaré.
– Qual DVD? perguntou Yves.
– Casablanca. O original! Com Humphrey Bogart e Ingrid Bergman, falou Gilda, comentando que Irene já devia ter visto o filme pelo menos cinco vezes na última semana. – – Até eu, que me considero durona, engoli, silenciosamente, algumas lágrimas no primeiro dia que vi, pela primeira vez, o filme a convite da Doutora.
– Ela, ainda, não sabe que você está aqui, estava esperando-o para o almoço no domingo.
O horário de Irene levantar-se, no Clube, fora estabelecido, por ela mesmo, às oito da manhã. Como de costume, fizera seu breakfast light, na varanda do Clube e logo a seguir caminhou até as baias para dar o rotineiro passeio com Copper em um dos piquetes gramados do Clube.
De longe, antes de chegar às baias, notou que algo diferente estava para acontecer. Sua rotina era acompanhada, diariamente, por três cavaleiros. Um seguia na frente, Copper no meio e dois outros cavalos logo atrás.
Ao se aproximar da veterinária, notou que só Copper e um outro cavalo baio estavam selados. Quando entrou na sala para perguntar a um dos plantonistas o que estava acontecendo, deu de cara com Yves, sentado em um banco de madeira, colocando suas botas de montar.
Surpresa, Irene deu um bom dia acanhado sem saber o que fazer e para onde olhar. Yves levantou-se, veio ao seu encontro e cumprimentou-a apertando sua mão e lhe dando os dois beijos tradicionais, um em cada lado da face.
Irene, trêmula, segurou a sua mão e lhe deu mais um beijo, na face, dizendo que o extra era para dar sorte.
Yves, sorrindo e balançando a cabeça, respondeu que realmente ia precisar de muita sorte depois que ela fosse libertada nos próximos dias.
– Por que? perguntou Irene.
– Eu tenho o poder sobre você agora e aqui. Mas depois de eu libertá-la e se você quiser, poderá desafiar-me, respaldada pela lei, ou fora dela, e aí teremos uma situação que um de nós irá, realmente, precisar de muita sorte.
Até o momento me sinto um ganhador, solo, da Mega Sena.
– Yves! você me deixa nervosa com essa maneira de querer prever o que farei ou não quando sair daqui. No momento, a única coisa que eu quero é estar com meu filho e ser livre, novamente, para ir, pensar e decidir quando e o que sobre a minha vida e meus negócios.
O seu MBN e seus objetivos, no momento, são secundários. Ainda não me decidi a respeito do seu futuro partido e quanto a você, em particular, já tomei uma decisão e estou aguardando o momento oportuno para lhe falar.
– OK! OK! Hoje você vai ter uma companhia diferente em seu passeio, matinal, indicando o cavalo baio e depois apontando o dedo indicador para seu próprio peito.
– Ah! Eu pensei que você só era um cowboy do ar. Não imaginava que você sabia andar a cavalo. Você sabe? Ou eu terei que lhe dar a primeira aula hoje? E pelo jeito vamos só nós dois. Você não tem medo de eu fugir em disparada? perguntou Irene.
– Acho que não vai ser preciso. No caminho, contarei um pouco sobre minha infância e parte da minha adolescência onde fui criado, na fazenda de meus pais montando matungos diariamente. Nunca tive um puro sangue, perfeito, igual ao Copper aqui ao lado, mas mesmo assim dava os meus galopes.
Hoje as selas, os cavalos e costumes são diferentes.
Naqueles tempos os capatazes e peões usavam um Colt Cavalinho ou Smith & Wesson niquelado, acompanhado com uma peixeira, no cinto, depois veio o canivete suíço. Hoje em dia, os capatazes foram promovidos a administradores e levam no cinto um celular Nokia ou um Motorola.
Às vezes, eu penso nessa transformação rápida do homem rural e vislumbro um panorama cômico em que um administrador, preparando-se para castrar uma boiada que o espera no brete, leva à mão ao cinto para tirar o canivete, mas só encontra o celular, o qual, imediatamente, é sacado da bainha para ligar, dali mesmo, para a sede da fazenda, a uns 50 metros, e pedir para um dos meninos, que assiste televisão, trazer o seu canivete que a última vez que usou, no ano passado, deixara em uma das gavetas da cômoda de cerejeira em seu quarto.
Irene não achou graça da piada de Yves e montou em Copper sem a ajuda de ninguém.
Yves montou, em estilo índio americano, sem colocar o pé no estribo, e perguntou a Irene porque ela se aborreceu.
– Parece que você não gostou da minha visão tecnológica com respeito ao capatazes modernos, comentou Yves.
Irene respondeu, na defensiva:
– Isso é uma bobagem! O meu administrador sempre usa o seu canivete suíço, autêntico. Eu mesma é que dei para ele de presente e comprei-o em uma das viagens que fiz a Lugano.
– OK! OK! Eu não pude conferir isso no dia da sua abordagem porque ele não estava lá . Mas, uma coisa eu sei com certeza, ele ainda usa o seu canivete porque lá na Limoeiro vocês não têm recepção para telefonia celular. Aposto com você que quando o sinal chegar lá, o Dr. Marcílio trocará o seu suíço, de aço, por um plástico eletrônico montado em Manaus.
Irene, que acordara bem-humorada, estava fumegando por dentro com o Monsieur-sabe-tudo de sua vida e de seus empregados. Bateu as botas em Copper para um galope mais rápido e testar, realmente, se o Cowboy Espacial poderia acompanhá-la em uma corrida.
Yves, firme ao seu lado, sentiu, levemente a fragrância do Caraná-AM misturado com o cheiro de grama, suor de Irene e odor dos cavalos.
De fato fazia um tempo que não cavalgava e estava admirado com a postura ereta de Irene em cima do Quarto de Milha. Enquanto galopava pensou que Irene poderia competir na Festa do Peão, em Barretos, que com certeza levaria a taça de ouro.
Ao voltarem para os estábulos, Irene, mais calma, perguntou a Yves onde ele tinha conseguido Copper.
– É uma longa história, mas vou torná-la a mais breve possível.
Como já lhe disse antes, não sou um assassino. Gosto muito de animais e das pessoas, também.
A única coisa que matei na vida e que quase me levou junto com ele, foi um urubu com qual me trombei quando descia a 200 quilômetros por hora, em salto livre, estilo Free Flyer, (de cabeça para baixo) antes do meu pára-quedas abrir, em uma das demonstrações de pára-quedistas no Campos dos Afonsos. Bati no agente funerário, ou ele bateu em mim, nunca iremos saber.
Sei muitas coisa sobre você. É o que faço nesses últimos tempos. Ando por ai xereteando a vida de alguns milionários, e nessas xereteações aprendi que você cria cavalos, Quarto de Milhas, e gosta de montá-los.
Para tornar sua estada aqui mais agradável pensei que um cavalo especial poderia ajudá-la e, principalmente, preencher os seus longos dias de solidão.
Tenho uma amiga, americana, no Colorado, que é uma das maiores criadoras de Quarto de Milhas dos Estados Unidos. Dei-lheei um telefonema e disse que precisava, urgente, de um cavalo muito especial e manso. A Mrs. Thora Hanson me mandou o seu cavalo em três dias.
– Muito bem! disse Irene.
Agora, eu, gostaria de saber quando é que você vai mandar o meu cavalo para a Limoeiro? E quando é que vou dar alta de sua agradábilissima clínica para pacientes tristes e solitários?
– Hoje à tarde o seu filho, Antônio, entregará os prêmios VÊNUS às ONGs escolhidas pelo MBN. Depois de assistirmos à entrega dos troféus milionários, você escolherá o local que gostaria de ser libertada. OK? E quanto ao Copper, você é quem sabe qual o dia que gostaria de recebê-lo na Limoeiro ou em outro haras qualquer.
Irene pensou, por um instante, perguntando, desconfiada, a Yves onde é que iriam assistir à entrega do prêmio VÊNUS.
Yves respondeu que poderiam ver no salão social do Clube, juntamente com Gilda e sua equipe que estariam acompanhados de um novo hóspede que havia chegado hoje cedo de São Paulo.
Continuou explicando a Irene que o presidente do MBN iria, como os outros presidentes das outras ONGs, receber pessoalmente o prêmio VÊNUS e que sua assessoria de imprensa iria filmar, também, todo o evento e transmitir ao vivo, via vídeo-fone, para nós aqui no Clube.
Gilda e o técnico já estão instalando os monitores para a recepção e logo vamos testar como está a imagem.
Irene, surpresa, foi tomada por uma alegria eufórica com a possibilidade de ver Antônio, ao vivo na TV, depois de quase três meses sem ouvir a sua voz, ou vê-lo de perto.
Aproximou-se devagar de Yves e lhe perguntou se a história do vídeo-fone era verdadeira ou outra piada como a do canivete.
Yves, sorrindo, respondeu que graças às maravilhas da tecnologia moderna eles poderiam ver a entrega dos prêmios VÊNUS, de qualquer lugar do planeta. Inclusive na Clínica dos tristes e solitários.
Irene se aproximou mais de Yves com o corpo trêmulo e abraçou-o pelos ombros, enquanto olhava para todos os lados à procura dos plantonistas que sempre a espreitavam, como se ela fosse fazer algo de errado.
O beijo quente, úmido, com cheiro amazônico durou uma eternidade até que Copper, com ciúmes ou talvez protegendo a sua melhor amiga, deu uma mordida suave, no traseiro de Yves, fazendo com que ele largasse sua presa momentaneamente.
Os dois riram juntos e voltaram aos beijos, apaixonados, como se fossem dois namorados, de 15 anos, escondidos dos pais.
Yves, segurando, entre as suas mãos, aquele rosto de Deusa, que logo partiria, falou:
– Beijemo-nos até que sua liberdade nos separe.
Após os beijos espremidos em um voluptuoso silêncio nos braços de Yves, Irene teve um surto de choro que foi preciso que sua nova paixão lhe trouxesse um copo d’água, da geladeira da veterinária, para acalmar os soluços em cascatas.
Yves preferiu não perguntar nada a Irene. Sua cabeça também estava às voltas com aquele sentimento raro, nunca antes compartilhado com outra mulher.
Acompanhou-a até a sua suíte, deu-lhe um beijo na face, saiu para o corredor e chaveou a porta pelo lado de fora. Resolveu ir à procura de Gilda.
Irene, trancada em sua suíte, com lágrimas nos olhos, tentava visualizar o rosto e os olhos verdes daquele homem, alto, moreno, maduro, por quem se apaixonara loucamente.
Gilda, toda sorridente, relatou a Yves que fizeram um teste, positivo, no monitor pequeno do salão de jogos e agora iam instalar o receptor no telão da Sony.
Yves perguntou como estava o novo hóspede.
– Está almoçando em sua suíte. Já tomou os remédios e, ainda, está um pouco assustado. Você quer falar com ele agora ou depois do almoço? perguntou Gilda.
– Após o almoço e antes da entrega dos prêmios, respondeu Yves, saindo em direção dos seus aposentos.
Tomou um banho frio para espantar os cupidos que flutuavam por todos os cantos de seus aposentos, mandados pela mãe. Os anjinhos lhe davam flexadas, tocavam harpas em seus ouvidos e lhe apontavam o caminho do altar onde a Deusa das formosuras e dos prazeres, vestida de branco transparente, entrava montada em Copper, preparada para enterrar, de vez, a sua viuvez no limbo do passado.
Irene também tomou um banho e muito nervosa não decidia o que usar para o almoço com Yves. Finalmente optou por algo simples. Jeans e uma blusa amarela com os confortáveis Nike. Chamou Gilda para ajudá-la no cabelo e maquiagem.
Gilda perguntou como ela queria o visual. Irene lhe deu a oportunidade de escolher entre conservador e um pouquinho mais moderno. Gilda optou pela segunda escolha.
Gilda passou um hidratante antes da massagem. Depois aplicou a base. Enquanto esperava secar a base, Irene perguntou a Gilda se o teste da transmissão tinha dado certo.
Gilda respondeu que sim, enquanto passava um pó compacto facial para a base absorver o produto. Em seguida, com a ponta do dedo, passou uma sombra salmão na pálpebra e o rímel nos cílios. Nas bochechas passou um blush tom rosado e por último um batom combinando com a sombra.
Ao sair da suíte, Irene passa o seu Caraná-AM nos pulsos, atrás das orelhas e um gota entre os seios.
Yves, servido pelos soldados garçons, já estava no seu segundo copo de suco de laranja quando sentiu a fragrância do Caraná-AM. Com certeza Irene não o usou hoje de manhã, pois ele só percebeu o aroma no campo, depois de ela suar um pouco.
– Estou me sentindo melhor depois do chuveiro massagem, disse Irene ao se sentar na cadeira que Yves gentilmente oferecera. Mas o meu apetite rotineiro se esvaiu nos estábulos. Estou completamente sem fome.
Acho que estou querendo resolver tudo o que passa pela minha mente agora, mas não consigo processar os resultados de uma maneira favorável a um relacionamento duradouro entre você e eu.
– Pare com essa mania de Executiva Profissional. O que está acontecendo entre nós não foi programado por um computador que, com um toque no teclado, faz aparecer, instantaneamente, no monitor os resultados desejados. Vamos dar um tempo ao nossos dias futuros e logo descobriremos a melhor maneira de resolver esse nosso novo relacionamento.
– Eu também, procurei, na ducha fria, afugentar alguns pensamentos que me tentavam, de uma maneira deliciosa, a apaixonar-me para sempre por você, declarou Yves com muito custo.
– OH! Yves! Quer dizer que você, também, pelo menos está admitindo que poderia estar apaixonado.
– Acho que sim. O meu único receio é que minhas células defensivas ainda apostam na possibilidade de você estar planejando em dar o troco. Fingir-se de apaixonada e depois me cortar a cabeça.
– Você é, realmente, um desconhecedor do amor, em todos os sentidos, falou Irene, com uma cara de dó, de seu inexperiente Monsieur-sabe-tudo.
Yves, também, perdera o apetite e olhando no relógio, disse a Irene que tinha uma reunião com o novo hóspede e que a veria logo mais no salão de jogos do Clube, onde assistiriam a entrega dos prêmios VÊNUS.
Irene quis saber quem era o novo hóspede que ficaria em seu lugar.
– É um paulista, chamado Álvaro Djalma Filho, respondeu Yves, esperando para ver sua reação.
Irene não se conteve e começou a rir tão gostosamente que Yves também teve que rir daquela alegria espontânea que não parava de se alegrar.
Irene, com muita dificuldade, conseguiu perguntar se era o D. Filho, em pessoa.
– Sim, respondeu Yves. É ele mesmo.
A nova gargalhada de Irene chamou a atenção dos plantonistas que a espreitavam à distância. Continuou a rir estrepitosamente até que se engasgou por falta de ar. Yves teve que socorrê-la, novamente, com outro copo d’água.
Esperou até que o ataque de risos de Irene se enfraquecesse para lhe perguntar por que tanta graça.
Irene, ainda, tossindo desafiou Yves a apostar, com ela, que o Sr. D. Filho não iria contribuir para o seu partido com nenhum centavo.
– OK! OK! respondeu Yves, todo contente com a possibilidade de ganhar mais uma aposta no período de duas semanas.
– O que é que você quer apostar? perguntou o profissional em desafios.
Irene, ainda rindo, propôs a Yves:
– Se o Sr. D. Filho lhe pagar o que o seu partido pedir a ele, você me paga um jantar em Paris. Viagem e hotel por minha conta.
Se o Sr. Alvarento não lhe der um centavo, você me paga só dez por cento do valor que o seu partido pediu a ele.
– Está bem assim! ou você quer nominar os prêmios? perguntou Irene.
– Não entendi bem a sua aposta e por que o nome de Alvarento? perguntou Yves, rindo de Irene.
– A aposta não muda! E se eu lhe contar porque o D. Filho tem outro nome você não vai querer selar a aposta.
– Está selada, de qualquer maneira, falou Yves enquanto se encaminhava na direção da suíte de D. Filho.
Yves bateu três vezes e entrou, sem se anunciar, na suíte do novo hóspede.
D. Filho estava vendo TV e pareceu não se preocupar muito com a presença de Yves em seu quarto confortável com vista para o lago e os campos do Clube Merlin.
Yves perguntou se ele já tinha lido as normas do Clube, como ele estava se sentindo e se precisava de alguma coisa.
D. Filho respondeu que já tinha dado uma olhada nas normas e que para ele estava tudo bem. Calculista, quis saber exatamente o que estava acontecendo e para quem os seqüestradores iriam pedir o resgate.
– Eu gostaria de falar sobre isso amanhã, depois que o Senhor descansar um pouco mais da viagem e cirurgia, respondeu Yves.
Hoje eu quero convidá-lo para assistir a uma entrega de um prêmio muito especial, em São Paulo, que tem tudo a ver com o motivo da sua presença aqui no nosso Clube. Também está hospedada, aqui no Clube, há mais de onze semanas, uma hóspede que talvez o Sr. a conheça. Ela será libertada amanhã.
Eu vou lhe mandar dois plantonistas daqui a dez minutos para ajudá-lo chegar até o salão de jogos. OK? Já arrumamos um lugar confortável para o senhor.
D. Filho concordou com Yves, acenando um sim com a cabeça e desviou o olhar para o chão. Pensava rapidamente quem seria esse seco senhor a lhe dar ordens, onde estaria e quem era essa outra hóspede que estava de saída. Seria também uma seqüestrada? Pensou até na filha, Maria. Seria ela? Havia dias que não falava com ela e tampouco lembrava-se da última vez que a vira. Com certeza, no fim do mês passado, no dia da mesada dela e dos netos...
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